Refutação
do Capítulo 5: Refutando o purgatório
Na apologética protestante é agora mais comum encontrar apresentações
mais fidedignas do purgatório do que era de costume. No entanto, os apologistas
ainda não entendem bem a doutrina.
Quando tempo a alma de alguém deve passar no purgatório?
Não sabemos. Pode ser por um instante ou por séculos! Quem sabe? Não foi
revelado.
Qual a base do purgatório? O apologista afirma que são
suposições e crenças teológicas, e não evidências concretas.
Também afirma que não há prova objetiva ou científica.
Aliás, é bom lembrar, há protestantes que negam até mesmo a existência do
inferno. A tradição protestante geral nega somente o purgatório.
O purgatório entra em conflito com a doutrina da salvação
pela graça? É claro que não. É somente por meio da graça, através da fé, que o
mérito do sacrifício de Cristo é aplicado ao pecador. No entanto, o mesmo é
responsável pelas suas ações, e deve sofrer penas do pecado, caso não as
satisfaça.
Deus é amor e misericórdia, mas também justiça. Davi
pecou contra Deus, foi perdoado, mas perdeu seu filho primogênito como pena
pelo seu pecado. Então, o fato do salvo ter alguma pena a sofrer não é
contrário ao amor e misericórdia de Deus.
Deus é todo-poderoso, compassivo e santíssimo. É por isso
que pode haver sofrimento adicional, pós-morte, caso o salvo não tenha vivido o
amor e a fé sem reservas, e tenha algo a purgar.
Quanto às incertezas em torno do conceito de purgatório
em relação ao tempo, isso não é problema. O importante é sabermos que os que
estão no purgatório estão salvos.
As evidências do purgatório na Bíblia são suficientes
para não deixar dúvidas. Há uma boa base escriturística, sólida e razoável.
Vamos à análise das Escrituras Sagradas e refutar cada
objeção protestante (página 59).
Em Romanos 8, 1 o texto diz que não há condenação para
quem está em Jesus Cristo, mas não diz que não há sofrimento. Quem está em Cristo está salvo, terá o céu.
Quem não está, sofrerá condenação no inferno. O apologista protestante não
ofereceu nenhum argumento citando esse texto. Apenas afirmou que não há “nem
sofrimento” também para os que estão em Cristo. Mas isso o texto bíblico não
ensina. Portanto, não há argumento nenhum aqui.
Em Mateus 19, 25 o contexto é a dificuldade do rico
entrar no Reino dos Céus e o milagre que é quando isso acontece. Não é o
esforço humano que leva o pecador à salvação eterna, mas a intervenção de Deus.
Porém, é preciso doação total a Deus, sem reservas.
Quando se pensa no purgatório, entendemos que cada
pecado, por mais simples que seja, se não for confessado, e satisfeito, terá
suas penas no purgatório.
Desse
modo, é óbvio que o cristão católico leva a sério a vida espiritual. Mesmo os
pecados veniais são evitados, na santificação. A vida dos santos mostra isso.
Por
sua vez, a maioria dos protestantes não crê na distinção entre pecado mortal e
venial, e na sua crença da salvação somente pela fé ele acredita que está
salvo, e que os pecados, sejam quais forem, que são perdoados, não deixam
penas.
Desse
modo, os fieis protestantes exercitam sua santificação, mas psicologicamente
essa realidade leva o fiel a preocupar-se menos do que o devoto e piedoso
católico que igualmente crê na sua salvação em Cristo. De fato, que pensa que
os pecados não acarretam pena alguma após o perdão está mais tranquilo do que
aquele que acredita nessa verdade, pois sabe da sua responsabilidade para
santificar-se cada vez mais e na possibilidade de sofrer as penas dos pecados.
No
quesito salvação ambos estão igualmente seguros na fé que têm em Jesus Cristo.
Mas, na santificação o fiel católico frutifica mais em boas obras pela doutrina
mais exigente que professa.
O
texto de 1 João 2, 2 ensina que Cristo é a propiciação pelos pecados do mundo
inteiro. Isso não invalida o sofrimento no purgatório. De fato, como visto, a
Bíblia mostra que o salvo pode ser perdoado e ainda sofrer penas. O rei Davi é
um exemplo disso. Não se trata apenas de um exemplo do Antigo Testamento, mas é
o modo pelo qual Deus trata o pecado. É Deus quem confere o perdão, mas somente
Ele pode remir as penas. Essa parte é dada ao pecados esforçar-se com a graça
para satisfazer as penas dos pecados perdoados.
Em
Hebreus 9, 28 está escrito que Jesus foi oferecido para tomar sobre Si os
pecados de muitos. Essa verdade não torna desnecessária a penitência pelos
pecados. Somente Cristo garante o perdão e a entrada no céu, mas isso não
significa que as consequências dos pecados sejam suspensas automaticamente. É
preciso arrependimento perfeito, que nem sempre o pecador arrependimento
possui.
A
passagem de Hebreus 6, 4-6 fala dos que deixaram a fé, apostaram. Para esses, é
claro, não há purgatório. Se o apologista tivesse compreendido bem, não usaria
essa passagem. A mesma diz que esses que foram iluminados crucificaram Jesus
Cristo. Portanto, não foram fieis. Se morrem assim, são condenados.
Essa
passagem não tem nada a ver com o purgatório e é perfeitamente entendida na
doutrina católica. Nesse caso, não há razão para o purgatório porque não
morreram na graça de Deus.
Ainda,
o purgatório é sofrido pelas almas, e não se trata de uma obra de pagamento
pelos pecados. É uma forma de justiça que impõe penas por causa dos pecados.
A
salvação é gratuita. Basta crer em Jesus e obedecer. Não são as obras que
compram, mas as obas obras devem nascer dessa comunhão com Deus. Assim, é
preciso operar a salvação. Nesse caso, explica-se esse processo de purificação
adicional que muitos passam. Não todos, mas aqueles que Deus julga necessário
que sofram as penas.
É
verdade que muitos podem pensar que devem realizar obras e penitências para
garantir a entrada no céu. Trata-se de um erro, e assim é preciso evangelização
e estudo da Palavra de Deus. Do mesmo modo, o protestante pode pensar que uma
vez que possui fé não deve preocupar-se com as obras. Pode ocorrer isso, e deve
ser corrigido pelo estudo sério da doutrina cristã.
Em
nenhum momento da doutrina do purgatório mostrou-se antibíblica, mas está de
acordo com a revelação inteira. Está de acordo com o evangelho de Jesus e a
pregação dos apóstolos.
Não
há ação humana para comprar a salvação nem forma de pagamento pelos pecados, a
não ser o pagamento que Cristo fez na cruz.
Uma
vez que se entende que o purgatório não é remição dos pecados mas um castigo
que ainda é devido às penas dos pecados que permaneceram, entende-se a
gravidade do pecado, a santidade de Deus e sua justiça perfeita.
O
apologista protestante afirma que 1 Coríntios 3, 15 é o principal texto
distorcido pelos apologistas católicos.
O
texto estaria se referindo ao juízo final e o fogo provaria a obra de cada um e
não de uma pessoa individualmente.
A
ideia do purgatório no texto é, porém, devido ao fato de que mesmo os que já
morreram sofrerão danos, passando como que pelo fogo, que testará a obra que
cada um tiver feito. Assim, esse fogo que testa ouro, prata, pedras, madeira,
palha, feno, é o fogo que purifica. O que é queimado é obra ruim, pecaminosa. O
que permanece é boa obra, fundamentada em Cristo. Assim, de fato há o
purgatório. Ainda que no dia do juízo haverá uma purificação simbolizada por
essa purificação com fogo.
O
julgamento individual não está explicitamente descrito em alguma passagem, mas
há princípios revelam esse sentido, como o texto de Hebreus 9, 27, onde a morte
é seguida do juízo.
Também,
a objeção de que cada pessoa passa por mais de um julgamento não é um bom
argumento. De fato, um juízo já decide irrevogavelmente o destino do indivíduo.
No entanto, o juízo final tem um objetivo diverso, que é o de mostrar a todos a
justiça e a misericórdia de Deus.
Portanto,
se 1 Coríntios 3, 15 refere-se somente ao juízo final, temos algo a considerar.
Imagine milhares de salvos que já estão no céu, em suas almas, à espera da
ressurreição.
No
dia do juízo final, esses salvos compareceriam diante do tribunal de Cristo.
Muitos deles sofreriam detrimento, sofrendo o juízo por suas obras de madeira,
palha, e feno, o que significa que são obras pecaminosas.
Desse
modo, se estavam ainda para receber o juízo por seus pecados, ainda que salvos,
isso significaria que durante milênios, certamente, estavam no céu, na
felicidade eterna, vendo a Deus, os anjos e os demais santos, e ainda estavam
em pecado.
Também
isso redundaria no absurdo de que após tantos anos de felicidade teriam de
enfrentar julgamento e sairiam salvos, como que por meio do fogo, ou como o
próprio apologista protestante admite, a expressão significa que a “salvação
que ocorre com estreita margem” (p. 67).
Não
faz sentido algum o salvo estar no céu, ser ressuscitado e sofrer perda no
julgamento, sendo salvo por uma estreita margem no julgamento final.
Aos
que acreditam que a alma morre, esses não têm que explicar a contradição, já
que não creem que os salvos estão em algum lugar antes da ressurreição. O
problema é que a Bíblia ensina de fato que a alma é imortal e que os salvos
recebem recompensa no céu. Desse modo, quando se diz que o juízo segue a morte
(cf. Hb 9, 27), deve-se entender que há o juízo particular.
Ainda.
O leitor protestante tem que entender que 1 Coríntios 3, 15 ensina que no dia
do juízo os salvos passam por um juízo de fogo. Certamente, os que estiverem
vivos serão glorificados quando passarem pelo juízo final.
Esse
é o momento descrito, onde cada um é provado por causa das suas obras feitam em
Cristo. Muitos passam ilesos no teste e recebem galardão, enquanto outros
perdem, sofrendo essa perda. Esse é o purgatório.
Se
existe o purgatório para os que estiverem vivos no dia do Senhor, implica a
existência do purgatório para todos os que morrem em Cristo, e que passam pelo
juízo particular, já que não podem entrar no céu sem terem sido julgados. De
fato, na presença de Deus não pode haver nada de impuro. Desse modo, a passagem
ensina a doutrina do purgatório.
Só
se entra no céu após o julgamento. No julgamento há um processo de fogo.
Portanto, existe o purgatório: morte, juízo, e talvez o purgatório, e
finalmente o céu, para os salvos.
Quanto
ao fogo podemos afirmar que ainda que a passagem seja metafórica nesse quesito,
não se pode negar que exista uma espécie de purificação ensinada no texto.
Sendo assim, as traduções católicas seguem o sentido do texto original, pois
não há nada que contrarie a interpretação do purgatório na Bíblia.
A
ideia que o autor entendeu, ao estudar a passagem, de que o foto se refere a uma proximidade crítica à condenação é
bastante curiosa. No Protestantismo não há espaço para tal entendimento. Esse é
o que o texto bíblico de fato ensina.
Quando
olhamos para o texto e vemos que muitos podem salvar-se em Cristo na comparação
como alguém que escapa de um incêndio, temos que há graus de pecado, e que as
obras possui valor na salvação. Doutro modo, não faria sentido. Assim, o
entendimento do autor confirma a doutrina católica.
Também
na interpretação de 2 Macabeus 12, 31-46, vemos que os judeus criam que podiam
auxiliar seus irmãos mortos em batalha, e que haviam cometido um pecado. Essa
noção só pode ser fundamentada na crença de que havia uma purificação
pós-morte.
Desse
modo, os judeus não criam que seus irmãos estavam irremediavelmente perdidos.
Ainda. Aquele pecado certamente não foi de idolatria, pois é possível que os
judeus tenham ficado com os objetos consagrados aos ídolos por seu valor
material, mas que aquilo era proibido pela Lei judaica.
O
episódio de Davi não tem nada contra o purgatório. O rei orava pelo seu filho
para que não morresse. Uma vez morto, o rei disso: “Poderia eu trazê-la de
volta à vida” Ele não estava orando pela alma de um morto, mas manter seu filho
em vida. Esse exemplo do rei apenas prova que há penas pelos pecados e essa
pena do rei foi a morte do seu filho. O pecado foi perdoado, mas a pena não.
Davi passou pela pena do pecado.
E
o último argumento é que todos os pecados levam à condenação eterna. Assim, é
claro, uma vez perdoados o pecador está salvo. Sendo assim, a doutrina católica
permanece, pois acredita que ninguém é salvo morrendo em pecado mortal, e que
todos os pecados veniais precisam de arrependimento e perdão também. Esse
perdão é pedido diariamente. Um exemplo é a oração do Pai Nosso.
E
o apologista protestante cita 1 Coríntios 6, 9-10. Nessa passagem vários
pecados e pecadores são citados: os perversos, os imorais, os idólatras, os
adúlteros, os homossexuais (na tradução protestante usada no livro). A tradução
católica da Ave-Maria traduz como “efeminados”. Também são citados os ladrões,
os avarentos, os alcóolatras, os caluniadores, os trapaceiros.
Nenhum
desses pecados é venial.
Vejamos
os pecados e pecadores mencionados em Apocalipse 21, 8:
Os
covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os imorais, os feiticeiros,
os idólatras, e os mentirosos.
Todos
são pecados mortais.
E,
por fim, é citado Gálatas 5, 19-21:
Imoralidade
sexual, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, desavenças,
ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções, inveja, embriaguez, orgias e etc.
Mais uma vez, são pecados mortais. Todos esses o texto sagrado afirma que os
praticantes não herdarão o reino de Deus.
A
Escritura ensina que há pecado que leva para a morte. Isso implica que existe
pecado que não leva para a morte. Assim, sabemos que há pecado mortal e pecado
venial.
Enfim,
toda a doutrina do purgatório está em conformidade com a Sagrada Escritura.
Gledson Meireles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário