domingo, 31 de março de 2024

Estudo do Apocalipse 2, 1-17

Feliz Páscoa a todos.

 

Apocalipse 2

Jesus tem os sete candelabros em Sua mão direita. Isso mostra que todas as igrejas citadas são Suas, estão sob Sua autoridade. De fato, o número sete é simbólico, e indica a totalidade da Igreja. Mesmo que no historicismo, onde cada Igreja representaria uma determinada fase história da Igreja, cada uma representa a Igreja inteira.

Na interpretação adventista, a Igreja de Éfeso simbolizaria a Igreja do período até o ano 100 ou até a morte do último apóstolo.

É preciso notar que devemos acompanhar a Igreja em todas as suas fases, olhando para o lugar correto, e não confundindo elementos. Então, a Igreja de Éfeso, na era apostólica, simbolizaria a Igreja inteira desse período, e não uma só comunidade literal e histórica.

Desse modo, a Igreja desejável, pois ainda está no período onde os apóstolos vivem. A revelação está acontecendo, a Bíblia está sendo escrita para o fechamento do Novo Testamento, e os apóstolos e bispos por eles ordenados estão pregando o evangelho em toda parte. São Pedro é o primeiro papa. Após 64 d. C. sucede o papa Lino. Até o fim do século, governa a Igreja o papa Evaristo (97 d. C. a 105 d. C.) Temos assim, no período apostólico, cinco papas. Todos foram mártires da fé.

A doutrina pura da Igreja era espalhada em todos os lugares. E Cristo está entre os candelabros que são as sete Igrejas. Então, Cristo está na Igreja de Éfeso, está em toda a sua fase, guiando-a pelo Espírito Santo.

Naqueles tempos existiam heresias, como a dos nicolaítas, que certamente eram cristãos que pregavam um relaxamento moral, contra a doutrina apostólica, contra a doutrina oficial da Igreja, mas não havia ainda divisão séria entre os cristãos. Assim, devemos olhar para a Igreja de Éfeso como a representante dos verdadeiros cristãos, e os nicolaítas como cristãos hereges.

Quando se diz que a Igreja no período apostólico testava os falsos apóstolos, investigava seu caráter e descobria quem eram os mentirosos, isso indica a autoridade dos apóstolos, bispos e presbíteros daqueles tempos.

De fato, quando surgiu a questão sobre a circuncisão, por volta do ano 49 d. C., como deveria ser considerada pela Igreja, foi necessário um Concílio, onde participaram os apóstolos e os anciãos, e que teve autoridade sobre todos os cristãos da época, e a mensagem foi levada a outros lugares através da carta conciliar.

Outro exemplo, desse período histórico, na igreja de Corinto surgiu um cisma, e o papa Clemente (88 d. C. a 97 d. C.), que era o bispo de Roma, escreve a essa comunidade, entre os anos 93 e 97 d. C. Foi um ato do magistério papal em fins do século primeiro.

É o modo da Igreja Católica resolver questões de fé, pelo seu magistério autêntico, estabelecido por Jesus Cristo.

Assim, o anjo da Igreja é o bispo local. Contudo, considerando a interpretação historicista, onde Éfeso representa toda a Igreja entre a ressurreição de Jesus até o ano 100, temos que o anjo simboliza todas as autoridades desse tempo, sendo o ministério do período apostólico.

A Igreja de Esmirna é a Igreja Católica da fase da perseguição. Durante esse período, considerado pelo adventismo como indo do ano 100 até 323 d. C., a Igreja passou por diversas perseguições no Império Romano, onde morreram milhares. Tertuliano chegou a dizer que o sangue dos cristãos era como uma semente, pois a Igreja crescia cada vez mais. Enfrentadas foram várias heresias, muitas controvérsias, mas o magistério manteve o depósito da fé intacto.

O texto sagrado fala dos falsos judeus. Isso indica que os verdadeiros judeus são aqueles da promessa, da circuncisão do coração. De fato, essa interpretação está correta. Como disse o papa Pio XI: somos espiritualmente semitas. Aqueles que se declaram judeus e não são, na Igreja de Esmirna, considerando sua fase local histórica ou como período de séculos (100 a 323 d. C.), simbolizam os hereges daqueles tempos. Outra vez, a Igreja de Esmira é a Igreja Católica desse período, e os falsos judeus são as heresias.

Fiel até à morte. E há uma promessa aos cristãos e Esmirna: Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Essa coroa pode ser da, de fato, no estado intermediário, já que os anciãos, que são os santos do céu, estão com coroas na cabeça. Essa leitura é correta. Mas, há a coroa da justiça (2 Tm 4, 8) que será dada na ressureição, como simbolizado o galardão.

Tribulação de dez dias. Interpretação interessante, considerando a perseguição de Diocleciano, entre 302 a 312 d. C., perfazendo dez anos.

A recompensa do vencedor. E um fato que os cristãos entendiam as promessas de Cristo já em cumprimento na morte. Os mártires já estavam no céu.

A IASD acredita que somente na ressureição essa promessa seria cumprida. Mas não. Os santos já estão na glória, já participam do Reino dos Céus, e já está participando do julgamento do mundo (cf. 1 Cor 6, 2).

Esmirna – mirra, igreja do tempo da perseguição. Essa interpretação é curiosa e é bastante coerente com a doutrina católica, se se considerar os pontos observados segundo a são doutrina.

A Igreja Pérgamo simbolizaria o período de 323 d. C. até 538 d. C. Aqui teria havido influências maléficas, onde “erros e males começaram se infiltrar na igreja”.

O leitor que acompanha desde o início está observando que se trata da mesma Igreja Católica, desde os dias de Jesus Cristo até o ano 100 d. C., depois até 323 d. C., e agora até 538 d. C. Teria ela mudado de figura e agora não era mais Igreja de Cristo?

Pérgamo significando altura, elevação. O texto adventista afirma que “os verdadeiros servos de Deus” precisaram lutar contra os erros desse tempo. E justamente isso foi o que a Igreja Católica fez.

Assim, é preciso notar que esses servos eram a própria Igreja Católica desse período, com sua hierarquia, seus papas, bispos, presbíteros, agindo através de seus sínodos, concílios, doutrinas, liturgia, etc. Aliás, já em 325 d. C. dois anos depois, acontece o Concílio de Niceia, com a Igreja já em liberdade no Império, podendo realizado o concílio convocado pelo Imperador, autenticado pelo papa Silvestre. Esse concílio defendeu a doutrina da divindade de Jesus contra as heresias.

Nesse período foram realizados os Concílios de Niceia I (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451).

Se pelos critérios adventistas, a Igreja nesse período caiu em heresias, e “cristãos” tiveram que “lutar contra um espírito de práticas, orgulho e popularidade mundanos entre os professos seguidores de Cristo e contra a operação virulenta do mistério da iniquidade, que resultou, por fim, no desenvolvimento do homem da iniquidade papal.”, onde estavam esses “servos de Deus”? Eles já haviam se separado da Igreja Católica, que agora não era mais ilegal no Império, e que havia sido libertada pelo Edito de Milão em 313 d. C.?

Ou eles ainda estavam dentro dela, e participaram dos concílios acima mencionados, que defenderam a fé cristã a todo custo?

Se eles estavam fora da Igreja, certamente não poderiam ser os verdadeiros servos de Cristo, pois não estariam lutando pela verdade nos concílios, contra o arianismo, nestorianismo, etc. Se eles eram os próprios arianos, etc., então está respondido que não são a Igreja fundada por Jesus.

A outra possibilidade é que eles estariam dentro da Igreja ainda. Então, estariam lutando pela conservação da fé cristã original contra as heresias citadas, e estavam fazendo isso em união com o papado, pois a forma ordinária da Igreja para resolver essas questões é o Concílio Ecumênico, que só é validado pelo papa, em comunhão com os bispos. Sendo assim, esses servos de Deus eram católicos fieis, e disso não temos dúvidas. Portanto, ou o leitor é convencido de que a Igreja Católica permanece fiel em todos os períodos, como nesse em consideração, e que a interpretação adventista está equivocada, por não adequar-se ao texto sagrado do Apocalipse 2, 12-17, e contam com essas incoerências doutrinais e históricas.

Se esses cristãos reconhecidamente verdadeiros eram a Igreja Católica, então sabemos que criam em Cristo, na sua divindade, na trindade, na maternidade divina, e cultuavam os mártires, os santos, a Maria, e celebravam a missa, e rezavam pelas almas, etc. Todos esses participam ou estavam de acordo com as decisões conciliares. Se os cristãos aludidos como “servos de Deus” que lutaram contra as iniquidades, estavam fora da comunhão católica, então estavam entre os arianos, nestorianos, simbolizados pelos balaítas, nicolaítas, e etc. Então não participaram de nenhuma das grandes defesas das doutrinas bíblicas dos concílios, e não podem ser os fieis servos de Deus.

Onde está o trono de Satanás. Segundo o adventismo a Igreja foi corrompida nesse período. Isso já foi provado falso. Aqui teria sido lançado os fundamentos do papado. Mas, como visto antes, desde os tempos de Cristo há papas, que são os bispos de Roma, que exercem poder espiritual na Igreja, e são simbolizados pelo anjo de cada Igreja.

Falando à Igreja de Pérgamos, então, que é interpretada como sendo a igreja do período de 323 a 538, Jesus afirma que ela conserva o Seu Nome de não negou a fé. Portanto, não foi corrompida.

Dessa forma, Antipas, que é uma fiel testemunha morta no primeiro século, certamente, e que simboliza os que foram mortos nesse período, para fins de melhor entendimento da interpretação historicista, essa testemunha não pode ser um “anti-papa”, como quer fazer entender a IASD com essa interpretação. E os motivos serão dados a seguir.

De fato, assim sendo, teria havido uma saída da Igreja Católica de muitos católicos, após o ano 323, e se tornaram antipapas, e foram perseguidos pela Igreja. Os que desertaram, ou seja, os que apostataram da fé oficial, seriam esses os “verdadeiros” cristãos, segundo esse entendimento. Porém, isso não faz sentido.

Como visto, pois o Senhor Jesus está na Igreja (entre os candelabros), não permite que ela caia (conforme promessa de estar com a Igreja sempre, cf. Mt 28, 19-20), e o texto afirma que Esmirna finalmente “conservas o meu nome e não negaste a minha fé”, e que Antipas foi morto entre vós, ou seja, em Pérgamo, e em comunhão com a Igreja.

Voltando ao texto do Apocalipse, vemos que dentro da Igreja havia os que sustentavam a doutrina de Balaão, e outros adeptos da doutrina dos nicolaítas. Esses são os que simbolizam a heresia desse período. Portanto, a Igreja de Pérgamo é símbolo da Igreja verdadeira, e os que sustentam a doutrina de Balaão e os que sustentam a doutrina dos nicolaítas são os hereges.

Antipas é servo fiel, unido a Pérgamo, portanto, fiel católico.

Dessa forma, não cabe no texto a interpretação de que a Igreja tenha sido corrompida. O cenário não é: a igreja de antes (desde Cristo a 323) tornou-se corrompida por erros, e passou a perseguir os sinceros servos de Deus que dela saíram, ou que ensinavam contra sua doutrina oficial. Essa interpretação encontra refutação teológica e histórica.

Pois, nesse texto, os que seguem a doutrina de Balaão e a doutrina dos Nicolaítas são os que estão contra a doutrina pregada na Igreja de Pérgamo. Por isso, é fácil concluir que a iniquidade não está na Igreja que adentra esse período, mas em grupos que estão dentro dela e que são denunciados como “os que sustentam a doutrina de Balaão” e os que “sustentam a doutrina dos nicolaítas”. Jesus não destitui a Igreja, mas a exorta a que lute contra essas heresias citadas.

Essas doutrinas certamente eram idolatria espiritual, uma conexão ilícita entre a aqueles cristãos (e não a Igreja em geral) e o mundo. Assim, temos a correção: a Igreja de Pérgamo (Católica), de 323 a 538, lutou contra heresias (de Balaão e dos Nicolaítas). Ela é mostrada como fiel, e é exortada por Jesus.

Em nenhum momento é dito que ela se juntou ao poder civil, como algo pecaminoso, coisa que teria dado origem ao papado. Primeiro, porque a união com o poder civil não é mau por natureza, mas pode trazer benefícios e malefícios. Segundo, o papado é de origem divina, religiosa, e não de origem política. Essa interpretação não coube no texto da carta à Igreja de Pérgamo.

Voltando a olhar a partir da correta perspectiva, quando o autor afirma, da Igreja “Disciplinando ou excluindo aqueles que defendem essas doutrinas perni­ciosas.”, deve-se entender da autoridade legítima da mesma Igreja oficial, que vem sendo considerada, desde os dias de Jesus até o ano 100, até 323, até 538. Não houve mudança de Igreja, não houve destituição, não houve tirada de candelabro.

Dessa forma, se Antipas simbolizasse grupos que se voltaram contra a Igreja oficial, deveria ser mostrado em ação contra Pérgamo, e não como membro fiel.

Ainda. Os cristãos que teriam se separado da Igreja de Pérgamo deveriam disciplinar ou excluir os infieis dos quais eles haviam se separado. Algo estranho.

Antipas é uma testemunha que foi martirizada em Esmirna, membro daquela Igreja fiel. Pérgamo e Antipas estão de um lado, os de Balaão e dos nicolaítas de outro. Portanto, o magistério católico autêntico está em Pérgamo.

Gledson Meireles.

sábado, 30 de março de 2024

Escatologia - Parte 3

Texto ainda em revisão.

Escatologia – Parte 3

Aqui o leitor poderá entender um pouco da doutrina adventista e encontrar elementos da doutrina católica para desfazer mal entendidos nesse âmbito.

Estudo da série Comparando Escatologias. Os problemas começam na sucessão do reino grego.”  Depois das quatro divisões do Império Grego surgirá o Chifre Pequeno, que destrói o povo santo e se levanta contra o Príncipe dos Príncipes.

Em Dn 8 há unanimidade em considerar que historicamente o chifre pequeno é Antíoco Epífanes e teologicamente ele é um símbolo para o Anticristo. Aqui o adventismo encontra dificuldade. A primeira é que parece não poder concordar com esse consenso por ter o historicismo como método único a ser adotado.

É certo que unanimidade não é sinônimo de verdade, mas nesse caso é preciso ir além e ver se essa unanimidade deve ser descartada diante da interpretação adventista. Caso não, o adventismo encontra uma refutação geral em sua proposta sobre essa passagem de Dn 8.

Segundo, porque não pode estabelecer que a Igreja Católica é mostrada negativamente nas profecias. De fato, segundo o adventismo esse Chifre seria o papado. Mas isso não pode ser, pois em Dn o povo de Deus, a Igreja Católica, é o Reino de Dn 2, 44.

Sobre o texto hebraico, é um tanto questionável. Os intérpretes e tradutores traduzem “de um dos chifres” porque o contexto também indica essa tradução. Ainda, a frase “de um deles” comprova essa leitura. Ao dizer que “deles” se refere aos “ventos”, trata-se de algo menos provável. Dessa forma, não há muita força de argumento contra um ponto em que há unanimidade entre os estudiosos de várias confissões cristãs. Mas, permanece o fato de ser uma leitura interessante, e pode até mesmo ser estabelecida, caso seja conforme a doutrina bíblica.

Em Dn 7, 2 os quatro ventos do céu agitavam o grande mar. Mas não se diz que os quatro ventos estão ligados ao quarto animal.

A interpretação adventista afirma que a primeira parte da visão traz o carneiro, o bode e o chifre pequeno e a segunda parte o carneiro é a Medo-Pérsia e o bode é a Grécia, dando espaço para pensar que o chifre pequeno é o outro reino após a Grécia. O rei não surgiria das quatro divisões, mas no fim das divisões. Isso não é forçar o texto para adequar-se à nova interpretação? É curiosa a forma de interpretar, mas deve-se saber se é intenção no texto bíblico de afirmar isso: que o chifre surge após as divisões do Império Grego mas não delas. É algo não claro no texto.

As 2.300 tardes e manhãs é algo muito importante na interpretação adventista. E como entender na perspectiva católica. A Igreja parece favorecer a interpretação simbólica desse período, e não dias ou anos literais.

Quando se diz que o chifre são reinos e não indivíduos, isso não é tão exato assim, já que, como vimos, desde o primeiro artigo dessa série de escatologia, o rei e o reino estão entrelaçados em significado, de modo que o chifre como poder pode se referir ao reino e à pessoa do rei.

Não parece que as observações do grande Isaac Newton tenham força para dirimir a questão. Antíoco IV foi de fato grande em algum sentido. Também agiu não por poder próprio, mas do reino que pertencia. Quanto a não ter “derrubado” o Santuário, talvez possa ser que isso é considerado de forma simbólica. Se Newton errou, mesmo do ponto de vista adventista, pode ter se equivocado nesses itens elencados acima.

Pois bem. E se o Chifre Pequeno é Roma? Isso não prova que seja a Igreja Católica, pois Roma e Igreja Católica são duas coisas diferentes. De fato, Roma tentou destruir a Igreja Católica por três séculos. Assim, Roma é o Império Romano. Esse poder de fato oprimiu Israel e afrontou o Príncipe dos Príncipes (Jesus).

E a doutrina adventista leva a dizer o seguinte: “ Isso faz sentido histórico. Uma vez que a Igreja se romaniza e Roma se catequiza, é possível dizer que Roma pagã e Roma católica são a mesma besta. ” Aqui certamente está havendo confusão. Roma foi catequizada, evangelizada, e recebeu grande influência do evangelho de Jesus Cristo. Mas seu Império político continuou em exercício, aliás, sendo muitas vezes, desde os dias de Nero, no século I a Domiciano, no século IV, hostil à Igreja Católica, que já contava com milhares e milhares de membros no século.

E quanto à interpretação de que o papado surge de Roma e é parte da “besta romana”. Não é verdade, não é histórico. O papado surge a partir do Evangelho de Jesus Cristo. A Igreja nasce em Jerusalém, que estava sob o governo Romano. Então, Roma é evangelizada e a Igreja faz ali sua sede, pois Cristo desejou que o evangelho fosse pregado em Jerusalém e em Roma (cf. Atos 23, 11). A Igreja não recebeu poder do Império Romano, nem direta nem indiretamente.

De fato, a Igreja Católica, com sede em Roma, Ocidente, ficou mais distante das influências do poder dos imperadores romanos do que sua parte Oriental, em Bizâncio (Constantinopla), que teve força política até 1453 d. C.

Entretanto, o poder romano, que caiu em 476 d. C., não foi passado para a Igreja Católica. O poder do evangelho não é deste mundo. Então, não é certo em falar de Roma pagã e Roma papal no sentido de que a Besta continua seu poder.

A Roma papal evangelizou a Roma pagã, trazendo o testemunho de Cristo à capital do Império. E após séculos de perseguição à Igreja, essa triunfou contra os poderes da Besta, tendo em 313 d. C. conseguido liberdade de culto e em 380 d. C. alcançando o status de Religião Oficial do Império Romano, aquela mesma Igreja fundada por Cristo  antes perseguida por Roma. E após isso, ainda, a Igreja foi por alguns períodos atacada pelas forças imperiais. Basta ver como sofreu sob Juliano Apóstata.

E a conclusão, portanto está equivocada: “Em suma, o monstro que perseguiu judeus, judaísmo, cristãos e cristianismo, torna-se católico e, ao se desfazer como império, permanece como igreja.” A questão é complicada, mas para melhor entendê-la, basta olhar que a mesma Igreja que estava sendo perseguida foi depois libertada das perseguições e tornada, mais tarde, religião oficial. Isso mostra que não se pode afirmar que o mostro que perseguiu cristãos tornou-se igreja. De forma alguma.

E quanto às perseguições a “judeus, judaísmo e cristãos”, citadas no texto? É apenas um artifício histórico usado nessa confusão mencionada acima. De fato, a Igreja Católica foi ganhando força política e grande notoriedade temporal, de forma a estar ligada ao estado. Assim, a doutrina oficial era defendida conforme as estruturas da época. Não se trata de fato de perseguições, como aquelas feitas pelo Império Romano contra a Igreja Católica.

E quanto a durar até o tempo do fim? Essa é outra questão que está envolvida na confusão imensa que foi citada antes. Realmente, sendo a ICAR a Igreja fundada por Jesus, ela irá dura até o tempo do fim (cf. Mt 28, 19, Dn 2, 44). Portanto, é a Igreja Católica que será perseguida pelo Anticristo.

Na interpretação católica temos que das perseguições de Antíoco Epifânio até sua morte foram 6 anos e 4 meses. Se se conta anos de 354 dias são 2244 tardes e manhãs e se 365 dias serão 2310 tardes e manhãs. De qualquer forma, uma cifra bastante próxima. Sendo Antíoco símbolo do Anticristo esse tempo também é simbólico.

O rei de feroz catadura é o chifre pequeno. Os 2300 anos terminam depois do fim dos 1260 anos: “...então o julgamento feito ao quarto animal após os 1260 anos (Dn 7:9-14 e 26-27) é a purificação do santuário (Dn 8:9-14 e 23-26)”.

Mas, como a Igreja Católica entende, comumente, que os 1260 dias são simbólicos para o tempo de perseguição da Igreja, o seu término de fato será imediatamente antes do julgamento (cf. Dn 7, 26). Aí se conclui toda a profecia. Até então, a Igreja Católica é o Reino de Cristo que já vive esse reinado espiritual no mundo, e espera sua consumação com a vinda de Jesus.

Os cálculos engenhosos da profecia, feitos para IASD, são muito curiosos. Contam 457 c. C. como início para as 2300 tardes e manhãs, simbolizando anos. Isso levaria a 1844, ano em que a purificação do santuário teria ocorrido.

A falha dessa doutrina é considerar que a história cristã até 1798 foi de “ataque espiritual ao poder expiatório de Cristo e ao santuário celestial”, o que não se encontra em nenhum lugar.

Temos o Chifre Pequeno contra o Príncipe do Exército, a retirada do sacrifício diário, a destruição do santuário, a dominação do sacrifício diário e o exército dos santos e a verdade é jogada por terra.

Como sabemos que o sacrifício diário é um tipo do Sacrifício de Cristo na cruz, e que na Era Cristã ele é realizado diariamente em sua forma sacramental na Santa Missa, é perfeitamente provável que haverá um ataque ao sacrifício da santa missa. Tudo ocorreu primeiramente na perseguição aos judeus, e resta a profecia da perseguição aos cristãos. E nisso o adventismo acerta, pois muitas vezes as profecias contem duas coisas em uma só, como Jesus, segundo o autor adventista, Jesus explicaria dois eventos como uma coisa só.

Mas, o adventismo entende que “tirar o sacrifício diário”significa uma forma de “negar ou minimizar o sacrifício de Jesus e sua intercessão como único sacerdote”. Também deverá haver algo que negue o santuário, como a Lei, o sumo sacerdócio de Cristo e o juízo de Deus. E diz: “Tudo isso foi feito também por Roma (em sua fase católica).

Em primeiro lugar, deve-se lembrar que Roma não é a Igreja Católica, mas a Igreja Católica tem sede na cidade de Roma e a evangelizou desde o século primeiro. O Império Romano e a Igreja são duas coisas separadas e antagônicas nas profecias.

Segundo, a Igreja nunca poderia ter feito algo contra ao sacrífico de Cristo. Pelo contrário, como vimos, é ela a única que realizada o sacrifício espiritual de Cristo no mundo diariamente, o que cumpre a profecia. Se algo irá tirar o sacrifício diário em tempo cristão, isso só pode ser uma perseguição à Igreja Católica e a proibição da santa missa. De fato, Lutero escreveu muito contra o sacrifício da santa missa no século 16, e muitas doutrinas tentam tirar da missa a ideia de sacrifício. Isso pode ser considerado uma espécie de ataque ao sacrifício de Cristo.

Quando Ellen White escreve que a Igreja Católica ensina a infalibilidade, e por isso não poderia renunciar aos princípios que nortearam sua conduta no passado, comete um equívoco, já que a Igreja pode reconhecer erros e pecados cometidos, por meio de seus membros, mas não como Instituição de Cristo que ensina a verdade salvífica. Uma coisa é a conduta, e outra a doutrina. Em um campo há imperfeição, noutro há infalibilidade.

É verdade que judeus e cristãos foram perseguidos no Império Romano. Jerusalém foi destruída no ano 70 d. C. A Igreja Católica foi perseguida por três séculos. Foi a Igreja que anunciou o Nome de Jesus Cristo ao mundo, que defendeu Sua divindade em concílio, em 325, que recebeu, guardou e ensinou as Escrituras Sagradas naqueles tempos de cruel perseguição.

Numa interpretação anticatólica a ferida da besta seria dada em 1798 com a prisão do papa e curada em 1929 com a Igreja recebe o Vaticano do governo da Itálica. Mas isso em nada prova que a Igreja seja a Besta e que a prisão do papa marca o tempo em que a supremacia da Igreja teria terminado, assim como em 1929 teria recobrado suas forças.  De fato, a Igreja durante a história foi, por várias vezes, perseguida, e os papas presos, mortos, exilados e etc. Como por exemplo no Cativeiro de Avignon, durante mais ou menos 70 anos.

A interpretação da IASD considera que a ligação do poder temporal ao poder espiritual da Igreja a torna negativa, para “fixar heresias na cultura dos cristãos”. No entanto, o que ocorre é o inverso. Com esse poder, dado pela Providência Divina, toda a base doutrinal cristão foi fixada na cultura dos cristãos pela Igreja Católica: a Bíblia, sua verdade e inspiração, o cânon dos livros inspirados, a divindade de Jesus, a divindade do Espírito Santo, a doutrina da Trindade, do pecado original, do livre-arbítrio, etc.

Assim, o Sacrifício de Cristo foi conhecido na cristandade. E aqui entra algo importante. A doutrina adventista coloca a IASD como aquela que surge para restaurar verdades que a ICAR teria ofuscado, distorcido e jogado por terra. Então, de alguma forma essa Igreja se mostra como a Igreja verdadeira, pois seria aquela que Deus usa para ensinar as verdades do tempo presente. É outra Igreja que se levanta contra a Igerja Católica no século 19.

O papa Pio IX fala das diversas perseguições à Igreja do seu tempo, no século 19, aos diversos erros disseminados no mundo, às doutrinas que nasciam e eram contrárias ao evangelho.

É preciso olhar para a Bíblia e ver se os acontecimentos históricos refletem a profecia, se elas estão ocorrendo, com exatidão, e fazer isso como cristãos católicos, do ponto de vida da Igreja e não fora dela.

Pois bem. Roma se encaixa na profecia? Sim. Mas Roma não é a Igreja Católica, mas o Império Romano, que é um tipo dos impérios anticristãos e do Império anticristão final. As 2300 tardes e manhãs são um tempo simbólico. E a purificação do Santuário não ocorre antes da vinda de Jesus.

A Igreja Católica sempre ensinou ser a Igreja verdadeira. Isso parece soberbo? Para muitos sim. Mas, como a Igreja Adventista se declara a Igreja verdadeira, o autor explica: “e quando o que parece soberba é verdade?”.

E, como a Igreja Católica fundada por Cristo tem sua autenticidade, os movimentos valdense, wyclifita, luterano, adventista, são aqueles que se levantam contra a verdade católica e isso serve para provar os cristãos na fé. Isso também não significa que somente cristãos católicos são salvos, e que membros de outras igrejas não são cristãos, mas que todos, em sã consciência, que servem a Deus com coração puro, fazem parte da Igreja Católica, e entrarão nela quando conhecem mais a verdade.

De fato, “as mensagens são mais importantes do que o movimento em si”. Essa frase contém uma verdade. Assim, a doutrina católica é que deve ser estudada e contraposta a essa interpretação historicista das profecias de Daniel. Uma vez que a verdade católica é patente, não há como ver a Igreja verdadeira como algo negativo nas profecias. É necessário olhar a partir dela, de dentro dela, e entender os poderes que lhe são opostos.

A Igreja Católica é vista como ameaça. Isso escreveu Ellen White. Portanto, para um adventista essa é a opinião correta. Tempos atrás os protestantes ensinavam isso: “Ensinavam os filhos a aborrecer o papado, e sustentavam que buscar harmonia com Roma seria deslealdade para com Deus”.

Para a mensageira adventista, a Igreja Católica tem em seu meio “verdadeiros cristãos”, mas que esses servem a Deus “segundo a melhor luz que possuem” e que não distinguem a verdade, e não conhecem  a diferente de um culto “prestado de coração” e o culto de meras cerimônias e formalidades, que possuem uma fé ilusória, que não satisfaz. É algo contra as cerimônias católicas.

E assim, esforçam-se as igrejas protestantes, como a IASD, para oferecerem o melhor ambiente de culto e adequar seus ritos, música e decoração das igrejas, de modo a não parecer “católico”, mas de alguma forma satisfazer algo da natureza humana que intuitivamente sabem que está faltando.

Gledson Meireles.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Escatologia - Parte 2


A parte 2 do Comparando Escatologias é bem interessante. Trata de Dn 7. Pois bem. A Igreja Católica não dogmatiza sobre o modo de interpretar o Apocalipse. Parece que a Igreja Adventista exige que seja interpretado usando o método historicista. Mas, isso não é exigência católica.

Então, será que o historicismo, como usado no advenstimo, interpretando a Igreja Católica de forma negativa, está correta? Certamente não.

Sendo assim, Antíoco Epifânio pode ser de fato um símbolo do Anticristo. Não é ele o Anticristo, mas é símbolos dos anticristos, e principalmente daquele último, profetizado em 2 Tessalonicenses.

Não há necessidade de que os 3 anos e meio sejam exatamente esse tempo cronológico. Mas é curioso que o tempo de perseguições de Antíoco tenha sido de 3 anos e 10 dias, podendo ser base para o símbolo do Apocalipse. Pode ser que o Apocalipse não esteja interessado no historicismo e em passar exatidão de tempo aqui.

Em Dn 7 ocorre o mesmo que me Dn 2. O quarto império é simbolizado por um animal com dentes de ferro e que possuía dez chifres. Então, os poderes simbolizados pelos 10 chifres são parte do mesmo poder do animal de ferro. Assim como na estátua, onde pés de ferro e barro são parte do mesmo reino das pernas de ferro. E o chifre pequeno é parte desse mesmo animal.

A IASD interpreta o chifre pequeno que surge após a retirada de três chifres como sendo papado. Sabendo que é consenso que o chifre pequeno é tipo do Anticristo, conclui que o papado é o Anticristo. Esse Anticristo teria aparecido após a fragmentação de Roma.

Mas, como vemos na história, o papado vem do tempo de Cristo, e os papas já possuem poder espiritual desde São Pedro. O papa São Clemente já demonstra poder na Igreja em 96 d. C. Assim, vários papas muito antes de 538 d. C., que é a data que o adventismo defende para o surgimento do poder do papado como anticristo subjugando “a igreja” até 1798 d. C. A Igreja Católica é fundada por Jesus quando ainda o Império Romano era poderoso. E somente mais tarde, no século oitavo, é que a Igreja recebe poder temporal significativo.

É praticamente impossível que a Igreja Católica seja algo negativo nas profecias do livro de Daniel, pois ela é a Igreja de Cristo que sofre os ataques das feras. Veja o que está no verso 27: A realeza, o império e a suserania de todos os reinos situados sob os céus serão devolvidos ao povo dos santos do Altíssimo, cujo reino é eterno e a quem todas as soberanias renderão seu tributo de obediência.

A única instituição que pode representar o reino espiritual do evangelho, o Reino de Deus na terra, é a Igreja Católica. Em Nome de Cristo vem formando reinos espirituais, com desdobramentos temporais, formando a Cristandade, fundando nações. Obviamente não é o reino eterno final já estabelecido, mas é o Reino que Cristo deixou como semente na terra, e que já cresceu de forma deslumbrante e magnífica perpassando séculos e séculos da história. Nenhuma outra Igreja tem feito esse papel.

É preciso notar que a Igreja de fato aparece nas profecias. Mas é preciso olhar a partir de sua perspectiva para identificar os poderes que lhe são opostos.

“A natureza da ICAR e do papado só permitem a eles duas opções: ou eles são uma instituição criada por Cristo, com autoridade suprema, infalibilidade e sendo a própria voz de Cristo na terra, ou eles são uma instituição humana que usurpa essa imagem e autoridade”.

Por isso, não há lugar para interpretar a ICAR como o símbolo infernal do chifre pequeno. Não há nada mais longe da Igreja Católica do que o papel que o chifre pequeno exerce.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Escatologia - Parte 1


Vamos estudar um pouco de escatologia, através de artigos do site Reação Adventista, para conhecermos melhor a doutrina adventista e apresentar a doutrina católica a respeito do tema, para melhor comparação. Então, o leitor poderá decidir qual está de acordo com a Bíblia.

Pois bem. O texto de Dn 2 é interpretado de várias maneiras. A Igreja não dogmatiza uma interpretação. Obviamente, pelos estudos vamos percebendo o que está conforme a doutrina cristã católica.

É certo que é comum entre os comentaristas católicos dividir o Império Medo-Persa em dois, como Império Medo e Império Persa. Isso faz terminar a sucessão de reinos na Grécia, que seriam as pernas de ferro.

No entanto, há também na Igreja Católica a interpretação de que os reinos são: Babilônia, Medo-Persa, Grécia e Roma. Aqui, Roma é o reino de ferro. Dessa forma, podemos optar por essa interpretação também.

Então, se há uma crítica onde a Medo-Pérsia deve ser interpretada como um império só, isso não é motivo para não ser católico, digamos de passagem, pois há outras opções interpretativas disponíveis aos estudiosos católicos.

O verso 44 é interpretado como referindo-se não aos quatro reinos, como é comum entre os protestantes, mas aos pés da estátua. E quanto a interpretação que faz diferença entre as pernas e pés da estátua.

Pois bem. É admitida uma interpretação onde o Império Romano irá dura até o tempo do Anticristo (cf. 2 Ts 2, 3.7). Isso supõe uma visão que abrange aquela “dos reinos fragmentados a partir de Roma como uma continuidade”, e faz de Roma um tipo de todos os reinos anticristãos, sendo a parte ao mesmo tempo sólida e frágil do mesmo reino.

Então, os católicos não possuem uma única interpretação, onde a perna da estátua e os pés seriam a Grécia, pois na tradição há interpretação que reconhece a sucessão de reinos indo até Roma.

Os Adventistas discordam que os pés da estátua sejam o mesmo reino que Roma, mas devem ser os reinos que surgiram após a fragmentação de Roma.

Vejamos novamente o símbolo da estátua:

Cabeçaouro

Peito e braçosprata

Ventre e quadrisbronze

Pernasferro

Pésmetade de ferro e metade de barro

Assim como “ventre e quadris” feitos de bronze representam um só reino, assim também é “pernas e pés” feitos de ferro. No entanto, os pés possuem uma parte de barro para indicar que há fragilidade nesse reino no decorrer de sua história.

De fato, a pedra que rola da montanha bate nos pés da estátua, atingindo o ferro, que sãos as pernas, a prata, que são peito e braços e o ouro que é a cabeça. Isso indica que o reino de Deus atinge todos os reinos do mundo.

O rei Nabucodonosor é a cabeça de ouro. Então o reino Babilônico é a cabeça também. Identifica-se aqui rei e reino.

No entanto, ao explicar o quarto reino, do verso 40, explicação essa nos vv. 41-43, é explícita a ligação entre perna e pés da imagem, onde os pés, que possuem ferro e barro, são uma parte e uma forma modificada do mesmo reino.

De fato, o sonho mostra, no verso 33, que os “pés metade de ferro e metade de barro” são parte do reino que é simbolizado pelas pernas de ferro. O texto afirma: “esse reino”, ou seja, o das pernas. “Esse reino” será sólido e frágil.

Vejamos: “Os pés e os dedos, parte de terra argilosa de modelar, parte de ferro, indicam que esse reino será dividido: haverá nele algo da solidez do ferro, já que viste ferro misturado ao barro. Mas os dedos, metade de ferro e metade de barro, mostram que esse reino será ao mesmo tempo sólido e frágil.”.

Os dedos e os pés são parte do reino. Indica que o reino será sólido como ferro e frágil como terra. Portanto, é plausível a interpretação de que o Império Romano tem continuidade na história. E, desse modo, não é necessário fazer separação da perna e dos pés e dedos, como se fossem reinos diferentes.

Vimos que os católicos creem também que a sucessão de reinos chega a Roma, e que, conforme a linguagem da própria profecia, os pés de ferro e barro, conforme apresentação do próprio texto bíblico, são características do quarto reino, que é Roma.

 Gledson Meireles.

 

sábado, 23 de março de 2024

Livro: Conselhos de Ellen White...: sobre a mensageira

Livro: Conselhos de Ellen White sobre Sola Scriptura: o que a mensageira adventista realmente disse sobre o tema. Autor: Davi Caldas, 2021:

Estudo do Capítulo 6

Reconhecendo a mensageira

No estudo desse capítulo, será analisada a doutrina protestante adventista que ele apresenta, e uma contribuição para o entendimento da doutrina católica para o público adventista.

Para tanto, far-se-á uma comparação, que para muitos pode parecer estranha, mas que há muito significado e auxilia no entendimento da doutrina da Tradição divina ou Tradição apostólica para o Catolicismo, ao passo que se entende melhor a relevância da mensageira Ellen Gould White no Adventismo.

A mensagem defendida no livro “Conselhos de Ellen White...”, para fazer conhecer melhor a posição adventista sobre Ellen White, sua profetisa “não-canônica”, afirma entretanto que a mesma (1) não traz nenhuma regra que já não esteja na Bíblia, (2) não serve de base para doutrinas, (3) não é fundamento e centro de sermão.

Ela é usada por muitos como se fosse uma “resolvedora de questões bíblicas”, base para determinadas práticas, centro e fundamento de sermão e especialistas em todas as áreas, e etc. Isso não deveria ocorrer, afirma o livro. Portanto, pode-se acrescentar, Ellen White não é comparável ao magistério da Igreja. Para o adventismo, ela estaria como que em um patamar inferior ao da Bíblia em termos de autoridade, mas em igualdade em termos de inspiração.

Isso porque entende-se que o que Ellen White traz para a IASD já está na Bíblia, e leva à busca dessa verdade na Bíblia, de modo que ela é uma luz menor que leva à luz maior. No entanto, como veremos, sua importância é tão grande na IASD que ela está em termos práticos, pelo menos, como a Tradição divina está para a Igreja Católica.

Voltando ao que o capítulo 6 do livro apresente, esses usos da mensagem de Ellen White, como mencionados, são desvios do que a mesma ensinava. Isso significa que se os críticos afirmam que tudo isso é posição que deve ser tomada pela Bíblia somente, estão certos, e devem saber que a profetisa Ellen White ensinava o mesmo.

Essa questão nos leva a entender mais o papel de Ellen White para a Igreja Adventista do Sétimo Dia – IASD, e comparar com o que a Tradição Apostólica tem em relação com a Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR.

Isso mesmo. É muito interessante o que essa profetisa tem em termos de autoridade para o Adventismo, chegando a ser como que a tradição para o Catolicismo. Talvez isso ajude a quem estuda a doutrina católica e seja de origem adventista. Os demais protestantes precisam entender melhor o que é a tradição divina para a ICAR e o que significa a mensagem de Ellen White para a IASD. Os adventistas, por sua vez, já bem entendidos sobre Ellen White, precisam saber o que é a tradição divina para a Igreja Católica e perceber as semelhanças com aquilo que sua mensageira significa para sua igreja.

Pois bem. Alguém poderia citar Ellen White como se fosse a Virgem Maria na Igreja Católica, por ser tão admirada e seguida. Mas isso não tem lugar no Adventismo, já que ali não há culto de veneração a Ellen White, embora “venerem-na” (a respeitam, a amam, a honram, etc.) de fato pela sua doutrina e em sua memória. Mas, não é essa a questão, e se referir desse modo seria algo muito superficial. Ela não tem no adventismo o tratamento comparável a uma santa católica.

Também, Ellen White não poderia ser o Magistério da Igreja para a IASD, pois isso é uma comparação superficial, pois nenhuma vez ela se colocou para ensinar questões de fé e prática, com autoridade como se fosse outra instância com a Bíblia, nem foi consultada para dirimir questões nesse âmbito, com essa ênfase, não teve esse papel e não é admitida como sendo o lugar onde se procura para resolver assuntos de fé e prática para os adventistas. Então, também ela não é semelhante ao magistério da Igreja Católica. E o protestante adventista faria bem conhecer bem o que significa o magistério católico, caso queira entender melhor a comparação que se faz aqui com relação a sua mensageira.

Agora, entendendo bem o papal de Ellen White no Adventismo e da Tradição no Catolicismo, temos de admitir que há pontos semelhantes, que levam a afirmar que de fato a profetisa adventista não-canônica é como que a tradição para IASD. Não crer em Ellen White impossibilita ser um adventista.

Dito doutro modo, o adventismo possui uma tradição. Essa de alguma forma influi na sua interpretação bíblica, etc. Mas, Ellen White é maior que a tradição adventista, pois ela funciona para a Igreja Adventista como a tradição católica é para a Igreja Católica. Assim, Ellen White tem autoridade maior para o adventista que sua própria tradição.

Não se trata de afirmações categóricas de Ellen White nesse sentido, nem do Adventismo, como se o mesmo a reconhecesse assim, em suas afirmações oficieis, pois é sabido que a posição protestante geral é oficialmente o Sola Scriptura, assim como a persuação adventista o é, e portanto não poderia haver outra fonte doutrinal infalível para a Igreja a não ser a Bíblia.

O que se está aqui demonstrando é que de fato Ellen White tem papel semelhante àquilo que a Tradição Apostólica tem na Igreja Católica. Para termos essa ideia é preciso conhecer o que é a Tradição Apostólica como regra de fé católica e o que Ellen Gould White significa para o Adventismo como profetisa não-canônica. Fazendo isso, é possível perceber a afirmação acima.

O livro faz uma apresentação do que é uma profetisa não-canônica e afirma que isso não rivaliza com o princípio Sola Scriptura. Esse ponto é interessante, pois na Igreja Católica o entendimento da Tradição Apostólica e sua função na Igreja também não cria rivalidade com a Bíblia. No entanto, não há na Igreja Católica o princípio que exige que tudo o que é relativo à fé e aos costumes seja resolvido pela Bíblia. Voltemos ao ponto em questão: o papel de Ellen White no adventismo está conforme o Sola Scriptura assim como a Tradição se harmoniza com a Bíblia no catolicismo. Em seus respectivos campos, há harmonia.

É importante notar, agora, que no Catolicismo é oficialmente reconhecido que há três regras de fé, sendo a Bíblia, a tradição e o magistério, o que já supõe que é pacífico que essas regras estão em plena harmonia. A Bíblia e a Tradição são duas fontes ou dois modos pelos quais a doutrina cristã flui na Igreja Católica, e o Magistério é um organismo que regula as fontes. Se o termo fonte de doutrina não for o melhor, quando se sabe que há uma só fonte da doutrina, que é Deus, poderia ser usado modo de apresentação da doutrina, sendo dois, um escrito e outro oral. Mas, na prática não faz diferença.

Por isso, ao fazer a comparação com Ellen White e o Sola Scriptura não se está fazendo comparação com o Protestantismo como um todo, mas com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em particular, que tem oficialmente Ellen White como profetisa e entende que está em perfeita harmonia como princípio protestante Sola Scriptura.

A prova sobre a continuidade do dom de profecia é bastante clara, e nisso o autor adventista acertou e refutou visões contrárias. Essa posição está conforme a doutrina católica.

E nisso, ao entender que o dom de profecia tem a ver com o testemunho de Jesus na Igreja, e tendo em vista a compreensão do dom de profecia com a verdade presente apresentada por Ellen White como não acrescentando à Bíblia, temos também que esse pormenor é possível entender em relação à Tradição e a Bíblia no Catolicismo, onde as doutrinas da tradição estão de algum modo, explícito ou implícito, na Bíblia, não tendo o papel de introduzir nenhuma novidade teológica em termos de salvação para ser crida como doutrina obrigatória para toda a Igreja.

É preciso saber que há uma diferença crucial. De fato, a Igreja Católica oficialmente afirma que há três autoridades, a Bíblia, a tradição e o magistério. Desse modo, havendo alguma doutrina que seja encontrada somente na tradição oral, isso não invalida sua admissão no credo católico, já que não há necessidade que a mesma tenha sua expressão clara no texto bíblico. Mas, isso é bastante interessante, pois é notável que todas as doutrinas católicas possuem fundamentação bíblica profunda, de modo que é possível percebê-las, mesmo que por seus princípios, e às vezes por fatos em passagens bíblicas, e que é possível prová-las pela Bíblias somente.

É, por isso, oportuno notar que Ellen White é uma profetisa que, de acordo com o autor adventista, possui um papel onde sua mensagem não acrescenta algo à doutrina que deve ser crida, e é subserviente à Palavra de Deus. Assim, seguindo o princípio protestante, todas as instâncias doutrinais são testadas à luz da única instância infalível, que é a Bíblia.

Para a Igreja Católica não há necessidade que outras instâncias como a Tradição e o Magistério sejam testados à luz da Palavra, pois se entende que há harmonia entre Bíblia e Tradição e que há o carisma da infalibilidade do Magistério quando o assunto é fé e prática.

Ellen White tem o ministério de “exortar a congregação à fidelidade bíblica”, através dos seus escritos, ajudar no crescimento espiritual dos irmãos e prepará-los para o futuro.

A Tradição católica tem a função, comumente percebida no decorrer dos séculos, de fazer entender melhor a Palavra de Deus. Traz alguns traços que lhe são próprios, como certos costumes e certas doutrinas ou ênfases ou interpretações consensuais sobre certas passagens bíblicas, de modo que é luz para a vida cristã. É a própria tradição que apresenta o cânon bíblico. Desse modo, a tradição é Palavra de Deus. Ela foi a pregação apostólica, portanto inspirada.

Dessa forma, Ellen White é tida no adventismo como profetisa, mensageira, inspirada. É uma pessoa que traz consigo tamanha autoridade. No caso da tradição apostólica, temos que os apóstolos foram inspirados a ensinar e escrever, e assim o que ensinaram oralmente é de autoridade divina. Então, a tradição apostólica é de autoridade máxima na Igreja com a Bíblia. Embora Ellen White seja apresentada como luz menor, ela possui uma autoridade no adventismo imensa, por ser tida como inspirada, e tendo confirmado doutrinas.

O caso de Guilherme Miller pode ajudar a entender a questão de Ellen White. De fato, Miller cria na Bíblia, foi um estudante aplicado e sincero, convenceu-se de sua interpretação, pensou estar sendo guiado por Deus. E ainda assim, errou em certos pontos. Um adventista não diria o mesmo sobre Ellen White e a doutrina adventista por ela confirmada.

O próprio fato de muitos “marcarem datas” para a volta de Jesus mostra o equívoco tremendo que tinha o movimento, pois a Bíblia é explícita ao afirmar que sobre esse dia e hora não há revelação.

Caso Miller fosse católico, e estivesse trazendo uma mensagem nova, uma interpretação inigualável, algo que estivesse fazendo alvoroço na Igreja, e isso levasse mesmo a um concílio, seria preciso que a mensagem de Miller estivesse de acordo com toda a doutrina cristã pregada e crida durante dos todos os séculos, que fosse acatada pela opinião geral dos fieis católicos em todo o mundo, sem que nada contradissesse qualquer passagem bíblica nem o consenso dos Santos Padres e Concílios que versaram sobre o tema ou que tiveram algo definido que de alguma forma baliza a interpretação surgida dos estudos daquele homem. Seria impossível que a doutrina de Miller entrasse no rol de doutrinas da Igreja.

Uma vez não encontrada uma ligação doutrinal clara com a Bíblia e a tradição, certamente a doutrina, a interpretação, a mensagem, a revelação, seria refutada. E por quê isso? Porque a revelação foi fechada, não há nenhuma doutrina que possa ser revelada para toda a Igreja após o fechamento da revelação. Isso é pacífico. Católicos e protestantes creem nisso. Assim, os adventistas estão de acordo.

E, então, como a mensagem de Miller foi, de alguma forma, aceita? Isso se dá porque o a IASD é protestante, e no Protestantismo há espaço para essas mudanças. No entanto, nesse caso particular, as revelações a Ellen White tiveram maior peso.

Assim, isso teve a ver com o levantamento de um “profeta” ou “profetisa”. Diante disso, dizemos que tal coisa é compreensível em tempos do Antigo Testamento, quando a revelação estava sendo dada, mas não em questões de fé nos tempos do Novo Testamento. Toda revelação precisa estar em consonância com aquilo que a Igreja oficialmente tem pregado em toda a sua história. E a interpretação de Guilherme Miller não cumpre os critérios católicos.

Então, e o que dizer de restaurar verdades bíblicas? Ou seja, há alguma doutrina que não havia sido descoberta por ninguém e, como no caso de Miller, a partir de certo período foi “restaurada”? No caso da Igreja Católica e de como as coisas funcionam, não há espaço para introdução de novidades assim. Serve para a reflexão do leitor.

Assim também, a visão de Hiram Edson levou à adoção da interpretação da purificação do santuário celestial. E a visão levou ao estudo da Bíblia. Pois bem.

Isso, pelo dito antes, não é suficiente para que uma doutrina seja adotada na Igreja Católica, pois podem existir visões que apresentam doutrinas e textos bíblicos que parecem favorecer a visão, e sinceridade nos estudos, que supõem concordar com as revelações. No entanto, uma vez que a doutrina não é parte do patrimônio cristão e contradiz alguma definição dogmática, em um estudo mais acurado, é possível, e de forma cabal, mostrar onde está o erro da interpretação.

E a partir de 1844: “Nos anos posteriores, Ellen White teria muitas visões que confirmavam pontos já estudados e resgatados por diferentes membros do movimento, incluindo o sábado.” O problema aqui já foi comentado. O sábado, no sentido moral e religioso, dia santificado para o repouso e culto a Deus, é claramente um mandamento que é cumprido no Novo Testamento com a guarda do domingo.

Dessa forma, ainda que existam interessantes interpretações sobre o sétimo dia, e essas foram corroboradas e confirmadas por visões de Ellen White, em relação ao sábado isso contradiz a doutrina dos santos Padres e a doutrina dos concílios, o que mostra que a guarda do sétimo dia, o sábado, não é doutrina da Igreja. Dessa forma, basta um estudo da doutrina bíblica para certificar-se que o domingo cumpre o preceito divino.

Então, o convencimento por estudos bíblicos seguidos de visões não é suficiente para a introdução e doutrina no conjunto de doutrinas da Igreja. É necessário que esteja conforme a tradição.

Então, no Adventismo, se o sábado foi estudado, e os estudos concluíram que o sétimo dia deveria continuar a ser observado como no Antigo Testamento, e teve revelações de Ellen White confirmando as conclusões dos estudiosos do movimento adventista sobre o tema, isso torna o sábado parte integrante das doutrinas da IASD, de modo infalível e irreformável, certo e dogmático.

Para aquele que crê no dom profético de Ellen White é impossível que não creia na obrigatoriedade da guarda do sábado do sétimo dia conforme está na doutrina adventista, pelas bases bíblicas apresentadas na interpretação adventista, o que já cumpre o princípio Sola Scriptura, e pela confirmação da profetisa, é impossível que não creia e ainda seja um adventista do sétimo dia. Não há estudo bíblico para averiguais essa questão novamente, pois para o adventismo isso deverá estar encerrado.

A doutrina da mortalidade da alma é outra que o adventismo adota, e que foi estudada no movimento e teve revelação de Ellen White confirmando a interpretação adventista. Esse último fato torna a doutrina um dogma adventista.

No entanto, essa doutrina antiga, que o metodista George Storrs apresentou no século dezenove ao movimento milerita, que tinha estudiosos citados no livro como Henry Grew e Carlos Fitch, é totalmente refutada biblicamente. Se o leitor quiser comprovar isso, basta ler o livro A imortalidade da alma não é lenda, de mais de seiscentas páginas, que está em fase de conclusão, e possui argumentos irrefutáveis, refutando todas as importantes objeções mortalistas.

Isso mostra que ainda que o mortalismo tenha seus pontos fortes na argumentação, e que a doutrina foi confirmada por Ellen White, ela não pode manter-se de pé diante de um estudo bíblico profundo. Também não encontra-se na doutrina dos santos Padres e dos concílios, que mais de uma vez condenaram a doutrina da morte da alma. E, por fim, o consenso universal cristão católico sobre a imortalidade da alma. Isso mostra que é uma doutrina bíblica e presente na tradição apostólica e definida pelo magistério. Nenhuma outra interpretação nem revelação particular pode introduzir outra doutrina.

Para o adventismo, que crê no Sola Scriptura e em Ellen White, o papel da profetisa selou a convicção da interpretação da mortalidade da alma, tornando impossível que um adventista seja convencido de que a alma é imortal e permaneça adventista.

É basicamente assim: nos escritos de Ellen White há a doutrina da morte da alma, da inconsciência dos mortos, e, portanto, essa doutrina é dogma adventista. É uma confirmação de que a interpretação bíblica em questão não pode ser reformada. É o mesmo que encontrar uma definição conciliar sobre o tema. Se o catolicismo definiu que a alma é imortal, isso é dogma de fé, crido por todos os católicos. Se Ellen White escreveu que a alma morre, os adventistas só poderão ser mortalistas.

No entanto, ela não passa no crivo cristão católico: biblicamente todos os argumentos do mortalismo são refutados. Não há nenhum que seja superior aos argumentos imortalistas.

Entretanto, a interpretação católica é profunda, sólida e irrefutável. Ainda, tradicionalmente a Igreja já pronunciou-se contra a doutrina mortalista, mostrando que a imortalidade da alma é um dado revelado. Isso acaba com a possibilidade de que o mortalismo esteja correto. Aqui é preciso entender, conforme o assunto do presente estudo: ou a Bíblia e a tradição ou a Bíblia e Ellen White. O cristão católico estudo a Bíblia e encontra a interpretação autêntica de que a alma é imortal. O adventista só poderá concordar com a interpretação adventista de que a alma é mortal. O católico não pode negar a imortalidade da alma, assim como o adventista não pode aceitar essa doutrina. O fato é que a tradição católica é imortalista, Ellen White é mortalista. Que o leitor compreenda a comparação.

Mais uma comparação torna isso mais claro. Vamos à doutrina do purgatório. Para o catolicismo, essa doutrina possui bases bíblicas, no Antigo Testamento e no Novo Testamento, e foi proclamada na tradição como doutrina revelada. Não há como negar.

No entanto, Ellen White afirma que a alma deixa de existir na morte, o que confirmava o estudo de vários grupos protestantes daquele tempo, e dos grupos que estudavam a Bíblia no movimento adventista, de modo que para o adventismo não pode haver purgatório.

Mais uma vez, ou a tradição apostólica que prova que existe o purgatório, e, portanto, a doutrina está na Bíblia, ou a autoridade da interpretação adventista corroborada por Ellen White sobre o estado inconsciente dos mortos. Então, leitor adventista, é necessário ler o livro que refuta biblicamente as argumentações mortalistas. Há vários artigos do mesmo no blog.

Naquilo que Ellen White ensinou em conformidade com a tradição católica, não há o que objetar, como a doutrina da trindade, e da instrução a não marcar datas para a segunda vinda de Cristo e do cuidado com a saúde. Essas posições fazem parte da doutrina da Igreja e estão corretas.

Diga-se de passagem que se é verdade que a saúde dos adventistas testemunha a correção dos seus modos de vida para o cuidado com a saúde, é verdade que os cristãos católicos que vivem melhor os princípios católicos possuem também saúde acima da média, bastando olhar para os religiosos católicos, onde padres, bispos, cardeais, estão trabalhando com idades superiores aos 90 anos. Aliás, uma freira está entre as três pessoas mais idosas do mundo.

A cidade onde há muitos adventistas possui expectativa de vida de 79 anos. Para fazer uma comparação simples, o estado do Vaticano, de maioria absoluta católica, e que seguem mais de perto as doutrinas da Igreja, possui expectativa de vida de 84 anos.

É digno de nota a passagem que menciona um tema em que na IASD começou-se a ver a “tradição” e “Ellen White” como “resolvedores” de divergências bíblicas e teológicas, ganhando assim “vícios católicos”.

É claro que se assim ocorresse, o movimento adventista teria de adotar uma tradição mais rígida e as revelações de Ellen White não teriam o papel que possuem.

Quando se diz que mesmo os reformadores não acertaram em tudo, é preciso concordar e repetir que é verdade que mesmo os “grandes cristãos do passado” não acertaram em tudo porque é somente a Igreja em seu magistério que, conforme a Divina Providência, quando toma a dianteira para resolver questões de fé e moral é que, nesse caso e somente nesse caso, é infalível, acerta em tudo. Não há na Igreja Católica nenhum indivíduo que tenha acertado no ensino em tudo em termos de fé e prática.

Se se questionar se Ellen White errou em doutrina e prática em seus escritos, o adventista deverá dizer: não. Assim, também, como na tradição apostólica não há nenhuma doutrina errônea.

E quanto ao estudo bíblico e a adoção das doutrinas: “O processo de assimilação não é simples e varia de indivíduo para indivíduo.”, escreve o autor. De fato.

Para um adventista crer, por meio de estudo bíblico, que a alma é imortal, é, como já dito acima, deixar de ser adventista. O motivo é simples: o estudo foi confirmado pela profetisa e, uma vez que se crê que ela é infalível na doutrina, não se pode adotar uma interpretação que negue o que foi confirmado.

E mesmo com a noção protestante da falibilidade da Igreja, o adventista terá de crer que determinada doutrina foi corretamente interpretada e por isso alcançou a graça de uma confirmação da profetisa Ellen White, levando com isso a reconhecer tal doutrina como verdadeiro dogma.

Mas, quanto à imortalidade da alma, cada argumento que forma a doutrina desfaz todos os argumentos mortalistas. Portanto, o mortalismo não pode estar correto.

Dessa forma, a seguinte afirmação: “E manter essa noção é essencial para que o movimento não se julgue infalível, mas procure, pelo estudo constante e com humildade, sempre consertar seus erros e chegar mais próximo da verdade.”, essa afirmação significa que “outras doutrinas” podem ser reformadas etc., mas não aquelas já confirmadas, como a doutrina do sábado, da inconsciência dos mortos e do santuário, por exemplo, que já passaram pela confirmação da profetisa, o que equivale a dizer que é como se fosse um dado da tradição da Igreja, portanto, doutrina revelada. Assim, o que está em Ellen White é tradição, posterior à Bíblia em termos lógicos e cronológicos.

De fato, nenhum adventista se colocará a rever a doutrina da mortalidade da alma em estudos bíblicos, pensando ser possível estar errada e que poderá chegar mais próximo da verdade.

Mas, é um convite para aquele que deseja estudar biblicamente sobre a imortalidade da alma, que leia o livro indicado acima.

Será mesmo que os movimentos que são citados na reforma cristã são de fato “reformadores” e levantados por Deus para levar a Igreja à verdade, apresentando com esses uma mensagem para aquele tempo? Parece que não.

De fato, esses movimentos parecem mais a permissão de Deus para levar a Igreja a reformar-se, sendo heresias que são inevitáveis: “Porque é necessário que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós”. Assim, com as muitas opiniões protestantes, a Igreja Católica saiu fortalecida com o Concílio de Trento, que formou clero santo, abriu escolas, monastérios, publicou catecismo, deu novo ímpeto a missões, favoreceu a vida religiosa renovada, aumentou a prática piedosa de boas obras, mais construção de igrejas arquitetonicamente belas, florescimento da teologia e etc.

Há uma frase interessante no livro: “Pelo contrário, é vergonha pretender infalibilidade quando não se tem.” Certamente se refere à doutrina católica da infalibilidade da Igreja. Mas a Igreja a possui, então não é vergonha ensiná-la.

E, continuando, o autor afirma que um profeta, chamando atenção para o ministério de Ellen White, não tem a missão de dar ao movimento uma interpretação correta de todas as passagens bíblicas e doutrinas. Isso é formidável.

É basicamente o mesmo que é afirmado da tradição da Igreja Católica, ou mesmo do magistério, que não comentário infalível da Bíblia, nunca fez definição de todas as passagens bíblicas, pois tudo o que é revelado é de fé, e não há necessidade de nenhuma explicação infalível para cada passagem bíblica.

E mais: o profeta seria para o movimento não se desviar da missão. De fato, Deus pode levantar pessoas, como os santos, na Igreja Católica, para evitar que seu povo se afaste da verdade. No entanto, quando é necessário resolver questões de doutrina, o meio utilizado por Deus é o concílio.

A Igreja é inerrante, pois como ocorreu no concílio de Jerusalém, o que foi decidido foi a vontade do Espírito Santo, que não pode errar, e foi acatada por todos os cristãos.

Ainda, a relevância de Ellen White é “contínua” para a IASD. Isso mostra mais uma vez o quanto se assemelha à tradição apostólica, que é sempre relevante para a fé católica.

Ellen White foi profetisa, e muito mais uma mensageira da IASD. Isso é interessante. Também, suas doutrinas levam a Cristo, à Bíblia, e são fieis à tradição protestante. É também correto afirmar isso.

Mas, quando se diz que a doutrina do sábado e da mortalidade da alma, o juízo pré-advento, a escatologia historicista, a reforma da saúde, são corretas, isso está equivocado, e basta um estudo bem feito para certificar-se do fato. São coisas que podem surgir do estudo bíblico, mas que não refutam a doutrina original. Para ver isso, leia o livro que prova a imortalidade da alma refutando através da Bíblia todos os argumentos mortalistas. Vários artigos já estão no blog.

E usando as palavras do livro, de que a Bíblia valida Ellen White, por serem as doutrinas adventista oriundas dos estudos bíblicos e corroboradas por Ellen White, sabemos que a Bíblia valida a tradição apostólica: guardai as tradições (2 Ts 2, 15).

Sem Ellen White, na perspectiva interna da IASD, as heresias teriam prosperado no adventismo, afirma o autor. É praticamente a relevância da tradição apostólica, que garantiu a verdade na Igreja Católica, contra erros e inovações.

Lembremos que a tradição mostra como foi formado o próprio cânon bíblico, apontado para a verdade da Bíblia, e afirma a inspiração da Bíblia, garante que a Bíblia é a Palavra de Deus. E a Bíblia, por sua vez, atesta a veracidade da tradição. Ou seja, pela tradição conhecemos que livro foi inspirado por Deus. É como Ellen White no adventismo, que aponta doutrinas que devem estar na Bíblia.

Temos então que na IASD a relevância de Ellen White seria como a tradição para a Igreja Católica. 

Gledson Meireles.