sábado, 19 de outubro de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana, Gregg Allison

Refutação: Capítulo 11: A vida em Cristo (terceira parte, seção 1, capítulos 1-2)

 

A vocação humana: a vida no Espírito; a comunidade humana

 

Gregg admite que a catequese eclesial ensinada no catecismo é centrada em Jesus Cristo. Outra observação no resumo que faz a lição do catecismo é que a entrada na bem-aventurança depende totalmente da graça divina.

A imagem divina consiste na racionalidade e no livre-arbítrio.

Ao ler a explicação de Gregg Allison sobre as virtudes (artigo 7), o mesmo afirma que a fé deve se fazer acompanhar da esperança e do amor, e que a fé sem obras é morta e não une plenamente  o crente a Cristo e não o torna membro de seu corpo.

Contudo, o artigo 7, no número 1815 do Catecismo, sob o título de As virtudes e a Graça, afirma que  “privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um mebro vivo de seu Corpo”. Esse é o texto impresso e também o que está no Catecismo da Igreja Católica publicado no site do Vaticano.

Portanto, o que a doutrina católica ensina é que a fé é a raz da salvação. A fé une a Cristo. Mas, como as obras são necessárias, tanto como consequência quanto como exigência da fé, essa fé sem obras não faz de um pecador convertido um membro “vivo” do corpo de Cristo. Assim, a fé une a pessoa a Cristo, mas se não agir pela caridade e pela esperança essa fé é morta e o membro permanece morto no corpo de Cristo.

Gregg explicou que a fé sem o amor e a esperança “não tornma membro” do Corpo de Cristo, o que foi um equívoco. A fé une a Cristo, imediatamente. Uma vez em Cristo, deve-se agir pela caridade, e praticar a virtude da esperança.

Na avaliação que faz dessa parte do catecismo Gregg afirma que “a teologia católica sobre esses tópicos não é explicitamente bíblico”. Talvez tenha se detido aos nomes, a forma de explicação, que utiliza termos diveros. Mas, certamente também, o autor equivoca-se, uma vez que em toda a sua explicação o catecismo baseia-se em citações da Bíblia, e em nenhuma outra fonte. Assim, essa afirmação de Gregg demonstra sua incapacidade de entender a questão. O que ele chama de algo que não foi “explicitamente bíblico” traz a ideia de que o seja implicitamente. A afirmação é de fato um equívoco.

Mas, ainda, o autor afirma que o ensino do catecismo também não é “não bíblico”, mas contribuição da antropologia e da moralidade que não seria algo definitivo e obrigatório.

Ele afirma que as ênfases ou elementos constitutivos dos atos morais humanos lembra os “proponentes da teologia evangélica”. Afirma que o bem e o mal não estão nos atos em si e reconhece a utilidade da doutrina católica sobre a responsabilidade social e outros.

Afirma que a doutrina católica sobre a imagem de Deus é reducionista, porque a Escritura não faz essa identificação limitada, cita investigações sobre a literatura do Oriente Médio a influência de Karl Barth, coisas que serviriam para criticar e afastar e explicação católica.

O ensino católico sobre pecado mortal e venial está fundamento na Bíblia. O texto de 1 João 5, 16-17 assim ensina: “Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus lhe dará a vida; isso para aqueles que não pecam para a morte; não digo que se reze por esse. Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte”.

Certamente, a Escritura está tratando da morte em sentido espiritual, da condenação eterna. Assim, há pecado que não leva à morte. Sendo assim, há pecado venial. Então, conclui-se que o pecado que leva à morte é o pecado mortal. É simples o ensino bíblico.

Mas Gregg afirma que a Escritura não faria a distinção entre pecados mortais e veniais. A Escritura distinguira apenas pecados não intencionais e intencionais.

Então, Gregg alude “a ideia da teologia católica de que o pecado venial não requer uma nova infusão de graça santificadora para ser perdoado”.

O mesmo parece mesmo não ter entendido bem. O catecismo ensina que o pecado venial “deixa subsistir a caridade, embora ofenda e fira”. Então, é um pecado que não leva à morte.

Depois, o teólogo protestante afirma que a Escritura ensina os graus de pecados no que diz respeito às consequências que os pecados produzem, que se deteria na gravidade do pecado, para as consequências nas vidas das pessoas, “que perdem a intimidade em seu relacionamento com Deus”. Nega que o pecado assim ensinado na Escritura diz respeito à questão da culpa diante de Deus.

Ou seja, o pecado pode ter variados graus, mas em suas consequências na vida dos pecadores, mas não seriam culpáveis diante de Deus, em caso do cristão salvo e na amizade de Deus. Apenas colocaria a intimidade com Deus em má situação. É algo bastante estranho.

Todos os pecados colocariam a pessoa culpada diante de Deus e sob ira divina. Para isso, cita o texto de Tiago 2, 10-11 e outros. Mas, São Tiago afirma coisas relativas aos pecados diretos contra o Decálogo. Quem não mata mas comete adultério é transgressor da Lei.

O mesmo não acontece com o pecado venial. Uma palavra ociosa, um riso supérfluo, como ensina Santo Tomás, podem ser pecados, mas não são contrários ao amor de Deus e do próximo. Assim, são veniais. O mesmo não pode ser dito da blasfêmia, do perjúrio, do homicídio, do adultério.

Na teologia protestante, se uma pessoa ímpia ofende o seu próximo por uma palavra, em momento de ira, teria a mesma culpa diante de Deus que um adúltero teria. Ou, em outras palavras, e posto isso no caso de cristãos convertidos, se um cristão que ofende uma pessoa por um momento de ira passageira não é culpado diante de Deus da mesma forma que um cristão que comete adultério.

Os pecados seriam iguais, em relação à culpa, mas poderiam ser considerados diferentes em suas consequências nas vidas das pessoas. O adúltero teria sua intimidade com Deus perturbada, mas estaria semrpe na graça e em sua melhor posição diante de Deus. No caso católico, o pecado de adúlterio rompe a amizade de Deus, uma vez que está contra o Decálogo, como São Tiago escreve: “Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, disse também: Não matarás” (Tg 2, 11).

Aqui o leitor deve entender melhor a espiritualidade ensinada na Bíblia e aquela que advem da teologia protestante, que são diferentes.

Na teologia protestante apresentada por Gregg o texto de Ezequiel 8, 6.13.15 daria base bíblica para considerar os pecados como maiores ou menos em suas consequências, assim como em Jo 9, 11 onde Judas tem pecador maior.

O problema é que o protestante crê que uma vez perdoado, e justificado, sedu pecado não o tira da amizade de Deus. Uma pequena ofensa e um homicídio seriam igual na culpa. Nenhum desses seria culpável diante de Deus, porque o pecador se arrepende e é perdoado. Para a teologia católica é praticamente improvável que o fiel na graça começa sistematicamente pecados graves, e uma vez cometido experimentará o arrependimento sincero e confessará sua culpa. Adamais, a Escritura afirma: “se viveis segundo a carne, haveis de morrer” (Rm 8, 13). Viver segundo a carne é cometer pecados graves, que levam à morte. Por isso, falando aos cristãos, afirma a Bíblia que os cristãos devem viver segundo o Espírito.

Gregg reclama da falta de atenção dada à Escritura na apresentação do título “A vida em Cristo”. O Catecismo não teria dado atenção à Bíblia “como componente crítico da vivência cristã”, e a atenção praticamente exclusiva com a bem-aventurança humana como propósito de Deus para a vida humana.

Mas o autor protestante não nega que “boa parte dessa seção do Catecismo está fundamentada na Escritura”. Porém, não mostra nehuma que não esteja. Reclama apenas da ênfase dada pelo catecismo, como o leitor verá adiante.

Pois bem. A crítica reflete aquilo pelo que a teologia protestante é conhecida. Cita 2 Timóteo 3, 16-17. Toda boa obra é capacitada por Deus por meio da Sua Palavra.

Exegese dos textos de 2 Timóteo 3, 16-17 e Efésios 4, 11-15.

O texto bíblico de 2 Timóteo 3, 16-17 estaria ensinando que somente a Bíblia deve ser obedecida em matéria de fé e moral, como autoridade suprema e infalível.

De fato, o texto afirma que: toda Escritura é inspirada por Deus. Sendo assim, é verdadeira, não pode errar.

A Escritura é útil para ensinar. Essa utilidade nos leva a aprender por meio da Escritura, e usá-la para o ensino.

Também, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Os erros devem ser combatidos pela autoridade da Escritura, as repreensões devem ter como base a Palavra de Deus, e a formação na justiça deve ser pautada em seu ensino.

Por ela, o homem de Deus se torna perfeito. Pelo ensino da Bíblia o homem de Deus chega à perfeição. Então, todo o ensino para a salvação está na Bíblia.

E, ainda, o homem é capacitado para toda boa obra. Tudo o que deve ser feito e praticado tem sua fonte na Bíblia.

Agora, vejamos mais um texto bíblico para nosso proveito espiritual. A passagem é de Efésios 4, 11-15.

O versículo 11 mostra que o Espírito Santo constitui na Igreja os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores, os doutores.

E isso é feito para o aperfeiçoamento dos cristãos. Ou seja, as autoridades da Igreja visam levar os cristãos à perfeição. E mais: para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo. Eis uma tarefa importante das autoridades citadas: construir o corpo de Cristo.

E o texto continua, mostando até quando essa tarefa deve ser feita: até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo.

Então, o ministério da Igreja leva à unidade da fé, e ensina a verdade par ao conhecimento de Jesus Cristo, até levar o homem à fase adulta da fé, na maturidade de Cristo.

E mais. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina; ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores.  Assim, a autoridade da Igreja previne das heresias.

Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. E pela pratica das boas obras, a caridade, o crescimento em tudo, por meio desse ministério da Igreja, no corpo de Cristo.

Dessa forma, a Bíblia está ensinando sua autoridade, de Escritura inspirada, e a autoridade da Igreja, constituída pelo Espírito Santo.

Ao harmonizar os dois textos temos que a Bíblia é inspirada por Deus, e a Igreja é constituída por Cristo. A Bíblia é útil para ensinar, repreender, corrigir e forma na justiça. A Igreja trabalhar para a perfeição dos cristãos, para construção do corpo de Cristo, para a unidade da fé, para o crescimento dos cristãos na fé em Cristo. Isso só pode ser feito pela Palavra de Deus.

Se o homem aprende e é corrigido pela Palavra da Bíblia, isso é feito pela autoridade da Igreja, pois e essa que é a responsável pela unidade da fé. Conclui-se que a Bíblia é Palavra de Deus inspirada e a Igreja ensina a Palavra de Deus fielmente, infalivelmente.

Ainda, o autor não mostrou o que a teologia protestante teria oferecido algo mais do que a teologia católica ao apresentar a Escritura. Quando diz que a Escritura é mais do que palavras, mas que realiza o que comunica, isso é o mesmo que a teologia católica ensina.

E o autor afirma, como primeiro exemplo, que o ato de declaração de Deus na justificação, “o pronunciamento legal de Deus” segundo o qual os seres humanos não são culpados, mas justos, afirma o seguinte: “Porque a declaração feita os torna justos”.

Essas palavras soam como católicas. De fato, o autor não faz, como os refermados costumam fazer, a diferença da declaração de Deus na justificação, que não tornaria justo o pecador, mas apenas o imputaria como justo, pois a justiça teria sido imputada a ele. Mas Gregg usa o verbo tornar-se, afirmando que o pecado se torna justo, o que é doutrina católica. Então, não há o que objetar.

E, adiante, afirma que a teologia evangélica “lamenta a escassa atenção que a teologia católica dá à Palavra de Deus”. Mas a atenção que a teologia católica dá à Palavra de Deus é plena. Não se entende esse lamento.

Quando a Igreja afirma que o fiel pode viver uma vida digna do evangelho por meio da graça e dos dons do Espírito Santo, isso é assumido como o alimento da Palavra de Deus. O autor parece não ter compreendido.

Também, ao ensinar que o fiel deve estar conforme a mente de Cristo, e o seguimento do Seu exemplo, isso é ensino da Palavra de Deus. Assim também os outros elementos citados por Gregg no seu estudo do Catecismo. O papel da Escritura para a vida em Cristo explicitado nas Bem Aventuranças, nos Mandamentos e na Regra de Ouro, seria tudo o que se diz da Bíblia. O autor achou pouco. E quando apresenta a forma como deveria ser, não acrescenta nada. De fato, não compreendeu o que o Catecismo ensinou.

Quando o catecismo ensina que a Bem-Aventurança humana é o propósito estabelecido por Deus para a existência humana, o autor afirma que a teologia evangélica tem profunda decepção a respeito disso.

Ele admite que “a exaltação futura do fiel é de importância extraordinária na visão bíblica da bem-aventurança futura reservada aos cristãos”, mas afirma que a oportunidade foi perdida por não ter ensinado que o ser humano foi criado por Deus para glorificá-Lo em sua vida. É interessante que o autor estudou o catecismo e não entendeu que na doutrina católica só a graça basta, e a glória de Deus é o que busca todo cristão católico.

Nesse ponto o catecismo apenas está enfatizando o plano de Deus para que o salvo viva as bem-aventuranças, como foi admitido por Gregg que é realmente ensino bíblico de suma importância.

Como o mesmo não compreendeu que o salvos glorificarão a Deus por toda a eternidade e que isso é ensino da teologia católica, verifica-se que sua compreensão da mesma foi limitada.

O catecismo não ensina que o fim supremo do ser humano acaba nele mesmo, mas que é orientado a Deus, e, portanto, acaba em Deus. Esse lamento que o autor expressou é lamentável.

Vimos que a teologia protestante contem erros importantes. Também notamos que Gregg não compreendeu bem certos ensinos e ênfases do Catecismo. De fato, no artigo 2, ao resumir o ensino das bem-aventuranças, o catecismo ensina: “As bem-aventuranças nos colocam diante de escolhas decisivas com relação aos bens terrenos; purificam nosso coração para que aprendamos a amar a Deus sobre todas as coisas.”


Gledson Meireles. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário