domingo, 22 de maio de 2016

A confecção de imagens para o culto é bíblica?

Em primeiro lugar, deve-se entender o tipo imagens a que se refere. Se de deuses, ou de qualquer coisa que venha a receber culto de adoração, a resposta é não. De fato, não se pode adorar nada e ninguém a não ser a Deus.
 
Se se refere a imagens de culto de veneração, que servem para indicar uma realidade, avivar a fé, inspirar piedade, então deve-se concordar com a Bíblia de que a resposta é sim.
 
Entretanto, a Bíblia revela que o culto do verdadeiro Deus continha imagens, e que essas estavam nos lugares mais importantes da adoração a Deus, e de Sua comunicação com o Povo eleito, e serviam de sinal e meio de realização da ação de Deus.
 
Assim, as imagens sagradas estão de acordo com o plano de Deus, enquanto que os ídolos são contrários à Vontade santa do Senhor Javé.
 
Os ídolos constituem tudo o que recebe adoração, roubando a glória de Deus, podendo ser imagens ou quaisquer outras coisas. As imagens, portanto, podem ou não ser ídolos. Para muitos, não obsta que imagens e ídolos sejam identificados na Bíblia, em muitas passagens, já que se servem dessa distinção para reprovar mais diretamente as imagens. Sendo assim, o Novo Testamento jamais refere-se a tal proibição, reservando a interdição apenas ao ídolos.
 
A interpretação de que a proibição é referida somente ao uso cultual das imagens, e não às mesmas em si, é incompleta e, finalmente, errônea. O texto do Êxodo proíbe a confecção, posse e culto das imagens, e não apenas o último. Essa é a leitura literal, corroborada pelo contexto.
 
Uma imagem de personagem civil ou de uma imagem para adorno não seria proibida, enquanto que uma imagem sagrada o seria, por receber veneração, adoração, culto. No entanto, um questionamento é importante: o texto do Êxodo é anterior ou posterior à feitura da imagem da serpente? Obviamente anterior. Deus havia proibido imagens, e naquele momento ordena que seja feita uma imagem. Há claramente diferença entre imagens, umas sendo proibidas e outras lícitas.
 
E o uso que o Senhor Deus fez da imagem que mandou Moisés edificar é esclarecedor. O povo rebelde é castigado com o envio de serpentes venenosas que picavam e feriam mortalmente os israelitas. Moisés intercede pelo povo e esse recebe o perdão. Para aplicar o perdão, Deus manda Moisés construir a serpente e colocá-la em lugar alto e visível no acampamento, para que fosse instrumento de cura aos que olhassem para ela.
De fato, sabendo que Deus os havia perdoado, olhando aquela imagem terrível com a fé de receber a cura, os fieis veneravam aquele objeto, por Vontade divina. Não eram curados quem não olhasse para a imagem, mas somente os que a fitavam.
 
Vivendo o povo de Deus em um tempo e entre religiões altamente idólatras, é magnífico que o Senhor Deus, com toda a Sua sabedoria, tenha instituído um meio de ensinar o Povo Sua economia salvífica, expondo o Salvador por um sinal material, uma imagem de escultura! E essa imagem acompanhou os israelitas por praticamente 500 anos!
 
Entende-se assim, que as imagens são lícitas no culto a Deus. Deus escolheu um meio natural, mas perigoso diante do coração pecador e apegado à idolatria: as imagens. Mas, escolhendo essa forma, não há como negá-la, pois as imagens são do agrado de Deus, desde que não adoradas.
 
E o que é adoração?

Para muitos, é uma questão exterior e material: ajoelhar seria idêntico a adorar! Então, ajoelhar diante de uma imagem seria o mesmo que adorar a imagem. Essa interpretação é estranha, pois leva a ter os atos como absolutos, quando na verdade são relativos, dependendo muito da intenção do coração. Certamente, por isso, muitos ajoelham-se em louvores afirmando estar adorando o Senhor! E o coração? Acompanha o ato exterior? Pode modificá-lo? É aquilo que o determina?
 
A doutrina bíblica é de que a adoração é feita em espírito e verdade, indicando o que se passa no interior, não num local visível e material apenas, como o era no Antigo Testamento, que apenas reconhecia o Templo de Jerusalém como local de adoração.
 
O Novo Testamento é de adoradores em espírito e verdade (cf. João 4), adoradores que adoram a Deus em todos os lugares. Tendo isso em mente, pensemos na adoração interior, que é o reconhecimento do senhorio de Deus sobre nossa vida e todo o universo.
 
Se alguém não reconhece os santos e, portanto, nem suas imagens como “senhores” de suas vidas, não existe adoração. Se eles não tomam de Deus qualquer atributo, nem reconhecimento, nem levam a glória divina, não há adoração. Ajoelhar então, nesse caso, é apenas uma expressão de amor e homenagem, o que chamamos mais propriamente de veneração.
 
Gledson Meireles

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O chamado de Jesus Cristo a São Pedro

Os discípulos de Jesus como embaixadores

Ninguém negará que, em certo sentido, todos somos embaixadores de Cristo, pois devemos anunciar a Palavra de Deus em Nome de Jesus. Mas, em 2 Coríntios 5,20, a forma pela qual essa palavra é apresentada denota o sentido de embaixador como pertencente à liderança da Igreja, ao grupo dos apóstolos, em primeiro lugar, e certamente aos epíscopos (bispos) presbíteros. É um uso que tem a ver com a hierarquia, e não com todos. Nesse ínterim, depois de termos a visão clara sobre a doutrina do primado de Pedro, é importante considera-lo como embaixador de Cristo de uma forma especial, como aquele que está à frente, assim como o apóstolo Pedro estava em relação aos outros apóstolos, não em uma hierarquia diversa, mas numa função peculiar, a de confirmar na fé os irmãos. Essa doutrina tem repercussões belíssimas, e não pode ser negligenciada.

“Não somos perfeitos. Pedro não era perfeito. Não somos infalíveis. Pedro não era infalível.”

Essa frase tem como fundo a ideia de que a infalibilidade do papa, segundo a doutrina católica, significaria uma perfeição moral de Pedro e de todos os sucessores, em que nenhum deles erra, não cometem pecado, e tudo o que dizem e ensinam está em perfeita relação com a verdade, ou melhor, tudo o que dizem é verdade, é infalível. O problema é que esse entendimento não é cristão católico, e um católico bem informado não crê nisso. Pelo contrário, ele crê que o papa é um pecador, que não é infalível em tudo o que qualquer ser humano não é também infalível. A única exceção em que o papa tem o carisma da infalibilidade é nos momentos em que irá pronunciar uma definição doutrinal ou moral que deve ser acatada como pertencente ao conteúdo da revelação oficial, e assim essa infalibilidade da Igreja tem ali seu local de expressão, na pessoa do papa em virtude de sua posição de líder visível da Igreja.

Em geral, o protestante não crê que Pedro tenha sido líder da Igreja, nem em sua acepção visível, pois São Paulo diz em 1 Coríntios 3,11 que não há outro fundamento a não ser Cristo. Dessa forma, pegando as palavras de São Paulo em sua significação absoluta, ensinam que não existe outro fundamento, seja qualquer um que se possa imaginar, nem visível, nem invisível, pois somente Cristo Jesus é o fundamento.

Porém, quando vamos mais fundo nessa questão, essa “absolutização” do argumento tirado principalmente de 1 Cor 3,11 é desfeito, de certa forma, mas de modo que não afeta a consciência de quem o faz, e esse pode conviver com essa tênua contradição. Isso diz respeito que, em geral todos devemos concordar que Efésios 2,20 chama de fundamento os apóstolos e profetas. Sendo esses homens considerados fundamentos da Igreja, em algum sentido, seja ele qual for, há outro fundamento para a Igreja.

Partindo dessa premissa, a leitura de 1 Cor 3,11 não deve invalidade o sentido de Ef 2,20. Então, para harmonizá-los temos que afirmar, segundo as Escrituras, que Cristo é o único fundamento em sentido absoluto e invisível, sobre o qual repousa todo o edifício espiritual da Igreja, mas também os apóstolos e profetas são fundamento, em conjunto, da mesma Igreja que está assentada sobre Cristo. Tendo então esse fundamento humano, que é de outra natureza, podemos afirmar que Cristo é o fundamento em sua acepção de base e alicerce sem o qual não há o edifício, sendo assim o fundamento espiritual e invisível.

Assim, os apóstolos e profetas são o fundamento visível que tem a coesão em Jesus Cristo. Agindo de jeito, onde podemos entender a palavra fundamento em mais de um significado, temos que 1 Coríntios 3,11 trata de um assunto específico e Efésios 2,20 de outro.

Nesse momento, entra a alegoria de Pedro como fundamento em outro sentido, não aquele de 1 Cor 3,11, mas naquele de Ef 2,20. Sendo a liderança da Igreja, o primeiro dos apóstolos, Pedro é entendido como fundamento visível, e não há na Escritura e na razão, como mostrado acima, nenhum motivo para negar essa verdade.

Dito isso, a seguinte afirmação sobre a Igreja não tem lugar na verdade cristã: (a Igreja) “estaria sendo sustentada por um alguém tão humano e falível quanto qualquer um de nós.”

Pedro não é fundamento como o que está descrito por São Paulo em 1 Cor 3,11, ele é um homem como todos os demais, apenas usufruindo de uma posição que ganhou de Cristo para apascentar seus cordeiros e ovelhas. Vale afirmar que São Pedro não pode, assim como nenhum papa, criar doutrinas e proclamar dogmas à vontade, pois ele não é infalível como pessoa, nem tem a possibilidade de ser em virtude do cargo que ocupa, mas apenas em momentos em que o Espírito Santo guia a Igreja para a verdade, quando define questões em momentos de controvérsias.
 
As afirmações consideradas não tiradas do livro A História não contada de Pedro. (http://apologiacrista.com/a-historia-nao-contada-de-pedro)
 
Segue abaixo a refutação ao capítulo 1, com adaptações.

Capítulo 1

O Pedro de Roma e o Pedro da Galileia

            Nessa resposta os argumentos que o livro propõe serão analisados devidamente. No decorrer do texto, as linhas em preto e azul são partes da resposta, enquanto que as verdes de mais cores são oriundas do livro em análise.

            O livro reconhece que os discípulos são “verdadeiros embaixadores de Cristo.” (p. 6) Essa doutrina do Evangelho deve nos inspirar nessa consideração, de que somos representantes de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que os líderes da Igreja, como os apóstolos, realizam a evangelização como verdadeiros embaixadores do Senhor Jesus.

 O foco do livro é um dos doze apóstolos, o apóstolo Simão Pedro. De caráter irresoluto, mas fiel, firme na fé, de grande amor pelo Salvador, era rude nas palavras e nos atos, cheio de zelo e de entusiasmo. Mas não foi isso que o fez apóstolos, mas sim o seu chamado por Cristo.

Bem, a fé cristã católica tem o fato de que Pedro morreu em Roma, e essa é a fundação histórica para a primazia de Roma. [cf. Enciclopédia Católica] Não são as suas prerrogativas de capital do império, que advém do seu pode e influência, mas os escritores da Igreja apontam a herança dos apóstolos Pedro e Paulo como motivo para que Roma seja considerada o centro da fé, a mãe das demais comunidades cristãs locais espalhadas pelo mundo.

Essa informação é de extrema importância, e isso ficará mais claro quando for tratado o tema em capítulo específico. A Igreja não tem outros detalhes históricos constitutivos da vida do apóstolo Pedro como base histórica para a afirmação da primazia da Igreja de Roma, mas apenas o seu martírio. Por ter vivido algum tempo, e morrido, em Roma, aquela Igreja guardou a fé do apóstolo e seu primeiro bispo.

O que está dito aqui não pode corroborar com o que foi objetado no livro, pois aquele nega o caráter do primado Petrino, nega a estadia de Pedro em Roma, nega a sua função episcopal na cidade, e afirma que as características pessoais de Pedro o fizeram importante entre os demais apóstolos, embora isso não seja o caso, pois essa importância advém do fato do apóstolo ter sido indicado com especial atenção pelo próprio Cristo.

O livro tenta fundamentar as menções especiais a Pedro, por parte de Jesus, como fruto natural, e único, de sua personalidade, que era de muita iniciativa, pois era um apóstolo participativo, o que levava-o a acertar e também a errar muitas vezes. E faz comparação com a maioria dos discípulos hoje.

 Então, passa a mostrar as premissas que orientaram sua comparação com o papa: “Não somos perfeitos. Pedro não era perfeito. Não somos infalíveis. Pedro não era infalível. Reconhecemo-nos como pecadores (Lc.5:8), choramos amargamente quando cometemos um pecado (Lc.22:62).” (p. 7)

Essa insinuação de que Pedro não era infalível diz respeito ao objetivo de criticar a infalibilidade do Papa, que é o sucessor de Pedro. No entanto, o livro comete um erro inicial: ao afirmar a infalibilidade do papa nenhum cristão católico crê que o papa é “impecável”. A infalibilidade não implica em sua impecabilidade. Sabemos que o papa mesmo confessa ser pecador, assim como Pedro (cf. Lc 5,8). Portanto, o que o livro traz nessas linhas é inócuo.

É comum que teólogos eminentes cometam esses erros. Assim o fez o pastor Augustus Nicodemus, o revendo Hernandes D. Lopes, e também o pastor e apresentador Éber Cocareli, e tantos outros, quando ao falar da infalibilidade tocam na questão da impecabilidade, e confundindo ambas supõem ter dirimido a questão ao refutar uma, justamente aquele que o próprio Catolicismo refuta.

Ainda: “Infelizmente, com o passar do tempo, esse Pedro humano, pecador e falível como todos nós, foi substituído por um outro “Pedro”, alguém que a Igreja de Roma quer passar a ideia de um ser infalível, chefe de todos os cristãos, o supra-sumo da cristandade, a própria rocha sobre a qual a Igreja (todos nós) está edificada. Ao invés de Pedro ser um cristão igual a nós, fomos obrigados a crer que não apenas nós, mas também todos os apóstolos, profetas, e pasme: o próprio Senhor Jesus Cristo(!), estão todos edificados sobre uma pedra humana, falível e pecadora.”

O livro tenta fazer um contraste imaginário entre a verdadeira biografia e imagem do apóstolo são Pedro e uma suposta “lenda” e “falsa imagem” que teria sido passada pela Igreja na figura do papa. E, então, ensina ao leitor que a Igreja Católica professa a fé de que Jesus e todos os cristãos estão edificados sobre Pedro. Obviamente, não faz citação de nenhuma fonte, apenas conclui daquilo que entendeu. Mas, seu entendimento é falho, pois a Igreja Católica crê que a fundação da mesma é Jesus Cristo, e que são Pedro tem sua força proveniente do mesmo Senhor Jesus Cristo.

Um cristão católico verdadeiramente esclarecido não tem o papa como fundamento da Igreja, como quis passar o livro em análise, e assim a informação que o mesmo traz não tem validade alguma no sentido de gerar qualquer mudança no nosso coração.

Somente no sentido de governo, de uma liderança visível, é que a Igreja Católica crê que Pedro é a pedra fundamental. Talvez alguém queira introduzir nesse momento, e novamente, a negação de que Pedro não foi o líder, não exerceu primazia, não exercia jurisdição e etc., e passam por cima de qualquer outra evidência para continuar sua argumentação a partir dessas afirmações.

E essa verdade coloca Pedro sobre o fundamento de Cristo, pois o papa não teria autoridade se essa não lhe fosse dada por Jesus. O Catecismo no número 424 mostra que a Igreja está fundada sobre Jesus, afirmando que a confissão de Pedro é a pedra de fundamento. Eis um exemplo do documento oficial explicando o sentido de Mateus 16,18 de forma espiritual, com foco em Jesus Cristo como fundamento da Igreja. Portanto, o que o livro afirmou acima não é verdade.

Em continuação, o livro afirma: “Um Pedro infalível, que manda e que desmanda, que cria dogmas e que ai de quem vai contra ele ou ousa questionar a sua autoridade!” (p. 7)

Deve-se saber que o papa segue a tradição cristã e não pode criar dogmas, nem tem qualquer autoridade senão pela verdade. O que o livro coloca acima é uma crítica vazia, e um julgamento errôneo da fé católica. Normalmente, o papa toma decisões que estão em concordância a maioria de bispos e presbíteros e teólogos em todo o mundo.

O objetivo do autor é “desmistificar” o que considera o “mito” sobre o apóstolo são Pedro, de ser o fundamento da Igreja, de sua primazia, de sua infalibilidade, de ser o único vigário de Jesus, de sua autoridade máxima, de ser bispo de Roma, portanto, de ser papa, de usar o título de Sumo Pontífice, dos papas serem sucessores de são Pedro, e de Roma ter a primazia entre as igrejas. Então, deseja que ao terminar o livro o leitor não creia em nada mais do que aponta numa lista, que inclui o que foi citado acima, e termina o capítulo com as palavras: ““Pedros” que não sejam o original serão desmascarados. E um povo sábio e consistente na Palavra de Deus será erguido.” (p. 8)

Uma das afirmações que o livro propõe para criticar é: “Pedro era o único vigário ou representante de Deus na terra”. (p. 8) Para entender essa questão deve-se saber o que a Igreja ensina:

“No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja, como Cabeça do seu corpo, Pastor do seu rebanho, Sumo-Sacerdote do sacrifício redentor, mestre da verdade. É o que a Igreja exprime quando diz que o padre, em virtude do sacramento da Ordem, age in persona Christi Capitis – na pessoa de Cristo Cabeça:” (Catecismo da Igreja Católica, 1548). [ênfase do original]

A Igreja ensina que Jesus Cristo é o Cabeça da Igreja, que é o Pastor, o Sumo-Sacerdote, e que o padre age em Seu Nome, em Sua Pessoa. Isso equivale a dizer que o padre é o Seu representante. Isso está naquilo que foi dito a respeito do ser embaixador de Cristo.

“Esta presença de Cristo no seu ministro não deve ser entendida como se este estivesse premunido contra todas as fraquezas humanas, contra o afã de domínio, contra os erros, isto é, contra o pecado.” (Catecismo, 1550).

O cristão católico deve professar a fé de que todos somos pecadores, mesmo os ministros santos de Deus. Isso inclui o papa. Quando o livro quis inculcar que a fé católica tem o papa como “impecável” ele está introduzindo erro. Esse artigo não está no nosso credo.

“Cada bispo tem, como vigário de Cristo, o encargo pastoral da Igreja particular que lhe foi confiada.” (Catecismo, 1560).

Temos, então, que o papa possui o primado que Jesus deu ao apóstolo são Pedro, judeu, pescador da Galileia, e que foi testemunha de Jesus, primeiro dos apóstolos, pregador do Evangelho em Roma, e que vivendo nessa cidade por algum tempo, sofreu nela o martírio. Essas informações estão na Bíblia, e são corroboradas pelas tradição, em vários documentos.

Ainda, que assim como são Pedro, o papa é um homem falível e pecador, e em virtude do cargo é fundamento e sinal de unidade na Igreja. Por seu cargo o papa é infalível.[1]

Nesse número, 1560, o Catecismo ensina que todo bispo é “Vigário” de Nosso Senhor. Sendo assim, temos muitos vigários. Se o livro disser que há somente um vigário, o papa, estará cometendo outro erro, que não é de fé católica. O papa não é o único Vigário. Portanto, a ideia que o livro ataca não existe.

Pelo que o livro trouxe até o momento, fica claro que seu entendimento básico da doutrina católica sobre o primado de Pedro é defeituoso. O autor não o compreende e julga uma concepção não católica da mencionada doutrina.

É preciso, antes de continuar, entender o básico da questão, da mesma forma que o cristão católico entende, e só a partir daí tecer a contra-argumentação. Afirmar que o católico crê que o papa é o fundamento da Igreja conforme o sentido de 1 Cor 3,11, quando na verdade o católico não crê nisso, não adianta. Afirmar que o católico crê que o papa é impecável quando sabemos que o papa é um homem como outro qualquer,  sendo pecador, e que a infalibilidade não é isso, também não adianta. E tantas outras coisas. Para que a crítica seja correta, poderíamos fazer assim: “O Catolicismo ensina que o papa é infalível, mas isso não quer dizer impecabilidade. É apenas infalível nas questões de fé e moral quando fala na condição de pastor a toda a Igreja, no momento de confirmar a todo na fé. Sendo assim, nesses raros momentos, a Igreja goza da infalibilidade na pessoa daquele que a está visivelmente conduzindo, pois o Espírito Santo afirma que guiará a Igreja a toda a verdade”. Então, essa é a posição do Catolicismo.

Agora, tente contra-argumentar contra a ideia católica de que o papa é pecador, e que é infalível naquele âmbito descrito, de que a Igreja em questões de fé e moral não pode errar em geral, pois isso estaria contra João 14,26 e etc.

Há quem tenha facilidade em afirmar esse último passo, mas logo chega ao conceito de “ecclesia”, da Igreja invisível, e que essa não pode errar ou ser destruída, distinguindo-a da Igreja visível. Dirão que sua negação tem a ver com a Igreja visível e não com a invisível e etc., mostrando apenas que o sentido do dogma existe, havendo mais ou menos divergência em sua aplicação.

Com intuito de auxiliar nessa reflexão, leiamos o que nos informa o grande historiador da Igreja, Eusébio de Cesaréia:

“Logo depois, sob o reinado de Cláudio, pela benigna e graciosa providência de Deus, o grande e poderoso Pedro que, por sua coragem era o líder de todos os outros, foi conduzido a Roma...”

Essa linguagem é bastante cristã católica, e não parece em nada com o modo de entender do Protestantismo. De fato, um protestante dificilmente se referiria a Pedro como “o grande e poderoso Pedro”. Talvez, também não o considerariam como o “líder de todos os outros” apóstolos. Mas, a fé cristã é justamente essa, que a História Eclesiástica testemunha nesse registro.

Assim, o que Eusébio escreve aí traz pelo menos duas informações importantes: de que Pedro é o líder dos apóstolos, e que foi levado a Roma pela Divina Providência.

“Mas uma grande luz de piedade iluminou a mente dos ouvintes de Pedro, de modo que não lhes era suficiente ouvir uma vez nem receber o ensino não escrito da proclamação divina, mas com todo tipo de exortação suplicaram a Marcos, cujo Evangelho temos, que, como companheiro de Pedro, lhes deixasse um registro escrito do ensino que lhes fora dado verbalmente.”

Essa atestação da pregação de Pedro em Roma é inequívoca. O Evangelho Segundo São Marcos foi escrito tendo por referência as pregações de são Pedro em Roma.

“Ora, Pedro menciona Marcos em sua primeira epístola, que teria composto na mesma cidade de Roma, coisa que, segundo dizem, ele mesmo indica, referindo-se à cidade metaforicamente como Babilônia, com as palavras: “a eleita na Babilônia vos saúda e também Marcos, meu filho” (1 Pe 5,13)”. [História Eclesiástica, II, 14.15]

Essa outra informação importante afirma que os cristãos antigos entendiam que Pedro refere-se a Roma quando escreve “Babilônia”, usando um termo metafórico. Essa é uma prova da antiguidade dessa interpretação de 1 Pd 5,13.

            Quanto às atenções especiais a são Pedro, essas são sinais da sua primazia. Ainda nos momentos em que sua personalidade não é evidenciada, e que o mesmo esteja em situação idêntica a dos demais, o Senhor Jesus o destaca como líder.

Ao encontrar os apóstolos dormindo, quando deviam vigiar, o Senhor disse a Pedro: E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo?(Mateus 26,40)

Não foi o apóstolo sozinho quem dormiu, mas todos adormeceram. No entanto, a especial atenção, e exortação, vai ao líder. É preciso ver o contexto de toda a passagem, sendo as premissas até aqui vistas, para que não venham com listagem do primado de Paulo, de Tiago, de Judas Iscariotes, etc., tentando negar o óbvio. É preciso refutar cada argumento acima, e só assim passar para as comparações irônicas desse tipo.

Noutro momento, temos que o Diabo pede para perseguir os apóstolos, mas o Senhor diz a Simão Pedro: Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.” (Lucas 22,31-32)

Essas são provas da liderança do apóstolo São Pedro sobre os demais apóstolos, e essa promessa foi feita antes da revelação de que o apóstolo iria negar o Mestre. A liderança aqui não é vista como uma jurisdição de mandar e desmandar, de julgar ou não, de impor ou não a sua autoridade. Naquele momento não havia circunstância para isso, e todos os apóstolos iriam ser cheios do Espírito Santo, infalíveis na pregação do Evangelho. O que vemos é a primazia que traz em si toda a semente da ideia de liderança, jurisdição etc.

Penso que essas palavras já são suficientes para afirmar que o apóstolo Pedro, que nasceu na Galileia, é aquele mesmo Pedro que foi martirizado em Roma, o qual tem por sucessores os bispos de Roma, os papas da santa Igreja Católica.

Vai, realmente, valer a pena ler o livro até o fim, e responder a seus erros, e fazer cair os mitos em Nome de Jesus Cristo.

Gledson Meireles.

[1] Não a todo momento, como foi explicando antes.