quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A Justificação pela Fé: por que os protestantes são mais afetados pela tendência contemporânea de otimismo e negação do pecado?

Continuando o estudo do livro Cuidado com o alemão..., do pastor Tiago Cavaco, agora tratando do tema maldade.

A Igreja Católica tem sempre um ar juvenil, apesar de antiguidade, está sempre na moda, mesmo sendo tradicional. É isso o que notou Chesterton há quase um século.  E, com isso, sua teologia sempre está
incomodando, em assuntos que o mundo pretende impor. Não é exagero dizer que sempre está na vanguarda quando o tema é defesa da verdade. É simplesmente impressionante.

A visão pessimista do ser humano, da natureza humana, e a consciência da maldade humana, são coisas que Lutero aprendeu enquanto era católico. Ser pecador é uma realidade que o cristão católico tem sempre diante de si, em sua consciência e em sua constante confissão: sou pecador Senhor, tende piedade de mim. Perdão, Senhor. Perdoai-nos, Senhor. Perdoai-nos as nossas ofensas. É a oração constante da Igreja.

A visão pessimista do ser humano e a verdade da graça estão sempre diante de nós. Talvez o sentido do perdão, como concebeu Lutero, enquanto era padre, foi equivocado, em certa extensão. De acordo com Tiago Cavaco, o perdão a ser alcançado pelo homem, segundo o ensino católico, é feito através das boas obras que compensem a más. Mas isso é uma coisa que não se encontra na Teologia Católica. Se tal é o conceito de Lutero, e se essa análise do pastor batista estiver correta acerca do reformador, e se essa é a forma e concepção de perdão que o pastor imagina ser ensinado pela Igreja, tal ponto deveria ser um dos principais a serem estudados, para desfazer tal equívoco.

O homem não pode por suas próprias forças deixar de pecar. Não pode oferecer obras que comprem o perdão, ou que compensem suas faltas. Então, o que fazer? Lutero pensou ter lido na Bíblia que o justo viverá somente da fé. O que isso significou para ele? Que somente a fé salva, e que a necessidade de santificação não teria a ver com salvação, embora fosse ligado a ela. Tal concepção parece a doutrina bíblica, mas não é. De fato, a Bíblia ensina que sem santidade ninguém verá a Deus, ensinando a obrigação de santificação durante da vida. O salvo viverá da fé, e das obras, mas não somente da fé. Eis a questão. A separação da justificação da santificação, ao invés de lançar os olhos para Cristo, tem o resultado de enfraquecer no homem a busca pela santidade.

Alguém dirá que quanto mais se sente livre em Cristo, quanto mais sente que suas obras não podem salvar, mas se lançam a praticar boas obras em resposta à salvação recebida. No entanto, isso não acontece. Basta ver o quão é difícil para o Protestantismo gerar santos como o catolicismo. E sabemos que o Catolicismo ensina que todas as nossas obras são dons de Deus. Mas, o sentido de pecado e de graça é tão poderoso, que os santos sabendo serem livres para amar, entregam-se tanto à graça, que não têm como suas nenhuma das boas obras, concebendo tudo como pura graça divina. O que Lutero intencionou fazer, os santos católicos heroicamente conseguem, não eles, mas a graça de Deus neles, parafraseando São Paulo.

E o próprio Lutero viveu a amargura do pecado, nos seus dramas íntimos. Isso não é restrito à sua vida de jovem, nem de membro da ordem de Santo Agostinho, nem como monge ordenado sacerdote, mas principalmente após sua saída da Igreja, quando viveu a doutrina da justificação pela fé somente. Foram anos difíceis para o reformador. Não encontrava paz na alma. Lutero via no povo menos espírito piedoso, confessando que sob o Catolicismo o povo era mais preocupado em praticar boas obras.

A vida de Jesus, nosso maior modelo, é cheio de exemplos de exercícios espirituais. Quantas vezes nosso Senhor afastava-se dos afazeres diários, da companhia dos outros, para orar a sós, na montanha, em lugar reservado. Era viver o sagrado, extraordinariamente, e não somente o profano.

Lutero confessa às vezes, por sua vez, não ter tempo para orar. Sua vida diária, que na sua teologia deveria ser a vida cristã em sua essência, sem necessidade do extraordinário, onde o comum é tudo, trazia-lhes esses momentos de sofrimento, em que via-se caído em suas fraquezas. Ao contrário, a vida dos santos mostra-os santificando cada momento, e vivendo a oração de forma profunda. Há momentos em que o extraordinário deve estar presente. Justificação e santificação são dois lados da mesma moeda. Inseparáveis.

A justificação do pecador que crê em Cristo é para Lutero algo situacional, como que mudança de lugar, e não mudança no interior da pessoa justificada. Assim, o pecador é declarado justo, e não o é em si, mas justo por imputação, tendo a justiça de Cristo sendo considerada no lugar da sua. No processo de santificação a pessoa iniciaria o processo para ser realmente santo.

No Catolicismo, tanto a linguagem jurídica quando a real transformação são ensinadas. O pecador é declarado justo no tribunal, e a justiça de Cristo é derramada no interior do pecador, que inicia, pelo impulso da graça, como justo e santo, o processo da própria justiça e santificação.

Na perspectiva de Lutero era como se o pecador, ainda que cometendo pecado, deveria lançar o olhar para Cristo, e ver que aquele pecado não o leva à condenação. Na perspectiva bíblica e católica, o que comete pecado deve arrepender-se, confessar-se, e temer a queda, pois o que semeia na carne só colhe corrupção, que é condenação (cf. Rm 7 e 8). Não se está negando que Lutero não tenha ensinado o arrependimento e confissão, mas há o paradoxo que em Lutero o pecado parece menor em sua ação. Afaga mais o ego essa espécie de pensamento. Deixa a consciência mais adormecida.

Por isso, os santos católicos não se desesperam da salvação, e não podem cair na presunção, por crerem na graça, e crescem esplendorosamente na santidade. Tal coisa é rara em meio protestante e reformado, onde todos creem ser justos e santos igualmente, a partir da justificação, e que a santificação não contaria na salvação! Para o cristão católico ninguém é perfeito, mas devemos buscar a perfeição, e viver fé ativa, na caridade, em oração e boas obras, temendo e tremendo diante do Senhor, que nos faz justos e santos, em todo o nosso ser, corpo alma e espírito (1 Ts 5, 23).

Talvez seja por isso o pragmatismo protestante. O santo é aquele que age, que faz algo pelo mundo, que contribui para que algo aconteça, para o bem da sociedade, enquanto que para o catolicismo o santo faz tudo isso, mas é santo quando heroicamente vence em si o pecado, com auxílio da graça de Deus e iluminação do Espírito Santo. É santo o que mortifica suas paixões pecaminosas, que vence o ego decaído, e frutifica em bons frutos. E somente sobem aos altares os que tem exemplos de virtudes heróicas que ajudarão os irmãos a trilharem os santos caminhos.

Não parece exato o que o pastor explica sobre a doutrina da justificação ensinada pela Igreja Católica. Ele afirma que no batismo são expulsos os hábitos do pecado, e não sei ao certo onde se baseou para escrever isso. Talvez seja apenas uma explicação incompleta. Talvez palavras mal colocadas. Seria bom ter o esclarecimento do autor sobre isso.

Não é somente santo o que menos pecados comete, e o que se priva dos divertimentos do mundo. É verdade que o santo comete menos pecados! É verdade que o santo não se mistura com o mundo! Mas, olhando para o catolicismo, é um exemplo de como isso funciona na prática. Veja os exemplos de seminaristas que são formados durante anos nos seminários, e se divertem jogando futebol, ao passo que há pouco tempo em ambientes mais puritanos e pentecostais jogar futebol e assistir televisão era abominável!

Então, outra questão que se deve frisar nessa diferente postura de um católico e um protestante ao falar da salvação, é que o católico teme a presunção. Assim, como a Bíblia nos ensina que devemos ter cuidado ao julgar estar de pé, para não cairmos. Por outro lado, o católico se firma em Deus que é poderoso para nos salvar.

Obviamente a salvação não pode depender das obras, e isso a Igreja Católica definiu, diante das críticas protestantes, claramente no Concílio de Trento. No entanto, é preciso notar que o homem realmente pratica boas obras, (cf Ef 2, 9-10) quando é salvo, e que essas são importantes para entrar na glória. É disso que estamos falando quando o assunto é boas obras.

Se a cultura atual tem se esquecido do pecado, a fonte dessa desorientação é outra. Não se trata de encontrar uma doutrina mais doce no catolicismo, por exemplo. Não há como falar mais sobre essa realidade do que no Catolicismo, onde todos os dias nos confessamos pecadores e pedimos o perdão de Deus. Isso está em nossas orações, cânticos e liturgia.

A maldade está esquecida no mundo. Lutero pode ajudar nesse trabalho de pregação sobre o tema. Mas a Igreja Católica tem o meio mais eficaz de o fazer, como sempre tem feito. Os católicos nutrem-se do evangelho reconhecendo-se pecadores necessitados do perdão.

Os protestantes podem recuperar o evangelho se lerem o Catecismo católico. A retomada do estudo da patrística, de santo Agostinho, e mesmo de são Tomás de Aquino por pastores e teólogos protestantes tem auxiliado nessa aproximação da verdade sobre vários assuntos.

Por que será que os descendentes de Lutero perderam muito a consciência do pecado? E como o autor do livro pôde reconhecer que os cristãos medievais eram mais humildes, sem tocar na origem desse romantismo que tem crescido no Protestantismo? Em outras palavras, por que os protestantes são mais influenciados por essa nova tendência de otimismo que desconsidera o pecado? É hora oportuna de conhecer melhor a doutrina católica.

Gledson Meireles.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Catolicidade sem Catolicismo é possível?

A resposta mais simples é: não.

Embora os protestantes, parte deles, aqueles mais preocupados com a pureza doutrinal, e o seguimento mais genuíno de Cristo, pretendem resgatar a catolicidade, própria do Protestantismo. Estão chegando mais próximos à verdade católica.

Essa catolicidade era o que pensavam os reformadores, todos católicos, aliás, que haviam saído da Igreja, não porque pensassem ter abandonado o Catolicismo, não que tenham tido essa intenção, mas porque julgavam estar trilhando os verdadeiros caminhos que a instituição católica teria deixado de lado.

Assim, há protestantes hoje que, como Tiago Cavaco permite pensar, recitam o credo, dão valor à tradição, estudam mais o catecismo, não torcem o nariz para os rituais e repetições da liturgia. No entanto, essas coisas, positivas, é claro, ainda não são suficientes para ser católico. Contudo, indicam um passo positivo.

Outro assunto importante é sobre a patrística. Os protestantes tendem a pensar que os padres da Igreja eram tão desunidos quanto os reformadores do século 16, e que as diversas comunidades católicas podem apresentar igual ou maior diversidade que o Protestantismo apresenta. Como Cavaco diz, um membro da Opus Dei pode ser mais diferente de um jesuíta do que se compararmos um calvinista em relação a um pentecostal! Será? Isso é certamente um exagero! Na verdade, isso não está correto.

Com essas ideias, que não são novas, muitas pessoas pensam que as divisões protestantes são menos drásticas, e que no mínimo o Catolicismo estaria em idêntica situação. Para início de conversa, então, isso demonstra inconscientemente que os Protestantes aceitam a diversidade católica, e por isso não devem usar nunca tal constatação que possuem como argumento contrário ao Catolicismo.

Mas, para uma apreciação pormenorizada desse assunto, é preciso entender a unidade católica, conforme a Bíblia. Com isso em mente, agora deve-se tomar um passo importante para entender a diversidade da Igreja Católica, à luz da Bíblia, como está em 1 Coríntios 12, e veremos a unidade real que o Corpo de Cristo exige.

Ao vermos tantas igrejas evangélicas desunidas, logo nos vem à mente que isso é algo negativo. Contrariamente a isso, o pastor Tiago afirma que tal coisa revela uma liberdade, algo totalmente positivo. Entendemos. Mas, pensemos nos primeiros cristãos vendo tamanha divisão. Não existia nada parecido nem no primeiro, nem nos séculos posteriores. As divisões eram todas reprovadas. Por isso, é natural que o católico fique escandalizado com tanta divisão no protestantismo. É uma reação natural. E correta.

Quanto aos sermões incisivos e punitivos de Lutero. Talvez isso seja raro, ou mesmo inexistente, entre protestantes. A explicação para isso é que Lutero era sacerdote, era um padre católico, recém saído do seio da Igreja, e tais atitudes eram relativamente comuns nos púlpitos católicos, onde o povo era pastoreado com a firmeza de um pai espiritual, que muitas vezes era duro com os pecados dos fieis. E também era consciente de seu poder para pastorear, em serviço de Cristo. Seria melhor que o pastor Tiago frequentasse as igrejas católicas para ir notando aos poucos essa atitude mais próxima entre padres e comunidade na Igreja Católica. Porém, que isso não fosse feito com fins de estudos e investigações apenas, mas para aprender a verdade.

Outro ponto que devemos notar, é que não é exato que os protestantes estão unidos sob a Palavra e os católicos muitas vezes estão desunidos sob a Igreja. Tal jogo de palavras não explica a realidade. Basta ver que muitas filosofias contrárias ao Evangelho, coisas da alta crítica textual, por exemplo, e modernismos perniciosos à causa do evangelho, nascem em solo protestantes, no meio de quem certamente não crê em coisa nenhuma, e somente depois tal vírus aparece em arraiais católicos. Por isso, exemplos assim de divisão sob a Igreja são idênticos ao que acontece no meio protestante reformado. É apenas uma breve reflexão.

Também a questão do ouvir. O pastor comentar o fato de que os pastores protestantes sabem falar e têm dificuldade para ouvir. Isso é sintomático. Imaginem se ouvirão um católico pregando o evangelho!

Ainda, arte da confissão. Confessar os pecados a Deus, não é fácil, mas é mais fácil que confessar a alguém, em posição e situação de humildade, reconhecendo aquela pessoa como ministro de Cristo. O protestante não tem essa experiência. No mínimo faria o que o pastor disse em confessar os pecados uns aos outros como forma de exercício espiritual cristão, eu diria. Mas, isso lembra um pouco, de longe, mas não é o sacramento da penitência. Algo para refletir.

Por fim, basta pensar que homens inteligentes e humildes que puseram-se a estudar o evangelho e a doutrina cristã tornaram-se católicos. Francis Beckwith, como citado. O jovem da igreja batista onde pastor Tiago é membro. Um companheiro de trabalho do pastor Yago Martins. Lembremos de figuras expoentes, como G. K. Chesterton, que apresenta razões tão profundas da sua conversão, e críticas tão contundentes que muitos não concordam, mas também não conseguem refutar. Isso é o que escreveu um pastor brasileiro que admira Chesterton. Também Tiago Cavaco, outro admirador de Chesterton, menos quando esse critica o calvinismo. Certamente o pastor também não consegue lidar com essa crítica.

É o que escrevi em outro artigo: quanto mais se aprende a verdade, mas se chega perto do Catolicismo. É inevitável.

Gledson Meireles.

domingo, 19 de setembro de 2021

Entre outras coisas, o Catolicismo tem o melhor remédio contra o orgulho

Em continuação do estudo do livro do pastor Tiago Cavaco, Cuidado com o alemão: três dentadas que Martinho Lutero dá à nossa época, editora Vida Nova, 2017.

Sem entrar no mérito da exatidão da análise que o autor faz de Erasmo de Roterdã, é preciso notar que Erasmo não é a Igreja. O que Erasmo disser que não estiver de acordo com os princípios cristãos católicos, pode ser deixado de lado. Por isso, é muito perigoso pensar que Erasmo contra Lutero seja idêntico a Igreja contra Lutero. É certo que o holandês permaneceu católico, mas pode não ter dito tudo o que a doutrina católica diria, ou não se expressado como deveria. Dizem até que ele exagerou certas coisas, ao falar da liberdade, fazendo com que a doutrina católica não fosse percebida nesses exageros, é claro. Assim, quando de trata de um autor sozinho, não se pode coloca-lo totalmente em representação do Catolicismo. Assim com Lutero não é todo o Protestantismo atual.

Naquele momento, Lutero e Erasmo não necessariamente eram Catolicismo e Protestantismo, mas o início desse debate.

É certo que Erasmo defendeu o livre-arbítrio, posição católica, correto, mas que nem todas as suas afirmações podem estar de acordo com aquilo que deveria ter afirmado. Porém, deve-se dizer, para evitar mal-entendidos, que entende-se bem que na avaliação feita Erasmo incorpora o catolicismo e Lutero o lado protestante. O que se quer dizer aqui é que ainda assim é preciso ter em mente as distinções apontadas acima. Esse é um pequeno parêntese ao pensar nessas comparações.

A respeito das asserções, é certo também que cristãos católicos vivem de asserções, de constantemente aderindo, vivendo e defendendo a verdade em que crê. Não se trata de algo novo no Protestantismo. Aliás, parece mesmo que essa nota é mais católica do que nunca, quando li essa afirmação no livro do pastor português. Parece até que estava falando do católico em comparação com o protestante, onde o católico vive de asserções, e não pode deixar de fazê-lo. E parece que o protestante nem as tem!, no sentido de estar moldando-se a todo o tempo na “liberdade” que tem do seu livre-exame, de acordo com os ares que sopram do mundo, e nas suas conformações com a cultura mundana.  É o católico que mostra-se mais fora desse contexto, como sempre.

Talvez o que o autor esteja falando tem uma nuance diferente. Mas, não deixam de ser verdade as linhas acima. Talvez o que Erasmo defendeu tem a ver com a tradição, e o que Lutero asseverou seja somente o texto bíblico. O viver nas coisas excedentes seria ir além do que estar escrito. E o ficar com o necessário seria ficar com a Bíblia somente. Mas, isso é um pouco complicado, quando se tem em mente que a história cristã, a hermenêutica e a afirmações autoritativas do passado não caem facilmente para dar lugar a uma novidade teológica. E por quê? Como resolver? É algo que somente o Catolicismo soube sempre fazer.

A questão da verdade que une e da verdade que desune é algo também que não ficou claro. Parece novamente que está falando do Catolicismo ao dizer que a verdade que desune é aquela que preferimos, como católicos. Por isso, Bento XVI, papa que ganhou a admiração do pastor Tiago, escreveu que o ecumenismo não pode ser feito à custa da verdade. Ou seja, é na verdade que unimos, ou seja, na verdade que irá contra as posições que não se adequam a ela, fazendo com que aqueles que almejam a unidade cristã deixem suas opiniões e acolham a verdade, que é Cristo e todo Seu ensinamento.

O Catolicismo não quer unidade que não respeite a verdade. Essa é toda a história católica, basta um pouco de leitura da história para constatar isso. A Igreja Católica nunca procurou dizer o que o povo gosta, mas confrontar o povo com o puro Evangelho. É por isso que porcentagem enorme de professos católicos não concorda com as decisões e ensinos da Igreja! A palavra do Evangelho desune sim, os que permanecem fieis daqueles que não.

Erasmo personificando o espírito católico da concórdia, de não discutir para não desunir, parece não ser tão exato. Fato é que o Concílio de Trento foi bastante longo e de muitas discussões. Foram anos a fio estudando a Palavra. Não se pode negar que o grande concílio ecumênico e dogmático de Trento tenha tido discussões. E porque a doutrina de sempre foi mantida, não significa que não houve discussão, mas que a doutrina era de fato verdade. E apesar das grandes divisões doutrinais, o Concílio não cedeu em nenhum ponto. Outra coisa é que as discussões com Lutero não lograram êxito, ao longo do tempo, de 1517 até a excomunhão em 1521, prova que o ele não estava disposto da mudar suas posições, e isso também, e com maior razão, deve ser reconhecido em relação à Igreja, que estava certa de não poder mudar um til da doutrina que Cristo lhe confiou. E tudo isso ficou claro no ensino do Concílio de Trento.

Outro ponto do debate que o autor aponta entre catolicismo e protestantismo é o sinergismo e o monergismo na salvação, ainda que admita que no interior do protestantismo há também uma diferença entre as diversas opiniões.

O fato de o protestantismo tornar o ser humano meros “figurantes para o protagonista”, deixando tal coisa como uma base sólida a lutar contra a cultura vigente que adota um “humanismo líquido”, ao passo que o catolicismo estaria mais de acordo com o espírito predominante nas outras esferas do pensamento fora do cristianismo, não parece ser algo tão exato. Parece mesmo que há um paradoxo aqui. Vê que o Catolicismo sempre ofereceu uma barreira sólida e instransponível quando se trata de defender o espírito evangélico das investidas do inimigo, sejam quais forem as fontes de onde proveem os ataques.

 Quando se nota que os católicos gostam mais de pessoas que os protestantes, isso também é algo que deve ser enfatizado. No que diz respeito a venerar os santos, o protestante logo põe-se como um “co-irmão” de qualquer santo, em pé de igualdade, ficando de pé, e nunca se curvando, sentindo-se igual e nunca inferior, alegando honra idêntica, jamais aquém de qualquer salvo por Cristo.

Nisso é verdade, o protestante não gosta tanto de pessoas. O ser humano pecador é coberto com o manto de Cristo, e a santidade que deve perseguir por toda a vida está separada da salvação um dia encontrada de uma vez por todas pela fé. Isso é o que Lutero ensinou, diferentemente do catolicismo, e que tanto enfatizou, levando o homem a cada vez mais sentir que suas faltas são “normais”, ainda que ensinado a evitá-las, pois parte da natureza caída, mas que impossível de ficar sem elas, atrelada ao fato de que todos os pecados são “iguais”, e que toda obra fora da fé é “pecado”. Esse bojo de afirmações complexas provenientes da doutrina luterana e reformada explica o motivo do protestante não gostar muitos de pessoas. Mas não só isso. Explica também o porquê do protestante ser tão indulgente consigo mesmo, de gostar tanto de si, a ponto de ser quase impossível não estar sempre com o ego inflado. Aquilo que a natureza caída tem de impulso natural, no protestantismo ganha essa ajudinha. O indivíduo protestante gosta demais de si mesmo, a ponto de não ceder diante do outro.

O catolicismo por sua vez, ensinando que o pecador livre e responsável por sua faltas deve estar sempre buscando a perfeição com a graça de Deus que o levantou da morte das trevas do pecado, tem nos outros um exemplo sublime, reconhecendo Deus com seu tudo, e os irmãos como seus co-herdeiros e auxiliadores na caminhada para o céu, a ponto de ser grato e conceder as honras aos irmãos que precederam na fé, como a Escritura ordena em Hebreus 13, 7, sendo levados a não olhar tanto para a miséria própria, mas reconhecer o nosso ser tão necessitado do perdão e reconhecer ao mesmo tempo as graça dada aos outros, onde muitas vezes o outro é melhor do que nós, e procurar crescer na fé como os tantos modelos que se deixam plasmar através da graça.

Os católicos curvam-se na humildade reconhecendo a pequenez, e que só Deus pode erguer o caído, exaltar o humilhado. Essa diferente posição diante da vida é muito importante reconhecer na espiritualidade católica e na protestante. O verdadeiro católico tende a ter o ego menos inflado, a lutar contra essa tendência que o pecado adâmico imprimiu na natureza humana, enquanto os irmãos protestantes vivem mais da forma como foi sublinhada acima. Aliás, abrindo um parêntese, umas das verdades a respeito dos sacramentos é que esses reprimem o orgulho humano, já que temos de nos submeter a coisas sensíveis por obediência a Deus.

O católico tende a honrar o outro, esquecendo-se de si. É mais corporativo, mais eclesial. O protestante fecha-se mais em si, encontrando dificuldade em conceder honrar, sendo mais individualista, relegando a igreja a um plano menos importante. É importante notar que a tendência dos primeiros cristãos é continuada na espiritualidade católica, enquanto que os protestantes são marcados pelo espírito que forjou a cultura a partir do século dezesseis, com o humanismo, passando mais tarde pelo racionalismo, e tantos outros sistemas do pensamento, que mais afetam a igreja protestante.

Então, o catolicismo é mais voltado para o elemento humano transformado pela graça, enquanto o protestantismo volta-se ao humano individual, engrandecendo-se, muitas vezes. É um paradoxo. As honras dadas pelas igrejas protestantes, por exemplo, a suas figuras mais expoentes, é como um paradoxo. Para o catolicismo é um fluido normal nascido de sua tendência natural.

Se o espírito moderno é mais autossuficiente, não é no catolicismo que encontra mais calma atmosfera, mas no protestantismo, que mantem, por outras vias, essa tendência. Espero que o leitor tenha entendido.

A ilustração de que o catolicismo parece ensinar que Deus procura coisa boa no homem não é correto. Também não é apenas questão de ênfase a posição católica e protestante nesse debate. É algo realmente diverso. Procura-se no fundo a mesma coisa, mas elabora-se de forma realmente diversa. A doutrina católica mantem coerência em todas as fases. A protestante tem seus tropeços aqui e ali. Para os que leram os artigos que analisam a doutrina reformada sabe onde estão tantos tropeços e quedas.

A questão do mistério é importante saber alguma coisa. Não se trata de algo não revelado, mas que é revelado parcialmente. Há algo que podemos compreender e algo que foge ao nosso conhecimento. Assim a Trindade, a Encarnação, a Igreja, a salvação. A vida de Cristo é cheia de mistérios: seu nascimento, sua infância, sua paixão, morte e ressurreição. Então, sabemos bem o que é um mistério. Contemplamos os mistérios de Cristo, rezando o rosário.

Assim, o mistério para o católico não é algo que estar para ser revelado. Outra coisa: se o católico é muito pouco comunicativo no que diz respeito à pregação, uma vez que encontra Cristo, é mais por uma questão de cultura, que perpassa séculos. Pensando em momentos em que toda a sociedade, praticamente, era católica, não era necessário pregar o evangelho de uma forma tão incisiva. Os protestantes, como minorias, faziam e fazem isso de modo mais enfático. No entanto, o católico é chamado, desde sempre, a evangelizar. É algo que deve ser sempre resgatado. É parte da missão cristã católica.

Outro ponto importante é santificar a vida inteira a Cristo. Não se trata, no entanto, de afirmar que não há sagrado e profano. Parece mais ser isso que Lutero teria a dizer. No entanto, é óbvio que coisas que se fazem em tantos lugares não seriam prudentes serem feitas na igreja. O lugar de culto deve ter seu devido respeito, assim como diferentes momentos e espaços da vida espiritual. Por isso, o protestante tem menos sentido do sagrado que o católico. Dessa forma, não basta afirmar que tudo é feito para a glória de Deus, como se tudo que ordinariamente fazemos fosse o extraordinário! Não. Ainda que o católico faça tudo para a glória de Deus, e é ensinado a fazê-lo, há distinções importantes. A vida cristã em santidade necessita de distinções, necessita do exercício do sagrado. Há sim, coisas extraordinárias. A distinção é importante, cabe sempre frisar.

E por fim, nessa parte do comentário é oportuno lembrar que desde o início do protestantismo surgiram figuras que marcaram datas para o fim do mundo, como cita o autor. É algo que vem do livre-exame, erros que muitos cometeram durante os séculos no interior do Protestantismo, coisa praticamente inexistente no Catolicismo, pois Cristo não revelou dia e hora. Esses fatos mostram como se dá o estudo bíblico nos dois campos. Como se interpreta as Escrituras. É um sintoma importante.

Então, que o leitor aprofunde-se mais nessas questões, da Escritura e da tradição, das asserções, do sinergismo e do monergismo, das contribuições culturais que a Igreja tem para oferecer, do pecado original, dos mistérios, o livre-arbítrio, das coisas e profanas, e outras, que serão comentadas nos próximos estudos do livro.

Gledson Meireles.

sábado, 18 de setembro de 2021

Artigos sobre o livro Cuidado com o Alemão

Para o mês da Bíblia, setembro, estudando a Epístola aos Gálatas, e estudando também a doutrina protestante, para maiores reflexões no mês em que se comemora a Reforma, outubro, os artigos sobre o livro do pastor Tiago Cavaco estão sendo de grande valor.

Para quem leu o livro Cuidado com o Alemão, ou ainda vai lê-lo, essas reflexões são de utilidade. O livro é um tributo a Lutero, publicado em 2017, ano em que várias obras que tratam da doutrina protestantes foram dadas a público pelos 500 anos da Reforma Protestante, e pretende contribuir para a sociedade atual com os ensinos do monge reformador. Ainda, é considerado, também, uma obra onde se pode conhecer o catolicismo.

Não sei ao certo até que ponto alguém pode conhecer a Igreja Católica ao ler o livro, nem se as comparações que o autor faz ajudam no conhecimento da doutrina católica. São muitas coisas envolvidas no decorrer do livro. O autor escreve bem, trata de temas profundos, faz ótimas comparações para ilustrar o ensino de Lutero, trata de temas conhecidos de uma forma bem aplicada à realidade, revelando um estudioso, um teólogo protestante, não luterano, mas grande admirador do reformador alemão.

Ao longo dos artigos que virão, o leitor poderá entender onde e quando e o motivo do autor não conseguir tocar a essência da doutrina católica. Trata-se de um comentário a respeito da obra, mas um comentário um pouco mais extenso que o habitual, e mais crítico, talvez. Como de costume, toco pontos em que a doutrina católica é o tema em questão.

E como seria bom ver o pastor Tiago Cavaco descobrindo a verdade católica. Se ele já é um servo de Cristo, falta apenas reconhecer a verdade da Igreja. Todo protestante que se põe a estudar a fundo a doutrina cristã, está se aproximando do Catolicismo.

Gledson Meireles.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Pão da Palavra, Indulgência, Igreja: algumas reflexões a partir do livro Cuidado com o Alemão

Em uma apresentação típica de quem admira o reformador protestante Martinho Lutero, o pastor batista afirma que Lutero deu um não a tudo o que na Igreja se manifestasse indiferente à Bíblia. Ele colocou a Bíblia no centro da oração do Pai Nosso, como “o pão de cada dia”, e pôs a pregação no centro do culto protestante.

Mas, o pão nosso de cada dia, como explicado pelos autores cristãos católicos, é o pão temporal, o pão dos sacramentos e o pão da Palavra, algo que não é restritivo, mas amplo, do significado da Bíblia já contido aqui. Assim, Lutero não introduziu esse sentido da Palavra, mas o intensificou em sua pregação, em sua doutrina, em seu sistema, a ponto de fazer da leitura da Bíblia um ingrediente de um futuro slogan, o do sola Scriputra.

Isso apenas para que não se pense que o “pão da Palavra” seja invenção de Lutero. Sabemos que a Bíblia é alimento, e neste mês da Bíblia leiamos mais a Palavra de Deus e nos alimentemos dela. Cristo também é a Palavra. Algo que não foi Lutero o primeiro a dizer isso. São Jerônimo já ensinava que desconhecer a Bíblia é desconhecer a Cristo. Podemos ver essas ligação do Verbo com a Sagrada Escritura.

O pastor explica um pouco sobre as indulgências, de como era vivida a doutrina na Idade Média, onde os prazos do poder espiritual seguiram o do poder econômico.

Cita também as grandes influências que explicam a enorme popularidade de Lutero. De fato, os intelectuais insatisfeitos, os governantes alemães descontentes e os compradores desiludidos contribuíram para criar uma rede de proteção àquele que de alguma forma pudesse levar a um rumo que pudesse melhorar essa situação.

Outra ferramenta que auxiliou muito na propagação das ideias de Lutero foi a impressa, que contribuiu, ou seja, foi preponderante na publicação das suas 61 obras.

Sobre a liberdade é algo importante falar. Lutero ensinou, segundo o pastor, a procurar a liberdade, ou seja, buscá-la, não como ponto de partida, mas como o fim, e que essa liberdade não é dada por nada, mas que é encontrada na leitura da Bíblia.

Com isso, fala-se da instituição Igreja, e da divisão e do afastamento que Lutero iniciou dos conceitos de Igreja institucional e do indivíduo, que pode ser parte da Igreja sem que essa realidade lhe seja dada pela instituição, e que membros da Igreja podem não ter o encontro real com Cristo.

Enfim, nesse ponto fala do ataque à Igreja e ao papado em particular.

Tudo isso nos leva a pensar em que ponto podemos conceder algo às ideias do monge Lutero.

Podemos nos perguntar se na Igreja apostólica a pregação era o centro. Podemos pensar se os apóstolos puseram a leitura da Bíblia algo em confronto com a realidade da instituição espiritual da Igreja, manifestada pela instituição visível que conhecemos. Tudo isso deve ser pensado e refletido, pois bonitas palavras e belos discursos com ares de profundidade teológica não podem ser superiores à doutrina que Cristo deixou aos apóstolos para que disseminassem e anunciassem por toda a terra.

Dizemos, então, que os princípios da Palavra de Deus, de certa forma, já estão todos ali no ensino apostólico, e que quaisquer teologias e reformas e autores espirituais devem ser avaliados por tudo o que foi estabelecido na Bíblia Sagrada e na pregação apostólica seguida durante os séculos a partir do primeiro.

E quando voltamos à Escritura não há lugar claro, nem mesmo princípio aludido sobre a centralidade da pregação e da quase obrigatoriedade de se encontrar com Cristo pela leitura da Palavra, em lugar da pregação viva da Igreja. Não se nega que na leitura espiritual da Bíblia Deus nos fala, mas que também na pregação da Igreja, e mais ainda, ordinariamente na pregação viva da Igreja é que ocorrem as conversões e que a vida da graça é geralmente comunicada.

Lutero está assim, com as influências do seu tempo, utilizando de boas ferramentas e de ideias válidas para aumentar a propagação do evangelho no mundo, mas seus princípios não são idênticos àqueles que a Bíblia apresenta sobre a relação do cristão salvo com a Palavra de Deus e a instituição Igreja. Os modelos surgidos a partir de Lutero são frutos do seu tempo e não desenvolvimentos dos princípios bíblicos. Aliás, a própria noção de que há possibilidade de estar na Igreja sem ter verdadeiro encontro com Cristo não é contrária à estabelecida autoridade eclesiástica e sua forma institucional, que são realidade que se comunicam e são originalmente unidas na sua raiz evangélica.

É por tal motivo que a leitura da Bíblia é vista de forma diferente por católicos e protestantes, grosso modo, já que os últimos tem na Bíblia uma forma de fugir da Igreja, de protestar contra autoridades, de ver-se sob uma autoridade que não lhes faça mal, que não lhes cause problemas, que não lhes seja pesada. É tornar-se o intérprete a autoridade máxima, que pode de certa forma afastar aquilo que não concorda. Um princípio humanista muito alheio ao espírito do evangelho.

Por isso, Lutero pôde deixar quatro sacramentos de lado, e ficar com três. Isso é visto como positivo pelo pastor, já que a Palavra está no centro e os sacramentos são coadjuvantes, como algo que não possui valor sem a Palavra. No entanto, se os sacramentos nascem da Palavra não há poder para reformá-los, não há poder humanos para cancelá-los, não há permissão para anular qualquer um deles. E a Igreja desde sempre, nas páginas da Bíblia Sagrada, encontrou o número de sete sacramentos e não de três, como Lutero quis, e nem de dois, como ficou mais comumente adotado em todo o Protestantismo.

Assim, é que ao tentar por a Palavra contra os sacramentos nasce algo que vai contra a própria Palavra já que nela são se encontra lugar para um futuro reformador que pudesse inserir mudança da doutrina nascida da pregação de Jesus e da atividade apostólica.

E as indulgências, que são o perdão das penas, e não dos pecados, algo que vem após o perdão e salvação, e não algo que é necessário à salvação, trata-se de assunto que mesmo o cristão mediano, pouco refletidor da Palavra, ainda não consegue alcançar o sentido de tal doutrina, que é simples em si, mas que necessita de uma espiritualidade mais profunda, de um conhecimento genuíno do Evangelho e de uma conversão sincera do coração. Por isso, tal doutrina até os dias de hoje não é tão entendida como deveria.

A simples leitura da Bíblia pode ser indulgência. Hoje, nos dias de hoje. E o cristão não sabe disso, e não entende o que é indulgência. E, ainda, alguns dizem que não há tal ensino na Bíblia. A indulgência é fruto do perdão, do perdão que nasce da graça de Deus dada do pecador arrependido. Quanto maior a conversão maior o perdão. Poderíamos simplesmente dizer isso. Algo profundo e belo.

Aquele que realmente nasce da Palavra de Deus, não pode deixar de pertencer à Igreja. Lutero certamente viu com pesar o surgimento de igrejas. Ele não quis banir a instituição, mas por suas palavras que introduziram essa dicotomia, tal coisa foi gerada.

Os autores espirituais cristãos católicos podem muito bem explicar como o cristão se relaciona com a instituição. A mecanicidade de um sacramento ou de uma oração se dá quando o cristão não está devidamente convertido, não está vivo na graça, não está usufruindo da vida nova de Cristo. Essa realidade vem como que reforçar a instituição e não negá-la. Ao mesmo tempo, alguém que nasce da Palavra não irá nunca negar a Igreja. Se o pensamento está cativo, está preso, está submetido a Cristo, o coração irá aberto para aprender, ouvir, buscar o que Cristo diz, e não o que o coração humano tem para inventar.

Gledson Meireles.