Refutação do livro: Nenhum caminho leva a Roma.
11.2 - Pecado de Maria
A ideia de que a virgem Maria foi
preservada do pecado original tem razão bíblica. O texto de Romanos 3, 23-24
ensina que todos pecaram e todos carecem da justificação. Assim, a virgem Maria
pecou e precisou da justificação por meio de Jesus Cristo. Mas, em que sentido
a virgem Maria pecou? Ele realmente teve que contrair o pecado original e pecar
em sua vida pessoal? Vamos prosseguir antes de analisar essa questão.
O
texto de Romanos 5, 12 afirma que a morte passou a todos e por isso todos
pecaram. E o questionamento protestante é que, uma vez que Maria foi preservada
do pecado original mesmo nascendo de uma mãe pecadora, por que o mesmo não
poderia ter sido feito em relação a Jesus? Maria poderia ter permanecido
pecadora e Jesus ter sido imaculado.
Essa
doutrina levaria a considerar a mãe de Maria como preservada do pecado
original, e sua avó e assim por diante, até chegar a Eva. No entanto, se temos
que Deus é o autor do perdão, da purificação, da justificação, então vamos chegar
à conclusão que Deus agiu na pessoa de Maria no momento da concepção e
purificou-a do pecado original pelos méritos de Cristo. A sua mãe, que pela
tradição chamava-se Ana, tinha o pecado original, assim como o seu pai Joaquim,
e isso iria com certeza gerar uma filha com o pecado original. É preciso crer
que Deus fez a purificação no instante da concepção, de modo que a virgem Maria
foi salva naquele momento.
Por
isso, o termo mais adequado não é purificação, mas preservação. No entanto,
para ficar mais claro, a purificação se dá porque todos pecaram em Adão, inclusive a virgem Maria, e para a conceição
no ventre materno sua natureza precisou ser purificada ou preservada do pecado.
Somente
Cristo não podia pecar, por ser Filho de Deus, e Deus mesmo na Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade, e não podia receber uma natureza maculada. Portanto,
Deus podia purificar aquela natureza que Cristo recebeu, mas foi mais perfeito
dar-lhe uma mãe purificada, de modo que na geração de Jesus não houve
participação do pecado. Em outros termos, a virgem Maria não cometia pecado com
Jesus em seu ventre. Por tudo isso, é concebível pensar na santidade de Maria,
na sua imaculada conceição.
Jesus
não foi concebido pelos meios naturais, e por isso não contraiu o pecado original,
sendo um milagre sua concepção. Mas como vimos, também a mãe do Senhor Jesus
não foi concebida com o pecado, de modo que Jesus foi gerado nessa “arca”
santa, o que convinha à Sua dignidade de Deus.
A
Escritura fala diretamente que Jesus não teve pecado, como está em Hebreus 4,
15. Isso não exclui outras pessoas. De fato, quando São Paulo escreve que assim também a morte passou a todos os
homens por isso que todos pecaram, ele não estava afirmando que todos
morreram, pois a Escritura diz: Henoc
andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou (Gênesis 5, 24). Isso
quer dizer que Henoc não passou pela morte.
Também
está escrito: Continuando o seu caminho,
entretidos a conversar, eis que de repente um carro de fogo com cavalos de
fogo separou um do outro e Elias subiu ao céu num turbilhão (2 Reis 2,
11). Então, o profeta Elias também não morreu.
Portanto,
todos morreram significa que morreram em Adão, que o salário do pecado é
a morte, e que inevitavelmente todos morrerão. A única forma de não passar pela
morte é por uma dádiva de Deus, diretamente agindo para que a morte não
aconteça, como foi o caso de Henoc e Elias. Portanto, Romanos 5, 12 não diz que
houve exceção, mas lendo as Escrituras descobrimos que pelo menos há duas
exceções.
Também
é preciso notar que o arrebatamento de Henoc e Elias não contradiz o texto de
Romanos 5, 12, pois esse trata do estado natural de todos os seres humanos, e o
arrebatando foi algo sobrenatural, feito por Deus como exceção. Por isso, vemos
que a Escritura não indica claramente as exceções quando trata de um assunto
geral. É preciso ler a Escritura inteira para percebermos essas verdades.
Ainda, há verdades que são menos claras, e precisam de maior escrutínio do
texto para aprendê-las.
Uma
dessas verdade é a imaculada conceição, pois o texto afirma que todos pecaram e estão destituídos da glória
de Deus, e a morte passou a todo o gênero humano, porque todos pecaram, incluindo
a virgem Maria, que pecou em Adão, mas essa foi milagrosamente perdoada e
justificada e recebeu a glória. O texto não trouxe claramente essa exceção,
como vimos, pois não é da natureza da Escritura apontar sempre essas
qualificações.
Outra
forma de entender essa verdade é que Henoc e Elias pecaram em Adão, e morreram
em Adão, mas foram perdoados e justificados, e foram livres da morte, que é a
lei do salário do pecado, e foram para a glória. Eles morreriam naturalmente,
mas foram individualmente preservados da
morte. E o texto não diz isso nessa passagem, mas aprendemos essa verdade por
exegese.
Do
mesmo modo, a virgem Maria pecou em Adão, mas foi preservada do pecado em sua pessoa individual. É algo totalmente
bíblico. É uma verdade que segue todos os parâmetros da revelação.
Há
também a objeção de que Maria não foi escolhida por ser sem pecado. De fato,
Deus não escolheu Maria porque a mesma não tinha pecado, mas, pelo contrário,
Ele a fez sem pecado para que a mesma fosse a mãe do Messias.
Se
o Messias teria de vir da descendência de Davi (cf. Is 9, 7, Lc 3, 23-38), não
era qualquer casal israelita que poderia ser o escolhido, apenas por ser do
povo judeus. Deus escolheu uma virgem, chamada Maria, e um homem justo, chamado
José. Eles cumpriam o requisito, mas o chamado é que faz a diferença. Se Maria
não fosse da descendência de Davi, Deus não a escolheria, não a teria
preparado. Pelo exposto, a objeção não é importante.
Assim,
da mesma forma que Romanos 5, 12 não contraria o fato de Henoc e Elias não
terem morrido, não é contrário à imaculada conceição de Maria.
Mas,
alguém poderia objetar, que no caso de Henoc e Elias o texto de Romanos não diz
expressamente que houve exceção, mas que as outras passagens são claras a
respeito do arrebatamento de Henoc e Elias, e que quanto à imaculada conceição
a doutrina não tem texto tão claro.
De
fato, mas não se pode exigir da Escritura que todas as doutrinas tenham textos
inequívocos, diretos e claros, para que se possa crer. Antes, deve-se entender
os princípios, e por uma exegese sadia compreender passagens menos claras
através de outras mais claras, de modo que seja possível chegar a uma conclusão
sólida. Assim acontece com a doutrina da trindade. Para muitos ela é clara, mas
há até denominações inteiras que negam a doutrina usando passagens da
Escritura. O fato é que a Igreja desde os primórdios ensinou a doutrina da
trindade e a mesma pode ser compreendida por um estudo sério da Bíblia. O mesmo
também acontece com a doutrina da imaculada conceição. Para compreender cada
doutrina é preciso estar aberto no estudo bíblico, e pedir as luzes do Espírito
Santo para levar ao entendimento correto.
Quanto
à opinião de Santo Tomás de Aquino, que negou a imaculada conceição, é preciso
notar que o mesmo cria na santidade de Maria, afirmando que a mesma foi
purificada no ventre da sua mãe e nasceu sem pecado, não cometendo pecado em
toda a sua vida.
Para
Santo Tomás, a virgem foi concebida como pecado original por ter sido concebida
naturalmente, pela união dos dois sexos, que transmitiram inexoravelmente o
pecado original. Também, o santo doutor enfrentou a objeção de que se ela não
fosse concebida sem pecado não teria sido remida por Cristo.
Não
tendo como responder, Santo Tomás cria que a virgem Maria herdou o pecado
original, mas foi “dele purificada de algum modo especial”. Podemos afirmar que
esse modo especial foi feito na concepção, de modo que Cristo foi o preço para
essa preservação do pecado. Desse modo, a virgem foi concebida sem o peado
original e foi remida por Jesus Cristo. Isso está de acordo com a dignidade de
Cristo.
O
protestantismo tenta provar que a virgem Maria herdou o pecado original, não
foi purificada, pecou durante sua vida inteira, morreu e não foi ressuscitada e
nem levada do céu. Essa doutrina é estranha às Escrituras e nunca foi ensinada
na Santa Igreja Católica Apostólica Romana. De fato, a teologia bíblica refuta
cada ponto dessa doutrina, como o leitor está verificando ao ler o presente
estudo.
Santo
Tomás certamente aceitaria a posição oficial da Igreja, da forma como o dogma
foi proclamado. Ele de fato não aceitava somente esse ponto da imaculada
conceição, aceitando todo o resto da doutrina. A purificação teria ocorrido
depois da conceição, e ainda no ventre.
11.3 PATRÍSTICA CONTRA O DOGMA DA
IMACULADA
O cristão católico deve crer na
imaculada conceição de Maria. É uma doutrina santa, bíblica, razoável, bela. É
verdade que ela está implicitamente na Bíblia. Também é verdade que a tradição
leva a compreender que a virgem Maria não teve pecado algum. A pretensão de
mostrar que essas afirmações estão incorretas não teve êxito.
Abrindo um parêntese, quando o
apologista protestante faz o resumo da doutrina, ele parece ter entendido. No
entanto, como visto antes, isso é só aparência.
De
fato, no resumo, ele diz que a virgem Maria foi preservada no momento da
conceição, mas antes, em suas argumentações, usando um argumento bem conhecido,
afirmou que para ser imaculada a virgem deveria nascer de uma mãe imaculada, o
que torna a conceição imaculada algo transmissível de mãe para filha, não
dependente da ação de Deus para fazer a preservação do pecado. Uma vez que se
entende que Deus agiu na pessoa de Maria milagrosamente, o argumento cai por
terra.
Então,
a virgem Maria herdou as consequências do pecado, como fome, sede, cansaço,
morte.
Refutação: O que não é a imaculada
conceição
O autor admite que a imaculada
conceição não anula Cristo como Salvador de Maria. É um grande passo.
Ter sofrido os efeitos do pecado não
implica ter tido o pecado original. Outra grande admissão para prosseguimos no
estudo.
Refutação: As Escrituras não apoiam
O
apologista usa três passagens bíblicas que considera contrárias à doutrina da
imaculada conceição.
A
primeira é Lucas 18, 19: Jesus respondeu-lhe: “Por que me chamas bom? Ninguém é
bom senão só Deus”.
O
texto é entendido como ensinando que a bondade per si é exclusivamente de Deus.
De fato. Mas, o que isso tem a ver com a imaculada conceição?
O
texto pode provar que Jesus é Deus: se Jesus é bom, e somente Deus é bom, então
Jesus é Deus.
No
entanto, isso não prova que todos os seres humanos sejam maus. Há pessoas boas,
por participação. Ninguém é absolutamente bom, mas é bom em união com Deus,
pela graça, pela participação na vida de Deus pelo influxo da graça.
O
texto não diz que não há ninguém que não seja bom, mas que a bondade é algo que
somente pode vir de Deus. O homem pode apropriar-se desse bem.
Também,
se todos podem ser bons, todos devem procurar a bondade em Deus. Isso significa
que os pecadores precisam de Deus para ser bom. Desse modo, a virgem Maria
necessitou da graça de Deus para ser boa. Portanto, ela é boa por participação
na graça de Deus, para ser a mãe de Jesus.
Como
Maria não é exceção, e não é boa por si mesma, mas depende de Deus, o texto de
Lucas 18, 19 não tem nada contra a imaculada conceição.
A
regra universal de que “só Deus é bom per si” não exclui os anjos que são bons,
e os santos que alcançaram a perfeição e são bons, e também os fieis cristãos
que estão vivendo na graça e crescendo nas virtudes. Portanto, se Maria é sem
pecado é porque esse privilégio foi dado a ela por Deus.
Assim,
se a regra diz que somente Deus é bom por natureza, todos os seres bons deve
ter união com Deus. Maria é boa. Então, Maria recebeu essa bondade de Deus.
Essa
passagem permite um contraste conceitual, e nos leva a reconhecer a implicação
desse contraste. Se somente Deus é bom, Maria não é boa “per si”, como diz o
autor. O texto contradiz afirmações que dizem que há criaturas santas por si
mesmas, como se pela sua liberdade puderam aperfeiçoar-se pelas suas próprias
forças.
Então,
como sabemos que Maria é boa, pois é o que nos apresenta a Escritura, pois ela
é a serva que engrandece o Senhor, entregando-se totalmente a Deus, dizendo:
faça-se em mim segundo a vossa palavra, podemos ter certeza que ela está em
união com Deus.
Ela
não é sem pecado por natureza, mas por graça. Não é boa por sua própria capacidade,
mas por estar na amizade de Deus.
Também,
o texto não trata do grau de bondade que as criaturas podem chegar, e por
implicação não trata do grau de santidade. Mas sabemos que na glória os santos
não têm mais o pecado, sendo totalmente santos. No entanto, estar em plena
santidade não faz uma criatura ser deusa. Assim, Maria é sem pecado, toda pura,
pois esse é o plano de Deus para os salvos. Ela é santa por participação, por
efeito da graça imerecida recebida de Deus. Por isso, Lucas 18, 19 está
conforme a imaculada conceição.
O
segundo texto é Romanos 3, 23: Porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus.
Tal
passagem sagrada já foi estudada. Mas continuemos. Esse texto não diz respeito
a Cristo, mesmo não tendo a indicação clara e explícita para mostrar a exceção.
Isso está bem explicado.
No
entanto, em relação à virgem Maria podemos chegar á conclusão de sua santidade ao
entendermos a santidade de Jesus Cristo e estudarmos textos bíblicos que falam
da pessoa da mãe do Messias.
Na
eternidade Deus viu todos como pecadores, caídos em Adão. Nessa queda estava a
virgem Maria. Então, Deus preparou o meio de santificá-la, predestinando-a para
ser a mãe do Salvador Jesus Cristo.
Ninguém
pode ser visto por Deus como justo se Deus não o justificar primeiro. Deus
justificou Maria. Portanto, Maria é justa.
O
terceiro texto é Romanos 5, 12, também já estudo acima: Portanto, como por um
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte
passou a todos os homens por isso todos pecaram.
Todos
pecaram em Adão por ser ele o arquétipo da humanidade. Então, é lógico que
Maria pecou em Adão.
A
morte está ligada ao pecado, e todos que possuem a natureza decaída morrem. Isso
é o que diz o apologista. Tal afirmação já está refutada, quando tratamos de
Henoc e Elias que não morreram.
Ainda,
se os efeitos do pecado incluem a morte, como citados antes, e os efeitos não
provam que o pecado original existe, pois Cristo passou pela morte, então a
morte não prova a existência do pecado original naquele indivíduo.
Assim
como Henoc e Elias não morreram e possuíam o pecado original, alguém que não
tenha o pecado original pode morrer.
Mas,
o apologista explica que Cristo morreu por fazer-se pecado por nós. De fato,
Cristo morreu no lugar do pecador, sem ter Ele mesmo pecado. Ele de fato
morreu, mas o pecado não foi associado ao seu ser, mas assumido para ser
expiado como vítima inocente.
Desse
modo, Cristo morreu verdadeiramente, mas não pecou. Se alguém assumir que o
pecado foi de fato transferido para a pessoa de Cristo, o Salvador teria morrido
como vítima culpada, invalidando sua morte vicária. Ele devia ser inocente,
assumir a culpa, morrer de verdade, sem pecado. Assim, não foi o pecado que o
fez morrer, pois não o tinha. Nem o pecado da humanidade, pois esse não podia
ser transferido para Sua Pessoa que é divina.
Cristo
morreu por ter herdado a natureza santa mas com efeitos da queda, como citados
antes: fome, sede, cansaço, morte. É possível então que o santo pudesse morrer
sem pecado.
De
fato, a tradição mais antiga da Igreja admite que a virgem Maria morreu, e isso
não é objeção contra a imaculada conceição, como ficou claro.
A
ideia de que se Maria morreu ela herdou o pecado original não é um raciocínio
católico, mas é feito pelo apologista protestante. Isso fica claro pelo fato de
São João Damasceno e do papa São João Paulo II ter crido na morte de Maria e ao
mesmo tempo ensinar a imaculada conceição, pois são duas verdades que caminham
juntas.
O
apologista protestante continua a afirmar que se Maria participou da morte isso
é possível porque ela teve a natureza pecaminosa. Sim, ela teve a natureza
humana idêntica a todos os seres humanos, mas sem o pecado, pois foi preservada.
No entanto, é a mesma natureza, que possui os efeitos do pecado.
Outra
contradição é a seguinte: Jesus herdou a natureza de Adão antes da queda, pois
não poderia ter herdado a natureza pós-queda, pois teria herdado o pecado
original. E o motivo seria que Ele foi concebido sem relações sexuais.
O
problema é que Cristo foi gerado no ventre de Maria, sendo feito da Mulher (cf.
Gálatas 4, 4). Se Maria herdou a natureza pós-queda, como dela seria gerada a
natureza antes da queda para formar o corpo de Jesus?
De
fato, a natureza antes da queda não tinha efeitos da queda como fome, sede,
cansaço e morte. Jesus teve natureza idêntica a todos, com os efeitos acima
assinalados.
Então,
a natureza de Jesus, que é explicitamente santa, e que herdou essas fraquezas,
mostra que esses sinais não são o pecado original. Assim, a natureza de Jesus
foi herdada de Maria, pois Cristo nasceu de mulher. Então, é possível concluir
sem problemas que Maria foi sem pecado.
Se
Maria morreu de amor, no sentido de associá-la a Cristo, como co-redentora,
isso não a faz “deusa”, já que é apenas uma associação da pessoa de Maria como
discípula fiel de Cristo eleita por Deus para esse papel como a primeira que
acreditou. A morte de Maria é uma participação da morte de Cristo. Por isso,
ela ressuscitou com Ele.
Maria
não herdou o pecado original, não cometeu pecados pessoais, morreu santamente,
foi ressuscitada e elevada aos céus em corpo e alma para a glória celestial.
Dessa
forma, não há na Escritura nenhuma base para contrariar a doutrina da imaculada
conceição.
Gledson Meireles.
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