sábado, 28 de setembro de 2024

Livro: Nenhum caminho leva a Roma, de Juan Roberto de Oliveira

Refutação do livro: Nenhum caminho leva a Roma.

11.2 - Pecado de Maria

            A ideia de que a virgem Maria foi preservada do pecado original tem razão bíblica. O texto de Romanos 3, 23-24 ensina que todos pecaram e todos carecem da justificação. Assim, a virgem Maria pecou e precisou da justificação por meio de Jesus Cristo. Mas, em que sentido a virgem Maria pecou? Ele realmente teve que contrair o pecado original e pecar em sua vida pessoal? Vamos prosseguir antes de analisar essa questão.

O texto de Romanos 5, 12 afirma que a morte passou a todos e por isso todos pecaram. E o questionamento protestante é que, uma vez que Maria foi preservada do pecado original mesmo nascendo de uma mãe pecadora, por que o mesmo não poderia ter sido feito em relação a Jesus? Maria poderia ter permanecido pecadora e Jesus ter sido imaculado.

Essa doutrina levaria a considerar a mãe de Maria como preservada do pecado original, e sua avó e assim por diante, até chegar a Eva. No entanto, se temos que Deus é o autor do perdão, da purificação, da justificação, então vamos chegar à conclusão que Deus agiu na pessoa de Maria no momento da concepção e purificou-a do pecado original pelos méritos de Cristo. A sua mãe, que pela tradição chamava-se Ana, tinha o pecado original, assim como o seu pai Joaquim, e isso iria com certeza gerar uma filha com o pecado original. É preciso crer que Deus fez a purificação no instante da concepção, de modo que a virgem Maria foi salva naquele momento.

Por isso, o termo mais adequado não é purificação, mas preservação. No entanto, para ficar mais claro, a purificação se dá porque todos pecaram em Adão, inclusive a virgem Maria, e para a conceição no ventre materno sua natureza precisou ser purificada ou preservada do pecado.

Somente Cristo não podia pecar, por ser Filho de Deus, e Deus mesmo na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, e não podia receber uma natureza maculada. Portanto, Deus podia purificar aquela natureza que Cristo recebeu, mas foi mais perfeito dar-lhe uma mãe purificada, de modo que na geração de Jesus não houve participação do pecado. Em outros termos, a virgem Maria não cometia pecado com Jesus em seu ventre. Por tudo isso, é concebível pensar na santidade de Maria, na sua imaculada conceição.

Jesus não foi concebido pelos meios naturais, e por isso não contraiu o pecado original, sendo um milagre sua concepção. Mas como vimos, também a mãe do Senhor Jesus não foi concebida com o pecado, de modo que Jesus foi gerado nessa “arca” santa, o que convinha à Sua dignidade de Deus.

A Escritura fala diretamente que Jesus não teve pecado, como está em Hebreus 4, 15. Isso não exclui outras pessoas. De fato, quando São Paulo escreve que assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram, ele não estava afirmando que todos morreram, pois a Escritura diz: Henoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou (Gênesis 5, 24). Isso quer dizer que Henoc não passou pela morte.

Também está escrito: Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo separou um do outro e Elias subiu ao céu num turbilhão (2 Reis 2, 11). Então, o profeta Elias também não morreu.

Portanto, todos morreram significa que morreram em Adão, que o salário do pecado é a morte, e que inevitavelmente todos morrerão. A única forma de não passar pela morte é por uma dádiva de Deus, diretamente agindo para que a morte não aconteça, como foi o caso de Henoc e Elias. Portanto, Romanos 5, 12 não diz que houve exceção, mas lendo as Escrituras descobrimos que pelo menos há duas exceções.

Também é preciso notar que o arrebatamento de Henoc e Elias não contradiz o texto de Romanos 5, 12, pois esse trata do estado natural de todos os seres humanos, e o arrebatando foi algo sobrenatural, feito por Deus como exceção. Por isso, vemos que a Escritura não indica claramente as exceções quando trata de um assunto geral. É preciso ler a Escritura inteira para percebermos essas verdades. Ainda, há verdades que são menos claras, e precisam de maior escrutínio do texto para aprendê-las.

Uma dessas verdade é a imaculada conceição, pois o texto afirma que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, e a morte passou a todo o gênero humano, porque todos pecaram, incluindo a virgem Maria, que pecou em Adão, mas essa foi milagrosamente perdoada e justificada e recebeu a glória. O texto não trouxe claramente essa exceção, como vimos, pois não é da natureza da Escritura apontar sempre essas qualificações.

Outra forma de entender essa verdade é que Henoc e Elias pecaram em Adão, e morreram em Adão, mas foram perdoados e justificados, e foram livres da morte, que é a lei do salário do pecado, e foram para a glória. Eles morreriam naturalmente, mas foram individualmente preservados da morte. E o texto não diz isso nessa passagem, mas aprendemos essa verdade por exegese.

Do mesmo modo, a virgem Maria pecou em Adão, mas foi preservada do pecado em sua pessoa individual. É algo totalmente bíblico. É uma verdade que segue todos os parâmetros da revelação.

Há também a objeção de que Maria não foi escolhida por ser sem pecado. De fato, Deus não escolheu Maria porque a mesma não tinha pecado, mas, pelo contrário, Ele a fez sem pecado para que a mesma fosse a mãe do Messias.

Se o Messias teria de vir da descendência de Davi (cf. Is 9, 7, Lc 3, 23-38), não era qualquer casal israelita que poderia ser o escolhido, apenas por ser do povo judeus. Deus escolheu uma virgem, chamada Maria, e um homem justo, chamado José. Eles cumpriam o requisito, mas o chamado é que faz a diferença. Se Maria não fosse da descendência de Davi, Deus não a escolheria, não a teria preparado. Pelo exposto, a objeção não é importante.

Assim, da mesma forma que Romanos 5, 12 não contraria o fato de Henoc e Elias não terem morrido, não é contrário à imaculada conceição de Maria.

Mas, alguém poderia objetar, que no caso de Henoc e Elias o texto de Romanos não diz expressamente que houve exceção, mas que as outras passagens são claras a respeito do arrebatamento de Henoc e Elias, e que quanto à imaculada conceição a doutrina não tem texto tão claro.

De fato, mas não se pode exigir da Escritura que todas as doutrinas tenham textos inequívocos, diretos e claros, para que se possa crer. Antes, deve-se entender os princípios, e por uma exegese sadia compreender passagens menos claras através de outras mais claras, de modo que seja possível chegar a uma conclusão sólida. Assim acontece com a doutrina da trindade. Para muitos ela é clara, mas há até denominações inteiras que negam a doutrina usando passagens da Escritura. O fato é que a Igreja desde os primórdios ensinou a doutrina da trindade e a mesma pode ser compreendida por um estudo sério da Bíblia. O mesmo também acontece com a doutrina da imaculada conceição. Para compreender cada doutrina é preciso estar aberto no estudo bíblico, e pedir as luzes do Espírito Santo para levar ao entendimento correto.

Quanto à opinião de Santo Tomás de Aquino, que negou a imaculada conceição, é preciso notar que o mesmo cria na santidade de Maria, afirmando que a mesma foi purificada no ventre da sua mãe e nasceu sem pecado, não cometendo pecado em toda a sua vida.

Para Santo Tomás, a virgem foi concebida como pecado original por ter sido concebida naturalmente, pela união dos dois sexos, que transmitiram inexoravelmente o pecado original. Também, o santo doutor enfrentou a objeção de que se ela não fosse concebida sem pecado não teria sido remida por Cristo.

Não tendo como responder, Santo Tomás cria que a virgem Maria herdou o pecado original, mas foi “dele purificada de algum modo especial”. Podemos afirmar que esse modo especial foi feito na concepção, de modo que Cristo foi o preço para essa preservação do pecado. Desse modo, a virgem foi concebida sem o peado original e foi remida por Jesus Cristo. Isso está de acordo com a dignidade de Cristo.

O protestantismo tenta provar que a virgem Maria herdou o pecado original, não foi purificada, pecou durante sua vida inteira, morreu e não foi ressuscitada e nem levada do céu. Essa doutrina é estranha às Escrituras e nunca foi ensinada na Santa Igreja Católica Apostólica Romana. De fato, a teologia bíblica refuta cada ponto dessa doutrina, como o leitor está verificando ao ler o presente estudo.

Santo Tomás certamente aceitaria a posição oficial da Igreja, da forma como o dogma foi proclamado. Ele de fato não aceitava somente esse ponto da imaculada conceição, aceitando todo o resto da doutrina. A purificação teria ocorrido depois da conceição, e ainda no ventre.

 

11.3 PATRÍSTICA CONTRA O DOGMA DA IMACULADA

            O cristão católico deve crer na imaculada conceição de Maria. É uma doutrina santa, bíblica, razoável, bela. É verdade que ela está implicitamente na Bíblia. Também é verdade que a tradição leva a compreender que a virgem Maria não teve pecado algum. A pretensão de mostrar que essas afirmações estão incorretas não teve êxito.

            Abrindo um parêntese, quando o apologista protestante faz o resumo da doutrina, ele parece ter entendido. No entanto, como visto antes, isso é só aparência.

De fato, no resumo, ele diz que a virgem Maria foi preservada no momento da conceição, mas antes, em suas argumentações, usando um argumento bem conhecido, afirmou que para ser imaculada a virgem deveria nascer de uma mãe imaculada, o que torna a conceição imaculada algo transmissível de mãe para filha, não dependente da ação de Deus para fazer a preservação do pecado. Uma vez que se entende que Deus agiu na pessoa de Maria milagrosamente, o argumento cai por terra.

Então, a virgem Maria herdou as consequências do pecado, como fome, sede, cansaço, morte.

 

Refutação: O que não é a imaculada conceição

 

            O autor admite que a imaculada conceição não anula Cristo como Salvador de Maria. É um grande passo.

            Ter sofrido os efeitos do pecado não implica ter tido o pecado original. Outra grande admissão para prosseguimos no estudo.

 

Refutação: As Escrituras não apoiam

 

O apologista usa três passagens bíblicas que considera contrárias à doutrina da imaculada conceição.

A primeira é Lucas 18, 19: Jesus respondeu-lhe: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus”.

O texto é entendido como ensinando que a bondade per si é exclusivamente de Deus. De fato. Mas, o que isso tem a ver com a imaculada conceição?

O texto pode provar que Jesus é Deus: se Jesus é bom, e somente Deus é bom, então Jesus é Deus.

No entanto, isso não prova que todos os seres humanos sejam maus. Há pessoas boas, por participação. Ninguém é absolutamente bom, mas é bom em união com Deus, pela graça, pela participação na vida de Deus pelo influxo da graça.

O texto não diz que não há ninguém que não seja bom, mas que a bondade é algo que somente pode vir de Deus. O homem pode apropriar-se desse bem.

Também, se todos podem ser bons, todos devem procurar a bondade em Deus. Isso significa que os pecadores precisam de Deus para ser bom. Desse modo, a virgem Maria necessitou da graça de Deus para ser boa. Portanto, ela é boa por participação na graça de Deus, para ser a mãe de Jesus.

Como Maria não é exceção, e não é boa por si mesma, mas depende de Deus, o texto de Lucas 18, 19 não tem nada contra a imaculada conceição.

A regra universal de que “só Deus é bom per si” não exclui os anjos que são bons, e os santos que alcançaram a perfeição e são bons, e também os fieis cristãos que estão vivendo na graça e crescendo nas virtudes. Portanto, se Maria é sem pecado é porque esse privilégio foi dado a ela por Deus.

Assim, se a regra diz que somente Deus é bom por natureza, todos os seres bons deve ter união com Deus. Maria é boa. Então, Maria recebeu essa bondade de Deus.

Essa passagem permite um contraste conceitual, e nos leva a reconhecer a implicação desse contraste. Se somente Deus é bom, Maria não é boa “per si”, como diz o autor. O texto contradiz afirmações que dizem que há criaturas santas por si mesmas, como se pela sua liberdade puderam aperfeiçoar-se pelas suas próprias forças.

Então, como sabemos que Maria é boa, pois é o que nos apresenta a Escritura, pois ela é a serva que engrandece o Senhor, entregando-se totalmente a Deus, dizendo: faça-se em mim segundo a vossa palavra, podemos ter certeza que ela está em união com Deus.

Ela não é sem pecado por natureza, mas por graça. Não é boa por sua própria capacidade, mas por estar na amizade de Deus.

Também, o texto não trata do grau de bondade que as criaturas podem chegar, e por implicação não trata do grau de santidade. Mas sabemos que na glória os santos não têm mais o pecado, sendo totalmente santos. No entanto, estar em plena santidade não faz uma criatura ser deusa. Assim, Maria é sem pecado, toda pura, pois esse é o plano de Deus para os salvos. Ela é santa por participação, por efeito da graça imerecida recebida de Deus. Por isso, Lucas 18, 19 está conforme a imaculada conceição.

O segundo texto é Romanos 3, 23: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.

Tal passagem sagrada já foi estudada. Mas continuemos. Esse texto não diz respeito a Cristo, mesmo não tendo a indicação clara e explícita para mostrar a exceção. Isso está bem explicado.

No entanto, em relação à virgem Maria podemos chegar á conclusão de sua santidade ao entendermos a santidade de Jesus Cristo e estudarmos textos bíblicos que falam da pessoa da mãe do Messias.

Na eternidade Deus viu todos como pecadores, caídos em Adão. Nessa queda estava a virgem Maria. Então, Deus preparou o meio de santificá-la, predestinando-a para ser a mãe do Salvador Jesus Cristo.

Ninguém pode ser visto por Deus como justo se Deus não o justificar primeiro. Deus justificou Maria. Portanto, Maria é justa.

O terceiro texto é Romanos 5, 12, também já estudo acima: Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso todos pecaram.

Todos pecaram em Adão por ser ele o arquétipo da humanidade. Então, é lógico que Maria pecou em Adão.

A morte está ligada ao pecado, e todos que possuem a natureza decaída morrem. Isso é o que diz o apologista. Tal afirmação já está refutada, quando tratamos de Henoc e Elias que não morreram.

Ainda, se os efeitos do pecado incluem a morte, como citados antes, e os efeitos não provam que o pecado original existe, pois Cristo passou pela morte, então a morte não prova a existência do pecado original naquele indivíduo.

Assim como Henoc e Elias não morreram e possuíam o pecado original, alguém que não tenha o pecado original pode morrer.

Mas, o apologista explica que Cristo morreu por fazer-se pecado por nós. De fato, Cristo morreu no lugar do pecador, sem ter Ele mesmo pecado. Ele de fato morreu, mas o pecado não foi associado ao seu ser, mas assumido para ser expiado como vítima inocente.

Desse modo, Cristo morreu verdadeiramente, mas não pecou. Se alguém assumir que o pecado foi de fato transferido para a pessoa de Cristo, o Salvador teria morrido como vítima culpada, invalidando sua morte vicária. Ele devia ser inocente, assumir a culpa, morrer de verdade, sem pecado. Assim, não foi o pecado que o fez morrer, pois não o tinha. Nem o pecado da humanidade, pois esse não podia ser transferido para Sua Pessoa que é divina.

Cristo morreu por ter herdado a natureza santa mas com efeitos da queda, como citados antes: fome, sede, cansaço, morte. É possível então que o santo pudesse morrer sem pecado.

De fato, a tradição mais antiga da Igreja admite que a virgem Maria morreu, e isso não é objeção contra a imaculada conceição, como ficou claro.

A ideia de que se Maria morreu ela herdou o pecado original não é um raciocínio católico, mas é feito pelo apologista protestante. Isso fica claro pelo fato de São João Damasceno e do papa São João Paulo II ter crido na morte de Maria e ao mesmo tempo ensinar a imaculada conceição, pois são duas verdades que caminham juntas.

O apologista protestante continua a afirmar que se Maria participou da morte isso é possível porque ela teve a natureza pecaminosa. Sim, ela teve a natureza humana idêntica a todos os seres humanos, mas sem o pecado, pois foi preservada. No entanto, é a mesma natureza, que possui os efeitos do pecado.

Outra contradição é a seguinte: Jesus herdou a natureza de Adão antes da queda, pois não poderia ter herdado a natureza pós-queda, pois teria herdado o pecado original. E o motivo seria que Ele foi concebido sem relações sexuais.

O problema é que Cristo foi gerado no ventre de Maria, sendo feito da Mulher (cf. Gálatas 4, 4). Se Maria herdou a natureza pós-queda, como dela seria gerada a natureza antes da queda para formar o corpo de Jesus?

De fato, a natureza antes da queda não tinha efeitos da queda como fome, sede, cansaço e morte. Jesus teve natureza idêntica a todos, com os efeitos acima assinalados.

Então, a natureza de Jesus, que é explicitamente santa, e que herdou essas fraquezas, mostra que esses sinais não são o pecado original. Assim, a natureza de Jesus foi herdada de Maria, pois Cristo nasceu de mulher. Então, é possível concluir sem problemas que Maria foi sem pecado.

Se Maria morreu de amor, no sentido de associá-la a Cristo, como co-redentora, isso não a faz “deusa”, já que é apenas uma associação da pessoa de Maria como discípula fiel de Cristo eleita por Deus para esse papel como a primeira que acreditou. A morte de Maria é uma participação da morte de Cristo. Por isso, ela ressuscitou com Ele.

Maria não herdou o pecado original, não cometeu pecados pessoais, morreu santamente, foi ressuscitada e elevada aos céus em corpo e alma para a glória celestial.

Dessa forma, não há na Escritura nenhuma base para contrariar a doutrina da imaculada conceição.

Gledson Meireles.

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