terça-feira, 9 de maio de 2017

A verdadeira interpretação de Mateus 16,18

Capítulo 11

Mateus 16,18

O livro A História não contada de Pedro afirma que a interpretação católica desse texto do evangelho de Mateus, em favor do primado de Pedro, é o último recurso, e é feito de forma isolada, descontextualizada. Afirma que há protestantes que reconhecem que a Pedra de Mateus 16,18 é Pedro, e ainda assim são contrários ao papado. Então, a tese de Pedro ser a pedra não implicaria em nada, somente a das “chaves”, mas se essas fossem exclusivamente dadas a são Pedro. No entanto, se forem dadas a outros igualmente, ou seja, se alguém mais a possuísse, e sabendo que todos os demais apóstolos a possuíam, então todos seriam iguais. Assim resume-se a tese defendida no livro.

 A interpretação que o livro apresenta liga a declaração de fé representada no pronome [isto ou isso] ao nome pedra [esta pedra], como se Jesus estivesse afirmando que sobre aquela declaração construiria Sua Igreja. Seria a declaração denominada “pedra”? Quer dizer que o Senhor Jesus chamou de “pedra” as palavras pronunciadas por São Pedro, naquele momento em que confessou a Sua identidade? Que interpretação nova é essa?

Sabe-se que os santos padres afirmaram sobre esse texto que a Pedra é Jesus Cristo, e também que a confissão de fé de Pedro era a Pedra, fato, aliás, que continua a ser dito, como está no Catecismo da Igreja Católica no número 424. Mas, que interpretação primeira o texto revela? Seria essa a interpretação literal da passagem? Qual é a interpretação fundamental de Mateus 16, 18?  Essas questões orientarão o presente estudo.

 O livro afirma: “Não é preciso fazer muito esforço para refutar tal pretensão católica, pois o próprio contexto deixa claro que a pedra era a confissão de fé de Pedro em Cristo, ou seja, que a pedra é “Cristo, o Filho do Deus vivo” (v.16):...” (p. 72) Analisar-se-á mais de perto essa afirmação. O que ela diz, em outras palavras, é que o contexto afirma claramente que a confissão de fé de Pedro é a pedra, e isso seria encontrado de forma fácil na leitura da passagem. Mas o leitor atento não vê isso de forma alguma, muito menos um leitor desavisado.

Estando em Cesareia de Filipe, Nosso Senhor interroga os discípulos sobre a opinião popular a Seu respeito. O povo não conhecia a verdadeira identidade de Jesus. Então, pergunta diretamente aos discípulos, aos Doze, e somente são Pedro confessa a verdadeira fé. Essa revelação, porém, veio-lhe do céu.

 O v. 17 fala da revelação. Não foi a declaração de fé que são Pedro recebeu, mas a informação correta a respeito de Jesus, o que possibilitou a sua confissão de fé: “porque isto não lhe foi revelado pela carne e o sangue”. Trata-se do conteúdo da confissão, ou melhor, a verdade de que Jesus é o Messias, o Filho de Deus Pai.

E Jesus passa, então, e em resposta à confissão feita, a afirmar algo sobre Pedro. É sobre a pessoa de Pedro que as palavras se referem. Note-se que São Pedro dirigiu-se a Jesus, e agora recebe de Jesus essas palavras: “Eu te digo que tu és Pedro.” Tais palavras são despercebidas, a maioria das vezes, e como tornaram-se bastante conhecidas, corre-se  o risco de não ouvi-las mais. O importante é notar que Jesus faz uma afirmação que, em outras circunstâncias, soaria como óbvia.

 Para uma melhor compreensão é necessário algumas comparações. Hipoteticamente pensemos em Jesus dizendo a um apóstolo: Eu te digo que tu és Bartolomeu. Mas, certamente desde criança Bartolomeu possuía aquele nome. Por que afirmar que ele era Bartolomeu?

Ou poderia dirigir-Se a Tiago e afirmar: Eu te digo que tu és Tiago. Outra vez, não teria sentido, visto que Tiago sabe, e todos que o conhecem também o sabem, que ele é Tiago, e esse é o seu nome. Porém, no caso de são Pedro a situação é outra.

Note que ele não diz: Tu és Jesus. Diferentemente, afirma: Tu és o Cristo. Por quê? O nome Jesus foi dado a Ele em Sua infância. Aliás, antes mesmo do nascimento o Senhor já havia recebido esse nome, que significa: Iavé salva. Portanto, é o nome que significa Salvador. O nosso Salvador.

Mas, na confissão de Pedro ele diz: Tu és o Cristo. A palavra Cristo quer dizer Ungido, e traduz o termo hebraico que significa Messias. Pedro então reconhece corretamente que Jesus é o Messias, o Cristo. É preciso atenção nesse detalhe: Tu és o Cristo. Essa é a identidade revelada. Todos os apóstolos já conheciam Jesus, mas não sabiam que Ele era o Cristo, o Messias.

Passando para as palavras de Jesus, Ele não diz: Tu és Simão. O nome Simão era o nome original daquele apóstolo, e ele sabia bem disso, assim como Jesus e todos os outros apóstolos, seus conhecidos e, com certeza, seus familiares. Mas, Jesus diz: Tu és Pedro.

Essa identificação é nova. A primeira vez que foi feita remete-se ao chamado de Simão, em João 1,42. Naquele momento o Senhor afirma que Simão será chamado Cefas. Em Mateus 16,18 há a confirmação: Eu te digo que tu és Pedro [Cefas].

Cefas é a transliteração grega do termo Kepha no original aramaico, e significa Pedra. Não há distinção no grego koiné do Novo Testamento para o significado dos termos que traduzem Kepha: Petra e Petrus. Ambos significam pedra, rocha. Assim, a tradução inglesa protestante King James Version, tida por muitos, não-católicos, como a tradução perfeita na língua inglesa, traduz Cefas como pedra. Assim, temos a revelação de duas identidades: Jesus é Cristo, e Simão é Pedro. Em continuação, analisar-se-ão as palavras de Jesus: e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.

Sabe-se que Pedro é pedra em grego, a pedra aludida como fundamento da Igreja não pode ser outra que não a pessoa de Pedro. Esse é o motivo de seu novo nome: ser fundamento da Igreja.

Essa leitura é literal e concorda com todo o contexto, como ficou esclarecido. Para um estudo bíblico segundo a legítima hermenêutica, não se pode deixar uma passagem “inexplicada” lançando o sentido de outra sobre ela. É certo que as passagens menos claras são iluminadas por aquelas mais claras. No entanto, não é correto deixar uma sem a devida explicação.

Muitos afirmam, como está no livro, que a pedra refere-se à confissão de fé de Pedro, ou a Jesus Cristo, que é a Pedra da Igreja em tantos outros textos da Bíblia. Contrariamente a essa leitura, o texto é claro ao mostrar Jesus explicando qual o sentido do nome Pedro: ser fundamento da Igreja. Jesus está como o Arquiteto – o Construtor, e Pedro como objeto da construção. Se alguém contesta essa explicação, que tente, pelos menos, refutá-la. A metáfora é clara e seu sentido igualmente claro. A correta exegese revela ser essa a única leitura literal possível.

O livro afirma: “Pedro, então, é o primeiro a se adiantar e responder aquilo que seria a pedra fundamental da Igreja – tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (p. 71-72). Em nenhum momento foi perguntado sobre a pedra da Igreja. Na passagem Jesus é o Messias, não a pedra. Essa é a identidade revelada de Jesus. Quem cumpre esse papel, de pedra, e que foi instituído por Cristo é Pedro. Essas são as Palavras de Jesus. Entenda-se bem: Cristo é a Pedra da Igreja, mas no contexto de Mateus 16,18 Ele estabelece a pedra num sentido diverso, e refere-Se à pessoa do apóstolo são Pedro. Não é referente ao que Pedro disse, mas à sua pessoa diretamente.    Vem então a explicação no livro: “e que sobre “esta pedra” (i.e, essa mesma confissão) a Igreja estaria edificada.” [ênfase no original] (p. 72). É impossível essa leitura. Ninguém consegue ter essa conclusão ao ler a passagem. Em nenhum momento a declaração de Pedro é apontada como pedra, sem qualquer indicação. Pelo contrário, a pessoa de Pedro é a Pedra.

Dessa forma, independentemente dos sentidos do pronome e das regras gramaticais gregas, o contexto aponta “esta pedra” para a pessoa de Pedro. A identidade dos nomes é patente (Pedro=Pedra). Impossível outra interpretação literal.

Os exemplos de Atos 7,17-19 para justificar uma possível mudança de referência no pronome “esta”, como ocorre no texto de Mateus 16,18, não ajuda a questão. O fato pode ser comprovado pelo contexto, sem referência ao grego. E é fácil provar.

No texto de Atos dos Apóstolos, vê-se que apareceu um rei que não conhecia José. Este rei usou de astúcia. Foi então, que José foi referido pelo termo “este”, por estar mais próximo do referido pronome? O contexto não admite essa leitura. A construção gramatical sim, mas o sentido do contexto, pela leitura natural, não. Sabe-se que José era israelita, filho de Jacó, homem santo de Deus. O rei que não o conhecia é o foco da passagem, e, portanto, não seria outro que não José quem usaria de astúcia contra o povo de Deus. José não cabe nessa interpretação, de forma alguma. A tradução do pronome por “este” em português só provaria sua inadequabilidade segundo as regras da língua portuguesa, mas não mostraria José, em hipótese alguma, como afirmando daquele que usou de astúcia na passagem. Esse alguém que usou de astúcia contra a “nossa raça” não é da “nossa raça”! Essas palavras judaicas revelam um estrangeiro. Esse seria outro sinal de que não poderia ser José, independentemente do pronome utilizado na tradução portuguesa. Ficou claro: o uso do pronome não impediu o entendimento da passagem, e ainda a correta interpretação serve de correção da tradução.

Em Atos 4,10-11 ocorre o mesmo. O pronome não poderia indicar outra pessoa a não ser Jesus. O paralítico não caberia absolutamente nas descrições contextuais, pois é afirmado que é no nome de Jesus que o paralítico foi curado, e que esse foi a Pedra rejeitada. Nunca o paralítico caberia nessas palavras.

Ainda, em João 2,22, se o texto e contexto estão denunciando quem é contrário ao messianismo de Jesus, não poderiam afirmar que o Cristo fosse o anticristo! Os próprios termos são autoexcludentes. Se Jesus é o Filho, e o negador é aquele que nega o Pai E O FILHO (note as palavras claramente citadas) quem mais poderia ser o anticristo? Obviamente, alguém que nega a Jesus! O contexto é esclarecedor. O pronome é ajustado por ele.

O autor certamente concorda com essas interpretações, e não pode refutá-las jamais. O que deve compreender, então, é que em Mateus 16,18 não há qualquer possibilidade de entender o pronome que antecede pedra como referente a outro termo que não seja o nome Pedro. Seria descontextualizar a passagem.

Entender: ““Tu és Pedro, e sobre aquela pedra edificarei a minha Igreja...”” remeteria a uma questão: que pedra? Fora do nome Pedro não se fala em pedra em toda a passagem. Como referir-se a algo não mencionado antes? Interpretação impossível. Leia novamente o texto e confira.

Dessa forma, a afirmação com ares de vitória: “Portanto, o argumento católico de que Pedro tem que ser a pedra de Mateus 16:18 por causa do “sobre esta pedra” morre aqui.” (p. 74), é uma afirmação que não passa de retórica. Ela mesma foi refutada. A questão não morre aqui, para a posição do livro, pois foi provado que o contexto inviabiliza a possibilidade das duas leituras, como apontado pelo livro. Somente Pedro pode ser a pedra nesse texto. Alguém tentaria refutar essa interpretação?

O texto em si não deixa a questão aberta, mas fechadíssima. O que dizer, então, da forma com que o Protestantismo trata a questão, como faz o livro? Lançar mão de outros textos, em outros contextos, e ligá-los à metáfora de Mateus 16,18 não explica o mesmo. Os textos citados, como foi mostrado acima, não refutaram nada.

Outra coisa, uma verdade ensinada por Jesus não necessita de ser repetida para ser verdade. Basta uma passagem clara, e Mateus 16,18 o é, para ser autoritativa. Não há ambiguidade na mesma, como afirmado no livro.

O texto de 1 Cor 3,10-11, por exemplo, mostra uma metáfora diversa. Nele, são Paulo é o construtor, aquele que lança a Rocha, que é Jesus. Em Mateus 16,18 Jesus é o Construtor, lançando o fundamento que é Pedro. Ambos os contextos são diversos, e um não explica o outro. Uma leitura alegórica, como faz Santo Agostinho e outros Padres, pode comportar esse sentido. Mas, como dito, não é o literal. A leitura alegórica é fundada no literal, mas pode conduzir a um outro sentido.

O próprio texto de são Pedro (1 Pd 4,11) corrobora isso. Pedro afirma que os construtores rejeitaram a Pedra Angular: Jesus. Portanto, a metáfora é diversa daquela usada pelo Senhor em Mateus 16,18. Em 2 Pd 2,4-7 tanto Cristo como os cristão são pedras. Cristo é a Pedra principal, e os cristãos as pedras outras do edifício. Deus Pai, portanto, é o Construtor. Trata-se de outra figura. Ninguém pode refutar isso, pois contra fatos não há argumentos.

A fé em Cristo como Pedra da Igreja é mantida por todos os cristãos católicos. A doutrina do primado não a contradiz. Assim, a afirmação seguinte do livro revela outro desentendimento da doutrina católica: “Afirmar que a pedra é Pedro significa negar todo o cumprimento profético do Antigo Testamento, além de tornar inócuo o fato de Cristo ser apontado o tempo todo como sendo a pedra, até mesmo com a mesma palavra petra que é usada em Mateus 16:18.” (p. 77)

Sabe-se que a Pedra da Igreja, a Pedra fundamental, profunda, e invisível, que dá toda coesão, sustento, força, estabilidade, é Jesus Cristo. O sentido de pedra relacionado a Pedro é diverso: Ele é a pedra fundamental posta pelo Senhor, como cabeça dos apóstolos e da Igreja, por sua fé. É uma pedra visível, com uma constituição diversa, servindo para outro objetivo.

O livro previa relativamente essa explicação: “Quando os católicos se deparam com essa evidência incontestável, eles tentam contornar o fato afirmando que tanto Pedro como Jesus são pedras, mas que seria Pedro a pedra específica de Mateus 16:18.” (p. 77)

De fato, a doutrina católica explica que não pode haver mistura indevida das metáforas. Assim, Jesus é A LUZ DO MUNDO, e do mesmo modo afirmou que os discípulos são A LUZ DO MUNDO. Haveria contradição nisso? De forma alguma. Os cristãos devem mostrar suas obras, testemunhando para a glória do Pai, sendo luz do mundo por estarem agindo como enviados de Jesus, a Luz do Mundo. Os discípulos refletem Sua luz.

Entendendo assim, Jesus é a Luz primária, fonte de toda luz, e os discípulos são a luz secundária, totalmente dependente da luz de Cristo, como a lua depende da luz do sol para brilhar e iluminar. Como a Lua não tem luz própria, assim são os discípulos, que podem não brilhar, quando não estão refletindo a luz de Cristo, deixando, assim, de ser discípulos.

Mas, o livro tenta desfazer esse argumento católico: “Usam como argumento o fato de Jesus ter dito em outra ocasião que ele é a luz do mundo (Jo.8:12), e depois disse que nós somos a luz do mundo (Mt.5:14). Contudo, essa analogia é falha por inúmeros motivos.” (p. 77)

A analogia é falha? Como? Mas não fez todo sentido explicado acima? Certamente o autor não conseguirá refutar. Deve-se então considerar o argumento do livro e analisá-lo.

1º “Primeiro, porque nem tudo o que Cristo é também pode ser aplicado aos seres humanos.” Correto. É um fato, Mas, vejamos outro fato: quando Cristo aplica o mesmo a nós, então podemos. Cristo é a Luz, e nós podemos ser a luz, pois Ele mesmo disse isso. Ele ensinou, e devemos aprender dEle que é a Verdade. Está refutada a asserção.

Cristo é a Pedra, e afirmou em Suas Escrituras que somos pedras. Portanto, a imagem da pedra pode ser aplicada a nós. E, portanto, biblicamente, no contexto geral, como em Mateus 16,18, de modo específico, Pedro é a pedra. O leitor entendeu? Todos os cristãos são pedras, assim como Cristo é Pedra, mas não no mesmo sentido, é claro. Então, Pedro é pera em seu sentido próprio. Concorda com isso a leitura tópica, e o contexto bíblico geral.

Assim, esse primeiro ponto não prova nada contra a posição de Pedro em Mateus 16,18 como explicado antes.

O livro afirma: “Todos os outros humanos são luz em sentido secundário, da mesma forma que todos os cristãos são pedra em sentido secundário.” (p. 78) Parece que concorda com a explicação católica. E não poderia ser diferente. Mas, adiante, mostra que não é esse o caso. A doutrina cristã católica tem Jesus como a fonte de toda santidade, de todo poder, de todo bem, de toda graça. Não colocamos outro fundamento, nesse sentido. Se Pedro é fundamento, é diverso o sentido em que o é. Jesus o afirmou claramente, e é nisso que devemos crer. Assim como Jesus nos colocou como pedras, em um sentido próprio para nós, também pôs Pedro como pedra em um sentido especial naquela passagem de Mateus.

O segundo ponto diria a respeito de Pedro não ser a pedra única da Igreja, mas todos os cristãos juntos. É uma tentativa de destruir o argumento acima. De fato, porém, essa é, igualmente, a doutrina católica. Pedro somente é a pedra fundamental em sentido de fundamento visível para a unidade, e de cabeça, de jurisdição, de governo, que está de acordo com a verdade do Evangelho, e em união a todos os ministros instituídos. A Igreja não deixa assim de ser composta por todas as pedras vivas que o Senhor colocou no Seu edifício, sendo Pedro mais uma dessas pedras. É preciso não entender o evangelho para não entender isso. Prossigamos.

De outro modo, havia escrito o profeta Isaías: “Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse.” (Is 28,16). Nessa passagem Deus é a Pedra de Esquina. São diferentes figuras.

Em Efésios 2,20 os apóstolos e profetas são o fundamento da Igreja. É bastante clara a passagem. Muitos protestantes poderiam dizer que não seria assim, e que a passagem deveria ser entendida como Cristo sendo o fundamento, por ser a pregação dos apóstolos. Ou seja, o conteúdo da pregação dos apóstolos poderia ser o fundamento. Mas, a passagem não o diz.

Para entender o sentido de fundamento, deve-se pensar em seu sinônimo, o alicerce. O alicerce, ou mesmo os alicerces, podem ser colocados em diversos lugares.

É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.” (Lucas 6,48)

Nosso Senhor fala que o homem colocou os alicerces – o fundamento – sobre a rocha. Assim, há diferenciação entre fundamento e pedra [rocha].

Há quem não coloca o fundamento: “Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.” (v. 49)

Nesse sentido, o texto de Efésios 2,20 deve ser bem compreendido: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”. Os apóstolos e profetas são os que lançam o fundamento, ou constituem o próprio fundamento, por seu ensino, pela pura doutrina que anunciam. Jesus é aí a “pedra de esquina”. Há dois símbolos: o do 1) fundamento e o da 2) pedra de esquina. Os apóstolos e profetas constituem o fundamento, e o Senhor Jesus a Pedra de Esquina. Será que um cristão não crê nisso, como está nessa interpretação?

Igualmente, a passagem de 1 Cor 3,11: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” Quem colocou o fundamento aí? A resposta está no verso anterior (10): “Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.

Se os pregadores do evangelho lançam o fundamento, ou seja, anunciam a Jesus Cristo, então são os arquitetos. Assim, são Paulo diz: “pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento”. Outros edificam sobre o fundamento posto por São Paulo, ou colocado por outro dos apóstolos, e sucessores.

Assim, em Ef 2,20 os apóstolos e profetas são o fundamento, e Cristo é a Pedra Angular. Ser fundamento da Igreja é também uma característica dada aos cristãos, como foi dada a Pedro em particular em Mateus 16,18. Isso prova que nós podemos ser pedras, e se há coisas que Cristo é, e que não podemos nós ser, não é esse o exemplo. Vê-se isso em Apocalipse 21,14, onde a muralha da Jerusalém celeste tem doze fundamentos. Os apóstolos são ali os fundamentos.

E o livro continua: “Portanto, o argumento católico, ao invés de refutar alguma coisa, apenas serve para fortalecer o argumento dos evangélicos. Ele demonstra que não existe outra pedra principal além de Cristo, assim como não existe outra luz principal além dEle.” (p. 79) No entanto, a doutrina católica não coloca outra luz principal, nem outra pedra principal, no mesmo sentido referido a Jesus Cristo, mas em sentido diferente.

Duas pedras fundamentais diversas ao mesmo tempo e no mesmo sentido implicaria em contradição. Tem-se, portanto, que Pedro é pedra em outro sentido. De fato, o próprio Pedro está edificado sobre a Pedra, que é Jesus, mas não deixa de ser pedra no sentido em que o Senhor Jesus o colocou no Evangelho. De modo algum Pedro seria Pedra em significado semelhante àquele de Jesus Cristo. Esse é o ponto que o livro falhou em considerar. Não soube ler a metáfora.

Na continuação da argumentação, com fins de fortalecer a posição, o livro a enfraquece quanto aponta: “A isso deve-se acrescentar que Jesus não diz que somente ele é a luz em João 8:12, mas a Bíblia diz claramente que somente ele é o fundamento principal da Igreja (1Co.3:11).” Quer dizer que Jesus não seria Ele somente a Luz, mas teriam outras luzes? Blasfêmia pensar! Portanto, no seu nascedouro o argumento é batido. O autor não pensou bem ao usar tal argumento, pois ele dá lugar a uma leitura blasfema. A Bíblia afirma que só Jesus é a Luz. Mas, em sentido de participação, todos nós, unidos a Ele, podemos ser luzes, ou constituir, juntos como Igreja, a luz do mundo. Não somos luz em sentido de que constituímos outra luz ao lado da Luz que é Cristo. Esse seria o erro.

O pensar na palavra “somente” empregada em relação a fundamento em 1 Cor 3,11, o livro erradamente ensinando assim, cria problemas maiores, pois o fundamento é igualmente todos os apóstolos e profetas, sendo Jesus Pedra Angular. Contradiz a própria Escritura ao afirmar que o fundamento não é aplicado a mais ninguém “somente” a Cristo, como se não houvesse passagem chamando alguém mais de fundamento, embora noutro sentido. O texto explicado dessa forma introduz falsa contradição nas Escrituras. Portanto, está errada a explicação do livro.

Que fala são Paulo em 1 Cor 3,11? Trata da evangelização, dos pregadores do Evangelho, os quais lançavam o fundamento nos diversos lugares onde organizavam as igrejas. O fundamento que colocavam era somente um: Jesus Cristo. Esse é o ensino da passagem. Dessa forma, entende-se que a mesma não é correlata de Mateus 16,18. Não há como fazer ligação dessas duas passagens, como pretendeu o autor.

Igualmente, é um erro afirmar que Pedro era apenas “coluna” e não pedra. Isso contradiz o texto analisado acima. As metáforas não devem ser misturadas. Se num momento Pedro, e todos os cristãos são pedras vivas, não poderiam ser colunas, segundo princípio que o livro adota! Se eles são colunas, já não poderiam ser pedras! Esse resultado errôneo e inesperado, mas lógico, deve-se à falha em misturar as metáforas. É outra falha argumentativa.

Num momento, Jesus é o Pastor, noutro é o Cordeiro. Em um é a Porta, em outro é a Luz. Ainda, pode ser apresentado como Homem, como Leão, como Cordeiro. São metáforas independentes, cada qual focalizando uma verdade sobre Cristo. Ninguém poderia negar, pensando corretamente, que Cristo não fosse o Cordeiro, pois seria o Leão da Tribo de Judá, e leões não são cordeiros! Ou pensar que Cristo não é o Cordeiro, pois é o Pastor, e o Pastor é quem cuida dos cordeiros! Ou que não pode ser o Pastor, porque é a Porta das ovelhas, e o Pastor não pode ser Porta! Logo se nota a fraqueza da mistura de metáforas! Esse erro adotado no livro leva-o a criar tais problemas. (Se não for assim, que explique melhor a questão das metáforas, e prove que não foi refutado pela argumentação registrada aqui.) Por exemplo, quando afirma: “E existe uma gigantesca e colossal diferença entre ser a pedra de fundamento e ser uma coluna, pois a coluna não é o fundamento, mas está edificada sobre o fundamento, que é Cristo.” (p. 80)

Esclarecendo mais, a pedra e o fundamento podem ser diferentes. Por exemplo, Cristo em 1 Cor 3,11 e em 1 Cor 10,3. No primeiro é o fundamento, que é lançado pelos ministros do Evangelho. No segundo é a Pedra que sacia a sede de todos, como figurada na pedra que jorrou água e seguia os hebreus no deserto. Pedra fundamental e pedra donde bebe-se água são figuras diversas, e não deve-se confundi-las. Percebam isso.

A afirmação seguinte é totalmente errônea em seu objetivo: “Pedro, como Paulo dizia, era uma “coluna” da Igreja (Gl.2:9), que sabemos que é algo muito diferente de pedra de fundamento.” (p. 81) De fato, ser coluna difere de ser uma pedra fundamental. No entanto, como estabelecido antes, num momento pode-se empregar uma figura de linguagem, enquanto em outro valer-se de artifícios linguísticos diferentes, com o fim de esclarecer pontos diversos. O livro está totalmente desorientado nessa área. Os argumentos expostos sobre suas premissas foram refutados. E, certamente, o mesmo não pode refutar o que está posto aqui.

Pedro não está colocado como fundamento no mesmo sentido que Cristo está. Deve-se entender bem essa asserção.

A construção de 1 Cor 3,11 é feita pelos ministros do evangelho. Nessa figura, eles não são pedras, são construtores. Eles não constroem a Igreja, mas lançam fundamento e usam de vários materiais para construir sobre o mesmo fundamento, que é Cristo. Trata-se de uma figura diferente.

Não se pode ligá-la a Gl 2,9. Em Gálatas os apóstolos citados aparecem como colunas, e colunas são constroem nada (não são autores), mas são construídas, colocadas pelos construtores (são estruturas, são objetos). A junção de ambas as passagens revela a falsa exegese empregada para negar o texto claríssimo de Mateus 16,18. Definitivamente, esse meio não refuta nada nessa questão.

Para negar que a pedra – fundamento – seja Pedro, o argumento gira em torno de 1 Cor 3,11 onde é dito haver um único fundamento. Texto já explicado. É preciso encontrar outra passagem então.

Mas, o incrível, para o argumento do livro, é que no Apocalipse, numa outra figura, na visão de são João, a muralha da Jerusalém Celestial tem 12 fundamentos! (Ap 22,14) E nessa visão do Apocalipse não aparece Jesus como fundamento da cidade e da muralha.

Pelo arrazoado do livro (pelos princípios que deixa implícito em suas colocações) isso deveria ter ocorrido, mas não ocorreu. Esse fato serve apenas para mostrar o desajuste das questões colocadas no livro sobre Pedro não aparecer como pedra, coluna ou fundamento em destaque.

Contudo, ele aparece em Mateus 16,18, de fato, passagem infelizmente não entendida nas argumentações do livro. Jesus é o fundamento da Jerusalém celestial, pode-se afirmar (ou não podemos?), mas a visão não revela isso (cf. Ap 22,14). Mostra assim que não necessita revelar a mesma coisa cada vez que faz uma revelação nas Escrituras Sagradas. São figuras diferentes, cenas diferentes, metáforas diferentes.

A Bíblia é harmoniosa, sua verdade não contraria-se em ponto algum. Contudo, pelos erros que o livro aponta em sua tentativa de negar que Pedro=Pedra, faz com que o Apocalipse, ou qualquer outra passagem bíblica, não possa falar de mais de um fundamento, quanto mais de dozes fundamentos, como faz! Sabendo disso, mais uma vez, deve-se apegar aos argumentos bíblicos, não aos do livro A História não contada de Pedro, pois o mesmo os contradiz. O mesmo contradiz os argumentos fundamentados na Bíblia. Cada metáfora em seu próprio contexto, caro leitor.

O fato também de Mateus 16, 18 ser o único lugar onde encontra-se claramente Pedro como fundamento, não nega o primado, que é atestado alhures nas Escrituras, em diversas cenas bíblicas. Cristo não necessita repetir em todos os sinóticos cada verdade. Basta uma vez, já devemos crer. Essa verdade sobre Pedro aparece em muitas outras passagens, indicando sua preeminência, sua primazia, seu destaque na Igreja, sua escolha por Deus. Não é necessário que em outros lugares sejam narrados o mesmo fato, da mesma forma. Palavras e meios diferentes valem igualmente. Isso, de que a repetição torna-se necessária, não se impõe. É apenas uma exigência protestante, revelada em seus argumentos, que não é encontrada na Bíblia.

Em Marcos está: Tu és o Cristo. Em Lucas: O Cristo de Deus. Em Mateus: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Isso mostra evidentemente que são Mateus narrou mais completamente o fato. Somente isso. Os outros sinóticos apenas resumiram a questão. São Mateus foi mais claro nesse particular. Nada mais do que isso.

Resumindo, os outros sinóticos não falam de pedra, mas apenas narram a resposta de Pedro sobre a messianidade de Jesus. Portanto, a afirmação seguinte está batida: “A pedra em questão já havia sido achada.” Não houve procura de pedra, em lugar algum, nenhum questionamento sobre isso. E mais: se dependesse dos evangelhos de Marcos e Lucas, não poderíamos saber sobre a passagem de Mateus 16,18? Mas, foi por isso que Deus, soberanamente, quis que fossem quatro os evangelhos, e muitas vezes narrou em apenas um, uma questão importante. No entanto, a mesma é confirmada em outras partes da Bíblia.

Outro ponto errôneo do livro é esse: “Notemos que Mateus, que escreveu em grego seu evangelho...” (p. 87). Mateus escreveu o seu evangelho em aramaico. Pela conclusão vê-se novamente o erro: ““Tu és PETRUS...” – Um fragmento de pedra, uma pedra secundária que está edificada sobre a rocha principal. E sobre a sua confissão: “E sobre esta PETRA” – Uma rocha firme, uma massa de rocha.” (p. 88)

Jesus teria dito “Tu és Pedro” apenas para mostrar-lhe que era pequeno, “e sobre esta pedra” para indicar uma rocha grande e firme. Que tem isso a ver com o contexto? Absolutamente, nada. A explicação é falha, e introduz uma conversa, um sentido, que não tem a ver com o caso.

Se assim o fosse, ainda restaria explicar o fato de Jesus ter dito que Simão era pedra e que construiria Sua Igreja sobre a pedra, que deveria ser entendido como o próprio Cristo? Soaria como se o Tu és Pedro não passasse de um artifício retórico sem sentido. Esse resultado previsto nas premissas do livro é evidência da falsidade das mesmas. Portanto, o argumento cai mais uma vez. O diálogo era com Pedro, e tudo nos versos 16 a 19 se refere a Pedro, contrariamente ao que o livro tentou inculcar.

A explicação: “E o “και” significa que Cristo estava dizendo algo como: “quanto a ti, Pedro” ou “e tu, Pedro”, pois o “και” tira o sentido de ser tudo referência a Pedro.” Mas, não tinha dito o Senhor no início: Tu és Pedro? Como falar a ele, e não dele, e depois afirmar: agora, quanto a ti? É uma explicação auto-contraditória.

Jesus já inicia a fala dirigindo-Se a Pedro, e não há qualquer sinal que indique que tenha mudado de foco.

Testando mais diretamente a explicação do livro: Cristo diria o Tu és Pedro, afirmando algo do apóstolo, passaria então a falar de algo outro, da fundação da Igreja sobre Si Mesmo, ou seja, o objeto da confissão de Pedro, e depois voltaria a falar do apóstolo. Grande confusão!

A leitura normal, no entanto, percebe que: Cristo fala que Simão é Pedro [pedra], e que sobre a pedra [o apóstolo Pedro] edificará a Sua Igreja, e que dará a ele as chaves do reino dos céus. Verdade bastante profunda e simples. Não necessita de uma análise no grego para descobrir nada, mas apenas para confirmar a leitura a partir do texto corretamente traduzido.

A respeito do aramaico, língua falada por Jesus, o livro aponta o argumento nele baseado como a “última cartada” dos católicos, que teria aparência de “bom argumento”. Acreditando que sua exposição foi bem-sucedida, tenta obscurecer o argumento do aramaico.

E continua: “...que devemos ficar apenas com aquilo que Jesus supostamente teria dito”. (p. 91) Na verdade, Jesus o disse, não supostamente, mas de fato. Continuando: “(pois não sabemos as palavras exatas que ele teria usado, apenas aquilo que ele provavelmente disse) em aramaico?”. Essa suposição não tem força alguma. Não sabemos as palavras exatas? Talvez refira-se à frase completa, não aos termos, pois, que o Senhor Jesus Cristo pronunciou KEPHA há provas cabais nas Escrituras, como João 1,42, já aludido, que translitera em caracteres gregos o nome de Pedro: CEFAS, e mostra o significado do mesmo em grego. Nem sempre a Bíblia o traduz. Várias passagens mostram as transliterações. (cf. 1 Cor 1,12; 3,22; 9,5; 15,5; Gl 2,9) Outra afirmação refutada.

Voltando a afirmar a suposta referência do pronome ao termo mais distante, ainda que tendo referência na gramática do aramaico, o livro tenta reforçar sua posição já refutada, mesmo no grego.

A diferença semasiológica aludida pelo padre Aníbal Reis [ex-padre] não é prova alguma. O texto grego não a supõe, e ainda menos o aramaico. Isso é fruto da interpretação que se tentou introduzir, mas, graças a Deus, em Nome de Jesus Cristo, essa interpretação foi batida acima.

São Mateus escreveu em aramaico, e a tradução grega traduz Kepha por dois termos: petros e petra. Já foi afirmado antes que os dois possuem significados idênticos. Aliás, os eruditos afirmam que a diferença sutil entre ambos se dá no uso poético dos mesmos, não afetando seu significado original. O significado literal permanece.

E o evangelista ouviu Jesus pronunciar aquelas palavras a Pedro. Não havendo uma passagem sequer que indique diferença de sentido entre Petros e Petra, e sabendo que a escolha do termo Petros se dá por seu uso apropriado a um nome masculino, está desfeita a questão que tentou ser provada no livro. Outro fato importante, o grego utiliza lithos para uma pequena pedra (cf. João 8,7.59), que pode ser normalmente arremessada, e kepha para indicar uma pedra em tamanho considerável, uma rocha.

Sabendo disso, é um golpe mortal na teoria protestante que tenta responder contrariamente à verdade cristã católica, de que Pedro teria sido entendido como “pedra pequena” ou “pedrinha”. E esse golpe de morte aparece em 1 Pedro 2,4, onde o próprio Senhor Jesus Cristo é chamado PEDRA usando o grego lithos [λίθον ], o que prova que, ainda assim, no uso de um substantivo que denota uma pedrinha, o sentido do mesmo, pelo contexto, não diminui a grandeza do Senhor pelo simples uso do termo. Jesus sendo chamado de Pedrinha não o faz pequeno. Essa refutação é radical quanto à argumentação de Pedro ser supostamente um pedaço pequeno de pedra.

O verso de 1 Pedro 2,5 igualmente utiliza a mesma palavra em relação a todos os cristãos, e tal fato não diminui a majestade de Cristo. Portanto, se, ainda como afirmam, Petros assumisse um sentido diverso de Petra, o que não é o caso, e foi provado aqui, ainda assim a posição de Pedro como pedra fundamental estaria de pé. Mais uma vez, a teoria protestante cai num despenhadeiro profundo.

O livro considera a resposta sobre a concordância com o gênero masculino, como razão da tradução para Petros: “Alguns católicos, tentando contornar esse fato e oferecer alguma explicação para a distinção de Mateus, afirmam que ele distinguiu petrus de petra porque foi forçado a isso, para não colocar em Pedro um nome feminino (petra).” (p. 93)

Negando isso, o autor nota que há uma falta de concordância entre o masculino Petrus [Petros] e o termo feminino petra, o que explicaria que não poderia petra referir-se a petrus, mas a um feminino anterior, a confissão petrina. Essa explicação já está afastada, como provado no início, não possuindo nenhuma plausibilidade. Em Zondervan NIV Bible Commentary afirma-se que, não fosse a reação protestante contra os excessos das interpretações católicas, os protestantes teriam reconhecido em Pedro a Pedra no texto em apreço. E realmente, isso é um fato. Não há nada diverso a ser dito.

Ao primeiro ponto, deve-se afirmar que a Comissão Bíblia explica que Mateus é o apóstolo de Jesus, e que escreveu na língua dos judeus palestinos, e isso está baseado na tradição. Se não se sabe ao certo a língua original, hebraica ou aramaica, por outro lado conhece-se que não foi originalmente escrito em grego. Esse primeiro ponto apresentado é de pouco interesse.

Por que Mateus seria a exceção a escrever em aramaico, se os outros escreveram aos judeus em grego? Simples. Mateus foi o único que escreveu aos judeus da Palestina, especificamente, e não o faria, logicamente, em grego. Respondido. Os outros livros sagrados foram endereçados aos judeus da Diáspora. E sabe-se que fora da Palestina a língua usada pelos judeus era o grego.

A hipótese número 4 não prova nada, por provar demais. Certamente, o tradutor de Mateus para o grego baseou-se no texto de Marcos, que encontra-se completo no Evangelho de Mateus. Essa não é uma objeção importante.

E, como escreve o ex-padre Aníbal, a Igreja Católica baseia-se no texto grego e, portanto, quaisquer objeções que teimem em esquecer-se disso, como se a Igreja Católica usasse o argumento do texto não preservado em aramaico, são objeções pueris.

Com mais ares de vitória, afirma o livro: “Portanto, não há escapatórias para os apologistas católicos.” (p. 95) Será verdade? O que foi mostrado acima não assemelha-se em nada com essa afirmação. Pelo contrário, cada argumento do livro está sendo esmagado pelo martelo sagrado da Palavra de Deus. E todos os argumentos contra a interpretação cristã católica de Mateus 16,18 foram refutados.

Gledson Meireles.

5 comentários:

  1. Olá Gledson Meireles

    Boa noite

    Ainda tem um outra questão, a saber : Nós devemos observar que mesmo que a palavra "petra" aponte para a famosa declaração de Pedro isso não é uma argumentação que exclua de forma definitiva o Primado de um ser humano que no caso seria Pedro, pois é precisamente em Mateus 16:16 quando é feita a declaração ou a confissão que é feita a separação digamos assim das duas pessoas que farão parte do diálogo que no caso são Jesus e Pedro, pois de Mateus 16:13-15 Jesus interroga os discípulos e a partir do versículo 16 é que Pedro entra em cena justamente com a importante declaração e aí nós observamos que fica entre Jesus e Pedro pois logo depois da confissão Jesus no versículo 17 responde positivamente apontando para Pedro e no versículo 18 Jesus direcionada novamente a Pedro utilizando as palavras "Petrus" e "petra".

    Poderia se argumentar que Pedro ao fazer a confissão aponta para Jesus e então no caso Jesus seria a "petra" i.e a Rocha porém depois que Pedro aponta para Jesus falando a confissão Jesus imediatamente cita ele duas vezes apontando e direcionando para Pedro então é como se Jesus entendesse que apesar da palavra "petra" se referir à declaração foi precisamente Pedro que a fez e não outro discípulo e isso lembra que no início em Mateus 16:13 Jesus interroga os discípulos e a partir dos versículo 16 Pedro se destaca dos demais e então fica ele e Jesus e é esse destaque que já começa como ele fazendo a declaração que aponta-o como tendo uma Primazia sobre os demais. Então mesmo a palavra " petra" não sendo Pedro ainda assim pode-se entender que Pedro teria uma Primazia.

    Parabéns para a Igreja Católica Apostólica Romana por ter tido tal entendimento da Primazia pois a questão não é se Deus dá a Primazia a um crente ou se Deus quer um determinado número de crentes como um Colegiado o que é importante é como Deus quer o Governo na Santa Igreja pois em ambos os casos existe a ação do Espírito Santo agindo, então o fato de um crente no Senhor ter um Primazia não significa necessariamente que o Espirito Santo não age no mesmo para ele interagir com a Igreja.

    Um grande abraço e muitas felicidades

    Luiz

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    1. Luiz, o seu entendimento é de grande proveito para a discussão do tema. Está sendo bom ler o que você escreve, e aprender mais do texto a partir da perspectiva da sua leitura, que é totalmente compatível com o mesmo, e vem colaborar grandemente.

      Obrigado.

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  2. Olá Gledson Meireles

    Boa noite

    Parabéns pela sua defesa de forma coerente e equilibrada da fé católica apostólica romana. Seu esforço e dedicação sobre os temas ajudam muitos os leitores a terem uma compreensão sobre qual é o entendimento católico apostólico romano da fé cristã como um todo mais uma vez parabéns.

    um grande abraço e muitas felicidades

    Luiz

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  3. Poderia responder?https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1709158586057674&id=1672470333059833

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