quarta-feira, 1 de maio de 2024

Sábado e Domingo: estudo de um artigo adventista de Kenneth Strand

O Sábado e o Domingo

Estudo do artigo “Como o domingo tornou-se dia popular de culto – parte 2”, de Kenneth A. Strand, Ph.D., professor adventista de teologia histórica e Novo Testamento.

Aqui será feita uma leitura diversa dos fatos históricos apresentados pelo professor Kenneth. De fato, através da sua apresentação será mostrado o fundamento bíblico do domingo.

Pelo artigo de Kenneth A. Strand podemos perceber que o domingo tem o status sagrado desde os tempos apostólicos. A origem do sábado é bastante conhecida na Bíblia, desde o AT. E no NT temos a origem do domingo. Como poderia o domingo coexistir com o sábado durante séculos, lado a lado como sagrados, se não fosse a importância do domingo conhecida por tradição apostólica? A única explicação para tamanha importância do domingo é que o mesmo foi do dia de repouso e culto cristão desde os dias de Cristo e dos Seus apóstolos. As legislações imperiais teriam se encarregado de oficializar a transição. Mas o que vemos é que sendo o domingo o dia em que os cristãos celebram os mistérios santos, as leis apenas estavam exprimindo essa realidade.

Introdução: Se o sábado e o domingo eram guardados lado a lado na Igreja, isso se deve ao fato de que o domingo é o dia de guarda do cristão, e a Igreja conversou o sábado herdado da antiga aliança. Desse modo, na teologia católica, não se vê contraste entre o sábado e o domingo.

E qual o dia “para os serviços de adoração semanal”? Segundo Kenneth esse foi o sábado. E qual a prova? Afirma que foi apresentada em seu artigo anterior.

No entanto, é muito claro que no Novo Testamente o dia de culto e adoração é o domingo.

Historicamente, o teólogo irá investigar quando, onde e como o domingo tornou-se conhecido como dia especial para os cristãos. Se tivermos em mente o fato da ressurreição, entendemos que aí está a origem do domingo. Não considerando isso, deve-se partir para outras teorias. Vejamos como isso é feito pelo teólogo adventista.

Em primeiro lugar, o autor afirma que há evidência clara, considerada a primeira evidência, da guarda do domingo, no ano 130 d. C. Nesse tempo, muito próximo à era apostólica, muitos que conheceram os apóstolos estavam vivos. A guarda do domingo não poderia ter sido introduzida como algo estranho, pois doutro modo seria iniciado intenso debate na Igreja. Portanto, o fato de nesse tempo ser admitido que há evidência clara para a observância do domingo, é um dado que está conforme a tradição apostólica. Os cristãos observavam o domingo porque esse era o dia de guarda deixado por Cristo e pelos apóstolos.

Os sábados presentes então, são mostrados como inaceitáveis a Deus, e o domingo é apresentado como dia de júbilo e da ressurreição de Jesus. A referência de São Justino, reconhecida pelo autor adventista como direta e mais claramente à observância do domingo, data do ano 150 d. C.

Sendo uma apologia cristã, refere-se à guarda do domingo como algo original, como prática da Igreja, e não indica que tenha havido mudança quanto a isso. Essa forma de expressar-se está de acordo com a tradição apostólica, pois aquilo que é transmitido como verdade revelada desde os apóstolos tem essa marca de reconhecimento unânime. Nota-se que São Justino fala do domingo como dia de reunião de todos os cristãos para celebrar a missa. Essa prática antiga e consolidada já em seu tempo.

E o autor adventista considera que São Justino escreveu algo que manifestava inclinação anti-sabática no Diálogo com Trifo. Se essa é a posição, concorda com a referência anterior, vinte anos antes, que mostra os sábados como inaceitáveis. Se São Justino mostra o domingo como dia de culto cristão e se refere à abolição do sábado, isso está conforme a tradição, pois em Colossenses 2, 16-17 os sábados estão entre as sombras.

Roma e Alexandria: Se há essa realidade, onde o domingo é o dia de guarda e o sábado recebe atitude negativa nesse quesito, essa é a tradição apostólica, e não uma inovação. Que o leitor perceba esse primeiro dado que é mostrado pelo autor adventista.

Ainda, o teólogo fala de uma regra geral de que o culto cristão era realizado no sábado em todo o mundo cristão no quinto século, com exceção de Roma e Alexandria. Se tivermos em mente as declarações de São Barnabé e São Justino, de que o domingo é o dia de guarda e o sábado não é mais observado assim, temos que há uma tensão aí. Se no segundo século é evidente que o domingo é guardado, não se pode afirmar que o sábado é o dia de guarda e culto em todo o mundo cristão.

No entanto, se se tem em mente que o sábado é também um dia respeitado e celebrado pelos cristãos, segundo o domingo o dia principal na semana, esse dado concorda com a tradição apostólica. De fato, é isso que Sócrates e Sozomen afirmam, quanto dizem que ambos os dias são guardados. Mas, na citação de Sócrates Scholasticus, ele afirma que os cristãos celebram os mistérios sagrados no sábado, e que Roma e Alexandria cessaram de fazer isso. E Sozomen afirma que em Constantinopla, em quase todos os lugares, os cristãos reúnem-se no sábado e no domingo, diferentemente de Roma e Alexandria. Assim, escreve o teólogo adventista: “Assim, “em quase todos os lugares”, através da cristandade, exceto em Roma e Alexandria, havia serviços de culto cristão, tanto no sábado quanto no domingo, no final do quinto século.

Doutro modo, pensaríamos que a Igreja em toda parte guarda dois dias, e que não estava conforme a doutrina de Roma e Alexandria, o que não é exato, já que é unanimidade na antiguidade, como testemunha Santo Irineu de Lion, de que as igrejas em toda parte devem estar em conformidade com a doutrina praticada na Igreja de Roma.

Ainda, se em 130 d. C. e 150 d. C. temos evidências claras da guarda do domingo, não parece que Roma tenha deixado de guardar o sábado, pois isso estaria em conflito com todas as demais igrejas espalhadas em todo o mundo, causando a maior das controvérsias. Ainda, durante séculos haveria silêncio quanto a essa divergência de prática. Temos de admitir, até aqui, que o sábado podia ser guardado, mas não como obrigação para o cristão. Por esse motivo, havia o costume geral de guardar os dois dias, e isso não era causa de divisão na igreja.

E então o teólogo adventista põe-se a investigar o que levou Roma e Alexandria a adotar tão precocemente o domingo. Essa questão deve ser feita ao mesmo tempo em que se reconhece que em todos os lugares o domingo também é guardado juntamente com o sábado. Isso sugere que o mesmo ocorria em todas as comunidades cristãs, que guardavam o domingo desde os dias de Cristo e também continuavam a celebrar a missa aos sábados, honrando o dia de descanso da Antiga Aliança. Assim, trata-se de admitir que o domingo era guardado em toda a parte nos primeiros séculos.

Quanto a essa realidade, o teólogo investiga o motivo da observância dominical ter sido tão prontamente aceita pelo restante da cristandade ao lado do sábado. Se aceitamos que o domingo é de origem apostólica, isso já está respondido. O sábado judeu foi honrado pelos primeiros cristãos e permaneceu na vida da Igreja ao lado do novo dia de culto e adoração cristã, o domingo, de modo que não há tensão entre os dois dias nesse sentido. Essa tensão só aparece quando se trata de impor o sábado como dia de culto e contraposição ao domingo. Lembra a circuncisão, que podia ser feita, desde que não fosse imposta a ninguém. Do contrário, significaria estar apartado de Cristo.

E algo muito importante é constatado pelo autor adventista. O sábado não foi prontamente substituído pelo domingo após a ressurreição. De fato, ele considera assim por motivo das fontes históricas mostrarem que o sábado ainda continuava sendo observado ao lado do domingo.

Também afirma que é incorreta a opinião de que o domingo foi influência do paganismo, o que carece de prova e é absolutamente improvável. Tudo isso mostra que a teologia do domingo é muito mais profunda do que muitos pensam.

Ele admite que os cristãos nunca teriam mudado de prática subitamente por influência pagã. Cita São Justino, que foi mártir. Dessa forma, podemos afirmar que São Justino não guardaria o domingo se esse não fosse fundamentado na Bíblia e na tradição.

Festa das primícias: O autor adventista nota que o domingo foi originalmente visto como dia em honra à ressurreição de Cristo e não como um sábado. Essa distinção é interessante nos estudos adventistas. Mas, também, indica que certamente os cristãos guardavam os dias de sábado e domingo de forma diferente dos judeus.

A explicação sobre a festa das primícias, e da imolação do cordeiro pascal é valiosa. A data escolhida pelos fariseus e pelos essênios é algo importante nesse debate.

É bem provável que os cristãos, seguindo a tradição, entenderam o dia após um sábado semanal de Levítico 23 como o domingo. A afirmação de que os cristãos naturalmente continuariam a celebrar as primícias não é exata, a não ser no contexto acima aludido, onde não há mais obrigatoriedade. Quanto à teologia de Cristo como primícias e a importância máxima da ressurreição, isso corrobora a teologia dominical. Assim, a origem do domingo é eminentemente bíblica.

Início da guarda do domingo: A afirmação de que os cristãos não guardavam o domingo como festival da ressurreição semanalmente é improvável. A citação feita pelo próprio autor adventista, de São Justino em 150 d. C., afirmando que no dia chamado domingo os cristãos se reuniam, prova que isso não era uma vez por ano, mas semanalmente.

Então, refere-se à controvérsia da páscoa, irrompida no segundo século. Os cristãos deviam celebrar a páscoa numa data fixa ou não? A tradição geral apontava para a data do domingo. O próprio autor adventista mostra isso: “Mas os cristãos na maior parte do restante do mundo, incluindo Gália, Corinto, Ponto (no Norte da Ásia Menor), Alexandria, Mesopotâmia e Palestina (mesmo em Jerusalém), mantinham-se fiéis a uma Páscoa no domingo.” Mesmo em Jerusalém os cristãos celebravam a páscoa no domingo. Esse costume foi levado para Roma. E na autoridade apostólica, exercida pelo papa, mais tarde essa posição foi aceita em toda a Igreja Católica. Qual era a verdadeira posição apostólica? Certamente aquela que o magistério defendeu, a que o papa ensinava.

Eusébio de Cesareia relata a controvérsia sobre a páscoa, e menciona a tradição remota da Ásia. Mas afirma que a tradição apostólica era de que o jejum havia de ser encerrado no domingo. Aqui temos a ideia de tradições locais em comparação à tradição apostólica. Essa última é sempre presente no sentir da Igreja Católica, no consenso geral dos santos padres, dos doutores, dos teólogos, dos sínodos, das encíclicas e bulas papais e dos concílios.

Assim, prova-se que no domingo não foi inovação romana tardia. Ele tem origem bíblica.

Quanto ao mais antigo domingo cristão como prática anual, isso não ficou claro. Supõe-se que a festa das primícias continuou a ser celebrada pelos cristãos. Isso é improvável. Por meio dessa suposição, desenvolve-se a ideia de que a celebração do domingo, como a festa das primícias, era anual. O que também carece de historicidade.

A tese de que não havia ambiente psicológico para celebrar semanalmente o domingo como dia da ressurreição, deixa de explicar como o domingo era celebrado semanalmente desde do início juntamente com o sábado. Que motivação tinham os cristãos para celebrá-lo? A próxima doutrina da ressurreição, que é de máxima importância, garante que essa foi a festa semanal observada no domingo. Desse modo, pensar em desenvolvimento de um domingo anual, para domingos entre páscoa e pentecostes até o domingo semanal não é tão pungente. Entretanto, ele exprime da teologia do domingo e ajuda a entender como esse dia nasceu da doutrina bíblica.

Em Roma e Alexandria o domingo semanal aparece com clareza. O autor entende que ali ele foi substituto do sábado. Mas não há razão para isso, reconhece, pois ambos os dias aparecem juntos. Assim, não desenvolvendo o argumento como está sendo feito aqui, e negando a tradição apostólica, ele se põe a procurar a origem do domingo semanal substituindo o sábado em Roma.

O domingo substitui o sábado em Roma: o autor aponta um sentimento anti-judaico no  início do segundo século. Mas, poderíamos perguntar, não foi esse sentimento o mesmo que vemos nas páginas do NT, nas controvérsias sobre a Lei, a circuncisão, o sábado, a leis alimentares e etc? É preciso considerar a natureza dessas discussões.

O imperador Adriano, em 135, proíbe a circuncisão e o sábado. A identificação com os judeus pode ter sido evitada e levado à adoção de práticas distintas por parte dos cristãos, em Alexandria, por exemplo. Essa é uma tese interessante.

No entanto, parece equivocado afirmar que os cristãos de Roma e Alexandria procuraram um substituto para o sábado semanal. Deviam apenas deixar de guardá-lo, talvez, pois já tinham o domingo, como provado anteriormente.

O fato do costume do jejum em Roma, tornando o sábado um dia triste, não pode ser entendido como o objetivo da prática. Era parte da devoção cristã realizar o jejum, para lembrar de Cristo no sepulcro.

Parece que a explicação supõe que somente o sábado era o dia de culto em Roma. Sendo assim, tornado dia de jejum, foi depois substituído pelo domingo. Essa suposição que transparece no estudo, também não explica que os dois dias apareçam harmoniosamente juntos na Igreja em geral durante séculos. Portanto, em Roma, também, o sábado era honrado com o domingo. As devoções podem ter sido diversas.

O autor fala de medidas tomadas para substituir o sábado pelo domingo em Roma e Alexandria. Conquanto tenha em mente que o domingo não entrou na Igreja por influência pagã, afirma que pode ter havido alguma influência na substituição. E, como adventista, afirma a tese de que o domingo pagão teve efeito sobre o Cristianismo pós-Constantino.

Aqui há algumas coisas a serem realçadas. Uma constatação do próprio autor adventista de que o domingo foi guardado pelos cristãos desde o século segundo, provado com evidências históricas.

Também a admissão de que o domingo tem motivações bíblicas, como mostrou no estudo sobre a festa das primícias e da importância da ressurreição. E, também, que o domingo pagão teve influência na Igreja, após Constantino.

Sendo assim, o domingo teria sido reforçado pelas leis do Estado para tornar sua observância mais efetiva, mas não teria sido jamais uma inovação, nem algo pagão entre os cristãos. O primeiro dia da semana cristão coincidiu com um costume que os pagãos tinham, sem qualquer influência mútua.

Ver nota 15

Com base nessa pressuposição, o autor adventista pensa na origem do domingo ao lado sábado na Cristandade, como se o domingo surgisse posteriormente entre os cristãos em outras localidades. Não há fontes históricas para isso.

Então, afirma que em muitos lugares os dois dias se chocassem, como havia ocorrido em Roma e Alexandria no segundo século.

Isso está mais uma vez demonstrando que o domingo vem do primeiro século. Foi guardado em Roma e Alexandria e em toda parte, com provas históricas já no século segundo.

Qual é o “dia do Senhor”?: Clemente de Alexandria chama o domingo de dia do Senhor. Ele o fez no final do segundo século. Mas isso não indica nem prova que tenha sido o surgimento dessa expressão relativa ao primeiro dia da semana.

Aliás, o próprio contexto em que São Clemente usa para expressar o conceito de dia do Senhor indica que ele está mostrando que o domingo foi profeticamente mencionado mesmo no paganismo, o que mostra que a teologia do domingo era apostólica.

Quanto à frase de Santo Ireneu, interpretada como indicando que Pentecostes e dia do Senhor seriam Pentecostes e Páscoa, eventos anuais, já foi falado algo a respeito acima.

A citação Didaquê 14,1 seria ambígua. Mas é indicativa de que se trata do domingo, dia de reunião. O contexto histórico aponta para isso. Assim, é algo a mais em favor do domingo.

Não se pode afirmar que o dia do Senhor é a páscoa. O batismo não era apenas realizado na páscoa.

Santo Inácio faz a distinção entre sabatizar e viver conforme o Senhor. A tradução comum: observância do dia do Senhor é mais convincente. O autor afirma que a tradução uma vida de acordo com a vida do Senhor é a melhor. (ver interpretação sobre o povo ser os profetas)

Quanto a sabatizar significar o legalismo, isso é correto. É o que explica o contexto de toda essa discussão, quando se encontra o sábado sendo contrastado com o domingo.

Um dia de jejum: As referências ao sábado e ao domingo aumentariam no quarto século e muitas dessas tinham implicação de controvérsia, afirma o autor. Mas as referências não mudam o que foi dito até aqui. O sábado é honrado juntamente com o domingo.

As Constituições Apostólicas, São Gregório de Nyssa e Amaséia são claros em dizer que ambos os dias são guardados pelos cristãos. Sendo assim, nesse tempo, de controvérsia, a doutrina do domingo está estabelecida e também há devoção para com o sábado.

Outros líderes são citados como anti-sabáticos: São João Crisóstomo, contemporâneo dos demais mencionados acima.

No entanto, a citação feita mostra o que já está explicado antes. O que São Crisóstomo afirma diz respeito a cristãos jejuando e guardando os sábados da mesma maneira que os judeus, o que já está no âmbito da doutrina judaizante. Esse modo não é o mesmo que é referido pelos outros autores, que certamente também eram não-judaizantes. Há aqui a mesma posição dos demais.

Tertuliano e Hipólito são citados como opondo-se ao jejum no sábado. On Fasting cap, 14. Contra Marcião IV, 12. E Santo Hipólito, no Comentário a Daniel 4, 20, alude ao jejum no sábado e no domingo que Cristo nunca indicou.

Ele fala de alguns se valem de visões e ensino dos demônios, e determinam jejum no sábado e no domingo, o que Cristo não determinou. Isso não é o mesmo que estar contra o jejum nesses dias, mas apenas refutar essa ideia de que o costume é dogmático. Havia liberdade para jejuar ou não, conforme ensina Santo Agostinho. A doutrina é a mesma.

Tertuliano afirma que não se deve galatizar, aludindo ao ensino do Novo Testamento na epístola aos Gálatas. Afirma ainda, que se há nova criação em Cristo as solenidades devem também ser novas. Essa princípio refuta a ideia de que os cristãos continuaram a praticar preceitos da lei.

A controvérsia do quarto e quinto século que teria sido intensificada não diz respeito a algo de grande importância, pois ainda que tradições locais divergiam entre si, a tradição apostólica testemunhada, como doutrina geral, era de que a doutrina sobre o jejum nesses dias não era algo imutável. O artigo ainda cita Santo Agostinho (430) refutando alguém que discordava de quem se recusava a jejuar no sábado.

Na Tradição Apostólica de Santo Hipólito de Roma é ensinado que, na páscoa, se jejue pelo menos no sábado.

O Pseudo-Inácio, na Epístola aos Filipenses, é contra jejum no sábado e domingo, exceto no sábado pascal.

Cassiano em 430 e Santo Agostinho falam do jejum em Roma. Santo Agostinho, em sua epístola 36, ensina que é livre ao cristão jejuar ou não no sábado, e afirma que em Roma é praticado o jejum no sábado, mas não no domingo. E cita o maniqueísmo, que prescrevia jejum no domingo, contradizendo a fé católica e as divinas Escrituras.

Na sua epístola 54, citando o costume da Igreja em Milão, ensina que o cristão católico é livre para jejuar ou não no sábado, seguindo o costume da igreja local onde estiver. Isso mostra uma situação bastante semelhante na observância do sábado e do domingo no quinto século. Não há uma divergência em termos acirrados, como se uma prática ou outra fosse herética. Pelo que se nota, a tradição apostólica ensina que há liberdade quando ao tema.

Leis Dominicais: aumento em referências sobre o sábado indicando uma espécie de luta. Isso teria ocorrido no quarto e quinto séculos. Constantino teria dado ao domingo “nova expressão”. Ele teria se tornado dia de descanso.

Mas como poderia isso ser novidade se os cristãos não eram predispostos a aceitar pacificamente mudanças as mais sutis que fosse, como já mencionado. Uma lei que introduzisse divergência com a doutrina seria denunciada prontamente. Também, Constantino não promulgaria Lei que estivesse contra a doutrina que havia adotado. Assim, a lei certamente não havia introduzido o descanso, mas é uma expressão de como era entendido o domingo cristão.

A lei citada manda os magistrados e o povo das cidades descansarem no domingo. O trabalho no campo era facultado. Parece que as leis seguiam motivos circunstanciais.

Reação às primeiras leis dominicais: Os cristãos teriam de descansar? Como explicação isenção do trabalho agrícola? Portanto, deve-se entender as circunstâncias.

A nota 38 é histórica, de Eusébio de Cesareia, é clara da transferência do sábado para o domingo. O mesmo diz Efraim no quarto século. A lei estatal não refletia o mandamento do sábado. Mas isso aparece nas obras cristãs.

O sábado perde importância: pela ênfase do sábado posta sobre o domingo. O autor menciona os que rebaixavam e os que honravam o sábado. Mas isso não foi provado.

Citado o fato do sábado permanecer ao lado do domingo ainda no quinto século, sugere que o domingo substituiu o sábado a partir do sexto. É apenas uma suposição que não tem fundamento, como temos tido a oportunidade de acompanhar. O domingo é guardado desde os dias de Cristo e, historicamente, pode ser comprovado já no século segundo de maneira evidente.

Afirma que o Concílio de Laodiceia em 364 d. C. ainda respeitava o sábado. Mas isso é inexato quanto ao que se pretende mostrar. De fato, todos os concílios da Igreja respeitam o sábado, por ser um mandamento do decálogo, já revelado no AT. Apenas ensina que o domingo é o dia de guarda. Quando o concílio proíbe judaizar, sabemos que se trata da questão da heresia judaizante. Não é nada contra o sábado em si. De fato, durante a quaresma a missa e a festa dos mártires podiam ser celebradas nos sábados e domingos. Em geral os sínodos testemunham a correta doutrina da Igreja.

Ainda, esse concílio é regional, refletindo algum problema não generalizado. Assim, não é de se pensar que a controvérsia estivesse em toda parte, e que sua natureza fosse grave.

Os antigos cristãos não trabalhavam no sábado, trabalhando no domingo? Não há como provar. O concílio não introduz novidade. Um dia deve ser para o repouso cristão. Esse dia é o domingo. Seis dias trabalham os cristãos (segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado) e descansam no domingo (o sétimo para repouso e adoração a Deus).

Proibindo o trabalho no domingo. O sínodo de Orleans em 538 proibiu o trabalho no campo. Isso poderia ser usado como contradizendo o que havia feito o concílio citado anteriormente, e a Lei do império, já que os que habitavam o campo podiam trabalhar. Portanto, deve-se entender as circunstâncias.

O sábado nunca foi esquecido. E com isso acredita ter provado como o domingo substituiu o sábado. Pelo que vimos, o caminho percorrido e com os princípios corretos como guia, não houve prova alguma de que o sábado foi o dia originalmente guardado pela Igreja.

Para concluir esse estudo do artigo, tenhamos em mente que o preceito do sábado no decálogo é moral. O sábado é moral e cerimonial, “em parte moral e em parte cerimonial”, como ensina Santo Tomás.

Quando manda guardar um tempo para as coisas divinas, é um preceito moral. Quando ensina que o tempo do sábado é sinal da criação do mundo, é um preceito cerimonial. Também é uma lei cerimonial no seu sentido alegórico como representativo do repouso de Cristo no túmulo no sétimo dia. Dessa forma, Cristo cumpriu o sábado, e dessa forma o sábado foi sombra do que devia vir.

Como não há mandamento do sábado do sétimo dia no Novo Testamento, devemos entender a doutrina, os princípios que advém dela, e compreender que o novo dia de preceito é o primeiro dia da semana, o dia do Senhor.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Estudando a razão 15 em defesa do sábado: artigo de site adventista do sétimo dia

Razão 15: Colossenses 2:16-17 também é um texto mal interpretado

A explicação sobre o foco nos julgamentos e não nas coisas julgadas é interessante, mas não explica o texto com base no contexto geral do que é discutido por São Paulo, ainda que uma tentativa de contextualização tenha sido feita. E também é negada pelo sentido de sombra que é dado. A palavra sombra é usada na expressão “sombra da morte” e também no seu sentido literal, quando fala da sombra de Pedro. Então, aparece em Colossenses e em Hebreus. O texto de Hebreus é bastante evidente: “A Lei, por ser apenas a sombra dos bens futuros, não sua expressão real...” (ton mellonton agathon). E o verso 10 fala da oblação do corpo de Jesus, a realidade à qual se refere Colossenses. Isso é exegese.

Então, a lei é sombra dos bens futuros. Essa expressão está no contexto de abolição da Lei (Hb 10, 9). Por esse mesmo raciocínio, por essa exegese, temos que as sombras do que devia vir (ton mellonton) em Colossenses são os bens futuros citados em Hebreus.

Em geral, os cristãos não observavam a Lei, e, portanto, não deviam ser julgados por isso. Eles não observavam leis alimentares, nem festas, luas novas e sábados. É bastante simples: ninguém vos julgue por causa de sábados, como se vós fosseis obrigados a observar esse dia. É essa a interpretação legítima. E é bem fácil de entender.

A outra, que o adventismo propõe, mais complicada, seria que ninguém vos julgue pelas suas práticas, por guardardes o sábado, porque isso é apenas sombra. Não faz sentido. De fato, em si mesma faz menor sentido em comparação com a interpretação anterior. E isso indica erro. Ela contradiz o contexto geral e não se adequa ao sentido de sombra.

O argumento da sombra, que não é invalidada pelo sacrifício de Cristo, está correto. A tentativa de invalidá-lo mostra isso. O sábado não surgiu para ser sombra de Cristo, e o sacrifício de Cristo não é mostrado afetando o sábado, mas Colossenses afirma que ele foi sombra de Cristo, e isso é o que está revelado. Portanto, mesmo que o sábado originalmente serviu para lembrar da criação, ele também está ligado ao repouso espiritual em Cristo. E conforme essa passagem, ele não está mais em vigor.

A segunda tentativa também não faz sentido. O casamento é sombra do relacionamento com Deus? É fato que o casamento é comparado à relação espiritual de Deus com Seu Povo. Mas a palavra sombra não quer dizer isso, mas refere ao que some a luz lhe é diretamente dirigida. Assim, o sábado desaparece no tempo após a ressurreição de Cristo.

Os sacramentos da Nova Lei, como matrimônio, batismo e ceia não são sombras nesse sentido usado, pois elas somente não terão mais necessidade no Reino Celestial. O texto de Colossenses e Hebreus utiliza o termo sombras para falar do que foi abolido.

Então, não há como comidas e bebidas, as festas, a lua nova e os sábados continuarem válidos nesse contexto de Colossenses 2, 16-17. Cristo é supremo em relação aos rituais, mas rituais os citados por São Paulo já passaram. O matrimônio, o batismo e a ceia são os novos rituais que substituem os elementos antigos na nova aliança.

Os falsos professores de Colossos advogavam o sábado, mas um sábado imbuído de tradições humanas, baseado em um sistema repleto de distorções e rudimentos humanos.

Essa é a suposição usada para o argumento, mas não há nada que prove que existisse outro tipo de guarda do sábado sendo defendida por professores hereges. São Paulo teria citado claramente isso. De fato, quando ensinaram que a ressurreição é apenas espiritual, que já acontecera, São Paulo a refutou claramente. Assim, ele apenas afirma que os sábados, que não mais eram guardados, não deviam ser usados para julgar os cristãos.

O foco de São Paulo é entendido à luz do contexto geral, de Gálatas, Romanos e Hebreus, quando ele se opôs às praticas em si. E o argumento adventista se mostra falho também nas expressões, quando se tenta explicar que São Paulo critica “tradições humanas” e é necessário afirmar que “ainda que fossem em parte baseadas nas Escrituras”, tentativa de conciliar o inconciliável, já que de fato o apostolo não toleraria tradições humanas.

(15 Razões para guardar o Sábado – Parte 2 – Reação Adventista (wordpress.com))

Gledson Meireles.

domingo, 28 de abril de 2024

Sábado: um artigo adventista

Razão 10: As raízes judaicas Igreja Primitiva

Os cristãos iam às sinagogas para pregarem o evangelho. Não consta que continuassem a frequentar as reuniões das sinagogas como parte da doutrina cristã, nem que ensinassem essa prática aos novos convertidos.

Portanto, supor que ir às sinagogas significava que suas reuniões religiosas eram nas sinagogas, é ensinar algo que não se encontra em nenhum texto bíblico. Sabemos que as reuniões propriamente cristãs eram realizadas nas casas, e especialmente no primeiro dia da semana (At 20, 7).

O autor admite que isso não é prova cabal de que os cristãos guardavam o sábado. Também reconhece que “isso poderia” ser estratégia para ensinar o evangelho. Mas é preciso um pouco mais. Os textos não apenas afirmam que eles iam às sinagogas, mas mostram que o intuito era a pregação do nome de Jesus. Portanto, isso é algo claro.

Quanto ao fato da cisão entre judaísmo e cristianismo ser tardia, é o que mostra a história. De fato, a Lei santa, justa e boa em todas as suas partes foi abolida em seu aspecto cerimonial, restando o aspecto eterno e moral, e os cristãos não a tinham como algo negativo. Assim, é natural que continuassem com muitos dos seus preceitos sendo guardados, pelos judeus cristãos, em maioria. Mas sua observância obrigatória era tida como jugo de escravidão.

Então, os cristãos judeus guardavam o sábado, iam à sinagoga, liam a Escritura e cumpriam os mandamentos, mas não ensinavam isso como sendo doutrina cristã. Estavam livres da Lei. É clara a posição do apóstolo dos gentios, que chegou a ser acusado de ser contra a Lei (cf. Atos 21,21), por pregar a liberdade dos cristãos em relação à antiga aliança. No entanto, ele mesmo se reconhecia judeu, fariseu, fiel à Lei, cumprindo alguns preceitos.

Mas, quanto ao aspecto puramente cristão, é notável que eles pregavam o nome de Jesus, batizavam, celebravam a ceia do Senhor, se reuniam no primeiro dia da semana, cuidavam dos pobres, oravam juntos, perseveravam na doutrina dos apóstolos, que já diferia do ensino do AT nesses pontos citados e noutros mais. Desse modo, todos sabiam que os cristãos possuíam um credo diferente.

Quanto ao relato do evangelho de Lucas, que diz que as mulheres descansaram segundo o mandamento, isso acontece porque naquela época todos conheciam o mandamento do sábado, como guardado pelos judeus. Assim, não era necessário explicar do que se tratava. Ainda, os cristãos não mais observavam o sábado, como obrigatório, mas sabiam que os judeus sim.

Em Atos 9, 2, os cristão frequentavam as sinagogas mas seguiam a doutrina de Cristo. Em Atos 13, 5, está escrito que pregavam a Palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Talvez ao dizer “dos judeus” seria uma forma de expressar melhor que os cristãos iam aos lugares de cultos judaicos, não cristãos, distinguido essa ação como própria para pregarem o evangelho.

Em Atos 13, 14 São Paulo e seus companheiros vão à sinagoga para anunciar o nome de Jesus. Isso fica claro, pois após a pregação, a conversão de muitos, e da inveja dos judeus locais, eles foram pregar aos pagãos: “Era a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a Palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os pagãos. (Atos 13, 46). Fica evidente que não iam mais às sinagogas aos sábados para anunciar ali o evangelho, pois estariam voltados à evangelização dos gentios. Quando estavam em outra localidade, iniciavam novamente a pregação na sinagoga.

Em Atos 14, 1 “segundo seu costume”, que pelo contexto pode ser lido do costume de ir às sinagogas anunciar a Palavra de Deus. Isso é o mesmo que está em Atos 17, 2: Paulo dirigiu-se a eles, segundo o seu costume, por três sábados disputou com eles.  O que é corroborado no verso 17: Disputava na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se encontravam. Aqui é mostrado que a pregação era diária. Aos sábados iam às sinagogas para ensinar aos judeus, e nos outros dias pregavam na praça.

Agora, comparemos com essas outras passagens:

Atos 2, 42.46: Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações. Havia reuniões exclusivas para os cristãos. E também, frequentavam todos os dias o templo. E nas casas: partiam o pão.

Atos 20, 7: No primeiro dia da semana, estando nós reunidos. Ou seja, no dia da reunião que comumente se fazia pelos cristãos no domingo. Então, São Lucas relata o ocorrido ali.

Atos 16, 2: No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que tiver podido poupar... Isso indica o que já foi provado nos versos anteriores, que nesse dia havia reunião cristã, e por isso cada um deveria separar o que havia juntado.

Assim, enquanto nos versos que mostram os cristãos indo às sinagogas é revelado que o seu objetivo era a pregação aos judeus, nesses versos sobre o domingo fica evidente que a reunião era cristã.

Os apóstolos pregavam todos os dias, nas praças, e aos sábados nas sinagogas. Iam também diariamente ao templo. E também, diariamente partiam o pão nas casas, que era a eucaristia. E suas “reuniões em comum” eram especialmente realizadas aos domingos. As idas ao templo e às sinagogas eram continuidade de seu modo de praticar a religião como judeus que eram.

Em Atos 25, 7, ao dizer “contra a lei dos judeus”, também serve para refletir que São Paulo não diz “nossa lei”, pois em outro lugar fala da Lei de Cristo que é a lei dos cristãos.

São Paulo não estava transgredindo nada do judaísmo, mas ao mesmo tempo, deve-se lembrar em seguida, ele não ensinava os preceitos da lei dos judeus aos cristãos de origem gentia.

São Pedro continuava a guardar a dieta alimentar judaica até Atos 10. De fato, ao comer com os gentios, que nunca haviam guardado as leis dos judeus, ele poderia encontrar alimentos que não tinha o hábito de comer, e a revelação que teve na visão mostra que Deus purificou os alimentos.

São Tiago era líder em Jerusalém, mas no Concílio a palavra decisiva foi a de São Pedro. As contribuições de São Tiago são feitas fundamentadas nas palavras do apóstolo São Pedro.

É verdade que o afastamento entre judaísmo e cristianismo foi gradual. E os textos citados acima mostram que isso ocorre no período apostólico, o que explica também a posição cada vez mais clara que é encontrada nos padres da Igreja.

Por isso, as sinagogas, com visto acima, não eram o local de adoração dos cristãos, mas locais onde iam, como judeus que eram, para pregar o evangelho. Os novos convertidos certamente não eram ensinados a adorar nas sinagogas, especialmente após a visão dada a São Pedro e após o Concílio de Jerusalém. A pregação aos pagãos era feita nas praças, e em outros lugares.

Quanto ao nome Igreja Católica Apostólica Judaica, referindo-se ao período em estudo, o conceito é bastante exato. De fato, a mesma Igreja Católica é “romana” apenas no sentido histórico. Naqueles tempos, a Igreja Católica tinha sede em Jerusalém. Sendo essa transferida a Roma. E a doutrina da Igreja sendo guardada em Roma, essa característica ficou consagrada na tradição. O cânon bíblico correto foi preservado em Roma, por exemplo. Os cristãos não teriam mais tarde os 27 livros do Novo Testamento, nem os conheceriam, se isso não fosse definido pela Igreja nos seus concílios dos primeiros séculos, incluindo a posição oficial de Roma.

O que a circuncisão causou como controvérsia supõe algo relativo ao sábado e outras leis cerimoniais, como já explicado. É certo também que os cristãos deixaram as leis cerimoniais sobre a alimentação e a circuncisão, o que foi sendo feito aos poucos, já que não havia proibição de continuar a guardar essas leis, mas apenas o entendimento de que já não eram mais obrigatórias.

Para entender bem isso, basta ler a Bíblia com maior atenção. Em Atos 15, 1 está escrito que: Alguns homens, descendo da Judeia, puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: “Se não vos circuncidais, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos”.

Essa passagem fica mais clara no verso 5: “Mas levantaram-se alguns que antes de ter abraçado a fé eram da seita dos fariseus, dizendo que era necessário circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés”.

Ser circuncidado e observar a Lei de Moisés, essa foi a questão da controvérsia. Se isso era obrigatório, significava que não se submetendo ao rito e não observando a Lei não poderiam ser salvos. O Concílio decidiu que não haviam de exigir a circuncisão e a observância da Lei aos convertidos de origem pagã, mas apenas quatro regras básicas. Então é claro que não ensinavam o sábado aos novos convertidos, assim como não ensinavam as leis alimentares, nem sobre as festas, as luas novas, os votos.

Dessa forma, os que eram circuncidados a partir de então deveriam saber que o fizeram por outros motivos, e não porque isso era necessário. Também se cumprissem algo da Lei estavam fazendo livremente, por motivos circunstanciais. Do contrário, como está em Gálatas 5, 2, a circuncisão significa a obrigação de guardar a Lei e estariam separados de Cristo: se vos circuncidardes, de nada vos servirá Cristo.

E quanto à circuncisão e observância da Lei: E atesto novamente: a todo homem que se circuncidar: ele está obrigado a observar toda a Lei. Isso demonstra que São Paulo não observava a Lei, não a ensinava aos conversos, excetuando no sentido já explicado acima. Não se trata apenas de ser livre para circuncidar ou não, mas de entender que a Lei não era mais obrigatória. Também, de lembrar que o concílio de Jerusalém apenas exigiu quatro regras nesse mesmo contexto de circuncisão e Lei, de modo que todos deviam segui-las. Os judeus devotos e esclarecidos podiam guardar muitos preceitos da Lei, mas não impô-los a ninguém. E a Igreja oficialmente, que crescia cada vez mais, não fazia qualquer pregação sobre a obrigatoriedade de Lei, ainda que em fins não salvíficos, mas pregava o evangelho, a Lei de Cristo, a lei da liberdade, que não mais continha os preceitos antigos.

(15 Razões para guardar o Sábado – Parte 2 – Reação Adventista (wordpress.com))

Gledson Meireles.

domingo, 31 de março de 2024

Estudo do Apocalipse 2, 1-17

Feliz Páscoa a todos.

 

Apocalipse 2

Jesus tem os sete candelabros em Sua mão direita. Isso mostra que todas as igrejas citadas são Suas, estão sob Sua autoridade. De fato, o número sete é simbólico, e indica a totalidade da Igreja. Mesmo que no historicismo, onde cada Igreja representaria uma determinada fase história da Igreja, cada uma representa a Igreja inteira.

Na interpretação adventista, a Igreja de Éfeso simbolizaria a Igreja do período até o ano 100 ou até a morte do último apóstolo.

É preciso notar que devemos acompanhar a Igreja em todas as suas fases, olhando para o lugar correto, e não confundindo elementos. Então, a Igreja de Éfeso, na era apostólica, simbolizaria a Igreja inteira desse período, e não uma só comunidade literal e histórica.

Desse modo, a Igreja desejável, pois ainda está no período onde os apóstolos vivem. A revelação está acontecendo, a Bíblia está sendo escrita para o fechamento do Novo Testamento, e os apóstolos e bispos por eles ordenados estão pregando o evangelho em toda parte. São Pedro é o primeiro papa. Após 64 d. C. sucede o papa Lino. Até o fim do século, governa a Igreja o papa Evaristo (97 d. C. a 105 d. C.) Temos assim, no período apostólico, cinco papas. Todos foram mártires da fé.

A doutrina pura da Igreja era espalhada em todos os lugares. E Cristo está entre os candelabros que são as sete Igrejas. Então, Cristo está na Igreja de Éfeso, está em toda a sua fase, guiando-a pelo Espírito Santo.

Naqueles tempos existiam heresias, como a dos nicolaítas, que certamente eram cristãos que pregavam um relaxamento moral, contra a doutrina apostólica, contra a doutrina oficial da Igreja, mas não havia ainda divisão séria entre os cristãos. Assim, devemos olhar para a Igreja de Éfeso como a representante dos verdadeiros cristãos, e os nicolaítas como cristãos hereges.

Quando se diz que a Igreja no período apostólico testava os falsos apóstolos, investigava seu caráter e descobria quem eram os mentirosos, isso indica a autoridade dos apóstolos, bispos e presbíteros daqueles tempos.

De fato, quando surgiu a questão sobre a circuncisão, por volta do ano 49 d. C., como deveria ser considerada pela Igreja, foi necessário um Concílio, onde participaram os apóstolos e os anciãos, e que teve autoridade sobre todos os cristãos da época, e a mensagem foi levada a outros lugares através da carta conciliar.

Outro exemplo, desse período histórico, na igreja de Corinto surgiu um cisma, e o papa Clemente (88 d. C. a 97 d. C.), que era o bispo de Roma, escreve a essa comunidade, entre os anos 93 e 97 d. C. Foi um ato do magistério papal em fins do século primeiro.

É o modo da Igreja Católica resolver questões de fé, pelo seu magistério autêntico, estabelecido por Jesus Cristo.

Assim, o anjo da Igreja é o bispo local. Contudo, considerando a interpretação historicista, onde Éfeso representa toda a Igreja entre a ressurreição de Jesus até o ano 100, temos que o anjo simboliza todas as autoridades desse tempo, sendo o ministério do período apostólico.

A Igreja de Esmirna é a Igreja Católica da fase da perseguição. Durante esse período, considerado pelo adventismo como indo do ano 100 até 323 d. C., a Igreja passou por diversas perseguições no Império Romano, onde morreram milhares. Tertuliano chegou a dizer que o sangue dos cristãos era como uma semente, pois a Igreja crescia cada vez mais. Enfrentadas foram várias heresias, muitas controvérsias, mas o magistério manteve o depósito da fé intacto.

O texto sagrado fala dos falsos judeus. Isso indica que os verdadeiros judeus são aqueles da promessa, da circuncisão do coração. De fato, essa interpretação está correta. Como disse o papa Pio XI: somos espiritualmente semitas. Aqueles que se declaram judeus e não são, na Igreja de Esmirna, considerando sua fase local histórica ou como período de séculos (100 a 323 d. C.), simbolizam os hereges daqueles tempos. Outra vez, a Igreja de Esmira é a Igreja Católica desse período, e os falsos judeus são as heresias.

Fiel até à morte. E há uma promessa aos cristãos e Esmirna: Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Essa coroa pode ser da, de fato, no estado intermediário, já que os anciãos, que são os santos do céu, estão com coroas na cabeça. Essa leitura é correta. Mas, há a coroa da justiça (2 Tm 4, 8) que será dada na ressureição, como simbolizado o galardão.

Tribulação de dez dias. Interpretação interessante, considerando a perseguição de Diocleciano, entre 302 a 312 d. C., perfazendo dez anos.

A recompensa do vencedor. E um fato que os cristãos entendiam as promessas de Cristo já em cumprimento na morte. Os mártires já estavam no céu.

A IASD acredita que somente na ressureição essa promessa seria cumprida. Mas não. Os santos já estão na glória, já participam do Reino dos Céus, e já está participando do julgamento do mundo (cf. 1 Cor 6, 2).

Esmirna – mirra, igreja do tempo da perseguição. Essa interpretação é curiosa e é bastante coerente com a doutrina católica, se se considerar os pontos observados segundo a são doutrina.

A Igreja Pérgamo simbolizaria o período de 323 d. C. até 538 d. C. Aqui teria havido influências maléficas, onde “erros e males começaram se infiltrar na igreja”.

O leitor que acompanha desde o início está observando que se trata da mesma Igreja Católica, desde os dias de Jesus Cristo até o ano 100 d. C., depois até 323 d. C., e agora até 538 d. C. Teria ela mudado de figura e agora não era mais Igreja de Cristo?

Pérgamo significando altura, elevação. O texto adventista afirma que “os verdadeiros servos de Deus” precisaram lutar contra os erros desse tempo. E justamente isso foi o que a Igreja Católica fez.

Assim, é preciso notar que esses servos eram a própria Igreja Católica desse período, com sua hierarquia, seus papas, bispos, presbíteros, agindo através de seus sínodos, concílios, doutrinas, liturgia, etc. Aliás, já em 325 d. C. dois anos depois, acontece o Concílio de Niceia, com a Igreja já em liberdade no Império, podendo realizado o concílio convocado pelo Imperador, autenticado pelo papa Silvestre. Esse concílio defendeu a doutrina da divindade de Jesus contra as heresias.

Nesse período foram realizados os Concílios de Niceia I (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451).

Se pelos critérios adventistas, a Igreja nesse período caiu em heresias, e “cristãos” tiveram que “lutar contra um espírito de práticas, orgulho e popularidade mundanos entre os professos seguidores de Cristo e contra a operação virulenta do mistério da iniquidade, que resultou, por fim, no desenvolvimento do homem da iniquidade papal.”, onde estavam esses “servos de Deus”? Eles já haviam se separado da Igreja Católica, que agora não era mais ilegal no Império, e que havia sido libertada pelo Edito de Milão em 313 d. C.?

Ou eles ainda estavam dentro dela, e participaram dos concílios acima mencionados, que defenderam a fé cristã a todo custo?

Se eles estavam fora da Igreja, certamente não poderiam ser os verdadeiros servos de Cristo, pois não estariam lutando pela verdade nos concílios, contra o arianismo, nestorianismo, etc. Se eles eram os próprios arianos, etc., então está respondido que não são a Igreja fundada por Jesus.

A outra possibilidade é que eles estariam dentro da Igreja ainda. Então, estariam lutando pela conservação da fé cristã original contra as heresias citadas, e estavam fazendo isso em união com o papado, pois a forma ordinária da Igreja para resolver essas questões é o Concílio Ecumênico, que só é validado pelo papa, em comunhão com os bispos. Sendo assim, esses servos de Deus eram católicos fieis, e disso não temos dúvidas. Portanto, ou o leitor é convencido de que a Igreja Católica permanece fiel em todos os períodos, como nesse em consideração, e que a interpretação adventista está equivocada, por não adequar-se ao texto sagrado do Apocalipse 2, 12-17, e contam com essas incoerências doutrinais e históricas.

Se esses cristãos reconhecidamente verdadeiros eram a Igreja Católica, então sabemos que criam em Cristo, na sua divindade, na trindade, na maternidade divina, e cultuavam os mártires, os santos, a Maria, e celebravam a missa, e rezavam pelas almas, etc. Todos esses participam ou estavam de acordo com as decisões conciliares. Se os cristãos aludidos como “servos de Deus” que lutaram contra as iniquidades, estavam fora da comunhão católica, então estavam entre os arianos, nestorianos, simbolizados pelos balaítas, nicolaítas, e etc. Então não participaram de nenhuma das grandes defesas das doutrinas bíblicas dos concílios, e não podem ser os fieis servos de Deus.

Onde está o trono de Satanás. Segundo o adventismo a Igreja foi corrompida nesse período. Isso já foi provado falso. Aqui teria sido lançado os fundamentos do papado. Mas, como visto antes, desde os tempos de Cristo há papas, que são os bispos de Roma, que exercem poder espiritual na Igreja, e são simbolizados pelo anjo de cada Igreja.

Falando à Igreja de Pérgamos, então, que é interpretada como sendo a igreja do período de 323 a 538, Jesus afirma que ela conserva o Seu Nome de não negou a fé. Portanto, não foi corrompida.

Dessa forma, Antipas, que é uma fiel testemunha morta no primeiro século, certamente, e que simboliza os que foram mortos nesse período, para fins de melhor entendimento da interpretação historicista, essa testemunha não pode ser um “anti-papa”, como quer fazer entender a IASD com essa interpretação. E os motivos serão dados a seguir.

De fato, assim sendo, teria havido uma saída da Igreja Católica de muitos católicos, após o ano 323, e se tornaram antipapas, e foram perseguidos pela Igreja. Os que desertaram, ou seja, os que apostataram da fé oficial, seriam esses os “verdadeiros” cristãos, segundo esse entendimento. Porém, isso não faz sentido.

Como visto, pois o Senhor Jesus está na Igreja (entre os candelabros), não permite que ela caia (conforme promessa de estar com a Igreja sempre, cf. Mt 28, 19-20), e o texto afirma que Esmirna finalmente “conservas o meu nome e não negaste a minha fé”, e que Antipas foi morto entre vós, ou seja, em Pérgamo, e em comunhão com a Igreja.

Voltando ao texto do Apocalipse, vemos que dentro da Igreja havia os que sustentavam a doutrina de Balaão, e outros adeptos da doutrina dos nicolaítas. Esses são os que simbolizam a heresia desse período. Portanto, a Igreja de Pérgamo é símbolo da Igreja verdadeira, e os que sustentam a doutrina de Balaão e os que sustentam a doutrina dos nicolaítas são os hereges.

Antipas é servo fiel, unido a Pérgamo, portanto, fiel católico.

Dessa forma, não cabe no texto a interpretação de que a Igreja tenha sido corrompida. O cenário não é: a igreja de antes (desde Cristo a 323) tornou-se corrompida por erros, e passou a perseguir os sinceros servos de Deus que dela saíram, ou que ensinavam contra sua doutrina oficial. Essa interpretação encontra refutação teológica e histórica.

Pois, nesse texto, os que seguem a doutrina de Balaão e a doutrina dos Nicolaítas são os que estão contra a doutrina pregada na Igreja de Pérgamo. Por isso, é fácil concluir que a iniquidade não está na Igreja que adentra esse período, mas em grupos que estão dentro dela e que são denunciados como “os que sustentam a doutrina de Balaão” e os que “sustentam a doutrina dos nicolaítas”. Jesus não destitui a Igreja, mas a exorta a que lute contra essas heresias citadas.

Essas doutrinas certamente eram idolatria espiritual, uma conexão ilícita entre a aqueles cristãos (e não a Igreja em geral) e o mundo. Assim, temos a correção: a Igreja de Pérgamo (Católica), de 323 a 538, lutou contra heresias (de Balaão e dos Nicolaítas). Ela é mostrada como fiel, e é exortada por Jesus.

Em nenhum momento é dito que ela se juntou ao poder civil, como algo pecaminoso, coisa que teria dado origem ao papado. Primeiro, porque a união com o poder civil não é mau por natureza, mas pode trazer benefícios e malefícios. Segundo, o papado é de origem divina, religiosa, e não de origem política. Essa interpretação não coube no texto da carta à Igreja de Pérgamo.

Voltando a olhar a partir da correta perspectiva, quando o autor afirma, da Igreja “Disciplinando ou excluindo aqueles que defendem essas doutrinas perni­ciosas.”, deve-se entender da autoridade legítima da mesma Igreja oficial, que vem sendo considerada, desde os dias de Jesus até o ano 100, até 323, até 538. Não houve mudança de Igreja, não houve destituição, não houve tirada de candelabro.

Dessa forma, se Antipas simbolizasse grupos que se voltaram contra a Igreja oficial, deveria ser mostrado em ação contra Pérgamo, e não como membro fiel.

Ainda. Os cristãos que teriam se separado da Igreja de Pérgamo deveriam disciplinar ou excluir os infieis dos quais eles haviam se separado. Algo estranho.

Antipas é uma testemunha que foi martirizada em Esmirna, membro daquela Igreja fiel. Pérgamo e Antipas estão de um lado, os de Balaão e dos nicolaítas de outro. Portanto, o magistério católico autêntico está em Pérgamo.

Gledson Meireles.

sábado, 30 de março de 2024

Escatologia - Parte 3

Texto ainda em revisão.

Escatologia – Parte 3

Aqui o leitor poderá entender um pouco da doutrina adventista e encontrar elementos da doutrina católica para desfazer mal entendidos nesse âmbito.

Estudo da série Comparando Escatologias. Os problemas começam na sucessão do reino grego.”  Depois das quatro divisões do Império Grego surgirá o Chifre Pequeno, que destrói o povo santo e se levanta contra o Príncipe dos Príncipes.

Em Dn 8 há unanimidade em considerar que historicamente o chifre pequeno é Antíoco Epífanes e teologicamente ele é um símbolo para o Anticristo. Aqui o adventismo encontra dificuldade. A primeira é que parece não poder concordar com esse consenso por ter o historicismo como método único a ser adotado.

É certo que unanimidade não é sinônimo de verdade, mas nesse caso é preciso ir além e ver se essa unanimidade deve ser descartada diante da interpretação adventista. Caso não, o adventismo encontra uma refutação geral em sua proposta sobre essa passagem de Dn 8.

Segundo, porque não pode estabelecer que a Igreja Católica é mostrada negativamente nas profecias. De fato, segundo o adventismo esse Chifre seria o papado. Mas isso não pode ser, pois em Dn o povo de Deus, a Igreja Católica, é o Reino de Dn 2, 44.

Sobre o texto hebraico, é um tanto questionável. Os intérpretes e tradutores traduzem “de um dos chifres” porque o contexto também indica essa tradução. Ainda, a frase “de um deles” comprova essa leitura. Ao dizer que “deles” se refere aos “ventos”, trata-se de algo menos provável. Dessa forma, não há muita força de argumento contra um ponto em que há unanimidade entre os estudiosos de várias confissões cristãs. Mas, permanece o fato de ser uma leitura interessante, e pode até mesmo ser estabelecida, caso seja conforme a doutrina bíblica.

Em Dn 7, 2 os quatro ventos do céu agitavam o grande mar. Mas não se diz que os quatro ventos estão ligados ao quarto animal.

A interpretação adventista afirma que a primeira parte da visão traz o carneiro, o bode e o chifre pequeno e a segunda parte o carneiro é a Medo-Pérsia e o bode é a Grécia, dando espaço para pensar que o chifre pequeno é o outro reino após a Grécia. O rei não surgiria das quatro divisões, mas no fim das divisões. Isso não é forçar o texto para adequar-se à nova interpretação? É curiosa a forma de interpretar, mas deve-se saber se é intenção no texto bíblico de afirmar isso: que o chifre surge após as divisões do Império Grego mas não delas. É algo não claro no texto.

As 2.300 tardes e manhãs é algo muito importante na interpretação adventista. E como entender na perspectiva católica. A Igreja parece favorecer a interpretação simbólica desse período, e não dias ou anos literais.

Quando se diz que o chifre são reinos e não indivíduos, isso não é tão exato assim, já que, como vimos, desde o primeiro artigo dessa série de escatologia, o rei e o reino estão entrelaçados em significado, de modo que o chifre como poder pode se referir ao reino e à pessoa do rei.

Não parece que as observações do grande Isaac Newton tenham força para dirimir a questão. Antíoco IV foi de fato grande em algum sentido. Também agiu não por poder próprio, mas do reino que pertencia. Quanto a não ter “derrubado” o Santuário, talvez possa ser que isso é considerado de forma simbólica. Se Newton errou, mesmo do ponto de vista adventista, pode ter se equivocado nesses itens elencados acima.

Pois bem. E se o Chifre Pequeno é Roma? Isso não prova que seja a Igreja Católica, pois Roma e Igreja Católica são duas coisas diferentes. De fato, Roma tentou destruir a Igreja Católica por três séculos. Assim, Roma é o Império Romano. Esse poder de fato oprimiu Israel e afrontou o Príncipe dos Príncipes (Jesus).

E a doutrina adventista leva a dizer o seguinte: “ Isso faz sentido histórico. Uma vez que a Igreja se romaniza e Roma se catequiza, é possível dizer que Roma pagã e Roma católica são a mesma besta. ” Aqui certamente está havendo confusão. Roma foi catequizada, evangelizada, e recebeu grande influência do evangelho de Jesus Cristo. Mas seu Império político continuou em exercício, aliás, sendo muitas vezes, desde os dias de Nero, no século I a Domiciano, no século IV, hostil à Igreja Católica, que já contava com milhares e milhares de membros no século.

E quanto à interpretação de que o papado surge de Roma e é parte da “besta romana”. Não é verdade, não é histórico. O papado surge a partir do Evangelho de Jesus Cristo. A Igreja nasce em Jerusalém, que estava sob o governo Romano. Então, Roma é evangelizada e a Igreja faz ali sua sede, pois Cristo desejou que o evangelho fosse pregado em Jerusalém e em Roma (cf. Atos 23, 11). A Igreja não recebeu poder do Império Romano, nem direta nem indiretamente.

De fato, a Igreja Católica, com sede em Roma, Ocidente, ficou mais distante das influências do poder dos imperadores romanos do que sua parte Oriental, em Bizâncio (Constantinopla), que teve força política até 1453 d. C.

Entretanto, o poder romano, que caiu em 476 d. C., não foi passado para a Igreja Católica. O poder do evangelho não é deste mundo. Então, não é certo em falar de Roma pagã e Roma papal no sentido de que a Besta continua seu poder.

A Roma papal evangelizou a Roma pagã, trazendo o testemunho de Cristo à capital do Império. E após séculos de perseguição à Igreja, essa triunfou contra os poderes da Besta, tendo em 313 d. C. conseguido liberdade de culto e em 380 d. C. alcançando o status de Religião Oficial do Império Romano, aquela mesma Igreja fundada por Cristo  antes perseguida por Roma. E após isso, ainda, a Igreja foi por alguns períodos atacada pelas forças imperiais. Basta ver como sofreu sob Juliano Apóstata.

E a conclusão, portanto está equivocada: “Em suma, o monstro que perseguiu judeus, judaísmo, cristãos e cristianismo, torna-se católico e, ao se desfazer como império, permanece como igreja.” A questão é complicada, mas para melhor entendê-la, basta olhar que a mesma Igreja que estava sendo perseguida foi depois libertada das perseguições e tornada, mais tarde, religião oficial. Isso mostra que não se pode afirmar que o mostro que perseguiu cristãos tornou-se igreja. De forma alguma.

E quanto às perseguições a “judeus, judaísmo e cristãos”, citadas no texto? É apenas um artifício histórico usado nessa confusão mencionada acima. De fato, a Igreja Católica foi ganhando força política e grande notoriedade temporal, de forma a estar ligada ao estado. Assim, a doutrina oficial era defendida conforme as estruturas da época. Não se trata de fato de perseguições, como aquelas feitas pelo Império Romano contra a Igreja Católica.

E quanto a durar até o tempo do fim? Essa é outra questão que está envolvida na confusão imensa que foi citada antes. Realmente, sendo a ICAR a Igreja fundada por Jesus, ela irá dura até o tempo do fim (cf. Mt 28, 19, Dn 2, 44). Portanto, é a Igreja Católica que será perseguida pelo Anticristo.

Na interpretação católica temos que das perseguições de Antíoco Epifânio até sua morte foram 6 anos e 4 meses. Se se conta anos de 354 dias são 2244 tardes e manhãs e se 365 dias serão 2310 tardes e manhãs. De qualquer forma, uma cifra bastante próxima. Sendo Antíoco símbolo do Anticristo esse tempo também é simbólico.

O rei de feroz catadura é o chifre pequeno. Os 2300 anos terminam depois do fim dos 1260 anos: “...então o julgamento feito ao quarto animal após os 1260 anos (Dn 7:9-14 e 26-27) é a purificação do santuário (Dn 8:9-14 e 23-26)”.

Mas, como a Igreja Católica entende, comumente, que os 1260 dias são simbólicos para o tempo de perseguição da Igreja, o seu término de fato será imediatamente antes do julgamento (cf. Dn 7, 26). Aí se conclui toda a profecia. Até então, a Igreja Católica é o Reino de Cristo que já vive esse reinado espiritual no mundo, e espera sua consumação com a vinda de Jesus.

Os cálculos engenhosos da profecia, feitos para IASD, são muito curiosos. Contam 457 c. C. como início para as 2300 tardes e manhãs, simbolizando anos. Isso levaria a 1844, ano em que a purificação do santuário teria ocorrido.

A falha dessa doutrina é considerar que a história cristã até 1798 foi de “ataque espiritual ao poder expiatório de Cristo e ao santuário celestial”, o que não se encontra em nenhum lugar.

Temos o Chifre Pequeno contra o Príncipe do Exército, a retirada do sacrifício diário, a destruição do santuário, a dominação do sacrifício diário e o exército dos santos e a verdade é jogada por terra.

Como sabemos que o sacrifício diário é um tipo do Sacrifício de Cristo na cruz, e que na Era Cristã ele é realizado diariamente em sua forma sacramental na Santa Missa, é perfeitamente provável que haverá um ataque ao sacrifício da santa missa. Tudo ocorreu primeiramente na perseguição aos judeus, e resta a profecia da perseguição aos cristãos. E nisso o adventismo acerta, pois muitas vezes as profecias contem duas coisas em uma só, como Jesus, segundo o autor adventista, Jesus explicaria dois eventos como uma coisa só.

Mas, o adventismo entende que “tirar o sacrifício diário”significa uma forma de “negar ou minimizar o sacrifício de Jesus e sua intercessão como único sacerdote”. Também deverá haver algo que negue o santuário, como a Lei, o sumo sacerdócio de Cristo e o juízo de Deus. E diz: “Tudo isso foi feito também por Roma (em sua fase católica).

Em primeiro lugar, deve-se lembrar que Roma não é a Igreja Católica, mas a Igreja Católica tem sede na cidade de Roma e a evangelizou desde o século primeiro. O Império Romano e a Igreja são duas coisas separadas e antagônicas nas profecias.

Segundo, a Igreja nunca poderia ter feito algo contra ao sacrífico de Cristo. Pelo contrário, como vimos, é ela a única que realizada o sacrifício espiritual de Cristo no mundo diariamente, o que cumpre a profecia. Se algo irá tirar o sacrifício diário em tempo cristão, isso só pode ser uma perseguição à Igreja Católica e a proibição da santa missa. De fato, Lutero escreveu muito contra o sacrifício da santa missa no século 16, e muitas doutrinas tentam tirar da missa a ideia de sacrifício. Isso pode ser considerado uma espécie de ataque ao sacrifício de Cristo.

Quando Ellen White escreve que a Igreja Católica ensina a infalibilidade, e por isso não poderia renunciar aos princípios que nortearam sua conduta no passado, comete um equívoco, já que a Igreja pode reconhecer erros e pecados cometidos, por meio de seus membros, mas não como Instituição de Cristo que ensina a verdade salvífica. Uma coisa é a conduta, e outra a doutrina. Em um campo há imperfeição, noutro há infalibilidade.

É verdade que judeus e cristãos foram perseguidos no Império Romano. Jerusalém foi destruída no ano 70 d. C. A Igreja Católica foi perseguida por três séculos. Foi a Igreja que anunciou o Nome de Jesus Cristo ao mundo, que defendeu Sua divindade em concílio, em 325, que recebeu, guardou e ensinou as Escrituras Sagradas naqueles tempos de cruel perseguição.

Numa interpretação anticatólica a ferida da besta seria dada em 1798 com a prisão do papa e curada em 1929 com a Igreja recebe o Vaticano do governo da Itálica. Mas isso em nada prova que a Igreja seja a Besta e que a prisão do papa marca o tempo em que a supremacia da Igreja teria terminado, assim como em 1929 teria recobrado suas forças.  De fato, a Igreja durante a história foi, por várias vezes, perseguida, e os papas presos, mortos, exilados e etc. Como por exemplo no Cativeiro de Avignon, durante mais ou menos 70 anos.

A interpretação da IASD considera que a ligação do poder temporal ao poder espiritual da Igreja a torna negativa, para “fixar heresias na cultura dos cristãos”. No entanto, o que ocorre é o inverso. Com esse poder, dado pela Providência Divina, toda a base doutrinal cristão foi fixada na cultura dos cristãos pela Igreja Católica: a Bíblia, sua verdade e inspiração, o cânon dos livros inspirados, a divindade de Jesus, a divindade do Espírito Santo, a doutrina da Trindade, do pecado original, do livre-arbítrio, etc.

Assim, o Sacrifício de Cristo foi conhecido na cristandade. E aqui entra algo importante. A doutrina adventista coloca a IASD como aquela que surge para restaurar verdades que a ICAR teria ofuscado, distorcido e jogado por terra. Então, de alguma forma essa Igreja se mostra como a Igreja verdadeira, pois seria aquela que Deus usa para ensinar as verdades do tempo presente. É outra Igreja que se levanta contra a Igerja Católica no século 19.

O papa Pio IX fala das diversas perseguições à Igreja do seu tempo, no século 19, aos diversos erros disseminados no mundo, às doutrinas que nasciam e eram contrárias ao evangelho.

É preciso olhar para a Bíblia e ver se os acontecimentos históricos refletem a profecia, se elas estão ocorrendo, com exatidão, e fazer isso como cristãos católicos, do ponto de vida da Igreja e não fora dela.

Pois bem. Roma se encaixa na profecia? Sim. Mas Roma não é a Igreja Católica, mas o Império Romano, que é um tipo dos impérios anticristãos e do Império anticristão final. As 2300 tardes e manhãs são um tempo simbólico. E a purificação do Santuário não ocorre antes da vinda de Jesus.

A Igreja Católica sempre ensinou ser a Igreja verdadeira. Isso parece soberbo? Para muitos sim. Mas, como a Igreja Adventista se declara a Igreja verdadeira, o autor explica: “e quando o que parece soberba é verdade?”.

E, como a Igreja Católica fundada por Cristo tem sua autenticidade, os movimentos valdense, wyclifita, luterano, adventista, são aqueles que se levantam contra a verdade católica e isso serve para provar os cristãos na fé. Isso também não significa que somente cristãos católicos são salvos, e que membros de outras igrejas não são cristãos, mas que todos, em sã consciência, que servem a Deus com coração puro, fazem parte da Igreja Católica, e entrarão nela quando conhecem mais a verdade.

De fato, “as mensagens são mais importantes do que o movimento em si”. Essa frase contém uma verdade. Assim, a doutrina católica é que deve ser estudada e contraposta a essa interpretação historicista das profecias de Daniel. Uma vez que a verdade católica é patente, não há como ver a Igreja verdadeira como algo negativo nas profecias. É necessário olhar a partir dela, de dentro dela, e entender os poderes que lhe são opostos.

A Igreja Católica é vista como ameaça. Isso escreveu Ellen White. Portanto, para um adventista essa é a opinião correta. Tempos atrás os protestantes ensinavam isso: “Ensinavam os filhos a aborrecer o papado, e sustentavam que buscar harmonia com Roma seria deslealdade para com Deus”.

Para a mensageira adventista, a Igreja Católica tem em seu meio “verdadeiros cristãos”, mas que esses servem a Deus “segundo a melhor luz que possuem” e que não distinguem a verdade, e não conhecem  a diferente de um culto “prestado de coração” e o culto de meras cerimônias e formalidades, que possuem uma fé ilusória, que não satisfaz. É algo contra as cerimônias católicas.

E assim, esforçam-se as igrejas protestantes, como a IASD, para oferecerem o melhor ambiente de culto e adequar seus ritos, música e decoração das igrejas, de modo a não parecer “católico”, mas de alguma forma satisfazer algo da natureza humana que intuitivamente sabem que está faltando.

Gledson Meireles.