ADVENSTISMO E REFORMA PROTESTANTE, capítulos 1 e 2
UM GUIA DE ESTUDO
de
DAVI CALDAS
Os comentários abaixo serão melhor
entendidos por quem leu o guia de estudo, pois são comentários, às vezes,
breves e de forma simples, partindo do que foi afirmado na lição.
O
comentário desse livro, desse guia de estudo, publicado recentemente em 2021, serve
para um diálogo saudável com os adventistas do sétimo dia, que pretenderem
melhor conhecer a fé cristã católica.
É
certo que o guia mencionado foi escrito para um diálogo com outros
protestantes. Mas neste comentário há a oportunidade de se fazer o diálogo com
os católicos.
Aqui,
o intuito é mostrar a fé católica, de forma breve, clara, respeitosa, bíblica,
em diálogo, a partir da leitura do livro citado. São pontos esclarecidos da fé
católica, obtidos enquanto se reflete distintivos da doutrina adventista.
O
diálogo é extremamente difícil, visto que a doutrina adventista combate
abertamente a doutrina católica. Isso vai ficando mais claro nos pontos em que
essas tensões aparecerem. Mas é totalmente possível dialogar, basta ter vontade
para isso.
Que
o Senhor Jesus abençoe esse diálogo para que haja bastante luz ao passo que as
questões forem sendo comentadas, para o crescimento na graça e na fé, para a
glória de Deus.
Gledson Meireles
Apresentação
Na
Igreja Católica temos estudos breves sobre outras Igrejas, a fim de informarem
os católicos sobre a origem, características e doutrinas de outras
denominações.
Em
relação aos adventistas, no ano de 1959 foi publicado um caderno com o título Os Adventistas, obra do Pe. Dr. L.
Rumble, traduzida português. Certamente o padre Rumble colheu muitas
informações de M. Canright, um ex-adventista, que, segundo o pr. Leandro Quadros,
é um pioneiro na crítica adventista.
Pois
bem. Pela apresentação do Pe. Rumble, temos que os adventistas têm origens
remotas, por assim dizer, em 1740 com Whitefield, passando por Wiliiam Miller,
até chegar em 1860, quando a denominação é fundada.
Embora
a Igreja Adventista do Sétimo Dia seja considerada, nessa obra, também uma
seita, e duramente criticada quando se diz que não se pode seguir Ellen White e
ser genuíno discípulo de Cristo, uma afirmação que se faz como reação católica
diante da propaganda e atitude anticatólica dos adventistas, coisa que é
bastante razoável, e de se esperar nesses tempos de embates mais intensos. De
fato, no adventismo o papado é visto como o Anticristo, e doutrinas católicas
são vistas como blasfêmias.
A
apresentação da Igreja Adventista nessa obra do referido sacerdote católico ainda
contem afirmações de que os escritos de Ellen White são fundamentais e
colocados no mesmo nível da Bíblia e de que a doutrina do santuário não pode
ser crida por alguém inteligente, coisas que certamente não são palavras bem
recebidas pelos adventistas.
Ainda
assim, com caridade o padre Rumble ensina, como é comum na fé católica, a
termos a seguinte atitude: “...todos os
católicos se capacitem de que ainda é seu dever não manifestar senão caridade
com todos, mesmo de entre os inimigos professos de sua religião”.
Do
mesmo modo, em artigo escrito por D. Estêvão Bettencourt, afirma o apologista
católico, de forma honesta e sinceramente, que o adventismo não é nem de longe
representante do genuíno cristianismo. Essas afirmações são bastante
previsíveis, naturais e parte da apologética. Há palavras mais duras do que
essas, escritas por Ellen White e pelos adventistas com relação à Igreja
Católica.
O
autor do guia de estudo , Davi Caldas, afirma que a Igreja Adventista do Sétimo
começa pelos idos de 1844 e formaliza-se em 1863. Os adventistas desde cedo
foram muito estudiosos da Bíblia, e afirmam resgatar ensinos cristãos
esquecidos, e ser uma igreja que se reforma ao longo dos anos.
A
Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma Igreja protestante e opõe-se à
infalibilidade e autoridade da Igreja Católica. Assim, o presente comentário
serve como diálogo entre a fé adventista e a fé católica.
Cresçamos
em conhecimento e graça, pois a verdade é Cristo e Sua doutrina. Achegar-se e
aderir à verdade é crescer em Cristo.
Comentário da Lição 1
No Protestantismo o legado de igrejas
mais centradas na Bíblia pode ser explicado como uma atitude a uma única fonte
infalível de autoridade. Mas isso faz da IASD mais bíblica, em sentido crítico,
já que muitas doutrinas são claramente errôneas, e várias interpretações
carecem de plausibilidade.
Também, a Igreja Católica é totalmente
bíblica em toda a sua teologia, mesmo no sentido protestante referido antes,
onde cada doutrina tem sua fundamentação na Bíblia. No entanto, a Igreja
Católica é bíblica em sentido estrito, o que significa que suas doutrinas são
fundamentadas de fato nas Escrituras. Mesmo o apelo à tradição apostólica e ao
magistério eclesiástico é plenamente bíblico.
Quando se diz que os primeiros
protestantes ainda mantiveram doutrinas católicas e “repetiram vícios”, obviamente isso será tido como inexato, ou com
muito menos ênfase, se tivermos em conta a posição dos luteranos, que dirão não
ter herdado vícios e erros, como os adventistas estão afirmando, mas que
continuam igualmente a reforma da Igreja.
Assim também os reformados dirão que os
erros de Calvino, por exemplo, não são mais adotados em seus credos, e que as
confissões de fé são testemunho da fé bíblica que professam.
Isso é diverso nos movimentos e igrejas
do século 19, que tinham o intuito de levar avante a reforma. E essa maior
radicalidade é sentida na doutrina adventista.
Aliás, os adventistas, nascidos de
ambientes metodistas, batistas e congregacionais, possuem vários elementos da
Reforma Radical, como o batismo de crentes e por imersão, uma forma batista de
entender o sacramento, ou ordenança, como preferem chamar. Assim, a posição quanto
à relação entre a Igreja e o Estado, é também de inclinação batista, como a
maior radicalidade nas reformas, em comparação com Lutero e Calvino.
Até mesmo a noção de remanescentes em
toda a história da Igreja, como na tese do livro O Rastro de Sangue, de persuasão batista, é semelhante ao conceito
que guia a exposição no livro O Grande Conflito, de Ellen White, sem falar na
questão um pouco diversa e especial de entender o princípio Sola Scriptura.
Quanto às doutrinas católicas citadas,
que foram alvo de críticas e apelos para reforma na história da Igreja, podemos
afirmar que as Escrituras Sagradas são a autoridade suprema, e são elas que
estabelecem a autoridade da Igreja e da Tradição.
A Tradição apostólica extrabíblica é também
palavra de Deus, sendo apenas um modo de revelação diverso, e não contradiz a
Bíblia.
Os livros deuterocanônicos são inspirados,
e não houve período sem inspiração de Escrituras, no sentido de se ter suspenso
o dom da inspiração para escrever a Palavra de Deus.
Em resumo, a infalibilidade da Igreja e
do papa é resultante da doutrina bíblica.
A infalibilidade da Igreja Católica
Apostólica Romana faz dela a única que pode com certeza fornecer interpretação indubitável
das Escrituras.
A questão das traduções da Bíblia para
outras línguas além do latim já é caso resolvido. Hoje as traduções católicas
são feitas nos mais diversos idiomas. O sacerdócio universal dos crentes é
doutrina católica. Está presente no Catecismo da Igreja Católica de modo claro.
A salvação é pela fé, em primeiro lugar, e pelas obras, em conexão com a fé, e
nunca pelas obras. A fé é o início da salvação, e as obras são necessárias,
pois nascem da fé.
Os adventistas são acusados por outras
denominações do mesmo que os protestantes em geral acusam a Igreja Católica
nesse pormenor que toca a doutrina da fé e das obras na salvação.
O purgatório é bíblico, a intercessão
dos santos falecidos é algo útil, e é uma prática bíblica, com fundamento bíblico.
Também a veneração de Maria é bíblica, a eucaristia como o corpo e o sangue de
Cristo, literalmente entendido, é bíblico, e não há repetição de sacrifício.
O celibato é bíblico e a confissão é
bíblica. A ordenação de homens que optaram pelo celibato não é problema, já que
é um direito da Igreja legislar nessas questões que estão de acordo com a
Palavra de Deus. E o celibato é uma doutrina bíblica.
Quanto à confissão, uma vez que se
entende que os líderes da Igreja possuem o poder de perdoar os pecados em nome
de Cristo, é preciso conhecer os pecados para dar absolvição, o que exige a
confissão dos pecados aos ministros.
Essas são apenas afirmações, para
mostrar a posição católica, afirmações essas brevissimamente resumidas.
A Bíblia está acima de todos, acima da
Igreja, como corpo dos fieis, acima da Tradição, pois é o único meio, o meio
singular, que Deus inspirou para revelar Sua Palavra.
É a própria Escritura que estabelece a
Igreja e a Tradição como instâncias a funcionarem para o ensino e preservação
da Palavra de Deus. Portanto, Deus assiste a Igreja em questões de fé e moral,
pois são questões que dizem respeito à salvação, e preserva a Tradição
Apostólica, o que não foi escrito inspirado por Deus, mas foi primordialmente ensinado
de forma oral, em meio a tantas tradições. Entre essas tradições é preciso
discernir a tradição apostólica.
Comentário da Lição 2
O
capítulo dois trata do Sola Scriptura,
que ensina que a Bíblia é a única regra de fé e prática e que interpreta-se a
si mesma. Dessa forma, o cristão pode interpretar corretamente a Bíblia
seguindo métodos rígidos de interpretação, seguindo “regras lógicas e básicas de interpretação”, como escreve o autor. Então, o católico também pode
interpretar a Bíblia segundo a sã exegese e hermenêutica, seguindo regras
básicas de interpretação bíblica.
Ainda,
afirma que ninguém pode transformar em doutrinas as próprias ideias. Por isso, deve-se
lembrar, que as afirmações de Lutero não eram verdadeiras quando disse que a
Igreja de Roma fez isso. Nada mais estranho para a fé católica que uma opinião
pessoal, tornar doutrina uma ideia própria, que chegue a ser seguida por toda a
Igreja. Nunca. A doutrina católica é de origem divina.
De
fato, a Igreja Católica não é origem de doutrina, mas anunciadora do evangelho,
defensora da verdade, preservadora da fé. A Igreja não cria doutrinas, mas as
expõe fielmente. A fé vem de Deus, foi ensinada por Jesus Cristo, é preservada
pelo auxílio do Espírito Santo. Assim, a Palavra de Deus, a Bíblia, e também o
que é conteúdo inspirado da Tradição Apostólica, devem ser mantidos e cridos
com fé divina.
É
preciso notar que os textos apresentados para mostrar que os líderes e as
tradições podem falhar, não são prova de que a Igreja pode falhar. De fato, a
Igreja, vista como órgão que garante a pureza do evangelho, assim como o
colégio dos doze apóstolos, é infalível. Não é esse o lugar de provar isso, mas
até o fim do comentário da presente lição isso irá ficar mais claro.
Assim,
os apóstolos pregavam com autoridade, e não há exemplo de cristãos insubmissos
à pregação apostólica, nem conferindo se a mesma pregação dos apóstolos era
verdadeira ou não. Tal coisa nunca ocorreu.
Por
isso, São Paulo podia afirmar que mesmo um anjo do céu deveria ser anátema se
ensinasse algo diverso do que ele havia ensinado (cf. Gl 1, 8). Portanto, o
ensino apostólico é dogmático.
O
mesmo pode-se afirmar dos textos que indicam a falibilidade dos líderes
religiosos. É óbvio que nenhum líder é infalível, mas os apóstolos foram. Cada
apóstolo foi infalível na pregação e na escrita da doutrina cristã. Eles foram
infalíveis no ensino da fé e da moral cristãs. E escreveram o que pregaram por
inspiração do Espírito Santo. Outros escritores seguiram a doutrina dos
apóstolos e foram inspirados na escrita dos livros bíblicos do Novo Testamento.
Depois,
a Igreja em sua universalidade é também infalível, de modo que nenhuma doutrina
pode entrar no rol da fé cristã se não for verdadeira. A Igreja Católica não
pode ensinar heresias. Um membro da Igreja pode se tornar herege, uma igreja
local pode cair em erro, uma região inteira pode se afastar da fé, mas nunca a
Igreja em peso, em geral, em sua totalidade, nem na sua fonte magisterial. Ou
seja, não é possível que o magistério em
comunhão com o papa caia em heresia.
Por
isso, a Bíblia é o padrão da verdade e pode provar que a Igreja não pode cair
no erro. A Bíblia garante que a Tradição e o Magistério são infalíveis.
Afirmar
que muitas das doutrinas, crenças e
práticas católicas não possuem base bíblica ou se mantém por interpretações
frágeis de textos bíblicos não é exato. Não há uma única doutrina católica que
não tenham fundamentação sólida na Bíblia.
A
Igreja Católica não crê no Sola Scriptura
por sua impraticabilidade, conforme o ensino protestante. Ainda, há uma forma
católica de entender a doutrina que expõe o princípio falho que a mesma tem por
fundamento.
Para
isso, vejamos o mesmo princípio usado no Protestantismo aplicado em outra
passagem da Escritura. A passagem é Efésios 4, 11-15.
Nesse
texto bíblico, é ensinado que os dons de Deus foram dados à Igreja para que uns
sejam feitos apóstolos, alguns profetas, alguns evangelistas, alguns pastores e
mestres, para equipar os santos, ou seja, os cristãos, que formam a Igreja em
geral, pela obra do ministério de pregação do evangelho, para construir o corpo
de Cristo, para que todos cheguem à unidade da fé e ao conhecimento de Cristo,
o Filho de Deus, à estatura adulta em Cristo, à plena medida da estatura de
Cristo, para que não sejamos como crianças, mas falando a verdade em amor,
devem crescer em direção a Cristo, cabeça da Igreja. Assim, o ministério da
Igreja serve para o crescimento em Cristo.
Portanto,
Deus preparou as autoridades da Igreja para construir o corpo de Cristo, chegar
à unidade, crescer na fé, até a perfeição em Cristo.
Pelo
mesmo artifício de interpretação protestante geralmente feito em 2 Tm 3, 15-17,
poder-se-ia concluir que Ef 4, 11-15 ensina que somente os líderes da Igreja
foram postos por Deus para levar os cristãos à perfeição em Cristo.
Até
mesmo a prevenção de heresias é feita pelos apóstolos, profetas, evangelistas,
pastores e mestres. Sem mencionar a Bíblia, tudo isso é realizado pelos líderes
da Igreja, pelo seu trabalho evangelístico, pela sua obra, pelo seu ensino
oral, pregando o evangelho. Os cristãos seriam aperfeiçoados somente pelo ministério da Igreja.
Obviamente
o evangelho está na Bíblia, mas o texto afirma tudo isso em referência aos
líderes, que são assim colocados por Deus, levando a Igreja à perfeição em
Cristo.
Pelo
mesmo princípio, poderia alguém afirmar que a Escritura não é necessária, mas somente
a Igreja, conforme o texto acima estudado. Obviamente isso seria um erro, e,
portanto, está refutada a interpretação feita semelhantemente em 2 Tm 3, 15-17.
A
Bíblia é capaz de tornar o homem sábio para a salvação pela fé em Cristo, é
útil para o ensino, para repreensão, para a correção, para a instrução na
justiça, tudo isso para que o homem de Deus seja perfeito e plenamente
preparado para toda boa obra.
A
leitura protestante faz dessa passagem algo como que excludente da tradição e
da Igreja, pois o que é tornado perfeito por algo não necessita de nada mais, e
o texto afirma que a Escritura leva a essa perfeição.
No
entanto, por analogia, o texto de Efésios 4, 11-15, lido dessa maneira,
excluiria a própria Escritura, pois a Igreja poderia pregar o que a Escritura
ensina sem que o homem tenha de ir à Escritura para tornar-se perfeito em
Cristo. Esse trabalho em cada cristão seria feito unicamente pelo ministério eclesiástico. Portanto, essa exegese protestante
é falha.
Mas
há uma forma que é totalmente praticável, como acontece no Catolicismo, e que
podemos chamar de algum modo de Sola
Scriptura. É o Sola Scriptura entendido
de modo cristão católico.
Conciliando
os textos acima, temos que Bíblia é completa para levar à salvação e perfeição
em Cristo, mas que esse ministério é feito pela Igreja, que constrói o corpo de
Cristo, leva o homem à perfeição e afasta os erros e heresias, pela pregação da
Palavra de Deus. Por isso, a Igreja deve ser infalível, e sabemos disso pela
revelação bíblica, como está nos textos de 1 Tm 3, 15; 2 Tm 3, 15-17 e Ef 4,
11-15.
Os
católicos não aceitam qualquer doutrina que não esteja na Bíblia, nem crê por
meio de autoridades que surgem fora da comunhão da Igreja, e nem pregam sermões
cujo centro não é a Palavra de Deus.
A
autoridade infalível nesse anúncio da verdade é da Igreja Católica conforme a
Tradição apostólica, em total conformidade com a Bíblia, o que é diferente de
olhar para os membros da Igreja individualmente, ainda que seja o papa em
pessoa. A infalibilidade do papa supõe a infalibilidade da Igreja.
No
mais, os princípios bíblicos que norteiam a vida cristã são bem explicados na
lição comentada.
A
Bíblia Sagrada: Para a Igreja Católica a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus,
inspirada, inerrante, infalível, tida em altíssima conta, autoridade Suprema,
digna de louvor, respeito e veneração, sendo o próprio objeto da Palavra de
Deus, a Bíblia, reverenciado na Igreja, na liturgia, nas casas, nas mãos dos
cristãos católicos, de modo que a Palavra de Deus está no coração dos católicos
como autoridade inquestionável.
Entretanto,
a Igreja tem o máximo cuidado de zelar pela verdade das Escrituras, impedindo,
conforme suas responsabilidades, de acordo com o costume do tempo, o modo, as
circunstâncias, a realidade vivida, impedindo a abertura de quaisquer brechas
que possam dar surgimento a heresias e erros graves para a fé.
Assim
é que durante muito tempo as traduções foram diminuídas, as línguas latina e
grega foram quase as únicas usadas na liturgia, no Ocidente e Oriente
respectivamente.
O
trabalho dos copistas nos mosteiros, reconhecido pela história como
preponderante para a conversação das Escrituras durante os séculos, o que
sabemos fazer parte da Providência de Deus, na Igreja Católica, ainda é
questionado e às vezes desprezado por meio de críticas, como essa de que a
Igreja proibia a leitura da Bíblia e era contrária à sua divulgação, fazendo do
trabalho dos monges possível apenas por serem feitos em locais de pouca
expressividade e longe dos olhares das autoridades eclesiásticas, que não
veriam com bons olhos a multiplicações de cópias das sagradas páginas.
Isso
é um absurdo, visto que os mosteiros, com criação, desenvolvimento, regras,
etc., funcionavam todos sob os olhares da autoridade central, dos bispos e
papas, e não há exemplo nenhum de qualquer empecilho por meio das autoridades
da Igreja, ou de não concordância, ou coisa parecida, diante do trabalho dos
monges copistas, que amavam a Escritura, oravam e trabalhavam, com o princípio ora et labora, fazendo o bem, à imitação
de Cristo, deixando legado enorme e fundamental na preservação da Sagrada
Escritura.
É
fato que entre os católicos a leitura da Bíblia foi por muito tempo ínfima.
Somente católicos mais esclarecidos na fé tinham acesso à Escritura de forma
mais livre, durante os períodos críticos.
Diante
das interpretações daqueles que se afastavam da Igreja Católica, especialmente
a partir da Reforma, o cuidado para manter a fé, e a atividade contra as más interpretações,
fizeram com que a Igreja temesse ainda mais que heresias surgissem em seu meio,
à maneira do que estava ocorrendo nas seitas. É uma preocupação sincera,
correta, cheia de zelo, e muito prudente. Pode às vezes não ser expressa por
meio de boas aplicações, de bons métodos para alcançar esse fim, mas o
princípio está correto.
Gledson Meireles.
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