segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

2Macabeus 15,38 e a inspiração do livro

“Assim terminou a história de Nicanor. A partir desse tempo, a cidade passou a ser governada pelos hebreus. Por isso, aqui encerro a minha narrativa. Se ficou boa e literariamente agradável, era o que eu queria. Se está fraca e medíocre, é o que fui capaz de fazer. É desagradável beber só vinho ou só água, ao passo que vinho misturado com água é agradável e gostoso. O mesmo acontece numa obra literária, onde o tempero do estilo é um prazer para o ouvido do leitor. E assim termino.” Outra tradução do verso 38: “Se ela está felizmente concebida e ordenada, era este o meu desejo; se ela está imperfeita e medíocre, é que não pude fazer melhor.(Macabeus 15,37-39)

É incomum encontrarmos um comentário objetivo dessa passagem do livro sagrado de 2 Macabeus [15,38] por parte daqueles que não tem a fé na sua inspiração.

O autor claramente se refere à sua “narrativa” quanto a estar “boa” e “literariamente agradável”. Sua narrativa ficou boa ou não? Está agradável do ponto de vista literário ou não? Ele fala do “tempero do estilo”, não das informações da obra em si. Esse é o assunto que o autor considera, e do qual revela sua humilde opinião, acreditando que seu esforço foi o melhor possível: “é o que fui capaz de fazer”. Preocupou-se com a fineza do estilo, não com erros em sua narrativa.

O autor não “refere-se à verdade da narração”, mas ao “estilo e modo de escrever”. [Haydock´s Bible Commentary]

É claro que dessa passagem o cristão não tira qualquer conclusão contra a inspiração do livro sagrado. Somente quem lê com uma preconcebida opinião [negativa] sobre a obra, pode ver nessa passagem uma “prova” de que o livro não teria sido inspirado, e de que o autor não estava cônscio da inspiração que recebeu, tendo receio de que seu trabalho não fosse fidedigno.
Essa comparação do autor de 2 Macabeus é comparável às palavras de são Paulo: “E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência”. O apóstolo fala da sua pregação da Palavra de Deus, do seu modo de expor o evangelho nas igrejas, e ainda assim humildemente reconhece que alguém pode tê-lo na conta de “rude” quanto ao seu estilo. Fala a respeito da opinião alheia. No entanto, reconhece que possui a “ciência”. (2 Coríntios 11,6)

Em 1 Coríntios 7,25 escreve são Paulo: “não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer”. Nesse momento, são Paulo expõe sua opinião pessoal quanto a um assunto que toca à vida cristã. Obviamente acredita não estar ensinando o erro.

Esses exemplos da Sagrada Escritura nos ensinam que os homens santos e inspirados para escrevê-la possuíam estilo pessoal diverso um dos outros, e que reconheciam sua limitação, num tom de humildade. Esse é o ponto importante para refletir.

Sobre o conhecimento da Palavra de Deus e da profecia, está escrito: “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos.” Que significa dizer “em parte”? Refere-se à imperfeição. Seria como escrever que nosso conhecimento é imperfeito e a profecia imperfeita, ou seja, profetizamos de modo imperfeito. Isso fica claro pelo contexto (v. 10), que explica o significado da expressão “em parte”: “Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.” “O que é perfeito” contrasta com “em parte”, o imperfeito.

No entanto, ao falar da imperfeição não se introduz noção de “erro”, mas de incompletude. Essas passagens podem ser incompreendidas pelos incautos.
O evangelista são Lucas decide escrever o evangelho para apresentá-lo a Teófilo: “Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo”. E continua afirmando de seu esforço pessoal para escrita da sua obra: “havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio”. (Lucas 1,3)

Alguns tentam lançar dúvidas sobre o livro de 2 Macabeus porque seu autor deixa a possibilidade de sua obra não ter um estilo agradável para o leitor, e dessas palavras conclui que o autor não se via inspirado e que o livro não foi inspirado!

Esse princípio inventado aí deveria também caber noutras partes da Bíblia se fosse verdadeiro. Assim, tendo que o apóstolo Paulo afirmou que poderia ser rude na Palavra, alguém poderia concluir que não estava inspirado, pois a Palavra de Deus não seria jamais “rude”! Ou que um homem de Deus não falaria rudemente a Palavra de Deus!

Noutra passagem o mesmo santo apóstolo afirma que o mandamento que tem não é do Senhor, mas é parecer pessoal. No entanto, essas palavras estão na Bíblia, e cada parte da Escritura é inspirada, cremos em nossa fé cristã católica. Por isso, ainda que alguém impusesse aquele falso princípio de que o apóstolo aí não se reconheceu inspirado, e, portanto, seu livro carece de inspiração, diríamos, com fé cristã, que está em erro.

Ainda com as palavras sagradas escritas por são Paulo, teríamos que se o conhecimento inspirado e a profecia [que é inspirada, obviamente] são “imperfeitos”, isso implicaria em que as mesmas não eram inspiradas, e isso teria sido reconhecido, pelo autor!

Igualmente, com as palavras do evangelista são Lucas, que afirmou ter sido sua obra uma iniciativa pessoal, não divina. O mesmo parece não reconhecer-se inspirado. Então, teríamos que afirmar ser seu livro sem inspiração! Tudo isso seria uma grande heresia.

Portanto, está provado que o princípio que alguns tiram de 2 Macabeus 15,38 é falso e é contrário à Palavra de Deus. Sabemos que para um livro ser inspirado não é necessário que esse se mostre inspirado, que seu autor indique consciência clara de sua inspiração. Esse princípio não existe, como foi expresso na refutação acima.

Para terminar, saibamos que 2 Macabeus 15,38 apenas forneceu um exemplo de humildade de seu autor, como 2 Coríntios 11,6. Notemos também que mesmo não percebendo a inspiração [cf. Lc 1,3; 1 Cor 7,25; talvez 13,9], o autor foi inspirado sem dúvida, e por isso seu livro está no cânon.

Explicações importantes:

O autor Lucas Banzoli considera as respostas que comparam o texto de 2 Mc 15,38 com 2 Cor 7,10, por exemplo, como um “devaneio”.

Afirma que são Paulo reconhecia sua inspiração (2 Tm 3,16-17; 1 Cor 7,40), e que somente estava afirmando que não recebeu aquele mandamento “diretamente” do Senhor. No entanto, tinha inspiração para passar mandamentos.

Essa explicação falha no princípio básico: se são Paulo mostrasse seu reconhecimento de inspiração nessa passagem, como acima 1 Cor 7,25, porque teria dito que “não” tinha ensinamento sobre isso vindo do Senhor? Ele não fala de estar diretamente ou não de posse do mandamento, mas reconhece que não ouviu nada sobre isso do Senhor, e isso inclui ensinos diretos de Jesus a ele. Dessa forma, se ele não lembrou de qualquer ensinamento de Cristo nesse momento, e disse que aquele conselho era sua posição, isso encaixa-se no princípio de que essa passagem exemplifica que o apóstolo não estava consciente de estar recebendo inspiração para aquele pronunciamento particular. Ele acredita estar conforme a verdade, mas atribui a opinião a si mesmo, não a Deus.

São Paulo afirma ter TAMBÉM o Espírito de Deus (1 Cor 7,40), e isso não é contrário ao que foi dito acima, os cristãos devem possuir o Espírito de Cristo, pois do contrário não seriam de Cristo. Deve-se ter em mente o princípio.

Como explicado acima, o autor de 2 Macabeus não considerou que sua obra estivesse errada, contendo informações falsas, e fosse de pouca confiança. Longe disso. De fato, ainda que fôssemos ler sua confissão em termos humanos, teríamos que concluir que confiava em todas as informações do livro, visto que para ser sincero e honesto deveria ter pesquisado e sintetizado informações que julgasse verdadeiras. Isso o autor fala em termos claros. E, ao contrário de um autor orgulhoso de suas faculdades, ele fala de sua esforçada empreitada, mas pede compreensão se seu estilo não agradou o leitor. Tanto em Paulo como no caso de 2 Macabeus o Espírito Santo permitiu que seus autores expusessem opiniões pessoais, e verdadeiras, ainda que sob a inspiração direta.

Outra questão importante: atos de humildade são diversos de pessoa para pessoa. Dentre 20 pessoas, por exemplo, alguém pode realizar algum ato é isso ser sinal de humildade. Outros podem expressar sua humildade de formas diferentes. Assim, não é preciso que outro escritor bíblico afirme que sua composição talvez não tenha ficado perfeita para que isso seja aceito em 2 Macabeus. Isso torna-se um petitio principii.

Então:

1)   Está refutado que o autor de 2 Macabeus reconhecesse sua obra, e não somente seu estilo, como possivelmente pouco agradável.

2)   Está refutado o princípio de que o apóstolo reconheceu sua inspiração e por isso pronunciou um mandamento.

3)   Está refutado o princípio implícito dessas objeções de que o escritor bíblico reconhece explicitamente sua inspiração, ou que os livros bíblicos expressem explicitamente origem divina.


[Resposta a um princípio contido em: Os livros apócrifos admitem que são apócrifos, de Lucas Banzoli.]


Gledson Meireles.

Tradição Apostólica

O apologista protestante Lucas Banzoli afirma que a tradição é o seguinte:

1. Uma doutrina que não se encontra na Bíblia em lugar nenhum.

2. Uma doutrina que foi transmitida somente oralmente.

3. Uma doutrina não-escrita e não-bíblica (i.e, fora das Escrituras) que foi conservada pela Igreja de Roma.

4. Uma doutrina que serve para complementar as Escrituras e que está a par dela.

5. Uma autoridade de fé distinta das Escrituras, que serve para comprovar doutrinas que não se encontram na Bíblia.

Afirma que, para o católico, tradição significa isso; que se trata do “encanto católico” que irá quebrar, e que mostrará o que realmente significa tradição nos escritos patrísticos. Afirma que para os padres da Igreja “a tradição servia apenas para interpretar as Escrituras”. Interessante que essa foi a conclusão a que cheguei estudando a doutrina católica, de que a tradição é um comentário das Escrituras.

Então, no estudo do autor ele está combatendo a ideia de que a Tradição tem o intuito de, 1) ser autoridade a par das Escrituras, 2) fornecer base para doutrinas que não se encontram na Bíblia, 3) e provar o significado de que a Bíblia não é suficiente “em si mesma”. [Não nego que existam cristão católicos que pensem assim.]

Nesse estudo aqui refiro-me apenas ao que a Igreja Católica ensina sobre a Tradição, o que encontramos normalmente nas fontes católicas, que explicam sobre a tradição, e comparo com o que o Lucas afirmou sobre o que os católicos crêem sobre tradição.

Se o Lucas estiver correto, então o restante dos seus artigos sobre a Tradição Apostólica desenvolvem-se criticando um elemento real do Catolicismo, e assim deve-se ater à crítica. Se não, sua crítica começa por uma suposição falha. Nesse caso temos que analisar outros pontos.

Em escritos católicos, incluindo documentos oficiais da Igreja (que já são parte da tradição), temos que a tradição consiste:


  1. “nos ensinamentos que os apóstolos transmitiram oralmente através de sua pregação”. [explicação em artigo com IMPRIMATUR: +Robert H. Brom.]
  2. Há aqueles que explicam a tradição como “uma fonte de Revelação Divina.
  3. “A Sagrada Tradição é o ensino oral de Jesus Cristo transmitido aos seus apóstolos, os quais por sua vez transmitiram aos seus discípulos (os primitivos Padres da Igreja), e então à próxima geração, e assim finalmente a nós.”
  4. A tradição às vezes refere-se ao objeto transmitido (doutrina, etc.), e também ao órgão ou modo de transmissão. [Enciclopédia Católica]
  5. A tradição transmite a verdade revelada “somente em formulas humanas.” [Enciclopédia Católica]
  6. Pela tradição “cresce o conhecimento tanto das coisas como das palavras que constituem parte da Tradição”, “faz compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma Sagrada Escritura e torna-a operante cem cessar.” [Dei Verbum, 8. Texto Mês da Bíblia, 2012]
  7. “... o conteúdo doutrinário da Sagrada Tradição Católica, naquilo que nos é proposto a crer com fé divina e revelada, está também contido na Bíblia, ao menos implicitamente.” [Pe. Lício Legnar]
  8. A Igreja preserva “as tradições não escritas”, e reconhece como Palavra de Deus, que transmitem a “verdade salvífica e as regras de conduta”. Portanto, reconhece “também as tradições, se elas são relativas à fé ou à moral”. [Sessão IV, Concílio de Trento]
  9. A tradição guarda os elementos da Bíblia ajustados apropriadamente para apresentar a doutrina. Então, “não é uma revelação separada, secreta e paralela”. Essa visão é condenada pela Igreja Católica. [baseado no que escreve o apologista Mark Shea].
  10. “Tradição, que é o veículo oral da Revelação de Cristo.” [Alessandro Lima, Veritatis Splendor]
Observação: embora às vezes se fale da tradição como “fonte” da Revelação, a Igreja parece preferir a explicação de que a tradição é outra “via” ou mesmo outro “modo” de transmissão da Revelação. A fonte da Revelação é Deus.

O Lucas afirma que os católicos entendem a tradição como doutrina que não está na Bíblia, que veio até hoje somente de forma oral, e que não foi escrita, também não está na Bíblia, e que serve para complementar a Bíblia, e que é uma autoridade para comprovar as doutrinas que não estão na Bíblia. Ficou claro. Nada da tradição está na Bíblia e a tradição é para comprovar conteúdos não bíblicos e completar a Bíblia.

Pelo que a Igreja ensina, a tradição é onde aprendemos o ensino oral de Jesus e dos apóstolos, em fórmulas humanas, fazendo a Escritura ser mais claramente compreendida por nós, e que sua doutrina está na Bíblia. Temos que devemos crer que a Tradição é uma via de transmissão da Divina Revelação (como que a fonte oral, ou modo oral de transmissão, mas da mesma fonte: Deus), e que seu conteúdo é bíblico, levando-nos a compreender melhor a Palavra de Deus.

Essa comparação mostra que a doutrina católica tem a tradição como Palavra de Deus, de conteúdo doutrinal igual ao da Escritura, e que difere apenas por ser um modo indireto da Revelação, que ajusta os dados da mesma para melhor esclarecê-los, para depois explicá-los e então defini-los, sendo uma instância bíblica, apontada pela Bíblia, e ao mesmo tempo fora da Bíblia.

Resumindo a comparação:


Tradição Apostólica segundo as fontes católicas
Entendimento do Lucas sobre a Tradição Apostólica na doutrina católica

Conteúdo doutrinário igual ao da Bíblia, e que leva à melhor compreensão da Bíblia

Doutrina que não se encontra na Bíblia

Modo de transmissão oral da doutrina

Somente oral
Via de transmissão indireta, mas também escrita, nos documentos etc., da doutrina bíblica

Não-escrita e não-bíblica
Ligada à Escritura

A par da Escritura

Autoridade de fé apontada pela Bíblia
Autoridade de fé distinta da Escritura


A comparação evidencia diferença de doutrina entre os documentos da Igreja e os escritos do apologista Lucas Banzoli referentes à tradição. Assim, o autor deve primeiramente corrigir esse erro, nos pontos necessários, para continuar a crítica que faz de escritos patrísticos sobre a tradição apostólica.


Obs.: a tradição estar "a par" da Escritura no sentido de ser "outra via" "outro modo" de transmissão, com conteúdo ligado ao da Escritura, estando fora dela, ao lado dela, como expressão dela, então está correto. Se o "a par" da Escritura significa isso nos escritos aludidos acima, então está correto. Se não, há o que corrigir.


Exemplo: a assunção de Maria é um fato que não é descrito na Bíblia. Nesse sentido não é bíblico. Mas, em sua natureza a doutrina está de acordo com a doutrina da Bíblia, onde os princípios estão na Bíblia. Portanto, a doutrina é bíblica.

Como se conhece: pelos escritos da Igreja, que mostram a tradição. Por que é mantida? Porque está conforme a revelação bíblica, e por isso foi proclamada dogma.
Entre os protestantes, de modo semelhante, há o Dispensacionalismo, surgido no século 19 com Darby. Segundo é explicado se trata de uma doutrina que sempre existiu, pregada desde o início do Cristianismo, e que foi resgatada no século 19, como algo que estava em declínio, em esquecimento, etc., e não é vista como algo novo, como sendo uma heresia. Em princípio, tem-se que a afirmação é de que a doutrina contida no dispensacionalismo é bíblica. Há quem afirme o contrário, mas existe o fato.


Gledson Meireles.

domingo, 26 de janeiro de 2014

A Fonte de Santidade: Deus.

Em azul: citações diretas do Catecismo da Igreja Católica.
Em vermelho: citações diretas do livro de Rick Jones.

A doutrina católica sobre a virgem Maria é entendida unicamente na Pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. “O a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo” (CIC, 487). E, ainda, na reflexão sobre Maria temos mais luz e fortalecemos a nossa fé em Jesus: “mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, a sua fé em Cristo”. É na Pessoa de Jesus que o católico aprende sobre a Sua mãe.

Para defender a verdade sobre Jesus a Igreja consequentemente teve maior consciência de Maria no mistério do Salvador. Foi um resultado natural. Assim, entendeu que ela nasceu sem o pecado original. Não é aqui o espaço para apresentar esse dogma, mas entendamos que o mesmo decorre do privilégio de ser a virgem Maria a mãe do Salvador. “Essa “santidade inteiramente singular” da qual Maria é “enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição” lhe vem inteiramente de Cristo: “Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime.

Cremos firmemente, como ensina a Bíblia e a Igreja Católica, que Maria nasceu sem pecado por pura graça de Deus, sem intervenção humana, sem mérito das obras, que sua santidade tem a fonte em Jesus Cristo, que ela foi salva por Sua morte de cruz, e que somente o modo em que a graça lhe veio foi diverso do nosso, pois no instante da concepção ou da existência Deus resgatou-a do poder o Maligno.

A fé católica é explicada nos documentos da Igreja, em especial no resumo condensado nos Catecismos, como o Catecismo da Igreja Católica. Essa é a manifestação oficial e definida da fé que o cristão católico deve ter, da forma como deve compreender, por ser de origem divina, e, portanto, está na Bíblia Sagrada e na Tradição cristã católica.

Do que foi expresso acima temos o ensino da Igreja que Jesus Cristo é o nosso fundamento da fé, e que a virgem Maria está associada a Ele por ter sido predestinada para ser Sua mãe, e que por isso recebeu a graça de ser livre do pecado de origem, e recebeu a santidade que vem do próprio Cristo, sendo salva por Ele. Essa é a fé católica crida por todo fiel cristão.

O Protestantismo não compreende essa doutrina, e geralmente tenta inculcar nos católicos aquilo que não faz parte da mesma. Essa foi a intenção de um ex-católico que em seu testemunho escreveu que apesar de ser católico treinado no ensinamento da Igreja, não entendia bem a doutrina e nem sua relação com a Bíblia, o que levou, junto com a espoca, a ter abalada sua “fé na Igreja Católica”. E, com intuito de esclarecer os católicos escreveu sobre a santidade de Maria, num dos capítulos de sua obra, sob o título: Maria: fonte de santidade.

Examinando o Catecismo no número 2030, o autor leu que “A Igreja Católica alega que a virgem Maria é modelo e fonte da verdadeira santidade: “Da Igreja aprende o exemplo de santidade; reconhece sua figura e sua fonte em Maria, a Virgem Santíssima. P. 534, #2030"”.

Vê-se pelo exposto que o autor cita o Catecismo e entende que o mesmo ensina que a santidade vem de Maria como sendo a “fonte” dessa santidade.

Contudo, como lemos acima no mesmo Catecismo nos números relativos à virgem Maria (cf. 487, 490, 492, 494), a doutrina ensina que a fonte de santidade é Jesus Cristo, e que a santidade de Maria vem do Seu Filho. Será que o Catecismo entrou em contradição? Obviamente, não, mas o autor citado não entende a doutrina católica ainda.

O número 2030 trata de “A Igreja, Mãe e Educadora”, e com isso mostra que os cristãos recebem a Palavra de Deus na Igreja, também os sacramentos, e que “Da Igreja aprende o exemplo de santidade [ênfase no original]. Entendamos bem: o assunto é o exemplo de santidade. A Igreja é colocada como exemplo.
E continuando na mesma linha ensina: “reconhece a sua figura e a sua fonte em Maria”. De que está tratando? Do exemplo de santidade que a Igreja tem em Maria e passa para os seus fieis. Essa é a citada “fonte”, que o autor não soube entender. No número 2031 o Catecismo ensina: “A vida moral é um culto espiritual”. Portanto, está falando dos exemplos de fé e obediência da Igreja, a qual a primeira é a virgem Maria, mãe do Senhor, que oferece essa “figura e fonte” ou “exemplo” de santidade como criatura em resposta ao Criador. Tudo radicado no exemplo perfeitíssimo de santidade que é JESUS CRISTO. Maria foi santa pela graça e benções que recebeu de Deus em Seu Filho. Jesus é a fonte. É a mesma doutrina da Bíblia.

O autor pensando que entendeu corretamente, avisa o católico que a Igreja exige que ele olhe para uma “frágil mulher” enquanto que a Bíblia manda olhar para o “Deus eterno do universo como seu modelo e fonte de santidade”. Esse é outro caso de deturpação da verdadeira doutrina católica, por alguém que foi católico, teve dificuldades em captar a real doutrina, deixou a Igreja, está tentando convencer os católicos de estar em erro, lê o Catecismo, que é a fonte abalizada da doutrina da Igreja Católica, mas ainda assim erra em sua leitura e veicula uma doutrina que a própria Igreja rejeita.

Observações: Católico, a Igreja ensina você a crer que Jesus é a Fonte de santidade, de onde provem a santidade, que somente vem de Deus. Ensina você a crer também que a virgem Maria é o exemplo primeiro de seguidora de Jesus, por isso é a fonte de modelo cristão, e nesse sentido exemplo fonte de santidade.
Mas, o protestante Rick ensina que você deve crer em Jesus como fonte de santidade! A Igreja Católica ensina: Jesus é a fonte de santidade, e o Rick também pensa o mesmo, e não acresceu nada. Mudou alguma coisa? Absolutamente, não. Então, que motivo você tem para mudar de fé?

Ainda, o protestante Rick ensina que você não deve ter uma criatura como fonte de santidade? Mas, se você compreendeu bem, a Igreja não tem Maria como fonte de santidade, ou da graça divina, mas somente a Deus. E o Protestantismo entende também que Maria pode ser exemplo de vida cristã para nós. Há alguma mudança de fé? Igualmente, não.

Portanto, se o Rick tivesse considerado esse ensinamento da Igreja, e entendido corretamente, não teria escrito o respectivo capítulo em crítica ao número 2030 do Catecismo.

Resposta à questão principal do cap. 18 do livro Por Amor aos Católicos Romanos, Chick Publications, de Rick Jones.


Gledson Meireles.

sábado, 25 de janeiro de 2014

O Primado de Pedro por São João Crisóstomo segundo William Webster

Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por Mim” (João 14,6)

Busquemos a Cristo, o nosso único Chefe Supremo, pois Ele é Deus, e pela fé na verdade de Sua doutrina demos-Lhe a honra devida.

Nesse artigo faço uma reflexão sobre a interpretação do erudito William Webster a respeito do primado de São Pedro segundo São João Crisóstomo. Iniciarei com algumas citações do santo padre, com comentários a respeito das mesmas, para melhor contextualização e entendimento do que diz em cada uma sobre o assunto.

São João Crisóstomo (407)
"Pedro na verdade ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apóia a fé e sobre a qual esta edificada a Igreja. Tendo confessado ser Cristo, o Filho do Deus vivo, foi lhe dado a ouvir: "Sobre esta pedra - a da sólida fé - edificarei a minha Igreja" (Mt 16:18). Tornou-se enfim Pedro o alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de Deus, quando após negar a Cristo e cair em si, foi buscado pelo Senhor e por Ele honrado com estas palavras : "apascenta as minha ovelhas" (Jo 21,15s). Dizendo isso o Senhor nos estimou a conversão e também a que de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitencia sincera e se corrige dos seus pecados" (Haer.59,c,8) [citação prof. Felipe de Aquino]

São João Crisóstomo fala de São Pedro como “a pedra sólida”, e sobre esta pedra está a fé, e sobre esta fé está edificada a Igreja. Portanto, se a Igreja está alicerçada na fé de Pedro o está sobre o próprio Pedro. É uma ligação clara entre a pessoa do apóstolo Pedro e sua fé, pois o mesmo em pessoa é a pedra sólida sobre a qual está a Igreja, e isso por causa da sua fé. Essas são a lições das palavras do doutor cristão. Não se pode colocar a pessoa de Pedro destacada de sua fé como se fossem duas coisas separadas, mas a fé fez dele a pedra escolhida por Cristo. A pedra é aquela “da sólida fé”, sim, mas não está desligada da pedra-pessoa, que é o mesmo apóstolo. Essa opinião protestante, que procura distanciar a pessoa e a fé nesse caso, não é uma concepção encontrada na Bíblia, em Mateus 16,18, nem nos escritos de são João Crisóstomo. Alguns dizem que a fé de Pedro, ou ainda a sua confissão de fé, tem como objeto a Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que então Ele é a Pedra de Mateus 16,18. No entanto, o que são João está mostrando é que Pedro é a pedra na qual está a fé sólida, também chamada de pedra. Ele não conclui como fazem os protestantes, numa opinião contrária ao primado petrino e ao papado.

Mais claramente, são Crisóstomo mostra Pedro como “alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de Deus”. Isso é indiscutível: Pedro pessoalmente é o alicerce-fundamento da Igreja nas palavras de são Crisóstomo. Tenhamos esses dados em mente, pois no decorrer da análise iremos nos deparar com as questões postas por Webster, e devemos respondê-las segundo são João Crisóstomo.

"Portanto Ele acrescentou isto, «E eu digo-te, tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; isto é, sobre a fé da sua confissão ... Pois Cristo não acrescentou nada mais a Pedro, mas como se a sua fé fosse perfeita, disse, que sobre esta confissão Ele edificaria a Igreja, porém no outro caso [João 1:49-50] não fez nada parecido, mas o contrário ..." (Homilias sobre o Evangelho de João XXI,1 (NPNF 14:73)) [82] [citação do cite apologistascatolicos]

Na passagem acima são Crisóstomo fala da fé da confissão de Pedro como a pedra. Vimos anteriormente que esse tratamento não está contrário à consideração da pessoa de Pedro como pedra, mas intimamente ligado a isso, pois a confissão de fé é ação pessoal do apóstolo, fé essa concedida e premiada por Cristo com o privilégio de ser fundamento da Igreja.

Eu gostaria de pedir aqueles que querem diminuir a dignidade do Filho: Quais são os maiores presentes que o Pai deu a Pedro, ou aqueles que o filho lhe deu? O Pai deu a Pedro a revelação do Filho, e o Filho deu-lhe a missão de trazer ao Pai e a ele mesmo o mundo inteiro, e a um homem mortal Ele confiou o poder sobre tudo o que está no céu, dando as chaves a ele que estendeu a Igreja em todo o mundo, e se mostrou mais forte que o mundo [citação site apologistascatolicos]
Essas considerações substanciam a doutrina do primado, pois Pedro é colocado pelo Senhor como tendo o poder sobre as coisas do céu através das chaves concedidas a ele.

As passagens acima já fornecem o quadro geral de que Pedro é a pedra da Igreja posta pelo Divino Construtor Jesus Cristo, e que por isso possui o primado. O Protestantismo nega o primado de jurisdição sobre os demais apóstolos e sobre a Igreja universal. No máximo aceita uma espécie de “liderança” do apóstolo e a individualidade de suas prerrogativas, sem admitir que o mesmo tinha recebido poder sobre os demais e sobre a Igreja, e que os bispos de Roma recebam em função do episcopado as mesmas prerrogativas.

Essa visão do Protestantismo encontra problemas quando lemos acima a exaltação que o apóstolo Pedro recebia dos santos padres, como atesta o reconhecimento do mesmo por são Crisóstomo. A apresentação de são Pedro por são Crisóstomo condiz com o primado, que considera ser a pedra, ser o fundamento, ter o poder sobre os céus, pelas chaves. Em hipótese alguma alguém poderia contrariar o primado de Pedro pelas palavras de são Crisóstomo. Não condiz negar-lhe o primado em seus escritos. Mas, como apenas estamos no início da conversa, tenhamos em consideração mais documentos do santo padre.

São Crisóstomo era profundamente reverente ao apóstolo, coisa que não aparece como nota típica na Teologia Protestante. Em são Cristóstomo Pedro é chamado “pilar” da Igreja, assim como outros apóstolos também recebem igual tratamento, mas certamente não encontra-se outro apóstolo que seja “fundamento da fé”. Esse título é exclusivo do apóstolo são Pedro. Destas considerações assim em contexto, fundamentadas nas palavras de são Crisóstomo, já se pode passar para o estudo do erudito protestante William Webster.

William reconhece a exaltação de Pedro por parte de são João Crisóstomo, porém qualifica que nos escritos do Padre da Igreja não há a doutrina da jurisdição de Pedro na Igreja nem de Pedro como a Pedra sobre a qual a Igreja está construída. As palavras do santo padre não teriam o “significado Católico Romano”. E qual a razão para essa afirmação? Webster considera evidências disso quando são João aplica “títulos similares” aos outros apóstolos e “não interpreta a rocha de Mateus 16 com sendo Pedro”. Um dos seus exemplos diretos é a aplicação a outros apóstolos, da mesma forma que a Pedro, do termo coryphaeus. Afirma então que o termo traz a ideia de liderança, mas não implica jurisdição. Dos demais exemplos conclui que o santo padre tem os apóstolos em “pé de igualdade relativo à autoridade”.

De várias passagens de são João, William entende que “enquanto que certamente reconheça grande papel de liderança a Pedro, não considera-o ter sido feito o governador supremo da Igreja”. E continua reforçando sua base para tal conclusão, de que os “exaltados títulos aplicados a Pedro não foram exclusivamente aplicados a Pedro”.

Enquanto crendo que sua apresentação possui uma visão balanceada de são João Crisóstomo quanto ao primado de Pedro, William fornece uma citação em que o santo padre “afirma que Pedro recebeu autoridade sobre a Igreja”. E, então, pareceria que William fosse reconhecer o status de autoridade de jurisdição de Pedro aí. Porém, completa com as passagens onde o padre concede as mesmas prerrogativas a João e a Tiago. Ainda, apresenta passagens em que são João Crisóstomo coloca são Paulo na mesma categoria relativa à autoridade. Acredita que por essas “razões” está refutada a tese católica do primado. Mas, será realmente correto que ainda que são João Crisóstomo aplique somente a Pedro como líder da Igreja e dos irmãos, ele também considere os demais apóstolos como líderes da Igreja e dos irmãos? Como veremos no decorrer do estudo, esse nunca foi o caso. Webster tropeça nesse particular. Suas citações das prerrogativas dos demais apóstolos em são Crisóstomo não mostram superação de autoridade em comparação com aquelas referidas a são Pedro.

Quanto à presidência do Concílio de Jerusalém, William mostra passagens em que são Crisóstomo afirmaria a autoridade de Tiago sobre Pedro. William explica que Pedro tem a liderança na pregação, a jurisdição “do ensino”, não sobre os apóstolos, e que essa autoridade foi “compartilhada igualmente por todos os apóstolos”. Isso já vimos anteriormente, mas é preciso expor mais um pouco a tese de Webster e compará-la devidamente com a doutrina de são Crisóstomo.

Consideremos os fatos que William até aqui mostra para substanciar sua posição: são João Cristóstomo aplica títulos semelhantes, como o de coryphaeus aos demais apóstolos, e não somente a Pedro, o que revelaria seu reconhecimento de que os apóstolos são “iguais” quanto à autoridade. Afirma também que são Tiago tinha alta autoridade no concílio de Jerusalém conforme as palavras de são Crisóstomo.

Por enquanto, paremos com a análise de William e comparemos com a refutação da mesma por Stephen Ray. É importante essa comparação já que ambos os eruditos tratam da questão diretamente com o fim de esclarecer satisfatoriamente suas posições, em crítica análise das respectivas respostas.

Steve explica que às vezes os santos padres falam da autoridade jurisdicional de Pedro, outras vezes não. Na tese de William são Crisóstomo não menciona essa autoridade referente a Pedro. Se isso é um fato ou não é o que devemos verificar, além do que é necessário elaborar as respostas sobre os dados que são Crisóstomo fornece. Temos, portanto, uma diferença básica entre o que diz Webter e o que afirma Stephen Ray. Webster nega o reconhecimento de são Crisóstomo da autoridade jurisdiconal de Pedro, conforme os motivos que considera contrários à mesma. Stephen por outro lado afirma que os padres da Igreja de fato mostram a autoridade de jurisdição de Pedro, mas às vezes não a menciona. Eles reconhecem essa verdade. Esse é o ponto que William nega. Será que sua posição está fundamentada realmente em são Crisóstomo? Será que o santo padre não mostra seu reconhecimento dessa autoridade de Pedro, e que suas palavras estão mais voltadas à concepção moderna protestante da negação do primado? Com vimos acima esse não pode ser o caso, visto que são Crisóstomo é totalmente católico também nesse sentido. No desenvolvimento do estudo ficará mais clara essa afirmação.

Steve continua enfatizando as palavras de são Crisóstomo sobre Pedro: “fundação da fé”. Também poderia ser dito sobre a afirmação: “quando eu digo ´Pedro´ eu nomeio uma rocha inquebrável”. William não explicou essas afirmações nos textos que citou como exemplos dos “exaltados títulos” que recebe são Pedro. Também, são Pedro é chamado de “boca dos apóstolos”. Esses títulos são diversos daqueles que os demais apóstolos recebem. Tiago e nenhum dos outros é referido como “boca dos apóstolos”, ou “fundação da fé”, mas somente a pessoa de Pedro. A afirmação de Webster já tem nesse ponto uma alcance limitado, e não pode refutar o que pretende.

A respeito do termo coryphaeus Steve tem total consciência do seu uso amplo, e sabe que não é sobre tal uso que o primado pode ser provado. No entanto, mesmo o termo em aplicação a outras pessoas pode não indicar que são Crisóstomo tivesse Pedro na mesma conta de autoridade. Nos santos Padres o termo coryphaeus é usado para o Espírito Santo. Portanto, não se pode afirmar um nivelamento de liderança pelo uso do mesmo. Então, Steve explica que o termo significa “”líder”, mas não nos conta que grau de autoridade aquele líder particular tem”. Em outras palavras, sendo coryphaeus alguém possui liderança, não sendo específico pelo termo em si que tipo e grau de liderança o mesmo possui. Não se pode afirmar que Pedro é um coryphaeus como o é são Tiago e os outros apóstolos. A comparação é frágil se se tem a mesma na conta de argumento.

Steve questiona a afirmação de William sobre a liderança não implicar jurisdição. Como isso se dá? De fato, não há explicação como que um líder pode não ter alguma autoridade de jurisdição. Isso é praticamente sem sentido, ou mesmo impossível. O termo sozinho não pode provar o primado, mas seu uso a diferentes pessoas não prova igualmente que todos possuem igual autoridade. Essa é a consideração pacífica entre os eruditos.

A comparação da cátedra de Tiago com a cátedra de Pedro, por são Crisóstomo, é bastante clara nesse sentido de diferenciação de autoridade, pois Tiago tinha autoridade sobre Jerusalém, enquanto que Pedro sobre o mundo. Todos os apóstolos receberam a autoridade sobre o mundo, em Mateus 28,19, diz Steve, mas que tem isso a ver com “igualdade” ao comparar a “autoridade de Pedro sobre os irmãos”? De Pedro é dito autoridade “sobre o mundo” e “sobre os irmãos”. A primeira comparação teria algum sentido, se se intenciona refutar a tese católica, mas a segunda afirmação desqualifica todo o argumento. São Crisóstomo considera Pedro como chefe sobre a Igreja no mundo e sobre os apóstolos. Nenhum dos demais apóstolos recebe tal consideração.

Na passagem citada por William em que são Crisóstomo mostra a preeminência de Pedro sobre os demais, a memsa não recebe nenhum comentário de William a esse respeito. São Crisóstomo fala da ordem de Jesus: “Apascenta minhas ovelhas” e pergunta por que passou pelos outros e direcionou as palavras a Pedro? Porque ele foi o escolhido, a boca dos apóstolos, o chefe, responde são Crisóstomo. Também nos remete ao caso de São Paulo, que visitou Pedro e não os outros. E após ter perdoado a negação de Pedro, o Senhor Jesus o coloca como chefe sobre os irmãos. Somente após isso menciona a missão dos dois apóstolos ao mundo (Mt 28,18-19). A citação da visita de Paulo a Pedro já especifica sua comparação de autoridade entre os dois. Mas, como William pensa ter ambos a mesma autoridade reconhecida por são Crisóstomo, é importante frisar algumas afirmações na passagem que William cita. São Crisóstomo fala de ambos NO CÉU como líderes do coro dos santos. Não se trata da autoridade de jurisdição na Igreja, que está evidente na distinção que o santo padre faz. Para esclarecer melhor, são Crisóstomo não tem Pedro e Paulo como possuidores da mesma autoridade na Igreja, mas na passagem citada por Webster, o qual tinha a intenção de mostrar isso nas palavras de são Crisóstomo, o que realmente é tratado tem a ver com as glórias de ambos os apóstolos, martirizados em Roma, no céu e na ressurreição dos mortos. Esse trecho não está tratando de autoridade em nenhum sentido. Webster usou a comparação de igualdade entre ambos de maneira imperfeita, aplicando seu status como santos no céu àquele de líderes na Igreja. Portanto, mais uma vez Webster mostrou-se sem provas para o que afirma.

Portanto, percebemos que a argumentação sobre os títulos semelhantes e a autoridade apenas de “ensino” do apóstolo Pedro, como afirmada por William Webster não resistiu a essa refutação. A posição de William está refutada até aqui. Continuemos com a análise de William sobre outros pontos de são João Crisóstomo.
É importante notar que na passagem em que são Crisóstomo fala da autoridade das chaves nas mãos de são João apóstolo, interpretada por William como texto que mostra a mesma autoridade universal de ensino de todos os apóstolos sobre as Igrejas no mundo, são Crisóstomo chama João de “pilar” das Igrejas, não de “fundação”. É uma distinção digna de nota.

William mostra que são Crisóstomo interpreta a confissão de Pedro como a fundação da Igreja. Vimos, porém, que o mesmo chama Pedro de “fundação da fé”. Mas William não concorda com essa acepção. Pode aceitar apenas que a Igreja é fundada sobre Pedro no sentido de estar fundada sobre a  sua confissão. Mas, não é isso a mesma coisa em são João Crisóstomo? As duas coisas não são inclusivas no mesmo sentido? O que Webster precisa entender é que ligando a fé à pessoa de Pedro, são Crisóstomo não tem em mente o que tem um protestante atual, o qual especifica que a confissão de fé é Jesus e não Pedro, e usa isso de maneira excludente em relação entre si do objeto da declaração e da pessoa do apóstolo. São Crisóstomo sabe que o objeto da fé é Jesus, mas a confissão de Pedro, sendo a fé do próprio Pedro, portanto, a sua própria pessoa, é a pedra da Igreja. Essa concepção é inegável, como já mostrado antes.

Mas, como entender que tendo a fé de Pedro temos a Pedro? Não seria isso referente à sua pessoa por intermédio da fé dele? Como entender isso quando trata de Antioquia? O padre Stanley Jaki mostra que os louvores de são Crisóstomo a Antioquia era apenas um prelúdio aos maiores louvores à Sé de Roma. Outra consideração que podemos fazer diz respeito à “confissão” de Pedro, uma vez que são Crisóstomo parece ligá-la sempre à sua pessoa, ao contrário dos teólogos protestantes que pretendem ver na confissão apenas o conteúdo da mesma, Jesus Cristo, quando o mesmo Senhor não o faz no Evangelho. Jesus dirige-se a Pedro em pessoa e lhe confere a graça de ser fundamento de Sua Igreja. Porém, sabemos que o Senhor Jesus Cristo é o Fundamento último, invisível, aquele Fundamento que sustenta todas as coisas, como o fundamento visível de Pedro. São duas metáforas que se deve ter em mente.

E sobre a transferência do status de Pedro aos bispos de Roma. William afirma “que todos os bispos são sucessores de Pedro”. Bem, como são Crisóstomo não trata da questão diretamente, não comentando-a, não se pode dizer que ele opunha-se à ideia do papada, por um argumento do silêncio. Steve fala sobre isso. De fato, argumentar sobre o silêncio é de pouco valor, ou de nenhum valor. Ainda, o que são Crisóstomo propõe é claramente a favor da doutrina do primado de Pedro, e não contra.

Sabemos que são João Crisóstomo nunca se opôs ao primado papal, “somente ele não comentou especificamente sobre ele”. As questões orientais que causaram “antipatia” em relação a Roma dizem respeito à política não a questões teológicas. Steve faz a pergunta proposta por Dave Palm sobre o motivo de nunca os cristãos ocidentais apelarem para os bispos orientais? O contrário sempre foi a regra: os sacerdotes, os bispos e até patriarcas apelavam para o bispo de Roma [o papa]. Por que nunca o contrário? Essa fato corrobora a doutrina do primado do papa.

Voltando à questão da “transferência” de status Pedro-Papa sucessores. Webster nega essa afirmação, e analisa a resposta de Steve, o qual cita são Metódio afirmando que a primazia de Roma não está assentada por ser essa a capital imperial, mas a primazia vem de origem divina. William Webster afirma que essa citação “de um teólogo oriental do nono século” é questionável. Por que “questionável”? Pelo conteúdo? Pela autoridade do autor? Por quê? Webster refere-se à origem obscura da fonte original Então, por não ser uma fonte totalmente conhecida, e ser de uma época posterior àquela da patrística, a resposta não é aceita por William Webster. Ele entendeu a afirmação, mas não concluiu nada sobre o sentido da mesma por lançar dúvidas quanto à sua origem.

Não há, porém, evidência de que a citação é espúria, mas apenas que não se sabe a origem certa, ou seja, seu autor. Steve mostra que o fato da citação ser do nono século é ainda mais impressionante, pois nesse tempo o Oriente estava próximo a cortar suas relações com Roma. É, portanto, uma “forte evidência” a favor do primado. E continua Steve, com razão: “Você pode ridicularizar a citação, mas você não a provou falsa e ela continua uma excelente citação.” Realmente, se alguém desconfia de algo não significa que esse não seja verdadeiro. Fica o fato de que as palavras de Metódio revelam a razão porque os cristãos consideram Roma como sede do Cristianismo. E Webster tem outro obstáculo aqui, que não conseguiu transpor.

O Protestantismo certamente não considerará a força desse documento pela afirmação que ele traz, sem indicar motivo satisfatório para isso. O autor William Webster apenas pode lançar “dúvidas” contra o mesmo, mas não objetar fortemente contra ele. Pode também tentar enfraquecer seu alcance, por ser de séculos mais tarde, mas não pode invalidar sua informação de que a Igreja, ainda que no Oriente, reconhecia Roma como o centro divinamente instituído da fé cristã. A citação está, portanto, em documento da época citada, século nono, e pode ser oriunda de documento mais antigo. É documento fidedigno.

Mas, felizmente não é o único que existe. Ainda mais antigo que esse há o documento de São Máximo Confessor (580-622), que era monge do Monastério de Crisópolis, e teólogo bizantino. Ele aplica Pedro e as palavras que Jesus disse a ele à Igreja Romana. Ele transfere esse conceito sobre Pedro à sé de Roma. Mostra que as igrejas do mundo inteiro, desde a encarnação do Verbo Jesus Cristo, têm Roma como “sua base e sua fundação”, pois Cristo prometeu a indefectibilidade dessa (cf. refere-se a Mt 16,18-19).

Igualmente, o Concílio de Calcedônia, repleto majoritariamente de bispos orientais, mostra que o episcopado considerava as palavras do Papa Leão como sendo de Pedro. Isso é transferir, considerar o sucessor de Pedro, aplicar as prerrogativas do apóstolo Pedro ao papa.

É provado também pelas palavras de São Jerônimo (345-420): “São Jerônimo é muito explícito em dar as prerrogativas de Pedro a Roma em um sentido exclusivo.” (Steve) Em carta ao papa Dâmaso, são Jerônimo refere-se à ortodoxia da sé de Roma, da fé de Pedro, e reconhece que em Roma pode-se ter o alimento puro [pois é de Cristo] para a alma. E refere-se ao papa como “sucessor do pescador.” Reconhece a autoridade de Pedro no Papa, embora, como bom católico, também afirme que seu Chefe é somente Cristo. [(Jerome, Epistolae, XV, To Damasus. Text. C. T. G. Schoenemann, Pontificum Romanorum Epistolae Genuinae, 374-378 as quoted in Shotwell and Loomis, pg. 658–659].

São Soforino, patriarca de Jerusalém, é outra prova de que a fé cristã considera o primado de Pedro no papa de Roma.

Temos, então, mais do que o necessário, como mostra Steve Ray, para provar a asserção cristã católica. Sabendo das dúvidas e da pouca receptividade de William Webster do documento de Metódio, temos outros documentos de comprovada autenticidade, e de séculos mais remotos, mas próximos da era patrística, mostrando a fé da Igreja no primado de Roma, e do papa como sucessor de Pedro. O documento de Metódio é claro nesse sentido, mas visto que William não ficou satisfeito com a informação do mesmo, ou com sua autoridade de fazer a afirmação que fez, Steve trouxe provas mais robustas. Com tais evidências históricas refutamos a ideia de Webster de que são Crisóstomo não transferiu para o papa as prerrogativas de Pedro. Primeiro, são Crisóstomo não trata diretamente da questão, e não se opõe em qualquer parte dos seus escritos a essa doutrina. Ainda, as provas históricas que foram mencionadas acima são pungentes e claras nesse sentido. Temos também o fato de que são Crisóstomo reconheceu no papa alguém para se refugiar, e como mostra Steve, atitudes como essa podem ser mais eloquentes que as palavras. Mais, ainda, são Crisóstomo tem o apóstolo Pedro na melhor consideração, estima e reverência entre os apóstolos. Não se nota qualquer diferença essencial da doutrina do primado nas raízes expostas por são Crisóstomo e nas manifestações mais esclarecedores vistas acima. Temos a mesma doutrina delineada em cada ponto.

No entanto, William Webster cita um dos mais eminentes teólogos católicos do século 20 para substanciar sua posição contra o primado de Pedro, Yves Congar. De fato, na citação que faz do Dr. Congar, esse afirma que são Crisóstomo não fala da primazia de Roma como de direito divino. Como vimos, porém, essa informação já está registrada, pois são Crisóstomo apenas silencia sobre a questão. Não há em seus escritos nada contrário a ela. Falta também das interpretações comuns de Mateus 16,16-19 num plano antropológico, espiritual, antes que o jurídico. Ele fala que a consciência do primado não atingiu o Oriente, pelo menos a ponto de evitar o cisma. Reconhece, porém, que Roma é tida como corte de primeira instância de apelação nos assuntos eclesiásticos e canônicos. Não é isso da mesma natureza do primado de Pedro e do papado atual? O que não há no Oriente é o reconhecimento do direito romano de governar suas igrejas nos assuntos de ordem disciplinar. Roma gozava de “primazia de honra”.

Deve-se ter nessas palavras a consciência de que nada nelas depõe contra o primado, mas o sustenta. De fato, os padres da Igreja, inclusive são Crisóstomo, tem em Pedro a fundação da fé. Sendo Roma a sé de Pedro, tem nela o lugar onde a fé cristã permanece intacta. Essa visão é muito distante daquela que tem o Protestantismo. Nos escritos de são Crisóstomo não há qualquer afirmação que em essência tenha familiaridade com a doutrina protestante, mas em cada instância revela sua natureza católica. São João Crisóstomo não concorda com o uso que  Webster faz de suas palavras arranjando erroneamente citações e tirando delas conclusões que não identificam o pensamento do doutor cristão. Conhecendo o texto bíblico de Mateus 16,18 e o pensamento de são Crisóstomo, ainda que nesse estudo não exaustivo, temos a certeza de ter refutado o pensamento de William Webster.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.


Gledson Meireles.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Pedro é a Pedra de Mateus 16,18

Em refutação à explicação do Lucas Banzoli  [apologista protestante no site que tem como objetivo refutar o Catolicismo: http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/] de que a pedra de Mateus 16,18, é a confissão de Pedro, segue-se a simples reflexão.

16 E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
17 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.
18 Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; 
[Tradução Corrigida e Fiel, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil]

Nos versos anteriores, 13-15, Jesus havia questionado a respeito da opinião do povo sobre Sua Pessoa, e também o que diziam os apóstolos sobre isso. Pedro responde prontamente: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Então, Jesus dirige-lhe também uma palavra, dizendo: “tu és Pedro”. Entende-se assim o contexto.

Pedro fez a confissão a respeito de Jesus como verdadeiro Messias e Filho de Deus, e Jesus mostra a ele que por sua fé será Pedro. Como entender isso?

O apóstolo Pedro chamava-se Simão, e era filho de Jonas. Jesus mudou seu nome para Pedro [em grego Petros], nome que vem de Kepha, transliterado na Bíblia como Cefas, e significa pedra. Assim, lemos em João 1,42: E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). Outras traduções, como a King James Version (em inglês) e a Bíblia de Jerusalém trazem também o termo como significando pedra, mostrando a unanimidade dos eruditos quanto ao sentido do mesmo.

Temos assim o diálogo entre Jesus e Pedro. Jesus questiona sobre Sua identidade, Pedro responde por revelação de Deus, e Jesus mostra a Pedro a missão que devia cumprir, e o motivo de ter recebido o nome Pedro. De fato, Jesus refere-se em todo o diálogo a Pedro, e a nada mais. Uma leitura atenta evidencia isso: a) Bem-aventurado és tu, b) porque to não revelou c) eu te digo que tu és Pedro. Assim, a sequencia somente pode ser dirigida a ele, tendo-o como referência: e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Temos Pedro em a-b-c, por que não estaria também na sequência normal do texto em d?

Cristo não diria tudo isso para sem razão mudar de objeto quando afirma sobre a pedra. Pedro é bem-aventurado (feliz), Pedro recebeu a revelação, Pedro foi nomeado pelo Senhor Jesus, Pedro é a PEDRA nessa passagem. Esse é o motivo de sua mudança de nome, ele foi encarregado de ser a pedra da Igreja onde Cristo iria construir. Então, nesse verso Jesus é o Construtor e Pedro o material da construção: a pedra.

Temos igualmente que prestar atenção aos dizeres do texto: “Tu és Pedro”. Para quem está familiarizado com o nome do apóstolo isso parece óbvio, pois ele é Pedro. Mas, o caso não é esse. Notemos que Pedro não fala: “Tu és Jesus”, pois ele conhecia o Senhor e sabia do Seu Nome. Ele diz: “Tu és o Cristo”. A palavra Cristo vem do grego, tradução do hebraico Messias (ungido). Assim, e como afirmar: “Senhor Jesus, tu é o Cristo”.

Da mesma forma, Jesus não diria, nesse sentido, ao apóstolo Tiago: “Tu és Tiago”, ou a Bartolomeu: “Tu és Bartolomeu”, nem ao mesmo apóstolo Simão: “Tu és Simão”. Diferentemente, ele diz a Simão - filho de João, para não confundirmos com o outro apóstolo, chamado também de Simão, o zelota. E, então, diz a Simão: “Tu és Pedro” (palavra que tem o sentido de pedra), ou seja: “Simão, tu és Pedra”.


Assim, fica claro o sentido: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja...” É com toda a certeza que Se refere à pessoa do apóstolo Simão Pedro. [o presente texto poderá ser editado/atualizado]
 Gledson Meireles.