domingo, 18 de junho de 2017

Identificando a Igreja em Corinto, na 2ª Epístola

Entre a comunidade de Corinto, na 2ª Epístola aos Coríntios, ressalta-se igualmente, e muitas vezes, a hierarquia eclesiástica.

A carta é proveniente de “Paulo e Timóteo” aos cristãos de Corinto e da Acaia inteira. É citado também Silvano, junto com Paulo e Timóteo, que são líderes cristãos.

A autoridade dos líderes é mencionada quando no capítulo 1, versículo 24, o apóstolo São Paulo afirma que não tenciona dominar a fé dos cristãos, o que denota o alcance do poder dos ministros sobre os fieis.

A obediência aos líderes é citada também. (2 Cor 2,9) Logo aparecem os líderes não-autorizados, e que não pregam a mensagem que é anunciada pelos apóstolos e seus ministros legítimos. Assim é que no verso 17 é dito que muitos traficam a Palavra de Deus, o que tem a ver com falsos pregadores.

Com isso, no capítulo 10, São Paulo faz uma exposição e defesa do seu apostolado contra os falsos apóstolos. Ele audaciosamente apresenta sua autoridade de ministro de Cristo, ameaçando usar dessa prerrogativa caso necessária, e punir toda desobediência (v. 6).

E a sua defesa inclui também outros ministros que estão consigo, o que é mostrado nos versículo 8 e 9.

A heresia e o afastamento da verdade é um perigo constante, e São Paulo o ensina em 2 Cor 11,3.

Havia muitos que pregavam um “outro Jesus” e outro espírito, apresentando-se como “eminentes apóstolos” (como são chamados por São Paulo). Os coríntios conheciam esses ministros, conforme 2 Cor 11,19-20, e os suportava, portanto, os recebia e eram coniventes com eles.

No entanto, na autoridade de Cristo, São Paulo os denuncia, e contrastando a sua autoridade apostólica com a deles, e fazendo paralelo de prerrogativas naturais, como a origem hebreia, israelita e abraâmica, e mesmo a ministerial, mostra os sinais do verdadeiro apóstolo, que incluem a paciência em todos os momentos, os sinais, os prodígios e os atos portentosos, diferenciando deles. (cf. 2 Cor 12, 12)

Em todo esse ínterim, aqueles pregadores são tratados por São Paulo com dureza, e são chamados de falsos apóstolos e de ministros de Satanás. (2 Cor 11, 13)

Enquanto que, os apóstolos, todos eles, caminham no mesmo espírito (2 Cor 12,14) e apresentam as mesmas características do apostolado. (2 Cor 13,11)

Nesse cenário, ali na Igreja de Corinto e na região da Acaia, os cristãos são mostrados como submissos à autoridade única do colégio apostólico, na pessoa do apóstolo Paulo e daqueles que ele havia instituído para apascentar aquelas ovelhas, como são mencionados São Timóteo e São Silvano.

Exercem paternidade espiritual (2 Cor 12,14), vivem em unidade (v. 18: (...) “Não caminhamos no mesmo espírito? não seguimos os mesmos passos?), e possuem autoridade e (v. 20 “Com efeito, receio que, quando aí chegar, não vos encontre tais como vos quero encontrar e que, por conseguinte me encontrareis tal como não quereis.”). São a eles que os cristãos de Corinto devem obediência, são eles os que estão investidos de poder para exortar, organizar, alimentar com a Palavra de Deus e punir os desobedientes entre os coríntios.

Os outros que, ao que parece, foram investidos de autoridade ministerial, mas que pregam diversamente, apresentam outro Jesus e outro espírito, esses são chamados de falsos apóstolos e ministros de Satanás. Assim, sua doutrina é enganosa, leva à perdição, e esses não devem ser suportados na Igreja, que deve recusar ouvi-los e ter comunhão com eles, a menos que cheguem à unidade de fé com os verdadeiros ministros, que são os apóstolos e todos os seus colaboradores, que ensinam a mesma doutrina, o mesmo Jesus, o mesmo espírito, e possuem as mesmas características dos ministros do Evangelho.

De fato, a Igreja deve espalhar-se por todo o mundo, por meio dos diferentes ministros que levam a mensagem salvífica a diversos lugares, tendo cada um o ministério responsável onde ele anunciou primeiro. O costume paulino de não entrar em campo alheio (cf. Rm 15,20-21) com autoridade como se fosse o primeiro a ali chegar, é o que trata nos versos 14 a 16: (cf. por exemplo o v. 15: “Não nos gloriamos desmedidamente, apoiados em trabalhos alheios; e temos a esperança de que com o progesso da vossa fé, cresceremos mais e mais segundo a nossa regra.”)

E com isso, vemos a unidade da Igreja, em nível local e universal, pois São Paulo confirmava a autoridade dos demais apóstolos antes dele, e de colaboradores por eles instituídos, e ia a campo levar o evangelho a outras regiões, como diz que faria além da região de Corinto e Acaia. (2 Cor 10, 16: “levando mesmo o evangelho para além dos limites de vossa região, sem, porém, entrar em campo alheio para nos gloriarmos de trabalhos lá realizados por outros.”)

Dessa forma, a presença de pecadores na Igreja, seja de modo geral seja em sua acepção local, bem como a existência de pessoas que exercem liderança, mesmo aquela reconhecida e legítima, mas que iniciam uma atividade contrária às demais lideranças anteriores a elas, e entram em cena com mensagem diferente, não significa divisão na Igreja, nem exemplo de ramificação cristã, uma vez que esses são identificados como usurpadores, falsos apóstolos, ministros de Satanás, enganadores, e são denunciados e mostrados como não tendo autoridade e nem devendo ter acolhida na Igreja, o que levanta barreira a toda e qualquer seita e heresia.

Por esses motivos, essas passagens não significam qualquer aprovação à criação de cisões, seitas ou igrejas separadas da única autoridade visível instituída por Jesus, e essas são duramente denunciadas. Não há lugar na Bíblia para a existência de qualquer “denominação” distinta por características tais, ao lado de outra “denominação” em semelhança doutrinal (em alguns pontos definidos somente) como é apresentado na teologia protestante, mas apenas Igrejas existentes em diversas regiões, lideradas por ministros unidos na mesma fé, segundo os mesmos princípios, reconhecidos como parte do mesmo ministério cristão, com autoridade igual em toda parte, e formando uma única Igreja.
 

sábado, 10 de junho de 2017

Henrique VIII: católico? protestante?

Leiam o artigo: Mais uma da fábrica de mentiras da apologética católica: Henrique VIII era protestante?
 
O rei Henrique VIII está muito longe de ser um protestante, mas também está longe de ser católico, tanto pela sua oposição a Roma, como pelas suas atitudes contra padres, bispos, mosteiros, conventos e peregrinações (e etc.), e por sua vida nada santa a partir de então.
 
Pode não ser um protestante, mas deixou também de ser católico, e nem mesmo pode ser um "meio protestante" ou um "meio católico", como o artigo do link abaixo mostra: ele foi um reformador diferente.
 
É um fato que a Igreja inglesa abraçou o protestantismo, não sendo mais católica, e isso foi facilitado após a atitude do rei Henrique VIII.

Como mostra o artigo que pode ser acessado aqui, o rei via a si mesmo como um reformador, alguém que tinha a missão de purificar a Igreja. Era um reformador a seu modo, diferindo de Lutero, Zuínglio e Calvino, e dando início a um quarto ramo protestante.

De fato, mesmo Lutero, Zuínglio e Calvino consideravam-se os verdadeiros católicos. O rei Henrique VIII foi diferente dos demais reformadores, e não foi por sua intenção de permanecer católico, mas porque o rei manteve praticamente toda a fé católica intacta em sua reforma, atacando, na prática, o poder do papa, negando a supremacia papal, enquanto também fechava conventos e mosteiros, e era contrário às peregrinações aos santuários, o que o coloca mais  próximo dos demais reformadores. Era católico à sua moda: sua atitude favoreceu demais o protestantismo. Fato: a Inglaterra deixou de ser católica a partir dele. Foi um afastamento progressivo.

Gledson Meireles.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Sim, João escreveu o quarto evangelho (parte 2)

Na refutação do artigo sobre a autoria do evangelho de João, foram mostradas falhas nas tentativas de mostrar evidências convincentes de que João não pudesse ser o autor, e ainda foi inferido qual poderia ser o suposto autor, pelas indicações nas entrelinhas do artigo, e adiantadas algumas indicações que mostravam não serem plausíveis as tentativas de refutação feitas contra a autoria do apóstolo João. A inferência foi correta.

Agora, a parte 2 revela quem seria o autor do evangelho de João: O autor do quarto evangelho, finalmente desvendado! (parte 2).

Para ajudar a refutar essa afirmação, algumas reflexões são importantes:

·       A certeza “absoluta” da autoria do evangelho não é reivindicada, apenas a probabilidade maior da constatação tradicional reconhecida pela Igreja durante toda a sua história.

·       As evidências iniciadas no artigo anterior, não foram suficientes para demover a posição de João como o quarto evangelista. Vejamos se nessa nova tentativa isso seja mostrado.

·       A hipótese de que o Tiago chamado “irmão” de Jesus não era apóstolo, e que era um incrédulo durante muito tempo, como afirma dos irmãos de Jesus em João 7,5, torna curioso esse mesmo “irmão” seja o mais próximo de Jesus, o discípulo amado, aquele que esteve com Jesus até o fim, amigo do Sumo Sacerdote, e que entrou na casa do mesmo para falar com ele como representante familiar do Senhor Jesus, e ainda assim não fosse conhecido publicamente como seguidor de Jesus. Esse cenário é incrível.

·       Assim, todos abandonaram Jesus (Marcos 14,27 e Mateus 16,31), menos o grande “incrédulo e amado” Tiago. Soma-se a isso o fato de ser esse “irmão” que nunca seguiu Jesus até, hipoteticamente, pouco antes de Sua morte, e ser ele também o responsável por cuidar de Maria.

·       Jesus teria falado o “Ei aí a tua mãe” a um filho de Maria, o que é uma “redundância desnecessária”, como a lógica nos impele a pensar, e o autor do artigo, em outra circunstância, concordou com esse absurdo.

·       A razão dos outros apóstolos não estarem aos pés da cruz foi o abandono deles, e não por não terem sido permitidos.

·       Da mesma forma que João não é mostrado em outros textos cuidando de Maria, Tiago também não o é.

·       Maria não é associada a João em Atos 1,13-14, e da mesma maneira não é associada a Tiago, mas aos irmãos (no plural) de Jesus, o que faz com que essa informação seja inócua para desbancar a autoria joanina do quarto evangelho, pois não favorece nem minimamente a de Tiago.

·       Tiago apóstolo era figura eminente em Jerusalém, e citado com essas características desde os evangelhos, o que não combina com alguém incrédulo por tanto tempo, e que alcançou rapidamente um posto que nenhum dos (demais) apóstolos havia alcançado, em termos de sua notoriedade na Cidade Santa.

·       A conversão dos irmãos de Jesus certamente deu-se no mesmo tempo, e Tiago não era diferente deles. A hipótese de ser o mais idoso dos quatro citados não explicaria o ser o discípulo “amado”.

·       É outra curiosidade o discípulo “amado” não ser do grupo dos doze, que foi escolhido por Jesus para levar o evangelho a Israel e a todas as nações.

·       Leiam o artigo de refutação anterior, é vejam se é evidente que João não é o autor do quarto evangelho, e se é absurdo pensar que é.

·       Uma das afirmações mais fracas, e que tem a intenção de provar que Tiago é o discípulo escritor do quarto evangelho, é tentar colocar alguém mais, que não os doze apóstolos, na última ceia. Enfim, encher a cena de outras pessoas.

Sua presença na Ceia não deve causar espanto, uma vez que o costume dos judeus era sempre de cear com a sua família, e Jesus não iria abandoná-los justamente naquele momento tão importante, a última de todas as ceias.
 
Gledson Meireles.