domingo, 10 de dezembro de 2017

O Milênio segundo as Testemunhas de Jeová

Segundo a doutrina das Testemunhas de Jeová, pouco antes da tribulação acontecerá a selagem do remanescente dos 144.000, que não integrantes do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. (cf. Ap 7,1-3)

Após isso, haverá a tribulação, acontecerá o ataque à religião, e a Igreja deverá ser protegida por Deus. (cf. Ap 17,16) Esse ataque será abreviado (Mt 24,21.22) Então, os fenômenos celestes aparecerão, e haverá guerra contra a Igreja, o julgamento, a separação das ovelhas e dos cabritos, e o ajuntamento do restante dos ungidos, que são os 144.000.

Aí é entendido o texto de Mateus 13,27; Mateus 24,31. Isso será durante a tribulação. Nesse tempo, portanto, os 144.000 seriam arrebatados, e iniciariam o reinado com Jesus Cristo.

Estando já no céu, usariam do poder dito em Apocalipse 2,26-27 na guerra de Jesus com os inimigos, no Armagedon (Ap 16,16).

Nesse momento, segundo esse esquema, os cabritos serão condenados e as ovelhas sairão da tribulação, como é entendido o texto de Ap 7, 9.14.

Depois disso, Satanás e seus demônios serão postos no abismo, por mil anos. Essa é uma condição de inatividade (cf. Ap 6,2;20,1-3)

Começando o milênio, Cristo governaria com os 144.000 no céu, para fazer a vontade de Deus na Terra. Textos como Isaías 65,20-22. Após isso, Jesus entregaria o Reino ao Pai, como está em 1 Cor 15,25-28. O teste final, da humanidade com Satanás, acontece após o milênio, quando esse é solto. O que vencerão viverão para sempre “um futuro promissor”.

Pode-se fazer o seguinte esquema (se alguma imprecisão ocorrer, serão feitas correções, com base na doutrina original das Testemunhas de Jeová).

1.   Selagem dos 144.000

2.   Tribulação

3.   Julgamento das ovelhas e cabritos

4.   Ajuntamento dos 144.000 ao céu

5.   Ataque de Gogue de Magogue

6.   Prisão de Satanás.

7.   Reino Milenar

8.   Pessoas trabalhando no reino na terra sob o governo do céu.

9.   Soltura de Satanás.

10.                     Julgamento e libertação dos filhos de Deus. (Romanos 8,21).
 
Ensina-se que o milênio será o momento em que as pessoas da grande multidão transformarão a Terra em um paraíso, enquanto os ungidos já estão completos no céu. Esses cristãos que estarão na terra passarão por um teste final quando Satanás for solto. Assim, terão uma chance do converter-se por mil anos. Então, nessa doutrina os que vão ao céu somente são 144.000. O restante permanecerá para sempre na terra. O milênio é tempo de governo de Jesus e 144.000 sobre o restante na terra.
Deve-se analisar essa doutrina.
 
Gledson Meireles.

Reflexão sobre Apocalipse 20,1-5

O texto sagrado de Apocalipse 20 é um dos mais difíceis do livro. Mas, podemos entender muitas coisas, e tirar delas muitos outros ensinamentos.
 
O anjo desce e trancafia o Dragão no abismo por mil anos. As almas voltam à vida e reinam com Cristo nos mil anos. (Ap 20,4) Essa é a primeira ressurreição.
 
O livro afirma que é sorte feliz e santa de quem participa dessa ressurreição porque sobre eles a segunda morte não tem poder. Isso nos leva a entender que não morrerão mais, não serão condenados.
 
Outra parte muito interessante da visão é que as almas são vistas voltando à vida. Se no mortalismo a alma é fundamentalmente a junção de matéria e espírito (fôlego de vida), o profeta não poderia ter visto almas, já que essas não existiriam.
 
De fato, a matéria havia sido decomposta e o espírito não mais estava ali, pois está tratando de mortos. Depreende-se isso da visão mortalista.
 
O apóstolo não poderia ver as almas se essas não existissem. Ainda, afirma que essas almas voltaram a viver. O texto não diz que foram vistos  "aqueles que foram decapitados", mas que suas almas foram vistas: "as almas daqueles". Essas mesmas almas voltam à vida (psychas - ezesan) Temos a prova da dualidade do homem nessa afirmação.
 
Se se fala da morte física como a primeira morte, então os ressuscitados não morrem mais. Mas, é ordinário que todos os homens morram uma só vez (Hb 9,27), vindo após o juízo. Se a morte física é pensada apenas para os condenados, a segunda morte é mesmo apenas outra morte igual à primeira, da qual não se volta mais.
 
Contudo, se pensamos que há almas após a morte, e portanto existe consciência, podemos pensar igualmente que a segunda morte é realmente a condenação, uma morte espiritual, que irá tragar os réprobos.
 
O texto do v. 5 mostra que os outros mortos não ressuscitaram antes do milênio. Se esses mortos são salvos, então ressuscitarão com a possibilidade da segunda morte ter poder sobre eles. Somente os que participam da 1ª ressurreição são felizes por não ter mais essa má sorte.
 
Se assim fosse, os ressuscitados na 2ª ressurreição deveriam ter "segunda chance", já que ressuscitariam para não morrer ou morrer, dependendo de algo mais. Pensar isso é herético.
 
Por isso, os outros mortos que não ressuscitam e que não reinam no milênio estão condenados. A segunda morte tem poder sobre eles.
 
O milênio é, assim, o tempo da vitória de Cristo com os Seus, reinando. Pode-se aplicar a todos os que estão no céu e na terra reinando espiritualmente com Jesus, e que o milênio é, pelo mesmo, também espiritual.
 
Os mortos, aquelas almas vistas, vivem e reinam com Jesus no céu agora. Os vivos batizados e cheios da graça de Deus reinam agora com Jesus, mesmo vivendo na terra. Temos o entendimento do reinado espiritual. A segunda morte não tem poder sobre quem está com Cristo, pois não há condenação para quem vive em Cristo (cf. Romanos 8,1).
 
Os outros mortos não vivem e não reinam, pois são réprobos, e quando ressurgirem a segunda morte terá poder sobre eles.
 
Por essa leitura de Ap 20,1-5, temos evidência da imortalidade da alma, do milênio espiritual, da segunda morte como condenação.
 
Gledson Meireles.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Algumas afirmações sobre o início da Reforma Protestante

Sendo a Alemanha no século XVI “o país mais “igrejeiro” da Europa”, é já um indício de que a Reforma é um movimento essencialmente religioso e somente em segundo lugar tem seu aspecto político, social e cultural.
A Igreja alemã era fiel ao papa, os alemães eram bastante religiosos, mas muitas superstições predominavam entre o povo.
O historiador fala da venda de indulgências: “Havia muitas coleções de relíquias e a venda de indulgências se multiplicava”.
A literatura cristã era lida com muito apreço.
Os impostos eram pesados, e o fiscalismo era grande.
Os padres paroquiais eram mal formados, pobres e viviam com concubinas. Williston Walker observa que os leigos estavam tornando-se mais alfabetizados, e por isso notavam essas situações com mais clareza.
Entre o secularismo e a indiferença religiosa e o despertar para uma exigência de que a Igreja fosse mais pura, essa última apenas afetava a “igreja institucional”, como diz Walker.
A ironia é que a igreja romana, no meio de uma nova onda de devoção religiosa, deixou de exercer a liderança moral e espiritual nos escalões mais elevados e foi incapaz, no nível espiritual, de nutrir e guiar       a piedade leiga que estava germinando.” (W. Walker)
Afirma ainda que a Igreja ensinava “que apenas uma fé ativa em obras de amor poderia ser uma fé salvífica”. (p. 491)
O problema da certeza da salvação, o sacramento da penitência visto como opressor por causa da ideia dos benefícios espirituais vinculados à questão financeira era enorme.
As pessoas aderiram em grande escala à reforma porque essa atendia ou prometia atender às necessidades das pessoas. Afirma que foram pessoas sinceras que perseguiam a salvação e auxílio na igreja, e com “amor desiludido” que tornaram-se protestantes.
Fala da querela de Johannes Reuchlin a respeito de Pfefferkorn.
Então, em 31 de outubro de 1517 um professor de universidade alemão protesta contra um abuso eclesiástico: “Tal protesto encontrou resposta imediata e disparou a maior de todas as revoluções na história da igreja cristã.” Portanto, do que o historiador afirma, a reforma é também uma revolução.”
Os frades agostinianos deviam pregar e estudar a Bíblia. Williston Walker afirma que Lutero “era um teólogo brilhante e erudito de primeira qualidade”. Lutero não encontrava paz de espírito no mosteiro.
No lugar das obras Lutero entendeu que a relação com Deus está pautado na confiança absoluta na promessa divina de perdão por causa de Cristo. A fé é a firme confiança do coração na misericórdia de Deus por causa de Cristo.
Williston Walker afirma que Lutero repudiou radicalmente o ensino dos teólogos escolásticos antigos, que ensinaram que o homem pode cooperar com sua salvação após a justificação, praticando obras meritórias, pois está vivendo em um estado de graça.
Ele também condenou os primeiros escolásticos por ensinarem que pecadores justificados cooperam em sua salvação mediante a realização de obras meritórias dentro de um estado de graça”.
Afirma que, em 1516 Lutero falava da fé que justifica o homem que é humilde, mas em 1519 ensinava a fé somente.
Os companheiros de Lutero foram André Bodenstein de Karlstadt e Nicolau von Amsdorf.
 
Fonte: História da Igreja Cristã, de Williston Walker.
 
Gledson Meireles.
 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

O que é a alma? Como explicar a ressurreição?

1)   Para o imortalismo, que é a doutrina bíblica, o corpo é a parte material do homem, e a alma é a sua parte imaterial, criada no instante em que Deus soprou o espírito de vida e criou o homem (Gn 2,7). A alma vivente é, segundo a linguagem bíblica, a própria pessoa viva. Dessa forma, e nesse sentido, a alma pode morrer, pois a pessoa é mortal. Uma alma morta significa uma pessoa morta. No entanto, o que costumamos chamar de alma é a parte que é muitas vezes mostrada na Bíblia como sendo o que restou do homem, em sua consciência, após a morte. Como está na parábola do rico e Lázaro.
 
O espírito de Deus é o que mantem a ligação do corpo com a alma e, portanto é o que mantem a pessoa viva. Extinguindo-se naquela pessoa o espírito, alma separa-se do corpo e o resultado é a morte. É por isso que na morte o espírito volta para Deus (Ecl 12,7), o corpo volta à terra, e a alma é julgada e vai para o céu ou para o inferno. Essa energia de Deus que vivifica o homem não é pessoal, não tem consciência, mas a alma humana que separa-se do corpo tem. Ela também é chamada de espírito. No Antigo Testamento a alma descia ao sheol. Desse modo, explica-se que não há santos no céu no AT, mas almas na escuridão e quase sem ação. Então, entendo que o mortalismo nega a existência do que chamamos de alma.
 
2)   A ressurreição é a vivificação do corpo e a sua união com a alma, que aguardou esse dia no céu, como está em Ap 6,9, no caso dos justos. É o poder de Deus que faz isso, recriando da terra o mesmo corpo e o glorificando, e ligando-o com a alma que já havia criado. Assim, é a mesma pessoa que volta a viver, já que a matéria foi corrompida totalmente mas não desapareceu, e a alma permaneceu consciente. Portanto, ao falar que os corpos voltam à vida afirmamos o mesmo que está em Mateus 27,52, que fala dos corpos que dormiam. O problema dos mortalistas é real e insolúvel: o corpo que voltará à vida é recriado, e recebe o espírito (energia) de Deus com a memória e tudo o mais que Deus conservou em Sua própria memória, ou de outro modo que ninguém sabe como explicar. Sabe-se apenas, logicamente, que é virtual essa “existência", já que essas memórias não estavam como seres em lugar nenhum no universo nem no mundo espiritual, pois do contrário seria o mesmo que explicamos sobre a alma.
 
Assim, a pessoa é uma “recriação” no sentido mais pleno da palavra, o que nos impele a admitir que é outra pessoa igual à que antes viveu, mas não pode de forma alguma ser a mesma, pois nada dela permaneceu após a morte: o corpo voltou ao pó e toda sua personalidade deixou de existir. Deus então, pelo Seu espírito, sopra novamente o espírito e cria novamente aquela pessoa. Para o imortalismo não há esse problema racional, pois o corpo é o mesmo, só que glorificado, ligado à mesma alma que nunca deixou de existir, e que manteve a memória, a vontade e os pensamentos de cada pessoa. Por isso é a mesma pessoa que é ressuscitada.
 
Gledson Meireles.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O texto perfeitamente claro de 1 Coríntios 9,5

Na defesa da tradução protestante para o verso de 1 Cor 9,5, o artigo As Bíblias protestantes “adulteraram” 1ª Coríntios 9:5 para dizer que os apóstolos eram casados? afirma que o texto é perfeitamente claro é que a tradução “esposa crente” é definitivamente a correta.

O contexto é imprescindível para avaliarmos essa questão, e aqui apresentarei algumas evidências que mostram não ser correta a tradução acima, assim como falhas na defesa da mesma feitas no artigo.

O apóstolo Paulo estaria realmente falando de esposa, um direito que ele abria mão, e não teria sentido abrir mão de levar uma colaboradora apenas. Só mesmo o sentido de esposa explicaria o versículo.

1.  São Paulo não abriria mão de levar consigo colaboradoras, pois Jesus tinha esse costume, e era mais abnegado que Paulo.



De fato, é plausível pensar que São Paulo contasse com mulheres irmãs colaboradoras em seu ministério. Certamente, havia sim aquelas cristãs que ajudavam nos serviços de ministério a ele e aos outros colaboradores, ao menos em algumas ocasiões, como exceções. Em geral, também, pode-se pensar sem problemas que ele abriu mão desse direito.



2.  São Paulo não citou o exemplo de Jesus quando falou abertamente de sua condição de celibatário. Isso mostra que não é sempre o requisito nessas questões, ainda que fortalecesse seu argumento.

3.   Essa questão no item 3 é a mais frágil. O contrário é que é de se estranhar: Por que levar a própria esposa em viagem seria algo tão importante assim a ponto de ter que dizer que poderia reivindicar esse direito, e ainda citar o exemplo dos apóstolos e dos irmãos de Jesus? O que há de tão especial em andar acompanhando das respectivas esposas?

Alguém percebeu isso? Andar com outras mulheres poderia dar lugar a escândalo, ao passo que com as próprias esposas isso seria o quase impensável.

4.  Sendo assim, o item 4 já fica respondido.

5.  São Pedro certamente poderia ser viúvo, abrindo mão de casar-se novamente. De fato, ele afirma que os apóstolos e ele deixaram tudo (cf.Mc 10,28; Lc 18,28) para seguir Jesus, no mesmo instante que o Senhor Jesus cita, entre outras coisas, a renúncia a permanecer casado ou contrair casamento, pois incluir deixar esposa e filhos! Usando o bom senso, Pedro poderia por certo ser viúvo, já que quando da cura da sua sogra, não aparece sua esposa em casa, o que é minimamente estranho, e foi sua sogra que, recobrada a saúde, serviu a todos naquele momento. Assim como Pedro poderia servir-se dos trabalhos das colaboradoras, Paulo também usava (e poderia usar) desse direito de ministério apostólico.

6.  O problema é que o texto usa o indefinido: “uma mulher” e não diz, como seria esperado: “nossa esposa crente”. Ele diz: levar conosco uma mulher irmã! Estranho para a tese de que era uma esposa. Primeiro por que ele diz no plural: nós: Levar coNOSCO. O mais claro seria: Não temos o direito de levar conosco nossas mulheres crentes ou nossas esposas crentes, ou nossas mulheres cristãs ou nossas esposas cristãs, e frases nesse sentido. Mas afirmar que “nós” temos o direito de levar “uma” mulher cristã é outra coisa, e bem estranha para tratar-se de respectivas esposas. Além disso, é útil ressaltar, a palavra “uma” é artigo, e não numeral. Do contrário, estaria aludindo ao direito de levar uma e não duas ou mais esposas!, o que pioraria mais a questão moral da tese.

7.  Paulo e Barnabé abriam mão do direito de levar esposas? Óbvio que sim. Paulo já havia deixado claro seu estado de celibatário. Mas era esse o tema: o direito de levar as esposas? Vejamos: ele cita o direito de a) comer, b) beber e c) levar uma mulher irmã. E logo após pergunta sobre o direito de ter o sustento devido: d) deixar de trabalhar para termos sustento. Isso significa claramente que os apóstolos, todos eles, podiam comer, beber, ter colaboradoras (pois os colaboradores homens eram pregadores do evangelho também, uma tarefa que as mulheres não exerciam da mesma forma, já que o ministério apostólico é exclusivamente masculino) e deixar de trabalhar para serem sustentados pela igreja. Paulo podia também ser sustentado pela igreja, ter colaboradoras e, portanto, não trabalhar. Mas ele abria mão desses direitos, salvo raras exceções, quando fosse mais necessário.  De fato, o “come, bebe, regala-te” citado, que também tem ligação a 1 Cor 10,7, está em contexto de reprovação. Paulo não reivindicava comer, beber e divertir-se!!!, e seria blasfemo citar Lc 12,19 e 1 Cor 10,7 (e outros) para explicar 1 Cor 9,5. O contexto afasta essa falsa exegese aludida.

Observação: A afirmação de que Pedro só tinha um irmão e nenhuma irmã vai além do que podemos observar na Bíblia.

Por que os estudiosos protestantes insistem que a “mulher irmã” é uma “esposa”?  (Traduções nesse sentido: “esposa crente”, uma “mulher cristã como esposa”, “uma irmã como mulher”.).

Ellicott afirma que o motivo é que São Paulo menciona Pedro. Por ter sido casado, o apóstolo Pedro sendo citado tornaria a referência uma “prova” de que a mulher irmã era sua esposa!!!

Assim, entendeu o autor do artigo, dizendo que esse fato “elimina qualquer chance de Paulo estar falando de uma mulher que não fosse a esposa”.

Vejamos as palavras do comentarista: “Mas como o apóstolo ilustra seu significado por uma referência a Pedro, que sabemos que teve uma esposa, essa interpretação é inadmissível.

No Pulpit Commentary aparece a alusão de que a conduta de andar com mulheres cristãs como colaboradoras pudesse levantar suspeita sobre a conduta moral dos apóstolos: “mas apóstolos e verdadeiros cristãos nunca teriam sido culpados de qualquer conduta que pudesse dar base para levantar suspeitas.

No Gill´s Exposition of the Entire Bible estaria a refutação e a demonstração de que é “ilógico e tendencioso” entender “colaboradora” no lugar de “esposa”. É apresentado o correto entendimento da passagem:

que é mostrar o direito que ele e os outros tinham, de serem inteiramente mantidos pelas igrejas, considerando que isso é uma forma de aliviar as igrejas de tal carga”.

E logo após, uma interpretação superficial do texto:

acrescente a isso que, se os apóstolos levassem com eles, onde quer que fossem, mulheres, sejam ricas ou pobres, que não fossem suas esposas, não seria de boa fama e poderia prejudicar seu caráter e reputação”.

Superficial porque o comentarista se esquece que Jesus e os apóstolos tinham o mesmo costume que ele aponta como motivo de não ser de boa fama e prejudicial para o caráter e reputação dos apóstolos!!!

A tradição de que fala Clemente de Alexandria, e que Eusébio usa em sua obra História Eclesiástica, Livro III, capítulo 30, está evidentemente errada, pois é dito que Paulo não levava sua esposa para “facilitar seu ministério” e que ele menciona sua esposa em uma das suas epístolas, interpretando ser o lugar esse de 1 Coríntios 9,5!!! Ambos os intérpretes antigos caíram nesse erro, já que no capítulo 7 da mesma epístola São Paulo apresenta claramente, sem qualquer sombra de dúvidas, que ele era celibatário.

Quando Clemente usa uma tradição que entra em contradição com os dados bíblicos, devemos fazer o quê, se não rejeitar?

Matthew Henry afirma que essa passagem inclui o “direito de se casar” no argumento de Paulo.

O Enduring World Bible Commentary afirma: “Paulo, como todos os apóstolos, tinha o direito de levar uma esposa crente.” Esse de fato, como foi provado, e o será ainda mais adiante, não é o assunto em questão em todo o capítulo.

Coffman´s Commentaries of the Bible entende isso: “O que está em vista, como observou Morris, não são os direitos dos apóstolos se casarem, o que ninguém no primeiro século teria levantado qualquer dúvida.” Mas, entende que todo contexto pode-se afirmar que Pedro, sendo citado, continuou casado: “Assim, é certo que Pedro não abandonou o estado de casado para cumprir seu cargo apostólico,

No William Barclay´s Daily Study Bible tem a explicação de que a reivindicação de Paulo era respectiva ao “apoio da igreja” tanto para si como para uma esposa.

Adam Clarke afirma que esse verso traz o sentido de que São Paulo mostrou que todos têm o direito de se casar: “Quando o apóstolo fala de levar uma irmã, uma esposa, significa primeiro que ele e todos os outros apóstolos, e consequentemente todos os ministros do evangelho, tinham o direito de se casar.

Mas, se assim fosse, e sabemos que não foi e não é, ele estaria refutando a ideia de que os apóstolos não tinham esse direito, e afirmando que eles tinham, quando se sabe que no primeiro século não houve tal dúvida, como está no Coffman´s Commentaries of the Entire Bible.

Além do mais, o versículo é considerado por Clarke como “uma prova decisiva contra o celibato papista do clero”, e considera errada a explicação de que se tratava de colaboradoras dos apóstolos: “nem poderiam ter levado mulheres jovens ou outras mulheres para acompanhá-las dessa maneira sem dar a ocasião mais palpável de escândalo”.

Esquece também que Jesus e os apóstolos já haviam feito o mesmo. É um erro comum entre esses teólogos. Será que esses comentaristas creriam que nesse caso a companhia de tantas mulheres levantam dúvidas e criam ocasião de escândalo para nosso Senhor e seus discípulos? É patente o erro de interpretação desses comentaristas.

E se for considerada a opinião de Clemente, de que os apóstolos levavam suas esposas “não como esposas, mas como irmãs”, a coisa fica ainda mais difícil de explicar para quem usa Clemente como quem “entendia o versículo da maneira protestante”.

Em Thomas Coke Commentary on the Holy Bible insiste-se na ideia acima refutada, de que o apóstolo não levaria uma mulher, que não fosse a própria esposa, como ajudante: “É muito improvável que o apóstolo tenha pensado em levar com ele, nestas peregrinações sagradas, uma mulher de quem ele não fosse casado”.

Quando tenta destituir Simão e Judas do grupo dos apóstolos apenas por sua menção em especial, deveria, de qualquer forma, destituir Pedro também, já que aparece “como que” fora do grupo: “(1) os outros apóstolos,(2) os irmãos do Senhor) e (3) Pedro.”

Será que por isso Pedro também “não era do número dos apóstolos”? (Para acumular mais erros no entulho de mentiras que surgem de interpretações esdrúxulas, haverá que afirme, para manter a coerência do erro, que esse não era Pedro!!!!)

Basta ler com calma: os outros apóstolos são os que não são parentes de Jesus. Os irmãos do Senhor são aqueles Seus primos e parentes, e Pedro é o líder dos apóstolos, frequentemente distinto dos demais por essa prerrogativa. Isso explicar o modo de mencionar.

No Schaff´s Popular Commentary on the New Testament, contém um dos grandes erros de interpretação, pois afirma que esse verso testemunha “a obrigatoriedade do celibato dos ministros de Cristo, que é o verdadeiro sentido deste versículo”, quando o assunto que São Paulo está tratando não tem nada a ver com isso.

No Comentário de Dianne Bergant e Robert Karris está o mesmo erro, já que estranhamente inclui na argumentação do apóstolo o direito do “gozo dos prazeres da carne”, o que nem de longe consta no arrazoado.

O mesmo erro parece ser o do Comentário Bíblico São Jerônimo, que inclui a “irrelevante menção de uma esposa”, que na verdade não é esposa, e por isso não é citação irrelevante!!!, nem tem a ver com os versos que usou para exegese. Isso já foi demonstrado antes.

Se todo o contexto do capítulo gira entorno das questões que envolvem o direito dos apóstolos de serem mantidos pelas igrejas, nada tem a ver a questão do casamento em si.

Do contrário, o apóstolo estaria reivindicando o também o direito de “experimentar os prazeres sexuais” como os demais apóstolos, os irmãos do Senhor e Pedro. Em palavras mais eufemísticas ficaria assim: “Não temos também, como os outros, o direito de casar?”. Nada mais longe da verdade. É um assunto que não cabe no contexto inteiro. No máximo seria plausível isso: “Não temos também, cada um, como os outros, o direito de levar sua esposa por conta da igreja?”.

No argumento contém: a) o direito de comer e beber, b) o direito à dispensa de trabalhar, com o exemplo de b1) ir à guerra com os próprios recursos, b2) plantar uma vinha e comer dos frutos, b3) apascentar um rebanho e alimentar-se do leite do rebanho, c) o princípio de que o trabalhador tem direito de receber a sua parte (versículo 10), d) o direito de colher da comunidade os bens materiais (versículo 11), e) os que anunciam o evangelho devem viver do evangelho, f) o direito a salário de quem trabalha por iniciativa própria, os g) direitos que a pregação do evangelho confere, entre outros exemplos secundários.

Assim, todos esses pontos estão em relação às necessidades materiais que a comunidade podia oferecer aos pregadores do evangelho.

O casamento não é um direito que o evangelho confere ao pregador, pois é um direito de todos os cristãos sem distinção alguma.

Por outro lado, é possível chegar à mesma conclusão usando outra perspectiva: os direitos de comer e beber às custas da igreja é conferido aos apóstolos, o direito de não trabalhar e viver às custas da igreja é conferido aos apóstolos, e o direito de levar uma mulher irmã, portanto cristã, que auxilia nas coisas materiais e demais afazeres necessários é conferido aos apóstolos. Obs.: novamente não se trata de direito de casar, ou do direito de levar a mulher consigo nas viagens missionárias por conta da igreja.

Isso não tem a ver, diretamente, com o direito da igreja de suprir as necessidades das “esposas” dos apóstolos, pois assim certamente seria falado também dos filhos e etc., e pelo contexto, se lido nessa perspectiva, parece que nenhum apóstolo tinha filho, ainda após mais de 20 anos de igreja!!!, ou que andavam com suas mulheres enquanto os filhos eram deixados em casa!!!

De uma exegese mal feita surgem problemas como esses.

Todo o argumento traz direitos que atingem ao apóstolo, sem a conotação de viver a vida matrimonial. Dessa forma, São Paulo não estava reivindicando o direito de ter esposa mantida pelas igrejas, o que estenderia à sua família (filhos), mas apenas os direitos que conferiam à pessoa do apóstolo nas questões acima tratadas.




Gledson Meireles.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Motivos por que o padre James deixou de ser padre

Eis mais um testemunho interessante para entendermos o porquê um padre deixa a fé cristã católica. Vamos iniciar.
 
Ele afirma: “meu plano era ser um padre famoso como o padre Zezinho e tantos outros”. Estranho para alguém que devia ser convertido.

E sobre os protestantes ele diz: “não gostava de crente, achava os crentes fanáticos”. Isso é comum, católicos com aversão a crentes e crentes com aversão a católicos, mas não é o ideal, ainda mais para um sacerdote, não ter um sentimento de fraternidade para com os protestantes. Ainda mais quando queria ser famoso como o padre Zezinho, que é muito ecumênico, respeita e ama os protestantes, tendo até em sua família pessoas membros de igrejas protestantes. Isso o padre James não tinha.

Esse dois sentimentos, portanto, o de buscar a fama e a aversão aos irmãos protestantes são conteúdo que certamente explicam porque deixou a fé cristã católica. Precisava de conversão.
Ele confessa ter como alvo a fama, o pecado da prepotência, a aversão aos protestantes, o vício do fumo, talvez do jogo, etc... São coisas que explicam o motivo de ter deixado a batina.
Gledson Meireles.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

As imagens sagradas na Igreja

Escrevi um estudo sobre a imagens sagradas, de uma forma bastante ampla, respondendo a muitas objeções, e esperei resposta para as refutações que apresentei, mas não apareceu nenhuma, apenas algumas afirmações, e também perguntas interessantes de um leitor em alguns artigos, mas nada de refutação.
 
Há os que pensam que o que escrevi "já está refutado", e não apresentam nada contra as refutações que os artigos trazem. Se há alguma exegese errada, ou até desonesta, como pensam alguns, que mostrem onde está, com exatidão, apontando o lugar e o erro e propondo as soluções. Pode ser que apareça alguma coisa plausível. Isso ninguém até hoje fez.
 
Gledson Meireles.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

500 anos da Reforma Protestante

ADOREMOS A DEUS POR JESUS, NOSSO SALVADOR E SENHOR
 
Que o dia celebrado pelos protestantes pelos 500 anos da reforma, os nossos irmãos separados, ou seja, os cristãos que não reúnem-se na santa Igreja Católica, seja um dia de fé, oração, busca da verdade, e desejo de unidade conforme ensinou nosso Senhor Jesus em João 17.
 
Gledson Meireles.

domingo, 8 de outubro de 2017

Celibato obrigatório

Sai um artigo de ataque ao celibato obrigatório.  Um breve comentário pode ajudar.
 
1.   A Igreja Católica não proíbe o casamento! De fato, se alguém não sabe, ela continua a celebrar casamentos.
 
2.   A Igreja Católica não proíbe o casamento de membros da Igreja em particular.
 
3.   O que acontece é que a Igreja Católica possui uma norma que exige a ordenação para o sacerdócio somente daqueles que sentem possuir o dom do celibato e do ministério sacerdotal. Ninguém é forçado a ser sacerdote católico, nem é forçado a viver o celibato sem a devida liberdade para tal, e assim não há imposição do estado celibatário a ninguém.
 
4.   Sobre 1 Coríntios 9,5. São Paulo era celibatário, como sabemos. Assim, ele  refere-se ao costume judeu de levar consigo mulheres colaboradores, como Jesus e os apóstolos eram acostumados a ter. O grego fala de mulher irmã (irmã mulher=adelphen gynaika, literalmente). Somente isso. Têm traduções errôneas que falam de “esposa cristã” (ou uma irmã como mulher), como faz a Bíblia de Jerusalém. Isso daria a entender o direito dos apóstolos tomarem uma mulher como esposa durante suas viagens, algo de cunho imoral. Como o grego só usa uma palavra para mulher e esposa, o contexto aponta que trata-se de mulher como a tradução correta. Não usa o termo “cristã” também, mas “irmã”. As mulheres irmãs viajavam com os missionários e os ajudavam nas viagens. Só isso.
5.   Será que algum dos pontos acima está errado? Qual deles? Todos?  Comente. Prove.
 
Gledson Meireles.

domingo, 10 de setembro de 2017

Sobre o poder das chaves, Mt 18,18

A explicação protestante para o texto de Mateus 16,19  é de que se trata do poder de pregar o evangelho. Assim, a resposta à pregação da boa nova declarará o ouvinte dentro ou fora do Reino dos Céus, já que uma vez que ele é convertido e converte-se de fato, respondendo positivamente à pregação, estará ligado ao reino, doutro modo, ouvindo e rejeitando o evangelho estará fora do reino.

Seria apenas uma declaração advinda da pregação o evangelho, feito aos ímpios, e Pedro teria  prerrogativa igual à dos demais apostólicos que também receberam o mesmo poder em Mateus 18,18. Desse modo, entendendo esse último texto, teremos mais conhecimento do sentido de Mateus 16,19.

Aos apóstolos foi dito: “Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quando desligardes na terra será desligado no céu.” De que se trata¿

O contexto é a correção fraterna. Uma vez que alguém peca, o fiel cristão deve adverti-lo privadamente. Se ele ouvir, a questão está encerrada. Do contrário, deverá chamar mais alguém para tratar do assunto com o irmão pecador, uma ou duas pessoas. Se persistir em não emendar-se, a Igreja deverá ser procurada, e somente assim, caso não houver arrependimento, haverá a sentença e declaração de que trata-se de pagão ou pecador público, não sendo mais tratado como irmão.

É assim que aparece o texto: “Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quando desligardes na terra será desligado no céu.”

 O poder das chaves aí é uma sentença em relação a um crente pecador, ou seja, alguém que já é cristão, mas que pecou e não está arrependido e não aceitou a correção, e, portanto, não emendou-se da sua falta. A Igreja usa do poder das chaves para disciplinar e afirmar ele está fora da Igreja e deverá ser tratado como pagão ou publicano a partir dali. Vê-se que o texto não pode significar pregação do evangelho, mas tem o sentido de usar do poder das chaves para questões de perdão ou não, usando a disciplina eclesiástica. Foi esse o poder recebido por Pedro e, com ele, pelos outros apóstolos.
 
Gledson Meireles.

sábado, 19 de agosto de 2017

Será que existe?

Um leitor pede ajuda para refutar um artigo publicado em página católica contra Lutero. Esse artigo foi “um soco no estômago” para o leitor.
 
A resposta do apologista é que o texto é tardio, escrito por um padre 300 anos depois da morte de Lutero, que é um falso diálogo, que não existe, a não ser em sites de apologética católica, que o autor é mentiroso, que a obra citada não existe, e, mesmo se existir, o diálogo não existe, pois se existisse iria ser muito citado pelos historiadores, mas que isso nunca aconteceu, ou seja, nunca foi citado Enfim, os “papistas” são mentirosos e desesperados.

Está na caixa de comentários: aqui. 

Mas, pelo que tudo indica, a conversa existe, a obra existe, é citada, está entre as obras de Lutero. Talvez o que pode diminuir a força do soco no estômago do leitor é que a explicação protestante para isso é que tal conversa é um artifício literário usado por Lutero, e não uma experiência que ele teve com o diabo. Só isso, porque o resto mostra como é comum apologistas tirarem conclusões precipitadas para sistematicamente negar um fato que não conhecem. Conferir aqui.

SAQUE DE ROMA


O Saque de Roma, 1527:

A seguinte afirmação é de que não há a mínima participação protestante no saque de Roma:
Essa é a razão pela qual o exército católico de um imperador católico decidiu saquear Roma, e que os papistas na maior desfaçatez atribuem caluniosamente aos protestantes, contra o consenso unânime de todos os livros de história já escritos pelo homem.” (aqui)

Talvez o que o historiador Martin N. Dreher explica aqui seja de interesse de muitos, e sirva de esclarecimento do motivo, certamente, de apologistas católicos mostrarem a participação dos protestantes nesse evento:

“A Reforma da igreja e os acontecimentos políticos estão intimamente relacionados. O trágico é que, nas guerras entre Carlos V e Francisco I, estiveram envolvidos dois governantes decididamente católicos. Suas tropas, tanto os soldados quanto os oficiais, eram, em grande parte, mercenários, lansquenetes alemães adeptos do pensamento de Lutero, ou suíços, igualmente “evangélicos”. Em 1527, lansquenetes invadiram Roma e perpetraram o Sacco di Roma, cantando hinos de Lutero e causando  terrível destruição.”

A situação de guerra fez com que Carlos V necessitasse constantemente de aliados. Ora, esses aliados eram, em boa parte, protestantes”. (DREHER, Martin. N. A Crise e a Renovação da Igreja no período da Reforma, 4ª Edição, vol. 3, 1996).

Essa é a razão. Dois líderes políticos católicos lutando, mas com exército recheado de protestantes que, saqueiam Roma, cantando hinos luteranos, etc. É suficiente para entender. (aqui)

Gledson Meireles.