sábado, 1 de outubro de 2016

OS 499 ANOS DE PROTESTANTISMO

Em verde parte 2.

Em azul parte 3. 

Em vermelho parte 4.
Em roxo parte 5.

Em laranja escuro parte 6.

Em preto parte 7 (o que pensava Lutero sobre a intercessão dos santos?)

É sempre proveitoso estudar a Palavra de Deus, e usando o tema da comemoração dos quinhentos anos da Reforma Protestante, algumas reflexões serão postadas, durante o mês de outubro, de forma aleatória, ora tratando mais de aspectos históricos, ora de problemas doutrinais, etc., comentários envolvendo essa complexa história que surgiu dentro da Igreja Católica Apostólica Romana e que acabou por dar origem a inúmeras denominações que protestaram em menor ou maior grau contra o catolicismo.
 
 
O começo da reflexão tem a ver com a doutrina.
 
O Protestantismo iniciou ensinando a realidade do pecado original, assim como a Igreja Católica sempre ensinou. Reafirmou que o homem nasce com a culpa adâmica, que é verdadeiro pecado.
 
Diante disso, a única forma de estar livre do pecado original, que traz a morte eterna, é nascer de novo pelo batismo e pelo Espírito Santo.
 
Portanto, para quem não sabe, os primeiros protestantes, aqueles que expressaram sua fé na Confissão de Fé de Augsburgo em 1530 (cf. Art. II; IX), que é um documento que revela o consenso geral dos protestantes luteranos até então, acreditavam no pecado original, no sacramento do batismo, e  na regeneração batismal, incluindo o batismo de crianças, pois é pelo batismo que a graça de Deus é oferecida aos batizados. Nesses pontos estavam em comunhão com os cristãos católicos.
 
Quanta coisa mudou em relação à fé da maioria dos protestantes!

Lutero nasceu em Eisleben, e viveu em Masfeld e, aos 14 anos, foi para Magdeburgo, e logo depois para Eisenach. A universidade foi cursada em Erfurt. Lecionou em Wittemberg. Seus pais eram severos e ele recebeu educação rigorosa. Gostava da vida da Igreja, apreciava a liturgia, aprendeu canto eclesiástico. Viveu em época de superstição geral, e sua família não era exceção. Acompanhavam-no tristezas, angústias, desespero. Era de temperamento nervoso, e a vida no mosteiro não trouxe paz a seu espírito atribulado. “Leu também, com todo o zelo, a Sagrada Escritura e os escritos de são Bernardo de Claraval e de são Boaventura.”

É pouco necessário lembrar que Lutero é visto como grande reformador da Igreja, homem levantado por Deus, o homem para o seu tempo, o profeta de Deus, que devia aparecer para opor-se à Igreja Católica.

Muitos pensam, porém, que foi somente através de sermões e preleções que traziam a nova doutrina do Protestantismo que a reforma foi disseminada. Nada disso. Também foi usada a força, pois quando a Igreja Católica começou a defender-se das investidas dos revoltados reformadores, Lutero não esqueceu de que a força seria necessária para não travar sua obra.

Entenda: havia uma necessidade enorme de reforma da Igreja, e Lutero foi aquele que iniciou um processo de reforma jamais visto, quando em 31 de outubro de 1517 afixou suas 95 teses na porta da Igreja do Palácio de Wittemberg. A Igreja até então não muito afeita às tentativas de reforma de muitos, logo percebeu que aquele movimento iniciado pelo monge da Alemanha tinha um caráter diverso.

Iniciou-se assim a reforma da Igreja Católica, que expressou-se na contra-reforma que estava sendo efetivada sob o viés dos protestantes. A Igreja então passou a defender-se dos ataques dos reformadores. Martinho Lutero aliou-se aos príncipes alemães com toda fúria, e pediu se possível até o sangue dos católicos.



Lutero viu em Romanos 1,17 o ponto fundamental da sua doutrina.


Os escândalos e as indulgências pregadas erradamente por muitos influenciam-no negativamente, e com toda a razão.


Adiciona-se a isso a ambição de príncipes e nobres que viam que através das questões teológicas podiam tomar posse dos bens da Igreja, desejo que há tanto tempo nutriam.

Avro Manhattan afirma que a ambição foi o motivo que tornou possível a Reforma Protestante.

Lutero também ensinou a presença de Jesus no pão e no vinho, e não somente uma presença simbólica como os protestantes, em sua maioria, acreditam hoje.

Da doutrina da justificação pela fé, ensinou que somente a fé justifica, sem consideração pelas obras, mas essa fé que justifica não é sozinha, mas é acompanhada pelas obras. De fato, a fé que justifica vem sempre com as obras, não as obras da Lei, mas as obras da fé. Essa foi a forma de harmonizar o que lia na epístola de São Tiago, como também as afirmações de São Paulo que mostram o valor das obras na justificação.
 
Lutero negou o livre arbítrio. No entanto, na Confissão de Augsburgo e em A Defesa da Confissão de Augsburgo está declarado que há liberdade na vontade humana. Ainda, admite-se que a concupiscência faz o homem obedecer mais frequentemente às más disposições. A doutrina de Lutero não foi desenvolvida até às conclusões de João Calvino.

Porém, afirma-se, como ensinava Lutero, que o homem peca mesmo quando obedece a um mandamento da Lei sem a graça de Deus. O livre arbítrio não pode agir conforme as realidades espirituais.

O que o artigo tenta refutar é a doutrina de cunho pelagiano, a afirmação de que é possível obedecer à Lei de Deus sem o auxílio da graça. É esse é o ponto que devemos considerar.
Essa doutrina pelagiana foi condenada, também, e mais uma vez, no Concílio de Trento. É preciso entender as diferenças e os pontos de contato entre a doutrina luterana do livre arbítrio e a doutrina católica, para entender também a doutrina da justificação.




A maioria dos protestantes não mais conhece o protestantismo original. De fato, a Reforma nasceu na Igreja Católica, e acabou em separação, formando igrejas provenientes do Catolicismo, mas desligadas dele. O trabalho teológico de Lutero no resgate daquilo que pensava ser o verdadeiro evangelho é desconhecido pelos protestantes, em especial aqueles membros de denominações recentes. Por isso, é importante conhecer o que os luteranos creem, de forma geral, e ver o quanto os protestantes divergem do primeiro e pai da Reforma Protestante. De fato, muitos foram adotando doutrinas de outros reformadores, e não de Lutero.

O início do movimento de Reforma em moldes diversos daqueles tentados anteriormente foi dado pelo padre Martinho Lutero, que era da Ordem dos Agostinianos. Ele bradou contra a pregação das indulgências feita pelo monge Tetzel na Alemanha. Na verdade, havia abusos na pregação e prática das indulgências pelo ministério de Tetzel.

Assim, em 31 de outubro de 1517 as 95 teses contra as indulgências abriram um espaço de conturbadas discussões, e começou o movimento protestante. Aqueles eram católicos desgostosos da realidade que então viviam, provenientes de todos os setores da igreja e da sociedade, com adeptos entre padres, freiras, monges, leigos, teólogos, príncipes, e o povo em geral.

Os que aceitaram a reforma nos moldes lançados por Lutero ficaram mais tarde conhecidos como luteranos. A Igreja Luterana é formada por muitas igrejas que unem-se em pontos característicos da doutrina esplanada desde os dias de Lutero, e conta com aproximadamente 64.000.000 de membros. Essa Igreja tem seu início em 1517.

 No Brasil, o luteranismo teve entrada formal em 1824, e conta com 1 e 1,5 milhão de adeptos da confissão luterana.

Quando dos 300 anos de aniversário da Reforma, o Luteranismo foi unido pelo rei Friedrich Willhelm III, da Prússia. John Scheibel, descontente com essa decisão, formou a seita luterana dos Luteranos Velhos. Foram perseguidos, mas logo encontraram reconhecimento.

Hitler encontrou no Luteranismo pontos de contato de anti-semitismo, e tentou apoio luterano na Alemanha da década de 30. Poucos luteranos resistiram, como Dietrich Bonheoffer, Martin Niemöller e Karl Barth. (http://www.patheos.com/Library/Lutheran; https://pt.wikipedia.org/wiki/Luteranismo_no_Brasil; http://www.patheos.com/Library/Lutheran/Historical-Development/Schisms-Sects)

O Sínodo de Missouri foi fundado por luteranos descontentes com a união feita pelo rei Friedrich.

Com o surgimento de ruptura no Protestantismo nascente, o Calvinismo apresentou vários pontos diferentes e contrários ao Luteranismo. Havia, porém, unidade em outros, como na doutrina da negação do livre-arbítrio.

Lutero ensinou a salvação pela fé somente. Ele dividia os mandamentos da mesma forma que a Igreja Católica, ensinou a confissão dos pecados ao sacerdote, a presença real de Jesus no pão e no vinho consagrados, enfim, os sacramentos como verdadeiros meios de graça. Não foi um iconoclasta, e manteve muito da liturgia católica. Ensina que as criancinhas devem ser batizadas.

Cria que os santos podiam interceder pelos vivos, mas ensinava que o cristão não deve invocar os santos.

Os luteranos creem que o livre-arbítrio apenas tem a ver com as coisas materiais, e não com as espirituais. Ainda, ensinam que a predestinação é a eleição, que significa o ordenamento dos filhos de Deus à salvação. Não creem na reprovação como parte da predestinação.

Deus não é autor do mal, não pode fazer o mal nem auxiliá-lo, e todos os condenados são por causa da sua própria rejeição do evangelho.

Assim, um cristão luterano é aquele que crê nas doutrinas que são cridas, conservadas e professadas no Livro de Concórdia. Esse livro contem os documentos que os luteranos usaram para conservar a doutrina luterana. Dessa forma, o Livro de Concórdia é uma parte da tradição luterana fundamental, aquilo que distingue um luterano de um católico, de um presbiteriano, de um batista, de um metodista, de um adventista e etc.

Os documentos da Igreja luterana que explicam a sua fé são o “padrão na Igreja Luterana para determinar o que é fiel ao ensino bíblico”. Para o luteranismo essas expressões de fé são a “pura exposição da Palavra de Deus.”

Assim, a definição de luterano é: “Ser um luterano é ser uma pessoa que acredita nas verdades da Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, assim como elas são corretamente explicadas e ensinadas no Livro de Concórdia.” Estar de acordo com as confissões luteranas é adotar os padrões imprescindíveis que um luterano deve ter para professar a sua fé.

Os documentos luteranos são reconhecidos pelas igrejas luteranas como os mais exatos meios de explicar a Palavra de Deus, a melhor forma que revela o Evangelho. (http://bookofconcord.org/whatisalutheran.php)

A justificação pela fé ensinada por Lutero é a seguinte, conforme a primeira exposição na Confissão de Augsburgo:

- O homem não pode ser justificado por Deus, ou seja, ser justo diante de Deus, por sua própria força, por seus próprios méritos, ou por suas próprias obras.

- A justificação é gratuita, por causa de Cristo, e é efetuada através da fé, e essa fé é crer que somos recebidos no favor de Deus, e que os pecados foram perdoados por causa de Cristo, que morrendo na cruz satisfez por nossos pecados.

- Essa fé é imputada por justiça à vista de Deus.

A Refutação da Confissão de Augsburgo respondeu mostrando o valor das boas obras. Afirma: “For it is entirely contrary to holy Scripture to deny that our works are meritorious”. E ainda mais, afirma: “Nevertheless, all Catholics confess that our works of themselves have no merit, but that God's grace makes them worthy of eternal life.”

Contudo, essa resposta não satisfez, e foi escrita a Apologia da Confissão de Augsburgo, que é a defesa dessa confissão, e que expôs de forma extensa a doutrina da justificação.

Por isso, os protestantes respondem que os católicos os condenaram por ensinar que o perdão não é por méritos, mas por causa de Cristo e através da fé.

(For they condemn us both for denying that men obtain remission of sins because of their own merits, and for affirming that, through faith, men obtain remission of sins, and through faith in Christ are justified.)

No documento, ao tratar da Lei e das promessas, a Lei diz respeito aos Dez Mandamentos, e não às leis cerimoniais e judiciais nesse momento. No tocante à justificação o tema é a negação das obras da razão como méritos para a remissão de pecados.

As Igrejas Luteranas aderem à Sola Scriptura, pela qual todas as doutrinas são fundamentadas, e os escritos antigos são julgados. Também são tidos como importantes o credo dos apóstolos, o credo niceno e o credo atanasiano, que sumarizam a fé da igreja primitiva contra as heresias.

Ainda, contra as controvérsias e divisões que surgiram a partir de 1517, os luteranos apresentam “como o consenso unânime e a declaração e confissão de nossa fé cristã” a Confissão de Augsburgo, do ano 1530, contra todas as seitas que surgiram e contra a própria Igreja Católica.

Juntamente com a Confissão está a Apologia ou Defesa da Confissão e os artigos de Esmalcalda, compostos por Lutero em 1537, assinados pelos maiores teólogos luteranos.

Fazem ainda parte da tradição luterana o Pequeno Catecismo e o Catecismo Maior, escritos por Martinho Lutero para a instrução dos leigos.

Entrementes, a Bíblia é o único juiz, regra, e padrão pelo qual os dogmas são discernidos e julgados. Os demais escritos não são juízes, mas apenas testemunhos e declarações de fé, e mostram como a igreja expôs a doutrina através da Bíblia em determinado momento, e quais argumentos foram empregados e como os dogmas errôneos foram combatidos.

O luteranismo condenou a doutrina de que o homem pode obedecer à Lei de Deus e conseguir a salvação por suas próprias forças, como ensinava o pelagianismo, e também condenou a doutrina que ensina que o homem pode iniciar a prática dos deveres cristãos para angariar a graça de Deus para, e somente assim, poder chegar ao fim e ser salvo.

Diante disso, ensina a doutrina reformada luterana que, na conversão Deus faz do ímpio um regenerado, que pode agora cooperar com sua vontade na obediência ao Senhor.

A vontade do homem seria “passiva” completamente na conversão, onde o Espírito Santo cria uma nova vontade que será usada como “órgão do Espírito Santo”. É negado que pela própria força o homem possa contribuir para a justificação, para crer e aceitar o evangelho. Somente após a graça e a atuação do Espírito Santo.

A tradição luterana reconhece que os anjos e os santos podem interceder pelos vivos, mas não admitem a invocação dos anjos e santos. Para isso, usam o argumento da única mediação de Jesus.

Gledson Meireles.