quarta-feira, 1 de maio de 2024

Sábado e Domingo: estudo de um artigo adventista de Kenneth Strand

O Sábado e o Domingo

Estudo do artigo “Como o domingo tornou-se dia popular de culto – parte 2”, de Kenneth A. Strand, Ph.D., professor adventista de teologia histórica e Novo Testamento.

Aqui será feita uma leitura diversa dos fatos históricos apresentados pelo professor Kenneth. De fato, através da sua apresentação será mostrado o fundamento bíblico do domingo.

Pelo artigo de Kenneth A. Strand podemos perceber que o domingo tem o status sagrado desde os tempos apostólicos. A origem do sábado é bastante conhecida na Bíblia, desde o AT. E no NT temos a origem do domingo. Como poderia o domingo coexistir com o sábado durante séculos, lado a lado como sagrados, se não fosse a importância do domingo conhecida por tradição apostólica? A única explicação para tamanha importância do domingo é que o mesmo foi do dia de repouso e culto cristão desde os dias de Cristo e dos Seus apóstolos. As legislações imperiais teriam se encarregado de oficializar a transição. Mas o que vemos é que sendo o domingo o dia em que os cristãos celebram os mistérios santos, as leis apenas estavam exprimindo essa realidade.

Introdução: Se o sábado e o domingo eram guardados lado a lado na Igreja, isso se deve ao fato de que o domingo é o dia de guarda do cristão, e a Igreja conversou o sábado herdado da antiga aliança. Desse modo, na teologia católica, não se vê contraste entre o sábado e o domingo.

E qual o dia “para os serviços de adoração semanal”? Segundo Kenneth esse foi o sábado. E qual a prova? Afirma que foi apresentada em seu artigo anterior.

No entanto, é muito claro que no Novo Testamente o dia de culto e adoração é o domingo.

Historicamente, o teólogo irá investigar quando, onde e como o domingo tornou-se conhecido como dia especial para os cristãos. Se tivermos em mente o fato da ressurreição, entendemos que aí está a origem do domingo. Não considerando isso, deve-se partir para outras teorias. Vejamos como isso é feito pelo teólogo adventista.

Em primeiro lugar, o autor afirma que há evidência clara, considerada a primeira evidência, da guarda do domingo, no ano 130 d. C. Nesse tempo, muito próximo à era apostólica, muitos que conheceram os apóstolos estavam vivos. A guarda do domingo não poderia ter sido introduzida como algo estranho, pois doutro modo seria iniciado intenso debate na Igreja. Portanto, o fato de nesse tempo ser admitido que há evidência clara para a observância do domingo, é um dado que está conforme a tradição apostólica. Os cristãos observavam o domingo porque esse era o dia de guarda deixado por Cristo e pelos apóstolos.

Os sábados presentes então, são mostrados como inaceitáveis a Deus, e o domingo é apresentado como dia de júbilo e da ressurreição de Jesus. A referência de São Justino, reconhecida pelo autor adventista como direta e mais claramente à observância do domingo, data do ano 150 d. C.

Sendo uma apologia cristã, refere-se à guarda do domingo como algo original, como prática da Igreja, e não indica que tenha havido mudança quanto a isso. Essa forma de expressar-se está de acordo com a tradição apostólica, pois aquilo que é transmitido como verdade revelada desde os apóstolos tem essa marca de reconhecimento unânime. Nota-se que São Justino fala do domingo como dia de reunião de todos os cristãos para celebrar a missa. Essa prática antiga e consolidada já em seu tempo.

E o autor adventista considera que São Justino escreveu algo que manifestava inclinação anti-sabática no Diálogo com Trifo. Se essa é a posição, concorda com a referência anterior, vinte anos antes, que mostra os sábados como inaceitáveis. Se São Justino mostra o domingo como dia de culto cristão e se refere à abolição do sábado, isso está conforme a tradição, pois em Colossenses 2, 16-17 os sábados estão entre as sombras.

Roma e Alexandria: Se há essa realidade, onde o domingo é o dia de guarda e o sábado recebe atitude negativa nesse quesito, essa é a tradição apostólica, e não uma inovação. Que o leitor perceba esse primeiro dado que é mostrado pelo autor adventista.

Ainda, o teólogo fala de uma regra geral de que o culto cristão era realizado no sábado em todo o mundo cristão no quinto século, com exceção de Roma e Alexandria. Se tivermos em mente as declarações de São Barnabé e São Justino, de que o domingo é o dia de guarda e o sábado não é mais observado assim, temos que há uma tensão aí. Se no segundo século é evidente que o domingo é guardado, não se pode afirmar que o sábado é o dia de guarda e culto em todo o mundo cristão.

No entanto, se se tem em mente que o sábado é também um dia respeitado e celebrado pelos cristãos, segundo o domingo o dia principal na semana, esse dado concorda com a tradição apostólica. De fato, é isso que Sócrates e Sozomen afirmam, quanto dizem que ambos os dias são guardados. Mas, na citação de Sócrates Scholasticus, ele afirma que os cristãos celebram os mistérios sagrados no sábado, e que Roma e Alexandria cessaram de fazer isso. E Sozomen afirma que em Constantinopla, em quase todos os lugares, os cristãos reúnem-se no sábado e no domingo, diferentemente de Roma e Alexandria. Assim, escreve o teólogo adventista: “Assim, “em quase todos os lugares”, através da cristandade, exceto em Roma e Alexandria, havia serviços de culto cristão, tanto no sábado quanto no domingo, no final do quinto século.

Doutro modo, pensaríamos que a Igreja em toda parte guarda dois dias, e que não estava conforme a doutrina de Roma e Alexandria, o que não é exato, já que é unanimidade na antiguidade, como testemunha Santo Irineu de Lion, de que as igrejas em toda parte devem estar em conformidade com a doutrina praticada na Igreja de Roma.

Ainda, se em 130 d. C. e 150 d. C. temos evidências claras da guarda do domingo, não parece que Roma tenha deixado de guardar o sábado, pois isso estaria em conflito com todas as demais igrejas espalhadas em todo o mundo, causando a maior das controvérsias. Ainda, durante séculos haveria silêncio quanto a essa divergência de prática. Temos de admitir, até aqui, que o sábado podia ser guardado, mas não como obrigação para o cristão. Por esse motivo, havia o costume geral de guardar os dois dias, e isso não era causa de divisão na igreja.

E então o teólogo adventista põe-se a investigar o que levou Roma e Alexandria a adotar tão precocemente o domingo. Essa questão deve ser feita ao mesmo tempo em que se reconhece que em todos os lugares o domingo também é guardado juntamente com o sábado. Isso sugere que o mesmo ocorria em todas as comunidades cristãs, que guardavam o domingo desde os dias de Cristo e também continuavam a celebrar a missa aos sábados, honrando o dia de descanso da Antiga Aliança. Assim, trata-se de admitir que o domingo era guardado em toda a parte nos primeiros séculos.

Quanto a essa realidade, o teólogo investiga o motivo da observância dominical ter sido tão prontamente aceita pelo restante da cristandade ao lado do sábado. Se aceitamos que o domingo é de origem apostólica, isso já está respondido. O sábado judeu foi honrado pelos primeiros cristãos e permaneceu na vida da Igreja ao lado do novo dia de culto e adoração cristã, o domingo, de modo que não há tensão entre os dois dias nesse sentido. Essa tensão só aparece quando se trata de impor o sábado como dia de culto e contraposição ao domingo. Lembra a circuncisão, que podia ser feita, desde que não fosse imposta a ninguém. Do contrário, significaria estar apartado de Cristo.

E algo muito importante é constatado pelo autor adventista. O sábado não foi prontamente substituído pelo domingo após a ressurreição. De fato, ele considera assim por motivo das fontes históricas mostrarem que o sábado ainda continuava sendo observado ao lado do domingo.

Também afirma que é incorreta a opinião de que o domingo foi influência do paganismo, o que carece de prova e é absolutamente improvável. Tudo isso mostra que a teologia do domingo é muito mais profunda do que muitos pensam.

Ele admite que os cristãos nunca teriam mudado de prática subitamente por influência pagã. Cita São Justino, que foi mártir. Dessa forma, podemos afirmar que São Justino não guardaria o domingo se esse não fosse fundamentado na Bíblia e na tradição.

Festa das primícias: O autor adventista nota que o domingo foi originalmente visto como dia em honra à ressurreição de Cristo e não como um sábado. Essa distinção é interessante nos estudos adventistas. Mas, também, indica que certamente os cristãos guardavam os dias de sábado e domingo de forma diferente dos judeus.

A explicação sobre a festa das primícias, e da imolação do cordeiro pascal é valiosa. A data escolhida pelos fariseus e pelos essênios é algo importante nesse debate.

É bem provável que os cristãos, seguindo a tradição, entenderam o dia após um sábado semanal de Levítico 23 como o domingo. A afirmação de que os cristãos naturalmente continuariam a celebrar as primícias não é exata, a não ser no contexto acima aludido, onde não há mais obrigatoriedade. Quanto à teologia de Cristo como primícias e a importância máxima da ressurreição, isso corrobora a teologia dominical. Assim, a origem do domingo é eminentemente bíblica.

Início da guarda do domingo: A afirmação de que os cristãos não guardavam o domingo como festival da ressurreição semanalmente é improvável. A citação feita pelo próprio autor adventista, de São Justino em 150 d. C., afirmando que no dia chamado domingo os cristãos se reuniam, prova que isso não era uma vez por ano, mas semanalmente.

Então, refere-se à controvérsia da páscoa, irrompida no segundo século. Os cristãos deviam celebrar a páscoa numa data fixa ou não? A tradição geral apontava para a data do domingo. O próprio autor adventista mostra isso: “Mas os cristãos na maior parte do restante do mundo, incluindo Gália, Corinto, Ponto (no Norte da Ásia Menor), Alexandria, Mesopotâmia e Palestina (mesmo em Jerusalém), mantinham-se fiéis a uma Páscoa no domingo.” Mesmo em Jerusalém os cristãos celebravam a páscoa no domingo. Esse costume foi levado para Roma. E na autoridade apostólica, exercida pelo papa, mais tarde essa posição foi aceita em toda a Igreja Católica. Qual era a verdadeira posição apostólica? Certamente aquela que o magistério defendeu, a que o papa ensinava.

Eusébio de Cesareia relata a controvérsia sobre a páscoa, e menciona a tradição remota da Ásia. Mas afirma que a tradição apostólica era de que o jejum havia de ser encerrado no domingo. Aqui temos a ideia de tradições locais em comparação à tradição apostólica. Essa última é sempre presente no sentir da Igreja Católica, no consenso geral dos santos padres, dos doutores, dos teólogos, dos sínodos, das encíclicas e bulas papais e dos concílios.

Assim, prova-se que no domingo não foi inovação romana tardia. Ele tem origem bíblica.

Quanto ao mais antigo domingo cristão como prática anual, isso não ficou claro. Supõe-se que a festa das primícias continuou a ser celebrada pelos cristãos. Isso é improvável. Por meio dessa suposição, desenvolve-se a ideia de que a celebração do domingo, como a festa das primícias, era anual. O que também carece de historicidade.

A tese de que não havia ambiente psicológico para celebrar semanalmente o domingo como dia da ressurreição, deixa de explicar como o domingo era celebrado semanalmente desde do início juntamente com o sábado. Que motivação tinham os cristãos para celebrá-lo? A próxima doutrina da ressurreição, que é de máxima importância, garante que essa foi a festa semanal observada no domingo. Desse modo, pensar em desenvolvimento de um domingo anual, para domingos entre páscoa e pentecostes até o domingo semanal não é tão pungente. Entretanto, ele exprime da teologia do domingo e ajuda a entender como esse dia nasceu da doutrina bíblica.

Em Roma e Alexandria o domingo semanal aparece com clareza. O autor entende que ali ele foi substituto do sábado. Mas não há razão para isso, reconhece, pois ambos os dias aparecem juntos. Assim, não desenvolvendo o argumento como está sendo feito aqui, e negando a tradição apostólica, ele se põe a procurar a origem do domingo semanal substituindo o sábado em Roma.

O domingo substitui o sábado em Roma: o autor aponta um sentimento anti-judaico no  início do segundo século. Mas, poderíamos perguntar, não foi esse sentimento o mesmo que vemos nas páginas do NT, nas controvérsias sobre a Lei, a circuncisão, o sábado, a leis alimentares e etc? É preciso considerar a natureza dessas discussões.

O imperador Adriano, em 135, proíbe a circuncisão e o sábado. A identificação com os judeus pode ter sido evitada e levado à adoção de práticas distintas por parte dos cristãos, em Alexandria, por exemplo. Essa é uma tese interessante.

No entanto, parece equivocado afirmar que os cristãos de Roma e Alexandria procuraram um substituto para o sábado semanal. Deviam apenas deixar de guardá-lo, talvez, pois já tinham o domingo, como provado anteriormente.

O fato do costume do jejum em Roma, tornando o sábado um dia triste, não pode ser entendido como o objetivo da prática. Era parte da devoção cristã realizar o jejum, para lembrar de Cristo no sepulcro.

Parece que a explicação supõe que somente o sábado era o dia de culto em Roma. Sendo assim, tornado dia de jejum, foi depois substituído pelo domingo. Essa suposição que transparece no estudo, também não explica que os dois dias apareçam harmoniosamente juntos na Igreja em geral durante séculos. Portanto, em Roma, também, o sábado era honrado com o domingo. As devoções podem ter sido diversas.

O autor fala de medidas tomadas para substituir o sábado pelo domingo em Roma e Alexandria. Conquanto tenha em mente que o domingo não entrou na Igreja por influência pagã, afirma que pode ter havido alguma influência na substituição. E, como adventista, afirma a tese de que o domingo pagão teve efeito sobre o Cristianismo pós-Constantino.

Aqui há algumas coisas a serem realçadas. Uma constatação do próprio autor adventista de que o domingo foi guardado pelos cristãos desde o século segundo, provado com evidências históricas.

Também a admissão de que o domingo tem motivações bíblicas, como mostrou no estudo sobre a festa das primícias e da importância da ressurreição. E, também, que o domingo pagão teve influência na Igreja, após Constantino.

Sendo assim, o domingo teria sido reforçado pelas leis do Estado para tornar sua observância mais efetiva, mas não teria sido jamais uma inovação, nem algo pagão entre os cristãos. O primeiro dia da semana cristão coincidiu com um costume que os pagãos tinham, sem qualquer influência mútua.

Ver nota 15

Com base nessa pressuposição, o autor adventista pensa na origem do domingo ao lado sábado na Cristandade, como se o domingo surgisse posteriormente entre os cristãos em outras localidades. Não há fontes históricas para isso.

Então, afirma que em muitos lugares os dois dias se chocassem, como havia ocorrido em Roma e Alexandria no segundo século.

Isso está mais uma vez demonstrando que o domingo vem do primeiro século. Foi guardado em Roma e Alexandria e em toda parte, com provas históricas já no século segundo.

Qual é o “dia do Senhor”?: Clemente de Alexandria chama o domingo de dia do Senhor. Ele o fez no final do segundo século. Mas isso não indica nem prova que tenha sido o surgimento dessa expressão relativa ao primeiro dia da semana.

Aliás, o próprio contexto em que São Clemente usa para expressar o conceito de dia do Senhor indica que ele está mostrando que o domingo foi profeticamente mencionado mesmo no paganismo, o que mostra que a teologia do domingo era apostólica.

Quanto à frase de Santo Ireneu, interpretada como indicando que Pentecostes e dia do Senhor seriam Pentecostes e Páscoa, eventos anuais, já foi falado algo a respeito acima.

A citação Didaquê 14,1 seria ambígua. Mas é indicativa de que se trata do domingo, dia de reunião. O contexto histórico aponta para isso. Assim, é algo a mais em favor do domingo.

Não se pode afirmar que o dia do Senhor é a páscoa. O batismo não era apenas realizado na páscoa.

Santo Inácio faz a distinção entre sabatizar e viver conforme o Senhor. A tradução comum: observância do dia do Senhor é mais convincente. O autor afirma que a tradução uma vida de acordo com a vida do Senhor é a melhor. (ver interpretação sobre o povo ser os profetas)

Quanto a sabatizar significar o legalismo, isso é correto. É o que explica o contexto de toda essa discussão, quando se encontra o sábado sendo contrastado com o domingo.

Um dia de jejum: As referências ao sábado e ao domingo aumentariam no quarto século e muitas dessas tinham implicação de controvérsia, afirma o autor. Mas as referências não mudam o que foi dito até aqui. O sábado é honrado juntamente com o domingo.

As Constituições Apostólicas, São Gregório de Nyssa e Amaséia são claros em dizer que ambos os dias são guardados pelos cristãos. Sendo assim, nesse tempo, de controvérsia, a doutrina do domingo está estabelecida e também há devoção para com o sábado.

Outros líderes são citados como anti-sabáticos: São João Crisóstomo, contemporâneo dos demais mencionados acima.

No entanto, a citação feita mostra o que já está explicado antes. O que São Crisóstomo afirma diz respeito a cristãos jejuando e guardando os sábados da mesma maneira que os judeus, o que já está no âmbito da doutrina judaizante. Esse modo não é o mesmo que é referido pelos outros autores, que certamente também eram não-judaizantes. Há aqui a mesma posição dos demais.

Tertuliano e Hipólito são citados como opondo-se ao jejum no sábado. On Fasting cap, 14. Contra Marcião IV, 12. E Santo Hipólito, no Comentário a Daniel 4, 20, alude ao jejum no sábado e no domingo que Cristo nunca indicou.

Ele fala de alguns se valem de visões e ensino dos demônios, e determinam jejum no sábado e no domingo, o que Cristo não determinou. Isso não é o mesmo que estar contra o jejum nesses dias, mas apenas refutar essa ideia de que o costume é dogmático. Havia liberdade para jejuar ou não, conforme ensina Santo Agostinho. A doutrina é a mesma.

Tertuliano afirma que não se deve galatizar, aludindo ao ensino do Novo Testamento na epístola aos Gálatas. Afirma ainda, que se há nova criação em Cristo as solenidades devem também ser novas. Essa princípio refuta a ideia de que os cristãos continuaram a praticar preceitos da lei.

A controvérsia do quarto e quinto século que teria sido intensificada não diz respeito a algo de grande importância, pois ainda que tradições locais divergiam entre si, a tradição apostólica testemunhada, como doutrina geral, era de que a doutrina sobre o jejum nesses dias não era algo imutável. O artigo ainda cita Santo Agostinho (430) refutando alguém que discordava de quem se recusava a jejuar no sábado.

Na Tradição Apostólica de Santo Hipólito de Roma é ensinado que, na páscoa, se jejue pelo menos no sábado.

O Pseudo-Inácio, na Epístola aos Filipenses, é contra jejum no sábado e domingo, exceto no sábado pascal.

Cassiano em 430 e Santo Agostinho falam do jejum em Roma. Santo Agostinho, em sua epístola 36, ensina que é livre ao cristão jejuar ou não no sábado, e afirma que em Roma é praticado o jejum no sábado, mas não no domingo. E cita o maniqueísmo, que prescrevia jejum no domingo, contradizendo a fé católica e as divinas Escrituras.

Na sua epístola 54, citando o costume da Igreja em Milão, ensina que o cristão católico é livre para jejuar ou não no sábado, seguindo o costume da igreja local onde estiver. Isso mostra uma situação bastante semelhante na observância do sábado e do domingo no quinto século. Não há uma divergência em termos acirrados, como se uma prática ou outra fosse herética. Pelo que se nota, a tradição apostólica ensina que há liberdade quando ao tema.

Leis Dominicais: aumento em referências sobre o sábado indicando uma espécie de luta. Isso teria ocorrido no quarto e quinto séculos. Constantino teria dado ao domingo “nova expressão”. Ele teria se tornado dia de descanso.

Mas como poderia isso ser novidade se os cristãos não eram predispostos a aceitar pacificamente mudanças as mais sutis que fosse, como já mencionado. Uma lei que introduzisse divergência com a doutrina seria denunciada prontamente. Também, Constantino não promulgaria Lei que estivesse contra a doutrina que havia adotado. Assim, a lei certamente não havia introduzido o descanso, mas é uma expressão de como era entendido o domingo cristão.

A lei citada manda os magistrados e o povo das cidades descansarem no domingo. O trabalho no campo era facultado. Parece que as leis seguiam motivos circunstanciais.

Reação às primeiras leis dominicais: Os cristãos teriam de descansar? Como explicação isenção do trabalho agrícola? Portanto, deve-se entender as circunstâncias.

A nota 38 é histórica, de Eusébio de Cesareia, é clara da transferência do sábado para o domingo. O mesmo diz Efraim no quarto século. A lei estatal não refletia o mandamento do sábado. Mas isso aparece nas obras cristãs.

O sábado perde importância: pela ênfase do sábado posta sobre o domingo. O autor menciona os que rebaixavam e os que honravam o sábado. Mas isso não foi provado.

Citado o fato do sábado permanecer ao lado do domingo ainda no quinto século, sugere que o domingo substituiu o sábado a partir do sexto. É apenas uma suposição que não tem fundamento, como temos tido a oportunidade de acompanhar. O domingo é guardado desde os dias de Cristo e, historicamente, pode ser comprovado já no século segundo de maneira evidente.

Afirma que o Concílio de Laodiceia em 364 d. C. ainda respeitava o sábado. Mas isso é inexato quanto ao que se pretende mostrar. De fato, todos os concílios da Igreja respeitam o sábado, por ser um mandamento do decálogo, já revelado no AT. Apenas ensina que o domingo é o dia de guarda. Quando o concílio proíbe judaizar, sabemos que se trata da questão da heresia judaizante. Não é nada contra o sábado em si. De fato, durante a quaresma a missa e a festa dos mártires podiam ser celebradas nos sábados e domingos. Em geral os sínodos testemunham a correta doutrina da Igreja.

Ainda, esse concílio é regional, refletindo algum problema não generalizado. Assim, não é de se pensar que a controvérsia estivesse em toda parte, e que sua natureza fosse grave.

Os antigos cristãos não trabalhavam no sábado, trabalhando no domingo? Não há como provar. O concílio não introduz novidade. Um dia deve ser para o repouso cristão. Esse dia é o domingo. Seis dias trabalham os cristãos (segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado) e descansam no domingo (o sétimo para repouso e adoração a Deus).

Proibindo o trabalho no domingo. O sínodo de Orleans em 538 proibiu o trabalho no campo. Isso poderia ser usado como contradizendo o que havia feito o concílio citado anteriormente, e a Lei do império, já que os que habitavam o campo podiam trabalhar. Portanto, deve-se entender as circunstâncias.

O sábado nunca foi esquecido. E com isso acredita ter provado como o domingo substituiu o sábado. Pelo que vimos, o caminho percorrido e com os princípios corretos como guia, não houve prova alguma de que o sábado foi o dia originalmente guardado pela Igreja.

Para concluir esse estudo do artigo, tenhamos em mente que o preceito do sábado no decálogo é moral. O sábado é moral e cerimonial, “em parte moral e em parte cerimonial”, como ensina Santo Tomás.

Quando manda guardar um tempo para as coisas divinas, é um preceito moral. Quando ensina que o tempo do sábado é sinal da criação do mundo, é um preceito cerimonial. Também é uma lei cerimonial no seu sentido alegórico como representativo do repouso de Cristo no túmulo no sétimo dia. Dessa forma, Cristo cumpriu o sábado, e dessa forma o sábado foi sombra do que devia vir.

Como não há mandamento do sábado do sétimo dia no Novo Testamento, devemos entender a doutrina, os princípios que advém dela, e compreender que o novo dia de preceito é o primeiro dia da semana, o dia do Senhor.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Estudando a razão 15 em defesa do sábado: artigo de site adventista do sétimo dia

Razão 15: Colossenses 2:16-17 também é um texto mal interpretado

A explicação sobre o foco nos julgamentos e não nas coisas julgadas é interessante, mas não explica o texto com base no contexto geral do que é discutido por São Paulo, ainda que uma tentativa de contextualização tenha sido feita. E também é negada pelo sentido de sombra que é dado. A palavra sombra é usada na expressão “sombra da morte” e também no seu sentido literal, quando fala da sombra de Pedro. Então, aparece em Colossenses e em Hebreus. O texto de Hebreus é bastante evidente: “A Lei, por ser apenas a sombra dos bens futuros, não sua expressão real...” (ton mellonton agathon). E o verso 10 fala da oblação do corpo de Jesus, a realidade à qual se refere Colossenses. Isso é exegese.

Então, a lei é sombra dos bens futuros. Essa expressão está no contexto de abolição da Lei (Hb 10, 9). Por esse mesmo raciocínio, por essa exegese, temos que as sombras do que devia vir (ton mellonton) em Colossenses são os bens futuros citados em Hebreus.

Em geral, os cristãos não observavam a Lei, e, portanto, não deviam ser julgados por isso. Eles não observavam leis alimentares, nem festas, luas novas e sábados. É bastante simples: ninguém vos julgue por causa de sábados, como se vós fosseis obrigados a observar esse dia. É essa a interpretação legítima. E é bem fácil de entender.

A outra, que o adventismo propõe, mais complicada, seria que ninguém vos julgue pelas suas práticas, por guardardes o sábado, porque isso é apenas sombra. Não faz sentido. De fato, em si mesma faz menor sentido em comparação com a interpretação anterior. E isso indica erro. Ela contradiz o contexto geral e não se adequa ao sentido de sombra.

O argumento da sombra, que não é invalidada pelo sacrifício de Cristo, está correto. A tentativa de invalidá-lo mostra isso. O sábado não surgiu para ser sombra de Cristo, e o sacrifício de Cristo não é mostrado afetando o sábado, mas Colossenses afirma que ele foi sombra de Cristo, e isso é o que está revelado. Portanto, mesmo que o sábado originalmente serviu para lembrar da criação, ele também está ligado ao repouso espiritual em Cristo. E conforme essa passagem, ele não está mais em vigor.

A segunda tentativa também não faz sentido. O casamento é sombra do relacionamento com Deus? É fato que o casamento é comparado à relação espiritual de Deus com Seu Povo. Mas a palavra sombra não quer dizer isso, mas refere ao que some a luz lhe é diretamente dirigida. Assim, o sábado desaparece no tempo após a ressurreição de Cristo.

Os sacramentos da Nova Lei, como matrimônio, batismo e ceia não são sombras nesse sentido usado, pois elas somente não terão mais necessidade no Reino Celestial. O texto de Colossenses e Hebreus utiliza o termo sombras para falar do que foi abolido.

Então, não há como comidas e bebidas, as festas, a lua nova e os sábados continuarem válidos nesse contexto de Colossenses 2, 16-17. Cristo é supremo em relação aos rituais, mas rituais os citados por São Paulo já passaram. O matrimônio, o batismo e a ceia são os novos rituais que substituem os elementos antigos na nova aliança.

Os falsos professores de Colossos advogavam o sábado, mas um sábado imbuído de tradições humanas, baseado em um sistema repleto de distorções e rudimentos humanos.

Essa é a suposição usada para o argumento, mas não há nada que prove que existisse outro tipo de guarda do sábado sendo defendida por professores hereges. São Paulo teria citado claramente isso. De fato, quando ensinaram que a ressurreição é apenas espiritual, que já acontecera, São Paulo a refutou claramente. Assim, ele apenas afirma que os sábados, que não mais eram guardados, não deviam ser usados para julgar os cristãos.

O foco de São Paulo é entendido à luz do contexto geral, de Gálatas, Romanos e Hebreus, quando ele se opôs às praticas em si. E o argumento adventista se mostra falho também nas expressões, quando se tenta explicar que São Paulo critica “tradições humanas” e é necessário afirmar que “ainda que fossem em parte baseadas nas Escrituras”, tentativa de conciliar o inconciliável, já que de fato o apostolo não toleraria tradições humanas.

(15 Razões para guardar o Sábado – Parte 2 – Reação Adventista (wordpress.com))

Gledson Meireles.