quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Livro: A lenda da imortalidade da alma: Mt 25, 31-34

Resposta ao tópico sobre Mt 25, 31-34

O Reino entregue no fim do mundo, em Mt 25, 31-34, certamente, é o reino já completo, preparado por Deus aos salvos, não é nesse sentido o mesmo reino já presente entre nós desde os dias de Cristo, na terra, não é a Igreja militante, como reino de Deus no mundo através da história, não é o reinado de Cristo nas almas, não é o reino do céu que já está sendo desfrutado pelos santos no céu à espera da ressureição, mas é o reino que foi preparado e que será inaugurado no último dia. É, em um sentido, o Reino esperado por todos, que será a Nova Jerusalém descida do céu, o que explica que todos entrarão lá no mesmo momento.

Esse argumento é da mesma natureza que o autor do livro usa ao tentar refutar o sentido do “até” em Mt 1, 25, quando diante da argumentação de que o reinado de Cristo até certo momento não significa que depois da entrega que Ele fizer do Reino ao Pai haveria cessação do reinado do Filho. A refutação seria que o reinado seria diferente, de uma natureza diversa. Dessa forma, o até teria sentido de mudança, ou seja, o reinado de fato cessaria, mas haveria a partir daí um reino diverso, de outra natureza.

Usando mesma categoria de argumentação, que é plausível, o Reino entregue em Mt 25 é de natureza diversa, é pleno e será recebido por todos naquele mesmo dia. Sendo assim, seria como dizer que o reino preparado desde a fundação do mundo ainda não está inaugurado pelas almas santas no céu. Somente quando esse reino for consumado, após o juízo, é que todos entrarão nele.

Dessa forma, não significa que ninguém ainda entrou no reino, que estaria vazio de almas, onde somente Deus e os anjos, ou mesmo, alguns como Moisés, Enoque e Elias estariam. Por exemplo, Elias não poderia receber o reino, pois já teria recebido? Não se trata disso. Significa, antes, que o reino será consumado após o Juízo, e todos conhecerão esse reino eterno em sua forma que Deus preparou para todos nós no último dia.

Jesus disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar.” (João 14, 2). Jesus foi para o céu onde há muitas mansões (monai) e foi preparar (hetoimasai) um lugar (topon) para nós.

Portanto, isso parece corroborar o fato de Jesus ir preparar um lugar para os salvos. Isso quer dizer que não havia, em algum sentido, um lugar já pronto, no céu, nesse Reino, mas que isso iria ser obra de Jesus, preparando esse lugar. As muitas moradas que o Reino possui estão sendo preparadas para cada um dos salvos. Pode-se dizer, assim, que ainda está em preparação, para ser dado no dia do Juízo.

Então, da mesma forma que Jesus não dirá no dia do Juízo que todos “continuem” no Reino, mas que recebam o Reino, Ele disse que ia preparar o lugar no céu, e não que iria esperar o dia para entregar esse lugar que já estava preparado. Portanto, esse argumento refuta a dificuldade que o autor introduziu para entender essa entrega do Reino.

Isso já refuta a dificuldade de que Jesus disse que o Reino já estava preparado. Não significa que não havia ninguém lá, nesse reino, como se não houvesse nenhuma alma no céu. É o mesmo que diz João 14, onde Jesus diz que iria “preparar” um lugar, que é o mesmo que dizer de um lugar nesse reino já preparado desde a fundação do mundo.

É uma linguagem que mostra o sentido da espera que a Igreja deverá experimentar até o dia da volta de Jesus. O Reino está preparado desde a fundação do mundo, e Jesus foi ao céu para preparar um lugar para cada um nesse Reino. Disse ainda, que assim que tivesse terminado viria: Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e vos tomarei comigo, para que, onde estou, também vós estejais.

Ninguém deve usar de ingenuidade para argumentar o motivo da demora em preparar esse lugar espiritual, desde que sabemos que Jesus ainda não voltou para consumação dos séculos. Esse preparo está nas mãos e autoridade do Senhor Jesus Cristo. Portanto, esse argumento contra a imortalidade da alma não fica de pé diante disso. Assim como o Reino já preparado não foi inaugurado, suas mansões ainda não estão preparadas.

Essa entrada no reino após a ressurreição é a entrada na Jerusalém celestial, descida do céu, preparada por Deus. A entrada da alma no céu, no reino do céu, após a morte, pode ser diferenciada, como foi explicado, da mesma forma que o reinado de Jesus pode, plausivelmente, ser diferenciado do reino que terá com o Pai após consumação de todas as coisas. Dessa forma, não é exigido crer que as almas não estejam no reino dos céus já desde a morte de Jesus Cristo, mas apenas entender que o Reino preparado por Deus está aguardando a todos, com lugares preparados, para serem ocupados, de uma forma especial, diversa. É um modo de entender esses detalhes, segundo as palavras do evangelho.

Então, pode-se dizer que as almas do céu, que já experimentam a felicidade e a glória do reino dos céus, ainda não estão nesse reino preparado, nessa mansão que o Senhor está preparando, pois o reinado será diverso, o Reino terá algo diverso, pleno, para a plenitude do ser humano salvo e ressuscitado. Esses detalhes não negam o que a teologia bíblica já mostra, como está no Catecismo da Igreja Católica, onde os salvos já reinam com Cristo, já possuem visão beatífica, já estão no reino eterno (Ap 22, 5). Esses argumentos servem para mostrar que é possível entender essa entrada no reino no último dia mesmo crendo na imortalidade da alma.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Comentário dos capítulos 1 e 2 do livro de Owen, sobre a morte de Cristo

 

Livro I

Capítulo 1

Sobre o propósito da morte de Cristo

 

John Owen começa seu livro estudando o objetivo da morte de Cristo, aquilo que o Pai intencionou fazer nela, e o que foi de fato cumprido e realizado por ela.

Em primeiro lugar, pensemos naquilo que Deus Pai e Cristo intencionaram quando fez o plano de salvação através da morte na cruz. Será que Deus pensou em salvar apenas um número de pessoas e não todas? Será que o propósito de Deus Pai e de Jesus Cristo foi apenas salvar os eleitos e não providenciar um plano de salvação para todos os pecadores? É aqui que se encontra a questão. O calvinismo ensina que tudo foi feito somente para os eleitos. É isso que a Bíblia ensina? Ou será que para ensinar tal doutrina o autor terá inúmeros obstáculos a enfrentar ao tentar fundamentá-la no texto bíblico?

Nessa presente refutação poderemos ver o que a Bíblia ensina, o que a razão humana concebe disso tudo, quais as passagens bíblicas sobre o tema, o que elas dizem em si mesmas, no seu contexto, segundo a leitura natural, e diante do bom senso iluminado pela graça de Deus, e em face aos argumentos da doutrina da expiação limitada advogada pelo teólogo protestante John Owen.

Certamente será um trabalho enorme, prolixo até, mas necessário para quem nunca parou para pensar de fato, e de forma profunda sobre isso. Inclui nesse público os teólogos reformados, que certamente nunca se debruçaram sobre o tema como será exposto aqui.

I.                   A intenção na morte de Cristo

Que o leitor aprenda, neste trabalho, a ler e interpretar a Bíblia. As palavras tem seu sentido, próprio e literal, e o contexto indica como elas devem ser entendidas. É desse modo que teses errôneas caem por terra quando postas à luz da Palavra de Deus. Uma doutrina que não puder harmonizar-se com a Bíblia não pode ser uma doutrina correta, e isso fica patente ainda quando claramente essa doutrina venha a contradizer a inteligência que Deus deu ao ser humano.

Em Mateus 18, 11, conforme é citado, Jesus veio para salvar o que estava perdido. Encontra-se aí o propósito de Deus, que é salvar os perdidos. Já de início, podemos perguntar a Owen, e a todo protestante reformado, quem estava perdido? Uma parte da humanidade apenas? Havia uma parte salva e outra perdida? De fato, não. Então, toda a humanidade estava perdida.

Todas as pessoas estavam mortas em pecado, toda a humanidade necessitava do salvador. Jesus veio, por isso, para o que estava perdido, então veio para todos. Parece que a refutação é simples e já está dada na primeira apresentação do texto bíblico. No entanto, como serão dados outros argumentos, por outros textos, cada um será analisado.

Portanto, o primeiro texto citado no livro de John Owen já pode ser entendido como ensinando a expiação ilimitada, que é a doutrina bíblica, ensinada na Igreja Católica desde o início: Jesus Cristo morreu na cruz para salvar todo e qualquer indivíduo. Essa foi a intenção de Jesus Cristo ao vir ao mundo. Agora, repitamos a leitura de Mateus 18, 11 seguido de Lucas 19, 10:

Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido.” (Mateus 18, 11)

Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” (Lucas 19, 10)

Em 1 Timóteo 1, 15 vemos que Jesus veio ao mundo salvar os pecadores: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.

Perguntamos então: segundo a Bíblia, quem são os pecadores? Só um grupo de pessoas entre a humanidade? Há necessidade de identificá-los? Outra vez, não. Pois de fato, todos são pecadores (cf. Romanos 3, 23). Então, Jesus veio para todos. Por isso, São Paulo podia incluir-se com certeza entre os que foram alvos da cruz de Cristo.

Mas, em Mateus 20, 28 é dito também que Jesus veio dar Sua vida em resgate por “muitos”. Nos textos anteriores usam-se expressões que denotam todos, e agora temos uma passagem que fala de muitos: “Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.

Aqui, o Calvinismo enxerga uma limitação. Owen afirma que essa é a identificação dos pecadores que serão salvos: muitos não todos. Por isso, então, a intenção e propósito graciosos de Deus, limitam-se a uma parte dos pecadores? Haveria aqui uma contradição com a conclusão já feita no início. Portanto, o termo “muitos” aqui não limita nada, mas apenas mostra que serão de fato muitos os salvos, e a Bíblia mostrará o motivo. Não se trata de limitar a intenção e propósito de Deus.

Mas, eis que Owen afirma que em outras passagens esses muitos são os “crentes”. De fato, pode ser lido assim, uma vez que o resultado da cruz de Cristo é a salvação de muitos, que são exatamente aqueles que creram em Cristo. Contudo, isso é diferente de afirmar que o propósito e a intenção de Deus foi salvar somente esses, e que os demais não entraram no plano. É algo que já o leitor pode ir tentando distinguir em toda essa tese.

A Bíblia não afirma em nenhum momento que a morte de Jesus teve como fim um grupo limitado, mas sempre a apresenta como referindo-se a toda e qualquer pessoa.

Então, já se faz outra refutação aqui, que é a referida forma como Owen constrói essa doutrina calvinista, identificando os pecadores como apenas “muitos pecadores”, e esses sendo os eleitos, e esses sendo os únicos pensados por Deus para receberem qualquer fruto de salvação eterna.

Por outro lado, a Bíblia afirma que Deus tem o propósito de salvar a todos, e que muitos chegarão à salvação porque creram. Isso ficará claro quando se fizer a devida refutação aos mais intrincados argumentos de John Owen a esse respeito.

Que o leitor não pense que isso é algo neutro, como se pudesse escolher a forma mais aparentemente correta, como se esse esquema de Owen estivesse no mesmo patamar da doutrina católica que ensina que os pecadores são todas as pessoas que existiram, existem e existirão até o fim do mundo. De fato não está.

A Bíblia não está afirmando que os pecadores que foram sujeitos no pensamento de Deus para serem salvos são um número limitado. Nenhuma passagem conclui isso. Portanto, deve-se entender como a Bíblia está afirmando, que Deus enviou Cristo para salvar a todos, ou seja, a todos os que estavam perdidos, o que não exclui ninguém.

E quando Owen lê os textos que falam de “muitos” de forma a torná-los o modelo principal para a leitura dos demais, essa forma de interpretar constitui um erro, pelo exposto motivo.

Para Owen, Jesus não teria vindo dar sua vida por todos os pecadores, mas por muitos, significando um grupo seleto, os eleitos apenas. No entanto, a palavra muitos aqui contrasta a única Pessoa de Cristo com a humanidade.
E, somente em sentido mais estrito, fala-se dos eleitos. Ou seja, no fim, os eleitos são esses muitos que foram salvos, o resultado da cruz, mas nunca especificando que foram os únicos que estiveram no propósito e intenção de Deus.

Sabemos que a Bíblia não se contradiz. Não se está dizendo, como já pode ser visto, que não exista o grupo dos eleitos, mas o que a teologia reformada ensina é que somente os eleitos podem receber a graça da Cruz, desde a intenção de Deus na eternidade. Isso significa que há o restante da humanidade que não teria sido alvo do sacrifício da cruz, e não pudesse receber nenhum bem para salvação eterna, que os levasse para serem salvos em Cristo. Assim, o calvinista afirma que os pecadores que Deus salva pelo sacrifício de Jesus são apenas os eleitos.

Como será mostrado, essa afirmação não é encontrada em nenhuma passagem bíblica, e o esquema para criação dessa doutrina, como explicado acima, é errôneo, e os motivos foram estabelecidos, de forma que o leitor irá se deparar cada vez mais com inúmeros motivos que desqualificam a tese reformada.

O texto de Gálatas 1, 4 não é lido exclusivamente sob a ótica reformada, mas está em conformidade com a interpretação católica: Jesus entregou-se a si mesmo por nossos pecados.

Pela leitura reformada a vontade e intenção de Deus seria separar os eleitos do mundo. Por isso, ele amou a Igreja, como está em Efésios 5, 25-27. Então, não teria amado o mundo, mas somente a Igreja, que conteria somente os eleitos.

Dessa forma, a teologia reformada lê os textos como absolutamente realizando o que pretendem, ou seja, que somente os eleitos tiveram os pecados perdoados na cruz, e somente eles serão livrados do mundo mau, segundo a vontade do Pai.

Mas, se assim fosse, já teria entrado em contradição com João 3, 16 onde Deus “amou” o mundo. Se Cristo amou a Igreja somente, excluindo o amor ao mundo, as passagens entrariam em colapso. Ou, de outra forma, a Igreja seria o mundo, um absurdo bíblico, que nunca identifica a Igreja com o mundo. Está então, mas uma refutação a essa tese reformada.

Em Tito 2, 14: Jesus entregou-se por nós para nos redimir de toda iniquidade e purificar um povo peculiar e zeloso de boas obras. Assim, a obra da cruz teria sido feita pelo Povo específico, a Igreja, os eleitos segundo parecer reformado. Essa seria a intenção e o desígnio de Cristo e do Pai. Por Cristo temos acesso à graça (Rm 5, 2).

No entanto, veja que se todos podem receber a graça proveniente da cruz, somente os que creem podem ter em si a redenção aplicada. É por isso que pode-se com certeza cada cristão afirmar que Cristo entregou-se por nós. No calvinismo isso não é tão claro assim, pois pode haver entre os cristãos inúmeros indivíduos pelos quais Cristo não teria morrido. Esse cenário reformado não é encontrado na Bíblia Sagrada. Por isso, todos podem afirmar certa e verdadeiramente: Cristo morreu por mim.

 

II.                O efeito da morte de Cristo

Essa leitura, portanto, é feita pelo motivo da morte de Cristo apresentar o efeito e produto da obra como está em Romanos 5, 10, que diz que quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus pela morte do Filho, e também em 2 Coríntios 5, 18 e 19, onde Deus estava reconciliando o mundo em Cristo, não imputando as faltas dos pecadores.

Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.

 

 

 

Primeiro, reconciliação com Deus

Mas, veja que o texto indica a expiação ilimitada. Todos são inimigos de Deus. Na cruz, fomos reconciliados com Deus. Agora, já reconciliados, seremos salvos pela vida de Cristo. Isso mostra que uma vez feitos amigos de Deus, nos aguarda a salvação final.

O reformado lê a passagem como efetuando a reconciliação somente dos eleitos. Mas, o texto bíblico afirma que Deus reconciliou conSigo o mundo. Outro problema para o calvinista, e quando ele tentar explicar que mundo quer indicar os eleitos, a passagem em contexto mostrará que não é assim, e os argumentos serão desfeitos detalhadamente.

Essa salvação, como visto, é mostrada na Bíblia como fruto da graça da perseverança, que com certeza irá chegar ao fim nos eleitos, mas que muitos, que vivem na amizade de Deus, alcançada na cruz, podem voltar atrás, e não alcançar a perseverança final.

Ao invés de pensar que os que renegam a fé são os que nunca foram salvos, deve-se reconhecer que são aqueles que negam a graça que receberam, negando a salvação, deixando de prosseguir e ser salvo pela vida de Cristo. Ainda, que no sentido alcançado na cruz já somos amigos de Deus. Falta ainda ser reconciliado individualmente, quando há a conversão.

Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.

Outra vez, Deus tem em Sua vontade a reconciliação do “mundo”, e não somente dos eleitos. Ao reconciliar o mundo, Deus não “imputa” os pecados do mundo. Assim, por causa da cruz, Deus põe “em nós a palavra da reconciliação”.

 

Segundo, Justificação

Da mesma forma que Deus reconcilia todos em Cristo, ainda que ainda sejam inimigos, e não imputa os pecados, ainda que estejam em pecados, agora, os que já foram reconciliados, pessoalmente, e tornados amigos na paz de Deus, podem esperar a salvação. É isso o que as passagens estão ensinando. O contexto é ilimitado para a intenção de Deus e Cristo na obra da cruz. Não está escrito que cada um dos homens que foram pensados para receberem a obra da cruz irão de fato, na realidade, e finalmente receber. Esse pressuposto não é lógico como Owen entende.

Isso mostra mais uma vez que a cruz tem em seu objetivo a salvação do mundo. O mundo inteiro, não somente os eleitos. Que o leitor entenda essas passagens que mostram sem rodeios a intenção e propósito de Deus para salvar o mundo.

Somente então, é que a palavra do evangelho é aplicada naquele que a receber. Owen dirá que se Deus justifica e tira os pecados, então não há como alguém ser condenado. Mas, o que a Escritura está afirmando é que objetivamente isso foi feito na cruz, e subjetivamente será necessária a participação livre, verdadeira, do pecador.  Não há lugar para pensar que a cruz é restrita aos eleitos. Em cada texto isso é previsto. Veja: Deus reconciliou o mundo consigo. Não é dito que reconciliou apenas os eleitos. E a interpretação geral corrobora isso. Ainda, Cristo aboliu em sua carne a inimizade que havia contra Deus. Em cada texto os pressupostos de Owen não são encontrados, a não ser que sejam lidos de forma pouco refletida, ainda que apegando-se a poderosa lógica assim que entra no argumento, tornando difícil se desfazer dele.

Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.” (cf. Ef 2,15-16).

O reformado lê esse texto entendendo que somente o eleito tem a inimizade com Deus desfeita na cruz, recebendo a paz com Deus. E, ainda, que se o texto estivesse endereçado a todos, então todos os indivíduos deveriam tornar-se amigos de Deus, e receber a salvação. Portanto, preferem limitar isso aos eleitos, por entender que o efeito da cruz tem de ser aplicado. Essa exigência está na teologia reformada, e não no texto, e contexto bíblico. Leia novamente para estar certo disso.

No entanto, em prosseguimento com a argumentação, o contexto bíblico é geral nessa passagem também, visto que fala dos judeus e dos pagãos, que pela cruz foram unidos, pois Cristo desfez a inimizade na Sua carne, criando um só povo, um só homem, criando na cruz um só corpo, ou seja, as nações pagãs e os judeus agora formam um único povo em Cristo, e todos podem, a partir da cruz, aproximar-se de Deus. Trata-se da expiação ilimitada.

A vontade de Deus expressa pela cruz de Cristo foi de fato alcançada. O caminho foi aberto. Agora, na vida de cada indivíduo, há a responsabilidade pessoal de ir a Cristo pela fé, tanto para os judeus quanto para os pagãos, pois estamos reconciliados com Deus. De forma geral, sem excluir ninguém. E, como diz alhures, devemos entrar no Povo e ser salvo pela vida de Cristo.

Veja que mesmo ainda sendo inimigos, pela cruz já éramos amigos. Só os eleitos serão amigos de Deus? Nenhuma passagem bíblica diz isso.

Então, somente na justificação é que a amizade é estabelecida particularmente. Isso não significa que somente o eleito esteve na intenção de Deus de um dia receber a graça da cruz. Pelo contrário, a Bíblia está dizendo que todos já estão reconciliados com Deus pela cruz, seja proveniente do povo judeu ou das nações. E mostra que quando alguém se torna amigo de Deus vem depois a salvação pela vida de Cristo.

Em nenhum momento se percebe que a Bíblia esteja mostrando a união dos povos, judeus e pagãos, para depois limitar os efeitos da cruz aos eleitos. Nada disso. O contexto é amplo, geral, ilimitado, mostrando que na cruz o muro de separação uniu toda a humanidade nessa obra, que propõe a todos o convite para a salvação.

Também, sobre os efeitos da cruz, são citados os textos de Hb 9, 12; Gl 3, 13; 1 Pedro 2,24; Rm 3, 23-25; Cl 1, 14; Hb 9, 14, 1 Jo 1, 7, Hb 1, 3, 13, 12, Ef 5, 25-27, Fl 1, 29, Gl 4, 4-5, Ef 1, 14, Hb 9, 15.

Jesus efetuou a eterna redenção. Isso não quer dizer que somente os eleitos foram pensados ali, como se somente os eleitos pudessem ter a redenção aplicada. Significa, porém, que Cristo efetuou a eterna redenção para todos, e que todos tem o direito de aproximar-se de Deus para recebê-la. É ao mundo inteiro que a redenção se destina, é endereçada aos dois povos, judeus e gentios, feitos um só.

Ele nos resgatou da maldição da Lei. Isso foi feito na cruz, mas apenas quem está em Cristo, quem for a Cristo, terá a maldição cancelada em si. Na cruz, todos já temos a maldição desfeita. Esse ponto é negado por Owen.

Deve-se entender isso, o efeito alcançado na cruz, e o efeito da cruz aplicado no indivíduo. O efeito é universal, na cruz, e é particular, para o indivíduo, e somente chegará ao fim se o fiel perseverar. Não é dito que somente o eleito foi resgatado da maldição da lei, mas que o resgate da maldição da Lei na cruz é para todos.

Jesus levou nossos pecados sobre o madeiro. É referente aos pecados de todos, dos que já viveram e dos que ainda nascerão até o fim dos tempos. Portanto, na cruz já está pago pecados futuros e pecados de quem ainda não existe. Por isso, em qualquer tempo que alguém confessar o Nome de Cristo, esse receberá o perdão e a reconciliação. Não se pode dizer que esse texto esteja dizendo que somente os pecados dos eleitos foram postos sobre Jesus. Por isso, o texto diz que Cristo levou os pecados para “que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça”.

Temos na cruz a remissão pelo sangue de Cristo, o perdão dos pecados. Uma vez que nos convertemos, temos esse perdão aplicado em nós. Que o perdão seja dado na cruz, a todos, não significa que todos irão recebê-lo, pois está condicionado à fé que o indivíduo deve exercer livremente.

E assim, para o reformado, todos os efeitos da morte de Cristo são entendidos eficazmente servindo para quem está envolvido nela, ou seja, todos pelos quais Cristo morreu serão salvos, serão reconciliados, justificados, adotados, santificados, terão a graça eficaz e entrarão na glória.

No entanto, os textos estão apenas mostrando o que a morte de Cristo preparou, e os efeitos dela na alma do que crê e mantem-se unido a Cristo. Não é dito que os efeitos da morte tiveram um público específico para usufruir deles, mas que o mundo inteiro pode experimentar esses efeitos salutares, sendo, contudo, especialmente experimentado pelos eleitos. Por isso, na cruz os eleitos são reconciliados, mas somente na conversão é que essa reconciliação se aplica a eles. Assim, todos são reconciliados, ficando à espera da conversão para receber esse benefício da cruz.

Por tudo isso, sendo que a morte de Cristo causa a reconciliação com Deus, a justificação e a santificação, a adoção, a posse comprada, o que significa que a morte de Cristo garante a todos os que estão previstos nela, a eterna redenção, a graça na terra e a glória no céu, o calvinista afirma que esses efeitos irão eficazmente ser aplicados.

Então, o problema que o Calvinismo propõe para ser resolvido é que, se a morte de Cristo confere realmente o que foi dito acima, que é a salvação a todos, se Cristo morreu por todos, poder-se-ia dizer que ou o Pai e Cristo falharam no objetivo proposto, não realizando o que intencionaram, ou todos os descendentes de Adão serão salvos. Ou Deus falhou ou haverá o universalismo.

E como a primeira opção é blasfema e a segunda contradiz a Escritura, o Calvinismo prefere afirmar que a morte de Cristo foi intencionada somente aos eleitos.

Podemos afirmar, ao cristão reformado, que Jesus morreu por todos, oferecendo ao Pai sua morte na cruz para que todos se salvem. No entanto, como explica Santo Afonso, Jesus não distribuiu igualmente Sua graça a todos, mas aos eleitos de maneira especial.

Assim, Ele ora pelos eleitos em João 17, 19. Por isso, Ele é o Salvador de todos, mas em especial dos eleitos, como diz São Paulo em 1 Timóteo 4, 10. Por isso, a Escritura afirma que Cristo morreu por todos (2 Cor 5, 14-15). Cristo cancelou o decreto condenação a toda a posteridade de Adão (Cl 2, 14-15). Ele deu redenção por todos (1 Timóteo 2, 5-6). A propiciação pelos nossos pecados, e não somente os nossos, mas os do mundo inteiro (1 João 2, 2).

Jesus não só preparou preço suficiente pela redenção de todos, mas também o entregou ao Pai. Ele oferece o remédio a todos os doentes que querem ser curados. Todos recebem a graça, ainda que uma graça menor, uma graça remota, como diz Santo Afonso. Então, se aceitam a graça, podem receber mais, maior graça, a graça eficaz, para serem salvos.

Santo Afonso explica, sobre a certeza da salvação, que: “A promessa feita aos eleitos é uma fundação certa para eles, mas não para nós individualmente, desde que não sabemos que nós somos dos eleitos. A fundação certa, então, que cada um de nós deve esperar pela salvação, não é a promessa particular feita aos eleitos, mas a promessa geral de assistência feita a todos os fieis para salvá-los se eles correspondem à graça”.

Cristo morreu por todos, e os eleitos finalmente receberão a graça eficaz, enquanto os não eleitos ficam sem a salvação por não terem aceitado a graça, ou por terem decaído da graça, e por sua negação, não obtiveram a graça eficaz. Ao invés de pensar que Cristo morreu por muitos porque só o foi pelos eleitos, esses muitos são os eleitos porque eles são aqueles que perseveraram na graça. A verdade então é que Cristo morre por todos, dá a graça a todos, e só os eleitos crescem na graça até a salvação. Neste capítulo é possível entender o motivo do calvinista não aceitar a expiação ilimitada, e como devemos responder a isso, mostrando que a expiação ilimitada é o ensino bíblico.


 

Capítulo 2

A natureza geral de qualquer propósito

Da natureza de um fim em geral, e algumas distinções a respeito dele.

I.                   A Distinção entre fim e meios

O fim de algo é o que o agente intenciona realizar por uma operação que é própria à natureza daquele fim, e que é aplicado a ele, inicia Owen seu segundo capítulo.

Certamente, Owen considerou todo o processo de salvação pensado por Deus para ser realizado no tempo. Assim, o fim de algo certamente é a salvação do eleito, que Deus intenciona realizar pelo plano da cruz, que é o meio de salvar, ou seja, chegar ao fim proposto por Deus, e que esse plano da cruz é aplicado para esse fim proposto.

Owen demonstra que os meios são todas as coisas que são usadas para atingir o fim proposto, e são causas do fim de alguma forma. Com isso, ele trabalhará a tese para explicar a redenção.

Explica que o fim da morte de Cristo é a satisfação da justiça de Deus. E afirma que os meios não são considerados bons em si mesmos. A tese partirá desse princípio, que é estabelecer o agente em ação, os meios empregados e o fim efetuado.

Parece não haver nada a ser objetado nesse capítulo, que fica à espera do que será proposto, e somente ao longo do processo é que se irá inserindo a crítica onde os pontos em questão destoarem da revelação bíblica.

O que se diz do fim de uma ação, dos meios empregados, da natureza dos meios, servirá para corroborar a tese. No entanto, é no desenvolvimento da mesma que se pode entendê-la bem. Não são todas as coisas que necessitam de refutação.

Deus preparou fins e meios, a salvação pela cruz, e estabeleceu a condição de que os pecadores livres cressem em Jesus Cruz e perseverassem na Sua vontade para usufruírem dos méritos de Cristo, de forma a serem salvos. Estabelecido isso, é certo que aquele que não crê não será salvo.

Se o fim é a salvação do pecador, aquilo que Deus intenciona realizar, enviando Seu Filho para morrer na cruz, que é a operação fundamental própria para salvar, que é aplicado para salvar, isso não nega o que está acima, ou seja, que a condição que Deus estabeleceu é coerente com tudo isso. A fé é a condição para ter todo o benefício do Calvário de Cristo.

Essa questão será tratada de forma detalhada por Owen, e a refutação será feita nos pontos em que Owen não estiver conforme os dados bíblicos, o que será mostrado passo a passo. O leitor tenha a paciência de ir adiante crescendo na fé e conhecimento dessa verdade maravilhosa.

II.                A relação do fim aos meios

 

A relação entre o fim e os meios mostra que há uma causa de um ao outro, escreve Owen. O fim é a causa do todo. Assim, Owen pensa já no fim que é a salvação, em que Deus já preparou tudo o que é para ser realizado do início ao fim para a salvação do pecador. E pensa no pecador específico, individualmente. É certo que isso não é próprio da doutrina reformada.

 

A doutrina católica ensina que Deus conhece os eleitos, desde a eternidade. O que será demostrado biblicamente é que a cruz não foi limitada aos eleitos, mas salvou toda a humanidade, e o motivo de nem todos serem salvos não foi uma determinação de Deus, mas consequência do dom do livre-arbítrio que o soberano Deus deu à humanidade.

 

Deus tem um fim em mente, que é salvar. Pensemos nisso. Então, Ele pensou em produzir tal coisa em tal momento para salvar. O início da obra de Deus em Sua intenção é já o fim. Assim, pensa Owen, Deus limitou-Se em salvar apenas uns e deixar outros para a condenação. John Owen já está construindo sua tese partindo desse pressuposto.

 

Sendo os meios as coisas usadas para atingir o fim proposto, Deus certamente assim o fez. Mas, sendo a fé, por exemplo, meio pelo qual o pecador chega à salvação, então Deus preparou a fé para os pecadores. Se alguns não chegam à fé “seria” porque Deus não haveria preparado a fé para eles. Isso é o que quer fazer pensar, pela tese proposta.

 

Está isso na Bíblia? Há algum lugar em que Deus é mostrado negar a fé a algum pecador por puro beneplácito? Não há. Há alguma passagem onde a cruz de Cristo é dita ser limitada apenas a alguns? Não. Isso é apenas um exemplo tirado dos princípios que Owen apresentou. A refutação já se inicia aqui, mas há muito o que ver ainda.

 

Então, essa teologia de Owen ainda não tem sua fundamentação sólida estabelecida. Isso irá ficando mais claro, enquanto caminhamos na exposição do teólogo reformado John Owen, e tudo o que não estiver conforme a Bíblia será demonstrado.

 

Um exemplo interessante para entender esse complicado argumento. Se Adão continuasse na inocência teria ganhado a vida eterna, assim como agora o fim do pecado é a morte. Isso é um resumo do que Owen magistralmente escreveu.

 

Ele também fala dos meios em sua relação natural, sendo a causa eficiente do fim. Cita 2 Sm 3, 27, onde Joab intencionando a morte de Abner e o mata à espada, e 1 Reis 2, 46 onde as feridas foram a causa da morte. Ele mostra a diferença das relações naturais e morais nos meios e fins.

 

III.             Os fins pertencem à obra, ou ao que fez a obra.

 

Considerado o defeito e perversidade de certos agentes, há diferença nos fins, mostrando a ação e a intenção.

 

Então irá mostra que se os meios não são adequados ao fim, então irá aplicar algo para obter um fim e obterá outro. Fala da moralidade do ato. Adão quis ser igual a Deus, comeu o fruto proibido, e contraiu a culpa que não almejou. Almejou ser igual a Deus e terminou recebendo o pecado por agir em obra moralmente má. Interessante exemplo dado por Owen.

 

O fim da obra e a intenção do autor devem ser iguais. Abel quis adorar a Deus e ofereceu o sacrifício pela fé, que foi aceito. Owen termina afirmando que somente Deus nunca desvia nas Suas ações, nem tem algum fim que não intencionou.

 

IV.             O fim é o benefício ou o beneficiário

O fim da morte de Cristo foi efetuado por Deus para satisfazer Sua justiça. O fim porque fez isso foi Sua glória. Tudo isso está conforme a doutrina católica. Deus determinou a morte de Cristo para satisfazer Sua justiça e salvar os pecadores, tudo para Sua maior glória.

No cenário bíblico onde Deus cria o ser humano livre, que cai em pecado. Deus envia Seu filho para salvar o mundo, onde todo o que crer nele será salvo. É óbvio que livremente deve-se crer em Cristo para chegar à salvação.

No plano metafísico, onde não há nada fora de Deus, a própria liberdade foi criada por Deus, nos seres livres racionais, onde suas ações são previstas em Deus e por Deus conforme a natureza que lhes foi dada, vista na eternidade, onde para Deus tudo é hoje, tornando tudo certo, determinado, previsto, livre e soberano.

Tudo isso será visto na Bíblia conforme os argumentos de Owen exigirem refutações.

V.                Os meios são bons em si mesmos ou conduzem ao fim

A morte de Cristo conduz ao bem.

 

VI.             Aplicando as proposições

O agente é Deus, os meios empregados são todas as coisas que Deus estabeleceu para a salvação dos pecadores, e o fim é o que foi efetuado na obra da redenção. Essa é a lição que temos até agora, considerando o que Owen propôs. Nada do que escreveu ainda consegue refutar a doutrina católica da redenção ilimitada.


Gledson Meireles.

 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Comentando artigo sobre Mc 3, 21

 

Lendo os artigos sobre Marcos 3, 21, no debate entre Dave Armstrong e Lucas Banzoli, resolvi estudar os textos e compartilhar um comentário, completo, sobre o seguinte artigo: Maria e os irmãos de Jesus achavam que ele estava louco? (Resposta a Dave Armstrong) ~ Lucas Banzoli.

Isso ajuda mostrar os pontos fortes e fracos do debate, o nível das argumentações, o quanto um debatedor está de fato entendendo o lado contrário. É um começo.

Para os protestantes a virgem Maria pecou, e isso eles tentam mostrar pela Bíblia, em raciocínios que procuram falhas e pecados na vida daquela que eles afirmam que foi santa, mas que tão pecadora como todos os demais homens e mulheres.

Essa forma de pensar não é tradicional entre os cristãos, mas surgiu aos poucos, certamente dentro do Protestantismo, que se esforça para negar os dogmas marianos. Os antigos escritores cristãos, que ainda não entendiam a doutrina da imaculada conceição, não criam da forma que é expressa hoje, pois o dogma não havia sido proclamado, e os debates em todo do tema não haviam sido resolvidos, esses eruditos viam em Maria uma mulher perfeita, a segunda Eva, sem pecado, purificada em algum instante do início da sua vida, e que viveu a partir daí sem cometer pecado, não ofendendo a Deus, não ofendendo a Cristo.

No entanto, para os protestantes a coisa é totalmente contrária, pois Maria teria sido uma serva de Deus, igual em patamar a todos os servos de Deus, e que pecava como todo santo peca. Por aí já se depreende que se trata de uma doutrina que não tem respaldo histórico, não flui naturalmente da razão e não está, portanto, em consonância com os dados bíblicos, interpretados em toda a história da Igreja.

Então, agora podemos ver se de fato há indícios bíblicos de pecados de Maria ou se isso é apenas uma elucubração protestante. O protestante parte da suposição de que todos pecaram, e Maria está incluída, e que portanto, ainda que não tenha nenhum pecado dela registrado na Bíblia ela pecou e ponto final. O católico entende que todos pecaram e Maria foi salva e preservada do pecado, não cometendo nenhum, e portanto não há nenhum pecado dela na Bíblia, e nem podia ter, por não existir. Essa é a intepretação bíblica tradicional.

Lendo Marcos 3, 21 é plenamente possível que os que diziam que Jesus estava louco era o povo, que chamou a atenção dos familiares, que preocupados foram até Jesus. É uma intepretação plausível. O povo dizia que o Senhor Jesus estava louco e os judeus afirmavam que estava possuído.

De qualquer forma, os irmãos de Jesus não criam nele, mas isso não pode ser dito de Maria. Se os irmãos de Jesus, ou seja, seus parentes, pensavam que estivesse louco, certamente isso não era a opinião de Sua mãe, que havia crido em Sua santidade, divindade, e sabido de Sua missão, desde os tempos do anúncio do anjo Gabriel, embora ela não soubesse cada detalhe do que se passaria. Assim é que ao ouvir de Jesus que ele devia estar na casa do Seu Pai, o templo de Jerusalém, José e Maria “não compreenderam” aquela afirmação, mas a virgem Maria “guardava” todas aquelas palavras em seu coração, como atesta Lucas 2, 51.

Afirmar que Maria pensou que o Senhor estivesse louco, portanto, não é plausível, não é do bom senso, não é uma interpretação bíblica coerente, não tem respaldo histórico, não é fruto da hermenêutica e exegese cristã católica nesses vinte séculos. É apenas uma “interpretação” protestante que prescinde de tudo isso, e que supõe que os parentes de Jesus, todos eles, inclusive Sua mãe, pensasse tal coisa dele. Eis a única força do argumento. É uma força bastante fraca. Essa leitura "natural" é também superficial.

Portanto, se os parentes de Jesus pensavam que Ele estava fora de si, isso não inclui Sua mãe necessariamente. Não há essa conclusão necessária. E, por último, pode mesmo ter sido o povo que pensou isso de Cristo, forçando seus familiares a irem até onde Ele estava, preocupados com sua segurança diante dos dizeres do povo e dos escribas. Essas duas interpretações são fortes. A primeira é formidável, correta, acredito, a segunda é plausível.

 Vejamos agora o que o Lucas disse a respeito do ponto de vista do Dave.

Quem são esses “que diziam”, em Marcos 3, 21? De fato, o texto afirma que os familiares “ouviram” falar algo de Jesus. Não pode ser que se trata da opinião popular, que “diziam”: Ele está fora da si? É, como dito acima, possível.

Portanto, não é preciso provar que os que disseram de Jesus no verso 21 é diferente daquilo que os mestre disseram, no verso seguinte. Isso está correto. O que não se pode ter certeza absoluta é que todos os familiares de Jesus pensavam isso dele. E, pela exegese bíblica, pelo bom senso, a virgem Maria absolutamente não pensaria isso de Jesus. Poder-se-ia terminar o comentário aqui, mas convém ir mais a fundo.

Então, ou a maioria dos familiares, com exceção de Maria, pelo menos, disseram que Jesus estava louco, ou isso foi dito pelo povo que chegou ao conhecimento dos familiares, que ficaram preocupados com Jesus. Certamente parte do povo era hostil a Jesus, pois grande parte cria em Jesus e estava maravilhada com Ele. Essas duas possibilidades dirimem a questão.

Por isso, Marcos 6, 4 nunca incluiria Maria. Os parentes de sua própria casa poderiam desprezar Jesus. Porém, isso nunca é dito, nem esperado, nem minimamente imaginado da virgem Maria.

Outra prova é que em João 7, 2-5, onde Maria e os irmãos de Jesus estavam presentes, o texto afirma, no final, que “nem os seus irmãos criam nele”. Diferentemente da Sua mãe.

Assim, quando Jesus inclui sua própria casa, isso exclui Maria, pelas razões acima. Até o texto bíblico, onde contextualmente havia citado Maria, quando fala da descrença mostra que somente “seus irmãos” eram os sujeitos. Em nenhum lugar se diz ou se infere isso de Maria.

Até mesmo o autor do artigo ao pensar que Maria era “totalmente” crente, quando os irmãos de Jesus não eram, já prepara a resposta concordando com o que se disse acima. Deveria pensar nisso.

A conclusão que o autor do artigo chega, a partir da intepretação da gramática grega, supõe que o povo fala bem de Jesus, estava aplaudindo suas ações, e ouvindo isso seus familiares saíram para prendê-lo, afirmando que Ele estava louco. Isso leva a crer que os familiares de Jesus eram mais incrédulos que o povo.

Isso está em contradição com Marcos 6, 4, onde os patriotas, os familiares, e os que viviam na própria casa são ditos como desprezadores do profeta, ou seja, uma alusão ao que estavam fazendo com Jesus.

Dessa forma, a análise grega não ajudou e inseriu um dado que contradiz o contexto maior. Assim, a frase pode ser corrigida da seguinte maneira, pensando que o povo, os da pátria, estavam denegrindo a imagem de Jesus e falando coisas negativas sobre Ele. Ouvindo isso, seus familiares foram até ele. Muitos dos familiares, com certeza, tinham opinião negativa sobre Sua missão, mas não Sua mãe, como vimos. A interpretação mantem esse dado intacto, pois está usando linguagem geral, sem que incluía toda e qualquer pessoa, pelos motivos estabelecidos.

Eles ouviram o que? Algo positivo ou negativo? Parece que ouviram algo negativo.

Ouviram e saíram para o pegar. Pode ser que ouviram que “ele estava fora de si”, e muitos pensaram ser esse o fato, saindo para prendê-lo.

Ao invés de ouvirem bem de Jesus e pensarem que estava louco, ouviram algo grave e concordaram, saindo para deter-lhe na Sua missão. Faz sentido? Parece que sim. E se não faz, diante da explicação do grego, onde disseram que Jesus estava fora de si para justificar sua saída para prendê-lo (Chegamos à conclusão que foram “os seus”, os mesmos que ouviram seu discurso e saíram para o prender. )? Permanece o fato que Maria, com certeza, não pensava isso do Filho, e saiu com os parentes, não crentes, porque, como mãe, naturalmente estava aflita pelo que poderia acontecer com Ele, temendo por sua integridade diante do que diziam uns e outros, talvez. O mais provável é a conclusão anterior, ou seja, que grande parte do povo, que desprezou Jesus, diziam coisas ruins dele. Isso desmonta a interpretação do artigo.

Na suposição de que os familiares não foram até Jesus para ajudá-los, mas para ir contra ele juntamente com o povo, isso torna a interpretação mais descabida ainda, tornando a posição dos familiares igual à dos mestres em gravidade. É novamente um sinal de que não é a interpretação correta. E, portanto, torna plausível a interpretação do Dave Armstrong.

Imaginem a virgem Maria, prendendo Jesus, e autorizando e concordando com os que pensavam em fazer isso, no sentido: “o de prender alguém, tomando-o à força e violentamente.”? Pode uma coisa dessa? Pode, pelo pensamento protestante. Não pode, pelos motivos acima elencados. Alguém pode refutar esses motivos, um por um? Esteja à vontade.

De qualquer, forma, entenda que a interpretação de que os familiares de Jesus pensaram em prendê-lo, à força, não é descartada. Apenas é afirmando que isso não foi o pensamento de Maria.

Jesus usou da ocasião para estabelecer que o mais importante são os laços espirituais. Não é dito que não foi até Sua família lá fora. Isso o evangelho não quis reportar, deixando apenas o essencial, ou seja, aquele que faz a vontade de Deus é parente de Jesus, ou seja, como irmão, irmã e mãe. Alguém duvida que Maria tinha fé em Jesus e fazia a vontade de Deus? É óbvio que essa não é uma postura cristã.

Agora, mais uma vez, alguém duvida que muitos dos parentes de Jesus não criam nEle e certamente queriam prendê-lo? Conforme Mc 6, 4 e Jo 7, 25, isso está claro. Isso está de acordo com a interpretação defendida aqui.

Então, passemos agora às partes onde o autor analisa as traduções, os comentaristas protestantes e católicos e passa à conclusão do artigo. Vejamos se o que diz pode demover o que foi estabelecido acima.

Ainda que o artigo do Lucas Banzoli seja bem detalhado, mostrando várias versões para a passagem de Mc 3, 21, apontando para a falta da palavras “pessoas” no original grego, que aparece nas traduções em inglês, há mais detalhes que o mesmo não verificou.

O texto também não tem a palavra “família”, que é traduzida por “amigos” em versões de grande peso, como é o caso da KJV, a Bíblia do Rei Jaime, ou rei Tiago, considerada por muitos como versão perfeita, em inglês, algo como que uma tradução inspirada do texto original, tamanha a sua reputação. É bom considerar isso, já que não tendo a palavra “família” no original, a introdução dela em inglês, nas traduções em geral, é um caso de “interpretação”, válida por sinal, e que está conforme o bom senso. Resta os estudos mostrarem se ela é plausível ou não.

O grego traz “οἱ” “παρ’” “αὐτοῦ”, o que traduzido é: “aqueles” “pertencendo a” “ele”. Ou seja: os seus. Quem são? Certamente seus familiares. Outras versões trazem seus amigos. O termo “ἔλεγον” é traduzido como “eles estavam dizendo”. Pode ser traduzido “disseram” também.

Quando se lê o texto, não se encontra a palavra família, nem pessoas, nem amigos no original. Portanto, se trata de uma tradução que está dependendo muito do contexto para verificar o sentido, para identificar essas pessoas.

A Fleming Bridgeway Bible Commentary concorda que somente os parentes de Jesus pensaram que ele estivesse louco. Não cita Maria nessa acepção, por motivos óbvios.

A Adam Clarke Commentary é mais vaga e diz “seus parentes” apenas. Talvez também não incluía Maria nesse pensamento. Caso sim, foi um erro do comentário.

No comentário Dr. Constable´s Expository Notes, a ideia é que a família de Jesus teve a melhor das intenções, que o verbo kratesai é tomar custódia ou assumir comando, e não a prisão de alguém, nesse contexto. Aí está um estudo sério que contradiz a conclusão do Lucas Banzoli, que tanto criticou esse sentido do verbo usado pelo Dave Armstrong. Enfim, o sentido cabe no contexto de Mc 3, 21. As palavras duras do apologista protestante contra o apologista católico nesse quesito não seriam necessárias.

No Gill´s Exposition of the Entire Bible, de John Gill, são usadas as palavras parentes e amigos, para o que está no original. Lembre-se que as palavras em si não estão lá, mas pelo visto o expositor considerou que muitas pessoas próximas a Cristo foram citadas ali. Concorda que eles, familiares e amigos, tinham a melhor das intenções. Isso concorda com a interpretação do Dave Armstrong, tanto criticada no artigo.

No Henry´s Complete Commentary on the entire Bible, de Matthew Henry, entende que se trata de “seus parentes”, citando para isso Jo 7, 5, o que certamente entende o comentarista que não se aplica a Maria. Por isso, escreve: “Seus parentes, muitos deles...”. Mais um ponto favorável à interpretação católica, bastante robusta.

No Ellicott´s Commentary for English Readers, de Charles John Ellicott, é mostrado que o original, que está “aqueles dele”, se refere aos seus “amigos”, ou, como diz adiante, “aqueles de sua casa”, e explica, sua mãe e irmãos, como são citados adiantes, são alguns dos que pensavam que Jesus estava fora de si: “devemos ver neles alguns que eles enviaram com o mesmo objetivo”. Portanto, mais uma vez o comentarista não vê esse pensamento para a pessoa de Maria. Mais um que concorda com a interpretação católica, que está conforme a Palavra de Deus e o bom senso.

O Cambridge Bible for Schools and Colleges, de John Perowne, parece entender que Maria pensou que Cristo estava fora de si, como havia pensado os demais. Sendo assim, pelo exposto acima, que ficou bastante claro, esse comentário é superficial, contendo esse equívoco. Pelo visto, até agora, tudo reforça a interpretação católica.

Craig Evans afirma que era opinião da família de Jesus e não do povo, de que estava fora de si. Se pensou em incluir Maria nessa, errou.

A opinião de Ray Stedman mostra que a família de Jesus teve boas intenções ao pensar que Ele havia elouquecido. William L. Craig pensa que a opinião era dos familiares de Jesus. Será que pensou isso de Maria também? Sendo assim, Craig equivocou-se.

E a opinião geral dos católicos sobre quem disse “ele está fora de si” é que foi a família de Jesus. Não foi Maria, mas muitos dos seus, dos familiares e amigos, dos próximos a Ele, como fica claro pela leitura do grego original.

Os comentários católicos que parecem incluir Maria como tendo opinião de que Jesus tinha perdido a cabeça está em falha nesse ponto. Os motivos já foram expostos acima, que parecem ter estabelecido que essa leitura não é compatível com oi ensino da Bíblia sobre a virgem Maria.

E o comentário de Teofilato corrobora a posição católica, de que muitas pessoas, amigos, parentes, compatriotas, podem estar naquela expressão “os seus”, que está no original. Não se fala que Maria tenha tido tal opinião.

Por tudo isso, quando se diz que não é totalmente certo de que aquelas pessoas que estavam próximas a Jesus fossem identificadas como sua mãe e irmãos. É um ponto que o comentário que o Dave cita traz à tona, ponto criticado severamente no artigo, mas que tem seu valor, pelo exposto antes.

Se outros saíram junto com os irmãs e mãe de Jesus, isso não é necessário que fique expresso cada vez que essas pessoas sejam aludidas. Na passagem onde se que que sua mãe e seus irmãos estão lá fora, isso é mostrado porque a ocasião é utilizada por Jesus para falar da relação espiritual entre Ele e seus discípulos. Não é uma prova contra tudo o que foi dito acima. Mas, de fato, também não se nega, nenhuma vez, que os familiares de Jesus estejam relacionados no cerne da questão. O que não se pode ter em mente é que Maria tenha pensado que Seu filho estava louco. Longe disso.

Os seus, no original, inclui a família biológica, mas não é certo totalmente que é restrito a ela. Por isso, grandes tradutores e equipes de tradução viram “amigos” nessa expressão, explicaram como compatriotas, mesmo sabendo que era um semitismo para familiares também.

Contexto bíblico: não inclui Maria como tendo opinião errada sobre Jesus. Já explicado, repita-se. Gramática: ainda assim traz problemas se interpretado como feito no artigo, como já demonstrado. Grego: inclui até amigos e compatriotas, o que está conforme Mc 6, 4. Consenso acadêmico: não inclui Maria como tendo opinião errônea sobre o Senhor Jesus. Católicos em geral irão concordar.

E, no fim: “Ele diz que, mesmo que eu estivesse certo na minha forma (e de todo mundo) de interpretar o texto, isso ainda não incluiria Maria (porque Maria precisa ser imaculada, ou o dogma romano é falso):”.

Preste atenção que tudo exclui Maria do contexto dessa opinião, sem tratar diretamente da doutrina da imaculada conceição, mas mostrando que a Bíblia, os comentários em geral, não colocam Maria nesse quesito. E, sabendo que Maria foi imaculada, não poderia mesmo estar nesse meio. E quanto à opinião protestante, falhou na tentativa de contá-la como concordando com ideias equivocadas da sua família. Essa também foi a opinião do Dave.

Agora é enfrentar as argumentações finais do Lucas contra essa asserção. Ainda que saibamos que ficou clara a prova de que a virgem Maria não teve qualquer erro de opinião sobre Jesus.

João Batista pode até mesmo ter tido dúvidas quanto a Jesus. Mas o que pensar daquela que soube desde o início que a geração daquela criança em seu ventre se Deus de fato pelo poder de Deus, e que aquela criança era FIHO DO ALTÍSSIMO, o SALVADOR? Como poderia ela pensar que Jesus estivesse fora de Si quando estava em Sua vida pública, uma vez que quando não compreendia bem alguma coisa guardava tudo em seu coração, assim como as palavras que outros diziam dele, como guardou as palavras do velho Simeão? É impensável que se possa comparar uma possível dúvida de João Batista com a de Maria. Veja que no evangelho o pai de João Batista foi castigado por Deus por falhar na fé, enquanto Maria aparece como exemplo de fé, quando se compara as duas cenas da anunciação da concepção de João e da encarnação de Jesus. Pense nisso.

Pensar que Jesus tivesse passado do ponto indica que Suas atitudes tivessem sido muitíssimo diferentes daquelas adotadas desde quando criança, e que Sua mãe não O conhecia tão bem ainda, já aos trinta anos, que pensasse algo que não coaduna bem com a missão do Messias, que ela já conhecia tão bem.

As comparações com a descrença dos discípulos que ouviam as pregações de Jesus também são fracas. Maria não apenas ouvia  o que Jesus pregava, mas, como já dito antes, sabia que Ele era de fato quem era, e sabia bem o que podia realizar. Veja que em Caná ela sabia do poder que tinha para conseguir o vinho para a festa. Os “irmãos” de Jesus não vislumbravam nada disso.

Assim, é impossível, praticamente impossível, que Maria tenha tipo “descrença momentânea”, “incerteza”, “suspeita”. Quando não compreendia algo, guardava tudo no coração. Impensável que saísse desesperada para prender o filho pensando que estivesse louco. Cena deplorável dessa interpretação errônea.

O Dave diz que não há prova de que Maria estivesse entre os descrentes. O Lucas Banzoli acha possível que Maria tenha tido descrença, incerteza, suspeita. Mas, no final das contas, afirma que o evangelista coloca Maria entre os que achavam que Jesus havia enlouquecido.

Supõe que ali só havia a mãe e os parentes de Jesus, quando a Bíblia entrevê que pode ter sido muito mais pessoas. Também pensa que todos ali pensavam o mesmo sobre Jesus, e queriam, “POR ISSO”, prendê-lo, no sentido de levá-lo para casa e prendê-lo lá.

Já está provado neste artigo que Maria é exceção entre os que pensavam que Jesus estava louco. Está provado pela Bíblia, contextualmente, pelo bom senso, pelos comentaristas bíblicos, pelo consenso geral dos comentários bíblicos, pela fé da Igreja em peso. De fato é novidade por Maria entre esses que pensavam na “insanidade” de Jesus.

Se Maria estivesse com a mesma ideia dos demais, as palavras de Jesus de que são seus familiares os que fazem a vontade de Deus poderia ser usada para afirmar que, no contexto, pelo exposto, Maria fazia a vontade de Deus, não tinha essa relação espiritual com Cristo, e portanto era descrente, infiel, pecadora, etc.

É praticamente ir contra tudo o que a Escritura Sagrada, a Bíblia, mostra a respeito de Maria, inclusive a distinguindo na fé quando a questão é tratada diretamente, como João 2, no milagre de Caná, e João 7, onde os “irmãos” são apresentados como descrentes, nunca a virgem Maria. E o evangelista Marcos não coloca Maria em nenhum momento como estando em dúvida, incerta, e muito menos sem fé, diante de Cristo.

Não há, portanto, nada que leve a pensar que Maria tenha cometido pecado. As interpretações desse tipo são fracas, baseadas na hipotética identificação de Mc 3, 21 com 3, 31, como se todos os citados em um texto forem com certeza todos do outro texto, com mesma opinião e atitude. Tudo o que foi mostrado vai contra essa interpretação, que nega o consenso exegético da mesma, o bom senso, as argumentações bem fundadas, os comentaristas protestantes citados no artigo, em geral, e o parecer católico consensual sobre o tema. Parece que não ficou um só argumento importante sem resposta. Os familiares são mostrados nesse âmbito pelos evangelhos, mas nunca a virgem Maria. Pelo contrário. Isso também é uma prova robusta. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

Gledson Meireles.