quinta-feira, 25 de maio de 2017

Orígenes chama Maria de senhora

O artigo de Fernando Galli tem como objetivo mostar que conceitos marianos fora da Escritura entraram na Igreja, contaminando até os padres da Igreja primeiros séculos.

Qual o sentido o título “senhora” usado para Maria? Parece que os protestantes são incapazes de entender. Veja o que explica o artigo “Por que chamamos a mãe de Jesus de Nossa Senhora? Não existe apenas um Senhor?

“A Mãe de Jesus, com toda certeza, merece esse respeito e, por isso, a designamos comumente como Senhora, sem qualquer conotação com o sentido especificamente bíblico do termo Senhor.”

(Disponível em: <http://www.diocesedeanapolis.org.br/index.php/perguntas-e-respostas/452-por-que-chamamos-a-mae-de-jesus-de-nossa-senhora-nao-existe-apenas-um-senhor>)

Portanto, com o título de senhora, usado pelos cristãos católicos, em relação a Maria, não fazemos mais do que honrar a mãe de Jesus com a honra que lhe cabe, ao associá-la ao Senhor Jesus, nosso único salvador.

O autor do artigo afirma: “Fora deste contexto, senhor apenas é um mero título de respeito, podendo ser usado para qualquer ser humano.”

Pois é isso mesmo, o título de senhora é usado para a virgem Maria, em contexto religioso, para honrá-la por ser a mãe do nosso Senhor. Mais do que isso, é acrescentar à nossa fé o que não há, e que deverão prestar contas quem atribuir à fé dos outros o que vai além do que a fé contém.

Isso é o que a doutrina oficial da Igreja Católica ensina, e não é algum erro teológico que um ou outro católico venha a cometer e apresentar como doutrina católica. Fiquemos atentos.

Orígenes (253 d. C.) chamou Maria de “Tu, minha Senhora”: muito bem, nisso ele estava certo.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O fundamento da Igreja em Mateus 16,18

No artigo Mateus 16:18 e o fundamento da igreja, o autor afirma que “os papistas” “cortam o contexto” que tornaria claro qual a pedra mencionada no texto.

E com impressionante criatividade, faz um jogo com os pronomes "isto" e "esta" para afirmar que a declaração de Pedro está sendo referida “claramente”. Assim explica:

Mateus 16
13
E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?
14 E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas.
15 Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?
16 E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
[a declaração de fé de Pedro]
17 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque isto [a declaração de fé de Pedro] não foi lhe foi revelado pela carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.
18 Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra [a declaração de fé de Pedro] edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

O grande problema é que uma leitura normal do texto torna desnecessário explicar que o ISTO do versículo 17 é a declaração de Pedro, já que não há outra possibilidade de entender, segundo as normas da língua, para quem tem o bom entendimento de um texto. Isso é realmente claro, mas não para o que o autor propôs.

Para ligar o pronome ESTA, do versículo 18, à declaração de Pedro, deveria o texto ficar assim:

Mateus 16

13 E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?
14 E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas.
15 Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?
16 E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
[a declaração de fé de Pedro]
17 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque isto [a declaração de fé de Pedro] não foi lhe foi revelado pela carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.
18 Pois eu digo que sobre esta pedra [a declaração de fé de Pedro] edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

Portanto, somente dessa forma, retirando pelo menos o “tu és Pedro (pedra)”, ou como foi feito acima, é que o texto forçaria-nos a entender a “pedra” como a confissão, já que não haveria outra saída, pois não teria tratado de pedra alguma na passagem, ou seja, por não ter sido apresentado nada antes que pudesse ser identificado como pedra.

O que o autor disse sobre o “isto” no verso 17 está correto. Vejamos:

“Bem aventurado és tu Simão, porque isto não lhe foi revelado pela carne e o sangue”.

Basta perguntarmos: isto o quê? E responder: o que acaba de ser dito por Pedro. Pronto, não há dificuldade alguma.

Assim, o que Jesus afirma no verso 18, é igualmente fácil de entender:

“Pois eu também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra...”

Uma vez que Pedro significa pedra, a expressão sobre “esta pedra” significa sobre Pedro, nada mais.

É um salto gigante entender a frase: sobre esta pedra, como sendo a confissão que foi dita no verso 16, e que sem qualquer explicação entende que essa foi chamada de pedra. Eis erro.

No intuito de reforçar a interpretação, o autor afirma: “O que estava em jogo era quem era o Filho do homem, e não quem era Pedro”.

Então, o que Jesus disse a Simão: “Tu és Pedro...” foi algo inútil? Obviamente não. Portanto, houve a apresentação de Pedro também.

Assim, a afirmação abaixo acerta na primeira parte, e erra na segunda:

Cristo, então, começa a trabalhar através desta mesma confissão de Pedro. Ele afirma que (1)  “isso” (referindo-se ainda ao fato de Cristo ser o Filho de Deus) havia sido revelado por Deus a ele (Pedro), e que sobre (2) “essa pedra” (i.e, essa mesma confissão) a Igreja estaria edificada.

Contrariamente à interpretação apresentada, o foco saiu de Cristo e foi para Pedro, já que é uma conversa, pois Jesus diz: Pois eu também te digo, que tu és Pedro. Não é isso uma mudança de foco, um endereçamento a outra pessoa?

Pedro disse: Tu és o Cristo. Jesus disse: Pois eu também te digo que tu és Pedro. É um diálogo, onde Pedro fala a Jesus e Jesus a Pedro. Isso é claro.

E o artigo comete outro erro ao afirmar que Pedro não pode ser fundamento porque é dito que Jesus é o fundamento.

Assim, Pedro seria uma coluna, como está em Gálatas 2,9, em igualdade com as demais colunas, os outros apóstolos, e somente um fundamento é revelado.

Para isso, cita 1 Coríntios 3,11, onde Jesus é o fundamento, mas esquece-se que em Efésios 2,20 a Igreja é alicerçada no fundamento dos apóstolos e profetas, o que radicalmente refuta a tentativa de retirar o fundamento Pedro, em Mateus 16,18, por meio de textos como 1 Coríntios 3,11, causando confusão interpretativa. Para melhor entender, basta ver que na representação em Mateus 16,18 Jesus é o Construtor, e em 1 Coríntios 3,11 o construtor é o apóstolo Paulo.

Assim, o erro é entender diferentes metáforas escolhendo uma como critério para interpretar a outra

Gledson Meireles.

domingo, 21 de maio de 2017

Mais sobre petros e petra

O artigo Diferenca entre petrus e petra, tenta demonstrar que há real diferença entre petros e petra no texto de Mateus 16,18, e que com isso é refutada a afirmação católica de que a Igreja está construída sobre Pedro, conforme a passagem. Mera esperança.

Entretanto, Karl Keating afirma que os eruditos do grego mostram que havia diferença entre uma e outra palavra na poesia grega antiga, que pode ser encontrada em séculos antes a Cristo, e que somente no grego ático essa diferença existe, não no grego koiné, que é o grego bíblico.

De fato, isso já foi provado pela leitura da passagem, e análise da mesma, não restando mais dúvidas.

Porém, no artigo podem ser elencados certos tópicos que tentam desfazer essa conclusão:

1) o fato de que petros significa fragmento de pedra, enquanto que petra significa rocha.

2) As citações feitas pelos católicos nos dicionários são falsas.

3) “Não há exemplos de bons autores do emprego de petra no sentido de petros, isto é, um seixo” (Dicionário de Liddel and Scott) 

4) O demonstrativo TAUTE encontra-se no feminino, ligando-se, portanto, gramatical e logicamente à palavra feminina PETRA (pedra) à qual imediatamente antecede.

Em João 1,42 Jesus fala em aramaico a Simão, e diz que seu nome será Kepha. O tradutor explica aos leitores do grego que esse nome significa Pedro (nome masculino), que no idioma grego koiné significa pedra, rocha. Portanto, não há nada mais do que isso.

O original grego de Mateus 16,18 usa a mesma palavra para Pedro: “que tu és Pedro, e sobre esta pedra”. Em 1 Cor 3,12 “pedras” é expresso pelo grego “lithous”. Em Efésios 2,20, Jesus é chamado de “a pedra de esquina”. Nesses textos não é usada a palavra petra para Jesus.

A palavra Kephas é de origem caldaica, e significa ROCHA. (Strong, 2786). É comparada com keph, que vem de kaphaph, que significa também uma rocha.

Petra é a palavra 4073 na Concordância de Strong, e é o feminino de Petros, número 4074, e quer dizer “uma (massa de) rocha”. É figurada ou literalmente uma rocha.

Petros é maior do que lithos. Ou seja, o conceito proveniente da palavra petros indica algo maior do que o indicado por lithos. E kepha significa rocha no aramaico, segundo a mesma Concordância de Strong, e que foi usada para traduzir petros.

Sabendo que lithos é usado para falar de Jesus, ninguém irá supor que petros faz de Pedro alguém maior que o Senhor. E lembre-se que o termo normalmente indica, no dicionário, uma pedra menor.

Assim, não há porque supor que o uso de petros para Pedro tenha a mínima intenção de contrastá-lo com petra em Mateus 16,18, já que Jesus não é chamado em outros textos que falam de fundamento por petra.

Petra é usada em Mateus 7,24 (casa construída sobre a rocha), Mateus 16,18 (pedra onde é construída a Igreja), Mateus 27,51 (as rochas que foram partidas). Em Mateus 27,60 a rocha onde o túmulo de Jesus foi construído é petra, enquanto que a pedra que tampou a entrada do sepulcro é lithos. O mesmo é dito em Marcos 15,41.

O que muitos não sabem, porém, é que a Bíblia usa lithos em comparação com petra, chegando a ser sinônimos também, quando falando de Jesus. Em outras palavras, os termos denotam o mesmo no sentido espiritual.

Assim é que, em 1 Pedro 2,4 Jesus é a Pedra (lithon) viva e rejeitada, e no verso 5 todos os cristãos são pedras (lithoi) vivas do edifício espiritual.

No verso 6, Jesus é a Pedra (lithon) angular, como no verso 7 Jesus é a Pedra (lithon) que os construtores rejeitaram, e no verso 8 Jesus é tanto a pedra (lithos) de tropeço, como a pedra (petra) de escândalo.

Assim, pedra de tropeço é lithos proskomma, e pedra de escândalo é petra skandalon, que significam o mesmo: a pedra que faz cair.

A Almeida Corrigida e Fiel traduz “pedra de tropeço” e “rocha de escândalo”, mas o significado de skandalon inclui também o fato de ser de tropeço, pois é figurativamente usado em sentido de armadilha, causa de pecado. É uma ocasião de queda, de tropeço, ofensa pedra de tropeço, na Strong´s Concordance.

Desse modo, pelos parâmetros bíblicos, tanto lithos (que significa pedra pequena) como petra (que significa uma pedra grande) são aplicadas intercambiavelmente a Jesus, e assim o significado em relação ao Senhor é sempre de Pedra no máximo de sua força (nenhum cristão pode discordar), e podemos afirmar que isso é independentemente do significado em si mesmo do termo no dicionário, pois a verdade que aqui está sendo revelada é de cunho teológico.

Portanto, estão refutadas as quatro sentenças mencionadas no início do artigo:

1) o fato de que petros significa fragmento de pedra, enquanto que petra significa rocha.

No dialeto grego koiné não há essa diferenciação. Ainda que em alguns textos gregos da antiguidade possa ser encontrada tal distinção, não é regra absoluta, e o termo petros normalmente é o masculino de petra e possui sentido idêntico.

Além disso, o evangelho de Mateus faz a distinção entre petra e lithos e não entre petra e petros, que são iguais.

Quando ocorre distinção, petra significa uma rocha firme, e lithos uma pedra móvel. Mas, lembremos que o Novo Testamento também utiliza lithos para falar do Senhor Jesus. Se fosse para fim de distinção, São Mateus utilizaria lithos e petra.

2) As citações feitas pelos católicos nos dicionários são falsas.

Não parece. Que os apologistas respondam a isso.

3) “Não há exemplos de bons autores do emprego de petra no sentido de petros, isto é, um seixo” (Dicionário de Liddel and Scott)

Essa constatação, que deve ser melhor explicada, não tem a ver com o que foi demonstrado aqui, pois não refuta o que foi colocado sobre a passagem de Mateus.

4) O demonstrativo TAUTE encontra-se no feminino, ligando-se, portanto, gramatical e logicamente à palavra feminina PETRA (pedra) à qual imediatamente antecede.

O problema da conclusão que o autor tira dessa construção da frase é que realmente a sentença pode ser assim, e ainda continuar a ser Pedro o referido: a pedra sobre a qual a Igreja é construída é aquela que foi citada, Pedro. Fica fácil entender nessa tradução: “Tu és Rochoso e sobre esta rocha edificarei a minha Igreja...” Lembre-se que os termos são sinônimos, e o sentido é mantido ainda que o conceito masculino seja citado sob o termo feminino na segunda parte, como ocorre com “rochoso” (masculino) e “rocha” (feminino) sem problema algum. Ninguém irá perguntar: “que rocha?”, pois o conceito está no termo “rochoso”.

Também, como mostra Sungenis, a palavra taute em 1 Cor 7,20, em 2 Cor 9,4 ou Marcos 14,30 significa “mesmo”. Assim, em Mateus 16,18 Jesus está referindo-Se a “esta mesma pedra” que foi falada antes, ou seja, Pedro.

Assim, a passagem: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, pode ser traduzida assim:

Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta mesma pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Onde Jesus falou de pedra? Quando disse: Pedro, e somente aí.

O verso 16: E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.

O verso 17: E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.

O verso 18: Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Tradução Almeida Corrigida e Fiel.)

Jesus usou o pronome possessivo “minha”, e por isso se quisesse dizer que a pedra era Ele mesmo, teria dito: “E sobre Mim edificarei a minha Igreja”, o que mesmo assim estaria fora do contexto inteiro, já que Ele está falando a Simão, usando o seu novo nome: (Simão) tu és Pedro.

Até mesmo o “também” explica isso. Pedro disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” São duas partes, correlacionadas, uma explicando e revelando mais a respeito da outra:

1ª TU ÉS O CRISTO

2ª O FILHO DO DEUS VIVO

Jesus faz o mesmo:

“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

1ª TU ÉS PEDRO (PEDRA) – (Por que o nome pedra?)

2ª E SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA

Se Jesus usasse as palavras de Pedro para afirmar que “sobre esta pedra (que sou eu) edificarei a minha Igreja”, não haveria sentido em sua tomada de posição para falar a Pedro iniciando com ênfase sobre a pessoa do apóstolo: Pois também eu te digo que tu és Pedro, pois a ÚNICA coisa dita nesse sentido seria que o apóstolo era Pedro (pedra), e pronto. Mas, por quê?

Imagine que Pedro disse: Tu és o Cristo... Então, Jesus usa a ocasião e diz: Tu és Pedro.

Isso significaria apenas o seguinte: Simão, saiba que tu és Pedro, que quer dizer pedra. Mas, qual o motivo para esse nome? Por que Simão é chamado de pedra? Se não houvesse explicação, ficaria sem sentido.

Ainda com tudo isso, é possível ver que Pedro é a pedra por ter confessado a Jesus, e isso volta ao que santo Agostinho explicou: Pedro confessou a Pedra profunda da Igreja (pois Jesus realmente é a Pedra, ainda que nessa passagem Ele seja o Construtor), e por isso foi chamado de Pedro, a pedra derivada da Pedra angular.

A Igreja está sobre Jesus Cristo (Pedra), mas Pedro tornou-se Pedra por ter sido o confessor dessa verdade, o primeiro a pronunciar a confissão (pedra) que é fundamento da Igreja, e por isso ele é a primeira pedra, tendo nele a comunhão de fé na Pedra Angular que é Jesus.

Da mesma forma, Pedro permanece pedra em seu sentido evangélico intocável.
 
Gledson Meireles.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Petros e Petra

Jesus mudou o nome de Simão para Pedro. Essa palavra tem basicamente o mesmo sentido de petra. A língua aramaica tem o termo Kepha para designar petra ou petros no grego, e essa palavra aramaica significa somente pedra, em sua acepção de uma pedra de tamanho considerável, uma rocha grande.

É fato bíblico que o nome Pedro é a transliteração de Kepha. Assim, o evangelista emprega Petros para o nome adicionado a Simão, mas sabemos que no original, quando foi pronunciado,  as palavras de Jesus foram KephaKepha. Dessa forma, Petros e petra no texto de Mateus 16,18 significam pedra grande, como fundamento, e só tem esse sentido.

Além disso, deve-se ter em mente, petros e petra no grego significam a mesma coisa, como já afirmado. Por vezes, petros aparece, em alguns textos na literatura grega, significando pedras menores, mas isso não interfere no caso acima, já que o grego mais antigo usa intercambiavelmente as duas palavras com o sentido único de pedra, e o que foi dito acima, sobre as palavras de Jesus, torna impossível outra leitura que não seja a de que Petros e Petra signifique a mesma coisa. Além do mais, a Bíblia não oferece a doutrina que nos leve a distinguir uma pedra grande de pedras pequeninas, como se isso fosse a intenção de Mateus 16,18.

A explicação plausível para o uso do nome Petros para Pedro e não petra, é que é regra do grego que os nomes terminem em as, es, is, os, us, e assim foi empregado Petros e não Petra para significar o que conhecemos como Pedro. Além do mais, Petros é um termo masculino, e petra é uma palavra feminina, ficando melhor o emprego de Petros para um homem, do que chamá-lo de Petra, uma vez que Petros tem o mesmo significado, que é o que importa, e ainda soa melhor, o motivo da adaptação.

Se for objetado que Cristo é chamado de Petra e não de Petros, tornando a explicação da adaptação de gênero implausível, basta afirmar que nunca o Senhor Jesus teve como nome “Pedro”, só por ter sido chamado de Pedra Angular ou Pedra de Esquina, ou da Pedra que vertia água para os homens beberem.

Esses termos (pedra, fundamento) não foram empregados como nomes de Jesus, pois Pedro foi o único, em toda a literatura, a ser chamado de Pedra(o). Assim, temos que o apóstolo Pedro é o “Senhor Pedro”, ou o “Senhor Rocha”, e foi a primeira pessoa a receber esse nome, pelos dados que conhecemos.

No artigo Respostas a um-católico sobre Mateus 16:18, o autor aludiu a essa explicação, que conheceu por meio de vários apologistas católicos, e expressou sua recusa em aceita-la, dizendo: “Eu discordo totalmente deste ponto de vista, e por uma razão simples: Jesus é em todas as partes do Novo Testamento chamado de “pedra” (petra), e ele é um homem.”.

Porém, como vimos, o “fundamento” que é apresentado para discordar da explicação é inválido, já que Jesus não é chamado de pedra como sendo esse o Seu nome, mas é chamado de pedra ou fundamento, tendo o termo pedra uma ligação que explica o Ser e função de Jesus em relação à Igreja, e não um nome que lhe foi dado, nem que Ele mesmo tenha adotado. Do contrário, teríamos “Jesus Pedra” ou “Jesus Pedro”, conforme possível de tradução, assim como temos Simão Pedro, que realmente acontece com Simão, ou também como temos “Jesus Cristo” ou “Cristo Jesus”, que são os nomes do Senhor Jesus. Então, Petra nunca foi um “nome” de Jesus, mas apenas um termo que explica, metaforicamente, um atributo do Senhor. Ele nunca recebeu essa metáfora em substituição ao Seu Nome Jesus, nem em adição a ele, de forma alguma. Portanto, argumento descabido.

E o argumento prossegue com a pergunta: “Portanto, se Jesus (um homem) pôde ter sido chamado inúmeras vezes de petra (feminino), por que Pedro (outro homem) não poderia ter sido chamado de petra também?

Como já foi desfeita a objeção, basta lembrar que há textos onde Jesus é chamado de pedra, de uma forma diversa, e vejamos que Pedro também é chamado pedra, assim como todos nós, como está em 1 Pedro 2,5.

A substituição de Petra por Petros é somente uma forma grega, sem mudança de sentido quanto ao original aramaico, sendo apenas uma modificação a fim de harmonizar-se com o gênero, e não uma tentativa de ensinar algo teológico novo, como está na interpretação protestante.

Assim, a “falha” que o autor notou na interpretação católica, que chamaria Pedro de pedra da mesma forma, volta contra a objeção e confirma o que foi explanado antes: “A justificativa católica é ainda falha, a meu ver, em função do fato de que Cristo estaria chamando Pedro de petra de qualquer jeito, na sequencia (caso Pedro seja mesmo a "pedra-petra" em questão).

De fato, nesse momento, a Kepha (Petros) é chamada de Kepha (petra) mostrando o sentido que forneceu a Simão o nome de Petros (para o leitor do grego), ficando a frase totalmente compreensível, sem quaisquer problemas, aos ouvintes do aramaico. Portanto, a tradução grega segue o mesmo sentido, e Petros = Petra torna a leitura idêntica ao que está suposto no original falado por Jesus.

Desse modo, não é problemático que Jesus, Pedro e nós cristãos, sejamos chamados de pedra, pois o contexto confere o sentido claro compreendido facilmente por todos. O que difere do termo pedra ser aplicado como nome, como aconteceu a Simão. Assim, não há problema algum no emprego de petra na mesma cláusula, pois a segunda palavra é explicação do que está sendo dito.

Outra questão importante, é que sabendo com certeza que Jesus usou o aramaico Kepha como nome de Simão, porque esse é transliterado Cefas para o leitor da língua grega, e traduzido em João 1, 42 por Pedro, mostrando que a palavra do aramaico foi Kepha, o que torna impossível que Jesus tenha tido outra intenção, como seria a de chamar Pedro de “pedrinha” ou “pedra menor” ou “pedra pequena”, pois isso faria completa e praticamente impossível aos apóstolos terem entendido esse “ensino” suposto que estava sendo pregado ali.

Essa explicação é harmoniosa com o que foi dito, de que Petros foi aplicado no lugar de Petra como nome por ser um substantivo masculino que traz igualmente significado idêntico do termo feminino. Foi apenas uma questão de adaptação, sem qualquer modificação semântica.

Quando São Paulo escreve em 1 Cor 10,4, explicando que “aquela pedra era Cristo”, até mesmo a construção frasal é outra, mostrando tratar-se de uma representação. Ele estava tratando da pedra que forneceu a bebida espiritual, da pedra espiritual, que dava companhia aos israelitas. Assim, ele explica que “aquela pedra”, que os seguia, “era Cristo”. Não é uma nomeação de Cristo como pedra aqui, mas uma metáfora bem entendida, que não interfere em nada na construção de Mateus 16,18. Assim como em João 1,42, Mateus 16,18 não diz que uma pedra era Pedro, mas que “Tu és Pedro (lembre-se de Kepha, como nome)” e sobre esta pedra (lembre-se de Kepha novamente) edificarei a minha Igreja”. É perfeito. A adaptação é feita apenas no grego, e não no aramaico.

Tentar outra intepretação é sair do contexto e procurar causas remotas e usá-las de forma inapropriada, pois somente assim há erro.

Gledson Meireles.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Debate sobre o papado do apóstolo Pedro

Os últimos comentários publicados aqui trataram do primado petrino. Alguém sugeriu um debate, e creio que através de textos isso já está ocorrendo. No entanto, vejo certas limitações, e essas são importantes.
 
Um leitor perguntou no site heresias católicas se o autor iria refutar o último artigo publicado aqui, sobre Mateus 16,18, e em resposta recebeu o seguinte:
 
"Mas todos os argumentos já foram refutados aqui em trocentos artigos, e se alguma novidade foi dita eu refuto no hangout do debate com ele."
 
Tudo o que escrevi JÁ FOI REFUTADO, e se porventura eu acrescentei algo de novo nesse artigo último ele também SERÁ REFUTADO. Mesmo não sabendo o que escrevi, já a priori considera tudo refutado, esperando apenas o momento de expressar a refutação.
 
Fico pensando que, se ocorrer, o hangout servirá apenas para provar que a doutrina do primado e papado de Pedro já está refutada! Acrescentará algo mais?
 
Gledson Meireles.

terça-feira, 9 de maio de 2017

A verdadeira interpretação de Mateus 16,18

Capítulo 11

Mateus 16,18

O livro A História não contada de Pedro afirma que a interpretação católica desse texto do evangelho de Mateus, em favor do primado de Pedro, é o último recurso, e é feito de forma isolada, descontextualizada. Afirma que há protestantes que reconhecem que a Pedra de Mateus 16,18 é Pedro, e ainda assim são contrários ao papado. Então, a tese de Pedro ser a pedra não implicaria em nada, somente a das “chaves”, mas se essas fossem exclusivamente dadas a são Pedro. No entanto, se forem dadas a outros igualmente, ou seja, se alguém mais a possuísse, e sabendo que todos os demais apóstolos a possuíam, então todos seriam iguais. Assim resume-se a tese defendida no livro.

 A interpretação que o livro apresenta liga a declaração de fé representada no pronome [isto ou isso] ao nome pedra [esta pedra], como se Jesus estivesse afirmando que sobre aquela declaração construiria Sua Igreja. Seria a declaração denominada “pedra”? Quer dizer que o Senhor Jesus chamou de “pedra” as palavras pronunciadas por São Pedro, naquele momento em que confessou a Sua identidade? Que interpretação nova é essa?

Sabe-se que os santos padres afirmaram sobre esse texto que a Pedra é Jesus Cristo, e também que a confissão de fé de Pedro era a Pedra, fato, aliás, que continua a ser dito, como está no Catecismo da Igreja Católica no número 424. Mas, que interpretação primeira o texto revela? Seria essa a interpretação literal da passagem? Qual é a interpretação fundamental de Mateus 16, 18?  Essas questões orientarão o presente estudo.

 O livro afirma: “Não é preciso fazer muito esforço para refutar tal pretensão católica, pois o próprio contexto deixa claro que a pedra era a confissão de fé de Pedro em Cristo, ou seja, que a pedra é “Cristo, o Filho do Deus vivo” (v.16):...” (p. 72) Analisar-se-á mais de perto essa afirmação. O que ela diz, em outras palavras, é que o contexto afirma claramente que a confissão de fé de Pedro é a pedra, e isso seria encontrado de forma fácil na leitura da passagem. Mas o leitor atento não vê isso de forma alguma, muito menos um leitor desavisado.

Estando em Cesareia de Filipe, Nosso Senhor interroga os discípulos sobre a opinião popular a Seu respeito. O povo não conhecia a verdadeira identidade de Jesus. Então, pergunta diretamente aos discípulos, aos Doze, e somente são Pedro confessa a verdadeira fé. Essa revelação, porém, veio-lhe do céu.

 O v. 17 fala da revelação. Não foi a declaração de fé que são Pedro recebeu, mas a informação correta a respeito de Jesus, o que possibilitou a sua confissão de fé: “porque isto não lhe foi revelado pela carne e o sangue”. Trata-se do conteúdo da confissão, ou melhor, a verdade de que Jesus é o Messias, o Filho de Deus Pai.

E Jesus passa, então, e em resposta à confissão feita, a afirmar algo sobre Pedro. É sobre a pessoa de Pedro que as palavras se referem. Note-se que São Pedro dirigiu-se a Jesus, e agora recebe de Jesus essas palavras: “Eu te digo que tu és Pedro.” Tais palavras são despercebidas, a maioria das vezes, e como tornaram-se bastante conhecidas, corre-se  o risco de não ouvi-las mais. O importante é notar que Jesus faz uma afirmação que, em outras circunstâncias, soaria como óbvia.

 Para uma melhor compreensão é necessário algumas comparações. Hipoteticamente pensemos em Jesus dizendo a um apóstolo: Eu te digo que tu és Bartolomeu. Mas, certamente desde criança Bartolomeu possuía aquele nome. Por que afirmar que ele era Bartolomeu?

Ou poderia dirigir-Se a Tiago e afirmar: Eu te digo que tu és Tiago. Outra vez, não teria sentido, visto que Tiago sabe, e todos que o conhecem também o sabem, que ele é Tiago, e esse é o seu nome. Porém, no caso de são Pedro a situação é outra.

Note que ele não diz: Tu és Jesus. Diferentemente, afirma: Tu és o Cristo. Por quê? O nome Jesus foi dado a Ele em Sua infância. Aliás, antes mesmo do nascimento o Senhor já havia recebido esse nome, que significa: Iavé salva. Portanto, é o nome que significa Salvador. O nosso Salvador.

Mas, na confissão de Pedro ele diz: Tu és o Cristo. A palavra Cristo quer dizer Ungido, e traduz o termo hebraico que significa Messias. Pedro então reconhece corretamente que Jesus é o Messias, o Cristo. É preciso atenção nesse detalhe: Tu és o Cristo. Essa é a identidade revelada. Todos os apóstolos já conheciam Jesus, mas não sabiam que Ele era o Cristo, o Messias.

Passando para as palavras de Jesus, Ele não diz: Tu és Simão. O nome Simão era o nome original daquele apóstolo, e ele sabia bem disso, assim como Jesus e todos os outros apóstolos, seus conhecidos e, com certeza, seus familiares. Mas, Jesus diz: Tu és Pedro.

Essa identificação é nova. A primeira vez que foi feita remete-se ao chamado de Simão, em João 1,42. Naquele momento o Senhor afirma que Simão será chamado Cefas. Em Mateus 16,18 há a confirmação: Eu te digo que tu és Pedro [Cefas].

Cefas é a transliteração grega do termo Kepha no original aramaico, e significa Pedra. Não há distinção no grego koiné do Novo Testamento para o significado dos termos que traduzem Kepha: Petra e Petrus. Ambos significam pedra, rocha. Assim, a tradução inglesa protestante King James Version, tida por muitos, não-católicos, como a tradução perfeita na língua inglesa, traduz Cefas como pedra. Assim, temos a revelação de duas identidades: Jesus é Cristo, e Simão é Pedro. Em continuação, analisar-se-ão as palavras de Jesus: e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.

Sabe-se que Pedro é pedra em grego, a pedra aludida como fundamento da Igreja não pode ser outra que não a pessoa de Pedro. Esse é o motivo de seu novo nome: ser fundamento da Igreja.

Essa leitura é literal e concorda com todo o contexto, como ficou esclarecido. Para um estudo bíblico segundo a legítima hermenêutica, não se pode deixar uma passagem “inexplicada” lançando o sentido de outra sobre ela. É certo que as passagens menos claras são iluminadas por aquelas mais claras. No entanto, não é correto deixar uma sem a devida explicação.

Muitos afirmam, como está no livro, que a pedra refere-se à confissão de fé de Pedro, ou a Jesus Cristo, que é a Pedra da Igreja em tantos outros textos da Bíblia. Contrariamente a essa leitura, o texto é claro ao mostrar Jesus explicando qual o sentido do nome Pedro: ser fundamento da Igreja. Jesus está como o Arquiteto – o Construtor, e Pedro como objeto da construção. Se alguém contesta essa explicação, que tente, pelos menos, refutá-la. A metáfora é clara e seu sentido igualmente claro. A correta exegese revela ser essa a única leitura literal possível.

O livro afirma: “Pedro, então, é o primeiro a se adiantar e responder aquilo que seria a pedra fundamental da Igreja – tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (p. 71-72). Em nenhum momento foi perguntado sobre a pedra da Igreja. Na passagem Jesus é o Messias, não a pedra. Essa é a identidade revelada de Jesus. Quem cumpre esse papel, de pedra, e que foi instituído por Cristo é Pedro. Essas são as Palavras de Jesus. Entenda-se bem: Cristo é a Pedra da Igreja, mas no contexto de Mateus 16,18 Ele estabelece a pedra num sentido diverso, e refere-Se à pessoa do apóstolo são Pedro. Não é referente ao que Pedro disse, mas à sua pessoa diretamente.    Vem então a explicação no livro: “e que sobre “esta pedra” (i.e, essa mesma confissão) a Igreja estaria edificada.” [ênfase no original] (p. 72). É impossível essa leitura. Ninguém consegue ter essa conclusão ao ler a passagem. Em nenhum momento a declaração de Pedro é apontada como pedra, sem qualquer indicação. Pelo contrário, a pessoa de Pedro é a Pedra.

Dessa forma, independentemente dos sentidos do pronome e das regras gramaticais gregas, o contexto aponta “esta pedra” para a pessoa de Pedro. A identidade dos nomes é patente (Pedro=Pedra). Impossível outra interpretação literal.

Os exemplos de Atos 7,17-19 para justificar uma possível mudança de referência no pronome “esta”, como ocorre no texto de Mateus 16,18, não ajuda a questão. O fato pode ser comprovado pelo contexto, sem referência ao grego. E é fácil provar.

No texto de Atos dos Apóstolos, vê-se que apareceu um rei que não conhecia José. Este rei usou de astúcia. Foi então, que José foi referido pelo termo “este”, por estar mais próximo do referido pronome? O contexto não admite essa leitura. A construção gramatical sim, mas o sentido do contexto, pela leitura natural, não. Sabe-se que José era israelita, filho de Jacó, homem santo de Deus. O rei que não o conhecia é o foco da passagem, e, portanto, não seria outro que não José quem usaria de astúcia contra o povo de Deus. José não cabe nessa interpretação, de forma alguma. A tradução do pronome por “este” em português só provaria sua inadequabilidade segundo as regras da língua portuguesa, mas não mostraria José, em hipótese alguma, como afirmando daquele que usou de astúcia na passagem. Esse alguém que usou de astúcia contra a “nossa raça” não é da “nossa raça”! Essas palavras judaicas revelam um estrangeiro. Esse seria outro sinal de que não poderia ser José, independentemente do pronome utilizado na tradução portuguesa. Ficou claro: o uso do pronome não impediu o entendimento da passagem, e ainda a correta interpretação serve de correção da tradução.

Em Atos 4,10-11 ocorre o mesmo. O pronome não poderia indicar outra pessoa a não ser Jesus. O paralítico não caberia absolutamente nas descrições contextuais, pois é afirmado que é no nome de Jesus que o paralítico foi curado, e que esse foi a Pedra rejeitada. Nunca o paralítico caberia nessas palavras.

Ainda, em João 2,22, se o texto e contexto estão denunciando quem é contrário ao messianismo de Jesus, não poderiam afirmar que o Cristo fosse o anticristo! Os próprios termos são autoexcludentes. Se Jesus é o Filho, e o negador é aquele que nega o Pai E O FILHO (note as palavras claramente citadas) quem mais poderia ser o anticristo? Obviamente, alguém que nega a Jesus! O contexto é esclarecedor. O pronome é ajustado por ele.

O autor certamente concorda com essas interpretações, e não pode refutá-las jamais. O que deve compreender, então, é que em Mateus 16,18 não há qualquer possibilidade de entender o pronome que antecede pedra como referente a outro termo que não seja o nome Pedro. Seria descontextualizar a passagem.

Entender: ““Tu és Pedro, e sobre aquela pedra edificarei a minha Igreja...”” remeteria a uma questão: que pedra? Fora do nome Pedro não se fala em pedra em toda a passagem. Como referir-se a algo não mencionado antes? Interpretação impossível. Leia novamente o texto e confira.

Dessa forma, a afirmação com ares de vitória: “Portanto, o argumento católico de que Pedro tem que ser a pedra de Mateus 16:18 por causa do “sobre esta pedra” morre aqui.” (p. 74), é uma afirmação que não passa de retórica. Ela mesma foi refutada. A questão não morre aqui, para a posição do livro, pois foi provado que o contexto inviabiliza a possibilidade das duas leituras, como apontado pelo livro. Somente Pedro pode ser a pedra nesse texto. Alguém tentaria refutar essa interpretação?

O texto em si não deixa a questão aberta, mas fechadíssima. O que dizer, então, da forma com que o Protestantismo trata a questão, como faz o livro? Lançar mão de outros textos, em outros contextos, e ligá-los à metáfora de Mateus 16,18 não explica o mesmo. Os textos citados, como foi mostrado acima, não refutaram nada.

Outra coisa, uma verdade ensinada por Jesus não necessita de ser repetida para ser verdade. Basta uma passagem clara, e Mateus 16,18 o é, para ser autoritativa. Não há ambiguidade na mesma, como afirmado no livro.

O texto de 1 Cor 3,10-11, por exemplo, mostra uma metáfora diversa. Nele, são Paulo é o construtor, aquele que lança a Rocha, que é Jesus. Em Mateus 16,18 Jesus é o Construtor, lançando o fundamento que é Pedro. Ambos os contextos são diversos, e um não explica o outro. Uma leitura alegórica, como faz Santo Agostinho e outros Padres, pode comportar esse sentido. Mas, como dito, não é o literal. A leitura alegórica é fundada no literal, mas pode conduzir a um outro sentido.

O próprio texto de são Pedro (1 Pd 4,11) corrobora isso. Pedro afirma que os construtores rejeitaram a Pedra Angular: Jesus. Portanto, a metáfora é diversa daquela usada pelo Senhor em Mateus 16,18. Em 2 Pd 2,4-7 tanto Cristo como os cristão são pedras. Cristo é a Pedra principal, e os cristãos as pedras outras do edifício. Deus Pai, portanto, é o Construtor. Trata-se de outra figura. Ninguém pode refutar isso, pois contra fatos não há argumentos.

A fé em Cristo como Pedra da Igreja é mantida por todos os cristãos católicos. A doutrina do primado não a contradiz. Assim, a afirmação seguinte do livro revela outro desentendimento da doutrina católica: “Afirmar que a pedra é Pedro significa negar todo o cumprimento profético do Antigo Testamento, além de tornar inócuo o fato de Cristo ser apontado o tempo todo como sendo a pedra, até mesmo com a mesma palavra petra que é usada em Mateus 16:18.” (p. 77)

Sabe-se que a Pedra da Igreja, a Pedra fundamental, profunda, e invisível, que dá toda coesão, sustento, força, estabilidade, é Jesus Cristo. O sentido de pedra relacionado a Pedro é diverso: Ele é a pedra fundamental posta pelo Senhor, como cabeça dos apóstolos e da Igreja, por sua fé. É uma pedra visível, com uma constituição diversa, servindo para outro objetivo.

O livro previa relativamente essa explicação: “Quando os católicos se deparam com essa evidência incontestável, eles tentam contornar o fato afirmando que tanto Pedro como Jesus são pedras, mas que seria Pedro a pedra específica de Mateus 16:18.” (p. 77)

De fato, a doutrina católica explica que não pode haver mistura indevida das metáforas. Assim, Jesus é A LUZ DO MUNDO, e do mesmo modo afirmou que os discípulos são A LUZ DO MUNDO. Haveria contradição nisso? De forma alguma. Os cristãos devem mostrar suas obras, testemunhando para a glória do Pai, sendo luz do mundo por estarem agindo como enviados de Jesus, a Luz do Mundo. Os discípulos refletem Sua luz.

Entendendo assim, Jesus é a Luz primária, fonte de toda luz, e os discípulos são a luz secundária, totalmente dependente da luz de Cristo, como a lua depende da luz do sol para brilhar e iluminar. Como a Lua não tem luz própria, assim são os discípulos, que podem não brilhar, quando não estão refletindo a luz de Cristo, deixando, assim, de ser discípulos.

Mas, o livro tenta desfazer esse argumento católico: “Usam como argumento o fato de Jesus ter dito em outra ocasião que ele é a luz do mundo (Jo.8:12), e depois disse que nós somos a luz do mundo (Mt.5:14). Contudo, essa analogia é falha por inúmeros motivos.” (p. 77)

A analogia é falha? Como? Mas não fez todo sentido explicado acima? Certamente o autor não conseguirá refutar. Deve-se então considerar o argumento do livro e analisá-lo.

1º “Primeiro, porque nem tudo o que Cristo é também pode ser aplicado aos seres humanos.” Correto. É um fato, Mas, vejamos outro fato: quando Cristo aplica o mesmo a nós, então podemos. Cristo é a Luz, e nós podemos ser a luz, pois Ele mesmo disse isso. Ele ensinou, e devemos aprender dEle que é a Verdade. Está refutada a asserção.

Cristo é a Pedra, e afirmou em Suas Escrituras que somos pedras. Portanto, a imagem da pedra pode ser aplicada a nós. E, portanto, biblicamente, no contexto geral, como em Mateus 16,18, de modo específico, Pedro é a pedra. O leitor entendeu? Todos os cristãos são pedras, assim como Cristo é Pedra, mas não no mesmo sentido, é claro. Então, Pedro é pera em seu sentido próprio. Concorda com isso a leitura tópica, e o contexto bíblico geral.

Assim, esse primeiro ponto não prova nada contra a posição de Pedro em Mateus 16,18 como explicado antes.

O livro afirma: “Todos os outros humanos são luz em sentido secundário, da mesma forma que todos os cristãos são pedra em sentido secundário.” (p. 78) Parece que concorda com a explicação católica. E não poderia ser diferente. Mas, adiante, mostra que não é esse o caso. A doutrina cristã católica tem Jesus como a fonte de toda santidade, de todo poder, de todo bem, de toda graça. Não colocamos outro fundamento, nesse sentido. Se Pedro é fundamento, é diverso o sentido em que o é. Jesus o afirmou claramente, e é nisso que devemos crer. Assim como Jesus nos colocou como pedras, em um sentido próprio para nós, também pôs Pedro como pedra em um sentido especial naquela passagem de Mateus.

O segundo ponto diria a respeito de Pedro não ser a pedra única da Igreja, mas todos os cristãos juntos. É uma tentativa de destruir o argumento acima. De fato, porém, essa é, igualmente, a doutrina católica. Pedro somente é a pedra fundamental em sentido de fundamento visível para a unidade, e de cabeça, de jurisdição, de governo, que está de acordo com a verdade do Evangelho, e em união a todos os ministros instituídos. A Igreja não deixa assim de ser composta por todas as pedras vivas que o Senhor colocou no Seu edifício, sendo Pedro mais uma dessas pedras. É preciso não entender o evangelho para não entender isso. Prossigamos.

De outro modo, havia escrito o profeta Isaías: “Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse.” (Is 28,16). Nessa passagem Deus é a Pedra de Esquina. São diferentes figuras.

Em Efésios 2,20 os apóstolos e profetas são o fundamento da Igreja. É bastante clara a passagem. Muitos protestantes poderiam dizer que não seria assim, e que a passagem deveria ser entendida como Cristo sendo o fundamento, por ser a pregação dos apóstolos. Ou seja, o conteúdo da pregação dos apóstolos poderia ser o fundamento. Mas, a passagem não o diz.

Para entender o sentido de fundamento, deve-se pensar em seu sinônimo, o alicerce. O alicerce, ou mesmo os alicerces, podem ser colocados em diversos lugares.

É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.” (Lucas 6,48)

Nosso Senhor fala que o homem colocou os alicerces – o fundamento – sobre a rocha. Assim, há diferenciação entre fundamento e pedra [rocha].

Há quem não coloca o fundamento: “Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.” (v. 49)

Nesse sentido, o texto de Efésios 2,20 deve ser bem compreendido: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”. Os apóstolos e profetas são os que lançam o fundamento, ou constituem o próprio fundamento, por seu ensino, pela pura doutrina que anunciam. Jesus é aí a “pedra de esquina”. Há dois símbolos: o do 1) fundamento e o da 2) pedra de esquina. Os apóstolos e profetas constituem o fundamento, e o Senhor Jesus a Pedra de Esquina. Será que um cristão não crê nisso, como está nessa interpretação?

Igualmente, a passagem de 1 Cor 3,11: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” Quem colocou o fundamento aí? A resposta está no verso anterior (10): “Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.

Se os pregadores do evangelho lançam o fundamento, ou seja, anunciam a Jesus Cristo, então são os arquitetos. Assim, são Paulo diz: “pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento”. Outros edificam sobre o fundamento posto por São Paulo, ou colocado por outro dos apóstolos, e sucessores.

Assim, em Ef 2,20 os apóstolos e profetas são o fundamento, e Cristo é a Pedra Angular. Ser fundamento da Igreja é também uma característica dada aos cristãos, como foi dada a Pedro em particular em Mateus 16,18. Isso prova que nós podemos ser pedras, e se há coisas que Cristo é, e que não podemos nós ser, não é esse o exemplo. Vê-se isso em Apocalipse 21,14, onde a muralha da Jerusalém celeste tem doze fundamentos. Os apóstolos são ali os fundamentos.

E o livro continua: “Portanto, o argumento católico, ao invés de refutar alguma coisa, apenas serve para fortalecer o argumento dos evangélicos. Ele demonstra que não existe outra pedra principal além de Cristo, assim como não existe outra luz principal além dEle.” (p. 79) No entanto, a doutrina católica não coloca outra luz principal, nem outra pedra principal, no mesmo sentido referido a Jesus Cristo, mas em sentido diferente.

Duas pedras fundamentais diversas ao mesmo tempo e no mesmo sentido implicaria em contradição. Tem-se, portanto, que Pedro é pedra em outro sentido. De fato, o próprio Pedro está edificado sobre a Pedra, que é Jesus, mas não deixa de ser pedra no sentido em que o Senhor Jesus o colocou no Evangelho. De modo algum Pedro seria Pedra em significado semelhante àquele de Jesus Cristo. Esse é o ponto que o livro falhou em considerar. Não soube ler a metáfora.

Na continuação da argumentação, com fins de fortalecer a posição, o livro a enfraquece quanto aponta: “A isso deve-se acrescentar que Jesus não diz que somente ele é a luz em João 8:12, mas a Bíblia diz claramente que somente ele é o fundamento principal da Igreja (1Co.3:11).” Quer dizer que Jesus não seria Ele somente a Luz, mas teriam outras luzes? Blasfêmia pensar! Portanto, no seu nascedouro o argumento é batido. O autor não pensou bem ao usar tal argumento, pois ele dá lugar a uma leitura blasfema. A Bíblia afirma que só Jesus é a Luz. Mas, em sentido de participação, todos nós, unidos a Ele, podemos ser luzes, ou constituir, juntos como Igreja, a luz do mundo. Não somos luz em sentido de que constituímos outra luz ao lado da Luz que é Cristo. Esse seria o erro.

O pensar na palavra “somente” empregada em relação a fundamento em 1 Cor 3,11, o livro erradamente ensinando assim, cria problemas maiores, pois o fundamento é igualmente todos os apóstolos e profetas, sendo Jesus Pedra Angular. Contradiz a própria Escritura ao afirmar que o fundamento não é aplicado a mais ninguém “somente” a Cristo, como se não houvesse passagem chamando alguém mais de fundamento, embora noutro sentido. O texto explicado dessa forma introduz falsa contradição nas Escrituras. Portanto, está errada a explicação do livro.

Que fala são Paulo em 1 Cor 3,11? Trata da evangelização, dos pregadores do Evangelho, os quais lançavam o fundamento nos diversos lugares onde organizavam as igrejas. O fundamento que colocavam era somente um: Jesus Cristo. Esse é o ensino da passagem. Dessa forma, entende-se que a mesma não é correlata de Mateus 16,18. Não há como fazer ligação dessas duas passagens, como pretendeu o autor.

Igualmente, é um erro afirmar que Pedro era apenas “coluna” e não pedra. Isso contradiz o texto analisado acima. As metáforas não devem ser misturadas. Se num momento Pedro, e todos os cristãos são pedras vivas, não poderiam ser colunas, segundo princípio que o livro adota! Se eles são colunas, já não poderiam ser pedras! Esse resultado errôneo e inesperado, mas lógico, deve-se à falha em misturar as metáforas. É outra falha argumentativa.

Num momento, Jesus é o Pastor, noutro é o Cordeiro. Em um é a Porta, em outro é a Luz. Ainda, pode ser apresentado como Homem, como Leão, como Cordeiro. São metáforas independentes, cada qual focalizando uma verdade sobre Cristo. Ninguém poderia negar, pensando corretamente, que Cristo não fosse o Cordeiro, pois seria o Leão da Tribo de Judá, e leões não são cordeiros! Ou pensar que Cristo não é o Cordeiro, pois é o Pastor, e o Pastor é quem cuida dos cordeiros! Ou que não pode ser o Pastor, porque é a Porta das ovelhas, e o Pastor não pode ser Porta! Logo se nota a fraqueza da mistura de metáforas! Esse erro adotado no livro leva-o a criar tais problemas. (Se não for assim, que explique melhor a questão das metáforas, e prove que não foi refutado pela argumentação registrada aqui.) Por exemplo, quando afirma: “E existe uma gigantesca e colossal diferença entre ser a pedra de fundamento e ser uma coluna, pois a coluna não é o fundamento, mas está edificada sobre o fundamento, que é Cristo.” (p. 80)

Esclarecendo mais, a pedra e o fundamento podem ser diferentes. Por exemplo, Cristo em 1 Cor 3,11 e em 1 Cor 10,3. No primeiro é o fundamento, que é lançado pelos ministros do Evangelho. No segundo é a Pedra que sacia a sede de todos, como figurada na pedra que jorrou água e seguia os hebreus no deserto. Pedra fundamental e pedra donde bebe-se água são figuras diversas, e não deve-se confundi-las. Percebam isso.

A afirmação seguinte é totalmente errônea em seu objetivo: “Pedro, como Paulo dizia, era uma “coluna” da Igreja (Gl.2:9), que sabemos que é algo muito diferente de pedra de fundamento.” (p. 81) De fato, ser coluna difere de ser uma pedra fundamental. No entanto, como estabelecido antes, num momento pode-se empregar uma figura de linguagem, enquanto em outro valer-se de artifícios linguísticos diferentes, com o fim de esclarecer pontos diversos. O livro está totalmente desorientado nessa área. Os argumentos expostos sobre suas premissas foram refutados. E, certamente, o mesmo não pode refutar o que está posto aqui.

Pedro não está colocado como fundamento no mesmo sentido que Cristo está. Deve-se entender bem essa asserção.

A construção de 1 Cor 3,11 é feita pelos ministros do evangelho. Nessa figura, eles não são pedras, são construtores. Eles não constroem a Igreja, mas lançam fundamento e usam de vários materiais para construir sobre o mesmo fundamento, que é Cristo. Trata-se de uma figura diferente.

Não se pode ligá-la a Gl 2,9. Em Gálatas os apóstolos citados aparecem como colunas, e colunas são constroem nada (não são autores), mas são construídas, colocadas pelos construtores (são estruturas, são objetos). A junção de ambas as passagens revela a falsa exegese empregada para negar o texto claríssimo de Mateus 16,18. Definitivamente, esse meio não refuta nada nessa questão.

Para negar que a pedra – fundamento – seja Pedro, o argumento gira em torno de 1 Cor 3,11 onde é dito haver um único fundamento. Texto já explicado. É preciso encontrar outra passagem então.

Mas, o incrível, para o argumento do livro, é que no Apocalipse, numa outra figura, na visão de são João, a muralha da Jerusalém Celestial tem 12 fundamentos! (Ap 22,14) E nessa visão do Apocalipse não aparece Jesus como fundamento da cidade e da muralha.

Pelo arrazoado do livro (pelos princípios que deixa implícito em suas colocações) isso deveria ter ocorrido, mas não ocorreu. Esse fato serve apenas para mostrar o desajuste das questões colocadas no livro sobre Pedro não aparecer como pedra, coluna ou fundamento em destaque.

Contudo, ele aparece em Mateus 16,18, de fato, passagem infelizmente não entendida nas argumentações do livro. Jesus é o fundamento da Jerusalém celestial, pode-se afirmar (ou não podemos?), mas a visão não revela isso (cf. Ap 22,14). Mostra assim que não necessita revelar a mesma coisa cada vez que faz uma revelação nas Escrituras Sagradas. São figuras diferentes, cenas diferentes, metáforas diferentes.

A Bíblia é harmoniosa, sua verdade não contraria-se em ponto algum. Contudo, pelos erros que o livro aponta em sua tentativa de negar que Pedro=Pedra, faz com que o Apocalipse, ou qualquer outra passagem bíblica, não possa falar de mais de um fundamento, quanto mais de dozes fundamentos, como faz! Sabendo disso, mais uma vez, deve-se apegar aos argumentos bíblicos, não aos do livro A História não contada de Pedro, pois o mesmo os contradiz. O mesmo contradiz os argumentos fundamentados na Bíblia. Cada metáfora em seu próprio contexto, caro leitor.

O fato também de Mateus 16, 18 ser o único lugar onde encontra-se claramente Pedro como fundamento, não nega o primado, que é atestado alhures nas Escrituras, em diversas cenas bíblicas. Cristo não necessita repetir em todos os sinóticos cada verdade. Basta uma vez, já devemos crer. Essa verdade sobre Pedro aparece em muitas outras passagens, indicando sua preeminência, sua primazia, seu destaque na Igreja, sua escolha por Deus. Não é necessário que em outros lugares sejam narrados o mesmo fato, da mesma forma. Palavras e meios diferentes valem igualmente. Isso, de que a repetição torna-se necessária, não se impõe. É apenas uma exigência protestante, revelada em seus argumentos, que não é encontrada na Bíblia.

Em Marcos está: Tu és o Cristo. Em Lucas: O Cristo de Deus. Em Mateus: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Isso mostra evidentemente que são Mateus narrou mais completamente o fato. Somente isso. Os outros sinóticos apenas resumiram a questão. São Mateus foi mais claro nesse particular. Nada mais do que isso.

Resumindo, os outros sinóticos não falam de pedra, mas apenas narram a resposta de Pedro sobre a messianidade de Jesus. Portanto, a afirmação seguinte está batida: “A pedra em questão já havia sido achada.” Não houve procura de pedra, em lugar algum, nenhum questionamento sobre isso. E mais: se dependesse dos evangelhos de Marcos e Lucas, não poderíamos saber sobre a passagem de Mateus 16,18? Mas, foi por isso que Deus, soberanamente, quis que fossem quatro os evangelhos, e muitas vezes narrou em apenas um, uma questão importante. No entanto, a mesma é confirmada em outras partes da Bíblia.

Outro ponto errôneo do livro é esse: “Notemos que Mateus, que escreveu em grego seu evangelho...” (p. 87). Mateus escreveu o seu evangelho em aramaico. Pela conclusão vê-se novamente o erro: ““Tu és PETRUS...” – Um fragmento de pedra, uma pedra secundária que está edificada sobre a rocha principal. E sobre a sua confissão: “E sobre esta PETRA” – Uma rocha firme, uma massa de rocha.” (p. 88)

Jesus teria dito “Tu és Pedro” apenas para mostrar-lhe que era pequeno, “e sobre esta pedra” para indicar uma rocha grande e firme. Que tem isso a ver com o contexto? Absolutamente, nada. A explicação é falha, e introduz uma conversa, um sentido, que não tem a ver com o caso.

Se assim o fosse, ainda restaria explicar o fato de Jesus ter dito que Simão era pedra e que construiria Sua Igreja sobre a pedra, que deveria ser entendido como o próprio Cristo? Soaria como se o Tu és Pedro não passasse de um artifício retórico sem sentido. Esse resultado previsto nas premissas do livro é evidência da falsidade das mesmas. Portanto, o argumento cai mais uma vez. O diálogo era com Pedro, e tudo nos versos 16 a 19 se refere a Pedro, contrariamente ao que o livro tentou inculcar.

A explicação: “E o “και” significa que Cristo estava dizendo algo como: “quanto a ti, Pedro” ou “e tu, Pedro”, pois o “και” tira o sentido de ser tudo referência a Pedro.” Mas, não tinha dito o Senhor no início: Tu és Pedro? Como falar a ele, e não dele, e depois afirmar: agora, quanto a ti? É uma explicação auto-contraditória.

Jesus já inicia a fala dirigindo-Se a Pedro, e não há qualquer sinal que indique que tenha mudado de foco.

Testando mais diretamente a explicação do livro: Cristo diria o Tu és Pedro, afirmando algo do apóstolo, passaria então a falar de algo outro, da fundação da Igreja sobre Si Mesmo, ou seja, o objeto da confissão de Pedro, e depois voltaria a falar do apóstolo. Grande confusão!

A leitura normal, no entanto, percebe que: Cristo fala que Simão é Pedro [pedra], e que sobre a pedra [o apóstolo Pedro] edificará a Sua Igreja, e que dará a ele as chaves do reino dos céus. Verdade bastante profunda e simples. Não necessita de uma análise no grego para descobrir nada, mas apenas para confirmar a leitura a partir do texto corretamente traduzido.

A respeito do aramaico, língua falada por Jesus, o livro aponta o argumento nele baseado como a “última cartada” dos católicos, que teria aparência de “bom argumento”. Acreditando que sua exposição foi bem-sucedida, tenta obscurecer o argumento do aramaico.

E continua: “...que devemos ficar apenas com aquilo que Jesus supostamente teria dito”. (p. 91) Na verdade, Jesus o disse, não supostamente, mas de fato. Continuando: “(pois não sabemos as palavras exatas que ele teria usado, apenas aquilo que ele provavelmente disse) em aramaico?”. Essa suposição não tem força alguma. Não sabemos as palavras exatas? Talvez refira-se à frase completa, não aos termos, pois, que o Senhor Jesus Cristo pronunciou KEPHA há provas cabais nas Escrituras, como João 1,42, já aludido, que translitera em caracteres gregos o nome de Pedro: CEFAS, e mostra o significado do mesmo em grego. Nem sempre a Bíblia o traduz. Várias passagens mostram as transliterações. (cf. 1 Cor 1,12; 3,22; 9,5; 15,5; Gl 2,9) Outra afirmação refutada.

Voltando a afirmar a suposta referência do pronome ao termo mais distante, ainda que tendo referência na gramática do aramaico, o livro tenta reforçar sua posição já refutada, mesmo no grego.

A diferença semasiológica aludida pelo padre Aníbal Reis [ex-padre] não é prova alguma. O texto grego não a supõe, e ainda menos o aramaico. Isso é fruto da interpretação que se tentou introduzir, mas, graças a Deus, em Nome de Jesus Cristo, essa interpretação foi batida acima.

São Mateus escreveu em aramaico, e a tradução grega traduz Kepha por dois termos: petros e petra. Já foi afirmado antes que os dois possuem significados idênticos. Aliás, os eruditos afirmam que a diferença sutil entre ambos se dá no uso poético dos mesmos, não afetando seu significado original. O significado literal permanece.

E o evangelista ouviu Jesus pronunciar aquelas palavras a Pedro. Não havendo uma passagem sequer que indique diferença de sentido entre Petros e Petra, e sabendo que a escolha do termo Petros se dá por seu uso apropriado a um nome masculino, está desfeita a questão que tentou ser provada no livro. Outro fato importante, o grego utiliza lithos para uma pequena pedra (cf. João 8,7.59), que pode ser normalmente arremessada, e kepha para indicar uma pedra em tamanho considerável, uma rocha.

Sabendo disso, é um golpe mortal na teoria protestante que tenta responder contrariamente à verdade cristã católica, de que Pedro teria sido entendido como “pedra pequena” ou “pedrinha”. E esse golpe de morte aparece em 1 Pedro 2,4, onde o próprio Senhor Jesus Cristo é chamado PEDRA usando o grego lithos [λίθον ], o que prova que, ainda assim, no uso de um substantivo que denota uma pedrinha, o sentido do mesmo, pelo contexto, não diminui a grandeza do Senhor pelo simples uso do termo. Jesus sendo chamado de Pedrinha não o faz pequeno. Essa refutação é radical quanto à argumentação de Pedro ser supostamente um pedaço pequeno de pedra.

O verso de 1 Pedro 2,5 igualmente utiliza a mesma palavra em relação a todos os cristãos, e tal fato não diminui a majestade de Cristo. Portanto, se, ainda como afirmam, Petros assumisse um sentido diverso de Petra, o que não é o caso, e foi provado aqui, ainda assim a posição de Pedro como pedra fundamental estaria de pé. Mais uma vez, a teoria protestante cai num despenhadeiro profundo.

O livro considera a resposta sobre a concordância com o gênero masculino, como razão da tradução para Petros: “Alguns católicos, tentando contornar esse fato e oferecer alguma explicação para a distinção de Mateus, afirmam que ele distinguiu petrus de petra porque foi forçado a isso, para não colocar em Pedro um nome feminino (petra).” (p. 93)

Negando isso, o autor nota que há uma falta de concordância entre o masculino Petrus [Petros] e o termo feminino petra, o que explicaria que não poderia petra referir-se a petrus, mas a um feminino anterior, a confissão petrina. Essa explicação já está afastada, como provado no início, não possuindo nenhuma plausibilidade. Em Zondervan NIV Bible Commentary afirma-se que, não fosse a reação protestante contra os excessos das interpretações católicas, os protestantes teriam reconhecido em Pedro a Pedra no texto em apreço. E realmente, isso é um fato. Não há nada diverso a ser dito.

Ao primeiro ponto, deve-se afirmar que a Comissão Bíblia explica que Mateus é o apóstolo de Jesus, e que escreveu na língua dos judeus palestinos, e isso está baseado na tradição. Se não se sabe ao certo a língua original, hebraica ou aramaica, por outro lado conhece-se que não foi originalmente escrito em grego. Esse primeiro ponto apresentado é de pouco interesse.

Por que Mateus seria a exceção a escrever em aramaico, se os outros escreveram aos judeus em grego? Simples. Mateus foi o único que escreveu aos judeus da Palestina, especificamente, e não o faria, logicamente, em grego. Respondido. Os outros livros sagrados foram endereçados aos judeus da Diáspora. E sabe-se que fora da Palestina a língua usada pelos judeus era o grego.

A hipótese número 4 não prova nada, por provar demais. Certamente, o tradutor de Mateus para o grego baseou-se no texto de Marcos, que encontra-se completo no Evangelho de Mateus. Essa não é uma objeção importante.

E, como escreve o ex-padre Aníbal, a Igreja Católica baseia-se no texto grego e, portanto, quaisquer objeções que teimem em esquecer-se disso, como se a Igreja Católica usasse o argumento do texto não preservado em aramaico, são objeções pueris.

Com mais ares de vitória, afirma o livro: “Portanto, não há escapatórias para os apologistas católicos.” (p. 95) Será verdade? O que foi mostrado acima não assemelha-se em nada com essa afirmação. Pelo contrário, cada argumento do livro está sendo esmagado pelo martelo sagrado da Palavra de Deus. E todos os argumentos contra a interpretação cristã católica de Mateus 16,18 foram refutados.

Gledson Meireles.