quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

O natal e as raízes judaicas

As raízes judaicas da fé cristã estão todas na santa Igreja Católica Apostólica Romana, basta fazer uma análise mais séria e admitir o fato. Assim, é preciso entender que as práticas católicas, sua liturgia, seus ensinamentos, são o conjunto da revelação de Cristo, que levou o judaísmo à sua plenitude.

Dessa forma, é um equívoco pensar que, por exemplo, para ser judaico é necessário continuar a observar o sábado do sétimo dia, a distinguir as carnes para a alimentação como era feito no AT, a observar a Lua Nova, a Páscoa da libertação do Egito, os Pães Ázimos, as Primícias, o Pentecostes como dia da entrega da Lei de Deus, as Trombetas, o Dia da Expiação, os Tabernáculos e o Purim. Tudo isso foi parte da fé verdadeira, sendo tudo cumprido e levado à perfeição, continuando na sua essência no que é feito no Catolicismo, com suas festas, sacramentos e liturgia, na Nova Aliança.

Basta pensar na Páscoa cristã católica, no Pentecostes, na festa da Ascenção, do Natal do Senhor, da Apresentação,  nos sacramento da Eucaristia e da Penitência, por exemplo, que verá que tudo tem origem judaica, sendo a fé judaica para os dias de hoje, e não a manutenção da fé antiga, que já foi cumprida, tornando-se para hoje obsoleta, mantendo apenas sua beleza e sendo encontrada nas Sagradas Escrituras para nosso entendimento do que estamos vivendo hoje e do que esperamos segundo as promessas de Cristo.

Aquelas festas apontavam para Cristo, sendo cristocêntricas, mas as festas atuais são igualmente cristocêntricas, com a diferença de que aquelas já ficaram no passado, como ensina a Bíblia, e essas continuam no presente. Dessa forma, não há necessidade de imolar um cordeiro como parte da liturgia cristã.

O argumento da naturalidade das comemorações, e o argumento contra a falácia do apelo ao silêncio são muito bons, e por isso está de acordo com a fé católica, que responde sempre com a Bíblia, a história e a razão ao que muitos objetam contra algo ensinado na santa Igreja.

A explicação de que "eventos importantes podem gerar novas comemorações" é muito católico, e o autor está expressando essa verdade muito bem, e sendo verdade é algo que está na doutrina católica, bastando perceber as tantas comemorações que temos no ano litúrgico para engrandecer a Deus. É algo de raiz judaica essa prática de comemorar liturgicamente verdades belas e espirituais para louvar a Deus.

Sobre a questão de Deus dar uma data e a Igreja comemorar outra, como sábado-domingo, citado no texto, basta que a argumentação continue sendo feita como está, bem bíblica e racional, com os dados bíblicos, históricos, racionais, etc, usando bem o bom senso, os dados sempre bem concatenados, que essa questão também é resolvida facilmente.

Ainda, o belo argumento de comemorar Jesus o sol da justiça (Ml 4, 1-6) é bastante católico. O autor pode continuar assim, e certamente vislumbrará muitas verdades que ainda não conhece.

Obs.: este artigo foi feito em consideração ao texto de Davi Caldas, Sobre o Natal e as raízes judaicas, em sua página do facebook.

Gledson Meireles.




domingo, 24 de dezembro de 2023

Feliz Natal

 Feliz e santo natal a todos.

Livro: História das Heresias: afirmações feitas no estudo do nestorianismo

 

No livro de Roque Frangiotti, História das Heresias: século I a VII – conflitos ideológicos dentro do cristianismo, o autor afirma que até o século V não havia “um culto oficial” à virgem Maria, mas apenas “atos de veneração” que foram aos poucos surgindo, e que São Gregório Nazianzeno parece ter sido o primeiro a ensinar a orar a Maria, citando Oratio 21, 10s.

Santo Agostinho teria sido quem contribuiu definitivamente para que um culto “sem receio” fosse dado à virgem Maria, quando ensina que Maria foi a única isenta do pecado original. Cita a obra De natura et gratia (Sobre a natureza e a graça).

Um sínodo em Alexandria teria aprovado oficialmente esse culto em 430, e somente em 431 foi selado definitivamente o tipo de culto e o lugar de Maria na Igreja Católica.

Esse tipo de apresentação é de fato idêntico em essência àquilo que os protestantes ensinam sobre a mariologia, como se tudo ocorresse de modo controverso e tardio. Certamente foi isso o que o padre José Eduardo percebeu e não cedeu à apresentação de uma afirmação do livro, lida por um pastor no debate, ainda que se tratasse de uma obra católica. De fato, muito do estudo católico contemporâneo faz diálogo e concorda com teses protestantes, ainda que em desacordo com a história bastante sólida sobre os mesmos pontos defendidos na tradição da Igreja. É possível encontrar tais coisas em obras católicas atuais.

E, ao que parece, isso é verdadeiro sobre o livro em questão, já que muito de obras protestantes são nele citados, como temas da histórica da Igreja de W. Walker, autor protestante.

Os estudos católicos, por sua vez, mostram que o culto mariano possui raízes no primeiro século, sendo as catacumbas de Roma valiosos testemunhos desse culto, mostrando inúmeras pinturas da virgem Maria, em locais de destaque, com o significado claro de Maria intercessora da Igreja Católica. Com isso, também, a reflexão teológica que vez ou outras aparecem nas obras católicas do século segundo em diante mostram o papel preponderante da virgem Maria na teologia, confirmando o que se encontra na arqueologia. Dessa forma, afirmar que o “culto oficial” veio séculos depois, e “atos de veneração” foram surgindo aos poucos, é algo que pode levar a incompreensões importantes.

É claro que a doutrina se desenvolve, e que as decisões dos concílios provocam certas mudanças, e que a liturgia demora séculos para incluir certas orações e temas e comemorações, o que não é o mesmo que dizer que a realidade não existia antes. Assim, a virgem Maria sempre foi cultuada, e esse culto foi crescendo a ponto de ser oficialmente celebrado, assim como várias festas atuais, que entram na liturgia, mas que possuem início recente.

O modo de entender da Igreja Católica abrange mais do que o protestante, e por isso a forma com que certos fatos são descritos em literatura não católica perdem o foco principal, introduzindo problemas de interpretação.

Interessante notar que a doutrina da verdadeira humanidade de Cristo tenha sido defendida pela escola antioquena, de interpretação literal, e não pela de Alexandria, mística. De fato, o método alegórico é perigoso em certas ocasiões, e menos preciso, dando margem a heresias, enquanto o literal é o preferido, e, tradicionalmente, o fundamental, embora Nestório fosse da escola antioquena.

Ao tratar de São Cirilo de Alexandria o autor se vale de H. von Campenhausen, certamente outro autor protestante, na fonte Les Pères Grecs, Paris, Livre de Vie, 1969

Informações importantes e interessantes sobre o papado são encontradas no livro, como a que afirma que o imperador Teodósio II era contrário a São Cirilo, aprisionando-o por três meses, e não aceitava a decisão do concílio de Éfeso. Apenas por saber que o concílio foi confirmado pelo papa Celestino I, ele o aceitou. Isso se deu no século quinto, em 431.

Mais uma vez se pode por esse fato entender o poder do papa naqueles tempos.

Gledson Meireles.

sábado, 23 de dezembro de 2023

Debate padre x pastor

Recentemente aconteceu um debate no canal Inteligência Ltda, no youtube, onde o padre José Eduardo e o Pastor batista Paulo Sérgio discutiram alguns temas relacionados à virgem Maria e à veneração dos santos.

O debate foi muito bem desenvolvido, educado e profundo. É claro que o tema é vasto demais e muitas coisas não podem ser ditas em pouco tempo, embora foram quatro horas e três minutos de debate, considerando o tempo total do vídeo.

Ambos os debatedores são cultos e conhecem bem do que estão tratando, considerando o conhecimento que cada um tem do seu respectivo credo. Assim, foi bem apresentado o tema por cada um dos dois. Não é possível dizer o quanto um conhece da fé do outro, ou seja, qual o nível de conhecimento que o padre tem do Protestantismo e o que o pastor possui do catolicismo.

O pastor levou livros católicos para fundamentar sua argumentação. O padre muitas vezes disse ser impreciso o que estava naqueles livros, e então o pastor afirmou que iria queimar os livros, pois nenhum dele foi aceito como boa fonte da doutrina católica, pensando então ser melhor ler o que o Protestantismo publica sobre o Catolicismo.

O padre José Eduardo possui um conhecimento vasto de muitas questões, sendo grande conhecedor da fé cristã católica, e sendo um propagador da santa doutrina católica, que inegavelmente é mais profunda, ele demonstrou maior conhecimento geral.

O que o protestante entende da fé cristã é praticamente o que o texto bíblico traz. Sendo assim, os temas marianos ficariam de fora, já que no primeiro século não há registros de desenvolvimento dessas doutrinas, como do culto dos santos e das imagens. É como pensar em orações dirigidas à virgem Maria e aos santos, e cada dogma ser expresso claramente no texto bíblico, com menção ao que a Igreja oficialmente celebrava, com procissões e imagens, por exemplo. Não tendo nada disso no texto bíblico, então o protestante prefere não se ater e não crer nessas doutrinas, por pensar que seu desenvolvimento foi espúrio, tardio, não ligado ao que a revelação contem.

Usando o mesmo raciocínio, teríamos de dizer que no primeiro século cada cristão sabia dizer que Cristo possui duas naturezas, divina e humana, e que houve uma união hipostática, e que a trindade conceitualmente era Deus único em três pessoas iguais e distintas, e que o Espírito Santo é verdadeiramente pessoa e que não há subordinação alguma entre as pessoas da santa trindade, etc, e que a justificação se dá em caráter forense, sendo seguido da santificação que acompanha a vida de fé do salvo, etc. É sabido que essas coisas, importantes e atreladas à fé salvífica, não podiam ser respondidas por ninguém, de forma clara, naqueles primeiros dias, no decorrer do primeiro século.

Também nenhum cristão sabia o que era o cânon, e não podia enumerar com certeza todos os livros da Bíblia, principalmente do Novo Testamento, o que faz com que seja impossível falar sobre sola scriptura.

Então o protestante dirá que essas questões estão todas claramente nos textos bíblicos, e que as questões marianas não.

Essa realidade ocorreu no debate, e o padre tentou mostrar isso, mas o pastor não apreendeu e negou que fosse assim, entendendo que, por exemplo, a intercessão dos santos não estava na Bíblia. O padre disse crer que está, e de forma até clara, como em Ap 5, 8. O pastor não aceitou, afirmando que ali se trata de apenas "apresentação" das orações, e que não se pode literalizar tudo, como se orações fossem postas em taças e apresentadas, e etc. O padre afirmou que por trás das metáforas estão as verdades, o que já refuta a posição do pastor.

De fato, diante de tantos argumentos que o padre apresentou, esse texto bíblico mostra criaturas recebendo orações dos santos da terra e oferecendo-as diante de Deus. Conhecendo a doutrina bíblica, essa cena simbólica só pode significa que as orações da Igreja vão aos santos do céu que podem apresentá-las, o que é o mesmo que interceder (e isso foi dito pelo padre), diante de Deus, em nome de Jesus Cristo, se assim podemos completar o que a cena tem a ensinar.

O pastor agiu como bom protestante, preferindo pensar que apresentar não é interceder, que os anciãos não podem ser identificados, e não sabemos mais o que, embora os argumentos católicos são bastante sólidos.

Enfim, que os leitores assistam o debate e possam apresentar mais e crescer na fé.

Gledson Meireles.