quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Parte 2, continuação do estudo do cap. 4 do livro A lenda da imortalidade da alma

Um espírito não tem carne nem ossos 

A explicação para esse verso é uma das mais interessantes, do ponto de vista mortalista, visto que o mesmo é um dos baluartes da doutrina da imortalidade da alma. De fato, os discípulos criam em espíritos, em fantasmas, que apareciam em forma humana, com corpo semelhante, embora não tinham carne e ossos. Por isso, a fé dos discípulos é um fato a respeito desse tema, e a concordância de Jesus sobre isso é também patente.

Jesus entendeu que o conceito que traziam em mente não era de espírito como energia, fôlego de vida, etc., mas como espírito humano, em forma humana, aparecendo aos vivos, como também poderia ser no caso de anjos em forma humana.

Quando Jesus disse que o espírito não tem carne e ossos isso implica na fé na imortalidade da alma. Não é a prova cabal, pois poderiam, de fato, pensar em anjos maus em forma humana. Mas há a implicação, a possibilidade de que pensassem também serem almas.

Realmente, o espírito humano que não tem carne e ossos no conceito mortalista é a respiração, o sopro de vida, o que não faz sentido aparecer para alguém, pois não tem existência fora do corpo, não tem forma, não sobrevive à morte corporal. Mas, o que Jesus disse tem a ver com o espírito que tem toda a aparência humana, personalidade e consciência, não tendo matéria.

Os discípulos tiveram medo por não saberem que era Jesus. Eles não teriam se apavorado, talvez, se soubessem ser Jesus, ou o espírito de Jesus. Mas pensaram tratar-se de um fantasma, em forma de alguém de não conheciam.. Isso explica o medo.

A explicação de que os demônios não podem materializar-se ficou sem maiores provas. De fato, os demônios são anjos caídos, anjos maus, sem a graça divina, expulsos do céu, e por que não poderiam materializar-se? Foi uma afirmação gratuita.

A afirmação “uma vez que seria estupidamente fácil distinguir um fantasma sem corpo de um ser físico”, assume que o holismo está provado e que todos ao verem um espírito teriam certeza de tratar-se de um. Contudo a própria passagem vai contra essa asserção, já que Jesus explica e prova aos discípulos que era Ele, e que estava ressuscitado, e não em espírito.

Afirmar que nenhuma vez os seres humanos são chamados de espíritos é algo que traz problemas. Em primeiro lugar, se os espíritos malignos são “espíritos” os anjos também o são, como o próprio Deus, e isso é possível entender pela exegese.

Outra confirmação é que se Samuel é chamado espírito, “um deus”, isso não prova que seja demônio, mas se trata de pura teoria que pretende ler a passagem nesse sentido para salvaguardar a “mortalidade” da alma. É altamente provável que se tratou de Samuel mesmo.

Em Hebreus 12, 9 Deus é chamado de Pai dos espíritos, em contraste com nossos pais segundo a carne. Se temos espírito, e se Deus é pai do nosso espírito, não o é da energia vital, mas de nós mesmos, quando a personalidade nessa passagem está no termo espíritos. Então, por esse ângulo somos espírito.

Afirmar que os discípulos mesmo se cressem em alma imortal não creriam em aparições de “gente morta” parece outra afirmação sem fundamento.

A explicação de que a crença judaica concebia a aparição de demônios em forma humana, o que explica o medo dos discípulos, é plausível. Não pode, porém, descartar toda a possibilidade de que os mortos também pudessem aparecer.

Assim é que na parábola do rico e Lázaro é possível que se pense que Lázaro pudesse ‘aparecer’ à família do rico.

Gledson Meireles

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