quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Comentário do prefácio e introdução

Sobre o prefácio da nova versão do livro A lenda da imortalidade da alma, escrito por Azenilto Brito

Aquilo que é o parecer universal certamente está conforme a razão humana e reflete a realidade, como é a doutrina da imortalidade da alma. Trata-se de um consenso universal. É preciso muita elaboração para tentar negar esse fato. Por isso, muitos deixam de crer na imortalidade da alma e enfrentam inúmeros obstáculos para isso, e em especial, precisam explicar inúmeras passagens bíblicas que demostram a alma imortal.

Mas há muitas passagens bíblicas que não são normalmente consideradas em sua profundida para mostrar que a alma é imortal e, por isso, muitos que estão dispostos a abandonar esse ensino, apegam-se a outras doutrinas, que pelo menos parecem negá-la, e especializam-se nelas, e terminam por não crerem mais que a alma humana sobrevive após a morte.

Quando Cristo diz que “Quem tem o Filho, tem a vida” (1 João 5, 12), isso não tem a ver com negar a imortalidade da alma em qualquer sentido, nem auxilia nessa doutrina, mas apenas mostrar a linda verdade de que quem tem Jesus tem a vida eterna, está fora da condenação.

Isso pode implicar em ensinos sobre a imortalidade da alma e a ressurreição, mas não mantem qualquer objeção contra nenhuma dessas verdades. Aliás, pode até mesmo reforçar que a alma é imortal, já que quem tem o Filho tem a vida, no presente mundo, e a vida eterna, após a morte, continuando a vida da graça com Cristo, e a vida do mundo que há de vir, na nova Jerusalém que desce do céu, no mundo transformado, como é a esperança cristã. Portanto, é preciso já de antemão refletir sobre essas verdades.

Dessa forma, outras questões como a vinda de Cristo e a posse do reino, que já estariam sendo experimentadas pelas almas, não é uma objeção contra a imortalidade da alma, já que o homem no estado de morte não está completo, o que explica a necessidade da ressureição e a diferença que terá ao experimentar do reino novo dado por Deus após a ressurreição da carne.

Também, a ressureição e o juiz final, onde a sorte de cada um será manifesta a todos, juntamente com as razões para tal, continua de pé, como está mesmo no conceito de santuário celestial e juízo investigativo, ensinado pelos adventistas, onde o motivo desse seria dar aos anjos a oportunidade de entender a justiça de Deus relativa a cada investigado, a cada caso particular. No juízo final, após a ressurreição, esse conceito é realizado, onde todos terão oportunidade de compreender a justiça e a graça divina perfeitamente.

A ressureição é luminosa mesmo para quem crê na imortalidade da alma, ao contrário do que havia no paganismo, na ausência de esperança de voltar à vida ressurreta, crendo em viver como “espíritos” eternamente, o que é muito criticado e identificado com a fé cristã, o que é um equívoco. Muitos dos argumentos lançados contra a doutrina cristã atingem somente a doutrina pagã, deixando a fé cristã intacta.

Um exemplo disso é a afirmação sempre repetida, onde o mortalismo seria: “Visão mais madura e real da pós-história, em que a noção popular de um paraíso etéreo onde almas glorificadas passarão a eternidade trajando vestes brancas, cantando, tocando harpas, navegando sobre nuvens e bebendo o néctar dos deuses é alheia às Escrituras.”.

Mas, deve-se dizer, os cristãos católicos nunca creram que a almas passarão a eternidade como está afirmado na citação acima. Por isso, de fato, a crítica não toca a doutrina católica, mas apenas a doutrina pagã, que realmente não tem respaldo bíblico. Fiquemos, portanto, com a imortalidade bíblica, como explicada pela Igreja Católica.

A proporcionalidade do castigo é uma realidade, mas difícil de ser explicada exaustivamente, e assim continua um problema, se assim o quiser, para o aniquilacionismo também, visto que deverá saber e explicar, caso ache necessário, como se dará a intensidade de penas para cada um segundo o merecimento individual. É um argumento que contem a mesma dificuldade, segundo os mortalistas, e, portanto, não pode refutar a doutrina do inferno.

Quando a Bíblia diz que somente Deus possui imortalidade, e que a alma morre, está afirmando nada mais que só Deus é fonte da vida, e que pode dar a vida. Assim, como os anjos são imortais, eles possuem a imortalidade, e isso não contradiz a afirmação de que essa é apanágio de Deus somente. Por isso, também não pode negar que a alma é imortal, pela mesma razão.

Ainda, quando se diz que a alma morre, está afirmando isso no sentido de pessoa, e não no sentido de espírito, o que deve ser entendido segundo o contexto, e não apenas pelo próprio termo empregado. Esse princípio já refuta muito do que o mortalismo ensina.

Deus não precisa de nenhuma marca para fazer alguém existir novamente. De fato, esse seria o caso. O problema é que esse cenário de inexistência não há na Bíblia. Em nenhum momento há a noção de que os mortos deixaram de existir ontologicamente. Esse problema filosófico acompanha o mortalismo, que não pode explicar suas afirmações mais importantes à luz da Bíblia.

Ser como emoticons e estar na memória de Deus é algo interessante, para pensar, mas não é algo que se encontra na Sagrada Escritura. Os mortos estão na memória de Deus, mas isso não significa que não existam em si. Pois existem.

O livro A lenda da imortalidade da alma mostrará as provas da visão holística. Muito bem. Mas ainda assim não prova a alma morte da alma, já que a doutrina católica mostra algo diverso do dualismo pagão, pois o homem é unidade de corpo-alma, onde a morte é algo intruso, e a natureza humana é valiosa, tanto em sua parte física como na sua parte imaterial, sendo assim, algo próximo ao holismo, onde todo o ser constitui uma só natureza em duas partes, material e imaterial, o corpo e a alma.

A busca da verdade dos fatos da natureza humana, se há a alma imortal ou não, pode ser encontrar certeza pela leitura e estudo atento da Bíblia, pelo que diz a tradição apostólica, que é a tradição cristã católica, a razão humana, o sentir universal, de modo que não deixe nenhuma dúvida.

A Bíblia possui incontáveis provas da alma imortal, de forma que se alguém não crê nesse ensino, terá problemas insolúveis para explicar uma enorme quantidade de passagens bíblicas.

Para quem aceita a verdade da alma imortal, são menores as dificuldades em elucidar passagens que poderiam parecer que a alma pudesse morrer. Nesse quesito, também, o mortalismo e aniquilacionismo perdem sua força.

Sobre a profundidade da obra em questão, é um fato de que não se encontra em outro livro tamanha consideração do tema e o resumo dos argumentos que ele envolve. Por isso, é uma obra que deve ser considerada quando se estuda o assunto da imortalidade da alma.

 

Sobre a introdução

Uma pergunta é necessária já no início deste estudo: chega-se à crença de que a alma é mortal pela simples leitura da Bíblia ou por argumentos que veem de doutrinas de outras vertentes que surgiram na história da Igreja? A resposta parece ser a segunda opção. De fato, a Bíblia mostra que a alma é imortal.

O argumento de que não faz sentido a alma que está no céu voltar ao corpo e voltar para o céu, e a alma que está no inferno voltar à vida na terra e ser condenada com o corpo novamente, é em essência o mesmo que diz que não faz sentido o morto que entrou na inexistência voltar à existência para sofrer o castigo durante um tempo e depois cair na inexistência novamente. A parte positiva da doutrina seria somente em relação aos salvos, já que seriam recriados para a felicidade. Quanto aos condenados a mesma dificuldade permanece, como a que foi escrita acima contra a doutrina da imortalidade da alma.

O que São Paulo escreve em 1 Coríntios 15 não permite pensar que se a ressurreição não ocorresse as almas poderiam permanecer no céu eternamente, pois ele afirma que se Cristo não ressuscitou os vivos permanecem em seus pecados, o que significa que todos estão perdidos. Esse é o ponto. Não toca diretamente à questão da imortalidade da alma, no sentido de afirma-la ou negá-la, como parte do credo cristão. É mais uma questão que reflete a crença herética que o texto bíblico está combatendo.

Pode, sim, ler lida no sentido materialista, pois se a ressurreição não existir não haverá mais nada. Mas o texto trata dos vivos, afirmando que há uma influência sobre os crentes, que é a falta do perdão. Dessa forma, mesmo pensando na imortalidade da alma, o que poderia ser lido é que se Cristo não tivesse ressuscitado, todos estariam perdidos, vivos e mortos, sendo que os mortos, caso o conceito de alma imortal entre nessa consideração, os mortos estariam condenados.

O conceito de corpo como apenas morada do verdadeiro eu, usado para formular a crítica, não é um conceito correto. De fato, assim, a crítica já perde sua força também.

A ideia de que a vida seria melhor na terra, caso não houvesse ressurreição, perfeitamente se harmoniza com a ideia de que a alma imortal ficasse em lugar de completa infelicidade. Assim, se não houvesse salvação, o perdão dos pecados, não haveria mais fundamento de ter a vida novamente, se o conceito de vida após a morte não fosse de salvação, como ensina a filosofia grega.

Então, é um acerto reconhecer que a ressurreição é o tema central. De fato, ninguém quer viver somente em forma espiritual, como alma, na eternidade, mas ser transformado e viver a vida corporal em corpo glorificado. Mas isso não necessariamente tem a ver com a negação da alma imortal.

O motivo de não se falar tanto da ressurreição como acontecia no primeiro século talvez seja porque os primeiros cristãos acreditavam que a Parusia estava próxima, e eles seriam glorificados logo, e os mortos iriam ressurgir em breve. Não sendo esse o caso, a imortalidade da alma foi sendo enfatizada, já que os mortos estão na glória do céu, e não que tenha sido uma doutrina inventada.

Não parece tanto que 1 Ts 4, 13-18 seja um consolo sobre a perda de entes queridos, comparável ao que acontece atualmente, pois são Paulo trata de mostrar que os mortos não estavam perdidos e não haveria motivo para pensar que os vivos poderiam participar da vinda de Cristo quando os mortos não teriam mais essa chance. Era um problema que, se não era, beirava o materialismo.

Ou pode-se dizer que era um consolo diferente. Havia os que estavam preocupados, pela partida dos entes queridos. Outros não tinham esperança (v. 14). Os crentes podem ficar tranquilos, pois os mortos estão salvos e ressuscitarão. É uma pregação sobre a ressurreição, e uma refutação da doutrina que nega essa verdade.

Os mortos também estarão na glória, ensina o verso 14. De fato, pensando da forma imortalista, São Paulo poderia ter dito que já estavam no céu, e iriam ressuscitar para voltar para a glória do Reino definitivo. Mas, ele não diz isso. Ao contrário, trata apenas da ressurreição.

Isso seria uma suposição de que nenhum cristão, nem São Paulo, nem os outros que não têm esperança, nenhum deles cria na imortalidade da alma.

Mas, se o texto diz: “não vos entristeçais, como os outros que não têm esperança”, isso significa, provavelmente, que muitos estavam caindo em um materialismo, e não possuíam esperança da vida eterna, nem por meio da alma imortal nem pela ressurreição dos mortos. Isso explica a ênfase na ressurreição.

Essa leitura é corroborada por um verso mais adiante, em 1 Ts 4, 10, onde mesmo “em estado de vigília”, ou seja, vivo, ou em estado de sono, quer dizer, morto, “vivamos em união com ele”.

De fato, se os mortos não existissem não haveria meio de estar em união com Jesus. Essa é uma das passagens que os mortalistas enfrentam para explicar de modo satisfatório. Não conseguem.

O imortalista consegue explicar bem o motivo da ênfase da ressureição, como feito acima, e o mortalista encontra dificuldade em mostrar como estar em união com Cristo se na doutrina que professa os mortos não possuem existência, e por isso não poderiam estar unidos a nada e a ninguém. Mais uma dificuldade para o mortalismo, maior do que aquela que apresentou para os imortalistas.

Por isso, a imortalidade da alma é uma verdade, e não a mentira que o Demônio queria ensinar, pois ele pretendia fazer crer que o homem viveria na terra eternamente mesmo se pecasse. Ou seja, que o homem não passaria pela morte, que viveria corporalmente para sempre.

Ainda, a Bíblia reprova a necromancia, e nunca afirma que os mortos não existam. Seria um bom argumento, mas nunca foi usado.

Nesses estudos que serão feitos aqui, os argumentos mortalistas serão analisados de perto, como já pode ser visto. Assim, como acima foi provado que a ênfase na ressurreição não é questão da alma ser mortal, mas explica-se pelo contexto de que muitos não tinham esperança, crendo certamente em mais nada do que o crasso materialismo, e que se os mortos não ressuscitam, não haveria esperança de mais nada, nem mesmo para o dia da vinda de Cristo, que talvez serviria apenas para os vivos, numa melhor versão da heresia que certamente estava circulando por aquele tempo.

Ao mesmo tempo, foi mostrada uma passagem que corrobora a fé na imortalidade da alma, pois a Escritura afirma que mesmo morto salvos estão em união com Cristo, e não dá margem para uma leitura mefatórica, simbólica, poética para isso, já que também coloca os vivos na mesma posição, de união com Cristo, o que só pode ser possível em seres que existem. E em outra passagem os mortos aparecem como mais próximos de Cristo do que os vivos.

Por isso, os argumentos acima já refutam o início do estudo mortalista, na sua raiz, e isso será feito sempre que necessário, mostrando que a doutrina mortalista possui inúmeros problemas, qualitativamente maiores e em número maior do que aqueles que atribui à doutrina da imortalidade da alma. Com isso o leitor irá preparando seu coração para crer na verdade de que possui uma alma imortal.

Cada argumento que aparecer será detalhado dessa forma, à luz da Bíblia, da razão, da história, como o autor do livro pretendeu fazer, com o contexto e a hermenêutica. Isso mostrará a doutrina da imortalidade da alma nos próprios textos, quando for o caso, que os mortalistas usam para negar a doutrina, como feito na passagem de 1 Tessalonicenses 4 e 5.

Se os argumentos imortalistas são “fracos e desconexos”, o leitor irá julgar, e ver se é capaz de apresentar melhores argumentos bíblicos para contrapor ao que foi estabelecido.

A resposta dada acima contra o argumento do livro não parece ser fraca, desconexa, apegada só à tradição e não à razão, não é mesmo? Ou o leitor acredita que nada do que foi escrito acima faz sentido?

Não havia ninguém sem esperança alguma? Mas o texto diz expressamente isso, que existia naquele tempo. Então, isso não explica o motivo da ressurreição ser enfatizada? E mais, não faz sentido que o texto de 1 Ts 5, 10 estabeleça que a alma é imortal, já que mesmo em sono o crente salvo pode estar unido a Jesus?

Ou o leitor crê que outra explicação para essa união, de forma espiritual, poética, metafórica, ou seja, não real, seja melhor? É nesses momentos que se vê que uma doutrina não está bem estabelecida em textos bíblicos.

Agora, se a alma existe, faz sentido afirmar que mesmo em estado de sono, ou seja, na morte, o salvo está em união com Cristo, mais ainda do que como estava em vida. Tudo faz sentido. Ou não faz? Se não faz, qual a razão para negar essa límpida verdade? Qual a explicação bíblica, no contexto, e no teor bíblico geral, que pode se contrapor a esse argumento?

Está vendo o leitor que a fé na imortalidade da alma está ligada também à ressurreição e não contradiz em nada o contexto. Por outro lado, se se acredita que a alma deixa de existir, então os problemas vão surgindo, e aumentam a cada passo.

Muitos artigos aqui dão resposta à primeira versão do livro A lenda da Imortalidade da Alma. Portanto, basta pesquisar e encontrar muitos textos refutando argumentos da versão antiga. Da mesma forma, os argumentos da nova versão serão enfrentados de perto.

Os argumentos usados para contrapor serão bíblicos e racionais, e o leitor irá ficar surpreso com o que encontrará. E como o assunto é muito importante, o próprio livro o demonstra, como também pela perspectiva dos adventistas, de que essa doutrina tem a ver com o resgate do evangelho, com a refutação da mentira de Satanás, mostrando assim que se trata de algo de suma importância.

Gledson Meireles.

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