sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

John Owen: estudo do capítulo 28, livro IV, sobre o texto de 2 Pedro 3, 9

Segue a refutação a um argumento de Owen baseado em 2 Pd 3, 9.

Em 2 Pedro 3, 9, o Senhor revela Seu desejo à igreja, em meio ao qual diz: “não querendo que alguns se percam”. Essas palavras denotam a possibilidade da perda da salvação por aqueles que estão firmes na graça e na fé, como é o caso do público que recebeu a epístola inspirada. E, segue o Espírito Santo: “senão que todos venham a arrepender-se”.

Esse arrependimento, essa vida de santidade, de penitência, o Senhor ensina para que continuemos na graça, não percamos a salvação. O texto é claro em si, e os muitos exemplos e provas mostrados antes, em contexto e com sólida argumentação, contra as objeções de Owen, mostram que 2 Pd 3, 9 de fato é um texto que implica a redenção universal.

Uma vez que o salvo pode perder a salvação, visto que a salvação vem de Deus em Cristo, segue-se que Jesus morreu por todos.

Mas, Owen afirma que o argumento assim tirado dessa passagem é corromper as palavras do apóstolo. Afirma que o público cristão referido na passagem recebeu bênçãos (2 Pd 1, 4), são amados (2 Pd 3, 1), são opostos aos escarnecedores (2 Pd 3, 3), e não poderia ser que a vontade que Deus tem para com esses, de que nenhum se perca e que todos se arrependem, que essa vontade fosse estendida a todos fora esse grupo dos eleitos.

Muitos do mundo, diz Owen, Deus nunca faz conhecer Sua vontade, não chama ao arrependimento, nunca ouvem sobre o caminho de salvação. Seria loucura afirmar que a vontade de Deus que todos se arrependem tenha a ver com todos e cada um no mundo, mas que estaria restrito ao número dos eleitos.

As contradições à doutrina que Owen estabelece por sua interpretação, seria que Deus não poderia querer que tais venham ao arrependimento, porque, afirma Owen, Ele os cortou desde a infância para fora da aliança, esses são os que Ele odeia desde a eternidade, dos quais Ele esconde os meios da graça, aos quais não irá dar o arrependimento, e assim sabe que é impossível que esses tenham arrependimento sem que seja dado por Deus. Então, conclui que o texto de 2 Pedro 3, 9 trata somente dos eleitos. Ainda, menciona Ezequiel 18, 23.32.

De fato, desses textos citados, Owen afirma que os mesmos corroboram sua intepretação, acima apresentada. No entanto, vejamos mais uma vez que esse não é o caso, e que claramente o ponto de vista de Owen cairá com a força da Palavra de Deus.

Vimos acima, que 2 Pedro 3, 9 de fato ensina que Deus quer a salvação de todos, e que todos se arrependam, e exorta os fieis para que nenhum se perca. Mas, Owen afirma que o Senhor está afirmando isso apenas aos eleitos.

Contudo, a resposta dada pela leitura simples do texto é que se assim fosse não haveria possibilidade alguma de alguém se perder, e nenhuma necessidade de desejar o arrependimento da forma que o texto apresenta. Essa possibilidade de perda da salvação que o texto indica não é compatível com a interpretação de Owen.

Ainda, quando os cristãos são chamados santos, eleitos, amados, etc., isso não é por pura estima humana, reconhecimento apenas externo, uma opinião da perspectiva humana do escritor bíblico, já que a Escritura aí está afirmando a palavra de Deus. É o Espírito Santo quem diz essas palavras.

Também, não se pode afirmar a perda de um só dos eleitos. Como resolver a questão? De fato, todos são eleitos em Cristo, quando creem, e são santos, eleitos, amador por Deus quando continuam na fé. Dessa forma, o Espírito Santo está afirmando o que Deus quer de nós, e nos chamada à conversão. Somos santos e eleitos em Cristo e devemos nos santificar. No fim, somente os eleitos perseverarão, isso é um fato.

Na verdade, o que perde a fé, o que cai em heresia de perdição, o que apostata da fé, não pode estar mais no número dos eleitos em Cristo. Isso significa que muitos podem ser cortados do livro da vida.

E quanto ao texto de Ez 18, 23. 32: “Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?”.

É verdadeiro, igualmente, que Deus quer que o ímpio de salve. Não é verdade que Deus tirou alguém da aliança, que odeie alguém eternamente, que esconda de alguém os meios da graça, e que negue o dom do arrependimento a quem se abre à graça. Obviamente dirá que abrir-se à graça é efeito da graça. No entanto, temos em vista, com essa expressão, o livre-arbítrio sendo auxiliado pela graça.

Dessa forma, Deus não quer que o ímpio seja condenado, mas que viva a vida eterna. Dessa firma, esses são uns dos textos que mostram mais claramente o livre-arbítrio: “Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor Deus; convertei-vos, pois, e vivei”.

Assim, também o verso 21 afirma que se o ímpio se converter e guardar os mandamentos, ele será salvo, não morrerá. O texto literalmente está afirmando algo a ser feito para herdar a graça. A conversão, a guarda dos mandamentos, a vida de retidão e justiça, para não morrer e ser salvos. Essa morte poderia ser física e espiritual, pois morrendo fora da graça não encontraria a vida eterna. No entanto, deve ser entendida em primeiro lugar espiritualmente. O ímpio que se converter viverá para sempre. Essa condição é dada por Deus. Essa é a vontade de Deus. Com isso, temos mais uma prova da redenção universal.

Gledson Meireles

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