quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Feliz dia da Reforma Protestante

Que todos nós sejamos um em Cristo Jesus.

Que a Palavra de Deus seja o nosso alimento.

Um só rebanho e um só Pastor.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Vídeo sobre história da Igreja e suas divisões

 

O historiador protestante Lucas Gesta gravou um vídeo interessante e muito bom sobre a história da Igreja mostrando as divisões do Cristianismo durante os séculos.

Aqui vão algumas considerações sobre o vídeo, que nós católicos não concordamos e que certamente foram equívocos do historiador protestante.

O historiador afirma que desde o século I havia pelo menos três grupos, três igrejas diferentes. Quais seriam? Seriam os antioquenos, os joaninos e os jerusalemitas.

Quem são mais exatamente? As igrejas antioquenas seriam aquelas que foram fundadas pelo apóstolo São Paulo.

Essas “vão gerar” quase 70% das cartas e livros do Novo Testamento, que seriam os escritos de São Paulo, os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.

As igrejas joaninas seriam de outra origem e outro modelo diferente do antioqueno. Os escritos bíblicos citados são o evangelho de João, as cartas de João e o Apocalipse.

E as igrejas jerusalemitas que são judaicas, que não aceitam o rompimento com o mundo judaico, mas querem continuar seguindo a lei. Os escritos bíblicos são as cartas de Pedro, de Tiago e outras cartas não testamentárias, não canônicas.

Seriam todas as igrejas ortodoxas porque compuseram o cânon do Novo Testamento. E não seriam una no sentido institucional, intelectual ou teológico, que formariam três grandes movimentos que se uniriam no século 2.

Essas igrejas, segundo o historiador, seriam como metodistas, adventistas e assembleianos que não são a mesma igreja.

Realmente, esse é o erro básico da tese do autor.

A Igreja fundada por Jesus já estaria desunida no primeiro século. Os cristãos que se uniam sob o evangelho pregado por São Paulo discordariam dos que foram ensinados por São Pedro e São João e que discordariam daqueles que desejavam permanecer cristãos judeus, e que mais tarde essas igrejas se tornariam uma só no ideal católico do século segundo. Há uma confusão aqui.

Em primeiro lugar, como sabemos, todos os apóstolos estavam unidos na fé, na teologia, na moral, na doutrina, no culto. A doutrina ensinada por um apóstolo era idêntica à ensinada por outro.

As igrejas que estavam sendo lideradas por São Paulo estavam unidas com as igrejas fundadas por São Pedro e São João e São Tiago e etc. Desse modo, havia uma única Igreja.

Portanto, no concílio de Jerusalém reuniram-se apóstolos e presbíteros que discutiram um assunto e definiram a doutrina que serviu para todos os cristãos, de todas as localidades.

Desse modo, comparar metodistas, adventistas e assembleianos com as igrejas locais que eram unidas no século primeiro é realmente um erro fundamental.

Todas aquelas igrejas possuíam a mesma fé, moral e culto. Os metodistas, adventistas e assembleianos divergem entre si de modo profundo e em muitas questões, de fé. A liturgia de cada uma é bastante diversa. São muitas as divergências. Até o batismo de uma não é aceito pela outra. Assim, se o um adventista tornar-se assembleiano deverá ser batizado. O mesmo se um assembleiano se tornar adventista. O mesmo de uma não é válido para a outra. Também não podem reunir-se em concílio, pois são igrejas diferentes. E há outras divergências.

No mais, o vídeo é bastante bom e mostram as divisões em várias igrejas no decorrer da história. Só não deixa claro que a Igreja Católica atravessa a história conservando sua doutrina intacta.

Gledson Meireles.

sábado, 19 de outubro de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana, Gregg Allison

Refutação: Capítulo 11: A vida em Cristo (terceira parte, seção 1, capítulos 1-2)

 

A vocação humana: a vida no Espírito; a comunidade humana

 

Gregg admite que a catequese eclesial ensinada no catecismo é centrada em Jesus Cristo. Outra observação no resumo que faz a lição do catecismo é que a entrada na bem-aventurança depende totalmente da graça divina.

A imagem divina consiste na racionalidade e no livre-arbítrio.

Ao ler a explicação de Gregg Allison sobre as virtudes (artigo 7), o mesmo afirma que a fé deve se fazer acompanhar da esperança e do amor, e que a fé sem obras é morta e não une plenamente  o crente a Cristo e não o torna membro de seu corpo.

Contudo, o artigo 7, no número 1815 do Catecismo, sob o título de As virtudes e a Graça, afirma que  “privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um mebro vivo de seu Corpo”. Esse é o texto impresso e também o que está no Catecismo da Igreja Católica publicado no site do Vaticano.

Portanto, o que a doutrina católica ensina é que a fé é a raz da salvação. A fé une a Cristo. Mas, como as obras são necessárias, tanto como consequência quanto como exigência da fé, essa fé sem obras não faz de um pecador convertido um membro “vivo” do corpo de Cristo. Assim, a fé une a pessoa a Cristo, mas se não agir pela caridade e pela esperança essa fé é morta e o membro permanece morto no corpo de Cristo.

Gregg explicou que a fé sem o amor e a esperança “não tornma membro” do Corpo de Cristo, o que foi um equívoco. A fé une a Cristo, imediatamente. Uma vez em Cristo, deve-se agir pela caridade, e praticar a virtude da esperança.

Na avaliação que faz dessa parte do catecismo Gregg afirma que “a teologia católica sobre esses tópicos não é explicitamente bíblico”. Talvez tenha se detido aos nomes, a forma de explicação, que utiliza termos diveros. Mas, certamente também, o autor equivoca-se, uma vez que em toda a sua explicação o catecismo baseia-se em citações da Bíblia, e em nenhuma outra fonte. Assim, essa afirmação de Gregg demonstra sua incapacidade de entender a questão. O que ele chama de algo que não foi “explicitamente bíblico” traz a ideia de que o seja implicitamente. A afirmação é de fato um equívoco.

Mas, ainda, o autor afirma que o ensino do catecismo também não é “não bíblico”, mas contribuição da antropologia e da moralidade que não seria algo definitivo e obrigatório.

Ele afirma que as ênfases ou elementos constitutivos dos atos morais humanos lembra os “proponentes da teologia evangélica”. Afirma que o bem e o mal não estão nos atos em si e reconhece a utilidade da doutrina católica sobre a responsabilidade social e outros.

Afirma que a doutrina católica sobre a imagem de Deus é reducionista, porque a Escritura não faz essa identificação limitada, cita investigações sobre a literatura do Oriente Médio a influência de Karl Barth, coisas que serviriam para criticar e afastar e explicação católica.

O ensino católico sobre pecado mortal e venial está fundamento na Bíblia. O texto de 1 João 5, 16-17 assim ensina: “Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus lhe dará a vida; isso para aqueles que não pecam para a morte; não digo que se reze por esse. Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte”.

Certamente, a Escritura está tratando da morte em sentido espiritual, da condenação eterna. Assim, há pecado que não leva à morte. Sendo assim, há pecado venial. Então, conclui-se que o pecado que leva à morte é o pecado mortal. É simples o ensino bíblico.

Mas Gregg afirma que a Escritura não faria a distinção entre pecados mortais e veniais. A Escritura distinguira apenas pecados não intencionais e intencionais.

Então, Gregg alude “a ideia da teologia católica de que o pecado venial não requer uma nova infusão de graça santificadora para ser perdoado”.

O mesmo parece mesmo não ter entendido bem. O catecismo ensina que o pecado venial “deixa subsistir a caridade, embora ofenda e fira”. Então, é um pecado que não leva à morte.

Depois, o teólogo protestante afirma que a Escritura ensina os graus de pecados no que diz respeito às consequências que os pecados produzem, que se deteria na gravidade do pecado, para as consequências nas vidas das pessoas, “que perdem a intimidade em seu relacionamento com Deus”. Nega que o pecado assim ensinado na Escritura diz respeito à questão da culpa diante de Deus.

Ou seja, o pecado pode ter variados graus, mas em suas consequências na vida dos pecadores, mas não seriam culpáveis diante de Deus, em caso do cristão salvo e na amizade de Deus. Apenas colocaria a intimidade com Deus em má situação. É algo bastante estranho.

Todos os pecados colocariam a pessoa culpada diante de Deus e sob ira divina. Para isso, cita o texto de Tiago 2, 10-11 e outros. Mas, São Tiago afirma coisas relativas aos pecados diretos contra o Decálogo. Quem não mata mas comete adultério é transgressor da Lei.

O mesmo não acontece com o pecado venial. Uma palavra ociosa, um riso supérfluo, como ensina Santo Tomás, podem ser pecados, mas não são contrários ao amor de Deus e do próximo. Assim, são veniais. O mesmo não pode ser dito da blasfêmia, do perjúrio, do homicídio, do adultério.

Na teologia protestante, se uma pessoa ímpia ofende o seu próximo por uma palavra, em momento de ira, teria a mesma culpa diante de Deus que um adúltero teria. Ou, em outras palavras, e posto isso no caso de cristãos convertidos, se um cristão que ofende uma pessoa por um momento de ira passageira não é culpado diante de Deus da mesma forma que um cristão que comete adultério.

Os pecados seriam iguais, em relação à culpa, mas poderiam ser considerados diferentes em suas consequências nas vidas das pessoas. O adúltero teria sua intimidade com Deus perturbada, mas estaria semrpe na graça e em sua melhor posição diante de Deus. No caso católico, o pecado de adúlterio rompe a amizade de Deus, uma vez que está contra o Decálogo, como São Tiago escreve: “Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, disse também: Não matarás” (Tg 2, 11).

Aqui o leitor deve entender melhor a espiritualidade ensinada na Bíblia e aquela que advem da teologia protestante, que são diferentes.

Na teologia protestante apresentada por Gregg o texto de Ezequiel 8, 6.13.15 daria base bíblica para considerar os pecados como maiores ou menos em suas consequências, assim como em Jo 9, 11 onde Judas tem pecador maior.

O problema é que o protestante crê que uma vez perdoado, e justificado, sedu pecado não o tira da amizade de Deus. Uma pequena ofensa e um homicídio seriam igual na culpa. Nenhum desses seria culpável diante de Deus, porque o pecador se arrepende e é perdoado. Para a teologia católica é praticamente improvável que o fiel na graça começa sistematicamente pecados graves, e uma vez cometido experimentará o arrependimento sincero e confessará sua culpa. Adamais, a Escritura afirma: “se viveis segundo a carne, haveis de morrer” (Rm 8, 13). Viver segundo a carne é cometer pecados graves, que levam à morte. Por isso, falando aos cristãos, afirma a Bíblia que os cristãos devem viver segundo o Espírito.

Gregg reclama da falta de atenção dada à Escritura na apresentação do título “A vida em Cristo”. O Catecismo não teria dado atenção à Bíblia “como componente crítico da vivência cristã”, e a atenção praticamente exclusiva com a bem-aventurança humana como propósito de Deus para a vida humana.

Mas o autor protestante não nega que “boa parte dessa seção do Catecismo está fundamentada na Escritura”. Porém, não mostra nehuma que não esteja. Reclama apenas da ênfase dada pelo catecismo, como o leitor verá adiante.

Pois bem. A crítica reflete aquilo pelo que a teologia protestante é conhecida. Cita 2 Timóteo 3, 16-17. Toda boa obra é capacitada por Deus por meio da Sua Palavra.

Exegese dos textos de 2 Timóteo 3, 16-17 e Efésios 4, 11-15.

O texto bíblico de 2 Timóteo 3, 16-17 estaria ensinando que somente a Bíblia deve ser obedecida em matéria de fé e moral, como autoridade suprema e infalível.

De fato, o texto afirma que: toda Escritura é inspirada por Deus. Sendo assim, é verdadeira, não pode errar.

A Escritura é útil para ensinar. Essa utilidade nos leva a aprender por meio da Escritura, e usá-la para o ensino.

Também, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Os erros devem ser combatidos pela autoridade da Escritura, as repreensões devem ter como base a Palavra de Deus, e a formação na justiça deve ser pautada em seu ensino.

Por ela, o homem de Deus se torna perfeito. Pelo ensino da Bíblia o homem de Deus chega à perfeição. Então, todo o ensino para a salvação está na Bíblia.

E, ainda, o homem é capacitado para toda boa obra. Tudo o que deve ser feito e praticado tem sua fonte na Bíblia.

Agora, vejamos mais um texto bíblico para nosso proveito espiritual. A passagem é de Efésios 4, 11-15.

O versículo 11 mostra que o Espírito Santo constitui na Igreja os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores, os doutores.

E isso é feito para o aperfeiçoamento dos cristãos. Ou seja, as autoridades da Igreja visam levar os cristãos à perfeição. E mais: para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo. Eis uma tarefa importante das autoridades citadas: construir o corpo de Cristo.

E o texto continua, mostando até quando essa tarefa deve ser feita: até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo.

Então, o ministério da Igreja leva à unidade da fé, e ensina a verdade par ao conhecimento de Jesus Cristo, até levar o homem à fase adulta da fé, na maturidade de Cristo.

E mais. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina; ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores.  Assim, a autoridade da Igreja previne das heresias.

Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. E pela pratica das boas obras, a caridade, o crescimento em tudo, por meio desse ministério da Igreja, no corpo de Cristo.

Dessa forma, a Bíblia está ensinando sua autoridade, de Escritura inspirada, e a autoridade da Igreja, constituída pelo Espírito Santo.

Ao harmonizar os dois textos temos que a Bíblia é inspirada por Deus, e a Igreja é constituída por Cristo. A Bíblia é útil para ensinar, repreender, corrigir e forma na justiça. A Igreja trabalhar para a perfeição dos cristãos, para construção do corpo de Cristo, para a unidade da fé, para o crescimento dos cristãos na fé em Cristo. Isso só pode ser feito pela Palavra de Deus.

Se o homem aprende e é corrigido pela Palavra da Bíblia, isso é feito pela autoridade da Igreja, pois e essa que é a responsável pela unidade da fé. Conclui-se que a Bíblia é Palavra de Deus inspirada e a Igreja ensina a Palavra de Deus fielmente, infalivelmente.

Ainda, o autor não mostrou o que a teologia protestante teria oferecido algo mais do que a teologia católica ao apresentar a Escritura. Quando diz que a Escritura é mais do que palavras, mas que realiza o que comunica, isso é o mesmo que a teologia católica ensina.

E o autor afirma, como primeiro exemplo, que o ato de declaração de Deus na justificação, “o pronunciamento legal de Deus” segundo o qual os seres humanos não são culpados, mas justos, afirma o seguinte: “Porque a declaração feita os torna justos”.

Essas palavras soam como católicas. De fato, o autor não faz, como os refermados costumam fazer, a diferença da declaração de Deus na justificação, que não tornaria justo o pecador, mas apenas o imputaria como justo, pois a justiça teria sido imputada a ele. Mas Gregg usa o verbo tornar-se, afirmando que o pecado se torna justo, o que é doutrina católica. Então, não há o que objetar.

E, adiante, afirma que a teologia evangélica “lamenta a escassa atenção que a teologia católica dá à Palavra de Deus”. Mas a atenção que a teologia católica dá à Palavra de Deus é plena. Não se entende esse lamento.

Quando a Igreja afirma que o fiel pode viver uma vida digna do evangelho por meio da graça e dos dons do Espírito Santo, isso é assumido como o alimento da Palavra de Deus. O autor parece não ter compreendido.

Também, ao ensinar que o fiel deve estar conforme a mente de Cristo, e o seguimento do Seu exemplo, isso é ensino da Palavra de Deus. Assim também os outros elementos citados por Gregg no seu estudo do Catecismo. O papel da Escritura para a vida em Cristo explicitado nas Bem Aventuranças, nos Mandamentos e na Regra de Ouro, seria tudo o que se diz da Bíblia. O autor achou pouco. E quando apresenta a forma como deveria ser, não acrescenta nada. De fato, não compreendeu o que o Catecismo ensinou.

Quando o catecismo ensina que a Bem-Aventurança humana é o propósito estabelecido por Deus para a existência humana, o autor afirma que a teologia evangélica tem profunda decepção a respeito disso.

Ele admite que “a exaltação futura do fiel é de importância extraordinária na visão bíblica da bem-aventurança futura reservada aos cristãos”, mas afirma que a oportunidade foi perdida por não ter ensinado que o ser humano foi criado por Deus para glorificá-Lo em sua vida. É interessante que o autor estudou o catecismo e não entendeu que na doutrina católica só a graça basta, e a glória de Deus é o que busca todo cristão católico.

Nesse ponto o catecismo apenas está enfatizando o plano de Deus para que o salvo viva as bem-aventuranças, como foi admitido por Gregg que é realmente ensino bíblico de suma importância.

Como o mesmo não compreendeu que o salvos glorificarão a Deus por toda a eternidade e que isso é ensino da teologia católica, verifica-se que sua compreensão da mesma foi limitada.

O catecismo não ensina que o fim supremo do ser humano acaba nele mesmo, mas que é orientado a Deus, e, portanto, acaba em Deus. Esse lamento que o autor expressou é lamentável.

Vimos que a teologia protestante contem erros importantes. Também notamos que Gregg não compreendeu bem certos ensinos e ênfases do Catecismo. De fato, no artigo 2, ao resumir o ensino das bem-aventuranças, o catecismo ensina: “As bem-aventuranças nos colocam diante de escolhas decisivas com relação aos bens terrenos; purificam nosso coração para que aprendamos a amar a Deus sobre todas as coisas.”


Gledson Meireles. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Vídeo contra a infalibilidade papal

 A infalibilidade papal

Uma vez que a Bíblia ensina que a Igreja é coluna e sustentáculo da verdade, e, portanto, não pode errar ao ensinar a verdade de Cristo, o papa como líder não pode errar nos seus ensinos dessa verdade.

O vídeo Resposta: Que Papa infalível é esse?, do Rafael Pablo, cristão protestante, possui, como sempre, inúmeros equívocos, que demonstram que o mesmo ainda não conhece a doutrina católica, embora conheça bem a doutrina protestante.

Ele não é totalmente leigo a respeito do catolicismo, podendo lidar com inúmeras questões do meio católico, demonstrando que tem estudado o assunto. Mas, como é de se esperar, em questões mais rebuscadas o mesmo não tem o conhecimento real da doutrina católica. Isso é natural.

O presente artigo irá lidar com pontos importantes da crítica feita pelo apologista protestante.

A tradição católica teria uma regra: algo que não estaria na Bíblia poderia ser “inventado”. Pasmem. É isso que o apologista ensina sobre a tradição da Igreja por meio dessa crítica.

Também, da afirmação de que foi a Igreja Católica que “nos deu as Escrituras”, a Igreja estaria acima das Escrituras, pois a Igreja teria vindo antes das Escrituras, conforme dizem alguns. Esse ponto é atacado pelos protestantes de todas as denominações.

A única resposta que o apologista oferece é que nenhum estudante de teologia sério, e de história da Igreja, sabe que não existe essas história de que a Igreja Católica ter nos dado a Bíblia.

Afirma que a Igreja foi construindo dogmas que vão contra a Bíblia e como a Igreja veio antes da Bíblia ela pode contrariar a mesma.

E contra o papado ele afirma que o mesmo se fundamenta na infalibilidade papal, que significa que quando o papa fala em matéria de fé e moral ele é infalível. É óbvio que isso não é a infalibilidade papal, mas o apologista pensou que entendeu e afirma que o dogma não tem fundamento nas Escrituras.

O primeiro contraponto relevante que o mesmo traz contra a infalibilidade papal é o seguinte: a doutrina seria estranha e anti-bíblica e a vida de alguns papas, como João XII (955-964), que com apenas 18 anos transformou a administração papal em um covil de prostituição. O pecado seria algo normal. Ele teria sido morto pelo marido da mulher que estava cometendo adultério com João XII.

Mas esse comportamento seria compatível com alguém guiado pelo Espírito Santo para guiar todos os cristãos em matéria de fé e moral (minuto 6). Também sobre o papa Alexandre VI e sua vida irregular.

Tudo isso significaria que o Espírito Santo não se preocupa com a vida imoral dos papas e poderiam esses cometer o que quisessem de pecados.

O segundo ponto que refutaria a doutrina da infalibilidade papal seria que a infalibilidade não significa impecabilidade. Isso seria como a doutrina protestante que ensina que o pecado não faz deixar de ser cristão. No entanto, cometendo um pecado o cristão se arrepende e muda de vida.

Mas, como no catolicismo há pecados mortais isso não faria sentido, pois quem comete pecado mortal perde a salvação.

E o que tira daí o apologista protestante? Ele afirma que isso só funciona para os leigos, porque o papa poderia cometer diversos pecados mortais e ainda ser auxiliado pelo Espírito Santo para governar a Igreja na fé e na moral. O leigo iria para o inferno e o papa continuaria sendo guiado pelo Espírito Santo.

Então, o apologista continua sua crítica mostrando a fundamentação na Bíblia.

Os reis eram ungidos pelos sacerdotes. E eles não contavam com a infalibilidade papal, pois cometeram erros em matéria de fé e moral. O povo não poderia pecar por estar seguindo ordens do rei.

No Novo Testamento Deus teria mudando o modo de agir e dado a infalibilidade ao papa para guiar a Igreja. O tom da crítica é demonstrar que isso não pode ocorrer, Deus não poderia faz isso, e não teria feito.

Não existiria nenhum versículo para embasar a infalibilidade papal, mas apenas uma “pretensa argumentação”.

João 14, 15: O Espírito Santo está com os que amam a Jesus. Os papas pecadores logicamente não estariam com o Espírito Santo.

E o versículo de mata de vez qualquer oportunidade de defesa da infalibilidade papel é Mateus 7, 15-20, que fala dos falsos profetas, lobos devoradores. Pelos frutos conhecemos a árvore. Os frutos dos papas pecadores foram maus. Como fica a infalibilidade?

Aqui vão respostas rápidas para os que procuram a verdade, inclusive o próprio apologista protestante, e desejam entender melhor a doutrina católica.

1º A Igreja não pode inventar doutrinas, e não as inventa.

2º A Igreja Católica tem seu papel na preservação da Bíblia.

3º Somente quando o papa fala em matéria de fé e moral como pastor supremo (visível) da Igreja, com intenção de ensinar a todos de forma dogmática, é que tem a infalibilidade. João XII nunca fez isso. A maioria dos papas nunca usaram da infalibilidade. Pelas explicações do apologista fica claro que o mesmo entende que sempre que o papa ensina em matéria de fé e moral ele é infalível. Essa não é a doutrina.

4º Os papas João XII e Alexandre VI são acusados de muitos pecados. No entanto, nunca ensinaram qualquer dogma, não foram infalíveis, e suas vidas são apenas exemplos de líderes que caíram em pecado.

5º Se o apologista entender bem a doutrina, verá que a vida do papa, como a de qualquer outro cristão, deve ser santa e será julgada por Deus. A infalibilidade está em prol da Igreja e não da vida particular do pontífice. Assim, o papa que morrer em pecado moral é condenado ao inferno como qualquer outro pecador. Na explicação do apologista isso não ocorreria. Falhou na explicação, por não conhecer a doutrina católica.

6º O povo católico não pode pecar alegando estar seguindo ordenas do papa. Assim, é o mesmo que ocorria nos tempos dos reis.

7º Quando Jesus diz que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, e o erro e a heresia são coisa que o inferno usam para destruí-la, isso mostra que a heresia nunca será admitida formalmente e geralmente na Igreja.

8º Quanto ao ensino de que pelos frutos se conhece a árvore, esse se dá principalmente no nível pessoal. Assim, o papa que não tiver bons frutos não estará unido a Cristo. Isso não o tira do cargo, mas o mesmo sofre o juízo divino.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Livro: Adventismo e Reforma

ADVENSTISMO E REFORMA PROTESTANTE, capítulos 1 e 2

 

UM GUIA DE ESTUDO

 

de  DAVI CALDAS


 

Os comentários abaixo serão melhor entendidos por quem leu o guia de estudo, pois são comentários, às vezes, breves e de forma simples, partindo do que foi afirmado na lição.

O comentário desse livro, desse guia de estudo, publicado recentemente em 2021, serve para um diálogo saudável com os adventistas do sétimo dia, que pretenderem melhor conhecer a fé cristã católica.

É certo que o guia mencionado foi escrito para um diálogo com outros protestantes. Mas neste comentário há a oportunidade de se fazer o diálogo com os católicos.

Aqui, o intuito é mostrar a fé católica, de forma breve, clara, respeitosa, bíblica, em diálogo, a partir da leitura do livro citado. São pontos esclarecidos da fé católica, obtidos enquanto se reflete distintivos da doutrina adventista.

O diálogo é extremamente difícil, visto que a doutrina adventista combate abertamente a doutrina católica. Isso vai ficando mais claro nos pontos em que essas tensões aparecerem. Mas é totalmente possível dialogar, basta ter vontade para isso.

Que o Senhor Jesus abençoe esse diálogo para que haja bastante luz ao passo que as questões forem sendo comentadas, para o crescimento na graça e na fé, para a glória de Deus.

Gledson Meireles

 

Apresentação

 

Na Igreja Católica temos estudos breves sobre outras Igrejas, a fim de informarem os católicos sobre a origem, características e doutrinas de outras denominações.

Em relação aos adventistas, no ano de 1959 foi publicado um caderno com o título Os Adventistas, obra do Pe. Dr. L. Rumble, traduzida português. Certamente o padre Rumble colheu muitas informações de M. Canright, um ex-adventista, que, segundo o pr. Leandro Quadros, é um pioneiro na crítica adventista.

Pois bem. Pela apresentação do Pe. Rumble, temos que os adventistas têm origens remotas, por assim dizer, em 1740 com Whitefield, passando por Wiliiam Miller, até chegar em 1860, quando a denominação é fundada.

Embora a Igreja Adventista do Sétimo Dia seja considerada, nessa obra, também uma seita, e duramente criticada quando se diz que não se pode seguir Ellen White e ser genuíno discípulo de Cristo, uma afirmação que se faz como reação católica diante da propaganda e atitude anticatólica dos adventistas, coisa que é bastante razoável, e de se esperar nesses tempos de embates mais intensos. De fato, no adventismo o papado é visto como o Anticristo, e doutrinas católicas são vistas como blasfêmias.

A apresentação da Igreja Adventista nessa obra do referido sacerdote católico ainda contem afirmações de que os escritos de Ellen White são fundamentais e colocados no mesmo nível da Bíblia e de que a doutrina do santuário não pode ser crida por alguém inteligente, coisas que certamente não são palavras bem recebidas pelos adventistas.

Ainda assim, com caridade o padre Rumble ensina, como é comum na fé católica, a termos a seguinte atitude: “...todos os católicos se capacitem de que ainda é seu dever não manifestar senão caridade com todos, mesmo de entre os inimigos professos de sua religião”.

Do mesmo modo, em artigo escrito por D. Estêvão Bettencourt, afirma o apologista católico, de forma honesta e sinceramente, que o adventismo não é nem de longe representante do genuíno cristianismo. Essas afirmações são bastante previsíveis, naturais e parte da apologética. Há palavras mais duras do que essas, escritas por Ellen White e pelos adventistas com relação à Igreja Católica.

O autor do guia de estudo , Davi Caldas, afirma que a Igreja Adventista do Sétimo começa pelos idos de 1844 e formaliza-se em 1863. Os adventistas desde cedo foram muito estudiosos da Bíblia, e afirmam resgatar ensinos cristãos esquecidos, e ser uma igreja que se reforma ao longo dos anos.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma Igreja protestante e opõe-se à infalibilidade e autoridade da Igreja Católica. Assim, o presente comentário serve como diálogo entre a fé adventista e a fé católica.

Cresçamos em conhecimento e graça, pois a verdade é Cristo e Sua doutrina. Achegar-se e aderir à verdade é crescer em Cristo.


 

Comentário da Lição 1

 

No Protestantismo o legado de igrejas mais centradas na Bíblia pode ser explicado como uma atitude a uma única fonte infalível de autoridade. Mas isso faz da IASD mais bíblica, em sentido crítico, já que muitas doutrinas são claramente errôneas, e várias interpretações carecem de plausibilidade.

Também, a Igreja Católica é totalmente bíblica em toda a sua teologia, mesmo no sentido protestante referido antes, onde cada doutrina tem sua fundamentação na Bíblia. No entanto, a Igreja Católica é bíblica em sentido estrito, o que significa que suas doutrinas são fundamentadas de fato nas Escrituras. Mesmo o apelo à tradição apostólica e ao magistério eclesiástico é plenamente bíblico.

Quando se diz que os primeiros protestantes ainda mantiveram doutrinas católicas e “repetiram vícios”, obviamente isso será tido como inexato, ou com muito menos ênfase, se tivermos em conta a posição dos luteranos, que dirão não ter herdado vícios e erros, como os adventistas estão afirmando, mas que continuam igualmente a reforma da Igreja.

Assim também os reformados dirão que os erros de Calvino, por exemplo, não são mais adotados em seus credos, e que as confissões de fé são testemunho da fé bíblica que professam.

Isso é diverso nos movimentos e igrejas do século 19, que tinham o intuito de levar avante a reforma. E essa maior radicalidade é sentida na doutrina adventista.

Aliás, os adventistas, nascidos de ambientes metodistas, batistas e congregacionais, possuem vários elementos da Reforma Radical, como o batismo de crentes e por imersão, uma forma batista de entender o sacramento, ou ordenança, como preferem chamar. Assim, a posição quanto à relação entre a Igreja e o Estado, é também de inclinação batista, como a maior radicalidade nas reformas, em comparação com Lutero e Calvino.

Até mesmo a noção de remanescentes em toda a história da Igreja, como na tese do livro O Rastro de Sangue, de persuasão batista, é semelhante ao conceito que guia a exposição no livro O Grande Conflito, de Ellen White, sem falar na questão um pouco diversa e especial de entender o princípio Sola Scriptura.

Quanto às doutrinas católicas citadas, que foram alvo de críticas e apelos para reforma na história da Igreja, podemos afirmar que as Escrituras Sagradas são a autoridade suprema, e são elas que estabelecem a autoridade da Igreja e da Tradição.

A Tradição apostólica extrabíblica é também palavra de Deus, sendo apenas um modo de revelação diverso, e não contradiz a Bíblia.

Os livros deuterocanônicos são inspirados, e não houve período sem inspiração de Escrituras, no sentido de se ter suspenso o dom da inspiração para escrever a Palavra de Deus.

Em resumo, a infalibilidade da Igreja e do papa é resultante da doutrina bíblica.

A infalibilidade da Igreja Católica Apostólica Romana faz dela a única que pode com certeza fornecer interpretação indubitável das Escrituras.

A questão das traduções da Bíblia para outras línguas além do latim já é caso resolvido. Hoje as traduções católicas são feitas nos mais diversos idiomas. O sacerdócio universal dos crentes é doutrina católica. Está presente no Catecismo da Igreja Católica de modo claro. A salvação é pela fé, em primeiro lugar, e pelas obras, em conexão com a fé, e nunca pelas obras. A fé é o início da salvação, e as obras são necessárias, pois nascem da fé.

Os adventistas são acusados por outras denominações do mesmo que os protestantes em geral acusam a Igreja Católica nesse pormenor que toca a doutrina da fé e das obras na salvação.

O purgatório é bíblico, a intercessão dos santos falecidos é algo útil, e é uma prática bíblica, com fundamento bíblico. Também a veneração de Maria é bíblica, a eucaristia como o corpo e o sangue de Cristo, literalmente entendido, é bíblico, e não há repetição de sacrifício.

O celibato é bíblico e a confissão é bíblica. A ordenação de homens que optaram pelo celibato não é problema, já que é um direito da Igreja legislar nessas questões que estão de acordo com a Palavra de Deus. E o celibato é uma doutrina bíblica.

Quanto à confissão, uma vez que se entende que os líderes da Igreja possuem o poder de perdoar os pecados em nome de Cristo, é preciso conhecer os pecados para dar absolvição, o que exige a confissão dos pecados aos ministros.

Essas são apenas afirmações, para mostrar a posição católica, afirmações essas brevissimamente resumidas.

A Bíblia está acima de todos, acima da Igreja, como corpo dos fieis, acima da Tradição, pois é o único meio, o meio singular, que Deus inspirou para revelar Sua Palavra.

É a própria Escritura que estabelece a Igreja e a Tradição como instâncias a funcionarem para o ensino e preservação da Palavra de Deus. Portanto, Deus assiste a Igreja em questões de fé e moral, pois são questões que dizem respeito à salvação, e preserva a Tradição Apostólica, o que não foi escrito inspirado por Deus, mas foi primordialmente ensinado de forma oral, em meio a tantas tradições. Entre essas tradições é preciso discernir a tradição apostólica.


 

Comentário da Lição 2

 

O capítulo dois trata do Sola Scriptura, que ensina que a Bíblia é a única regra de fé e prática e que interpreta-se a si mesma. Dessa forma, o cristão pode interpretar corretamente a Bíblia seguindo métodos rígidos de interpretação, seguindo “regras lógicas e básicas de interpretação”, como escreve o autor. Então, o católico também pode interpretar a Bíblia segundo a sã exegese e hermenêutica, seguindo regras básicas de interpretação bíblica.

Ainda, afirma que ninguém pode transformar em doutrinas as próprias ideias. Por isso, deve-se lembrar, que as afirmações de Lutero não eram verdadeiras quando disse que a Igreja de Roma fez isso. Nada mais estranho para a fé católica que uma opinião pessoal, tornar doutrina uma ideia própria, que chegue a ser seguida por toda a Igreja. Nunca. A doutrina católica é de origem divina.

De fato, a Igreja Católica não é origem de doutrina, mas anunciadora do evangelho, defensora da verdade, preservadora da fé. A Igreja não cria doutrinas, mas as expõe fielmente. A fé vem de Deus, foi ensinada por Jesus Cristo, é preservada pelo auxílio do Espírito Santo. Assim, a Palavra de Deus, a Bíblia, e também o que é conteúdo inspirado da Tradição Apostólica, devem ser mantidos e cridos com fé divina.

É preciso notar que os textos apresentados para mostrar que os líderes e as tradições podem falhar, não são prova de que a Igreja pode falhar. De fato, a Igreja, vista como órgão que garante a pureza do evangelho, assim como o colégio dos doze apóstolos, é infalível. Não é esse o lugar de provar isso, mas até o fim do comentário da presente lição isso irá ficar mais claro.

Assim, os apóstolos pregavam com autoridade, e não há exemplo de cristãos insubmissos à pregação apostólica, nem conferindo se a mesma pregação dos apóstolos era verdadeira ou não. Tal coisa nunca ocorreu.

Por isso, São Paulo podia afirmar que mesmo um anjo do céu deveria ser anátema se ensinasse algo diverso do que ele havia ensinado (cf. Gl 1, 8). Portanto, o ensino apostólico é dogmático.

O mesmo pode-se afirmar dos textos que indicam a falibilidade dos líderes religiosos. É óbvio que nenhum líder é infalível, mas os apóstolos foram. Cada apóstolo foi infalível na pregação e na escrita da doutrina cristã. Eles foram infalíveis no ensino da fé e da moral cristãs. E escreveram o que pregaram por inspiração do Espírito Santo. Outros escritores seguiram a doutrina dos apóstolos e foram inspirados na escrita dos livros bíblicos do Novo Testamento.

Depois, a Igreja em sua universalidade é também infalível, de modo que nenhuma doutrina pode entrar no rol da fé cristã se não for verdadeira. A Igreja Católica não pode ensinar heresias. Um membro da Igreja pode se tornar herege, uma igreja local pode cair em erro, uma região inteira pode se afastar da fé, mas nunca a Igreja em peso, em geral, em sua totalidade, nem na sua fonte magisterial. Ou seja, não é possível que o  magistério em comunhão com o papa caia em heresia.

Por isso, a Bíblia é o padrão da verdade e pode provar que a Igreja não pode cair no erro. A Bíblia garante que a Tradição e o Magistério são infalíveis.

Afirmar que muitas das doutrinas, crenças e práticas católicas não possuem base bíblica ou se mantém por interpretações frágeis de textos bíblicos não é exato. Não há uma única doutrina católica que não tenham fundamentação sólida na Bíblia.

A Igreja Católica não crê no Sola Scriptura por sua impraticabilidade, conforme o ensino protestante. Ainda, há uma forma católica de entender a doutrina que expõe o princípio falho que a mesma tem por fundamento.

Para isso, vejamos o mesmo princípio usado no Protestantismo aplicado em outra passagem da Escritura. A passagem é Efésios 4, 11-15.

Nesse texto bíblico, é ensinado que os dons de Deus foram dados à Igreja para que uns sejam feitos apóstolos, alguns profetas, alguns evangelistas, alguns pastores e mestres, para equipar os santos, ou seja, os cristãos, que formam a Igreja em geral, pela obra do ministério de pregação do evangelho, para construir o corpo de Cristo, para que todos cheguem à unidade da fé e ao conhecimento de Cristo, o Filho de Deus, à estatura adulta em Cristo, à plena medida da estatura de Cristo, para que não sejamos como crianças, mas falando a verdade em amor, devem crescer em direção a Cristo, cabeça da Igreja. Assim, o ministério da Igreja serve para o crescimento em Cristo.

Portanto, Deus preparou as autoridades da Igreja para construir o corpo de Cristo, chegar à unidade, crescer na fé, até a perfeição em Cristo.

Pelo mesmo artifício de interpretação protestante geralmente feito em 2 Tm 3, 15-17, poder-se-ia concluir que Ef 4, 11-15 ensina que somente os líderes da Igreja foram postos por Deus para levar os cristãos à perfeição em Cristo.

Até mesmo a prevenção de heresias é feita pelos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Sem mencionar a Bíblia, tudo isso é realizado pelos líderes da Igreja, pelo seu trabalho evangelístico, pela sua obra, pelo seu ensino oral, pregando o evangelho. Os cristãos seriam aperfeiçoados somente pelo ministério da Igreja.

Obviamente o evangelho está na Bíblia, mas o texto afirma tudo isso em referência aos líderes, que são assim colocados por Deus, levando a Igreja à perfeição em Cristo.

Pelo mesmo princípio, poderia alguém afirmar que a Escritura não é necessária, mas somente a Igreja, conforme o texto acima estudado. Obviamente isso seria um erro, e, portanto, está refutada a interpretação feita semelhantemente em 2 Tm 3, 15-17.

A Bíblia é capaz de tornar o homem sábio para a salvação pela fé em Cristo, é útil para o ensino, para repreensão, para a correção, para a instrução na justiça, tudo isso para que o homem de Deus seja perfeito e plenamente preparado para toda boa obra.

A leitura protestante faz dessa passagem algo como que excludente da tradição e da Igreja, pois o que é tornado perfeito por algo não necessita de nada mais, e o texto afirma que a Escritura leva a essa perfeição.

No entanto, por analogia, o texto de Efésios 4, 11-15, lido dessa maneira, excluiria a própria Escritura, pois a Igreja poderia pregar o que a Escritura ensina sem que o homem tenha de ir à Escritura para tornar-se perfeito em Cristo. Esse trabalho em cada cristão seria feito unicamente pelo ministério eclesiástico. Portanto, essa exegese protestante é falha.

Mas há uma forma que é totalmente praticável, como acontece no Catolicismo, e que podemos chamar de algum modo de Sola Scriptura. É o Sola Scriptura entendido de modo cristão católico.

Conciliando os textos acima, temos que Bíblia é completa para levar à salvação e perfeição em Cristo, mas que esse ministério é feito pela Igreja, que constrói o corpo de Cristo, leva o homem à perfeição e afasta os erros e heresias, pela pregação da Palavra de Deus. Por isso, a Igreja deve ser infalível, e sabemos disso pela revelação bíblica, como está nos textos de 1 Tm 3, 15; 2 Tm 3, 15-17 e Ef 4, 11-15.

Os católicos não aceitam qualquer doutrina que não esteja na Bíblia, nem crê por meio de autoridades que surgem fora da comunhão da Igreja, e nem pregam sermões cujo centro não é a Palavra de Deus.

A autoridade infalível nesse anúncio da verdade é da Igreja Católica conforme a Tradição apostólica, em total conformidade com a Bíblia, o que é diferente de olhar para os membros da Igreja individualmente, ainda que seja o papa em pessoa. A infalibilidade do papa supõe a infalibilidade da Igreja.

No mais, os princípios bíblicos que norteiam a vida cristã são bem explicados na lição comentada.

A Bíblia Sagrada: Para a Igreja Católica a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, inspirada, inerrante, infalível, tida em altíssima conta, autoridade Suprema, digna de louvor, respeito e veneração, sendo o próprio objeto da Palavra de Deus, a Bíblia, reverenciado na Igreja, na liturgia, nas casas, nas mãos dos cristãos católicos, de modo que a Palavra de Deus está no coração dos católicos como autoridade inquestionável.

Entretanto, a Igreja tem o máximo cuidado de zelar pela verdade das Escrituras, impedindo, conforme suas responsabilidades, de acordo com o costume do tempo, o modo, as circunstâncias, a realidade vivida, impedindo a abertura de quaisquer brechas que possam dar surgimento a heresias e erros graves para a fé.

Assim é que durante muito tempo as traduções foram diminuídas, as línguas latina e grega foram quase as únicas usadas na liturgia, no Ocidente e Oriente respectivamente.

O trabalho dos copistas nos mosteiros, reconhecido pela história como preponderante para a conversação das Escrituras durante os séculos, o que sabemos fazer parte da Providência de Deus, na Igreja Católica, ainda é questionado e às vezes desprezado por meio de críticas, como essa de que a Igreja proibia a leitura da Bíblia e era contrária à sua divulgação, fazendo do trabalho dos monges possível apenas por serem feitos em locais de pouca expressividade e longe dos olhares das autoridades eclesiásticas, que não veriam com bons olhos a multiplicações de cópias das sagradas páginas.

Isso é um absurdo, visto que os mosteiros, com criação, desenvolvimento, regras, etc., funcionavam todos sob os olhares da autoridade central, dos bispos e papas, e não há exemplo nenhum de qualquer empecilho por meio das autoridades da Igreja, ou de não concordância, ou coisa parecida, diante do trabalho dos monges copistas, que amavam a Escritura, oravam e trabalhavam, com o princípio ora et labora, fazendo o bem, à imitação de Cristo, deixando legado enorme e fundamental na preservação da Sagrada Escritura.

É fato que entre os católicos a leitura da Bíblia foi por muito tempo ínfima. Somente católicos mais esclarecidos na fé tinham acesso à Escritura de forma mais livre, durante os períodos críticos.

Diante das interpretações daqueles que se afastavam da Igreja Católica, especialmente a partir da Reforma, o cuidado para manter a fé, e a atividade contra as más interpretações, fizeram com que a Igreja temesse ainda mais que heresias surgissem em seu meio, à maneira do que estava ocorrendo nas seitas. É uma preocupação sincera, correta, cheia de zelo, e muito prudente. Pode às vezes não ser expressa por meio de boas aplicações, de bons métodos para alcançar esse fim, mas o princípio está correto.

Gledson Meireles.

sábado, 12 de outubro de 2024

Livro: Nenhum caminho leva a Roma, capítulo 7. Refutação parte 1

 Refutação do capítulo 7: Sola Scriptura

 

            O princípio protestante Sola Scriptura ensina que a Bíblia é a autoridade final e infalível. A tradição e a Igreja não poderiam ser infalíveis também, mas somente a Bíblia.

            O que não fica claro é a forma com que a doutrina bíblica chegará aos fieis de modo certo e inequívoco.

Que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada, infalível, inerrante, está claro. Essa é a doutrina cristã católica. No entanto, é preciso saber se a doutrina ensinada por uma igreja é verdadeiramente bíblica ou se é uma deturpação interpretativa da Bíblia.

É por esse sentido que a Igreja Católica afirma dogmaticamente que a Bíblia, a Tradição e o Magistério são infalíveis e são de autoridade para o fiel cristão católico.

            A Bíblia é suficiente para instruir os crentes. Muito bem. Mas é preciso que se tenha certeza de que a interpretação da Bíblia apresentada aos fieis seja correta. Portanto, a tradição e a Igreja se tornam necessários.

            Na verdade, o que a doutrina católica, a esse respeito, ensina, é que a Bíblia é a única forma pela qual Deus falou diretamente à Igreja, sendo texto único inspirado, de modo que não há nada que se compare a ela.

Ensina também que Jesus e os apóstolos transmitiram algumas coisas que ficaram na tradição, não sendo escritas por inspiração, mas que são ensinamentos divinos, pois ensinados por Jesus e pelos apóstolos por ordem Sua.

            Assim, a tradição contem ensinos que são do mesmo período da Bíblia e possuem origem comum. Portanto, são Palavra de Deus.

            Para conhecer quais são esses ensinos, temos de verificar a tradição confirmada pelo magistério autêntico da Igreja. E, em última análise, crendo assim, o fiel está seguindo a Bíblia, pois é essa autoridade que ordena a ouvir a Igreja.

            A ideia de que as outras autoridades são falíveis e devem ser avaliadas pela Bíblia não funciona bem na prática. As reformas tentadas com esse princípio podem subverter a fé. Isso sempre ocorre quando se lê a Bíblia como única regra de fé.

            Por isso, mesmo o ensino protestante contem a regra de que não é dado a todo cristão a liberdade individual e isolada de interpretar a Bíblia. Se o princípio Sola Scriptura é uma defesa da Bíblia como autoridade final e infalível para os cristãos, os católicos podem concordar. Contudo, na prática o modelo católico é o único que funciona harmonicamente.

            Quando se diz que a tradição é o mesmo que foi escrito e nada do que ficou fora da Bíblia é de necessidade para a salvação, ultrapassa-se o ensino da Bíblia. Há coisas importantes que não foram escritas.

            É claro também o princípio de que a verdadeira tradição não entra em conflito com as Escrituras. Isso é provado, e o leitor pode conferir ao ler o presente livro.

            Quando se diz que os judeus bereanos conferiam nas Escrituras aquilo que os apóstolos pregavam, julgando os apóstolos, isso não é bem assim.

            De fato, os bereanos fizeram o certo. Eram judeus que esperavam o cumprimento das promessas bíblicas e a vinda do Messias. Eis que alguns homens chegam pregando que o Messias é Jesus, e ensinando o evangelho a eles.

            Como bons judeus, eles foram às Escrituras para certificarem-se de que as características do Messias se cumpriam de fato em Jesus, se as coisas eram assim, como os apóstolos pregavam.

Uma vez que viram isso se cumprindo em Cristo, tornaram-se cristãos. A partir desse momento, não julgavam os apóstolos, pois eles estavam sob a autoridade dos mesmos, e deviam aprender o evangelho por meio dos apóstolos.

            Assim, os protestantes creem na tradição, reconhecem sua importância, conhecem que essa foi regra de fé no período patrístico, mas crê que não o era de forma infalível.

            Quando a Igreja ensina uma doutrina, ou guarda algum costume, de origem apostólica, é certo que não pode errar, pois ela é coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3, 15).

            Está certo que Deus inspirou a Palavra da Escritura, que Jesus venceu as tentações usando a Palavra de Deus. Mas a Igreja é a coluna da verdade, e como coluna não pode cair, pois Deus a sustenta.

            No concílio de Jerusalém foi respondida a questão sobre a necessidade da circuncisão e prática da lei para os cristãos. Essa doutrina não estava nas Escrituras, mas foi revelada por Jesus e depois escrita e incluída nas Escrituras.

O Concílio de Jerusalém não recorreu somente às Escrituras para dirimir a questão, mas São Pedro contou o que Deu havia revelado a ele e assim levou a todos a aceitar que Deus não faz acepção de pessoas e que a lei não deveria ser imposta aos convertidos. Desse modo, vemos a autoridade da Igreja ao mesmo tempo em que aprendemos sob a autoridade máxima da Palavra de Deus guiando a Igreja.

            Assim, a afirmação simples de que no Concilio de Jerusalém ninguém recorreu à autoridade humana, mas somente às Escrituras, está equivocada. Não é um equívoco que leva a um erro grave, pois está claro que deve-se aceitar a autoridade divina das Escrituras e não a autoridade humana.

No entanto, a afirmação não levou em conta que nesse tempo, ano 49 d. C., o Novo Testamento não havia sido escrito e o Antigo Testamento não tinha a revelação para resolver o problema discutido no concílio.

Assim, a Igreja segue a Palavra de Deus. Não é a Igreja a regra em si. A Bíblia é a Palavra de Deus. As doutrinas da tradição são Palavra de Deus. Desse modo, a autoridade da Igreja está em conservar a Palavra de Deus.

Quando o protestante afirma: “Todavia, é importante ressaltar que isso não nega a autoridade da igreja, muito pelo contrário, isso apenas reflete que a autoridade da igreja só pode ser absoluta quando é pronunciada biblicamente (cf. Is 8.20), ou seja, apoiada na infalibilidade das Escrituras”, podemos afirmar o seguinte: essa afirmação reflete o que é a infalibilidade da Igreja.

De fato, Cristo assiste a Igreja, e então a mesma sempre ensina corretamente as doutrinas de fé e moral, de modo que sua autoridade é absoluta por ser pronunciada biblicamente e apoiada na infalibilidade das Escrituras.

Outro ponto que deve ser refletido é o fato de considerar cristãos como “inimigos” das Escrituras. Isso é algo tremendamente equivocado, para afirmar o mínimo. Crer na tradição e na Igreja não é ser contra as Escrituras, mas obedecer ao que as Escrituras ensinam.

Se os apóstolos não estão mais vivos para dirimir as questões hoje, a Igreja está viva, porque é a Igreja do Deus vivo. Assim, na dúvida, devemos questionar a Igreja, que conserva a interpretação correta de determinada passagem bíblica.

A infalibilidade da Igreja leva a entender a infalibilidade do papa, que é o servo de Deus que recebeu a incumbência de confirmar os irmãos na fé.

No entanto, os cristãos nunca seguiram o papa incondicionalmente no sentido de que também não pensam por si mesmos. Assim, é comum as críticas ao bispo de Roma em todas as épocas da história. Isso mostra que logicamente hoje existem críticas ao papa.

Portanto, criticar o Sumo Pontífice devidamente e com respeito não é negar a infalibilidade papal.

Ainda, todas as doutrinas católicas estão de acordo com as Escrituras. Mesmo aquelas mais explicitamente contidas na tradição.

Como sabemos nos dias atuais se uma tradição é apostólica ou é meramente humana, questiona o apologista protestante? Pois bem. Basta ouvir a Igreja, em seu magistério autêntico.

Mas o apologista afirma: “Só podemos determinar pelas Escrituras!”. Essa seria a lógica irrefutável.

Esse modelo não funciona na realidade. De fato, a verdade está na Bíblia. Mas, vejamos um pouco como isso funciona.

Digamos que o texto de João 3, 5 seja trazido para estudo. A interpretação católica afirma que se trata do batismo. A doutrina da Igreja Batista, concordante com a doutrina reformada em geral, geralmente discorda dessa interpretação. O texto permanece o mesmo, e a interpretação é divergente. Quem estaria com a razão?

Então, especialistas se põem a estudar, a examinar as Escrituras, a comparar textos bíblicos com outros textos bíblicos, de modo a esclarecer a questão.

Assim, os idiomas da Bíblia são estudados, uma interpretação literal é feita, uma boa exegese é posta em prática, com o devido estudo das questões sócio-culturais do primeiro século, na região onde foi escrito o texto sagrado, para que, através de tudo isso, a interpretação seja aceita, em conformidade com o parecer geral da denominação.

Tudo isso é feito, e os cristãos protestantes batistas concluem que o texto não é relativo ao batismo com água. Por sua vez, a Igreja Católica apresenta todo o estudo possível e de acordo com as mais exigentes regras de hermenêutica bíblica, e conclui que o texto de fato afirma a necessidade do batismo com água.

Alguém dirá que a autoridade está na Bíblia. E de fato está. No entanto, como dizer que o batista está correto e o católico está errado se ambos estão interpretando o texto bíblico e chegando a conclusões opostas? Não pode ser que ambos estejam igualmente corretos.

É por essas e outras questões que devemos ouvir o que vem desde o início, quando Jesus ensinou a ouvir a Igreja. Ouvindo-a, entendemos melhor a Bíblia. No final, é a Palavra de Deus na Bíblia que se torna clara e nos instrui.

Aliás, que o leitor estude a questão do batismo, no presente livro, e verificará a autoridade da Igreja Católica ao ensinar essa doutrina examinando a Bíblia.

Ainda, nenhum cristão discorda da ação da Providência de Deus no estabelecimento do cânon. A Escritura possui autoridade por si mesma, por ser Palavra de Deus. No entanto, para nosso conhecimento, Deus guiou a Igreja para que definisse o cânon dos livros sagrados.

Quando o protestante afirma que rejeita tudo o que não está de acordo com a Bíblia, que é a única regra infalível, de algum modo está crendo na sua interpretação própria, ou na interpretação da denominação à qual pertence, como no exemplo dado do batismo.

E, no mais, é verdade que o “está escrito” e o “assim diz o Senhor” só se encontram nas Escrituras.

Gledson Meireles.