sábado, 19 de março de 2022

REAÇÃO ADVENTISTA: comentando dois artigos do site

A partir do artigo Voltando para casa, façamos reflexões para realçar verdades que se encontram nas entrelinhas, atrás das afirmações e ao lado delas, e distinguir também os erros, imprecisões, falhas etc.

Deus criou um dia para si para ser lembrado como Criador e dar descanso ao homem. Mas, também, no Novo Testamento, Deus fez um dia para que nos alegremos e nos exultemos nele. Esse dia de descanso, de repouso no Senhor, de alegria e exultação, feito por Deus, e profetizado no Salmo 118, é o Domingo. Com isso, a Lei moral continua sendo cumprida, o descanso de um dia em sete, continua sendo observado, e a doutrina espiritual também é levada ao máximo, tendo o Deus Criador e Salvador celebrado nesse dia.

Depois, Deus criou Israel para defender suas verdades, proteger as doutrinas corretas, etc.. Por isso, Jesus fundou a Igreja Católica, fundamento da verdade (1 Tm 3, 15), a partir de Israel, para ser a bênção para todos os povos.

Assim, o dia de descanso foi mudado pelos apóstolos, ou por ordem direta de Cristo ou sob inspiração do Espírito Santo. O fato é que no primeiro século, em vida dos apóstolos, já é possível notar a observância dominical pela Igreja.

A Igreja Católica não se coloca no lugar do povo étnico de Deus, mas nasceu desse povo, fundada por Jesus, e está enxertada na mesma Oliveira, em que já estavam os judeus que permaneceram fieis às profecias e aceitaram a Cristo, e que espera a plenitude dos gentios e a plenitude dos judeus a serem enxertados na mesma Oliveira.

A Igreja Católica recebeu as Escrituras, sendo os apóstolos e escritores bíblicos do Novo Testamento, filhos da Igreja, apenas autores humanos da Bíblia, que tem Deus como Autor. A Igreja Católica é a Igreja que recebeu a incumbência de ensinar, pregar o evangelho e sustentar a verdade (1 Tm 3, 15). Portanto, é intérprete da Bíblia nas questões necessárias de serem pregadas claramente a toda a Igreja diante de controvérsias.

A tradição apostólica é Palavra de Deus, recebida na Igreja, não criada pela Igreja, vindo do primeiro século, com conteúdo totalmente apostólico, e por isso está em igualdade de autoridade com a Bíblia. A Igreja Católica nunca mudou nada na Escritura, mas foi sua poderosa defensora.

Por isso, o poder profetizado em Daniel 7, 25 irá ser contrário à Igreja Católica, que é um poder espiritual cristão predominante no mundo, e a Igreja atrairá sobre si as investidas do Chifre Pequeno. De fato, a Igreja Católica sempre está defendendo o evangelho diante e contra as influências do mundo.

Por ser uma Igreja enorme, influente, que deteve o poder temporal por muitos séculos, e se pôs em conflitos com várias instituições, é interpretada por muitos como sendo aqueles que oprimiram pessoas por causa da fé. Certamente pensam na inquisição e cruzadas por exemplo.

No entanto, deve-se considerar o número incontável de cristãos católicos fieis em todas as épocas que sofreram perseguições até o martírio, o que enfraquece essas interpretações.

Outra questão é que a Igreja Católica sempre esteve do lado da verdade. Em todas as interpretações conflitantes da antiguidade, a Igreja Católica defendeu a genuína interpretação, mantendo-a intacta. Até o cânon bíblico é o mesmo, sem alterações.

A Igreja Católica nunca poderia oprimir o povo de Deus, pois ela é o próprio Povo de Deus. É a Igreja que dá a vida para manter santo o Santuário de Deus, na terra e o céu, é a Igreja da nova e eterna aliança, que tem por fundador o Príncipe dos príncipes, Jesus. Qualquer um pode certificar-se dessas verdades, de como o Nome de Jesus é pregado pela Igreja, contemporaneamente e em toda a história.

O poder do mal seria como um rei forte. Isso seria a Igreja Católica? De fato não poderia, pelo mostrado acima. Mas, a Igreja é poderosa pela Palavra de Deus, e lutar  contra o rei forte de Daniel 11. Mas o fim será quando a força da Igreja Católica for rompida e não aumentada: “Pelo eterno vivo, será num tempo, tempos e na metade de um tempo, no momento em que a força do povo santo for inteiramente rompida, que todas estas coisas se cumprirão.” Não se podem confundir nem a força nem as perseguições à Igreja com o poder e as quedas do Império do Anticristo.

O rei forte ou filho da iniquidade, conforme 2 Ts 2,3 tentará a destruição da Igreja Católica, a tomar o lugar do papa, a sentar-se no Templo de Deus como se fosse Deus. Portanto, a Igreja Católica será de fato perseguida pelo poder do Anticristo. O que é comum no culto e costume católico muitas vezes será usado pelo inimigo para enganar.

Somos judeus espirituais, ensina a Igreja Católica. Em nenhum momento a Igreja nega as raízes judaicas e não introduz nenhum sentimento nessa direção. Muito pelo contrário.

O sábado e o domingo, como dias santos, influenciados pela Igreja Católica, são colocados em destaque no calendário. De fato, tradicionalmente o sábado é dedicado à virgem Maria, que ficou em vigília à espera do Domingo da ressurreição. O sábado à tarde já é vivido como domingo pelos católicos, e oficialmente a missa do sábado à tarde e à noite já é dominical.

A infalibilidade da Igreja Católica decorre das promessas de Cristo. O poder do mal tentará imitar a infalibilidade cristã.

Contestar o seguimento da doutrina cristã em moldes judaicos é algo tradicional, quando se introduz algo que não tem desenvolvimento normal, proveniente de princípios da Escritura.

Em Ap 12, a mulher, a virgem Maria, modelo da Igreja, e os seus filhos, os cristãos, a Igreja perseguida, é mostrada separadamente. A Igreja é mãe. Não se pode confundir a Roma pagã com a Igreja de Cristo.

Não se pode confundir o antijudaísmo do Império Romano com as posições anti-judaizantes típicas do Evangelho que a Igreja Católica ensina.

A Bíblia, como a Igreja Católica ensina, foi escrita por judeus, e para judeus e gentios, para o mundo. Somos judeus, ou naturais ou espirituais. Nada mais normal para o cristão católico. Jesus, o Senhor, era judeu, a virgem Maria e os apóstolos e todos os primeiros cristãos, padres, bispos, papas eram judeus. Assim, até a arquitetura das igrejas e sinagogas é bastante semelhante, como muitas das tradições cristãs e judaicas possuem inegável herança comum.

Quando se diz que o sábado continuava em vigor, é uma afirmação forte, que ultrapassa um pouco os limites do correto. Os apóstolos vão às sinagogas sempre com o intuito de pregar ali o evangelho aos judeus, os primeiros que deviam receber a boa nova. Nenhum texto mostra um mandamento, uma atitude cristã com relação ao sábado, mas apenas uma continuidade natural da vida judaica e o uso das oportunidades para a pregação da salvação em Cristo. Assim é que São Paulo ensinou por três meses na sinagoga, mas ficou por dois anos ensinando na escola de um certo Tirano (Atos 19, 8-9).

Essa era a praxe apostólica de São Paulo. Assim, quando os judeus não o ouviam, partia para os gentios, pregando não mais nas sinagogas, mas nas casas desses, como fez em Atos 18, 7-8. Ver o vero 6, que mostra o motivo de não mais pregar na sinagoga. O sábado permanecia guardado, quando possível, pelos judeus cristãos, mas não era mais obrigatório aos gentios cristãos. De fato, os exemplos mostrados sempre incluem o sábado em um contexto de anúncio do evangelho aos judeus.

Como explicado acima, há somente uma Oliveira verdadeira, na qual os gentios começaram a ser enxertados, juntamente com os judeus, primeiros membros da Oliveira, a começar por Jesus Cristo, o Salvador, formando assim a Igreja Católica. Os elementos judaicos na doutrina católica permanecem, não sendo necessária uma atualização nesse sentido, e mostrando que tais tentativas sempre ficam no âmbito artificial.

Por isso, no sentido simbólico, todos os caminhos não levam a Roma, mas sim a Jerusalém.”, diz o artigo. Correto, mas a fé de Jerusalém está ancorada hoje em Roma. Por isso, se se vai a Roma, simbolicamente, se encontra Jerusalém. Obviamente, por isso, a Igreja é a nova Jerusalém, e não a nova Roma, já que Roma é historicamente o lugar da vitória de Cristo sobre o paganismo. Entretanto, Jerusalém permanece como patrimônio cristão católico.

Assim, em que sentido se deve retornar às origens judaicas, quando a Igreja Católica permanece essencialmente judaica?

O artigo traz a abolição do sábado, santificação do domingo, imortalidade da alma, inferno eterno, purgatório, oração/veneração a pessoas mortas, infalibilidade papal (a face do poder romanista), etc., como exemplos de doutrinas não judaicas. De fato, são todas doutrinas cristãs, e por isso profundamente judaicas.

Agora, diante dessas observações, continuemos com as maiores explicitações dadas pelo autor, diante das críticas que recebeu, por conta do texto acima, de membros da IASD.

A abordagem é feita a partir do artigo Resgatar laços com judeus e a fé judaica: fogo estranho?

Defendendo-se da acusação de estar flertando com o dispensacionalismo, são mostrados pontos cruciais do sistema dispensacionalista, que podem ser todos refutados pela doutrina católica. Os erros que provem de quaisquer sistemas não concordam com as doutrinas católicas. Somente onde há verdade, encontra-se apoio na doutrina da Igreja.

O que o texto chama de antissemitismo histórico atinge o anti-judaísmo bíblico, que a Igreja Católica sempre defendeu, sem cair em anti-semitismo. De fato, o anti-judaísmo, como está no Novo Testamente, é apenas deixar de lados coisas acidentais, ficando com  o essencial, aquilo que era espiritualmente simbolizado nas cerimônias judaicas, que são patrimônio da fé católica, pela conversação, na fé, do Antigo Testamento.

Mas, a doutrina do domingo, da imortalidade da alma, do inferno, do purgatório, da veneração dos santos, do papa, etc., não são romanas, mas bíblicas. Basta um escrutínio bíblico para reconhecer isso.

Pode-se pensar de duas maneiras quanto à semelhança doutrinal que as Igrejas protestantes mantem com a Igreja Católica. Do ponto de vista do ramo tradicional da Reforma, essas semelhanças se dão em doutrinas centrais, com sinais evidentemente bíblicos, sendo puras exposições da fé bíblica, e por isso mantidas na Reforma.

Por outro lado, do ponto de vista mais radical, como o adventismo, essas semelhanças são elementos que ainda devem ser tirados, após uma purificação doutrinal, por serem doutrinas extrabíblicas que se cristalizaram no decorrer dos séculos permanecendo no seio da Reforma, mas que devem ser tiradas.

O primeiro ponto de vista é mais correto, visto que a verdade é imutável e portanto tradicional, e o que é incontestavelmente defendido em um período não pode ser negado em outro, pois isso já é indício de heresia. Deve-se começar por aí.

O pensamento do autor sobre aquilo que deveria ser judaico é interessante: “E se o evangelho não tivesse se romanizado, hoje a maioria dos cristãos guardaria o sábado, não comeria alimentos impuros e chamaria as igrejas de sinagogas.

Assim, o sábado é visto como elemento judaico que não deveria ter sido deixado de lado pela Igreja Católica. Ademais, os alimentos impuros não deveriam ser consumidos pelos cristãos, e até os termos judaicos deveriam ser mantidos. De fato, esse último é um tanto problemático, já que sendo a Igreja universal, certas coisas adicionais, que não ferem a essência da fé, e não introduzem nenhuma novidade doutrina, são normalmente aceitas e naturalmente entram no Cristianismo.

O cristianismo seria um judaísmo crente em Yeshua, com judeus étnicos e gentios que aceitaram a fé judaica”. Esse conceito não é muito exato. De fato, a profecia bíblica para os tempos messiânicos já indica mudança. O judaísmo não continuaria da forma que era, apenas crendo em Jesus, mas mudaria muito, como de fato aconteceu.

A crença em Jesus foi de fato uma continuidade da fé judaica, mas os sacrifícios cessaram, a circuncisão deixou de ser obritatória, os sacramentos entraram no rol do judaísmo cristão, por assim dizer, e etc., como de fato estão na Igreja. Olhar para a Igreja Católica é de fato ver como é a religião cristã. O católico é judeu, como foi Jesus, Pedro, Paulo, etc.

Se São João Crisóstomo tratou a sinagoga usando termos baixos, estava apenas seguindo costume da época, e bíblico, que usa a expressão sinagoga de Satanás no livro do Apocalipse.

Deve-se ver o contexto, para entender o motivo dos padres da Igreja terem feito oposição à guarda do sábado como heresia.

Se existe uma doutrina que rejeita Israel, e que tornou-se tradicional no Protestantismo, e que parece ter sido formada a partir de um antijudaísmo de Roma, isso não é tão exato, deve ser melhor estudado e esclarecido, já que na doutrina católica, fiel ao ensino bíblico, o povo de Israel continua no plano de Deus, em sua consideração natural, tendo a promessa de receberem a graça da conversão e serem re-enxertados na natural Oliveira da qual foram cortados. Assim, os gentios são povo de Deus com os judeus, os primeiros, e todos serão unidos em Cristo.

As promessas para Israel permanecem de pé, não como o dispensacionalismo que vê outro plano de tratamento para o povo judeu, nem como a doutrina da substituição ensina, o que parece ser uma rejeição do Israel étnico.

Que Igreja substituiu Israel? Essa pergunta de Doukhan, teólogo adventista, é problemática para a Igreja Adventista. Mas, há algo que é preciso observar nas possíveis respostas elencadas pelo teólogo. Primeiro, a Igreja primitiva, no tempo apostólico, não era separada do judaísmo em termos de separação radical e conhecida por todos, uma separação externa e distinta, mas já compunham um grupo à parte, com reuniões à parte, com doutrina diferente, com observâncias diversas, desde o dia da crucificação.

Outra observação é que não há realmente uma substituição, no sentido de que Deus não tem mais nenhum plano para os judeus, o que seria igual às outras nações. Não é isso. Israel ainda deve receber o evangelho, o que será um sinal para a vinda de Cristo. Esse é o plano de Deus para a nação eleita.

A Igreja Católica não ensina, ao que parece, o que é ensinado na teologia reformada, sobre a substituição. Isso nem mesmo aparece assim nos estudos.

De fato, o documento oficial da Igreja Católica, Nostra Aetate, sobre outras religiões, fala da Igreja e do Judaísmo, e afirma que o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão. Afirma ainda, que os judeus continuam a ser amados por Deus, porque os dons de Deus são irrevogáveis.

Ainda, os judeus são os nossos amados irmãos na fé, e relembra as palavras do papa Pio XI: “Espiritualmente, nós somos semitas.” A Igreja Católica tem a visão bíblica sobre o povo judeu, uma visão justa, equilibrada e verdadeira.

A forma de como ir mais fundo e ser mais judeu, fazendo um mergulho nas raízes judaicas, não pode ser feito de qualquer maneira, não pode ser feito adotando práticas judaicas e não cristãs e impondo-as como parte da doutrina da Igreja, não pode ser reconstruído templos e sinagogas como lugares cristãos, quando a história não ensina isso, e o costume foge a esses aspectos, por exemplo.

E não se pode afirmar que isso é voltar às origens. Também não o é tentar observar costumes alimentares, cerimoniais e etc, como se isso fosse uma fidelidade ao evangelho. Essas questões devem ser bastante claras, ponderadas, pautadas na Bíblia Sagrada, conforme os desdobramentos justos mostrados na história e testemunhados na tradição.

Gledson Meireles.

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