quinta-feira, 24 de março de 2022

A IASD e o texto de 2 Coríntios 5, 8

Uma expressão muito problemática, difícil de ser explicada por alguém que crê no mortalismo, é o texto de 2 Coríntios 5, 8. Para quem não se detém em reflexão, tal coisa passa despercebida, ou as explicações dadas são suficientes. Mas há de fato problema.

São Paulo afirma que estar ausente do corpo e presente com o Senhor. O adventismo observa essas afirmações como não sendo imediatas uma da outra. Ou seja, estar ausente do corpo não levaria a estar presente com o Senhor. Isso poderia levar um tempo.

E o que dizer do intervalo entre a morte e a ressurreição? A doutrina católica sempre ensinou que a alma fica em estado consciente, os mortos descansavam à espera do Senhor, na graça, no tempo da Antiga Aliança, onde o céu, na presença imediata de Deus, ainda não havia sido aberto por Cristo.

No Novo Testamento, a presença dos salvos se dá após a morte ou após a purificação, que não se sabe quanto temo dura. O fato é que a alma permanece após a morte, à espera da ressurreição, e pode ir à presença do tribunal de Cristo e à alegria do céu antes de voltar à vida corporal.

Os adventistas creem que os mortos podem estar presentes com o Senhor apenas na ressurreição, quando a mortalidade será desfeita pela vida (cf. 1 Cor 15, 23).

Mas, a mesma expressão considerada pelo mortalismo como indicando o período de morte, é essa mesma afirmação que denota a imortalidade da alma. O homem não deseja morrer, mas ser encontrado vivo na vinda de Cristo (2 Cor 5, 3-4). Se São Paulo estivesse pensando na ressurreição e não na imortalidade da alma, também, a respeito do período entre a morte e ressureição, não poderia referir-se à vinda de Cristo podendo encontrar uns despidos e outros vestidos.

Os despidos são os mortos, que ressuscitarão na parusia, e os vestidos são os que ainda estiverem vivos e terão o “revestimento” com o corpo glorificado. Essa é a esperança natural de todos. Portanto, o período pós-morte e antes da ressurreição é possível estar com Cristo pela permanência consciente da alma.

A exegese adventista fez um trabalho interessante ao frisar a importância da ressurreição, que de fato está no contexto, a considerar o contexto para explicar a afirmação bíblica, mas possui certas falhas que não podem ser corrigidas por estar compromissada com o dogma da mortalidade da alma, que não pode ser mudado no adventismo, porque isso implicaria em afirmar um erro doutrinal sério de Ellen White. E 2 Cor 5, 8 requer que isso seja revisto.

Não se trata de um adventista apenas afirmar que o entendimento bíblico da IASD sobre o tema é profundo e bem estabelecido, pois com novas luzes e maiores estudos isso poderia ser mudado, caso provado alguma falha de interpretação, de acordo com o Sola Scriptura. Mas, uma vez que a interpretação adventista chegou ao fim com a confirmação de uma visão sobre a mesma pela profetisa Ellen White, afirma-se que a interpretação é decisiva. Portanto, provando-a errônea, é necessário fazer ajustes em outras áreas também.

Considerando, para o artigo acima, o livro Questions of Doctrine, Question 41.

Gledson Meireles.

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