Livro:
Conselhos de Ellen White sobre Sola Scriptura: o que a mensageira adventista realmente disse sobre o tema. Autor: Davi
Caldas, 2021: Estudo do Capítulo 12:
O Sola Scriptura é bíblico?
A Igreja Católica
ensina que o critério, o padrão, para se conhecer a doutrina verdadeira, aquilo
que devemos crer e praticar, é composto por três elementos: a Bíblia, a tradição
e o magistério. O Protestantismo aceita somente a Bíblia.
Ou o princípio Sola Scriptura está correto ou os irmãos
católicos estão certos quando afirmam estar em pé de igualdade a Escritura, a
Tradição e o Magistério. E agora?
Como a Bíblia é o único
texto inspirado, a Igreja Católica ensina que ela tem uma posição singular na
fé. Isso é afirmado, embora tenhamos a Tradição Apostólica e o Magistério da
Igreja como estando em igualdade de autoridade para a fé e a moral. E o
Protestantismo entende que a Bíblia possui uma posição única, de modo que nada
mais pode ser de autoridade para definir o que é de fé e prática.
A questão é difícil, e
mais difícil ainda é fazer-se entender. Tantos debates demonstram essa
dificuldade. Há muito escrito sobre isso, e pouca compreensão. Muitos concluem
coisas precipitadamente a respeito desse debate, e isso, na maioria das vezes,
parece atrapalhar, já que o resultado é cada um terminar o debate ou a leitura
do assunto e estar com a mesma ideia inicial, e com ideias pouco ou nada
precisas da doutrina que está combatendo. A conclusão precipitada é uma
lástima.
Pois bem. Vamos aos
pontos específicos da questão. Quando se diz que a Bíblia é o texto padrão
fundamental, única instância infalível, pelo qual toda a doutrina deve ser
julgada, isso já pressupõe que alguém irá ler a Bíblia e com seu entendimento
irá olhar para as doutrinas e concluir se estão de acordo com o texto bíblico lido
ou não. E, portanto, aí começa um problema, ao invés desse princípio tê-lo
resolvido.
De fato, todos tempos
acesso à Bíblia, e, como cristãos católicos, cremos firmemente que ela é a
Palavra de Deus. Assim, ao lermos a Bíblia, estamos diante da Palavra de Deus para
nós, e cremos tudo o que ela ensina.
Continua o
Protestantismo adventista afirmando que Bíblia é suficiente para conhecermos
toda a revelação básica de Deus, não sendo necessário mais nada para
acrescentar para que possamos chegar à salvação. Nessa questão não há muito o
que objetar, desde que se faça correta interpretação dessa afirmação.
Entretanto, temos a
verdade que a Bíblia possui, pelo menos de forma implícita, toda a revelação
necessária para que conheçamos e sejamos salvos.
Então, como afirma o
adventismo, não há necessidade de complemento doutrinário, ou seja, outra fonte
de doutrina. Essa é uma afirmação muita usada no Protestantismo, não é de
origem católica, mas é surpreendente que mesmo essa afirmação possui um bom
sentido e pode ser admitida pelos católicos, como visto. A Bíblia não necessita
de nenhum complemento.
Caso haja divergência
entre fontes não doutrinárias e a Bíblia, a Bíblia possui primazia. Isso também
está correto.
E, por fim, quando se
diz que a Bíblia possui ferramentas para a interpretação de seu próprio texto,
é preciso admitir que o leitor, seja ele católico, protestante ou ortodoxo,
fará uso dessas ferramentas para interpretar a Bíblia e potencialmente pode
falhar. Não há como garantir que a interpretação de alguém esteja correta.
Ainda que haja
hermenêutica e exegese, é tamanha a realidade que não se pode negar, tão clara
como o sol do meio dia em céu sem nuvens, de que os leitores, os mais bem
intencionados, caem em muitas e muitas heresias.
É só lembrar que muitos
no próprio movimento adventista chegaram à conclusão de que Cristo não era
Deus, negando a trindade, que é um dogma já definido, onde a Igreja, os
primeiros cristãos, que combateram os erros com perigo de vida, proclamou nos
antigos concílios, respeitados em toda a Cristandade, a verdade da Santíssima
Trindade.
Assim, alguns protestantes,
pela nova onda no século dezenove de ir à Escritura e fazer livre exame para
chegar a novas luzes doutrinais, foram levando para longe da verdade em pontos
que já estavam totalmente resolvidos. Estavam tentando reinventar a roda.
Assim, no caso adventista, felizmente puderam voltar nesse ponto, novamente, à antiga
fé, por outros meios, que serão mais adiante mencionados. Mas em outros, por
não seguirem a luz da verdade já brilhante na Igreja Católica há séculos, foram
criando outras doutrinas por meio de suas interpretações particulares, como
nova denominação.
Então, o conceito Sola Scriptura é um dos que fazem a
diferença entre católicos e protestantes, mas quando bem entendido, no seu bom
sentido, ele é conforme a doutrina católica, e impossível de conciliar com a
protestante. E, nesse caso, já que se está aqui estudando a doutrina em obra
adventista, é impossível harmonizar o princípio com o adventismo.
Quando se diz que: “Para os católicos, a Bíblia não é o único
padrão para julgar fé e prática, nem a suficiente revelação de Deus para as
questões básicas da fé.”, está afirmando que a Igreja Católica possui
fontes extra-bíblicas, extra-canônicas, que são consideradas como autoridades
infalíveis para as questões de fé.
Assim, explicando de
uma forma católica, as obras dos santos Padres, os sínodos, os concílios gerais
ou ecumênicos, as encíclicas, as bulas papais, as obras dos teólogos, as
revelações particulares, os ritos e cerimônias da liturgia, as festas
religiosas e etc., contem a tradição apostólica, que por sua vez traz elementos
de fé e prática não exarados explicitamente na Bíblia.
Isso é verdade, é como
a Igreja Católica entende a questão. Portanto, não é tudo o que está escrito
fora da Bíblia e que está na tradição da Igreja que é considerado tradição
apostólica. A Tradição Apostólica está no meio de um inumerável número de
tradições da Igreja que é transmitida durante os séculos. Essas tradições contem a tradição apostólica
que vem do primeiro século juntamente com a Bíblia.
Dessa forma, a Bíblia
não poderia ser o “único padrão” para julgar questões de fé e prática, pois nos
pontos onde há controvérsia haveria apenas o leitor diante do texto da Bíblia
para extrair dali o sentido e compará-lo com outros e concluir segundo o ele
mesmo como intérprete. É sempre um perigo. E, em termos gerais, nenhuma
instituição funciona assim.
Assim, quando se diz
que: “Ela requer a complementação da
tradição da ICAR e de seu magistério, em especial o Papa.”
Dessa forma, há que se
entender o que é a doutrina da tradição apostólica. E, obviamente, toda
doutrina da tradição deve estar conforme a Bíblia. Para certificar-se disso,
deve-se estudar, extrair a doutrina revelada de suas fontes, esclarecer,
proclamar oficialmente essas doutrinas cristãs que devem ser cridas por todos
os cristãos. E quem faz isso não é apenas uma pessoa, nem qualquer grupo, mas
aqueles que compõem o que se chama Magistério Eclesiástico, que é composto pelo
papa e pelos bispos, e que estão na linha de sucessão apostólica, seguindo
também o senso da fé geral da Igreja, não podendo contradizer nenhuma doutrina
bíblica e da tradição já proclamadas.
Basta uma olhada para
perceber como o princípio católico é robusto. Nenhum membro da Igreja, nem o
papa, pode mudar um dado revelado. Assim, se o texto bíblico devesse ser o
único padrão para ser lido e julgar tudo o mais em questão de doutrina, a
harmonia acima não poderia mais ser garantida. O Espírito Santo deveria falar
com um só, ou com um grupo que deveria ser conhecido como esse canal, e tal
critério seria bastante duvidoso.
Mas, se a autoridade da
Bíblia, como Palavra inspirada, inerrante e infalível de Deus, é única, por ser
o único texto inspirado por Deus na terra, qual o papel da Bíblia na Igreja
Católica e sua relação com a tradição e o magistério em termos mais precisos?
Isso será respondido seguindo o raciocínio protestante na sua defesa do Sola Scriptura contra a tradição e o
magistério. Que o leitor tenha a paciência de seguir o raciocínio na
apresentação que segue.
São apresentadas cinco
evidências para o Sola Scriptura. A
primeira é que Jesus não teria falado das antigas tradições rabínicas nem
defendido os escribas e fariseus, o magistério da época.
Mas é preciso responder
a isso afirmando que: o magistério antigo não recebeu a mesma promessa do
magistério cristão, pois Jesus afirmou que a Igreja nunca será vencida pelos
poderes do inferno. É algo novo.
E, além disso, no que
se trata de pontos fundamentais, Jesus afirmou que o magistério judaico devia
ser ouvido, que suas doutrinas deveriam ser praticadas, e somente as ações
hipócritas dos líderes não deveriam ser imitadas. Isso já refuta a objeção que
se formou acima.
Com isso, temos que o
fato da falibilidade humana dos líderes, e das tradições, não prova o Sola Scriptura, já que quando Cristo
afirmou que todos deviam obedecer e fazer
tudo o que eles dizem (cf. Mt 23,
1-4), referindo-se ao ensino do magistério judaico, isso mostra que eles
conheciam e pregavam a doutrina bíblica correta, o que pressupõe correção nos
pontos fundamentais e salvíficos, mas que agiam mal em suas vidas. Levando isso
para o Novo Testamento, temos maior razão para crer na correção da doutrina da
Igreja Católica ensinada pelo seu magistério, instituído por Jesus Cristo.
E aqui, entra novamente
a Bíblia: “Por isso, ela tem autoridade
superior.” De fato, diante da vida dos homens, das autoridades da Igreja,
dos documentos doutrinais, de tudo o que é ensinado e conservado, a Bíblia
possui autoridade suprema.
Desse modo, essa frase
protestante é totalmente católica, e estamos aqui em um terreno onde o
princípio está sendo estudado, compreendido e desenvolvido segundo a fé
católica, com razões bastante claras. E, ao longo da discussão as objeções em
defesa do Sola Scriptura estão sendo
refutadas. Até o momento não há nada que possa ser afirmado como dificuldade
para a doutrina católica.
É importante entender que
o magistério possui autoridade de acordo com a Palavra de Deus, não para
produzir doutrinas, mas para ensiná-las e defendê-las. Mas o princípio Sola Scriptura leva a afirmar: “Em suma, as tradições nem sempre são boas.”.
E de fato é assim. Por
isso, a Igreja somente proclama dogmas em concílios por entender que esses
dogmas não são parte de qualquer tradição, mas da tradição apostólica, que é
Palavra de Deus e está em conformidade com a Bíblia. Não são todas as tradições
da Igreja que são apostólicas.
O fato do Sumo
Sacerdote não ter sido dito “infalível” e ter errado em condenar Jesus não é
algo que pode ser usado contra a doutrina da infalibilidade papal, pelo já
exposto antes, é já expressa certas incompreensões. Os judeus ensinavam
corretamente a doutrina (Mt 23), mas foram repreendidos por sua conduta. As
tradições que são condenadas e os seus motivos são expressos por Jesus de forma
clara. Mas, de modo geral, estavam ensinando corretamente.
Ainda, é preciso
entender que um erro jurídico não é o mesmo que um erro doutrinal em matéria de
fé e prática. Nem mesmo o papa possui infalibilidade jurídica, política,
científica, acadêmica, etc., mas somente naquilo que se refere à fé e à moral
em momentos específicos, onde há clara intenção de conhecer, ensinar e
proclamar a verdade salvífica a toda a Igreja com a autoridade recebida de
Jesus Cristo, o que é entendido por falar ex
cathedra. Isso é muito mais do que alguém fazer um estudo privado da Bíblia
e ensinar sua interpretação de uma passagem. O papa tem consigo a companhia dos
bispos, o estudo dos teólogos, o senso de fé dos fieis em todo o mundo, a
tradição apostólica proclamada nos concílios. E, ainda, tem as revelações
particulares dos santos e videntes cristãos católicos que atestam a verdade de
muitas doutrinas, sem que essas revelações sejam fonte doutrinária.
Depois de compreender
isso, é bom lembrar e entender por isso o motivo de Jesus respeitar a
autoridade do Sumo Sacerdote, como está em Jo 18, 22, pois Suas palavras não
tiveram a intenção de negar aquela autoridade, assim também em Atos 23, 5, onde
São Paulo reconhece a autoridade do Sumo Sacerdote.
Dessa forma, o
magistério judaico errou, e mesmo o magistério da Igreja Católica pode errar em
questões que não estão ligadas
diretamente à fé e à moral. Em aplicações da moral, em muitas expressões
ordinárias do magistério, pode haver erro.
Assim, há vários
exemplos em que atitudes magisteriais foram mal-sucedidas, como no caso
específico da condenação de Santa Joana D´arc, e no caso de Galileu e etc., o
que não afeta em nada a questão da infalibilidade do papa e do magistério, que
versa sobre outras questões. Por isso, o próprio magistério reconheceu a
santidade de Joana D´arc e a canonizou, quando soube do erro do processo de
inquisição local que julgou aquela santa. Assim, não se pode por razões
apresentadas dos erros dos sumos sacerdotes afirmar que o magistério não pode
ser infalível em matéria de doutrina.
E a pergunta: “E se não o era em Israel, povo étnico de
Deus, por que o seria entre os cristãos?” é um questionamento bastante
compreensível, mas contem erro.
De fato, nessa pergunta
há contraste e distinção entre Israel, povo étnico, e os cristãos, e deixa
transparecer que se no Antigo Israel não houve o carisma da infalibilidade no
seu magistério, também não haveria de existir entre os cristãos que “nem”
são o povo étnico de Deus.
Essa ideia que é
possível ser sentida no texto, e certamente não foi intenção do autor
ensiná-la, é um equívoco. Primeiro, porque a Nova Aliança é eterna é superior. A
antiga aliança foi provisória, imperfeita, não possuía a promessa da
infalibilidade do magistério. Segundo, porque a Nova Aliança foi iniciada pelos
judeus que reconheceram Jesus como Cristo, o Messias prometido, e
converteram-se à fé cristã, sendo aqueles aos quais a Palavra de Deus foi
pregada em primeiro lugar. E, portanto, os primeiros cristãos foram judeus
étnicos e da promessa, e formaram o magistério católico, que é sucedido até os
dias atuais pela sucessão apostólica. Terceiro, a parte endurecida étnica, que
é da promessa, será outra vez enxertada na Oliveira verdadeira, onde já estão
todos unidos na Igreja judeus e gentios, usufruindo da promessa que foi dada a
Israel.
De fato, a Igreja é o
novo Israel, aguardando apenas, por assim dizer, a plenitude dos judeus e dos
gentios. Por tudo isso, corrigido o equívoco, como se o que não existiu no antigo
povo étnico não poderia existir no novo Israel espiritual, que também contém o
étnico, passemos a entender mais o que é infalibilidade, e fazendo as devidas
distinções entre antiga e nova aliança, se pode conhecer mais a verdade. Eis as
razões bíblicas para entender que o magistério cristão católico é de fato superior
ao antigo: mudança de lei, mudança de aliança, mudança de sacerdócio, mudança
de magistério, maior graça.
E, assim, tudo o que a
primeira evidência mostrou foi que a Bíblia é suprema, e com isso a Igreja
Católica concorda plenamente. Não provou nada contra a tradição apostólica nem
contra o magistério eclesiástico que estão sempre em conformidade com a Bíblia. Até os exemplos dados sugeriram e deram
ocasião para apresentar a verdade de que o magistério católico, por estar no
Novo Testamento, deve ser mais robusto. Pelo que foi dito acima, foi possível
entender que as razões católicas são sólidas.
Quando na segunda
evidência é citada a providência de Deus na conservação dos escritos entre
tantos que existiram no Antigo Testamento no Povo de Israel, que iriam compor a
Bíblia, devemos tem em mente que o Povo escolhido foi o meio de conservar esses
escritos. Isso também aconteceu no Novo Testamente, onde a Igreja Católica teve
essa incumbência da onisciente providência divina, e conservou os escritos
inspirados do Antigo Testamento e do Novo Testamento desde os dias dos
apóstolos, passando pela Idade Antiga, a Idade Média.
Embora tenham havido
motivos para fechar a lista dos livros inspirados, isso não ocorreu no Antigo
Testamento, e foi feito pelos judeus, já na Era Cristã, e pela Igreja, de forma
separada. O cânon do Antigo Testamento foi definido nos mesmos concílios com o
cânon do Novo Testamento, o que mostra que foi parte da providência de Deus
para definir toda a questão. E, certamente, Deus guiou os concílios cristãos
referentes ao cânon.
Na evidência 3 temos
que a Bíblia no AT praticamente possui os mesmos conceitos quando se compara a
Torah e os profetas, conceitos esses que foram aplicados, ampliados,
desenvolvidos e explicados.
É bom lembrar que a
tarefa dos concílios católicos também sempre envolve essas ações, de aplicar os
conceitos da Palavra de Deus, de ampliá-los, de fazê-los conhecer melhor, de
desenvolvê-los, de explicá-los, de tal forma a não deixar dúvidas. Enfim, é
praticamente isso que faz a definição de um dogma.
Quando se reconhece que
a Torah em certo sentido era
suficiente, pois as revelações precisavam desenvolver pontos que já existiam na
Torah, é uma ótima ocasião para entender também que nesse sentido a Bíblia é
suficiente na Igreja Católica, pois tudo o que é preciso fazer para desenvolver
certa doutrina e defini-la para o Povo de Deus tem de estar em conformidade com
os conceitos revelados na Bíblia, nunca se desviando dela, com todos os
conceitos de seu conteúdo inteiro. Todos os dogmas católicos estão em
conformidade com a Bíblia.
E se Jesus ensinou algo
que talvez não seja possível encontrar os conceitos na Torah e nos Profetas? A
resposta é que Ele é Deus.
Correto, Jesus é o
Messias e veio revelar tudo o que é necessário para fazer parte da Sua Igreja.
E, além disso, essa
ideia é importante para entender que a Igreja Católica muitas vezes traz certas
práticas e ensinos que estão menos claros no texto bíblico, mas ela é a Igreja
de Jesus Cristo, que tem autoridade para ensinar e para exigir obediência.
Enfim, tudo o que a Igreja ensina está em conformidade com a Bíblia. A Igreja
não cria doutrinas.
Na evidência 4 temos
que os escritos inspirados do NT tiveram aval e monitoramento dos apóstolos.
Isso é formidável, e parte do plano de Deus para manter intacta Sua Palavra. De
fato, a Providência mantém intacta a revelação escrita, e também oral.
E esse fato: “Embora, como no caso do AT em Israel,
algumas comunidades cristãs divergissem um pouco quanto a quais livros deveriam
compor o cânon do NT, a maior parte dos livros era aceita pela maioria dos
cristãos.”. Essa afirmação requer a admissão de que foram os concílios
católicos que definiram o cânon bíblico, pois se apenas um livro está em
discussão geral, a autoridade da Igreja se tornou necessária para definir a
questão. E sabe-se que vários foram objetos de divergências.
Na evidência 5 o
argumento de que não havia Sola Scriptura
durante a vida dos apóstolos, já que não havia Escritura ainda no Novo
Testamento, pelo menos, é tida como argumentação frágil. Mas não é.
De fato, não há nenhum
registro e nem o conceito de que os cristãos usassem do livre exame para
garantir a correção da pregação apostólica. Muito pelo contrário.
Se a pregação dos fatos
foram sendo julgados pelas Escrituras for a Sola
Scriptura, então tudo bem, e isso não é tão divergente da doutrina
católica. De fato, tudo o que a Igreja prega está em conformidade com a Bíblia,
e pode ser verificado nela.
No entanto, é preciso
frisar que não havia espaço para alguém ensinar algo diferente do que os
apóstolos pregavam. Do contrário, seria anátema. Imagine um cristão afirmando
que é necessário circuncidar-se para ser salvo, ainda que os apóstolos em
concílio chegaram à conclusão contrária. Assim, a Igreja pregava com
autoridade, ensinava o evangelho, e todos aderiam conforme a autoridade de Deus
dada à Sua Igreja.
Os bereanos foram
elogiados, mas não eram cristãos. Eram pessoas que ouviram a pregação e crendo
estarem os apóstolos de fato de acordo com as Escrituras, que prometiam o
Messias, abraçaram a fé. A partir dali, se viram sob a autoridade dos apóstolos
para aprenderem o evangelho. Isso é Sola
Scriptura somente no sentido harmonioso com a fé católica. Ninguém julgava
a pregação apostólica por pelo livre exame.
Em outras palavras,
quando um católico vai à Bíblia para julgar uma doutrina com que teve contato,
estaria fazendo uso do princípio Sola
Scriptura, no sentido católico, já que ele faz interpretação correta, conformando-se
à autoridade eclesiástica, que está em harmonia com a interpretação oficial. Pode
ser que encontrou em algum lugar uma doutrina, e percebeu pela sua leitura da
Bíblia que ela está correta e aceitou seu ensino. Assim, fez uso do princípio Sola Scriptura, se essa doutrina de fato
está correta e, portanto, é ensinada pela Igreja.
Se os bereanos ficaram
convencidos de que os apóstolos pregavam o verdadeiro Messias, por ter ido às
Escrituras e se certificado do fato, essa atitude do Sola Scriptura não contradiz a fé católica.
Somente se depois os
bereanos se pusessem a julgar a pregação apostólica alegando estarem fazendo
comparação do que estava na Bíblia do Antigo Testamento e, talvez, em algumas
partes do Novo Testamento já escritas, e discordassem do ensino apostólico,
então estariam fazendo livre interpretação contra a autoridade dos apóstolos, o
que fere o princípio cristão católico.
De fato, esse modelo não
se encontra em lugar nenhum na Bíblia, nem em toda a história da Igreja, sendo
sempre algo errôneo. É preciso entender isso para compreender a argumentação
católica sobre o assunto.
Na verdade, aqueles
judeus se converteram à fé cristã por reconhecerem Jesus como Messias. Eles
aceitaram a fé cristã e se submeteram ao batismo, à ceia, não mais creram na circuncisão
como meio de salvação, etc., etc., sem questionar nada mais, pois sabiam que
ali estavam os representantes da Nova Aliança. Partiram das Escrituras e, por
isso, foram à autoridade da Igreja e lhes deram crédito. Por outro lado, isso
está conforme o modelo Bíblia, Tradição e Magistério.
Há atitudes do modelo Sola Scriptura que estão conforme a fé
católica, enquanto que outras, que estão no entender católico, e são de fato Sola Scritptura, mas refutam as objeções
protestantes do Sola Scriptura.
Ainda, a Tradição era
recente no primeiro século, mas já começaram algumas disputas sobre a fé, e
essas foram resolvidas pela autoridade dos apóstolos, e não pela interpretação
bíblica de alguém.
Então a Bíblia está em
conformidade com a Tradição e o Magistério. Portanto, não há como a tradição
apostólica ser “avaliada de acordo com a Bíblia” por cristãos de outras épocas,
pois essa tradição vem juntamente com a pregação da Bíblia na vida da Igreja, ininterruptamente ensinada. Ela é expressa
autoritativamente nos concílios.
Ainda, lembrar que o
cânon bíblico foi definido séculos após os apóstolos, pela autoridade católica,
e que por isso não se sabia exatamente, durante séculos, quais eram os livros
inspirados com seu número exato. A doutrina da Igreja, pregada oficialmente,
garantia a pureza da fé, estando sempre em conformidade com a Bíblia.
Gledson Meireles.
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