Texto ainda em revisão.
Escatologia
– Parte 3
Aqui o leitor poderá
entender um pouco da doutrina adventista e encontrar elementos da doutrina católica
para desfazer mal entendidos nesse âmbito.
Estudo da série Comparando
Escatologias. Os problemas começam na sucessão do reino grego.” Depois das quatro divisões do Império Grego
surgirá o Chifre Pequeno, que destrói o povo santo e se levanta contra o
Príncipe dos Príncipes.
Em Dn 8 há unanimidade
em considerar que historicamente o chifre pequeno é Antíoco Epífanes e
teologicamente ele é um símbolo para o Anticristo. Aqui o adventismo encontra
dificuldade. A primeira é que parece não poder concordar com esse consenso por
ter o historicismo como método único a ser adotado.
É certo que unanimidade
não é sinônimo de verdade, mas nesse caso é preciso ir além e ver se essa
unanimidade deve ser descartada diante da interpretação adventista. Caso não, o
adventismo encontra uma refutação geral em sua proposta sobre essa passagem de
Dn 8.
Segundo, porque não pode estabelecer que a Igreja
Católica é mostrada negativamente nas profecias. De fato, segundo o adventismo
esse Chifre seria o papado. Mas isso não pode ser, pois em Dn o povo de Deus, a
Igreja Católica, é o Reino de Dn 2, 44.
Sobre o texto hebraico,
é um tanto questionável. Os intérpretes e tradutores traduzem “de um dos
chifres” porque o contexto também indica essa tradução. Ainda, a frase “de um
deles” comprova essa leitura. Ao dizer que “deles” se refere aos “ventos”,
trata-se de algo menos provável. Dessa forma, não há muita força de argumento
contra um ponto em que há unanimidade entre os estudiosos de várias confissões
cristãs. Mas, permanece o fato de ser uma leitura interessante, e pode até
mesmo ser estabelecida, caso seja conforme a doutrina bíblica.
Em Dn 7, 2 os quatro
ventos do céu agitavam o grande mar. Mas não se diz que os quatro ventos estão
ligados ao quarto animal.
A interpretação
adventista afirma que a primeira parte da visão traz o carneiro, o bode e o
chifre pequeno e a segunda parte o carneiro é a Medo-Pérsia e o bode é a
Grécia, dando espaço para pensar que o chifre pequeno é o outro reino após a
Grécia. O rei não surgiria das quatro divisões, mas no fim das divisões. Isso
não é forçar o texto para adequar-se à nova interpretação? É curiosa a forma de
interpretar, mas deve-se saber se é intenção no texto bíblico de afirmar isso:
que o chifre surge após as divisões
do Império Grego mas não delas. É algo não claro no texto.
As 2.300 tardes e
manhãs é algo muito importante na interpretação adventista. E como entender na
perspectiva católica. A Igreja parece favorecer a interpretação simbólica desse
período, e não dias ou anos literais.
Quando se diz que o
chifre são reinos e não indivíduos, isso não é tão exato assim, já que, como
vimos, desde o primeiro artigo dessa série de escatologia, o rei e o reino
estão entrelaçados em significado, de modo que o chifre como poder pode se
referir ao reino e à pessoa do rei.
Não parece que as
observações do grande Isaac Newton tenham força para dirimir a questão. Antíoco
IV foi de fato grande em algum sentido. Também agiu não por poder próprio, mas
do reino que pertencia. Quanto a não ter “derrubado” o Santuário, talvez possa
ser que isso é considerado de forma simbólica. Se Newton errou, mesmo do ponto
de vista adventista, pode ter se equivocado nesses itens elencados acima.
Pois bem. E se o Chifre
Pequeno é Roma? Isso não prova que seja a Igreja Católica, pois Roma e Igreja
Católica são duas coisas diferentes. De fato, Roma tentou destruir a Igreja
Católica por três séculos. Assim, Roma é o Império Romano. Esse poder de fato
oprimiu Israel e afrontou o Príncipe dos Príncipes (Jesus).
E a doutrina adventista
leva a dizer o seguinte: “ Isso faz sentido histórico. Uma vez que a
Igreja se romaniza e Roma se catequiza, é possível dizer que Roma pagã e Roma
católica são a mesma besta. ” Aqui certamente está havendo confusão. Roma
foi catequizada, evangelizada, e recebeu grande influência do evangelho de
Jesus Cristo. Mas seu Império político continuou em exercício, aliás, sendo
muitas vezes, desde os dias de Nero, no século I a Domiciano, no século IV,
hostil à Igreja Católica, que já contava com milhares e milhares de membros no
século.
E quanto à
interpretação de que o papado surge de Roma e é parte da “besta romana”. Não é
verdade, não é histórico. O papado surge a partir do Evangelho de Jesus Cristo.
A Igreja nasce em Jerusalém, que estava sob o governo Romano. Então, Roma é
evangelizada e a Igreja faz ali sua sede, pois Cristo desejou que o evangelho
fosse pregado em Jerusalém e em Roma (cf. Atos 23, 11). A Igreja não recebeu
poder do Império Romano, nem direta nem indiretamente.
De fato, a Igreja
Católica, com sede em Roma, Ocidente, ficou mais distante das influências do
poder dos imperadores romanos do que sua parte Oriental, em Bizâncio
(Constantinopla), que teve força política até 1453 d. C.
Entretanto, o poder
romano, que caiu em 476 d. C., não foi passado para a Igreja Católica. O poder
do evangelho não é deste mundo. Então, não é certo em falar de Roma pagã e Roma
papal no sentido de que a Besta continua seu poder.
A Roma papal
evangelizou a Roma pagã, trazendo o testemunho de Cristo à capital do Império.
E após séculos de perseguição à Igreja, essa triunfou contra os poderes da
Besta, tendo em 313 d. C. conseguido liberdade de culto e em 380 d. C.
alcançando o status de Religião
Oficial do Império Romano, aquela mesma Igreja fundada por Cristo antes perseguida por Roma. E após isso,
ainda, a Igreja foi por alguns períodos atacada pelas forças imperiais. Basta ver
como sofreu sob Juliano Apóstata.
E a conclusão, portanto
está equivocada: “Em suma, o monstro que perseguiu judeus, judaísmo, cristãos e
cristianismo, torna-se católico e, ao se desfazer como império, permanece como
igreja.” A questão é complicada, mas para melhor entendê-la, basta olhar que a
mesma Igreja que estava sendo perseguida foi depois libertada das perseguições
e tornada, mais tarde, religião oficial. Isso mostra que não se pode afirmar
que o mostro que perseguiu cristãos tornou-se igreja. De forma alguma.
E quanto às
perseguições a “judeus, judaísmo e cristãos”, citadas no texto? É apenas um
artifício histórico usado nessa confusão mencionada acima. De fato, a Igreja
Católica foi ganhando força política e grande notoriedade temporal, de forma a
estar ligada ao estado. Assim, a doutrina oficial era defendida conforme as
estruturas da época. Não se trata de fato de perseguições, como aquelas feitas
pelo Império Romano contra a Igreja Católica.
E quanto a durar até o
tempo do fim? Essa é outra questão que está envolvida na confusão imensa que
foi citada antes. Realmente, sendo a ICAR a Igreja fundada por Jesus, ela irá
dura até o tempo do fim (cf. Mt 28, 19, Dn 2, 44). Portanto, é a Igreja
Católica que será perseguida pelo Anticristo.
Na interpretação
católica temos que das perseguições de Antíoco Epifânio até sua morte foram 6
anos e 4 meses. Se se conta anos de 354 dias são 2244 tardes e manhãs e se 365
dias serão 2310 tardes e manhãs. De qualquer forma, uma cifra bastante próxima.
Sendo Antíoco símbolo do Anticristo esse tempo também é simbólico.
O rei de feroz catadura
é o chifre pequeno. Os 2300 anos terminam depois do fim dos 1260 anos: “...então o julgamento feito ao quarto animal
após os 1260 anos (Dn 7:9-14 e 26-27) é a purificação do santuário (Dn 8:9-14 e
23-26)”.
Mas, como a Igreja
Católica entende, comumente, que os 1260 dias são simbólicos para o tempo de
perseguição da Igreja, o seu término de fato será imediatamente antes do
julgamento (cf. Dn 7, 26). Aí se conclui toda a profecia. Até então, a Igreja
Católica é o Reino de Cristo que já vive esse reinado espiritual no mundo, e
espera sua consumação com a vinda de Jesus.
Os cálculos engenhosos
da profecia, feitos para IASD, são muito curiosos. Contam 457 c. C. como início
para as 2300 tardes e manhãs, simbolizando anos. Isso levaria a 1844, ano em
que a purificação do santuário teria ocorrido.
A falha dessa doutrina
é considerar que a história cristã até 1798 foi de “ataque espiritual ao poder expiatório de Cristo e ao santuário
celestial”, o que não se encontra em nenhum lugar.
Temos o Chifre Pequeno
contra o Príncipe do Exército, a retirada do sacrifício diário, a destruição do
santuário, a dominação do sacrifício diário e o exército dos santos e a verdade
é jogada por terra.
Como sabemos que o
sacrifício diário é um tipo do Sacrifício de Cristo na cruz, e que na Era
Cristã ele é realizado diariamente em sua forma sacramental na Santa Missa, é
perfeitamente provável que haverá um ataque ao sacrifício da santa missa. Tudo
ocorreu primeiramente na perseguição aos judeus, e resta a profecia da
perseguição aos cristãos. E nisso o adventismo acerta, pois muitas vezes as
profecias contem duas coisas em uma só, como Jesus, segundo o autor adventista,
Jesus explicaria dois eventos como uma coisa só.
Mas, o adventismo
entende que “tirar o sacrifício diário”significa uma forma de “negar ou
minimizar o sacrifício de Jesus e sua intercessão como único sacerdote”. Também
deverá haver algo que negue o santuário, como a Lei, o sumo sacerdócio de
Cristo e o juízo de Deus. E diz: “Tudo
isso foi feito também por Roma (em sua fase católica).”
Em primeiro lugar,
deve-se lembrar que Roma não é a Igreja Católica, mas a Igreja Católica tem
sede na cidade de Roma e a evangelizou desde o século primeiro. O Império
Romano e a Igreja são duas coisas separadas e antagônicas nas profecias.
Segundo, a Igreja nunca poderia ter feito algo contra ao
sacrífico de Cristo. Pelo contrário, como vimos, é ela a única que realizada o
sacrifício espiritual de Cristo no mundo diariamente,
o que cumpre a profecia. Se algo irá tirar o sacrifício diário em tempo
cristão, isso só pode ser uma perseguição à Igreja Católica e a proibição da
santa missa. De fato, Lutero escreveu muito contra o sacrifício da santa missa
no século 16, e muitas doutrinas tentam tirar da missa a ideia de sacrifício.
Isso pode ser considerado uma espécie de ataque ao sacrifício de Cristo.
Quando Ellen White
escreve que a Igreja Católica ensina a infalibilidade, e por isso não poderia
renunciar aos princípios que nortearam sua conduta no passado, comete um
equívoco, já que a Igreja pode reconhecer erros e pecados cometidos, por meio
de seus membros, mas não como Instituição de Cristo que ensina a verdade
salvífica. Uma coisa é a conduta, e outra a doutrina. Em um campo há
imperfeição, noutro há infalibilidade.
É verdade que judeus e
cristãos foram perseguidos no Império Romano. Jerusalém foi destruída no ano 70
d. C. A Igreja Católica foi perseguida por três séculos. Foi a Igreja que
anunciou o Nome de Jesus Cristo ao mundo, que defendeu Sua divindade em
concílio, em 325, que recebeu, guardou e ensinou as Escrituras Sagradas
naqueles tempos de cruel perseguição.
Numa interpretação
anticatólica a ferida da besta seria dada em 1798 com a prisão do papa e curada
em 1929 com a Igreja recebe o Vaticano do governo da Itálica. Mas isso em nada
prova que a Igreja seja a Besta e que a prisão do papa marca o tempo em que a
supremacia da Igreja teria terminado, assim como em 1929 teria recobrado suas
forças. De fato, a Igreja durante a
história foi, por várias vezes, perseguida, e os papas presos, mortos, exilados
e etc. Como por exemplo no Cativeiro de Avignon, durante mais ou menos 70 anos.
A interpretação da IASD
considera que a ligação do poder temporal ao poder espiritual da Igreja a torna
negativa, para “fixar heresias na cultura dos cristãos”. No entanto, o que
ocorre é o inverso. Com esse poder, dado pela Providência Divina, toda a base
doutrinal cristão foi fixada na
cultura dos cristãos pela Igreja Católica: a Bíblia, sua verdade e inspiração,
o cânon dos livros inspirados, a divindade de Jesus, a divindade do Espírito
Santo, a doutrina da Trindade, do pecado original, do livre-arbítrio, etc.
Assim, o Sacrifício de
Cristo foi conhecido na cristandade. E aqui entra algo importante. A doutrina
adventista coloca a IASD como aquela que surge para restaurar verdades que a
ICAR teria ofuscado, distorcido e jogado por terra. Então, de alguma forma essa
Igreja se mostra como a Igreja
verdadeira, pois seria aquela que Deus usa para ensinar as verdades do tempo
presente. É outra Igreja que se levanta contra a Igerja Católica no século 19.
O papa Pio IX fala das
diversas perseguições à Igreja do seu tempo, no século 19, aos diversos erros
disseminados no mundo, às doutrinas que nasciam e eram contrárias ao evangelho.
É preciso olhar para a
Bíblia e ver se os acontecimentos históricos refletem a profecia, se elas estão
ocorrendo, com exatidão, e fazer isso como cristãos católicos, do ponto de vida
da Igreja e não fora dela.
Pois bem. Roma se
encaixa na profecia? Sim. Mas Roma não é a Igreja Católica, mas o Império
Romano, que é um tipo dos impérios anticristãos e do Império anticristão final.
As 2300 tardes e manhãs são um tempo simbólico. E a purificação do Santuário
não ocorre antes da vinda de Jesus.
A Igreja Católica
sempre ensinou ser a Igreja verdadeira. Isso parece soberbo? Para muitos sim.
Mas, como a Igreja Adventista se declara a Igreja verdadeira, o autor explica:
“e quando o que parece soberba é verdade?”.
E, como a Igreja
Católica fundada por Cristo tem sua autenticidade, os movimentos valdense,
wyclifita, luterano, adventista, são aqueles que se levantam contra a verdade
católica e isso serve para provar os cristãos na fé. Isso também não significa
que somente cristãos católicos são salvos, e que membros de outras igrejas não
são cristãos, mas que todos, em sã consciência, que servem a Deus com coração
puro, fazem parte da Igreja Católica, e entrarão nela quando conhecem mais a
verdade.
De fato, “as mensagens
são mais importantes do que o movimento em si”. Essa frase contém uma verdade.
Assim, a doutrina católica é que deve ser estudada e contraposta a essa
interpretação historicista das profecias de Daniel. Uma vez que a verdade
católica é patente, não há como ver a Igreja verdadeira como algo negativo nas
profecias. É necessário olhar a partir dela, de dentro dela, e entender os
poderes que lhe são opostos.
A Igreja Católica é
vista como ameaça. Isso escreveu Ellen White. Portanto, para um adventista essa
é a opinião correta. Tempos atrás os protestantes ensinavam isso: “Ensinavam os filhos a aborrecer o papado, e
sustentavam que buscar harmonia com Roma seria deslealdade para com Deus”.
Para a mensageira
adventista, a Igreja Católica tem em seu meio “verdadeiros cristãos”, mas que
esses servem a Deus “segundo a melhor luz que possuem” e que não distinguem a
verdade, e não conhecem a diferente de
um culto “prestado de coração” e o culto de meras cerimônias e formalidades,
que possuem uma fé ilusória, que não satisfaz. É algo contra as cerimônias
católicas.
E assim, esforçam-se as igrejas protestantes, como a IASD, para oferecerem o melhor ambiente de culto e adequar seus ritos, música e decoração das igrejas, de modo a não parecer “católico”, mas de alguma forma satisfazer algo da natureza humana que intuitivamente sabem que está faltando.
Gledson Meireles.
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