sábado, 30 de março de 2024

Escatologia - Parte 3

Texto ainda em revisão.

Escatologia – Parte 3

Aqui o leitor poderá entender um pouco da doutrina adventista e encontrar elementos da doutrina católica para desfazer mal entendidos nesse âmbito.

Estudo da série Comparando Escatologias. Os problemas começam na sucessão do reino grego.”  Depois das quatro divisões do Império Grego surgirá o Chifre Pequeno, que destrói o povo santo e se levanta contra o Príncipe dos Príncipes.

Em Dn 8 há unanimidade em considerar que historicamente o chifre pequeno é Antíoco Epífanes e teologicamente ele é um símbolo para o Anticristo. Aqui o adventismo encontra dificuldade. A primeira é que parece não poder concordar com esse consenso por ter o historicismo como método único a ser adotado.

É certo que unanimidade não é sinônimo de verdade, mas nesse caso é preciso ir além e ver se essa unanimidade deve ser descartada diante da interpretação adventista. Caso não, o adventismo encontra uma refutação geral em sua proposta sobre essa passagem de Dn 8.

Segundo, porque não pode estabelecer que a Igreja Católica é mostrada negativamente nas profecias. De fato, segundo o adventismo esse Chifre seria o papado. Mas isso não pode ser, pois em Dn o povo de Deus, a Igreja Católica, é o Reino de Dn 2, 44.

Sobre o texto hebraico, é um tanto questionável. Os intérpretes e tradutores traduzem “de um dos chifres” porque o contexto também indica essa tradução. Ainda, a frase “de um deles” comprova essa leitura. Ao dizer que “deles” se refere aos “ventos”, trata-se de algo menos provável. Dessa forma, não há muita força de argumento contra um ponto em que há unanimidade entre os estudiosos de várias confissões cristãs. Mas, permanece o fato de ser uma leitura interessante, e pode até mesmo ser estabelecida, caso seja conforme a doutrina bíblica.

Em Dn 7, 2 os quatro ventos do céu agitavam o grande mar. Mas não se diz que os quatro ventos estão ligados ao quarto animal.

A interpretação adventista afirma que a primeira parte da visão traz o carneiro, o bode e o chifre pequeno e a segunda parte o carneiro é a Medo-Pérsia e o bode é a Grécia, dando espaço para pensar que o chifre pequeno é o outro reino após a Grécia. O rei não surgiria das quatro divisões, mas no fim das divisões. Isso não é forçar o texto para adequar-se à nova interpretação? É curiosa a forma de interpretar, mas deve-se saber se é intenção no texto bíblico de afirmar isso: que o chifre surge após as divisões do Império Grego mas não delas. É algo não claro no texto.

As 2.300 tardes e manhãs é algo muito importante na interpretação adventista. E como entender na perspectiva católica. A Igreja parece favorecer a interpretação simbólica desse período, e não dias ou anos literais.

Quando se diz que o chifre são reinos e não indivíduos, isso não é tão exato assim, já que, como vimos, desde o primeiro artigo dessa série de escatologia, o rei e o reino estão entrelaçados em significado, de modo que o chifre como poder pode se referir ao reino e à pessoa do rei.

Não parece que as observações do grande Isaac Newton tenham força para dirimir a questão. Antíoco IV foi de fato grande em algum sentido. Também agiu não por poder próprio, mas do reino que pertencia. Quanto a não ter “derrubado” o Santuário, talvez possa ser que isso é considerado de forma simbólica. Se Newton errou, mesmo do ponto de vista adventista, pode ter se equivocado nesses itens elencados acima.

Pois bem. E se o Chifre Pequeno é Roma? Isso não prova que seja a Igreja Católica, pois Roma e Igreja Católica são duas coisas diferentes. De fato, Roma tentou destruir a Igreja Católica por três séculos. Assim, Roma é o Império Romano. Esse poder de fato oprimiu Israel e afrontou o Príncipe dos Príncipes (Jesus).

E a doutrina adventista leva a dizer o seguinte: “ Isso faz sentido histórico. Uma vez que a Igreja se romaniza e Roma se catequiza, é possível dizer que Roma pagã e Roma católica são a mesma besta. ” Aqui certamente está havendo confusão. Roma foi catequizada, evangelizada, e recebeu grande influência do evangelho de Jesus Cristo. Mas seu Império político continuou em exercício, aliás, sendo muitas vezes, desde os dias de Nero, no século I a Domiciano, no século IV, hostil à Igreja Católica, que já contava com milhares e milhares de membros no século.

E quanto à interpretação de que o papado surge de Roma e é parte da “besta romana”. Não é verdade, não é histórico. O papado surge a partir do Evangelho de Jesus Cristo. A Igreja nasce em Jerusalém, que estava sob o governo Romano. Então, Roma é evangelizada e a Igreja faz ali sua sede, pois Cristo desejou que o evangelho fosse pregado em Jerusalém e em Roma (cf. Atos 23, 11). A Igreja não recebeu poder do Império Romano, nem direta nem indiretamente.

De fato, a Igreja Católica, com sede em Roma, Ocidente, ficou mais distante das influências do poder dos imperadores romanos do que sua parte Oriental, em Bizâncio (Constantinopla), que teve força política até 1453 d. C.

Entretanto, o poder romano, que caiu em 476 d. C., não foi passado para a Igreja Católica. O poder do evangelho não é deste mundo. Então, não é certo em falar de Roma pagã e Roma papal no sentido de que a Besta continua seu poder.

A Roma papal evangelizou a Roma pagã, trazendo o testemunho de Cristo à capital do Império. E após séculos de perseguição à Igreja, essa triunfou contra os poderes da Besta, tendo em 313 d. C. conseguido liberdade de culto e em 380 d. C. alcançando o status de Religião Oficial do Império Romano, aquela mesma Igreja fundada por Cristo  antes perseguida por Roma. E após isso, ainda, a Igreja foi por alguns períodos atacada pelas forças imperiais. Basta ver como sofreu sob Juliano Apóstata.

E a conclusão, portanto está equivocada: “Em suma, o monstro que perseguiu judeus, judaísmo, cristãos e cristianismo, torna-se católico e, ao se desfazer como império, permanece como igreja.” A questão é complicada, mas para melhor entendê-la, basta olhar que a mesma Igreja que estava sendo perseguida foi depois libertada das perseguições e tornada, mais tarde, religião oficial. Isso mostra que não se pode afirmar que o mostro que perseguiu cristãos tornou-se igreja. De forma alguma.

E quanto às perseguições a “judeus, judaísmo e cristãos”, citadas no texto? É apenas um artifício histórico usado nessa confusão mencionada acima. De fato, a Igreja Católica foi ganhando força política e grande notoriedade temporal, de forma a estar ligada ao estado. Assim, a doutrina oficial era defendida conforme as estruturas da época. Não se trata de fato de perseguições, como aquelas feitas pelo Império Romano contra a Igreja Católica.

E quanto a durar até o tempo do fim? Essa é outra questão que está envolvida na confusão imensa que foi citada antes. Realmente, sendo a ICAR a Igreja fundada por Jesus, ela irá dura até o tempo do fim (cf. Mt 28, 19, Dn 2, 44). Portanto, é a Igreja Católica que será perseguida pelo Anticristo.

Na interpretação católica temos que das perseguições de Antíoco Epifânio até sua morte foram 6 anos e 4 meses. Se se conta anos de 354 dias são 2244 tardes e manhãs e se 365 dias serão 2310 tardes e manhãs. De qualquer forma, uma cifra bastante próxima. Sendo Antíoco símbolo do Anticristo esse tempo também é simbólico.

O rei de feroz catadura é o chifre pequeno. Os 2300 anos terminam depois do fim dos 1260 anos: “...então o julgamento feito ao quarto animal após os 1260 anos (Dn 7:9-14 e 26-27) é a purificação do santuário (Dn 8:9-14 e 23-26)”.

Mas, como a Igreja Católica entende, comumente, que os 1260 dias são simbólicos para o tempo de perseguição da Igreja, o seu término de fato será imediatamente antes do julgamento (cf. Dn 7, 26). Aí se conclui toda a profecia. Até então, a Igreja Católica é o Reino de Cristo que já vive esse reinado espiritual no mundo, e espera sua consumação com a vinda de Jesus.

Os cálculos engenhosos da profecia, feitos para IASD, são muito curiosos. Contam 457 c. C. como início para as 2300 tardes e manhãs, simbolizando anos. Isso levaria a 1844, ano em que a purificação do santuário teria ocorrido.

A falha dessa doutrina é considerar que a história cristã até 1798 foi de “ataque espiritual ao poder expiatório de Cristo e ao santuário celestial”, o que não se encontra em nenhum lugar.

Temos o Chifre Pequeno contra o Príncipe do Exército, a retirada do sacrifício diário, a destruição do santuário, a dominação do sacrifício diário e o exército dos santos e a verdade é jogada por terra.

Como sabemos que o sacrifício diário é um tipo do Sacrifício de Cristo na cruz, e que na Era Cristã ele é realizado diariamente em sua forma sacramental na Santa Missa, é perfeitamente provável que haverá um ataque ao sacrifício da santa missa. Tudo ocorreu primeiramente na perseguição aos judeus, e resta a profecia da perseguição aos cristãos. E nisso o adventismo acerta, pois muitas vezes as profecias contem duas coisas em uma só, como Jesus, segundo o autor adventista, Jesus explicaria dois eventos como uma coisa só.

Mas, o adventismo entende que “tirar o sacrifício diário”significa uma forma de “negar ou minimizar o sacrifício de Jesus e sua intercessão como único sacerdote”. Também deverá haver algo que negue o santuário, como a Lei, o sumo sacerdócio de Cristo e o juízo de Deus. E diz: “Tudo isso foi feito também por Roma (em sua fase católica).

Em primeiro lugar, deve-se lembrar que Roma não é a Igreja Católica, mas a Igreja Católica tem sede na cidade de Roma e a evangelizou desde o século primeiro. O Império Romano e a Igreja são duas coisas separadas e antagônicas nas profecias.

Segundo, a Igreja nunca poderia ter feito algo contra ao sacrífico de Cristo. Pelo contrário, como vimos, é ela a única que realizada o sacrifício espiritual de Cristo no mundo diariamente, o que cumpre a profecia. Se algo irá tirar o sacrifício diário em tempo cristão, isso só pode ser uma perseguição à Igreja Católica e a proibição da santa missa. De fato, Lutero escreveu muito contra o sacrifício da santa missa no século 16, e muitas doutrinas tentam tirar da missa a ideia de sacrifício. Isso pode ser considerado uma espécie de ataque ao sacrifício de Cristo.

Quando Ellen White escreve que a Igreja Católica ensina a infalibilidade, e por isso não poderia renunciar aos princípios que nortearam sua conduta no passado, comete um equívoco, já que a Igreja pode reconhecer erros e pecados cometidos, por meio de seus membros, mas não como Instituição de Cristo que ensina a verdade salvífica. Uma coisa é a conduta, e outra a doutrina. Em um campo há imperfeição, noutro há infalibilidade.

É verdade que judeus e cristãos foram perseguidos no Império Romano. Jerusalém foi destruída no ano 70 d. C. A Igreja Católica foi perseguida por três séculos. Foi a Igreja que anunciou o Nome de Jesus Cristo ao mundo, que defendeu Sua divindade em concílio, em 325, que recebeu, guardou e ensinou as Escrituras Sagradas naqueles tempos de cruel perseguição.

Numa interpretação anticatólica a ferida da besta seria dada em 1798 com a prisão do papa e curada em 1929 com a Igreja recebe o Vaticano do governo da Itálica. Mas isso em nada prova que a Igreja seja a Besta e que a prisão do papa marca o tempo em que a supremacia da Igreja teria terminado, assim como em 1929 teria recobrado suas forças.  De fato, a Igreja durante a história foi, por várias vezes, perseguida, e os papas presos, mortos, exilados e etc. Como por exemplo no Cativeiro de Avignon, durante mais ou menos 70 anos.

A interpretação da IASD considera que a ligação do poder temporal ao poder espiritual da Igreja a torna negativa, para “fixar heresias na cultura dos cristãos”. No entanto, o que ocorre é o inverso. Com esse poder, dado pela Providência Divina, toda a base doutrinal cristão foi fixada na cultura dos cristãos pela Igreja Católica: a Bíblia, sua verdade e inspiração, o cânon dos livros inspirados, a divindade de Jesus, a divindade do Espírito Santo, a doutrina da Trindade, do pecado original, do livre-arbítrio, etc.

Assim, o Sacrifício de Cristo foi conhecido na cristandade. E aqui entra algo importante. A doutrina adventista coloca a IASD como aquela que surge para restaurar verdades que a ICAR teria ofuscado, distorcido e jogado por terra. Então, de alguma forma essa Igreja se mostra como a Igreja verdadeira, pois seria aquela que Deus usa para ensinar as verdades do tempo presente. É outra Igreja que se levanta contra a Igerja Católica no século 19.

O papa Pio IX fala das diversas perseguições à Igreja do seu tempo, no século 19, aos diversos erros disseminados no mundo, às doutrinas que nasciam e eram contrárias ao evangelho.

É preciso olhar para a Bíblia e ver se os acontecimentos históricos refletem a profecia, se elas estão ocorrendo, com exatidão, e fazer isso como cristãos católicos, do ponto de vida da Igreja e não fora dela.

Pois bem. Roma se encaixa na profecia? Sim. Mas Roma não é a Igreja Católica, mas o Império Romano, que é um tipo dos impérios anticristãos e do Império anticristão final. As 2300 tardes e manhãs são um tempo simbólico. E a purificação do Santuário não ocorre antes da vinda de Jesus.

A Igreja Católica sempre ensinou ser a Igreja verdadeira. Isso parece soberbo? Para muitos sim. Mas, como a Igreja Adventista se declara a Igreja verdadeira, o autor explica: “e quando o que parece soberba é verdade?”.

E, como a Igreja Católica fundada por Cristo tem sua autenticidade, os movimentos valdense, wyclifita, luterano, adventista, são aqueles que se levantam contra a verdade católica e isso serve para provar os cristãos na fé. Isso também não significa que somente cristãos católicos são salvos, e que membros de outras igrejas não são cristãos, mas que todos, em sã consciência, que servem a Deus com coração puro, fazem parte da Igreja Católica, e entrarão nela quando conhecem mais a verdade.

De fato, “as mensagens são mais importantes do que o movimento em si”. Essa frase contém uma verdade. Assim, a doutrina católica é que deve ser estudada e contraposta a essa interpretação historicista das profecias de Daniel. Uma vez que a verdade católica é patente, não há como ver a Igreja verdadeira como algo negativo nas profecias. É necessário olhar a partir dela, de dentro dela, e entender os poderes que lhe são opostos.

A Igreja Católica é vista como ameaça. Isso escreveu Ellen White. Portanto, para um adventista essa é a opinião correta. Tempos atrás os protestantes ensinavam isso: “Ensinavam os filhos a aborrecer o papado, e sustentavam que buscar harmonia com Roma seria deslealdade para com Deus”.

Para a mensageira adventista, a Igreja Católica tem em seu meio “verdadeiros cristãos”, mas que esses servem a Deus “segundo a melhor luz que possuem” e que não distinguem a verdade, e não conhecem  a diferente de um culto “prestado de coração” e o culto de meras cerimônias e formalidades, que possuem uma fé ilusória, que não satisfaz. É algo contra as cerimônias católicas.

E assim, esforçam-se as igrejas protestantes, como a IASD, para oferecerem o melhor ambiente de culto e adequar seus ritos, música e decoração das igrejas, de modo a não parecer “católico”, mas de alguma forma satisfazer algo da natureza humana que intuitivamente sabem que está faltando.

Gledson Meireles.

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