domingo, 23 de abril de 2023

Livro: A lenda da imortalidade da alma, refutação do capítulo 11

 

O autor tenta provar que a alma não é imortal usando o método comparativo, onde julga se as provas são suficientes, em uma avaliação mais técnica e criteriosa. Assim, comparando o teor da Bíblia com outras obras imortalistas da época, para ver se as expressões são iguais.

Pelo que o autor escreve, o que se encontra na Bíblia e que é usado para provar a imortalidade da alma é algo escondido, nas entrelinhas, escrito de forma modesta e sutil, em parábolas, símbolos ou declarações subjetivas, onde que não, pois as obras mortalistas falam da alma imortal expressamente sem deixar dúvidas.

Por que os autores bíblicos não expressam o imortalismo explicitamente? Por que usavam expressões que nunca são usadas por outros autores imortalistas?

Os escritores do NT tinham a crença predominante, a de que a alma é imortal, por isso não tratavam do tema. Ou seja, se os escritores cristãos negassem o imortalismo, eles falariam abertamente contra a imortalidade da alma, apregoando sua nova fé, e isso não é encontrado em lugar nenhum. Desse modo, eles eram imortalistas e continuaram a ser depois que se tornaram cristãos, pois é um ponto de fé comum.

Se eles fosse mortalistas, teriam de falar abertamente contra a imortalidade da alma, não é mesmo?

Todos os judeus acreditavam na imortalidade da alma? Não, isso é óbvio, mas a fé majoritária e predominante era essa, que era a fé do ramo principal, o farisaico, o que parece ser o contrário do que ensinou o Dr. Bem Witherington.

Na tese mortalista, entre os judeus da Palestina havia mais mortalistas? Partindo do pressuposto de que a maioria dos judeus era “mortalista”, deveria haver na Bíblia grande teor imortalista, segundo o princípio apresentado. Na verdade, deveria haver grande teor contra a doutrina da imortalidade da alma, o que não há.

Entretanto, o problema é que não está provado que a maior parte dos judeus era mortalista, como diz o Dr. Ben. É um problema para o mortalismo resolver.

Agora, vejamos a situação onde os judeus da Palestina eram majoritariamente imortalistas.

O que pregariam como cristãos? Será que isso não explica a pouca ênfase dos apóstolos sobre o tema, já que é falsa a pressuposição “de que alguém que já cria em alguma coisa não tem interesse em expô-la e propagá-la”?

Por que os apóstolos pregam a ressurreição com tanta ênfase, mesmo que sempre tinham crido na ressurreição, escrevendo mesmo aos judeus?

A resposta é muito simples e fácil: a ressurreição de Cristo estava sendo negada em toda parte. A controvérsia geral gera a produção de provas. É muito simples e irrefutável.

Até os judeus negavam a ressurreição de Cristo, o que explica o tema sendo dirigido a todos, judeus e gregos, uma doutrina que era negada até mesmo em relação à ressurreição dos salvos, entre cristãos.

A imortalidade da alma não estava em disputa pelo teor do Novo Testamento. Não era um tema negado geralmente. Havia muitas doutrinas sobre isso, como está nos apócrifos, mas em geral havia a crença na alma imortal. Portanto, não havia ocasião para enfatizar esse ponto doutrinal. Ou há outra explicação?

Os dois exemplos usados para refutar a pressuposição “de que alguém que já cria em alguma coisa não tem interesse em expô-la e propagá-la” é a seguinte:

“Se essa lógica fizesse algum sentido, os adventistas deixariam de falar do sábado nos cultos deles, já que todo mundo ali sabe que deve guardar o sábado, e os católicos deixariam de falar da Virgem Maria em suas missas, já que todo mundo ali sabe decor e salteado que deve venerá-la e cultuá-la.”

Mas isso não refuta o que foi apresentado acima, de forma fácil. Há duas coisas que o autor não percebeu, e que refuta seus argumentos.

Os adventistas pregam o sábado enfaticamente, e sendo isso pacífico em seu meio, o mesmo não diminui a ênfase, mais apologética, pois em geral todos negam a guarda do sábado na cristandade. Eles sempre estão tratando do tema, ainda mais quando recebem novos conversos. É uma doutrina que entra em desacordo com a maioria dos cristãos, e a controvérsia gera esse clima de ênfase na doutrina. Portanto, o sábado é um dos distintivos adventistas. Precisam aprender bem para lidar com os demais cristãos que negam a doutrina.

O outro exemplo, é que ainda que todos os católicos creiam que deve-se cultuar e venerar a virgem Maria, tal assunto é muito debatido e atacado no meio cristão protestante, que há séculos tem esse tema doutrinal como dos principais para discutir com os católicos. Isso faz com que tal doutrina tenha muita ênfase, pois vem de tempos de conflito geral, como o foi em toda a história, com vários dogmas sobre a virgem Maria sendo proclamados, e continua nos dias atuais.

É óbvio que temas pacíficos são tratados na Igreja, mas não recebem tanta ênfase. E existe mais um argumento: o Novo Testamento foi praticamente composto para ensinar os temais principais, e controversos, que estavam gerando discordância de outros grupos, judeus e gregos. Se a imortalidade da alma não aparece explicitamente e em toda parte, essas duas realidades explicam satisfatoriamente essa tendência.

Por que, então, egípcios e gregos continuavam a expressar tão explicitamente sobre a imortalidade da alma? Eles “com entusiasmo” a defendiam apaixonadamente, pois certamente exigiam os seus conflitos internos. Lembre-se que nos escritos apócrifos há a questão, no Evangelho de Judas: “o espírito é imortal?”. Se a questão é feita, há alguma rejeição, e espera-se que os defensores da imortalidade da alma farão esforço para defender a doutrina.

Os autores bíblicos eram imortalistas e escreviam a imortalistas e não havia problema quanto a isso. Está explicado a ausência de ênfase sobre a doutrina, pois não enfrentaram rejeição sobre a mesma.

A própria situação de que havia muita diferença de doutrinas quanto à imortalidade da alma entre judeus e gregos faz com que isso não fosse tratado pelos apóstolos no que tange ao ponto principal, que é a existência da alma imortal. Eles não trataram de pormenores quanto a isso também. O caso da ressurreição é diferente, pois era um dado da fé negado por muitos, judeus e gregos.

Seria diferente, imagine essa situação toda, em que maioria era imortalista no mundo ao redor, e os apóstolos, caso fossem mortalistas, em nenhum momento atacassem a imortalidade da alma? Impossível.

Então, os apóstolos e outros escritores bíblicos tinham razão para não se preocupar com isso, como demonstrado. Foi provado antes que, nas argumentações de 1 Coríntios 15 está pressuposta a imortalidade da alma. E tudo faz mais sentido agora.

Gledson Meireles.

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