domingo, 25 de agosto de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica: uma avaliação evangélica, de Gregg R. Allison

 

A liturgia – obra da Santíssima Trindade (seção 1, capítulo 1, artigo 1)

 

Gregg Allison afirma que a teologia evangélica praticamente não tem nada em comum com a teologia católica no que diz respeito ao conceito e à prática dos sacramentos. As semelhanças estariam na adoração a Deus, nos participantes (líderes e congregação), nos ritos, mas não no significado. Assim, no Protestantismo não há os sacramentos. As duas teologias estão separadas na doutrina dos sacramentos, muito longe uma da outra. Se assim o é de fato, então a teologia protestante necessita de reforma.

E o ponto que a teologia protestante nega é a continuidade da salvação em Jesus Cristo, a “representificação”, a atualização da cruz. No entanto, o que a teologia católica está ensinando, em outras palavras, é que Cristo continua a salvar com base no Seu sacrifício, quando o evangelho é ouvido e crido, quando os sacramentos são realizados, como o Espírito Santo age no coração do pecador. Isso está sempre ocorrendo pelo ministério da Igreja, e é inegável. Quando o teólogo protestante afirma que a obra de Cristo como atrelada à atemporalidade não tem garantia alguma, parece não ter entendido bem o conceito. Parece que ele volta a criticar o que anteriormente disse ter entendido.

De fato, a teologia católica ensina que a cruz ocorreu historicamente uma só vez, e está no passado. No entanto, seus efeitos são eternos. Não se pode negar isso. De fato, o Catecismo explica que o efeito da cruz está na eternidade de Deus. Assim, podemos exemplificar que os que morrem antes da Cruz são salvos pelo sacrifício de Jesus, pois esse não é um evento singular, espirutal.

Cristo não morre novamente na cruz, pois isso ocorreu uma única vez. Também o sacrafício não pode ser repetido. Ele é celebrado. Assim, a graça e a bênção que têm por base o sacrifício tornam-se misticamente atuais, salvando. Essa salvação é para todos os que creem.  Assim, afirmar que a economia sacramental católica em geral e da eucaristia em particular não é muito plausível, é algo que sugere esse mal entendimento.

De fato, não há como negar as afirmações do catecismo de que a obra de Cristo na cruz fundamenta toda a obra da Igreja Católica. Cristo nos salvou pela cruz, e enviou a Igreja a pregar e a batizar. É a isso que se refere a obra da Igreja. O Espírito Santo continua a obra de Cristo. Esse é o núcleo de todo o conceito.

Como o axioma Cristo e a Igreja é verdadeiro, tudo está equilibrado. Cristo está presente nos sacramentos. No batismo, por exemplo, somos batizados em Cristo. E como poder dos sacramentos não é humano, e o mesmo não pode ser um mero rito sem sentido, então sua graça é de origem divina e seu significado e efeito são espirituais.

A crítica protestante é a seguinte: “Cristo não está presente agora na igreja como cabeça e corpo”. De fato, a teologia católica afirma o mesmo. Assim, o protestante pensa ter um motivo para negar um ponto da fé católica, mas esse motivo não existe por não existir o aludido ponto doutrinal. A Igreja Católica não ensina que ontologicamente Jesus Cristo está na Igreja como cabeça e corpo, mas está presente de uma forma espiritual, mística. Talvez até seja uma forma metafórica de expressar essa união dos salvos com Cristo.

Afirmar que Cristo está em sua natureza humana no céu é correto. No entanto, negar que Cristo possa estar no sacerdote é um erro. O Espírito Santo está na terra, na Igreja, e Cristo afirmou que Ele mesmo está com a Igreja até o fim dos tempos. Essa doutrina não pode ser negada.

Cristo está na pessoa do sacerdote, que age em Seu nome, como Seu ministro, Ele está presente como disse que está com a Igreja em todos os tempo. Ele também está misticamente presente, de um modo único, literal, vamos dizer, na eucaristia. Isso não significa que todos comem carne e bebem sangue humanos literiais e materiais com efeitos biológicos idênticos aos alimentos. Não se trata disso, já que o alimento é espiritual, nutrindo o salvo com a graça de Deus, esse poder de Deus que age no salvo.

Isso é o mesmo que a teologia protestante está afirmando de outro modo, quando diz que Cristo não está ausente, mas presente na Igreja, pois Ele reveste a Igreja de poder na sua mobilização missional, no exercício da disciplina e para abençoar a ministração da ceia ou julgar sua observação. A presença de Cristo é mediada pela ação do Espírito Santo e pela Escritura, afirma Gregg. O mesmo que a doutrina católica ensina.

Também afirma que a presenta de Cristo é mediada pelas ordenanças da nova aliança, que são o batismo e a ceia. Obviamente, a mesma doutrina ensinada pela teologia católica, mas incompleta, pois ainda faltam os demais sacramentos.

Assim, essa presença espiritual de Cristo na Igreja não é idêntica à Sua presença em corpo humano no céu.

A crítica de Gregg de que o Espírito Santo confecciona os sacramentos é algo um tanto estranho. Não se sabe o que o mesmo está afirmando quando refere-se à confecção dos sacramentos. Certamente está se referindo à afirmação do Catecismo de que o Espírito Santo é o “artífice” das obras-primas de Deus. Esse seria uma afirmação católica não aceita pela teologia evangélica protestante. Deve-se entender o que isso quer dizer.

A presença do sacrifício de Cristo “aqui e agora na igreja” seria outra coisa não de acordo com o Protestantismo. Mas essa presença espiritual com o poder, a graça, o Espírito Santo, etc., já mencionada acima, é fato inegável. Trata-se de um mal entendimento do tema.

Negar que o Espírito Santo estimula “certas disposições” para receber a graça é algo notável. Não há como negar que a conversão, o perdão dos pecados, etc., são obra do Espírito Santo no coração do pecador. É isso que a Igreja Católica está ensinando.

Enfim, negar que a Igreja seja memória viva do mistério da salvação também é inacreditável. De fato, a presença da Igreja está sempre lembrando a presença de Jesus Cristo, agindo em Seu Nome, evangelizando o mundo inteiro. E, como o catecismo ensina, o Espírito Santo lembra toda a verdade à Igreja (cf. João 14, 26).

Quando Cristo disse que o pão e o vinho são Seu corpo e Sangue, isso sugere a ação de Deus que faz desses elementos algo diferente nesse contexto religioso. Antes de usar o termo transubstanciação há a realidade explicada pelo termo.

A teologia católica afirma que há sinergia entre Deus e o Seu povo. A teologia protestante nega veementemente essa ideia. Por outro lado, afirma que há “dupla dimensionalidade” na adoração da Igreja. De um lado Deus, segundo conveniência de sua ação divina, Deus é ativo, e por outro lado, o clero e os leigos são ativos, o que é dizer o mesmo em outras palavras. Mas Gregg afirma que a teologia protestante atribui um papel muito diferente ao clero do que faz a teologia católica.

Quando a Igreja Católica afirma que o Espírito Santo e como Ele concede compreensão da Palavra de Deus, a teologia evangélica teme que isso possa se tornar “um código para interpretações equivocadas que vão além do sentido gramatical-histórico(salvífico)-tipológico da Escritura”. E afirma que há uma dúvida, da afirmação de que o Espírito dá vida à Palavra de Deus. A Palavra é viva e eficaz em Si mesma, mas há esse perigo de torná-la infrutífera, não entendendo corretamente seu sentido. Especificamente o catecismo afirma que o Espírito Santo lembra o sentido  do acontecimento salvífico aos fieis. Então, o Espírito ilumina as mentes para que compreendam a Palavra. A Palavra de Deus que é vida em si mesma, e tem o Espírito que abre o coração dos fieis para que a compreendam. É a isso que a afirmação da teologia católica se refere.

O que o autor explicou mostra que não há esse distanciamente que mencionou, mas há um entendimento errôneo da teologia católica, como o modo de pensar protestante sobre o sentido que o sacrifício de Cristo está presente, não entendo bem o que diz a teologia católica, e sobre os demais elementos analisados acima.

domingo, 18 de agosto de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana

Refutação  do tópico sobre a natureza e a graça.

 

A interdependência natureza-graça

 

Quando Leonardo De Chirico afirma que o pecado é secundário na teologia católica, e que na teologia protestante ele é mais arrasador, de modo que a natureza deve ser restaurada pela graça, essa explicação está incorreta.

Na teologia católica o pecado é devastador, mas não destrói a natureza.  Esse é o sentido bíblico. Ainda, a natureza não pode pelo esforço próprio querer a Deus e não pode esforçar-se para ir a Deus, mas o pode pela graça. Esse ponto é diverso daquele que os teólogos protestantes imaginam.

De fato, ao pensar que no sistema católico a natureza e a graça são interdependentes, no sentido que a natureza pode querer o bem e desejar fazê-lo (como que supondo que o fizesse sem a graça), essa posição é totalmente alheia ao catolicismo.

No entanto, se a natureza for iluminada pela graça, então toda a questão muda, pois agora a natureza pode mover-se segundo suas funções próprias, dadas na criação, e pela força de Deus recebida na graça.

Então, a natureza se opõe à graça, e somente pode converter-se a Deus através da graça. Ela pode, também, opor-se à graça, de modo que sua maldade continua ali, e é convertida quando abre-se à graça e pervertida quando a nega.

Não é exato que Santo Agostinho tenha sido pessimista e Santo Tomás relativamente otimista em relação à natureza e graça. Ambos possuem a mesma doutrina básica. O protestantismo possui uma doutrina diversa, que diverge da doutrina católica nesse ponto.

O entendimento de Gregg de que o pecado está subordinado ao elemento natureza na doutrina católica está equivocado. De fato, essa negação protestante leva a um erro grave, que é costumeiramente crido pelos reformados, e que mais adiante irá sendo descortinado.

A citação de De Chirico mostra a posição da doutrina protestante geral. Esse chama da doutrina tomista de relativamente otimista, enquanto De Chirico afirma que a doutrina católica é totalmente positiva em relação à natureza e tem um conceito brando de pecado. E qual o motivo que leva a De Chirico a afirmar que no catolicismo a visão sobre a natureza humana é “totalmente positiva” e o conceito de pecado é “brando”? Isso se deve ao fato que, para os reformados a natureza é praticamente destruída, não tendo mais o livre-arbítrio. E isso é o que consideram correto.

Se no catolicismo a graça começa na natureza como explica o teólogo reformado, então a natureza seria um terreno no qual a graça nasce. Isso é totalmente errôneo, e não condiz com a teologia católica.

Da mesma forma, não é necessário pensar que a natureza tenha sido destruída para ser recriada pela graça.

No entanto, quanto a afirmar que a natureza sempre participa da graça, ou melhor, que sempre pode participar da graça, e que a graça pressupõe que a natureza possa participar dela ad intra, isso é correto, mas a teologia reformada nega esse ponto bíblico. Esse modo de entender a relação natureza e graça está totalmente correto.

De fato, quando o reformado tenta conciliar esses dois elementos, de modo a colocar a natureza totalmente em contraposição com a graça, ele está afirmando o mesmo que a doutrina católica.

Contudo, quando afirma que essa total inabilidade significa que a natureza não possui o livre arbítrio e, portanto, não pode cooperar, então o limite foi ultrapassado, e introduzido um erro.

Para isso, a graça deveria transformar a natureza e agir sozinha, de modo que a natureza não tivesse participação real.

Eis que a doutrina reformada afirma que há de fato participação real, há liberdade, há livre-arbítrio, considerado de outra forma, pois que esse é como que produzido pela graça. Obviamente o teólogo reformado talvez não aceite tal modo de explicação, mas é o que mais se aproxima da doutrina nesse ponto discutido.

Agora, vejamos o que a teologia protestante diz sobre o assunto. Gregg Allison afirma que a graça nada tem a operar na natureza porque a criação foi terrivelmente maculada pelo pecado.

Foi isso mencionado acima ao explicar que a natureza foi totalmente destruída. Esse termo parece explicar o termo “terrivelmente” usado pelo teólogo, porque está no contexto em que diz que a graça “nada” opera na natureza assim maculada pelo pecado.

Então, a graça agiria por fora, ad extra. E o motivo disso seria que a natureza “ignora completamente seu estado de depravação”. Esse ponto é o que foi chamado acima de natureza totalmente destruída pelo pecado, ou terrivelmente maculada, de modo que a graça não pode agir nela.

No entanto, ao dizer que a natureza ignora seu estado de pecado, esse ponto é o mesmo que ensina a fé católica. A teologia evangélica ignora esse ponto, e introduz, por essa causa, um erro terrível ao tentar explicar o mesmo por outra via.

De fato, a natureza não conhece seu estado caído em sua complexidade e profundidade, mas não foi completamente destruída no sentido de perder o livre-arbítrio. Ela não tornou-se outra natureza.

Esse livre-arbítrio pode ser iluminado pela graça para que a natureza opere e possa perceber sua necessidade de salvação. O Protestantismo afirma que esse ponto é unilateral, ou seja, Deus teria que agir para que a natureza se converta, de modo a que a não participa de fato, como foi acima aludido, ainda que a doutrina reformada tente resolver essa contradição.

Se nada pode contribuir com a graça, então o pecador não participou realmente. Essa separação ou fosso entre natureza e graça é um erro, ao invés de ser o correto. Ela desconsidera a fé católica, esboça uma estrutura que a Igreja Católica não ensina, tenta fornecer o conceito de graça de Deus que age na natureza, mas introduz esse equivocado conceito de separação radical entre natureza e graça.

O continuum natureza-graça que o autor protestante considera no catolicismo não é o mesmo que impacto menos devastador do pecado sobre a natureza, porque para a teologia católica a natureza está morta no pecado, seu livre-arbítrio existe e está inabilitado de ir a Deus, e sem a graça não há possibilidade de salvação, o que é o mesmo que o reformado pretende ao ensinar o fosso que separa natureza e graça. Ainda que não aceite o livre-arbítrio, sua ênfase é que a natureza está morta.

No entanto, quando a graça vem à natureza, essa é ressuscitada, fortalecida e capacitada para agir, de modo que o livre-arbítrio é habilitado, pois nunca foi destruído, e pode cooperar com a graça.

Se esse livre-arbítrio fosse algo que viesse unilateralmente da parte de Deus pela graça ad extra (de fora), então de fato essa participação seria meramente verbal, uma forma de metáfora, algo que de fato não estivesse participando, cooperando, mas apenas sendo movido por algo externo. Não é isso que a Bíblia ensina. Também, é de se esperar, que não é isso que o reformado entende, pois tal coisa é errônea, e por isso usa termos que parecem estar conforme a doutrina bíblica da natureza e da graça conforme a continuidade que é criticada pela teologia evangélica.

Quando se diz que isso leva a conceber a razão como capaz de compreender a revelação geral e a existência de Deus, isso é o que está na Escritura. Desse modo, a graça é necessária para levar o pecador à salvação, mas a razão humana não perdeu sua capacidade de saber da existência de Deus.

O conceito de que as coisas para as quais a Escritura  aponta (reino da natureza) como trazendo significados ocultos, é algo que o teólogo compreendeu da doutrina católica, mas que não faz parte dela. É um equívoco, ou um modo muito inadequado de ensinar a teologia católica.

Outra vez vem o “otimismo moderado” é citado pelo autor. Quando na teologia católica a natureza necessita da graça para ser elevada, transformada, salva, a teologia protestante afirma que ela deve ser recriada. Certamente se refere ao mesmo processo, mas erra ao vê-la como inabilitada como que perdesse algo dela mesma. Por isso, as afirmações reformadas de que a bondade da criação permanece e que essa mesma é terrivelmente maculada de modo a não poder participar da graça e que a graça não pode agir nela, são afirmações que a Bíblia não traz. A graça pode de fato agir na natureza, por dentro, ad intra, e não somente por fora. Ela pode restaurar a bondade da criação que permaneceu.

Quando se diz que o homem é religioso, é o mesmo que indica sua bondade original, que não foi destruída, mas perdida na natureza que pode ser elevada. A graça não faz parte do homem, mas esse, como criatura de Deus, tem sua natureza reestabelecida por Deus através da Sua graça. De fato, não se pode pensar que a natureza perdeu a capacidade para a graça.

A doutrina da salvação não é totalmente sinergética, como explica Gregg. Um pequeno exemplo é capaz de destruir essa afirmação. Esse exemplo gera outras observações e objeções reformadas, mas pode destruir o que Gregg afirmou. Trata-se do batismo infantil.

Na teologia católica o batismo é o sacramento da salvação, onde Cristo age salvando o pecador. A criança que é batizada, e não chegou ao uso da razão, e recebe o batismo pela fé da Igreja, é salva. Ela não fez nada para ser salva e merecer a vida eterna. A gratuidade da salvação é mostrada nesse caso. Isso mostra que a participação do salvo na salvação, quando o mesmo chega ao uso da razão, não o faz autor da própria salvação, mas verdadeiro participante, conforme Vontade de Deus.

E sobre a “deificação”, essa é uma doutrina bíblica. A natureza deve ser transformada para entrar no reino dos céus. O ser humano não se torna deus, mas de um modo metafórico se diz isso, por estar cheio da graça.

Os elementos da natureza usados nos sacramentos por Jesus e pelos apóstolos (água, óleo, vinho, pão e etc.) estão no âmbito sacramental, e são sinais da graça.

A Igreja é o corpo de Cristo místico, agindo em nome de Cristo. A hierarquia é bíblica e o bom senso a compreende naturalmente.

As virtudes podem ser praticadas por qualquer um, mas não levan a salvação sem a graça e não podem ser praticadas perfeitamente sem a graça.

A doutrina sobre a virgem Maria também é importante para entender os efeitos da graça na natureza.

Não há descontinuidade como a teologia protestante entende. De fato, a linguagem mesma da Escritura mostra que a maldade da natureza, que é assunto onde concordam ambas a teologias católica e protestante, essa maldade é transformada pela graça, sendo a mesma natureza criada por Deus, com aquele bem original arruinado, não totalmente perdido ou destruído, como se fosse outra natureza. É o mesmo ser decaído que é salvo. Esse ponto pode auxiliar no vislumbre do aspecto transformador da graça na natureza.

A natureza possui capacidade para Deus, mas que não age por ela mesma, pois necessita da graça. Isso é diverso da afirmação protestante de que a natureza não possui capacidade para a graça.

A transformação da natureza pela graça supõe a continuidade da mesma natureza decaída. Isso é bíblico. As comparações com a transformação do universo e da descida da Nova Jerusalém estão conformes essa verdade.

O mundo tem seus elementos renovados, e a Nova Jerusalém desce à terra renovada. Portanto, essa separação natureza e graça é o problema. E, como indicado acima, essa separação que traz a teologia protestante acontece por uma má interpretação da teologia católica, que muitas vezes afirma o mesmo que a teologia protestante pretende afirmar em outros termos.

De fato, a teologia protestante procurou adotar termos diversos para ensinar conceitos bíblicos. Em alguns casos desconsiderou o que já havia sido resolvido. Equivocou-se nesses momentos. Uma vez negando esse ponto, da busca por nova terminologia e novos conceitos, surge um conceito errôneo da doutrina original, e é introduzido um equívoco para tentar corrigir o que não está errado.


Gledson Meireles.

 

sábado, 17 de agosto de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana, de Gregg Allison

Segue refutação do estudo e avaliação de Gregg sobre a doutrina da encarnação e imaculada conceição

A doutrina da encarnação e a doutrina da imaculada conceição: “ele foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria”. (seção 2, capítulo 2, artigo 3).

O autor protestante reconhece que a Igreja Católica fornece a estrutura histórica para a doutrina evangélica da encarnação. No que diz respeito ao lado humano da encarnação há divergência entre a teologia católica e a teologia evangélica, diz Gregg. Os protestantes contestam praticamente todos os ensinos do Catecismo da Igreja Católica sobre a virgem Maria.

Os pontos em comum seriam o reconhecimento e gratidão pelo papel “singular”  (ênfase acrescentada) da virgem Maria na encarnação de Jesus. Reconhecem que Maria é a theotokos (portadora de Deus).

Também, o exemplo por excelência da fé e obediência da virgem Maria, e “sofrimento pessoal associado à vida e ao sofrimento do seu filho”.

E, por fim, os protestantes consideram a virgem Maria bem-aventurada por causa da obra de Deus feita nela e “por meio dela, a favor de todos os seres humanos”.

Essas doutrinas que Gregg afirma que estão em comum entre católicos e evangélicos, e que são a pura verdade da Escritura, certamente não serão aceitas por todos os protestantes, como é de se esperar. Ainda mais, nos termos importantes que Gregg as apresentou. De fato, pela sua leitura do Catecismo há algo que certamente o influenciou e o convenceu a aceitar essas verdades.

O papel singular de Maria, a excelência da sua fé e seu sofrimento associado a Cristo e sua bem-aventurança onde Deus através dela também fez a todos os seres humanos. De fato, é comum que o protestante negue qualquer afirmação do papel singular de Maria na encarnação, que desconheça e que também negue seu sofrimento associado a Cristo e que negue qualquer obra de Deus nela em favor de todos os seres humanos. São doutrinas bíblicas, mas que o ranço antimariano faz o leitor protestante combater as noções que advém atém mesmo dessas palavras. Pois bem. Maria teve fé singular de fato. Maria sofreu com Jesus. Deus pôs Sua graça de forma grandiosa sobre ela, e por meio dela, essa graça atinge a todos os seres humanos, pela graça de Cristo Jesus.

Dificilmente se encontram essas afirmações na teologia protestante. É um passo digno de nota mais próximo da verdade que os protestantes estão dando.

Agora, vejamos as quatro discordâncias. Se há protestante que critica mesmo as concordâncias, estão praticamente unidos quanto às discordâncias que se seguem.

A predestinação de Maria e sua livre cooperação e ao desígnio divino de apresentear Maria como a nova Eva. Então, a doutrina da virgem Maria como segunda Eva é considerada exagerada e sem fundamento. É impressionante.

De fato, o protestante com o seu Sola Scriptura procurará a analogia direta e explícita da virgem Maria como antítipo de Eva. Não a encontrando assim, afirma  que não existe. Também, não consegue encontrar sinais dessa aproximação. Conclui que não tem fundamento.

No entanto, a partir de Cristo é possível entender que a Mulher associada a Ele na graça é coloca virtualmente em toda a Escritura Sagrada como Eva era aproximada a Adão no pecado. Essa simples constatação é compreendida por qualquer estudioso da Escritura. É muito natural, se torna claro e compreensível. Não há nada contrário a esse pensamento na Bíblia, e a razão assim iluminada pela fé, comprova a analogia. Desse modo, caro leitor protestante, repense sua oposição a essa doutrina, pois não há motivo de negá-la.

Tudo o que acontece é por obra de Deus, em Sua soberania, em Sua providência. Maria foi eleita para ser a mãe do Messias. O anjo Gabriel anunciou a encarnação de Jesus e Maria respondeu sim, dizendo: Faça-se em mim segundo a vossa palavra. Por isso, o Catecismo interpreta esse fato como ocorrendo segundo a vontade de Deus, que predestinou Maria. Não se pode negar nada dessa constatação. Ainda assim, o protestante é levado a negá-la, sem fundamento.

Quando se reconhece que Deus predestina indivíduos para a salvação e para um serviço específico, mas nega que haja algo de notável na predestinação de Maria, para que o autor não conseguiu ficar no foco da questão. É o mesmo ato de Deus, o de predestinar, que está sendo observado. É algo de grande importância para a humanidade, a encarnação do Filho de Deus. É uma obra que elege uma virgem para ser a mãe do Filho do Altíssimo. Essa obra por si só é notável. Ao predestinar Maria para tamanho acontecimento, a Bíblia mostra que se trata de algo notável na vida dessa jovem, de modo que a própria ficou surpresa com a saudação do anjo e refletia sobre suas palavras. Negar essa notabilidade na predestinação de Maria, essa importância, é algo gratuito, não tem fundamento bíblico, nem no bom senso.

Entendendo a economia de Deus, a Igreja em todos os séculos, refletino a Sagrada Escritura, afirma que: “Maria “sobressai entre (esses humildes e pobres do Senhor que dele esperam e recebem com confiança a Salvação. Com ela, finalmente, excelça Filha de Sião, depois de uma demorada espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova criatura” (CIC, número 489).

Gregg critica que o Catecismo chame Maria de “exaltada Filha de Sião”. Mas isso é muito pueril. De fato, no contexto inteiro, ao comparar Eva, Sara, ana, Débora, e outras santas mulheres, afirmar que Maria se sobressai entre elas, como humilde e pobre do Senhor (entre os humildes e pobres do Senhor), chega-se a Cristo, que nasce dessa “excelsa Filha de Sião”. É algo bíblico, notório, plausível, claro,  racional, e não há nada que fundamente dizer que se trata de exagero afirmar que das santas mulheres a virgem Maria foi excelsa, exaltada. A própria Escritura afirma isso, quando diz que Jesus é o bendito fruto do ventre de Maria, e que a virgem Maria é a bendita entre as mulheres. Portanto, não concordar com essa afimação bíblica do catecismo sobre a exaltação de Maria é algo igualmente que devia ser pensado pelo leitor da Bíblia.

Também, o teólogo mostra que o Catecismo deixa entender que o cumprimento do longo tempo de espera se cumpre em Maria. No entanto, o Catecismo afirma que “com ela” esse tempo chega à sua plenitude. Com ela, diz o Catecismo, completam-se os tempos. Isso é óbvio, pois o parágrafo está falando de Maria, e quando o texto bíblico é citado, a teologia católica entende perfeitamente que se trata da encarnação de Jesus nascido de Mulher, cumprindo a plenitude dos tempos. Assim, em Jesus é que se dá o cumprimento. Com Maria, pois ela é a Mulher da qual nasceu Jesus. É simples o ensino do Catecismo, não tendo nada a ser objetado.

O teólogo protestante tenta conciliar duas coisas: ele concede e admite as verdades do Catecismo, mas ao mesmo tempo apresenta a teologia protestante, ainda que essa não tenha razões para refutada nada do que foi dito.

Por exemplo, ele admite que a predesntinação de Maria foi singular, ou seja, especial, com uma característica muito importante, para um papel sublime, como foi tratado acima. Mas nega que há algo notável. Por um lado, aproxima-se da teologia católica ao reconhecer a verdade, a por outro usa a negação protestante ficando do lado reformado, embora as duas afirmações sejam únicas, pois uma vez que se considera o singular papel de Maria também se reconhece que sua predestinação é notável, é admirável por sua associação na vidad de Jesus como sua mãe. Não é possível negar isso biblicamente nem racionalmente.

O autor então admite que Maria foi profeticamente anunciada etc., mas critica que a teologia católica parece enfatizar algo logo de imediato, colocando em ênfase e associação a condição e Maria e a sua predestinação. E nega a livre cooperação e Maria, por entender que refutou o axioma natureza-graça. Negando o livre-arbítrio, nessa livre cooperação de Maria, o protestante cai em mais erros ainda.

Quando se diz também que não há respaldo bíblico para entender Maria como a segunda Eva, como toda a tradição cristã sempre enfatizou, o leitor protestante está tentando encontrar na Escritura algo explícito, claro, uma comparação feita nas passagens bíblicas, assim como é feito entre Adão e Cristo. No entanto, o que o leitor protestante não está compreendendo, é que essa leitura bíblica é feita em Cristo, nessa mesma analogia de Adão e Cristo. Se no proto-evangelho a semente (Jesus) da mulher (Maria) esmagará a cabeça da serpente (Satanás), então na figura de Eva pode-se vislumbrar Maria. É algo claro, que o teólogo protestante, seguindo a estrutura de pensamento reformado, não consegue entender. E, também, não tem como refutar, não podendo apresentar nenhuma passagem bíblica que torne a leitura católica um erro, ou algo não plausível. De fato, toda a Escritura mostra que a doutrina e bíblica. O mesmo paralelo bíblico de Jesus como segundo Adão é apenas tornado claro, iluminando a figura de Maria, completando o paralelo implícito da mesma como segunda Eva. É algo que vem à luz ao entender essa verdade sobre Jesus Cristo.

Assim, rejeitar a exposição católica da predestinação de Maria e seu consentimento que mostram ser ela a mulher que associou-se ao segundo Adão, e isso pela vontade de Deus, essa rejeição não é uma postura bíblica. Se Cristo é o segundo Adão, fica praticamente inevitável entender em toda a economia divina que Maria é a segunda Eva.

Como o protestante pode crer que não há nada de notável na predestinação de Maria para ser mãe de Jesus.

Quanto ao cumprimento depois do longo período de espera, que se cumpre em Jesus, a teologia católica, à luz dessa verdade, mostra que por essa verdade está também a participação da virgem Maria, mãe de Jesus.

Ao que parece, Gregg Allison entende que a preparação da virgem Maria para que respondesse à missão de ser a mãe do Messias devesse ser pela imaculada conceição. Veja o que teólogo protestante afirma: “Conforme dissemos acima, o consentimento de Maria à predestinação divina a fez cooperar livremente com o plano divino. Contudo, para que Maria concedesse sua aprovação, ela tinha de ser preparada...”. Não é isso que diz a doutrina católica. O Catecismo afirma que ela tinha que ser totalmente movida pela graça de Deus. Não afirma que essa cooperação só seria possível pela imaculada conceição. Mas Gregg afirma que um elemento fundamental nessa preparação foi a imaculada conceição, e afirma que nisso a teologia evangélica discorda. Certo.

No entanto, há três problemas relacionados entre si. O primeiro que é a explicação de Gregg Allison está equivocada. Segundo, que parte desse equívoco leva à negação da doutrina. Terceiro, como bom protestante, ele nega a imaculada conceição de Maria. A capacitação de Maria para dar seu consentimento não exige a imaculada conceição, segundo a doutrina católica. Se o protestante entendeu que há essa exigência, que saiba ser uma interpretação errônea do que ensina o Catecismo.

De fato, a graça capacitou Maria a dar o seu consentimento. O que a doutrina católica ensina, de forma mais ampla, é que Deus preparou Maria sem o pecado porque isso convinha mais à dignidade de Cristo, que é Deus, é que seria no mínimo estranho ser gerado em uma criatura que comete pecado. A natureza de Maria é a mesma de toda a humanidade, em seu direito, e foi salva pelo sangue de Cristo, de modo que nasceu na amizade com Deus, justificada. Não há qualquer dificuldade de entender a doutrina, e está toda conforme a revelação bíblica.

Também, o leitor protestante precisa entender que a Igreja Católica não interpreta Lucas 1, 26-38 como se a passagem se detivesse em Maria. De forma alguma. Ali está a narrativa de como se deu a anunciação, e Maria é um elemento importante nesse conteúdo todo. O que o Catecismo faz é explicar o papel de Maria nessa passagem, e não torná-la o foco da questão. O núcleo é Jesus Cristo. Maria é importante por ser um meio, digamos, em todo esse processo querido por Deus.

A citação de Beverly Gaventa observa que há um contraste entre a apresentação a Maria e aquela apresentação a Isabel e Zacarias. Não diz o texto sobre a retidão de Maria e nem sobre sua fidelidade à Lei ou sua família de origem. Não há qualificações. Cita Joel Green que tem o mesmo raciocínio. Afirma que é digno de nota a falta de menção sobre ser digna de honra como outros personagems de Lucas 1 e 2.

Então, isso significa que não devemos atribuir papel exagerado a Maria? Ou significaria que ela é menor. De fato, de outros personagens é citada sua justiça, sua observância à Lei, sua origem. De Maria não é dito nada. O que concluir, se tivermos essas observações em consideração? Que Maria era até menor que os demais. Talvez não fosse boa observadora da Lei? Não fosse suficientemente digna em termos humanos comos os outros? Parece isso ser a observação dos protestantes citados.

No entanto, essa singularidade, pelo contexto geral, manda a mente cristã iluminada pela Palavra de Deus a outra direção. Essa mulher, da qual não se diz muita coisa, mas o que é dito é de garnde relevância. De fato, a humildade de Maria transparece em toda a cena. A sua fé, a sua entrega, a sua obediência. O modo como é chamada pelo anjo celestial, que não diz seu nome, mas a chama por um título, o que não é encontrado em nenhuma outra passagem em referência a ninguém mais. Portanto, as observações protestantes que tentam evitar “exageros” tendem a levar à minimização de Maria e ofuscar a mensagem bíblica geral sobre a mesma. Os protestantes que quiserem manter-se na estrada reta de compreensão da Bíblia, devem fazer como santa Isabel, curvar-se diante da mãe do Senhor e reconhecer-se honrada demais ao receber sua visita.

O leitor deve estar notando a tentativa de Gregg de mostrar a posição protestante como se a mesma foi correta, mas ao passo que a avaliamos ela se mostra bastante equivocada em todos os pontos de discordância.

Quando Maria diz “cumpra-se em mim”, de fato a teologia católica não diz que essa frase tem caráter imperativo, como se Maria mandasse, não está expressando nenhuma autoridade ao anjo Gabriel nem a Deus, longe disso, mas está totalmente movida pela graça divina, na total submissão da vontade de Deus, na humildade da Sua serva, de modo que ela escolheu o melhor. Também aqui a teologia protestante não compreende bem a teologia católica e equivoca-se ao distanciar-se do catolicismo. O entendimento dessa questão é correto por parte de Gregg, onde Maria expressa seu desejo de se submeter à vontade de Deus. No entanto, ele cria algo como que um espantalho, como se o fiat de Maria fosse sua autoridade, imperativa, no processo, o que não é correto, e o mesmo ataca essa noção, como se fosse católica, e apresenta a interpretação correta, da humildade de Maria na narrativa, que é a posição católica. Outro desequilíbrio na interpretação de Gregg Allison.

Se os protestantes veem Maria como exemplo por excelência de fé e obediência, estão agindo corretamente. É verdade que não se encontram facilmente palavras assim em relação a Maria, escritas por protestantes: exemplo por excelência. Isso já foi explicado acima.

No entanto, quando os católicos consideram Maria como excepcional, grande e bela, e honrada por sua livre cooperação, estão agindo biblicamente. O protestante que não considera essas prerrogativas, que advém de Cristo, que é Deus, e plenamente perfeito, iluminando a humanidade da sua mãe, então os protestantes estão apresentendo a doutrina mariana equivodamente. A santidade de Maria é percebida pelo relato bíblico sobre Seu Filho Jesus Cristo.

Obviamente Deus é que cumpre tudo na vida de Maria. Essa é doutrina católica. Gregg a apresnta como se tivesse afirmando algo novo na sua avaliação.

A teologia católica afirma que “cheia de graça” não é novo nome de Maria, mas apenas há afirmações desse porte no nível místico. Maria tem um nome: Maria. No entanto, ao chamá-la por aquele título, a Escritura mostra que há algo escondido em seu sentido. A Igreja entende que se trata de sua imaculada conceição. Onde há graça total não há pecado. É simples.

Se a criatura e plenamente amiga de Deus, está conforme Sua Vontade, então ela não comete pecado. Estar na comunhão com Deus de forma plena na vida individual, e não apenas de forma forense, não apenas legalmente, não apenas potencialmente, mas de fato, é o mesmo que estar sem pecado. Isso é a imaculada conceição.

A virgem Maria foi preservada do pecado por ser aquela da qual a humanidade de Jesus seria formada, e não porque Deus não possa vir a um mundo pecaminoso, em um mundo indigno da sua presença. As duas coisas são distintas.

Reconhecer a grandeza de Maria, sua elevação sobre todos, sua dignidade, é conhecer melhor a Pessoa de Jesus Cristo. Maria é figura da Igreja. A Igreja que será purificada até tornar-se sem ruga nem mancha, totalmente imaculada, com foi Maria, a primeira que acreditou diretamente em Jesus Cristo. Ela foi formada segundo o modelo de Cristo, e no fim toda a Igreja o será. Essa doutrina é totalmente bíblica.

Maria não está em uma categoria alta a inantingível, mas indica a categoria que os salvos alcançarão. A teologia protestante mais uma vez ignora e nega essa verdade que lhe é apresentada. E o faz por motivos muito desconjuntados. Olhar para Maria e esforçar-se para assemelhar-se a ela, e a Cristo, é humildade. Santa Isabel pô-se menor que Maria, elevou-a. Os cristãos de todos os tempos fazem o mesmo.

A teologia protestante reserva a ideia de Maria como mulher ideal. Porém, como a teologia protestante tem o pecado em grande conta nesse sentido, de forma a torna-lo quase que impossível de ser remido, afirmando que Deus não vê alguém como ideal nem transforma alguém em ideial, o que reflete essa ideia, embora não seja essa a intenção do autor e da autora citada, é preciso mostrar que a Bíblia mostra Maria como exemplo de humildade. Esse exemplo de fé a torna digna de veneração. Com afirma a Escritura, pela escrita de São Paulo: sejam meus imitadores como eu o sou de Cristo. Imitem Maria, como ela é imitadora de Cristo. O texto não diz: passem direto a Cristo, pois ela O está imitando, imite-O também. A ideia é ir a Cristo, mas é preciso cautela aqui: a Escritura ordena a ter exemplos, a imitar os outros. Nessa imitação da virtude dos santos, se vai a Cristo. A doutrina bíblica é mais abrangente. A teologia protestante se equivoca outra vez.

O terceiro lugar citado por Gregg diz respeito a que os protestantes discordam a virgindade perpétua de Maria. Vale lembrar que os reformadores protestantes, ainda que estivesse interpretando a Bíblia por si mesmos, continuaram a crer nessa verdade. A virgindade de Maria depois do parto não é afirmada na Escritura. Não é tampouco negada. De fato, não é assunto da Escritura. A Escritura, porém, pelo seu teor geral, leva a concluir que a virgem Maria permaneceu nesse estado. Isso lembra o conselho bíblico de permanecer no estado em que está. Maria está casada, grávida, virgem. Continuou casa, foi mãe e permaneceu virgem, e não teve mais filhos.

A Sagrada Escritura trata da questão das relações sexuais que não foram realizadas para a concepção de Jesus e nem durante o período de gravidez para deixar claro que não houve interferência humana. Não há intuito de afirmar mais do que isso em Mateus 1, 25.

Jesus é mostrado como filho primogênito de Maria e a Bíblia cita seus irmãos. Contudo, o título primogênito é dado no nascimento, ainda que seja filho único. Ademais, o termo irmãos é usado em sentido amplo e significa, no caso de Jesus, os parentes de Jesus.

A Escritura afirma que todos possuem natureza pecaminosa e pecam a vida toda. Jesus é exceção, pois apesar de ter natureza humana não foi concebido em pecado. Maria possui natureza humana, mas foi limpa na concepção, de modo que Deus a acolheu desde o instante em que a criou. Ela não cometeu pecado a vida toda, pois foi preparada para ser mãe do Salvador, e não podia gerá-lo e carrega-lo no ventre pecando, estando sob o império do pecado. Essa doutrina bíblica é confirmada na tradição.

Como mostrado, toda a doutrina católica sobre a virgem Maria é bíblica. Foi refutado cada argumento protestante apresentado por Gregg.


Gledson Meireles.

 

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

LIVRO: Teologia e prática da Igreja Católica Romana: A doutrina da ressurreição: “desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”

 

A doutrina da ressurreição: “desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”.

Como funciona o Sola Scriptura para os protestantes? Ao analisar a doutrina da descida de Cristo à mansão dos mortos, pensemos um pouco sobre isso.

De fato, ela trata de uma das passagens mais difíceis de serem interpretadas nas Escrituras. Assim, aquela postura protestante sobre a clareza Bíblica, e sobre a afirmação de que as coisas que Deus quis revelar, são aqui demonstradas de modo mais prático. Esse assunto foi revelado? É importante para a salvação? A resposta cristã catálica para ambas as perguntas é sim.

Cristo continuou existindo em Sua Pessoa divina entre a Sua morte e Sua ressurreição. É claro que não poderia ser diferente? E quanto à Sua humanidade? Não há outra pessoa de Cristo, mas uma só. É Sua Pessoa divina. Então, não morte, a humanidade de Cristo sofre a morte e a Sua Pessoa experimenta esse estado por meio da Sua humanidade.

Por outra perspectiva, diríamos que Cristo assumiu a natureza humana para morrer, e assim conheceu a morte. Desse ponto de vista, está certo que a morte não é inexistência, pois Cristo não pode deixar de existir. Também é fato que a natureza em si não é algo capaz de experimentar a morte se não for consciente, uma pessoa. Portanto, Cristo experimentou a morte porque tornou-Se homem.

Há protestantes que concordam com a doutrina da descida de Jesus à mansão dos mortos, e outros não, conforme diz Gregg. Isso mostra a diferença que há entre a fé católica e a fé protestante. Católicos e protestantes possuem a Bíblia, ambos podem interpretá-la.

O protestante afirma que há clareza bíblica, e que pode descobrir o que Deus quis revelar. No entanto, muitas vezes interpreta diferentemente da tradição e do magistério da Igreja Católica.

Então, para não encontrar-se em situação desconfortável, deve afirmar que essa doutrina não é essencial para a salvação, para poder continuar com sua interpretação particular, ou do seu grupo, contra a doutrina geral claramente explicada pela Igreja Católica e confirmada em toda a tradição.

Mas, alguns dirão, contra a interpretação tradicional, que a expressão desceu à mansão dos mortos desenvolveu-se na história de um modo duvidoso, pois não estava nas versões mais antigas do Credo. Então, duvidam da origem apostólica da expressão e da interpretação bíblica, afirmando que a Bíblia não fala do assunto de forma explícita.

No entanto, quando o leitor examina a Escritura e fica com outra opinião e não a posição oficial da Igreja, ele não tem a certeza de sua posição, e ainda assim se recusa a deixá-la, e afirma estar interpretando a Bíblia e seguindo seu ensinamento. Isso mostra que autoridade interpretativa particular ou coletiva, de um grupo cristão, está acima de tudo, o que é um fato, já que a posição consagrada pela Igreja, equilibrada, clara, sólida, é descartada.

E quando se apresentam objeções à posição oficial, a Igreja possui respostas satisfatórias. Basta estudar a colocar-se sob a autoridade da Escritura, que afirma que a Igreja é coluna e sustentáculo da verdade. Então, o princípio Sola Scriptura estará sendo corretamente seguido, pelo cristão católico, pois uma vez ouvindo a Igreja temos o fundamento para essa obediência vindo claramente da própria Escritura Sagrada. Ou seja, há uma doutrina clara e revelada, que é a de ouvir a Igreja, e outra que está sendo examinada por ser menos clara. A Igreja possui a resposta. E o católico a encontra por ser comportar biblicamente ouvindo Bíblia e a Igreja.


Gledson Meireles.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana

Refutação a respeito do cânon bíblico e da interpretação bíblica oficial

O cânon da Escritura

 

Não é possível afirmar que os livros da tradução dos LXX, a Septuaginta, não estavam contidos na Bíblia hebraica, e que nunca fizeram parte dela, simplesmente porque o cânon não estava fechado no tempo de Cristo, no primeiro século.

Essa afirmação de Gregg Allison é gratuita. Se não havia cânon, não se pode afirmar que tal livro nunca fez parte de uma lista. É o primeiro ponto refutado.

Ainda, se a Igreja usou a Septuaginta e não fez qualquer crítica a seus livros no primeiro século, é outra evidência de que o cânon estava em aberto.

Existem evidências a favor de ambas as posições? Vejamos. A lista de Melito em 170 d. C. não contém Ester. E Ester é um livro inspirado. Ele não era reconhecido em toda a Igreja da época. Então, o cânon estava em aberto.

Orígenes, no século III, inclui a cara de Jeremias, o que prova que o cânon estava em aberto.

Santo Atanásio, no ano 367 d. C., inclui a Carta de Jeremias e Baruque. Também, Santo Atanásio não inclui Sabedoria, Eclesiástico, Ester, Judite e Tobias. Então o próprio livro de Ester estava sendo rejeitado por muitos, e certamente não poderia ser usados para fundamentar doutrina, o que mostra que o cânon estava em aberto.

São Cirilo optou pelo cânon hebraico. A falta dos Deuterocanônicos na maioria dos escritores dessa época não mostra que eram rejeitados sempre, assim como a rejeição de Ester e a aprovação de Baruque não prova que sempre foi assim. Eram tempos de discernimento.

E mais. A contagem dos livros divergia entre os escritores cristãos.

Gregg fala da intervenção decisiva de Santo Agostinho ao aceitar o cânon com os deuterocanônicos, seguindo os apóstolos.

A lista dos livros inspirados, conforme aceito por Santo Agostinho, foi também definida em Concílios regionais, como o de Hipona em 383, o terceiro de Cartado em 397 e o quarto de Cartago em 419.

Isso evidencia que a questão havia sido fechada, pois em todos esses concílios o cânon era idêntico, com os 46 livros par ao Antigo Testamento e 27 para o Novo Testamento.

Santo Agostinho não poderia ser o influenciador de todo esse consenso, mas a decisão dos concílios é testemunho histórico da unidade da Igreja da época sobre o cânon, e que Santo Agostinho refletia essa unidade.

Assim, o teólogo protestante mostra que essa decisão foi adotada sem contestação significativa até o século 16. Essa constatação comprova a verdade do cânon católico.

É evidente que o cânon cristão estava fechado, pelo que se pode notar nas decisões anteriores, mas que ainda surgiam algumas dúvidas, talvez pela falta de comunicação e pelas dificuldades existentes na época, e porque a Igreja não havia sido plenamente clara nesse ponto ainda.

Fica claro também que o Protestantismo rejeitou os deuterocanônicos por motivos doutrinais, e pelo equívoco de que o cânon de 22 livros hebraicos estava fechado no primeiro século. Essa decisão dos judeus foi feita mais tarde. E quando o Protestantismo adere a essa decisão e não a da Igreja, está agindo equivocadamente, mostrando sua cisão com a tradição bem desenvolvida.

Gregg Allison cita um argumento de Peter Kreeft. Esse afirma que a Bíblia foi escrita pelos apóstolos e santos e definidas pelos bispos que os sucederam, ou seja, a Igreja escreveu a Bíblia e a Igreja definiu a Bíblia.

Mas Gregg afirma que isso é uma perspectiva equivocada. E para provar sua asserção, afirma que essa visão de Kreeft não considera o real desenvolvimento do cânon.

Seria uma negligência não reconhecer que Santo Agostinho “rompeu com uma tradição bem desenvolvida”, que era adotada por São Jerônimo. E qual seria essa tradição? A tradição de não incluir os escritos deuterocanônicos, que são chamados pelos protestantes de apócrifos. No entanto, como citado acima, em pleno século IV Santo Atanásio reconhecia a inspiração de Baruque. Então, não existe tal tradição aludida por Gregg.

Entretanto, conforme mostrado pelo próprio Gregg, havia divergência desde o início, e a Carta de Jeremias e Baruque foram reconhecidos por alguns escritores cristãos, assim como o livro de Ester foi rejeitado por muitos. Isso mostra ignorância, pois tanto uma posição como a outra não é encontrada no cânon protestante. Assim, não há uma tradição bem desenvolvida.

De fato, Santo Atanásio fala de 22 livros da Bíblia, o que sugere o cânon idêntico ao protestante, mas a contagem que faz desses livros inclui Jeremias, Baruque, Lamentações e a Carta de Jeremias em um só livro. Essa tradição à qual alude Gregg não existe.

Também, ao afirmar que os concílios que definiram o cânon, como citado acima, eram concílios regionais que refletiam a influência de Santo Agostinho, não ajuda o argumento. Pense bem. O Protestantismo nega a unanimidade da Igreja antiga sobre o cânon bíblico. De fato, é inegável que a prova está do lado do cânon católico.

Primeiro, não há unanimidade na rejeição dos deuterocanônicos, como provado acima.

Segundo, a posição de Santo Agostinho menciona a posição dos apóstolos, o que é digno de nota.

Terceiro, os concílios da antiguidade foram unânimes na definição dos livros do cânon católico, o que mostra que o consenso da Igreja na época.

Quarto, deve-se lembrar que o próprio São Jerônimo concede traduzir os livros que Santo Agostinho propôs, o que mostra que sua posição não era ratificada pela Igreja da época.

Tudo na direção que evidencia a autenticidade do cânon católico. Se o protestante não puder refutar cada argumento acima, que aceite a verdade do cânon católico.

Ainda, refutando a segunda objeção de Gregg, a autoridade da Igreja leva em conta a Escritura redigida anteriormente, de modo que essa foi reconhecida pela Igreja. Essa Escritura contem 73 livros.

O fato é que não havia cânon judaico no tempo dos apóstolos, e quando a Igreja definiu os livros inspirados ela o fez sem a participação dos judeus, pois esses não seguiram Jesus e não aceitavam o evangelho.

É claro que a Palavra de Deus precede a Igreja. A Igreja reconheceu o cânon.

O que está sendo discutido é a definição dos livros para os fieis, que foi produto da Igreja, o que não torna a Igreja acima da Bíblia, mas continua mostrando que a Igreja é serva da Palavra. A Bíblia está acima da Igreja, ela é seu alimento e força.

Portanto, a perspectiva protestante para o cânon que rejeita os deuterocanônicos possui essas dificuldades insolúveis. Deve-se, portanto, reconhecer que o cânon foi fechado após o século primeiro.

Na Igreja não havia unanimidade para rejeitar ou adotar os deuterocanônicos em geral.

Não há tradição que sugira que os sete livros deuterocanônicos devessem ser rejeitados como inspirados.

Os concílios da Igreja definiram o cânon que continua até hoje na Igreja Catolica.

São Jerônimo cedeu ao pedido de Santo Agostinho para traduzir os outros livros, e não o faria se tivesse certeza que a posição oficial os rejeitava. Portanto, a opinião anterior de São Jerônimo era particular.

E, como Gregg não mencionou, concílios ecumênicos posteriores confirmaram o mesmo cânon daqueles antigos concílios regionais, inclusive o Concílio de Trento, que usou da máxima clareza ao definir novamente os mesmo livros.

Esse dado histórico inegável e irrefutável, refuta o que Gregg tentou provar, ou seja, que o cânon curto já existia no primeiro século. Ele partiu dessa suposição para apresentar toda a questão, que fez de modo interessante, e que contraria a suposição do autor.

Foi a única prova que o mesmo sugeriu em sua apresentação. As demais objeções fluem dela. Sendo essa prova refutada, e cada objeção também, não fica de pé a posição de Gregg Allison.

As objeções que apresentou foram todas refutadas. Desse modo, basta que, uma vez provado historicamente, e racionalmente, que o protestante aceite o cânon com todos os 73 livros inspirados.


A interpretação oficial da Escritura

 

Quando a Igreja afirma que tem o direito exclusivo de interpretar a Bíblia, está agindo razoavelmente. De fato, o protestante também não pode interpretar a Bíblia contra a interpretação oficial do Protestantismo.

Gregg afirma que os protestantes não possuem um magistério para julgar se a intepretação da Escritura é autêntica e autorizada. As igrejas protestantes insistem que cada crente utilize princípios sólidos de interpretação, sob a orientação do Espírito Santo e com ajuda dos líderes divinamente ordenados e capacitados. Ou seja, os protestantes possuem o mesmo que os católicos nesse quesito. O que resta saber é se os lideres protestantes são ordenados por Deus como os líderes católicos. Ainda, Gregg não afirmou, mas é preciso lembrar, que a interpretação dos crentes protestantes só será autêntica e autorizada se estiverem conforme as doutrinas aceitas pelo Protestatnismo geral. Caso não, serão desconsideradas. Nesse ponto, agem como a Igreja Católica.

Os protestantes afirmam a clareza da Escritura. Gregg também afirma que o quádruplo sentido da Escritura gera desconfiança entre os protestantes por causa da clareza bíblica mencionada.

Ao dizer que as palavras da Escritura apresentam sentidos ocultos que podem comunicar graça, é algo desconhecido na teologia católica. Falando a protestantes, Gregg ensina algo que não se encontra na doutrina católica.

Conforme a doutrina católica, expressa no Catecismo, todo sentido da Escritura é fundamentado no literal. Então, quando os protestantes propõem uma interpretação para chegar a um sentido simples, verdadeiro e gramatical do texto, está agindo como católico.

Em resumo, os princípios de interpretação bíblica de Lutero e Calvino, elencados por Gregg Allison, são: 1.falimiaridade com a carta aos Romanos. Os cristãos católicos estudiosos da Bíblia têm essa familiaridade. Todos os católicos podem e deveriam estudar a Bíblia, segundo suas possibilidades.  2. Sólida estrutura teológica. Todos os católicos são aconselhados a isso. 3. Visão Cristocêntrica. Essa visão é essencialmente católica. O catecismo ensina que toda a Escritura fala de Cristo. 4. Contexto. É tipicamente católica a interpretação que tem apreço primordial pelo contexto. 5. Analogia da fé. Essa analogia do ensino de toda a Escritura. 6. Humildade, etc. Isso é parte da prática católica. Assim, todos esses conselhos são compartilhados por católicos e protestantes.

Foi refutado o sola scriptura e mostra a importância da tradição. A interpretação literal é preeminente, e a espiritual é fundada no literal. Os quatro sentidos mostram a riqueza da interpretação católica. Basta notar o quanto é superior quando se compara a interpretação católica e a protestante. Para uma constatação dessa realidade, que o leitor leia o livro sobre a imortalidade da alma.

Quanto ao cânon, a Igreja Católica recebeu de Cristo e dos apóstolos os livros inspirados e os definiu nos concílios regionais e ecumênicos.


Gledson Meireles.


domingo, 11 de agosto de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana: uma avaliação evangélica

Avaliação do tópico:

A doutrina da revelação: Deus vem ao encontro do ser humano

A Sagrada Escritura, artigo 3

Gregg explica que pelo processo interpretativo deve-se buscar os quatro sentidos da Escritura. Os dois sentidos, de que fala o Catecismo, que se tornam seu significado quádruplo.

É um meio de explicar o que o Catecismo afirma em outras palavras. Mas, parece que a exatidão não está sendo total. De fato, o Catecismo fala da uma antiga tradição que distingue dois sentidos (literal e espiritual) da Escritura, onde o sentido espiritual se divide em alegórico, moral e anágogico, e que a concordância entre os quatro sentidos garante a riqueza da leitura vida da Escritura na Igreja. Não afirma que se deve buscar os quatro sentidos mas que tradicionalmente esses quatro garantem uma riqueza para a leitura da Bíblia na Igreja. É algo que não tem implicações sérias, mas parece não ter ficado exposto o sentido que o catecismo traz.

Também, quando se explica o sentido espiritual, Gregg explica como “o sentido não das palavras da Escritura, mas das coisas... No entanto, o Catecismo afirma que não somente o texto da Escritura, mas também as realidades e os acontecimentos. Assim, o Catecismo afirma que o sentido espiritual está nas palavras e nas coisas, e Gregg entendeu que está apenas nas coisas, e não no sentido das palavras. É algo bastante sutil, mas que pode trazer diferenças quando à exatidão da exposição da doutrina católica.

São somente essas observações mais importantes na apresentação de Gregg Allison. Agora, vejamos sua avaliação evangélica do artigo sobre a Sagrada Escritura.

Gregg nota que a revelação divina é a revelação especial, no jargão evangélico. E em geral ele nota concordância com a doutrina protestante.

Quanto à transmissão da revelação divina/Solacriptura, Gregg Allison afirma que  há grande distanciamento entre as duas posições, católica e evangélica. O Protestismo afirma somente a Escritua, e nesse ponto não há tradição. Não seria Escritura mais Tradição, mas a Escritura seria formalmente suficiente. Esse é o princípio fundacional do Prostantismo quanto à Bíblia.

E o teólogo apresenta as razões que o Protestantismo tem para rejeitar a tradição como meio distinto de revelação. A primeira razão é a ideia da Tradição como suplemento ao texto da Escritura.

Pode-se dar uma resposta da teologia católica a isso, mostrando o erro da teologia protestante. Jesus disse em João 16, 12 que ainda tinha muitas coisas a dizer, e que os apóstolos não podiam suportar ainda. Com isso, tem que é de suma importância o que Jesus tinha a dizer.

Então, Calvino afirma que quando os apóstolos puseram por escrito eles escreveram tudo, de modo a não ter mais lugar para lembrar algo relativo a isso de viva voz, todo “o conhecimento perfeito e específico da doutrina evangélica”.

Há um problema aqui que a teologia protestante não consegue resolver. Jesus afirma que há algo mais a ser dito por Ele, o que presume-se que é de suma importância, pois vem de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o próprio Deus Filho. Ainda, os apóstolos não podiam suportar naquele momento, o que demostra ser algo de importância real.

Então, mais tarde puderam aprender e suportar, pois o Espírito Santo os guiou a toda a verdade. No entanto, há uma diferença entre ensinar toda a verdade e “deixar registrado por escrito” toda essa verdade. Esse suposição não está no texto, e é algo que a teologia evangélica acrescenta.

São Paulo escreveu: “Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa” (2 Ts 2, 15).

Nesse momento o apóstolo estava inspirado, e ensinada toda a verdade, guiado pelo Espírito Santo. Contudo, ele não o fez por escrito todo o ensinamento, mas parte por escrito e em parte por palavras. E por que não colocou tudo por escrito? Porque tal ordem nunca existiu. Jesus mandou ensinar, mas não indicou o meio obrigatório.

A melhor forma de revelação escolhida foi a escrita, e assim nasceu a Bíblia. No entanto, há espaço para outros modos de ensinar, e Jesus deixou essa possibilidade na Sua Igreja.

Entende-se assim, que algumas coisas ficaram no modo de viver da Igreja, de forma que são palavra de Deus, guardada pelos apóstolos e conservada na Tradição, mas que viveram por meio das práticas da Igreja, conservadas na liturgia, conhecida através dos escritos dos santos padres, etc., que indicam a origem apostólica.

Dessa forma, os apóstolos conheceram toda a verdade salvífica, e a ensinaram de fato. O meio que fizeram foi primordialmente por palavras, mas conservadas soberanamente por escrito enquanto outros dados da revelação eventualmente permaneceram por palavras, e foram mais tarde registradas pelos cristãos. Portanto, a forma que a Palavra oral foi conversada não é inspirada como o texto bíblico, mas é Palavra de Deus igualmente. Nenhum escrito patrístico é inspirado, mas testemunha de algo que veio dos apóstolos.

Dessa forma, o texto de 2 Ts 2, 15 tem implicação importante. Ele mostra que naquele instante o apóstolo inspirado os manda guardar algo que não havia sido escrito, o que implica que toda a revelação não foi obrigatoriamente posta por escrito.

E, caso o leitor não percebeu, o que está sendo feito para provar a existência da Tradição é a leitura do texto bíblico. Assim, a Igreja Católica segue, de certa forma, o Sola Scriptura que é distinto do protestante. Enquanto o protestante crê que essas coisas que são Paulo alude como ensinadas por palavras foram todas escritas de alguma forma depois, enquanto que a Igreja Católica sempre entendeu que de fato houve elementos que não forma escritos pelos autores inspirados, mas que foram ensinados por eles de viva voz e ficaram na tradição da Igreja. E o texto bíblico sugere a compreensão católica, pois São Paulo não deixaria algo importante para ser escrito se isso fosse obrigatório, de modo que perdesse a oportunidade de escrever, apenas ordenando que os leitores se lembrassem também do seu ensino oral. É uma prova de que essa parte do ensino, igualmente importante, por ser Palavra de Deus, não foi e nem necessitava ser escrita.

Afirmar que não havia “necessidade de nenhum corpo complementar de tradição de comunicação oral”, não está no texto bíblico. Pelo contrário, o mesmo indica a tradição oral. Essa é a refutação do primeiro ponto posto pelo teólogo Gregg Allison.

A segunda razão por que os protestantes rejeitam tradição seria a demora por que passou o desenvolvimento do conceito.

O próprio texto de 2 Ts 2, 15 é evidente de que o ensino escrito era complementado pelo oral. Alguns ensinamentos por palavra e por carta não seria razoável citar se ambos fossem iguais. São Paulo apenas mencionaria um. Mas não. O texto firma que é necessário ficar firmes no ensinamento que aprendestes. E o modo pelo qual aprenderam, foram dois, por palavras ou por cartas. Há complementariedade.

Em grande parte, o que foi posto por escrito foi aquilo que estava sendo motivo de controvérsia. Entende-se assim as epístolas, por exemplo. Não havia um plano de ensinar a doutrina geral por escrito, mas os autores ensinavam oralmente e escreviam para as comunidades aquilo que era necessário no momento. Ambas as coisas deviam ser conservadas, as tradições e os escritos.

Santo Ireneu fala do plano de salvação conservado por escrito. O que foi escrito é perfeito, não há nada errado. E o que foi deixado oralmente e conservado, segundo fontes fidedignas, é igualmente importante. Santo Ireneu não está ali tratando da tradição e da Escritura, e por isso não se refere aos dois modos ou duas fontes de revelação.

E Gregg admite que para defender a fé contra os hereges que ensinavam possuir a tradição que corrigiria a Escritura, Santo Ireneu fala da tradição que foi ensinada pelos apóstolos e conservada na sucessão apostólica, e cita o texto de Santo Ireneu se referindo à Escritura e à Tradição. Quando o mesmo afirma que a doutrina está preservada nas igrejas apostólicas, isso não é o mesmo que os hereges estavam afirmando. Para os hereges a sua tradição não era a dos apóstolos e nem de Cristo.

Quando Santo Tomás distingue as Escrituras dos escritos dos doutores, isso é o mesmo que a Igreja Católica faz oficialmente, pois não há revelação feita aos padres da Igreja. Eles apenas conservam em seus escritos o que é da tradição. A ideia da tradição desenvolveu-se, não houve mudança, como Gregg entende.

Ver tomás de aquino nota 38

O terceiro motivo que os protestantes apresentam contra a tradição é que essa seria mantida infalivelmente pela Igreja sem a Escritura. Mas isso não é exato. A Igreja é guiada pelo Espírito Santo e isso é feito majoritariamente pela Escritura.

Se a Igreja não é infalível para preservar a verdade, então ela pode ser perdida. É isso que o Protestantismo afirma que ocorreu, e isso é absurdo. A coluna e sustentáculo da verdade não teria serventia.

Em nenhum momento a Igreja alega a infalibilidade para promover doutrinas fora da Escritura. Isso é um equívoco da teologia protestante ao afirmar isso da teologia católica. Deus ilumina a Igreja para guardar a sua Palavra, e não as mentes de todos os fieis. De fato, os hereges surgem no seio da Igreja, e a autoridade eclesiástica é instada pelo Espírito Santo para defender a fé. Esse é o ensino de João 16, 13 e 14, 26. O Espírito Santo está unido à Palavra de Deus, e o faz grandemente por meio do magistério da Igreja. O que a teologia evangélica pensa sobre a iluminação das mentes individuais é praticamente o que a Bíblia está afirmando em relação à autoridade da Igreja docente. De fato, o Espírito Santo lembra à Igreja o que já foi ensinado por Cristo e pelos apóstolos, e não novas revelações.

A quarte razão que a teologia evangélica apresenta contra a tradição é que a Escritura mais Tradição seria estrutura inerentemente instável. E afirma que na prática quando as duas entra em conflito prevalece a tradição: “a autoridade da Tradição sobrepuja a da Escritura”. É o mesmo que dizer que “na prática”, como ensinado pela teologia evangélica, quando a Bíblia e a interpretação particular entram em conflito, “a autoridade particular sobrepuja a da Escritura”. Por isso, a interpretação de uma pessoa é contraposta à da Igreja com sua interpretação oficial, e o membro da igreja se recusa a aceitar a autoridade da mesma, prevalecendo sua interpretação da Palavra.

Se a crítica é que não haveria harmonia entre a Bíblia e a Tradição, isso acontece de fato entre a Bíblia e a intepretação particular de quem acredita ter a mente iluminada pelo Espírito Santo. Se a “promoção” da doutrina da imaculada conceição de Maria é exemplo de que a Tradição é elevada em detrimento da Escritura, o que não dizer das muitas interpretações particulares dos reformadores e muitos outros protestantes que entram em conflito com a Escritura, mas que prevalecem nas tradições das denominações.

Para ensinar a imaculada conceição, a Igreja entende perfeitamente que conforme a Bíblia não há exceções, todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Então, em Adão Maria pecou, por direito, por natural herança, por ser filha natural de Adão e Eva  por meio de sua concepção advinda da conjunção de seus pais. Somente Jesus, gerando pelo Espírito Santo, foi exceção nesse ponto. No entanto, entende-se que a salvação da virgem Maria se deu na concepção, fazendo com que de fato ela não herdasse o pecado, pelo mérito do sacrifício de Cristo. Essa doutrina está conforme a revelação bíblica.

Maria não pecou em palavras, ações, pensamentos e intenções, etc., como sugere Gregg. Ela foi isenta do pecado por graça de Cristo. Maria tinha a mesma natureza que todos, mas sua culpa foi removida, ela foi salva, e foi gerada na amizade de Deus. Assim, o dado da Tradição está conforme ao da Escritura.

A observação de Warnick serve para fontes humanas. Mas a tradição não é humana, é Palavra de Deus. O que Warnick observa aplica-se às interpretações particulares. De fato, quando uma interpretação entra em conflito com outro dado da revelação, geralmente a interpretação pessoal se ergue contra a Escritura entendendo que está correta, e confronta a autoridade da Igreja. O intérprete se torna autoridade de facto apesar de dizer o contrário. Apesar de afirmar estar seguindo a Bíblia.

Desse modo, a instabilidade Escritura e intérprete individual em seu livre exame é que deve ser rejeitada. O modelo de revelação como somente a Bíblia cria essa estrutura da forma com que a revelação chegará ao coração do pecador, que seria sua interpretação pessoal, entendida como sendo percebida por sua mente iluminada pelo Espírito Santo. Essa estrutura é falha.

E, por fim, a Tradição como revelação divina como mostrada acima é um acréscimo vindo do início da Igreja, dos tempos apostólicos, e a contradição com a posição protestante do século 16 convida a escolher o modelo anterior, pois a Bíblia sozinha diante do intérprete causa o que foi aludido acima.

A suficiência da Escritura está correta, mas pela perspectiva material, pois ela será interpretada. Se o intérprete pode errar, o ensino que terá não é o da Escritura, mas o próprio erro, e então não saberá o leitor o que é preciso para ser salvo e viver de modo que agrade a Deus. Assim, a Lei do Senhor é perfeita (Sl 19, 7), mas deve ser bem entendida. O cristão tem pleno preparo para fazer isso, conforme 2 Tm 3, 16-17? Não tem, pois deve obedecer à autoridade da Igreja que é autêntica para interpretar a Bíblia e mostrar o que a mesma ensina para sua salvação e para que agrade a Deus.

A Igreja Católica não formula doutrina ou prática fora da Escritura, mas tudo está em total consonância com a Escritura, visto ter vindo de Deus, através de Cristo, e por meio da inspiração do Espírito Santos aos escritores do Novo Testamento ao mesmo tempo, pois ensinavam por palavras e por escrito.

De fato, a Igreja não deriva a certeza das verdade apenas da Bíblia, mas também da Tradição, pelos motivos já expostos. Isso não nega que a Bíblia seja suficiente. Seria o mesmo que afirmar que para interpretar a Bíblia não é preciso iluminação da mente pelo Espírito Santo, pois a Bíblia seria suficiente. O protestante pode raciocinar dessa forma, e entender que o papel da tradição é quase que totalmente para fazer entender melhor a Escritura.

Quanto ao argumento de que a Igreja existia sem a Escritura, pela Tradição, esse foi usado por Santo Ireneu contra os hereges. De fato, a Escritura é necessária para o bem e o ser da Igreja, mas a questão é que o Espírito Santo não deixa a Igreja desviar-se. Também, como inspirador da Escritura, não deixa que essa se perca. É simples. O argumento é apenas para mostrar o poder de Deus na defesa da Sua Igreja. E, também, na preservação da Sua Palavra.

Como provado, somente a Escritura é uma estrutura errônea. A Escritura, Tradição e Magistério mantem a verdade da suficiência da Escritura, como já mostrado acima.

A questão das outras autoridades, tradição e Igreja, com falíveis, é problemática. A suficiência da Escritura funciona como provado antes, ou seja, no seio da Igreja. Isso é o que foi entendido sempre, e é afirmado pelos pais da Igreja. O mesmo se entende de 2 Tm 3, 15-17. A Bíblia interpretada corretamente transmite a verdade que que suficiente para ensinar, repreender, corrigir, instruir em justiça, etc. Se mal interpretada, seu ensino não chega ao pecador e esse não pode fazer nada do que foi elencado antes.

A ideia de que o Antigo Testamento era já suficiente para os cristãos, e que os escritos adicionais do Novo Testamento continuam nesse todo suficiente é uma ideia absurda. Para que acréscimo ao que já é suficiente? Esse se tornaria supérfluo.

O princípio Sola Scriptura é entendido como resumo de várias passagens bíblicas, mas como visto, da forma como o Protestantismo concebe, está equivocado. O que Peter Kreeft certamente disse foi que o Sola Scriptura não é um resumo ou decorrência da Escritura ou de outras crenças.

           

A Escritura e sua interpretação

A respeito da importância, inspiração e verdade da Escritura há concordância maior entre a teologia católica e a teologia evangélica, segundo Gregg Allison.

O fundamento da importância da Escritura é distinto. E qual é essa distinção? Allison afirma que a teologia católica associa a Escritura à Eucaristia. Por sua vez, a teologia evangélica apela à inspiração, à autoridade, à suficiência, à necessidade, à clareza, ao poder e à veracidade. E ambas consideram o papel vital da Bíblia na Igreja.

Essa avaliação é interessante é um pouco obscura. Talvez superficial demais. Certamente, bem incompleta. O autor afirma que o fundamento para a importância da Bíblia tem sua associação com a eucaristia no Catolicismo, e no Protestantismo apela à inspiração e etc.

Mas, podemos questionar isso. Para a Igreja Católica o fundamento da importância da Escritura é sua inspiração divina. Ela é importante porque é a Palavra de Deus. E a Escritura é a forma suprema de revelação.

Por isso, é certo afirmar que Gregg não comenta o artigo 3 satisfatoriamente, pois no número 102 do mesmo, o Catecismo afirma que em toda a Escritura há somente uma Palavra: Cristo, que é o “Verbo único” que Deus pronuncia. Então, a Igreja sempre venera a Bíblia como também o Corpo do Senhor.

De fato, aqui, a Igreja está afirmando que a Bíblia fala inteiramente, em todo o seu conteúdo, de Jesus Cristo, e por isso ela é venerada. Também, que a Igreja venera a Eucaristia. São duas coisas. Mas Gregg afirma que o fundamento da importância da Bíblia seria sua associação à Eucaristia, ao passo que o Protestantismo fundamenta a importância da Escritura na inspiração e etc, o que é um assunto totalmente diverso. E o Catecismo ensina no número 104 que a Igreja encontra alimento e força na Sagrada Escritura. Esse então é o alimento e a força necessária para a exisência da Igreja, o ser da Igreja. Afirma também que para que a Escritura não permaneça letra morta é preciso que Crsto nos abra o espírito para compreendermos a Escritura (n. 108).

Afirma ainda que a teologia evangélica concorda em parte com a teologia católica, pois há diferenças quanto à interpretação. A diferença principal se dá no fundamento da abordagem adotado para interpretar a Escritura. O Protestantismo afirma a clareza da Escritura, então ela é compreensível aos cristãos e esses são responsáveis e capazes de interpretar a Bíblia.

Esse ponto é importante. De fato, a Igreja Católica não se exprime oficialmente dessa maneira. Como pode qualquer pessoa ser capaz de interpretar a Bíblia? Em que sentido? Allison explica. Cita Deuteronômio 30, 11-14, quando Moisés disse que o mandamento que Deus ordena não é difícil demais. E afirma que a palavra está perto, na boca e no coração.

De fato, ali não se deve entender toda a Bíblia, mas o mandamento moral que Deus estava ensinando. Esse é um ponto que mostra o equívoco da teologia evangélica ao tentar tirar dessa passagem implicações maiores. De fato, nem a teologia evangélica afirma que toda a Bíblia é clara, mas apenas os pontos necessários à salvação.

Depois, cita Dt 31, 9-13, onde está escrito que a Lei deveria ser lida para que o povo a ouvisse. A leitura da Lei para que todos ouçam e obedeçam.

De fato, se trata da clareza geral, e não da interpretação da Bíblia feita por cada um dos israelitas, que ouviam a leitura, nem para os cristãos de hoje. Então, existe uma inteligibilidade contínua. Se bem explicado, esse ponto não é negado pela Igreja Católica.

A Bíblia é lida e compreendida por todos. Gregg cita, entre outros versículos, Neemias 8 e Atos 17, 10-12. Há coisas obscuras, mas o que Deus quis revelar está suficiente claro (Dt 29, 29). A Escritura é acessível e inteligível para o Povo de Deus, e isso é a clareza da Escritura.

Ainda assim, não está clara essa doutrina. De fato, é notório que nem todos compreendem a Bíblia quando a leem ou ouvem sua leitura. Nem todos os cristãos a compreendem assim.

Então, o autor afirma que essa doutrina é uma das razões que fizeram os reformadores traduziram a Bíblia, também é motivo para que os protestantes distribuam Bíblias, e incentivem a leitura pessoal e estudos bíblicos em família.

Menciona o Concílio Vaticano II que incentivou a leitura e o estudo da Bíblia, mas que isso empalidece quando se compara isso ao que há entre os protestantes.

De fato, se a Bíblia é clara, não deve haver tanto estudo para procurar fazer entender seu sentido. Portanto, a clareza está em certas coisas e não em todas. Então, esse tópico de Gregg não explica que a doutrina protestante sobre a clareza ensina que a Bíblia é clara nas verdades fundamentais, que levam à fé em Jesus Cristo e à salvação.

Nesse ponto nenhum cristão católico discorda. Quanto aos estudos protestantes sobre o conteúdo a Escritura, esses estudos indicam que há dificuldade imensa, de modo a fazer surgir escolas teológicas diversas, aparecerem muitas interpretações, muitas vezes conflitantes, mostrando que se trata de um terreno vasto e de uma dificuldade evidente. Assim, Deus quis revelar essas coisas, e ainda assim elas são difíceis de compreender. Esse ponto refuta a afirmação categórica da teologia protestante acima, pelo menos da forma como foi colocada.

Ainda, a leitura da Lei em Neemias 8, a todo o povo, afirma que Josué, Bani, Serebias, Jamin, Acub, Sabatai, Hodias, Maasias, Celita, Azarias, Jozabad, Hanã, Falaías e outros levita explicavam o sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura. Havia necessidade de explicação da leitura da Lei ao povo.

A exposição de Gregg sobre a clareza da Escritura no respectivo tópico do seu livro é insuficiente para provar seu argumento e é facilmente refutada. Se a Escritura é compreensível a todos os cristãos, então os cristãos católicos a compreendem quando leem e ouvem sua leitura na Igreja. Todos já entendem o pontos fundamentais. Se há necessidade de estudo e explicação, então entra aí a autoridade da Igreja. Essa questão não é mostrada por Gregg Allison nesse tópico.

Gledson Meireles.