sexta-feira, 30 de agosto de 2024
domingo, 25 de agosto de 2024
Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica: uma avaliação evangélica, de Gregg R. Allison
A liturgia – obra da Santíssima Trindade
(seção 1, capítulo 1, artigo 1)
Gregg Allison afirma que a teologia evangélica praticamente
não tem nada em comum com a teologia católica no que diz respeito ao conceito e
à prática dos sacramentos. As semelhanças estariam na adoração a Deus, nos
participantes (líderes e congregação), nos ritos, mas não no significado.
Assim, no Protestantismo não há os sacramentos. As duas teologias estão
separadas na doutrina dos sacramentos, muito
longe uma da outra. Se assim o é de fato, então a teologia protestante
necessita de reforma.
E o ponto que a teologia protestante nega é a continuidade da
salvação em Jesus Cristo, a “representificação”, a atualização da cruz. No
entanto, o que a teologia católica está ensinando, em outras palavras, é que
Cristo continua a salvar com base no Seu sacrifício, quando o evangelho é
ouvido e crido, quando os sacramentos são realizados, como o Espírito Santo age
no coração do pecador. Isso está sempre ocorrendo pelo ministério da Igreja, e
é inegável. Quando o teólogo protestante afirma que a obra de Cristo como
atrelada à atemporalidade não tem
garantia alguma, parece não ter entendido bem o conceito. Parece que ele
volta a criticar o que anteriormente disse ter entendido.
De fato, a teologia católica ensina que a cruz ocorreu
historicamente uma só vez, e está no passado. No entanto, seus efeitos são
eternos. Não se pode negar isso. De fato, o Catecismo explica que o efeito da
cruz está na eternidade de Deus. Assim, podemos exemplificar que os que morrem
antes da Cruz são salvos pelo sacrifício de Jesus, pois esse não é um evento
singular, espirutal.
Cristo não morre novamente na cruz, pois isso ocorreu uma
única vez. Também o sacrafício não pode ser repetido. Ele é celebrado. Assim, a
graça e a bênção que têm por base o sacrifício tornam-se misticamente atuais,
salvando. Essa salvação é para todos os que creem. Assim, afirmar que a economia sacramental
católica em geral e da eucaristia em particular não é muito plausível, é algo que sugere esse mal entendimento.
De fato, não há como negar as afirmações do catecismo de que
a obra de Cristo na cruz fundamenta toda a obra da Igreja Católica. Cristo nos
salvou pela cruz, e enviou a Igreja a pregar e a batizar. É a isso que se
refere a obra da Igreja. O Espírito Santo continua a obra de Cristo. Esse é o
núcleo de todo o conceito.
Como o axioma Cristo e a Igreja é verdadeiro, tudo está
equilibrado. Cristo está presente nos sacramentos. No batismo, por exemplo,
somos batizados em Cristo. E como poder dos sacramentos não é humano, e o mesmo
não pode ser um mero rito sem sentido, então sua graça é de origem divina e seu
significado e efeito são espirituais.
A crítica protestante é a seguinte: “Cristo não está presente agora na igreja como cabeça e corpo”. De fato, a teologia católica afirma o
mesmo. Assim, o protestante pensa ter um motivo para negar um ponto da fé
católica, mas esse motivo não existe por não existir o aludido ponto doutrinal.
A Igreja Católica não ensina que ontologicamente
Jesus Cristo está na Igreja como cabeça e corpo, mas está presente de uma forma
espiritual, mística. Talvez até seja uma forma metafórica de expressar essa
união dos salvos com Cristo.
Afirmar que Cristo está em sua natureza humana no céu é
correto. No entanto, negar que Cristo possa estar no sacerdote é um erro. O
Espírito Santo está na terra, na Igreja, e Cristo afirmou que Ele mesmo está
com a Igreja até o fim dos tempos. Essa doutrina não pode ser negada.
Cristo está na pessoa do sacerdote, que age em Seu nome, como
Seu ministro, Ele está presente como disse que está com a Igreja em todos os
tempo. Ele também está misticamente presente, de um modo único, literal, vamos
dizer, na eucaristia. Isso não significa que todos comem carne e bebem sangue
humanos literiais e materiais com efeitos biológicos idênticos aos alimentos.
Não se trata disso, já que o alimento é espiritual, nutrindo o salvo com a
graça de Deus, esse poder de Deus que age no salvo.
Isso é o mesmo que a teologia protestante está afirmando de
outro modo, quando diz que Cristo não está ausente, mas presente na Igreja,
pois Ele reveste a Igreja de poder na sua mobilização missional, no exercício
da disciplina e para abençoar a ministração da ceia ou julgar sua observação. A
presença de Cristo é mediada pela ação do Espírito Santo e pela Escritura,
afirma Gregg. O mesmo que a doutrina católica ensina.
Também afirma que a presenta de Cristo é mediada pelas
ordenanças da nova aliança, que são o batismo e a ceia. Obviamente, a mesma
doutrina ensinada pela teologia católica, mas incompleta, pois ainda faltam os
demais sacramentos.
Assim, essa presença espiritual de Cristo na Igreja não é
idêntica à Sua presença em corpo humano no céu.
A crítica de Gregg de que o Espírito Santo confecciona os
sacramentos é algo um tanto estranho. Não se sabe o que o mesmo está afirmando
quando refere-se à confecção dos sacramentos. Certamente está se referindo à afirmação
do Catecismo de que o Espírito Santo é o “artífice” das obras-primas de Deus.
Esse seria uma afirmação católica não aceita pela teologia evangélica
protestante. Deve-se entender o que isso quer dizer.
A presença do sacrifício de Cristo “aqui e agora na igreja”
seria outra coisa não de acordo com o Protestantismo. Mas essa presença
espiritual com o poder, a graça, o Espírito Santo, etc., já mencionada acima, é
fato inegável. Trata-se de um mal entendimento do tema.
Negar que o Espírito Santo estimula “certas disposições” para
receber a graça é algo notável. Não há como negar que a conversão, o perdão dos
pecados, etc., são obra do Espírito Santo no coração do pecador. É isso que a
Igreja Católica está ensinando.
Enfim, negar que a Igreja seja memória viva do mistério da salvação
também é inacreditável. De fato, a presença da Igreja está sempre lembrando a
presença de Jesus Cristo, agindo em Seu Nome, evangelizando o mundo inteiro. E,
como o catecismo ensina, o Espírito Santo lembra toda a verdade à Igreja (cf.
João 14, 26).
Quando Cristo disse que o pão e o vinho são Seu corpo e
Sangue, isso sugere a ação de Deus que faz desses elementos algo diferente
nesse contexto religioso. Antes de usar o termo transubstanciação há a
realidade explicada pelo termo.
A teologia católica afirma que há sinergia entre Deus e o Seu
povo. A teologia protestante nega veementemente essa ideia. Por outro lado,
afirma que há “dupla dimensionalidade” na adoração da Igreja. De um lado Deus,
segundo conveniência de sua ação divina, Deus é ativo, e por outro lado, o
clero e os leigos são ativos, o que é dizer o mesmo em outras palavras. Mas Gregg
afirma que a teologia protestante atribui
um papel muito diferente ao clero do que faz a teologia católica.
Quando a Igreja Católica afirma que o Espírito Santo e como
Ele concede compreensão da Palavra de Deus, a teologia evangélica teme que isso
possa se tornar “um código para
interpretações equivocadas que vão além do sentido
gramatical-histórico(salvífico)-tipológico da Escritura”. E afirma que há
uma dúvida, da afirmação de que o Espírito dá vida à Palavra de Deus. A Palavra
é viva e eficaz em Si mesma, mas há esse perigo de torná-la infrutífera, não
entendendo corretamente seu sentido. Especificamente o catecismo afirma que o
Espírito Santo lembra o sentido do acontecimento
salvífico aos fieis. Então, o Espírito ilumina as mentes para que
compreendam a Palavra. A Palavra de Deus que é vida em si mesma, e tem o
Espírito que abre o coração dos fieis para que a compreendam. É a isso que a
afirmação da teologia católica se refere.
O que o autor explicou mostra que não há esse distanciamente
que mencionou, mas há um entendimento errôneo da teologia católica, como o modo
de pensar protestante sobre o sentido que o sacrifício de Cristo está presente,
não entendo bem o que diz a teologia católica, e sobre os demais elementos
analisados acima.
domingo, 18 de agosto de 2024
Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana
Refutação do tópico sobre a natureza e a graça.
A
interdependência natureza-graça
Quando Leonardo De Chirico afirma que o pecado é secundário
na teologia católica, e que na teologia protestante ele é mais arrasador, de
modo que a natureza deve ser restaurada pela graça, essa explicação está
incorreta.
Na teologia católica o pecado é devastador, mas não destrói a
natureza. Esse é o sentido bíblico. Ainda,
a natureza não pode pelo esforço próprio querer a Deus e não pode esforçar-se
para ir a Deus, mas o pode pela graça. Esse ponto é diverso daquele que os
teólogos protestantes imaginam.
De fato, ao pensar que no sistema católico a natureza e a
graça são interdependentes, no sentido que a natureza pode querer o bem e
desejar fazê-lo (como que supondo que o fizesse sem a graça), essa posição é totalmente
alheia ao catolicismo.
No entanto, se a natureza for iluminada pela graça, então
toda a questão muda, pois agora a natureza pode mover-se segundo suas funções
próprias, dadas na criação, e pela força de Deus recebida na graça.
Então, a natureza se opõe à graça, e somente pode
converter-se a Deus através da graça. Ela pode, também, opor-se à graça, de modo
que sua maldade continua ali, e é convertida quando abre-se à graça e
pervertida quando a nega.
Não é exato que Santo Agostinho tenha sido pessimista e Santo
Tomás relativamente otimista em relação à natureza e graça. Ambos possuem a
mesma doutrina básica. O protestantismo possui uma doutrina diversa, que
diverge da doutrina católica nesse ponto.
O entendimento de Gregg de que o pecado está subordinado ao elemento natureza na
doutrina católica está equivocado. De fato, essa negação protestante leva a um
erro grave, que é costumeiramente crido pelos reformados, e que mais adiante
irá sendo descortinado.
A citação de De Chirico mostra a posição da doutrina
protestante geral. Esse chama da doutrina tomista de relativamente otimista,
enquanto De Chirico afirma que a doutrina católica é totalmente positiva em relação à natureza e tem um conceito brando de pecado. E qual o
motivo que leva a De Chirico a afirmar que no catolicismo a visão sobre a
natureza humana é “totalmente positiva” e o conceito de pecado é “brando”? Isso
se deve ao fato que, para os reformados a natureza é praticamente destruída,
não tendo mais o livre-arbítrio. E isso é o que consideram correto.
Se no catolicismo a graça começa
na natureza como explica o teólogo reformado, então a natureza seria um
terreno no qual a graça nasce. Isso é totalmente errôneo, e não condiz com a
teologia católica.
Da mesma forma, não é necessário pensar que a natureza tenha
sido destruída para ser recriada pela graça.
No entanto, quanto a afirmar que a natureza sempre participa
da graça, ou melhor, que sempre pode participar da graça, e que a graça
pressupõe que a natureza possa participar dela ad intra, isso é correto, mas a teologia reformada nega esse ponto
bíblico. Esse modo de entender a relação natureza e graça está totalmente
correto.
De fato, quando o reformado tenta conciliar esses dois
elementos, de modo a colocar a natureza totalmente em contraposição com a
graça, ele está afirmando o mesmo que a doutrina católica.
Contudo, quando afirma que essa total inabilidade significa
que a natureza não possui o livre arbítrio e, portanto, não pode cooperar,
então o limite foi ultrapassado, e introduzido um erro.
Para isso, a graça deveria transformar a natureza e agir
sozinha, de modo que a natureza não tivesse participação real.
Eis que a doutrina reformada afirma que há de fato
participação real, há liberdade, há livre-arbítrio, considerado de outra forma,
pois que esse é como que produzido pela graça. Obviamente o teólogo reformado
talvez não aceite tal modo de explicação, mas é o que mais se aproxima da
doutrina nesse ponto discutido.
Agora, vejamos o que a teologia protestante diz sobre o
assunto. Gregg Allison afirma que a graça
nada tem a operar na natureza porque a criação foi terrivelmente maculada pelo
pecado.
Foi isso mencionado acima ao explicar que a natureza foi totalmente
destruída. Esse termo parece explicar o termo “terrivelmente” usado pelo
teólogo, porque está no contexto em que diz que a graça “nada” opera na
natureza assim maculada pelo pecado.
Então, a graça agiria por fora, ad extra. E o motivo disso seria que a natureza “ignora
completamente seu estado de depravação”. Esse ponto é o que foi chamado acima
de natureza totalmente destruída pelo pecado, ou terrivelmente maculada, de
modo que a graça não pode agir nela.
No entanto, ao dizer que a natureza ignora seu estado de
pecado, esse ponto é o mesmo que
ensina a fé católica. A teologia evangélica ignora esse ponto, e introduz, por
essa causa, um erro terrível ao tentar explicar o mesmo por outra via.
De fato, a natureza não conhece seu estado caído em sua
complexidade e profundidade, mas não foi completamente destruída no sentido de
perder o livre-arbítrio. Ela não tornou-se outra natureza.
Esse livre-arbítrio pode ser iluminado pela graça para que a
natureza opere e possa perceber sua necessidade de salvação. O Protestantismo
afirma que esse ponto é unilateral, ou seja, Deus teria que agir para que a
natureza se converta, de modo a que a não participa de fato, como foi acima
aludido, ainda que a doutrina reformada tente resolver essa contradição.
Se nada pode contribuir com a graça, então o pecador não
participou realmente. Essa separação ou fosso entre natureza e graça é um erro,
ao invés de ser o correto. Ela desconsidera a fé católica, esboça uma estrutura
que a Igreja Católica não ensina, tenta fornecer o conceito de graça de Deus
que age na natureza, mas introduz esse equivocado conceito de separação radical
entre natureza e graça.
O continuum
natureza-graça que o autor protestante considera no catolicismo não é o mesmo
que impacto menos devastador do pecado
sobre a natureza, porque para a teologia católica a natureza está morta no
pecado, seu livre-arbítrio existe e está inabilitado de ir a Deus, e sem a
graça não há possibilidade de salvação, o que é o mesmo que o reformado
pretende ao ensinar o fosso que
separa natureza e graça. Ainda que não aceite o livre-arbítrio, sua ênfase é
que a natureza está morta.
No entanto, quando a graça vem à natureza, essa é
ressuscitada, fortalecida e capacitada para agir, de modo que o livre-arbítrio
é habilitado, pois nunca foi destruído, e pode cooperar com a graça.
Se esse livre-arbítrio fosse algo que viesse unilateralmente da
parte de Deus pela graça ad extra (de
fora), então de fato essa participação seria meramente verbal, uma forma de
metáfora, algo que de fato não estivesse participando, cooperando, mas apenas
sendo movido por algo externo. Não é isso que a Bíblia ensina. Também, é de se
esperar, que não é isso que o reformado entende, pois tal coisa é errônea, e por
isso usa termos que parecem estar conforme a doutrina bíblica da natureza e da
graça conforme a continuidade que é criticada pela teologia evangélica.
Quando se diz que isso leva a conceber a razão como capaz de
compreender a revelação geral e a existência de Deus, isso é o que está na
Escritura. Desse modo, a graça é necessária para levar o pecador à salvação,
mas a razão humana não perdeu sua capacidade de saber da existência de Deus.
O conceito de que as
coisas para as quais a Escritura aponta
(reino da natureza) como trazendo significados ocultos, é algo que o
teólogo compreendeu da doutrina católica, mas que não faz parte dela. É um
equívoco, ou um modo muito inadequado de ensinar a teologia católica.
Outra vez vem o “otimismo moderado” é citado pelo autor.
Quando na teologia católica a natureza necessita da graça para ser elevada, transformada,
salva, a teologia protestante afirma que ela deve ser recriada. Certamente se
refere ao mesmo processo, mas erra ao vê-la como inabilitada como que perdesse
algo dela mesma. Por isso, as afirmações reformadas de que a bondade da criação
permanece e que essa mesma é terrivelmente maculada de modo a não poder
participar da graça e que a graça não pode agir nela, são afirmações que a
Bíblia não traz. A graça pode de fato agir na natureza, por dentro, ad intra, e não somente por fora. Ela
pode restaurar a bondade da criação que permaneceu.
Quando se diz que o homem é religioso, é o mesmo que indica
sua bondade original, que não foi destruída, mas perdida na natureza que pode
ser elevada. A graça não faz parte do homem, mas esse, como criatura de Deus,
tem sua natureza reestabelecida por Deus através da Sua graça. De fato, não se
pode pensar que a natureza perdeu a capacidade para a graça.
A doutrina da salvação não é totalmente sinergética, como
explica Gregg. Um pequeno exemplo é capaz de destruir essa afirmação. Esse
exemplo gera outras observações e objeções reformadas, mas pode destruir o que
Gregg afirmou. Trata-se do batismo infantil.
Na teologia católica o batismo é o sacramento da salvação,
onde Cristo age salvando o pecador. A criança que é batizada, e não chegou ao
uso da razão, e recebe o batismo pela fé da Igreja, é salva. Ela não fez nada para
ser salva e merecer a vida eterna. A gratuidade da salvação é mostrada nesse
caso. Isso mostra que a participação do salvo na salvação, quando o mesmo chega
ao uso da razão, não o faz autor da própria salvação, mas verdadeiro participante,
conforme Vontade de Deus.
E sobre a “deificação”, essa é uma doutrina bíblica. A natureza
deve ser transformada para entrar no reino dos céus. O ser humano não se torna deus,
mas de um modo metafórico se diz isso, por estar cheio da graça.
Os elementos da natureza usados nos sacramentos por Jesus e
pelos apóstolos (água, óleo, vinho, pão e etc.) estão no âmbito sacramental, e
são sinais da graça.
A Igreja é o corpo de Cristo místico, agindo em nome de
Cristo. A hierarquia é bíblica e o bom senso a compreende naturalmente.
As virtudes podem ser praticadas por qualquer um, mas não
levan a salvação sem a graça e não podem ser praticadas perfeitamente sem a
graça.
A doutrina sobre a virgem Maria também é importante para
entender os efeitos da graça na natureza.
Não há descontinuidade como a teologia protestante entende.
De fato, a linguagem mesma da Escritura mostra que a maldade da natureza, que é
assunto onde concordam ambas a teologias católica e protestante, essa maldade é
transformada pela graça, sendo a mesma natureza criada por Deus, com aquele bem
original arruinado, não totalmente perdido ou destruído, como se fosse outra
natureza. É o mesmo ser decaído que é salvo. Esse ponto pode auxiliar no
vislumbre do aspecto transformador da graça na natureza.
A natureza possui capacidade para Deus, mas que não age por
ela mesma, pois necessita da graça. Isso é diverso da afirmação protestante de
que a natureza não possui capacidade para a graça.
A transformação da natureza pela graça supõe a continuidade
da mesma natureza decaída. Isso é bíblico. As comparações com a transformação
do universo e da descida da Nova Jerusalém estão conformes essa verdade.
O mundo tem seus elementos renovados, e a Nova Jerusalém
desce à terra renovada. Portanto, essa separação natureza e graça é o problema.
E, como indicado acima, essa separação que traz a teologia protestante acontece
por uma má interpretação da teologia católica, que muitas vezes afirma o mesmo
que a teologia protestante pretende afirmar em outros termos.
De fato, a teologia protestante procurou adotar termos
diversos para ensinar conceitos bíblicos. Em alguns casos desconsiderou o que
já havia sido resolvido. Equivocou-se nesses momentos. Uma vez negando esse
ponto, da busca por nova terminologia e novos conceitos, surge um conceito
errôneo da doutrina original, e é introduzido um equívoco para tentar corrigir
o que não está errado.
Gledson Meireles.
sábado, 17 de agosto de 2024
Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana, de Gregg Allison
Segue refutação do estudo e avaliação de Gregg sobre a doutrina da encarnação e imaculada conceição
A doutrina da
encarnação e a doutrina da imaculada conceição: “ele foi concebido pelo poder
do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria”. (seção 2, capítulo 2, artigo 3).
O autor protestante reconhece que a Igreja Católica fornece a estrutura histórica para a doutrina
evangélica da encarnação. No que diz respeito ao lado humano da encarnação
há divergência entre a teologia católica e a teologia evangélica, diz Gregg. Os
protestantes contestam praticamente todos os ensinos do Catecismo da Igreja
Católica sobre a virgem Maria.
Os pontos em comum seriam o reconhecimento e gratidão pelo papel “singular” (ênfase acrescentada) da virgem Maria na
encarnação de Jesus. Reconhecem que Maria é a theotokos (portadora de Deus).
Também, o exemplo por
excelência da fé e obediência da virgem Maria, e “sofrimento pessoal
associado à vida e ao sofrimento do seu filho”.
E, por fim, os protestantes consideram a virgem Maria
bem-aventurada por causa da obra de Deus feita nela e “por meio dela, a favor
de todos os seres humanos”.
Essas doutrinas que Gregg afirma que estão em comum entre
católicos e evangélicos, e que são a pura verdade da Escritura, certamente não
serão aceitas por todos os protestantes, como é de se esperar. Ainda mais, nos
termos importantes que Gregg as apresentou. De fato, pela sua leitura do
Catecismo há algo que certamente o influenciou e o convenceu a aceitar essas
verdades.
O papel singular de Maria, a excelência da sua fé e seu
sofrimento associado a Cristo e sua bem-aventurança onde Deus através dela
também fez a todos os seres humanos. De fato, é comum que o protestante negue
qualquer afirmação do papel singular de Maria na encarnação, que desconheça e
que também negue seu sofrimento associado a Cristo e que negue qualquer obra de
Deus nela em favor de todos os seres humanos. São doutrinas bíblicas, mas que o
ranço antimariano faz o leitor protestante combater as noções que advém atém
mesmo dessas palavras. Pois bem. Maria teve fé singular de fato. Maria sofreu
com Jesus. Deus pôs Sua graça de forma grandiosa sobre ela, e por meio dela,
essa graça atinge a todos os seres humanos, pela graça de Cristo Jesus.
Dificilmente se encontram essas afirmações na teologia
protestante. É um passo digno de nota mais próximo da verdade que os
protestantes estão dando.
Agora, vejamos as quatro discordâncias. Se há protestante que
critica mesmo as concordâncias, estão praticamente unidos quanto às
discordâncias que se seguem.
A predestinação de Maria e sua livre cooperação e ao desígnio
divino de apresentear Maria como a nova Eva. Então, a doutrina da virgem Maria
como segunda Eva é considerada exagerada e sem
fundamento. É impressionante.
De fato, o protestante com o seu Sola Scriptura procurará a analogia direta e explícita da virgem
Maria como antítipo de Eva. Não a encontrando assim, afirma que não existe. Também, não consegue
encontrar sinais dessa aproximação. Conclui que não tem fundamento.
No entanto, a partir de Cristo é possível entender que a
Mulher associada a Ele na graça é coloca virtualmente em toda a Escritura
Sagrada como Eva era aproximada a Adão no pecado. Essa simples constatação é
compreendida por qualquer estudioso da Escritura. É muito natural, se torna
claro e compreensível. Não há nada contrário a esse pensamento na Bíblia, e a
razão assim iluminada pela fé, comprova a analogia. Desse modo, caro leitor
protestante, repense sua oposição a essa doutrina, pois não há motivo de
negá-la.
Tudo o que acontece é por obra de Deus, em Sua soberania, em
Sua providência. Maria foi eleita para ser a mãe do Messias. O anjo Gabriel
anunciou a encarnação de Jesus e Maria respondeu sim, dizendo: Faça-se em mim
segundo a vossa palavra. Por isso, o Catecismo interpreta esse fato como
ocorrendo segundo a vontade de Deus, que predestinou Maria. Não se pode negar
nada dessa constatação. Ainda assim, o protestante é levado a negá-la, sem
fundamento.
Quando se reconhece que
Deus predestina indivíduos para a salvação e para um serviço específico,
mas nega que haja algo de notável na predestinação de Maria, para que o autor
não conseguiu ficar no foco da questão. É o mesmo ato de Deus, o de
predestinar, que está sendo observado. É algo de grande importância para a
humanidade, a encarnação do Filho de Deus. É uma obra que elege uma virgem para
ser a mãe do Filho do Altíssimo. Essa obra por si só é notável. Ao predestinar
Maria para tamanho acontecimento, a Bíblia mostra que se trata de algo notável
na vida dessa jovem, de modo que a própria ficou surpresa com a saudação do
anjo e refletia sobre suas palavras. Negar essa notabilidade na predestinação
de Maria, essa importância, é algo gratuito, não tem fundamento bíblico, nem no
bom senso.
Entendendo a economia de Deus, a Igreja em todos os séculos,
refletino a Sagrada Escritura, afirma que: “Maria “sobressai entre (esses
humildes e pobres do Senhor que dele esperam e recebem com confiança a
Salvação. Com ela, finalmente, excelça Filha de Sião, depois de uma demorada
espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova criatura” (CIC,
número 489).
Gregg critica que o Catecismo chame Maria de “exaltada Filha
de Sião”. Mas isso é muito pueril. De fato, no contexto inteiro, ao comparar
Eva, Sara, ana, Débora, e outras santas mulheres, afirmar que Maria se
sobressai entre elas, como humilde e pobre do Senhor (entre os humildes e
pobres do Senhor), chega-se a Cristo, que nasce dessa “excelsa Filha de Sião”.
É algo bíblico, notório, plausível, claro,
racional, e não há nada que fundamente dizer que se trata de exagero
afirmar que das santas mulheres a virgem Maria foi excelsa, exaltada. A própria
Escritura afirma isso, quando diz que Jesus é o bendito fruto do ventre de
Maria, e que a virgem Maria é a bendita entre as mulheres. Portanto, não
concordar com essa afimação bíblica do catecismo sobre a exaltação de Maria é
algo igualmente que devia ser pensado pelo leitor da Bíblia.
Também, o teólogo mostra que o Catecismo deixa entender que o
cumprimento do longo tempo de espera se cumpre em Maria. No entanto, o
Catecismo afirma que “com ela” esse tempo chega à sua plenitude. Com ela, diz o
Catecismo, completam-se os tempos. Isso é óbvio, pois o parágrafo está falando
de Maria, e quando o texto bíblico é citado, a teologia católica entende
perfeitamente que se trata da encarnação de Jesus nascido de Mulher, cumprindo
a plenitude dos tempos. Assim, em Jesus é que se dá o cumprimento. Com Maria,
pois ela é a Mulher da qual nasceu Jesus. É simples o ensino do Catecismo, não
tendo nada a ser objetado.
O teólogo protestante tenta conciliar duas coisas: ele
concede e admite as verdades do Catecismo, mas ao mesmo tempo apresenta a
teologia protestante, ainda que essa não tenha razões para refutada nada do que
foi dito.
Por exemplo, ele admite que a predesntinação de Maria foi
singular, ou seja, especial, com uma característica muito importante, para um
papel sublime, como foi tratado acima. Mas nega que há algo notável. Por um
lado, aproxima-se da teologia católica ao reconhecer a verdade, a por outro usa
a negação protestante ficando do lado reformado, embora as duas afirmações
sejam únicas, pois uma vez que se considera o singular papel de Maria também se
reconhece que sua predestinação é notável, é admirável por sua associação na
vidad de Jesus como sua mãe. Não é possível negar isso biblicamente nem
racionalmente.
O autor então admite que Maria foi profeticamente anunciada
etc., mas critica que a teologia católica
parece enfatizar algo logo de imediato, colocando em ênfase e associação a
condição e Maria e a sua predestinação. E nega a livre cooperação e Maria, por
entender que refutou o axioma natureza-graça. Negando o livre-arbítrio, nessa
livre cooperação de Maria, o protestante cai em mais erros ainda.
Quando se diz também que não há respaldo bíblico para
entender Maria como a segunda Eva, como toda a tradição cristã sempre
enfatizou, o leitor protestante está tentando encontrar na Escritura algo
explícito, claro, uma comparação feita nas passagens bíblicas, assim como é
feito entre Adão e Cristo. No entanto, o que o leitor protestante não está
compreendendo, é que essa leitura bíblica é feita em Cristo, nessa mesma analogia de Adão e Cristo. Se no
proto-evangelho a semente (Jesus) da mulher (Maria) esmagará a cabeça da
serpente (Satanás), então na figura de Eva pode-se vislumbrar Maria. É algo
claro, que o teólogo protestante, seguindo a estrutura de pensamento reformado,
não consegue entender. E, também, não tem como refutar, não podendo apresentar
nenhuma passagem bíblica que torne a leitura católica um erro, ou algo não
plausível. De fato, toda a Escritura mostra que a doutrina e bíblica. O mesmo
paralelo bíblico de Jesus como segundo Adão é apenas tornado claro, iluminando
a figura de Maria, completando o paralelo implícito da mesma como segunda Eva.
É algo que vem à luz ao entender essa verdade sobre Jesus Cristo.
Assim, rejeitar a exposição católica da predestinação de
Maria e seu consentimento que mostram ser ela a mulher que associou-se ao
segundo Adão, e isso pela vontade de Deus, essa rejeição não é uma postura
bíblica. Se Cristo é o segundo Adão, fica praticamente inevitável entender em
toda a economia divina que Maria é a segunda Eva.
Como o protestante pode crer que não há nada de notável na
predestinação de Maria para ser mãe de Jesus.
Quanto ao cumprimento depois do longo período de espera, que
se cumpre em Jesus, a teologia católica, à luz dessa verdade, mostra que por
essa verdade está também a participação da virgem Maria, mãe de Jesus.
Ao que parece, Gregg Allison entende que a preparação da
virgem Maria para que respondesse à missão de ser a mãe do Messias devesse ser
pela imaculada conceição. Veja o que teólogo protestante afirma: “Conforme
dissemos acima, o consentimento de Maria à predestinação divina a fez cooperar
livremente com o plano divino. Contudo, para que Maria concedesse sua aprovação,
ela tinha de ser preparada...”. Não é isso que diz a doutrina católica. O
Catecismo afirma que ela tinha que ser totalmente
movida pela graça de Deus. Não afirma que essa cooperação só seria possível
pela imaculada conceição. Mas Gregg afirma que um elemento fundamental nessa preparação foi a imaculada conceição,
e afirma que nisso a teologia evangélica discorda. Certo.
No entanto, há três problemas relacionados entre si. O
primeiro que é a explicação de Gregg Allison está equivocada. Segundo, que
parte desse equívoco leva à negação da doutrina. Terceiro, como bom
protestante, ele nega a imaculada conceição de Maria. A capacitação de Maria
para dar seu consentimento não exige a imaculada conceição, segundo a doutrina
católica. Se o protestante entendeu que há essa exigência, que saiba ser uma
interpretação errônea do que ensina o Catecismo.
De fato, a graça capacitou Maria a dar o seu consentimento. O
que a doutrina católica ensina, de forma mais ampla, é que Deus preparou Maria
sem o pecado porque isso convinha mais à dignidade de Cristo, que é Deus, é que
seria no mínimo estranho ser gerado em uma criatura que comete pecado. A
natureza de Maria é a mesma de toda a humanidade, em seu direito, e foi salva
pelo sangue de Cristo, de modo que nasceu na amizade com Deus, justificada. Não
há qualquer dificuldade de entender a doutrina, e está toda conforme a
revelação bíblica.
Também, o leitor protestante precisa entender que a Igreja
Católica não interpreta Lucas 1, 26-38 como se a passagem se detivesse em
Maria. De forma alguma. Ali está a narrativa de como se deu a anunciação, e
Maria é um elemento importante nesse conteúdo todo. O que o Catecismo faz é
explicar o papel de Maria nessa passagem, e não torná-la o foco da questão. O
núcleo é Jesus Cristo. Maria é importante por ser um meio, digamos, em todo
esse processo querido por Deus.
A citação de Beverly Gaventa observa que há um contraste
entre a apresentação a Maria e aquela apresentação a Isabel e Zacarias. Não diz
o texto sobre a retidão de Maria e nem sobre sua fidelidade à Lei ou sua
família de origem. Não há qualificações. Cita Joel Green que tem o mesmo
raciocínio. Afirma que é digno de nota a falta de menção sobre ser digna de
honra como outros personagems de Lucas 1 e 2.
Então, isso significa que não devemos atribuir papel
exagerado a Maria? Ou significaria que ela é menor. De fato, de outros
personagens é citada sua justiça, sua observância à Lei, sua origem. De Maria
não é dito nada. O que concluir, se tivermos essas observações em consideração?
Que Maria era até menor que os demais. Talvez não fosse boa observadora da Lei?
Não fosse suficientemente digna em termos humanos comos os outros? Parece isso
ser a observação dos protestantes citados.
No entanto, essa singularidade, pelo contexto geral, manda a
mente cristã iluminada pela Palavra de Deus a outra direção. Essa mulher, da
qual não se diz muita coisa, mas o que é dito é de garnde relevância. De fato,
a humildade de Maria transparece em toda a cena. A sua fé, a sua entrega, a sua
obediência. O modo como é chamada pelo anjo celestial, que não diz seu nome,
mas a chama por um título, o que não é encontrado em nenhuma outra passagem em
referência a ninguém mais. Portanto, as observações protestantes que tentam
evitar “exageros” tendem a levar à minimização de Maria e ofuscar a mensagem
bíblica geral sobre a mesma. Os protestantes que quiserem manter-se na estrada
reta de compreensão da Bíblia, devem fazer como santa Isabel, curvar-se diante
da mãe do Senhor e reconhecer-se honrada demais ao receber sua visita.
O leitor deve estar notando a tentativa de Gregg de mostrar a
posição protestante como se a mesma foi correta, mas ao passo que a avaliamos
ela se mostra bastante equivocada em todos os pontos de discordância.
Quando Maria diz “cumpra-se em mim”, de fato a teologia
católica não diz que essa frase tem caráter imperativo, como se Maria mandasse,
não está expressando nenhuma autoridade ao anjo Gabriel nem a Deus, longe
disso, mas está totalmente movida pela graça divina, na total submissão da
vontade de Deus, na humildade da Sua serva, de modo que ela escolheu o melhor.
Também aqui a teologia protestante não compreende bem a teologia católica e equivoca-se
ao distanciar-se do catolicismo. O entendimento dessa questão é correto por
parte de Gregg, onde Maria expressa seu desejo de se submeter à vontade de
Deus. No entanto, ele cria algo como que um espantalho, como se o fiat de Maria fosse sua autoridade,
imperativa, no processo, o que não é correto, e o mesmo ataca essa noção, como
se fosse católica, e apresenta a interpretação correta, da humildade de Maria
na narrativa, que é a posição católica. Outro desequilíbrio na interpretação de
Gregg Allison.
Se os protestantes veem Maria como exemplo por excelência de
fé e obediência, estão agindo corretamente. É verdade que não se encontram facilmente
palavras assim em relação a Maria, escritas por protestantes: exemplo por excelência. Isso já foi explicado acima.
No entanto, quando os católicos consideram Maria como excepcional,
grande e bela, e honrada por sua livre cooperação, estão agindo biblicamente. O
protestante que não considera essas prerrogativas, que advém de Cristo, que é
Deus, e plenamente perfeito, iluminando a humanidade da sua mãe, então os
protestantes estão apresentendo a doutrina mariana equivodamente. A santidade
de Maria é percebida pelo relato bíblico sobre Seu Filho Jesus Cristo.
Obviamente Deus é que cumpre tudo na vida de Maria. Essa é
doutrina católica. Gregg a apresnta como se tivesse afirmando algo novo na sua
avaliação.
A teologia católica afirma que “cheia de graça” não é novo
nome de Maria, mas apenas há afirmações desse porte no nível místico. Maria tem
um nome: Maria. No entanto, ao chamá-la por aquele título, a Escritura mostra
que há algo escondido em seu sentido. A Igreja entende que se trata de sua
imaculada conceição. Onde há graça total não há pecado. É simples.
Se a criatura e plenamente amiga de Deus, está conforme Sua
Vontade, então ela não comete pecado. Estar na comunhão com Deus de forma plena
na vida individual, e não apenas de forma forense, não apenas legalmente, não
apenas potencialmente, mas de fato, é o mesmo que estar sem pecado. Isso é a imaculada
conceição.
A virgem Maria foi preservada do pecado por ser aquela da
qual a humanidade de Jesus seria formada, e não porque Deus não possa vir a um
mundo pecaminoso, em um mundo indigno da sua presença. As duas coisas são
distintas.
Reconhecer a grandeza de Maria, sua elevação sobre todos, sua
dignidade, é conhecer melhor a Pessoa de Jesus Cristo. Maria é figura da
Igreja. A Igreja que será purificada até tornar-se sem ruga nem mancha,
totalmente imaculada, com foi Maria, a primeira que acreditou diretamente em
Jesus Cristo. Ela foi formada segundo o modelo de Cristo, e no fim toda a
Igreja o será. Essa doutrina é totalmente bíblica.
Maria não está em uma categoria alta a inantingível, mas
indica a categoria que os salvos alcançarão. A teologia protestante mais uma
vez ignora e nega essa verdade que lhe é apresentada. E o faz por motivos muito
desconjuntados. Olhar para Maria e esforçar-se para assemelhar-se a ela, e a
Cristo, é humildade. Santa Isabel pô-se menor que Maria, elevou-a. Os cristãos
de todos os tempos fazem o mesmo.
A teologia protestante reserva a ideia de Maria como mulher
ideal. Porém, como a teologia protestante tem o pecado em grande conta nesse
sentido, de forma a torna-lo quase que impossível de ser remido, afirmando que
Deus não vê alguém como ideal nem transforma alguém em ideial, o que reflete
essa ideia, embora não seja essa a intenção do autor e da autora citada, é
preciso mostrar que a Bíblia mostra Maria como exemplo de humildade. Esse
exemplo de fé a torna digna de veneração. Com afirma a Escritura, pela escrita
de São Paulo: sejam meus imitadores como eu o sou de Cristo. Imitem Maria, como
ela é imitadora de Cristo. O texto não diz: passem direto a Cristo, pois ela O
está imitando, imite-O também. A ideia é ir a Cristo, mas é preciso cautela
aqui: a Escritura ordena a ter exemplos, a imitar os outros. Nessa imitação da
virtude dos santos, se vai a Cristo. A doutrina bíblica é mais abrangente. A teologia
protestante se equivoca outra vez.
O terceiro lugar citado por Gregg diz respeito a que os protestantes
discordam a virgindade perpétua de Maria. Vale lembrar que os reformadores protestantes,
ainda que estivesse interpretando a Bíblia por si mesmos, continuaram a crer
nessa verdade. A virgindade de Maria depois do parto não é afirmada na
Escritura. Não é tampouco negada. De fato, não é assunto da Escritura. A
Escritura, porém, pelo seu teor geral, leva a concluir que a virgem Maria
permaneceu nesse estado. Isso lembra o conselho bíblico de permanecer no estado
em que está. Maria está casada, grávida, virgem. Continuou casa, foi mãe e
permaneceu virgem, e não teve mais filhos.
A Sagrada Escritura trata da questão das relações sexuais que
não foram realizadas para a concepção de Jesus e nem durante o período de
gravidez para deixar claro que não houve interferência humana. Não há intuito
de afirmar mais do que isso em Mateus 1, 25.
Jesus é mostrado como filho primogênito de Maria e a Bíblia
cita seus irmãos. Contudo, o título primogênito é dado no nascimento, ainda que
seja filho único. Ademais, o termo irmãos é usado em sentido amplo e significa,
no caso de Jesus, os parentes de Jesus.
A Escritura afirma que todos possuem natureza pecaminosa e
pecam a vida toda. Jesus é exceção, pois apesar de ter natureza humana não foi
concebido em pecado. Maria possui natureza humana, mas foi limpa na concepção,
de modo que Deus a acolheu desde o instante em que a criou. Ela não cometeu
pecado a vida toda, pois foi preparada para ser mãe do Salvador, e não podia gerá-lo
e carrega-lo no ventre pecando, estando sob o império do pecado. Essa doutrina bíblica
é confirmada na tradição.
Como mostrado, toda a doutrina católica sobre a virgem Maria
é bíblica. Foi refutado cada argumento protestante apresentado por Gregg.
Gledson Meireles.
sexta-feira, 16 de agosto de 2024
LIVRO: Teologia e prática da Igreja Católica Romana: A doutrina da ressurreição: “desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”
A doutrina da
ressurreição: “desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”.
Como funciona o Sola
Scriptura para os protestantes? Ao analisar a doutrina da descida de Cristo
à mansão dos mortos, pensemos um pouco sobre isso.
De fato, ela trata de uma das passagens mais difíceis de
serem interpretadas nas Escrituras. Assim, aquela postura protestante sobre a
clareza Bíblica, e sobre a afirmação de que as coisas que Deus quis revelar,
são aqui demonstradas de modo mais prático. Esse assunto foi revelado? É
importante para a salvação? A resposta cristã catálica para ambas as perguntas
é sim.
Cristo continuou existindo em Sua Pessoa divina entre a Sua
morte e Sua ressurreição. É claro que não poderia ser diferente? E quanto à Sua
humanidade? Não há outra pessoa de Cristo, mas uma só. É Sua Pessoa divina.
Então, não morte, a humanidade de Cristo sofre a morte e a Sua Pessoa
experimenta esse estado por meio da Sua humanidade.
Por outra perspectiva, diríamos que Cristo assumiu a natureza
humana para morrer, e assim conheceu a morte. Desse ponto de vista, está certo
que a morte não é inexistência, pois Cristo não pode deixar de existir. Também
é fato que a natureza em si não é algo capaz de experimentar a morte se não for
consciente, uma pessoa. Portanto, Cristo experimentou a morte porque tornou-Se
homem.
Há protestantes que concordam com a doutrina da descida de
Jesus à mansão dos mortos, e outros não, conforme diz Gregg. Isso mostra a
diferença que há entre a fé católica e a fé protestante. Católicos e
protestantes possuem a Bíblia, ambos podem interpretá-la.
O protestante afirma que há clareza bíblica, e que pode
descobrir o que Deus quis revelar. No entanto, muitas vezes interpreta
diferentemente da tradição e do magistério da Igreja Católica.
Então, para não encontrar-se em situação desconfortável, deve
afirmar que essa doutrina não é essencial para a salvação, para poder continuar
com sua interpretação particular, ou do seu grupo, contra a doutrina geral
claramente explicada pela Igreja Católica e confirmada em toda a tradição.
Mas, alguns dirão, contra a interpretação tradicional, que a
expressão desceu à mansão dos mortos desenvolveu-se na história de um modo
duvidoso, pois não estava nas versões mais antigas do Credo. Então, duvidam da
origem apostólica da expressão e da interpretação bíblica, afirmando que a
Bíblia não fala do assunto de forma explícita.
No entanto, quando o leitor examina a Escritura e fica com
outra opinião e não a posição oficial da Igreja, ele não tem a certeza de sua
posição, e ainda assim se recusa a deixá-la, e afirma estar interpretando a
Bíblia e seguindo seu ensinamento. Isso mostra que autoridade interpretativa particular ou coletiva, de um grupo
cristão, está acima de tudo, o que é um fato, já que a posição consagrada pela
Igreja, equilibrada, clara, sólida, é descartada.
E quando se apresentam objeções à posição oficial, a Igreja
possui respostas satisfatórias. Basta estudar a colocar-se sob a autoridade da
Escritura, que afirma que a Igreja é coluna e sustentáculo da verdade. Então, o
princípio Sola Scriptura estará sendo
corretamente seguido, pelo cristão católico, pois uma vez ouvindo a Igreja
temos o fundamento para essa obediência vindo claramente da própria Escritura
Sagrada. Ou seja, há uma doutrina clara e revelada, que é a de ouvir a Igreja,
e outra que está sendo examinada por ser menos clara. A Igreja possui a resposta.
E o católico a encontra por ser comportar biblicamente ouvindo Bíblia e a
Igreja.
Gledson Meireles.
segunda-feira, 12 de agosto de 2024
Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana
Refutação a respeito do cânon bíblico e da interpretação bíblica oficial
O cânon da Escritura
Não é possível afirmar que os livros da tradução dos LXX, a Septuaginta, não estavam contidos na Bíblia hebraica, e que nunca fizeram parte dela, simplesmente porque o cânon não estava fechado no tempo de Cristo, no primeiro século.
Essa afirmação de Gregg Allison é gratuita. Se não havia
cânon, não se pode afirmar que tal livro nunca fez parte de uma lista. É o primeiro
ponto refutado.
Ainda, se a Igreja usou a Septuaginta e não fez qualquer
crítica a seus livros no primeiro século, é outra evidência de que o cânon
estava em aberto.
Existem evidências a favor de ambas as posições? Vejamos. A
lista de Melito em 170 d. C. não contém Ester. E Ester é um livro inspirado.
Ele não era reconhecido em toda a Igreja da época. Então, o cânon estava em
aberto.
Orígenes, no século III, inclui a cara de Jeremias, o que
prova que o cânon estava em aberto.
Santo Atanásio, no ano 367 d. C., inclui a Carta de Jeremias
e Baruque. Também, Santo Atanásio não inclui Sabedoria, Eclesiástico, Ester,
Judite e Tobias. Então o próprio livro de Ester estava sendo rejeitado por
muitos, e certamente não poderia ser usados para fundamentar doutrina, o que
mostra que o cânon estava em aberto.
São Cirilo optou pelo cânon hebraico. A falta dos
Deuterocanônicos na maioria dos escritores dessa época não mostra que eram
rejeitados sempre, assim como a rejeição de Ester e a aprovação de Baruque não
prova que sempre foi assim. Eram tempos de discernimento.
E mais. A contagem dos livros divergia entre os escritores
cristãos.
Gregg fala da intervenção
decisiva de Santo Agostinho ao aceitar o cânon com os deuterocanônicos,
seguindo os apóstolos.
A lista dos livros inspirados, conforme aceito por Santo
Agostinho, foi também definida em Concílios regionais, como o de Hipona em 383,
o terceiro de Cartado em 397 e o quarto de Cartago em 419.
Isso evidencia que a questão havia sido fechada, pois em
todos esses concílios o cânon era idêntico, com os 46 livros par ao Antigo
Testamento e 27 para o Novo Testamento.
Santo Agostinho não poderia ser o influenciador de todo esse
consenso, mas a decisão dos concílios é testemunho histórico da unidade da
Igreja da época sobre o cânon, e que Santo Agostinho refletia essa unidade.
Assim, o teólogo protestante mostra que essa decisão foi
adotada sem contestação significativa
até o século 16. Essa constatação comprova a verdade do cânon católico.
É evidente que o cânon cristão estava fechado, pelo que se
pode notar nas decisões anteriores, mas que ainda surgiam algumas dúvidas,
talvez pela falta de comunicação e pelas dificuldades existentes na época, e
porque a Igreja não havia sido plenamente clara nesse ponto ainda.
Fica claro também que o Protestantismo rejeitou os
deuterocanônicos por motivos doutrinais, e pelo equívoco de que o cânon de 22
livros hebraicos estava fechado no primeiro século. Essa decisão dos judeus foi
feita mais tarde. E quando o Protestantismo adere a essa decisão e não a da
Igreja, está agindo equivocadamente, mostrando sua cisão com a tradição bem desenvolvida.
Gregg Allison cita um argumento de Peter Kreeft. Esse afirma
que a Bíblia foi escrita pelos apóstolos e santos e definidas pelos bispos que
os sucederam, ou seja, a Igreja escreveu a Bíblia e a Igreja definiu a Bíblia.
Mas Gregg afirma que isso é uma perspectiva equivocada. E
para provar sua asserção, afirma que essa visão de Kreeft não considera o real
desenvolvimento do cânon.
Seria uma negligência não reconhecer que Santo Agostinho
“rompeu com uma tradição bem desenvolvida”, que era adotada por São Jerônimo. E
qual seria essa tradição? A tradição de não incluir os escritos
deuterocanônicos, que são chamados pelos protestantes de apócrifos. No entanto,
como citado acima, em pleno século IV Santo Atanásio reconhecia a inspiração de
Baruque. Então, não existe tal tradição aludida por Gregg.
Entretanto, conforme mostrado pelo próprio Gregg, havia
divergência desde o início, e a Carta de Jeremias e Baruque foram reconhecidos
por alguns escritores cristãos, assim como o livro de Ester foi rejeitado por
muitos. Isso mostra ignorância, pois tanto uma posição como a outra não é
encontrada no cânon protestante. Assim, não há uma tradição bem desenvolvida.
De fato, Santo Atanásio fala de 22 livros da Bíblia, o que
sugere o cânon idêntico ao protestante, mas a contagem que faz desses livros
inclui Jeremias, Baruque, Lamentações e a Carta de Jeremias em um só livro.
Essa tradição à qual alude Gregg não existe.
Também, ao afirmar que os concílios que definiram o cânon,
como citado acima, eram concílios regionais que refletiam a influência de Santo
Agostinho, não ajuda o argumento. Pense bem. O Protestantismo nega a
unanimidade da Igreja antiga sobre o cânon bíblico. De fato, é inegável que a
prova está do lado do cânon católico.
Primeiro, não há unanimidade na rejeição dos deuterocanônicos,
como provado acima.
Segundo, a posição de Santo Agostinho menciona a posição dos
apóstolos, o que é digno de nota.
Terceiro, os concílios da antiguidade foram unânimes na
definição dos livros do cânon católico, o que mostra que o consenso da Igreja
na época.
Quarto, deve-se lembrar que o próprio São Jerônimo concede
traduzir os livros que Santo Agostinho propôs, o que mostra que sua posição não
era ratificada pela Igreja da época.
Tudo na direção que evidencia a autenticidade do cânon
católico. Se o protestante não puder refutar cada argumento acima, que aceite a
verdade do cânon católico.
Ainda, refutando a segunda objeção de Gregg, a autoridade da
Igreja leva em conta a Escritura redigida anteriormente, de modo que essa foi
reconhecida pela Igreja. Essa Escritura contem 73 livros.
O fato é que não havia cânon judaico no tempo dos apóstolos,
e quando a Igreja definiu os livros inspirados ela o fez sem a participação dos
judeus, pois esses não seguiram Jesus e não aceitavam o evangelho.
É claro que a Palavra de Deus precede a Igreja. A Igreja
reconheceu o cânon.
O que está sendo discutido é a definição dos livros para os
fieis, que foi produto da Igreja, o que não torna a Igreja acima da Bíblia, mas
continua mostrando que a Igreja é serva da Palavra. A Bíblia está acima da
Igreja, ela é seu alimento e força.
Portanto, a perspectiva protestante para o cânon que rejeita
os deuterocanônicos possui essas dificuldades insolúveis. Deve-se, portanto,
reconhecer que o cânon foi fechado após o século primeiro.
Na Igreja não havia unanimidade para rejeitar ou adotar os
deuterocanônicos em geral.
Não há tradição que sugira que os sete livros deuterocanônicos
devessem ser rejeitados como inspirados.
Os concílios da Igreja definiram o cânon que continua até
hoje na Igreja Catolica.
São Jerônimo cedeu ao pedido de Santo Agostinho para traduzir
os outros livros, e não o faria se tivesse certeza que a posição oficial os
rejeitava. Portanto, a opinião anterior de São Jerônimo era particular.
E, como Gregg não mencionou, concílios ecumênicos posteriores
confirmaram o mesmo cânon daqueles antigos concílios regionais, inclusive o
Concílio de Trento, que usou da máxima clareza ao definir novamente os mesmo
livros.
Esse dado histórico inegável e irrefutável, refuta o que
Gregg tentou provar, ou seja, que o cânon curto já existia no primeiro século.
Ele partiu dessa suposição para apresentar toda a questão, que fez de modo
interessante, e que contraria a suposição do autor.
Foi a única prova que o mesmo sugeriu em sua apresentação. As
demais objeções fluem dela. Sendo essa prova refutada, e cada objeção também,
não fica de pé a posição de Gregg Allison.
As objeções que apresentou foram todas refutadas. Desse modo,
basta que, uma vez provado historicamente, e racionalmente, que o protestante
aceite o cânon com todos os 73 livros inspirados.
A interpretação oficial da Escritura
Quando a Igreja afirma que tem o direito exclusivo de
interpretar a Bíblia, está agindo razoavelmente. De fato, o protestante também
não pode interpretar a Bíblia contra a interpretação oficial do Protestantismo.
Gregg afirma que os protestantes não possuem um magistério
para julgar se a intepretação da Escritura é autêntica e autorizada. As igrejas
protestantes insistem que cada crente utilize princípios sólidos de interpretação,
sob a orientação do Espírito Santo e com ajuda dos líderes divinamente ordenados e capacitados. Ou seja, os
protestantes possuem o mesmo que os católicos nesse quesito. O que resta saber
é se os lideres protestantes são ordenados por Deus como os líderes católicos. Ainda,
Gregg não afirmou, mas é preciso lembrar, que a interpretação dos crentes
protestantes só será autêntica e autorizada se estiverem conforme as doutrinas
aceitas pelo Protestatnismo geral. Caso não, serão desconsideradas. Nesse
ponto, agem como a Igreja Católica.
Os protestantes afirmam a clareza da Escritura. Gregg também
afirma que o quádruplo sentido da Escritura gera desconfiança entre os protestantes
por causa da clareza bíblica mencionada.
Ao dizer que as palavras da Escritura apresentam sentidos ocultos que podem comunicar graça, é algo
desconhecido na teologia católica. Falando a protestantes, Gregg ensina algo
que não se encontra na doutrina católica.
Conforme a doutrina católica, expressa no Catecismo, todo
sentido da Escritura é fundamentado no literal. Então, quando os protestantes
propõem uma interpretação para chegar a um sentido simples, verdadeiro e
gramatical do texto, está agindo como católico.
Em resumo, os princípios de interpretação bíblica de Lutero e
Calvino, elencados por Gregg Allison, são: 1.falimiaridade com a carta aos
Romanos. Os cristãos católicos estudiosos da Bíblia têm essa familiaridade. Todos
os católicos podem e deveriam estudar a Bíblia, segundo suas possibilidades. 2. Sólida estrutura teológica. Todos os católicos
são aconselhados a isso. 3. Visão Cristocêntrica. Essa visão é essencialmente
católica. O catecismo ensina que toda a Escritura fala de Cristo. 4. Contexto.
É tipicamente católica a interpretação que tem apreço primordial pelo contexto.
5. Analogia da fé. Essa analogia do ensino de toda a Escritura. 6. Humildade,
etc. Isso é parte da prática católica. Assim, todos esses conselhos são
compartilhados por católicos e protestantes.
Foi refutado o sola
scriptura e mostra a importância da tradição. A interpretação literal é
preeminente, e a espiritual é fundada no literal. Os quatro sentidos mostram a
riqueza da interpretação católica. Basta notar o quanto é superior quando se
compara a interpretação católica e a protestante. Para uma constatação dessa
realidade, que o leitor leia o livro sobre a imortalidade da alma.
Quanto ao cânon, a Igreja Católica recebeu de Cristo e dos
apóstolos os livros inspirados e os definiu nos concílios regionais e
ecumênicos.
Gledson Meireles.
domingo, 11 de agosto de 2024
Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana: uma avaliação evangélica
Avaliação do tópico:
A doutrina da revelação: Deus vem
ao encontro do ser humano
A Sagrada Escritura, artigo 3
Gregg
explica que pelo processo interpretativo deve-se buscar os quatro sentidos da
Escritura. Os dois sentidos, de que fala o Catecismo, que se tornam seu significado quádruplo.
É
um meio de explicar o que o Catecismo afirma em outras palavras. Mas, parece
que a exatidão não está sendo total. De fato, o Catecismo fala da uma antiga
tradição que distingue dois sentidos (literal e espiritual) da Escritura, onde
o sentido espiritual se divide em alegórico, moral e anágogico, e que a concordância entre os quatro sentidos
garante a riqueza da leitura vida da Escritura na Igreja. Não afirma que se
deve buscar os quatro sentidos mas que tradicionalmente esses quatro garantem
uma riqueza para a leitura da Bíblia na Igreja. É algo que não tem implicações
sérias, mas parece não ter ficado exposto o sentido que o catecismo traz.
Também,
quando se explica o sentido espiritual, Gregg explica como “o sentido não das
palavras da Escritura, mas das coisas... No entanto, o Catecismo afirma que não somente o texto da Escritura, mas também
as realidades e os acontecimentos. Assim, o Catecismo afirma que o sentido
espiritual está nas palavras e nas coisas, e Gregg entendeu que está apenas nas
coisas, e não no sentido das palavras. É algo bastante sutil, mas que pode
trazer diferenças quando à exatidão da exposição da doutrina católica.
São
somente essas observações mais importantes na apresentação de Gregg Allison.
Agora, vejamos sua avaliação evangélica do artigo sobre a Sagrada Escritura.
Gregg
nota que a revelação divina é a revelação especial, no jargão evangélico. E em
geral ele nota concordância com a doutrina protestante.
Quanto
à transmissão da revelação divina/Solacriptura, Gregg Allison afirma que há grande distanciamento entre as duas
posições, católica e evangélica. O Protestismo afirma somente a Escritua, e
nesse ponto não há tradição. Não seria Escritura mais Tradição, mas a Escritura
seria formalmente suficiente. Esse é o princípio fundacional do Prostantismo
quanto à Bíblia.
E
o teólogo apresenta as razões que o Protestantismo tem para rejeitar a tradição
como meio distinto de revelação. A primeira razão é a ideia da Tradição como suplemento ao texto da Escritura.
Pode-se
dar uma resposta da teologia católica a isso, mostrando o erro da teologia
protestante. Jesus disse em João 16, 12 que ainda tinha muitas coisas a dizer,
e que os apóstolos não podiam suportar ainda. Com isso, tem que é de suma
importância o que Jesus tinha a dizer.
Então,
Calvino afirma que quando os apóstolos puseram por escrito eles escreveram
tudo, de modo a não ter mais lugar para lembrar algo relativo a isso de viva
voz, todo “o conhecimento perfeito e específico da doutrina evangélica”.
Há
um problema aqui que a teologia protestante não consegue resolver. Jesus afirma
que há algo mais a ser dito por Ele, o que presume-se que é de suma
importância, pois vem de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o próprio Deus Filho.
Ainda, os apóstolos não podiam suportar naquele momento, o que demostra ser
algo de importância real.
Então,
mais tarde puderam aprender e suportar, pois o Espírito Santo os guiou a toda a
verdade. No entanto, há uma diferença entre ensinar toda a verdade e “deixar
registrado por escrito” toda essa verdade. Esse suposição não está no texto, e
é algo que a teologia evangélica acrescenta.
São
Paulo escreveu: “Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos
que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa” (2 Ts 2, 15).
Nesse
momento o apóstolo estava inspirado, e ensinada toda a verdade, guiado pelo
Espírito Santo. Contudo, ele não o fez por escrito todo o ensinamento, mas
parte por escrito e em parte por palavras. E por que não colocou tudo por
escrito? Porque tal ordem nunca existiu. Jesus mandou ensinar, mas não indicou
o meio obrigatório.
A
melhor forma de revelação escolhida foi a escrita, e assim nasceu a Bíblia. No
entanto, há espaço para outros modos de ensinar, e Jesus deixou essa
possibilidade na Sua Igreja.
Entende-se
assim, que algumas coisas ficaram no modo de viver da Igreja, de forma que são
palavra de Deus, guardada pelos apóstolos e conservada na Tradição, mas que
viveram por meio das práticas da Igreja, conservadas na liturgia, conhecida
através dos escritos dos santos padres, etc., que indicam a origem apostólica.
Dessa
forma, os apóstolos conheceram toda a verdade salvífica, e a ensinaram de fato.
O meio que fizeram foi primordialmente por palavras, mas conservadas
soberanamente por escrito enquanto outros dados da revelação eventualmente
permaneceram por palavras, e foram mais tarde registradas pelos cristãos.
Portanto, a forma que a Palavra oral foi conversada não é inspirada como o
texto bíblico, mas é Palavra de Deus igualmente. Nenhum escrito patrístico é
inspirado, mas testemunha de algo que veio dos apóstolos.
Dessa
forma, o texto de 2 Ts 2, 15 tem implicação importante. Ele mostra que naquele
instante o apóstolo inspirado os manda guardar algo que não havia sido escrito,
o que implica que toda a revelação
não foi obrigatoriamente posta por escrito.
E,
caso o leitor não percebeu, o que está sendo feito para provar a existência da
Tradição é a leitura do texto bíblico. Assim, a Igreja Católica segue, de certa
forma, o Sola Scriptura que é
distinto do protestante. Enquanto o protestante crê que essas coisas que são
Paulo alude como ensinadas por palavras foram todas escritas de alguma forma
depois, enquanto que a Igreja Católica sempre entendeu que de fato houve
elementos que não forma escritos pelos autores inspirados, mas que foram
ensinados por eles de viva voz e ficaram na tradição da Igreja. E o texto
bíblico sugere a compreensão católica, pois São Paulo não deixaria algo
importante para ser escrito se isso fosse obrigatório, de modo que perdesse a
oportunidade de escrever, apenas ordenando que os leitores se lembrassem também
do seu ensino oral. É uma prova de que essa parte do ensino, igualmente
importante, por ser Palavra de Deus, não foi e nem necessitava ser escrita.
Afirmar
que não havia “necessidade de nenhum corpo complementar de tradição de
comunicação oral”, não está no texto bíblico. Pelo contrário, o mesmo indica a
tradição oral. Essa é a refutação do primeiro ponto posto pelo teólogo Gregg
Allison.
A
segunda razão por que os protestantes rejeitam tradição seria a demora por que passou o desenvolvimento do conceito.
O
próprio texto de 2 Ts 2, 15 é evidente de que o ensino escrito era
complementado pelo oral. Alguns ensinamentos por palavra e por carta não seria
razoável citar se ambos fossem iguais. São Paulo apenas mencionaria um. Mas
não. O texto firma que é necessário ficar firmes no ensinamento que aprendestes. E o modo pelo qual
aprenderam, foram dois, por palavras ou por cartas. Há complementariedade.
Em
grande parte, o que foi posto por escrito foi aquilo que estava sendo motivo de
controvérsia. Entende-se assim as epístolas, por exemplo. Não havia um plano de
ensinar a doutrina geral por escrito, mas os autores ensinavam oralmente e
escreviam para as comunidades aquilo que era necessário no momento. Ambas as
coisas deviam ser conservadas, as tradições e os escritos.
Santo
Ireneu fala do plano de salvação conservado por escrito. O que foi escrito é
perfeito, não há nada errado. E o que foi deixado oralmente e conservado,
segundo fontes fidedignas, é igualmente importante. Santo Ireneu não está ali
tratando da tradição e da Escritura, e por isso não se refere aos dois modos ou
duas fontes de revelação.
E
Gregg admite que para defender a fé contra os hereges que ensinavam possuir a
tradição que corrigiria a Escritura, Santo Ireneu fala da tradição que foi ensinada
pelos apóstolos e conservada na sucessão apostólica, e cita o texto de Santo
Ireneu se referindo à Escritura e à Tradição. Quando o mesmo afirma que a
doutrina está preservada nas igrejas apostólicas, isso não é o mesmo que os
hereges estavam afirmando. Para os hereges a sua tradição não era a dos
apóstolos e nem de Cristo.
Quando
Santo Tomás distingue as Escrituras dos escritos dos doutores, isso é o mesmo
que a Igreja Católica faz oficialmente, pois não há revelação feita aos padres
da Igreja. Eles apenas conservam em seus escritos o que é da tradição. A ideia
da tradição desenvolveu-se, não houve mudança, como Gregg entende.
Ver
tomás de aquino nota 38
O
terceiro motivo que os protestantes apresentam contra a tradição é que essa
seria mantida infalivelmente pela Igreja sem
a Escritura. Mas isso não é exato. A Igreja é guiada pelo Espírito Santo e
isso é feito majoritariamente pela Escritura.
Se
a Igreja não é infalível para preservar a verdade, então ela pode ser perdida.
É isso que o Protestantismo afirma que ocorreu, e isso é absurdo. A coluna e
sustentáculo da verdade não teria serventia.
Em
nenhum momento a Igreja alega a infalibilidade para promover doutrinas fora da
Escritura. Isso é um equívoco da teologia protestante ao afirmar isso da teologia
católica. Deus ilumina a Igreja para guardar a sua Palavra, e não as mentes de
todos os fieis. De fato, os hereges surgem no seio da Igreja, e a autoridade
eclesiástica é instada pelo Espírito Santo para defender a fé. Esse é o ensino
de João 16, 13 e 14, 26. O Espírito Santo está unido à Palavra de Deus, e o faz
grandemente por meio do magistério da Igreja. O que a teologia evangélica pensa
sobre a iluminação das mentes individuais é praticamente o que a Bíblia está
afirmando em relação à autoridade da Igreja docente. De fato, o Espírito Santo
lembra à Igreja o que já foi ensinado por Cristo e pelos apóstolos, e não novas
revelações.
A
quarte razão que a teologia evangélica apresenta contra a tradição é que a
Escritura mais Tradição seria estrutura inerentemente
instável. E afirma que na prática quando as duas entra em conflito
prevalece a tradição: “a autoridade da Tradição sobrepuja a da Escritura”. É o
mesmo que dizer que “na prática”, como ensinado pela teologia evangélica,
quando a Bíblia e a interpretação particular entram em conflito, “a autoridade particular sobrepuja a da
Escritura”. Por isso, a interpretação de uma pessoa é contraposta à da
Igreja com sua interpretação oficial, e o membro da igreja se recusa a aceitar
a autoridade da mesma, prevalecendo sua interpretação da Palavra.
Se
a crítica é que não haveria harmonia entre a Bíblia e a Tradição, isso acontece
de fato entre a Bíblia e a intepretação particular de quem acredita ter a mente
iluminada pelo Espírito Santo. Se a “promoção” da doutrina da imaculada
conceição de Maria é exemplo de que a Tradição é elevada em detrimento da
Escritura, o que não dizer das muitas interpretações particulares dos
reformadores e muitos outros protestantes que entram em conflito com a
Escritura, mas que prevalecem nas tradições das denominações.
Para
ensinar a imaculada conceição, a Igreja entende perfeitamente que conforme a
Bíblia não há exceções, todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus.
Então, em Adão Maria pecou, por direito, por natural herança, por ser filha
natural de Adão e Eva por meio de sua
concepção advinda da conjunção de seus pais. Somente Jesus, gerando pelo
Espírito Santo, foi exceção nesse ponto. No entanto, entende-se que a salvação
da virgem Maria se deu na concepção, fazendo com que de fato ela não herdasse o
pecado, pelo mérito do sacrifício de Cristo. Essa doutrina está conforme a
revelação bíblica.
Maria
não pecou em palavras, ações, pensamentos e intenções, etc., como sugere Gregg.
Ela foi isenta do pecado por graça de Cristo. Maria tinha a mesma natureza que
todos, mas sua culpa foi removida, ela foi salva, e foi gerada na amizade de
Deus. Assim, o dado da Tradição está conforme ao da Escritura.
A
observação de Warnick serve para fontes humanas. Mas a tradição não é humana, é
Palavra de Deus. O que Warnick observa aplica-se às interpretações
particulares. De fato, quando uma interpretação entra em conflito com outro
dado da revelação, geralmente a interpretação pessoal se ergue contra a
Escritura entendendo que está correta, e confronta a autoridade da Igreja. O
intérprete se torna autoridade de facto
apesar de dizer o contrário. Apesar de afirmar estar seguindo a Bíblia.
Desse
modo, a instabilidade Escritura e intérprete individual em seu livre exame é
que deve ser rejeitada. O modelo de revelação como somente a Bíblia cria essa estrutura da forma com que a revelação
chegará ao coração do pecador, que seria sua interpretação pessoal, entendida
como sendo percebida por sua mente iluminada pelo Espírito Santo. Essa
estrutura é falha.
E,
por fim, a Tradição como revelação divina como mostrada acima é um acréscimo
vindo do início da Igreja, dos tempos apostólicos, e a contradição com a
posição protestante do século 16 convida a escolher o modelo anterior, pois a
Bíblia sozinha diante do intérprete causa o que foi aludido acima.
A
suficiência da Escritura está correta, mas pela perspectiva material, pois ela
será interpretada. Se o intérprete pode errar, o ensino que terá não é o da
Escritura, mas o próprio erro, e então não saberá o leitor o que é preciso para
ser salvo e viver de modo que agrade a Deus. Assim, a Lei do Senhor é perfeita
(Sl 19, 7), mas deve ser bem entendida. O cristão tem pleno preparo para fazer
isso, conforme 2 Tm 3, 16-17? Não tem, pois deve obedecer à autoridade da
Igreja que é autêntica para interpretar a Bíblia e mostrar o que a mesma ensina
para sua salvação e para que agrade a Deus.
A
Igreja Católica não formula doutrina ou prática fora da Escritura, mas tudo
está em total consonância com a Escritura, visto ter vindo de Deus, através de
Cristo, e por meio da inspiração do Espírito Santos aos escritores do Novo
Testamento ao mesmo tempo, pois ensinavam por palavras e por escrito.
De
fato, a Igreja não deriva a certeza das verdade apenas da Bíblia, mas também da
Tradição, pelos motivos já expostos. Isso não nega que a Bíblia seja
suficiente. Seria o mesmo que afirmar que para interpretar a Bíblia não é
preciso iluminação da mente pelo Espírito Santo, pois a Bíblia seria
suficiente. O protestante pode raciocinar dessa forma, e entender que o papel
da tradição é quase que totalmente para fazer entender melhor a Escritura.
Quanto
ao argumento de que a Igreja existia sem a Escritura, pela Tradição, esse foi
usado por Santo Ireneu contra os hereges. De fato, a Escritura é necessária
para o bem e o ser da Igreja, mas a questão é que o Espírito Santo não deixa a
Igreja desviar-se. Também, como inspirador da Escritura, não deixa que essa se
perca. É simples. O argumento é apenas para mostrar o poder de Deus na defesa da
Sua Igreja. E, também, na preservação da Sua Palavra.
Como
provado, somente a Escritura é uma estrutura errônea. A Escritura, Tradição e
Magistério mantem a verdade da suficiência da Escritura, como já mostrado
acima.
A
questão das outras autoridades, tradição e Igreja, com falíveis, é
problemática. A suficiência da Escritura funciona como provado antes, ou seja,
no seio da Igreja. Isso é o que foi entendido sempre, e é afirmado pelos pais
da Igreja. O mesmo se entende de 2 Tm 3, 15-17. A Bíblia interpretada
corretamente transmite a verdade que que suficiente para ensinar, repreender,
corrigir, instruir em justiça, etc. Se mal interpretada, seu ensino não chega
ao pecador e esse não pode fazer nada do que foi elencado antes.
A
ideia de que o Antigo Testamento era já suficiente para os cristãos, e que os
escritos adicionais do Novo Testamento continuam nesse todo suficiente é uma
ideia absurda. Para que acréscimo ao que já é suficiente? Esse se tornaria
supérfluo.
O
princípio Sola Scriptura é entendido
como resumo de várias passagens bíblicas, mas como visto, da forma como o
Protestantismo concebe, está equivocado. O que Peter Kreeft certamente disse
foi que o Sola Scriptura não é um
resumo ou decorrência da Escritura ou de outras crenças.
A
Escritura e sua interpretação
A
respeito da importância, inspiração e verdade da Escritura há concordância maior entre a teologia
católica e a teologia evangélica, segundo Gregg Allison.
O
fundamento da importância da Escritura é distinto. E qual é essa distinção?
Allison afirma que a teologia católica associa a Escritura à Eucaristia. Por
sua vez, a teologia evangélica apela à
inspiração, à autoridade, à suficiência, à necessidade, à clareza, ao poder e à
veracidade. E ambas consideram o papel vital da Bíblia na Igreja.
Essa
avaliação é interessante é um pouco obscura. Talvez superficial demais.
Certamente, bem incompleta. O autor afirma que o fundamento para a importância
da Bíblia tem sua associação com a eucaristia no Catolicismo, e no
Protestantismo apela à inspiração e etc.
Mas,
podemos questionar isso. Para a Igreja Católica o fundamento da importância da
Escritura é sua inspiração divina. Ela é importante porque é a Palavra de Deus.
E a Escritura é a forma suprema de revelação.
Por
isso, é certo afirmar que Gregg não comenta o artigo 3 satisfatoriamente, pois no
número 102 do mesmo, o Catecismo afirma que em toda a Escritura há somente uma
Palavra: Cristo, que é o “Verbo único” que Deus pronuncia. Então, a Igreja
sempre venera a Bíblia como também o Corpo do Senhor.
De
fato, aqui, a Igreja está afirmando que a Bíblia fala inteiramente, em todo o
seu conteúdo, de Jesus Cristo, e por isso ela é venerada. Também, que a Igreja
venera a Eucaristia. São duas coisas. Mas Gregg afirma que o fundamento da
importância da Bíblia seria sua associação à Eucaristia, ao passo que o
Protestantismo fundamenta a importância da Escritura na inspiração e etc, o que
é um assunto totalmente diverso. E o Catecismo ensina no número 104 que a
Igreja encontra alimento e força na Sagrada Escritura. Esse então é o alimento
e a força necessária para a exisência da Igreja, o ser da Igreja. Afirma também
que para que a Escritura não permaneça letra morta é preciso que Crsto nos abra
o espírito para compreendermos a Escritura (n. 108).
Afirma
ainda que a teologia evangélica concorda em parte com a teologia católica, pois
há diferenças quanto à interpretação. A diferença principal se dá no fundamento
da abordagem adotado para interpretar a Escritura. O Protestantismo afirma a clareza da Escritura, então ela é
compreensível aos cristãos e esses são responsáveis e capazes de interpretar a
Bíblia.
Esse
ponto é importante. De fato, a Igreja Católica não se exprime oficialmente
dessa maneira. Como pode qualquer pessoa ser capaz de interpretar a Bíblia? Em
que sentido? Allison explica. Cita Deuteronômio 30, 11-14, quando Moisés disse
que o mandamento que Deus ordena não
é difícil demais. E afirma que a palavra está perto, na boca e no coração.
De
fato, ali não se deve entender toda a
Bíblia, mas o mandamento moral que Deus estava ensinando. Esse é um ponto que
mostra o equívoco da teologia evangélica ao tentar tirar dessa passagem
implicações maiores. De fato, nem a teologia evangélica afirma que toda a
Bíblia é clara, mas apenas os pontos necessários à salvação.
Depois,
cita Dt 31, 9-13, onde está escrito que a Lei deveria ser lida para que o povo
a ouvisse. A leitura da Lei para que todos ouçam e obedeçam.
De
fato, se trata da clareza geral, e não da interpretação da Bíblia feita por
cada um dos israelitas, que ouviam a leitura, nem para os cristãos de hoje.
Então, existe uma inteligibilidade contínua. Se bem explicado, esse ponto não é
negado pela Igreja Católica.
A
Bíblia é lida e compreendida por todos. Gregg cita, entre outros versículos,
Neemias 8 e Atos 17, 10-12. Há coisas obscuras, mas o que Deus quis revelar
está suficiente claro (Dt 29, 29). A Escritura é acessível e inteligível para o
Povo de Deus, e isso é a clareza da Escritura.
Ainda
assim, não está clara essa doutrina. De fato, é notório que nem todos
compreendem a Bíblia quando a leem ou ouvem sua leitura. Nem todos os cristãos
a compreendem assim.
Então,
o autor afirma que essa doutrina é uma das razões que fizeram os reformadores
traduziram a Bíblia, também é motivo para que os protestantes distribuam
Bíblias, e incentivem a leitura pessoal e estudos bíblicos em família.
Menciona
o Concílio Vaticano II que incentivou a leitura e o estudo da Bíblia, mas que
isso empalidece quando se compara
isso ao que há entre os protestantes.
De
fato, se a Bíblia é clara, não deve haver tanto estudo para procurar fazer
entender seu sentido. Portanto, a clareza está em certas coisas e não em todas.
Então, esse tópico de Gregg não explica que a doutrina protestante sobre a
clareza ensina que a Bíblia é clara nas verdades fundamentais, que levam à fé
em Jesus Cristo e à salvação.
Nesse
ponto nenhum cristão católico discorda. Quanto aos estudos protestantes sobre o
conteúdo a Escritura, esses estudos indicam que há dificuldade imensa, de modo
a fazer surgir escolas teológicas diversas, aparecerem muitas interpretações,
muitas vezes conflitantes, mostrando que se trata de um terreno vasto e de uma
dificuldade evidente. Assim, Deus quis revelar essas coisas, e ainda assim elas
são difíceis de compreender. Esse ponto refuta a afirmação categórica da
teologia protestante acima, pelo menos da forma como foi colocada.
Ainda,
a leitura da Lei em Neemias 8, a todo o povo, afirma que Josué, Bani, Serebias, Jamin, Acub, Sabatai, Hodias, Maasias, Celita,
Azarias, Jozabad, Hanã, Falaías e outros levita explicavam o sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura.
Havia necessidade de explicação da leitura da Lei ao povo.
A
exposição de Gregg sobre a clareza da
Escritura no respectivo tópico do seu livro é insuficiente para provar seu
argumento e é facilmente refutada. Se a Escritura é compreensível a todos os
cristãos, então os cristãos católicos a compreendem quando leem e ouvem sua
leitura na Igreja. Todos já entendem o pontos fundamentais. Se há necessidade
de estudo e explicação, então entra aí a autoridade da Igreja. Essa questão não
é mostrada por Gregg Allison nesse tópico.