Ellen White e a Tradição
Comentário feito ao
Livro: Conselhos de Ellen White
sobre Sola Scriptura: o que a mensageira
adventista realmente disse sobre o tema. Autor: Davi Caldas, 2021:
Para
o cristão adventista que deseja conhecer mais
sobre
a Igreja Católica Apostólica Romana
Introdução
O
presente estudo de partes do livro Conselhos
de Ellen White sobre Sola Scriptura visa entender mais a doutrina
adventista e ao mesmo tempo apresentar a doutrina católica.
O
leitor entenderá melhor o que é a Tradição Apostólica por meio das
apresentações do papel de Ellen White na Igreja Adventista do Sétimo Dia –
IASD, e verá que, ao que parece, a profetisa adventista toma o lugar da
tradição apostólica para a Igreja Adventista. Também verá que aquilo que é dito
na doutrina adventista sobre a Igreja Católica não pode ser sustentado pela
Bíblia.
Ainda,
verá que a tradição adventista é moldada pela autoridade de Ellen White, de
modo que aqui se faz a comparação entre a Tradição como é entendida na Igreja
Católica e Ellen White conforme seu lugar na doutrina adventista do sétimo dia.
Aprenderá
também que o princípio Sola Scriptura
é incompleto e que a doutrina da infalibilidade do magistério da Igreja é
bíblica.
A
doutrina da santa Igreja Católica Apostólica Romana está fundamentada na Bíblia
Sagrada e na Sagrada Tradição Apostólica. A Sagrada da Tradição Apostólica
comporta os ensinamentos de Jesus Cristo e dos apóstolos, durante o período do
ano 30 d. C. a aproximadamente 100 d. C. Então, a revelação foi fechada e nada
mais foi revelado sobre questões de fé e moral para que sejam cridas por toda a
Igreja.
Esses
ensinos foram transmitidos oralmente pelos discípulos, os primeiros cristãos, e
depois foram sendo ensinados a outros, e praticados pela Igreja, de modo que
seu conteúdo está nas artes, na liturgia, nos escritos dos santos padres, nos
cantos, nas celebrações, nos concílios, nas encíclicas e bulas papais e etc.
Esse modo de transmissão não foi dado por meio de escritos inspirados, mas foi
infalivelmente guardado pela ação do Espírito Santo na Igreja, que não permite
que o erro, a heresia, invada o sagrado depósito.
Mas,
eis que o Protestantismo ensina que a Bíblia somente é a regra infalível de fé,
e que a tradição é importante, mas falível. Ainda, afirma que tudo o que era
necessário para ser escrito e reger a fé e a prática dos cristãos está na
Bíblia, de modo que a tradição sempre deverá ser testada por meio do exame da
Bíblia.
Desse
modo, tudo deve ter “base bíblica”. Contudo, devemos notar que a base bíblica
pode existir em mais de um sentido. Ou seja, pode ser expressa claramente, em
passagens explícitas sobre determinada doutrina, ou pode trazer a base
tacitamente, de modo que haja apenas indicações. Ou também podem os princípios
bíblicos levarem a formular o entendimento que fundamenta certa doutrina. Dessa
forma, a doutrina terá base bíblica.
O
livro ensina também, conforme o princípio Sola
Scriptura, que a Bíblia interpreta a
si mesma. No entanto, quando se diz que “qualquer
leigo dotado de regras básicas de interpretação pode entender o que a Escritura
diz, sem a necessidade de um clero
com autoridade interpretativa exclusiva”, deve-se lembrar que todos, ainda assim, podem errar em
determinado momento ao ler a Bíblia e não entender o que a mesma diz, mas
entender o que seu próprio pensamento formulou sobre a leitura e interpretação
que fez.
Além
do mais, não deve esquecer que o clero católico crê firmemente a doutrina
bíblica que a Igreja não pode cair em erro, não pode ser derrotada pelas
investidas do inferno, e que Cristo está com ela todos os dias até a consumação
dos séculos. Dessa forma, o clero, na pessoa do papa e dos bispos em comunhão
com ele, possui o carisma da infalibilidade, que não é dado a ninguém mais.
Portanto,
diante de tudo isso, se a tradição não é norma de fé e prática para a Igreja
Adventista do Sétimo Dia (IASD), como não o é para todo o Protestantismo, há
uma esfera do ensino adventista que serve como a tradição para o Catolicismo.
Esse lugar é a pessoa da mensageira Ellen Gould White.
Assim
como qualquer doutrina da tradição não pode ser mudada no Catolicismo, qualquer
doutrina que foi confirmada por Ellen White é irreformável no Adventismo. Desse
modo, Ellen White tem o papel de tradição sagrada para o fiel adventista.
Como
está na citação do preâmbulo da declaração de fé adventista, a Bíblia é o único
credo, e as crenças fundamentais que são tidas como ensinos da Escrituras são o
modo que a Igreja Adventista do Sétimo Dia as compreendeu e as expressou,
podendo ser feitas “revisões destas declarações em Assembleia da Associação
Geral”, por entender que o Espírito Santo levou a Igreja a um entendimento mais
claro do assunto, ou mesmo encontrou uma linguagem melhor de ensinar a
doutrina.
Essas
palavras mostram que o estudo da Bíblia está sendo colocado em primeiro lugar,
e mesmo as crenças já ensinadas pela Igreja Adventista por ser revisadas. Dessa
forma, a tradição pode ser testada pelo ensino das Escrituras Sagradas.
Contudo,
a autoridade de Ellen White supre essa lacuna para o adventista, que necessita
de outra autoridade “infalível” para as questões de fé e prática. De fato, uma
doutrina já confirmada por Ellen White, como a santidade do sábado do sétimo
dia, não tem como ser deixada por meio de estudos bíblicos e novas luzes do
Espírito. É um dogma adventista.
Dessa
forma, assim como uma doutrina que já está definida na tradição apostólica,
também uma doutrina ensinada por Ellen White é irreformável para o cristão
adventista. Isso acontece porque é entendido que a doutrina foi encontrada na
Bíblia Sagrada após estudos profundos, e só mais tarde confirmada pelo Espírito
de profecia através da profetisa Ellen White, levando a crer que aquela
conclusão dos estudos bíblicos está correta e tornando a mesma parte
indiscutível do credo adventista, continuando assim de pé o princípio Sola Scriptura, já que a doutrina é
entendida como tendo base bíblica.
Para
o católico, a questão do sábado do sétimo dia é clara, e está na tradição
apostólica, que foi ensino de Cristo e dos apóstolos. A prática e os princípios
mostram ser o dia de domingo o novo sábado para o cristão.
Aliás,
é bastante interessante que o cânon bíblico e a guarda do domingo são duas
informações que ninguém pode encontrar claramente
na Bíblia. É óbvio que dirão que o cânon pode ser encontrado no próprio cânon.
Mas isso em nada muda o fato histórico de que o cânon foi reconhecido após
muitas controvérsias, através de concílios. A guarda do domingo foi mais
pacífica e bem antes do fechamento do cânon há muita informação de que os
primeiros cristãos guardavam o primeiro dia da semana.
Sendo
isso confirmado no consenso dos primeiros cristãos, nas obras dos santos padres
e nos sínodos e concílios da Igreja, entende-se claramente que é fé apostólica
que o sábado do sétimo dia foi ab-rogado e o dia de domingo é o dia santificado
para os cristãos. Isso é dogma de fé católica.
Desse
modo, há de se ter na Bíblia, que é o texto inspirado, uma forma de resolver a
questão: está correta a tradição apostólica nesses quase dois milênios a
respeito do sábado ou Ellen White no século dezenove? Um acurado estudo bíblico
mostra que não há nenhuma objeção adventista quanto ao sábado que a doutrina
católica não consiga responder biblicamente.
Assim, todas as doutrinas
citadas podem ser estudadas à luz da Bíblia e da tradição apostólica: “santidade
do sábado, mortalidade da alma, inferno como sepultura, distinção entre alimentos
puros e impuros, importância da reforma de saúde, Santuário celestial e
escatologia historicista”.
Se
a maioria das Igrejas não crê dessa forma, porque de fato essas doutrinas não
se encontram na tradição, a IASD as ensina, porque conforme seu entendimento,
elas são bíblicas e foram confirmadas por Ellen White. No entanto, a Bíblia é
estudada em todas as Igrejas, e a maioria tem chegado a conclusões diversas, e
que, no caso da ICAR, seu ensino está conforme o ensino da sagrada tradição.
Assim, o que está aqui como lugar de diferença entre o católico e o adventista
é tradição e Ellen White. Todos esses ensinos citados não se encontram na
tradição, mas estão nos escritos de Ellen White.
O
autor afirma que “como não sou católico, não creio em uma igreja infalível”.
Mas, em certo sentido todas as igrejas possuem falhas. No entanto, há algo que é
infalível. Assim, a Bíblia é o único livro infalível. A tradição cristã, é a
única tradição infalível. A Igreja Católica é a única igreja infalível. Isso se
dá nas questões de fé e moral, e não em cada membro em particular, nem nas
formas de ensino, nos instrumentos usados para transmitir a doutrina, e em
todos os demais assuntos não necessariamente de fé e prática. Assim como o
adventista crê na inspiração de Ellen White, e crê que as doutrinas que a mesma
ensinou devem ser transmitidas a todos os cristãos, o católico acredita que a
doutrina bíblica e tradicional na Igreja é que deve ser pregada a todos como
verdade cristã.
Se
a IASD “soube se consertar e desenvolver
em diversos pontos de sua história”, é certo que não mudou nada sobre a
doutrina do sábado, da alma, dos alimentos puros e impuros, do santuário
celestial, do inferno como sepultura e da escatologia historicista. Se o
cristão adventista refletir sobre esse ponto, entenderá que há coisas na igreja
que não necessitam de reforma. Assim, compreenderá o que o católico crê quando
diz que a Igreja é infalível, pois afirma que isso acontece nos pontos
irreformáveis. O que restará é saber se a posição católica ou a posição
adventista está conforme a verdade.
Conforme
dito pelo autor, no capítulo 4 ele se esforça para demonstrar que a IASD é fiel
ao princípio protestante Sola Scriptura
e não se baseia em Ellen White para estabelecer doutrinas e concluir
interpretações bíblicas. Ao final do livro, há a tentativa de mostrar que a fé
unicamente na Bíblia e na continuidade do dom profético, como acontece em Ellen
White. E quando diz que “Contudo, apenas
quando as duas crencas sao corretamente entendidas na pratica e que podemos concilia-las.
Do contrário, haverá sempre incoerência.”, isso serve perfeitamente para os
adventista utilizarem o mesmo entendimento para compreender a relação entre
Bíblia e Tradição Apostólica na Igreja Católica Apostólica Romana. Do
contrário, haverá sempre incoerências nas críticas à ICAR.
Esse
estudo do livro não é feito a partir da própria perspectiva adventista, como se
um membro da IASD analisasse o que foi escrito pelo autor, mas é feito sob a
perspectiva católica fazendo um verdadeiro diálogo para a compreensão da
doutrina de sempre ensinada no Catolicismo.
Dessa
forma, há rigor intelectual, como é
dito pelo autor, e quando há erro na doutrina, isso será apontado, e dito o
motivo de serem erros, ao mesmo tempo em que será mostrada a interpretação
correta e porque ela é correta. Dessa forma, o leitor estará diante de um
sólido argumento da doutrina católica. Ainda, considerar-se-á todas as
implicações lógicas nesse estudo, sem problemas. Usando-se premissas certas e a
lógica correta haverá uma conclusão lógica, é claro (cf página 16).
Para
utilizar a razão e, portanto, a lógica, vamos a um argumento importante que
estabelece a fé cristã católica.
Na
Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR, temos a Bíblia, a Tradição e o
Magistério. Para provar a autoridade do magistério da Igreja nós devemos
recorrer à Bíblia. E como sabemos o que é a Bíblia, quais os livros que a
compõem? Devemos perguntar à Igreja, que é o magistério.
Isso
seria um aparente círculo vicioso, se
não fosse outro elemento, um terceiro
termo, como afirma Fernando Carballo, que é a tradição. Por meio da tradição,
temos que a Bíblia e o magistério são verdadeiros.
1. No
número um, o autor afirma que por meio da crítica histórica sabemos que os
quatro evangelhos foram escritos pelos quatro evangelistas que aparecem como
autores, ou seja, Mateus, Marcos, Lucas e João. Esses realmente escreveram os
livros que foram intitulados com seus nomes. Se o leitor aceita esse fato,
vamos ao próximo.
2. Esses
evangelistas estão dizendo a verdade, contando-nos a vida de Jesus. Eles foram
até o martírio e não negaram o que ensinaram por seus escritos. E os apóstolos
e primeiros cristãos foram igualmente convictos da verdade ensinada pelos
evangelhos. Outro fato que o leitor deve ter mente e prosseguir.
3. Nos
evangelhos estão escritos milagres que só Deus pode realizar, como a
ressurreição dos mortos. Se escreveram a verdade, então é verdadeiro que Jesus
ressuscitou mortos.
4. Então,
Jesus é Deus, fez milagres com o poder de Deus, e mostrou que era Deus com o
Pai. Até aqui, o leitor não pode ter dúvidas, já que cada passo está claro em
si mesmo.
5. E
Jesus aceita os livros da Bíblia.
6. Se
Jesus os aceita, então eles são autênticos. Portanto, os livros sagrados, os
evangelhos são autênticos. E por meio desses livros vemos que Jesus conferiu a
um grupo de pessoas a faculdade de ensinar na Igreja. Esses foram os apóstolos
e assim por diante, pois os apóstolos morreram, mas Cristo afirma que estaria
“convosco” até o fim dos tempos, demonstrando que fala a toda a Igreja em todas
as épocas.
7. Desse
modo, valendo-se da autoridade dada por Jesus Cristo, a Igreja em seu
magistério, declara quais livros são canônicos. Dessa forma, com esse
raciocínio, pela tradição está estabelecida a autoridade da Bíblia e do
magistério. Não podendo negar nenhum deles, deve-se acatar a conclusão. Sendo
assim, não se pode negar a autoridade da Bíblia, nem da tradição, nem do
magistério.
Os
estudiosos protestantes preferem afirmar algo como: a Igreja apenas reconheceu
os livros inspirados. Isso soa como se os livros se apresentassem a si mesmos,
o que não é razoável. É claro que tudo foi obra de Deus, em Sua Providência,
para levar a Igreja ao estabelecimento do cânon bíblico. E tudo se deu
lentamente, fechando o cânon nos concílios do século IV, onde foram escolhidos
os 46 do Antigo Testamento e os 27 livros do Novo Testamento. Veja que esse é o
mesmo cânon da ICAR até os dias de hoje.
Assim,
a história apresenta os evangelhos, que foram escritos por discípulos de Jesus,
que ensinaram que Jesus fez milagres que só Deus podia realizar, e que aceitou
as Escrituras, o que prova que os próprios os evangelhos são autênticos. Os
mesmos evangelhos estabelecem o poder do magistério da Igreja. Se o magistério
reconheceu o cânon bíblico, isso prova a autenticidade do cânon e da tradição.
A história prova os evangelhos e todo o seu conteúdo é de fé. Assim, a Bíblia e
a tradição são a Palavra de Deus. Se o leitor compreendeu tudo isso, chegou à
conclusão lógica, e está no caminho de aceitar toda a verdade católica.
A
autoridade do episcopado, uma vez provada, leva a aceitação de toda a doutrina
cristã católica. E assim, quando estudamos outras doutrinas, com essa luz,
vemos que as mesmas possuem certas incoerências sérias, que não se encontram em
nenhuma doutrina verdadeira.
De
fato, Jesus enviou os apóstolos a ensinar e a batizar (Mt 28, 18-20), e afirmou
estar com a Igreja até o fim do mundo, e que os cristãos seriam suas
testemunhas em Jerusalém, Samaria e nos confins da terra. Desse modo, essa é a
missa dada aos apóstolos não pessoalmente, mas como cabeças da Igreja. De fato,
os apóstolos morreram, mas esse magistério existirá até o fim do mundo. A
Igreja Católica existirá até o fim dos tempos.
Como
os apóstolos ordenaram outros para continuar sua missão (os bispos), que
deverão ensinar a verdade e combater o erro até o fim dos tempos, temos
estabelecido biblicamente o magistério da Igreja. Dessa forma, é impossível que
a mesma tenha caído e que o chifre pequeno seja o papado.
Conselho
01: Deve-se citar a Bíblia no “trabalho público”. De fato, já se espera que o
adventista creia nos testemunhos e na Bíblia. Seria o mesmo que dizer aos que
não aceitam a autoridade da Tradição, que se evite citá-la, mas que o campo de
debate seja a Bíblia. É algo lógico. O cristão católico pode debater e
fundamentar todas as doutrinas e dogmas com a Bíblia.
Conselho
02: Para o católico é preciso afirmar que todos devem ouvir o que diz a
autoridade da Igreja. Isso porque todos creem que a Igreja ensina o que a
Bíblia ensina. Se alguém ouve o ensino católico esse está seguindo a reta
interpretação da Bíblia. É louvável que o cristão católico se ponha ao exame
das Escrituras, mas essa não é a tônica da pregação católica. É útil ler a
Bíblia, mas é necessário obedecer à Igreja. A razão é que é possível e
altamente provável que o intérprete caia em erros e heresias.
Que
os cristãos católicos não creiam em interpretações errôneas dos escritos da
Tradição, assim como os adventistas são exortados a não creem em interpretações
errôneas dos escritos de Ellen White.
Conselho
03: Deve-se despir do eu ao estudar a Bíblia. Fazendo isso, todos chegarão à
verdade católica. É um trabalho árduo, pois é tendência ser indulgente com o
ego.
A questão de Ellen White é entendida como algo
submetido à Bíblia, mas com o mesmo grau de inspiração. A Tradição apostólica é
um elemento igual à Bíblia por conservar verdades pregadas por Jesus e os
apóstolos de uma forma que é possível identifica-las na vida da Igreja. É por
esse motivo que se diz que ela tem a mesma autoridade junto com a Bíblia, pois
se trata da mesma verdade salvífica.
O
que se está fazendo neste comentário é comparar a autoridade de Ellen White
para o Adventismo com a autoridade da Tradição para o Catolicismo. Isso mostra
que, no fim, são bastante semelhantes.
Conselho
04: Negar doutrinas que são colunas da fé cristã é negar a autoridade da Bíblia
e da tradição.
A
doutrina de que a Igreja é conjunto de todos os fieis, é a mesma que a Igreja
Católica ensina, afirmando que todos os que estão em boa fé são cristãos
católicos. Assim, há muitos fieis adventistas que estão na Igreja Católica, não
institucionalmente ou visivelmente, mas espiritualmente. Essa doutrina é
desconhecida pelos protestantes.
E
como foi citado esse conjunto de doutrinas distintivas do adventismo, deve-se
notar que há erros graves, como a mortalidade da alma.
Conselho
05: Os testemunhos não adicionam verdades, afirma Ellen White, mas Deus tem
facilitado a compreensão das verdades importantes já reveladas. Essa é a mesma
noção de Tradição, que está na Bíblia, mesmo que em princípios, e que pode se
encontrada no diligente estudo, mas que está na Tradição, que faz com que a
Escritura seja mais bem entendida. Isso está na Dei Verbum 8, onde a tradição tem feito quase que exclusivamente o
trabalho de tornar mais compreensível a Bíblia: “Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros
sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente... ”.
Ou seja, a tradição faz-nos entender mais profundamente a Bíblia.
Desse
modo, em termos simples, o adventista tem em Ellen White melhor compreensão da
Bíblia, assim como os católicos entendem mais a Bíblia por meio do estudo da
tradição. Há diferença, no entanto, já que os testemunhos foram dados, segundo
a perspectiva adventista, porque o povo não obedeceu à Palavra de Deus.
Desse
modo, nesse âmbito, tempos que a Tradição católica deve ser comparada pela
tradição adventista e o leitor verificar a verdade.
Para
fins de reflexão, há muitas coisas na tradição cristã católica que não são
doutrinais, mas que são atrelados à essência da vida da Igreja, como o uso do
incenso, de velas, de paramentos, de óleos, etc., o que é muito criticado no
Protestantismo como “desvio” e que não há nada a ver com salvação, santificação, natureza e caráter de Deus ou algo do tipo,
para usar as palavras do autor adventista quando defende os escritos de Ellen
White quando ela fala de questões não doutrinárias.
Todos
podem ler, estudar e entender as Escrituras, mas quando isso é feito
corretamente estarão de acordo com a interpretação oficial da Igreja Católica
Apostólica Romana.
Em
outras palavras, se os adventistas estudam a Bíblia e chegam a conclusões
contrárias às de Ellen White, como sobre a imortalidade da alma, estarão, por
assim dizer, contra o ensino oficial, e não se espera nesse campo que haja mudança, ou seja, não se deve esperar que a
IASD adota a verdade de que a alma é imortal.
Pelo
contrário, o estudioso adventista, é o que se espera, é que deve adequar seus
estudos e chegar à conclusão que é conforme à doutrina adventista. É o mesmo
que se espera do fiel católico, porque pelo estudo correto da Bíblia chegará à
verdade da imortalidade da alma.
Conselho
06: O ensino de Ellen White, suas visões proféticas, devem confortar e
corrigir quem se desvia da Bíblia.
Pode-se fazer assim alguma comparação com a tradição. Quando se tem o perigo de
se desviar da Bíblia, que é a Palavra de Deus, a Igreja Católica reúne-se em Concílio Ecumênico e ensina o que
a Bíblia e a tradição ensinam sobre determinado ponto que está sendo
controvertido.
O
exemplo da visão de São Pedro em Atos 10 é bom. No entanto, como estamos diante
da revelação do Novo Testamento, esse ensino é maior, é infalível, é regra de
fé e prática, e portanto autoridade para todos os cristãos. Assim,
desenvolveu-se, por essa visão, que Deus purificou
todos os alimentos, ritualmente, e que não há mais aquelas distinções de
Levíticos 11 sobre animais puros e impuros. Desse modo, quando São Pedro passou
dias na casa de Cornélio, e certamente depois disso conviveu com outros gentios
convertidos, ele não precisava mais ter escrúpulos quanto aos alimentos que os
gentios preparavam. É algo da Bíblia, e algo lógico.
Imagine
se São Pedro afirmasse que entendeu apenas que não havia necessidade de fazer
distinções entre pessoas, entre judeus e gentios, mas que não comeria carne
impura, porque essa sempre havia sido a doutrina judaica, revelada nas
Escrituras no Antigo Testamento. Como poderia pensar assim se a própria visão
afirma “mate e coma”, algo muito literal que estaria acontecendo no convívio
com os cristãos de origem gentia ao alimentar-se em suas casas. Assim, a visão
de São Pedro pode trazer a perfeição do evangelho, o que outras visões,
posteriores à morte dos apóstolos, não podem.
Conselho
07: A tradição da Igreja contem princípios bíblicos que auxiliam na compreensão
e aplicação dos mesmos na vida dos fieis.
Conselho
08: Interessante a questão da reforma da saúde, de forma equilibrada.
Conselho
09: Interessante a posição do casal White quanto aos dons e profecias para os
adventistas.
Conselho
10: Os Testemunhos não tinham por objetivo trazer nova doutrina. A Tradição
apostólica não traz nova doutrina, pois foi fechada com a morte do último
apóstolo. Assim, o que a tradição faz é garantir que a Palavra de Deus seja
sempre conservada intacta na santa Igreja.
Conselho
11: Toda a Tradição apostólica conduz à autoridade da Bíblia, pois emana de
Deus igualmente.
Estudo da Parte 4: Aplicação
prática do Sola Scriptura
Ellen White e as doutrinas
distintivas do adventismo – Parte A
O
problema notado entre os adventistas no que diz respeito à autoridade de Ellen
White pode ser usado para entender algo relativo ao que ocorre nas críticas
protestantes ao catolicismo e ao que aparece nos debates sobre Bíblia e
tradição, onde argumentos que exaltam a tradição parecem colocá-la acima da
Escritura, quando a doutrina católica oficial sempre ensinou igualdade das duas
autoridades: Bíblia e tradição.
Há
os críticos de Ellen White, os quais dizem que as doutrinas distintivas do
adventismo só podem ser encontradas nos escritos da profetisa, e há também os
tradicionalistas, que afirmam que as doutrinas adventistas podem ser provadas
todas pela Bíblia unicamente, mas que a Bíblia não é clara suficientemente em
certos pontos, não é clara nem detalhista
em todas as coisas.
Abrindo
um parêntese aqui, sobre a clareza da Bíblia, é óbvio que a Bíblia não é clara
em todas as coisas. Se fosse, a doutrina do Santuário e do Juízo Investigativo,
conforme explicada no livro, seria fácil de compreensão por qualquer um que a
lesse. E não é. Entretanto, há inúmeros pontos a serem considerados para
formular a doutrina do juízo investigativo, que não é possível que qualquer
leitor da Bíblia chegue a essa conclusão por si mesmo. Fechando o parêntese.
Então,
haveria necessidade de recorrer à profetisa para sustentar certas
interpretações. Obviamente o princípio Sola
Scriptura não prevê tal prática. Tudo deveria ser concluído com
fundamentação bíblica.
Assim,
as doutrinas devem ser provadas pela Bíblia. No entanto, se uma interpretação é
feita e a Igreja a adota como expressão verdadeira da doutrina, ainda que
contradizendo uma expressão de fé anterior, não haveria certeza plena de que a
mesma é irreformável. Dessa forma, se Ellen White fez pronunciamento sobre a
interpretação feita e a ratificou, a mesma se torna certa, clara,
inquestionável e irreformável, de modo que a autoridade da profetisa se
encontra nesse particular. Parece não haver como negar essa conclusão.
No
âmbito católico alguém poderia estar debatendo o tema Bíblia e tradição e usar
argumentos afirmando que a Bíblia não contem todas as doutrinas fundamentais e
que a tradição é necessária para completá-la, o que não é posição dogmática da
Igreja e não é o que um protestante aceitaria facilmente.
De
fato, a Igreja Católica nunca fez pronunciamento dogmático sobre esse ponto,
mas em suas afirmações é possível notar que a Bíblia e a tradição podem ser
fontes ou mesmo modos de transmissão da Palavra de Deus, e que a Bíblia tem em
si toda a verdade salvífica, mas que é mais profundamente entendida através da
tradição. Tudo o que é necessário para a salvação está na Bíblia, mas a mesma
sempre foi entendida na vida da Igreja, que é a tradição. Ou ainda, poder-se-ia
afirmar que a tradição contem doutrinas não encontradas na Bíblia pelo menos claramente,
como o fato, por exemplo, da assunção da virgem Maria ao céu de corpo e alma, e
etc., mas que essas doutrinas podem ser verificadas nos seus princípios,
podendo-se afirmar que é uma doutrina com base bíblica, e que nunca há tensão ou
contradição entre Bíblia e tradição. Essa posição é oficial.
E
como a ICAR não é solascripturista,
pelo menos no sentido protestante, não há problema em apresentar a tradição
para provar doutrina. Não é problema entre os cristãos católicos. O que há de
fato é que é plenamente possível provar todas as doutrinas católicas a partir
da Bíblia somente. Isso é o que assusta os protestantes, que pensam ser isso
algo impossível.
Um
adventista pode até mesmo afirmar que a Bíblia não é clara nem detalhista e que
Ellen White esclarece muito. Isso é visto como problema. Também pode afirmar
que somente através de Ellen White é que se pode chegar a tais e tais doutrinas.
Um problema ainda maior, já que atinge o ponto doutrinal, como se essa fosse a
afirmação oficial da IASD, o que não é. E mais: ainda contradiz a posição
oficial da congregação.
O
problema que continua existindo, e que já foi apontado acima, é que ainda assim
a autoridade de Ellen White é algo que necessariamente precisa ser reconhecida
como fundamental para o adventismo, assim como a autoridade da tradição
apostólica o é para o catolicismo. E aí está toda a problemática: qual deve ser
a adesão do cristão adventista quando Ellen White contradiz uma doutrina da
tradição?
Toda
a doutrina católica passa no crivo que o autor adventista apresentou. Alguém
pode discordar de uma doutrina católica, mas não pode afirmar que a mesma é
destituída de estudo bíblico. Pode-se dizer que é errada, que contem falhas,
que concluiu erradamente, mas não que seja extrabíblica ou antibíblica, pois a
discussão inteira está dentro da Bíblia. E pode ser provada. Por isso, o
exemplo da assunção de Maria, proclamada muito recentemente na história da
Igreja, em 1950, pelo papa Pio XII, e que não é um fato encontrado nas
Escrituras, está totalmente de acordo com a doutrina das Escrituras.
O
ser humano e os anjos foram criados sem pecado, perfeitos, inteiramente santos.
O pecado foi a desobediência, um intruso, que causou transtornos na criação.
Desse modo, ser sem pecado é o original, e não o que é natural.
Por
isso, Cristo veio sem pecado. Essa doutrina clara na Bíblia leva à premissa
certa de que a mãe de Jesus foi preparada para ser sem pecado. Assim, como Adão
e Eva sem pecado caíram na cilada do Demônio, Cristo e Maria sem pecado
venceram o antigo Inimigo. Esse princípio é bíblico e é atestado pela razão
iluminada pela fé.
Outro
argumento bíblico é que quanto mais próximo de Deus, mais santo deve ser. A
santidade não é apenas uma separação para o serviço de Deus, mas uma
transformação no ser, que é levado à estatura de Cristo.
Dessa
forma, para trazer Jesus ao mundo, Maria deve ter sido preparada de forma
santíssima, por causa da santidade do Criador.
Como
pode ser visto, nenhum desses dois princípios é extrabíblico, nem antiblíco,
nem irracional. Todos são bíblicos e racionais. Assim, crer na santidade de
Maria é bíblico. Mas, o protestante exigirá mais, alguma afirmação direta, ou
algo mais claro que indique essa santidade. Embora em suas doutrinas nem sempre
há o mesmo grau de exigência para serem formuladas.
Na
Bíblia aprendemos que somos salvos pela graça. A graça é a antítese do pecado,
e faz o pecador ser justo e santo. Dessa forma, ser cheia de graça é ser
totalmente santa. A melhor tradução é cheia de graça, e não agraciada, pelo
contexto. Também vemos que Jesus e Maria são chamados de benditos nesse
contexto. Dessa forma, há uma estreita ligação de santidade entre Cristo e sua
mãe. Assim, deduz-se que ela é perfeitamente santa.
A
Bíblia ensina que pessoas foram chamadas desde o ventre materno para certos
propósitos. A virgem Maria foi chamada desde o ventre materno. Pode-se deduzir
qual foi a preparação de Deus para o ministério materno da virgem Maria.
Sansão
foi chamado desde o ventre de sua mãe (Juízes 16, 17). Também o foi Isaías (cf.
49, 1.5). Há vários exemplos. Então é bíblico pensar que a virgem Maria foi
preparada desde o ventre de sua mãe. De fato, é bíblico ensinar que desde a
eternidade a virgem Maria foi preparada.
Por
analogia e plausibilidade, baseado em muitas passagens bíblicas, podemos
concluir que é bíblico e razoável crer que Maria foi sem pecado. Nada na Bíblia
contradiz essa crença. Se alguém disser que todos pecaram (Rm 3, 23),
respondemos que sim, em Adão todos pecaram, estão destituídos da glória, mas em
Cristo todos são santificados e entrarão na glória do céu. Dessa forma, Maria
foi santificada em Sua criação pelo preço do sangue de Jesus Cristo.
É
bíblica também a fé de que o sacrifício de Jesus é causador da graça mesmo
antes de ser efetuado na cruz. Todos os santos salvos no AT foram salvos por
Jesus Cristo. Assim, a purificação de Maria na concepção foi devido aos méritos
de Jesus Cristo na cruz.
O
profeta Jeremias (1, 5) e João Batista (Lc 1, 41-44) foram santificados no
ventre. A virgem Maria por maior razão também o foi. Por isso é chamada cheia
de graça pelo anjo. Toda essa argumentação foi feita com base no argumento do
apologista Dave Armstrong: Mary´s Immaculate conception: a biblical argument. É
evidente que nada na fé na imaculada conceição é anticristã, mas que a doutrina
exalta a Cristo. De fato, a santidade de Maria é necessária para melhor
compreendermos quão grande e santo e justo é Cristo, que preparou um ventre
santo para formar seu corpo humano.
Desse
modo, Maria foi imaculada. Então, não precisou estar sujeita à morte.
Assim
se prova a assunção de Maria.
De
fato, há várias analogias para prova essa doutrina. Enoque andou com Deus, o
que implica sua grande santidade, e foi arrebatado, não passando pela morte.
Também o grande profeta Elias, recebeu a graça de ser levado aos céus (2 Reis
2, 11; Heb 11, 5). Assim, é bíblico que alguém possa ser arrebatado, assunto ao
céu.
Que
Deus pode criar alguém sem pecado, ninguém pode negar. Mas o adventista, como
todo protestante, questiona se isso foi fato. A tradição prova que sim. Não
crendo na tradição, e não crendo na interpretação da Igreja, negam essa verdade
de fé, ainda que não possam refutá-la biblicamente. (Argumentos tirados do
artigo de Dave Armstrong: Biblical Argument in Support of Mary´s Assumption).
Então,
a fé na assunção de Maria está conforme toda a doutrina bíblica, não
contradizendo nenhuma, e é atestada pela tradição.
A Doutrina do Santuário/Juízo
Investigativo
Essa
doutrina é nova na história da Igreja. Mas o adventismo apresenta que “fatos
básicos em torno dela são inquestionáveis”. Compare com a doutrina da imaculada
conceição e da assunção de Maria e veja também que há fatos básicos em torno da
assunção da virgem que são inquestionáveis. São doutrinas diferentes, mas que o
ponto a ser entendido aqui é sua plausibilidade bíblica. E, no fim, há o motivo
de uma ser correta e que deve ser adotada na Igreja e a outra não: a imaculada
conceição e a assunção de Maria está na tradição apostólica. A doutrina do
juízo investigativo não. E não pode ser crida por conter elementos que
contradizem a tradição, como a mortalidade da alma.
O
autor apresenta o exemplo do batismo como fato inquestionável aceito por todos
os cristãos, por toda igreja séria.
De fato, há divergências a respeito do batismo, mas não há nada que conteste o
fato do batismo. Não se pode negar que essa ordem não exista na Bíblia. E o
autor afirma que há fatos inescapáveis da doutrina do Santuário, de modo que
não há como negar que existam na Bíblia.
Da
mesma forma, há o fato de que Deus impôs uma inimizade entre Satanás e a mulher (Gn 3, 15). Essa mulher não é
literalmente Eva, nem o conjunto feminino da humanidade. Também a serpente não
é uma cobra literal, mas a figura de Satanás. Desse modo, na profecia a semente
da Mulher não é um filho de Eva nem a humanidade inteira, mas é Cristo.
Assim,
a inimizade entre Satanás e Cristo é total. Essa inimizade é a mesma entre
Satanás e Maria.
Essa
total inimizade bloqueia qualquer possibilidade de pecado em Cristo. Então,
Jesus Cristo é sem pecado. Conclui-se que Maria é igualmente sem pecado.
Continuemos
com o estudo sobre a doutrina do santuário. Os fatos sobre o santuário são que:
há um santuário no céu, e há um juízo sendo feito como em Dn 7, 9-14;26-27.
Podem haver outras interpretações mas não se pode negar os fatos.
Há
os fatos sobre os livros celestes, o livro da vida, o juízo sobre as boas e más
obras de todos os homens. É possível divergir sobre como será esse juízo e
quando será feito.
A
purificação do Santuário é entendida como sendo o evento de Dn 8, 13-14 e Dn 7,
9-14. O juízo seria o mesmo da purificação. Isso seria reforçado em Hb 8, 1-5;
9, 6-10; 10, 1-2. A ascensão de Jesus seria o antítipo da unção feita por
Moisés, e o dia da expiação deveria indicar outro evento, o do juízo.
Os
sacrifícios diários de Ex 29, 38-46 e Nm 28, 3-8 representam a eficácia diária,
constante e perpétua do sacrifício de Jesus. O santuário deveria ser
purificado: Ex 30, 10; Lv 4, 1-7; 6, 30. O dia da expiação deveria ocorrer em
algum momento da história da Igreja.
Quando
o autor afirma que o juízo investigativo é para mostrar a justiça de Deus aos
seres criados, afirma; “anjos e quaisquer outras criaturas presentes” no céu,
porque isso não é tão simples para um adventista afirmar e reconhecer que há
santos no céu, já que não creem na imortalidade da alma e deverão provar que
muitos ressuscitaram e foram para o céu, o que não há qualquer indício na
Bíblia.
Mas,
pela doutrina bíblica, o dia da expiação aponta para o sacrifício de Jesus
feito na cruz, de modo que na ascensão tudo foi concluído. O que esperamos é a
vinda de Jesus, que será o dia em que voltará à terra.
Se
o juízo investigativo está ocorrendo, isso está sendo feito com os anjos e
santos do céu todos que estão lá chegando, de modo que há constante trabalho de
culto e adoração, intercessão e juízo particular das almas, feito por Cristo, e
certamente acompanhado por anjos e santos na presença de Deus, até a parusia.
E
quanto ao poder opressor “surgir” dentro da Igreja, isso é problemático. De
fato, tentar mostrar que a ICAR – o papado – estaria usurpando o lugar de Deus,
é o erro que a doutrina do juízo investigativo tem como fundamento. Isso será
refutado mais adiante.
Em
Hb 8, 6 é dito que a Jesus é Sumo Sacerdote, portanto está no Santo dos Santos,
e a Ele compete ministério mais excelente, como é mediador de uma aliança mais perfeita,
sela por melhores promessas. Tudo isso indica término daquilo que era
tipificado pelo dia da expiação, restando apenas o dia em que Cristo voltará à
terra para o juízo, quando sair do Santo dos Santos.
Então,
o Sumo Sacerdote está à direita de Deus, no Santo dos Santos (cf. Hb 8, 1), Ele
é ministro do santuário (esse mesmo lugar onde está sentado), que é o
verdadeiro tabernáculo. Está ministrando como Sumo Sacerdote.
Então,
Ele adentrou o Santo dos Santos na ascensão, como todos os cristãos reconhecem,
e não mais precisa entrar aí, pois não saiu desse lugar.
Desse
modo, não haveria de entrar em 1844, pois já está lá desde o século primeiro.
Em Dn 7 o Filho do Homem vai para onde está o Pai. Isso na ascensão e não após muito
tempo. Não é dito que Jesus foi ungir o Santo dos Santos e depois deveria
voltar a ele para juízo, pois o texto deixa bastante claro que a mediação e a
aliança nova e eterna se cumprem plenamente, e o ministério de Sumo Sacerdote
chega cumprimento, de modo que nesse particular não há nova entrada no lugar
Santíssimo, pois Cristo não mais saiu de lá. Não parece sugerir que houve
mudança de ministério após a ascensão.
Quanto
à doutrina da assunção de Maria, é certo que o protestante adventista não irá admitir.
Mas é também certo que a mesma possui muita força na Bíblia e na tradição, como
visto acima. Santo Epifânio escreveu que sobre a não sabia se Maria morreu ou
não, o que prova que na sua época (século IV) todos criam na assunção de Maria
ao céu. Um dado como esse reflete a tradição apostólica sobre o arrebatamento
de Maria, pois seria impossível que se tivesse esse dúvida sobre outro ser
humano.
Também,
essa doutrina foi proclamada pelo papa, que tem a infalibilidade. Essa doutrina
era admitida por todos os teólogos de então, foi estudada séria e profundamente.
Havia também uma unanimidade. Todos os cristãos católicos concordavam com essa
doutrina.
Como
já provado antes, a Bíblia afirma que Deus colocou inimizade entre Satanás e a Mulher (cf. Gn 3,15). Essa mulher é
profeticamente a virgem Maria. Essa inimizade imposta é, pelo que se pode
deduzir, total, e portanto a virgem Maria não faz qualquer obra de Satanás.
Dessa forma, ela é imaculada, sem pecado.
Para
corroborar isso, vemos que o anjo Gabriel chamou a virgem por um nome que
significa cheia de graça, agraciada
(cf. Lc 1, 28). Essa graça vem de Deus, dada à virgem, e foi usada como nome da virgem Maria no momento da
anunciação, o que não é costume dos anjos fazer diante de qualquer outra
pessoa. Dessa forma, mais uma vez, é indicativo de que a virgem Maria não teve
pecado.
As
razões teológicas mostram que a virgem Maria deveria ser pura e sem pecado. De
fato, ela é a mãe de Cristo, que é Homem e Deus, e portanto deveria ser gerado
por uma mãe perfeita. Uma vez que a Bíblia afirma que Jesus é o novo Adão, e
que Ele salvou a humanidade que ficou escrava
do pecado por meio do primeiro Adão, também se pode deduzir que a virgem Maria,
a mulher de Gn 3, 15, é a segunda Eva, que contrariamente à primeira, não ouviu
as seduções da Serpente, mas foi totalmente obediente a Deus.
Não
tendo pecado, a virgem Maria não está sob o poder do pecado e da morte. E assim
como Jesus Cristo, morreu e foi ressuscitada, não conhecendo a corrupção, e foi
levada ao céu, pois sua humanidade é estreitamente ligada à humanidade de
Cristo, que não pôde conhecer a corrupção.
Desse
modo, a mulher vestida de sol e coroada, vista por São João no Apocalipse,
capítulo 12, 1, é uma alusão à santidade e mesmo à assunção da virgem Maria.
Uma
doutrina não necessita estar toda formulada e acabada para ser crida. Basta que
seus princípios estejam na Bíblia e na tradição apostólica. É um fato que a
Igreja nunca ensinou que Maria esteve submissa ao pecado. Esse dado está
conforme a Bíblia e demonstra a tradição apostólica.
Assim,
a primeiras vezes em que o tema foi tradado ficou certo que na virgem não havia
nada relativo ao pecado. E também, o fato de sua assunção ao céu foi admitido
sem problemas desde a antiguidade, o que está conforme a tradição apostólica.
Sabemos
que a razão é um dom de Deus, é necessária para conhecer a verdade. A verdade
sobrenatural é compreendida pela razão iluminada pelas luzes da fé.
A
verdade cristã católica é entendida por meio de uma verdadeira ciência, a
Teologia. Os dados da Escritura e da Tradição são coligidos, interpretados e
coordenados, como ensina Adolphe Tanquerey.
Para
compreender a Bíblia e a tradição é preciso situar seus dados no meio em que se
originaram, em que foram revelados, aproximá-los
de doutrinas análogas, como diz Adolphe Tanquerey ao falar da teologia
mística, e agrupar os dados e interpretá-los a luz de todo complexo das verdades cristãs.
Aqui
está uma diferença entre a fé católica e a protestante adventista. Enquanto os
protestantes, com suas tradições autoritativas, mas não infalíveis, podem mudar
dados do seu credo, embora isso seja raro e improvável. No entanto, é possível
que muitos deixem de crer verdades certas e consagradas em suas tradições.
A
IASD pôde, como visto, formular a doutrina do Santuário/Juízo investigativo,
embora tal doutrina apresente dados que não se adequam com outras doutrinas
cristãs, e não estão de acordo com todo complexo de verdades cristãs, como por
exemplo a doutrina da imortalidade da alma.
Pode-se
dizer, segundo Adolphe Tanquerey, que fala do método doutrinal ou dedutivo, que
consiste em estudar a Bíblia, a Tradição, por exemplo, e, por que não dizer,
muitas outras obras cristãs, diríamos, e deduzir conclusões sobre o que se está
estudando.
Diante
disso, o cristão precisa saber que a tradição possui verdades que a Bíblia
apresenta apenas em princípio, e que são igualmente verdades reveladas aos
apóstolos, e ensinada oralmente, estando nas práticas da Igreja, nos escritos
dos santos Padres, nos pronunciamentos dos concílios e dos papas.
A doutrina do sábado
Os
adventistas, como bons protestantes que são, certamente fizeram sua
interpretação bíblica particular, e contra a tradição, ensinaram que o sábado
era o dia de guarda válido na Nova Aliança. Essa doutrina foi confirmada por
Ellen White, tornando isso algo irreformável no adventismo. Assim, se o
adventista aprender biblicamente que o domingo é o dia de guarda cristão,
estará se desligando da IASD automaticamente.
E
qual é a base bíblica para ensinar que o sábado continua para os cristãos como
dia de observância? Será que a interpretação adventista tem sentido? Vamos
avalia-la.
Deus
abençoou e santificou o sétimo dia e descansou nele (Gn). Mas também a Bíblia
ensina que Deus fez outro dia para nós (Sl 118). Se é uma das maneiras mais
evidentes de lembrar de Deus e adorá-lo é observando o mandamento do sábado,
isso não é menos evidente do que lembrar de Deus e adorá-lo no dia em que Ele
fez para nós. Esse dia é o domingo. Veja que isso é interpretação bíblica.
Da
mesma maneira que o sábado não fala diretamente da salvação, mas da criação, e
pode ser guardado também como honrando a Cristo pela salvação, assim também o
domingo, que não trata da criação, mas da redenção, pode ser guardado em honra
de Deus pela criação do mundo. De fato, também celebra a nova criação. Assim,
não há nada que possa refutar essa interpretação.
A
afirmação de que há indícios de que a guarda do sábado pelos cristãos era
natural em Jerusalém não tem exemplos. Afirmar que os apóstolos continuaram a
frequentar as sinagogas aos sábados, inferindo com isso que todos os cristãos
guardavam a lei, não pode ser exemplificado em nenhuma passagem. (At 13:14 e
42-44, 17:1-4, 18:1-4; ver ainda At 2:46, 3:1-3, 5:20-21, 5:42, 9:2, 13:5,
14:1, 17:10-17, 18:19, 19:8-10) Se São Paulo não se reconhecia como
transgressor das leis judaicas, e que isso prova que ele guardava o sábado,
isso também leva à conclusão de que ele não ensinava o sábado aos cristãos
gentios. De fato, o contexto mostra que aquelas práticas de São Paulo eram
realizadas por sua história como judeu e para facilitar a evangelização entre
os judeus, e não eram mais ensinadas aos gentios, de modo que diziam, por causa
disso, que São Paulo falava contra a lei. Em suas pregações ele fala da
abolição da Lei.
Todos
necessitam descansar espiritual, emocional e fisicamente. Assim, no domingo o
preceito cumprido. Quem autorizou a mudança do sábado para o domingo certamente
foi Jesus Cristo. Dessa mudança há indícios no Novo Testamento e mais tarde
isso vai ficando mais claro, de modo que não há dúvida de que os primeiros
cristãos guardavam o domingo.
Uma
vez provada pelos evangelhos a autoridade da Igreja, que deverá exercê-la até o
fim dos tempos, devemos aceitar que a guarda do domingo, como ensinado pela
santa Igreja, é a doutrina original. Portanto, a prova é bíblica.
Romanos 14, 1-6
O
texto de Romanos não serve diretamente para discutir a questão do sábado. Ele
fala de alimentação e da distinção de dias. Não é algo dogmático, mas relativo
à opinião de cristãos fracos na fé e sua tensão com os cristãos mais fortes,
esclarecidos.
Gálatas 4, 8-11
Pela
simples leitura dessa passagem podemos interpretá-la no sentido que a Lei, já
ab-rogada, com exceção de sua parte moral, não poderia mais ser guardada com
fins de salvação, uma crítica que é encontrada em outras partes do Novo
Testamento. Assim, não há como “voltar” a esses rudimentos, guardando dias,
meses, tempos e anos.
Vejamos
a crítica adventista para a defesa do sábado.
O
verso 3 fala dos rudimentos que são “do mundo”. Isso não pode ser a Lei de
Deus. Essa observação adventista é verdadeira, já que no verso 8 está escrito:
“Outrora, é certo, desconhecendo a Deus,
servíeis aos que na realidade não são deuses”. Isso mostra que aqueles
cristãos eram de origem gentia. Isso é claro.
Talvez
estivessem voltando a práticas que eram em essência comuns a judeus e gentios,
na guarda de dias e etc. O assunto de Gálatas 3, 23 a 4, 11 é sobre a Lei como
pedagogo (v. 24). Assim, não mais sob o pedagogo todos são iguais em Cristo e
descendentes de Abraão segundo a promessa (vv. 26-29).
Dessa
forma, quando se diz que tutores e
administradores são os responsáveis de “nós,
quando menores”, que “estávamos
escravizados pelos rudimentos do mundo”, isso está no contexto geral da Lei
como pedagogo. Portanto, a interpretação inicial permanece de pé, mesmo com a
distinção feita na observação adventista.
Dessa
forma, se um cristão gentio volta a práticas do paganismo, ainda que tentando
cristianizá-la, ou um cristão judeu volta às práticas do judaísmo, com esse
mesmo objetivo, estão na mesma realidade.
Então,
a primeira observação adventista está respondida: São Paulo não chama
mandamentos de Deus de fracos e idolátricos, mas sua crítica engloba judeus e
gentios, o que demonstra que voltando
às antigas práticas de modo a crer
que são coisas necessárias salvação e parte da obrigação cristã, é estar em
erro grave. Isso inclui a guarda do sábado do sétimo dia como se fosse uma
doutrina cristã.
A
outra observação é supor que o sábado era guardado por todos os cristãos, já
que esses eram judeus convertidos das sinagogas ou grupo de judeus, que eram já
observadores do sábado.
Essa
observação não é exata. De fato, todos os judeus cristãos continuaram a guardar
muitas leis do Antigo Testamento, de modo a mais tarde chegar à questão
controversa da circuncisão e leis do AT como necessárias à salvação. Assim, era
comum a guarda piedosa da lei, mas não o ensino cristão sobre essa guarda aos
novos convertidos. Então, ninguém recebia o ensino dos apóstolos de que o
sábado continuava em vigor. Certamente, já eram ensinados à guarda do domingo.
Essa
afirmação é bastante clara e direta e pode assustar o adventista, que está
preparado a negá-la prontamente. Mas, convido o leitor a desarmar seu espírito
e aceitar essa leitura, a fim de entendê-la, e só depois tentar refutá-la.
Por
isso, o sábado pode sim ser “novidade teológica”, se for colocado como
necessário à observância. E estaria em um rol de muitas outras coisas: dias,
meses e anos. Se os gálatas estavam voltando a práticas já conhecida no
paganismo, elas não eram novidades também. Aqui a crítica adventista é
refutada. De fato, falando de algo velho e ultrapassado, está se referindo a
algo conhecido, e não novidade. Mas, ao voltar colocar tais coisas como
obrigatórios de serem praticadas, eis o “outro evangelho”, as novidades, tanto
do ponto de vista pagão como judeu, como já explicado antes. Vê como as coisas
estão se tornando mais claras, e indo em direção à fundamentação da doutrina
católica, mesmo diante de tantas boas observações da apologética adventista?
São
Paula fala de como era zeloso das
tradições do seus pais (Gl 1, 14). Segundo a interpretação adventista, São
Paulo estava criticando, não a Lei pura e simples, mas suas “distorções”. Essas
distorções são o que está dito acima: a Lei não pode mais ser observada como
obrigatória aos cristãos, mas apenas como uma observância piedosa, parte das
tradições antigas, que são boas em si, mas não estão mais no catecismo cristão.
Mas,
acompanhemos o argumento adventista. A tradição não era apenas algo
“extrabíblico”, mas a palavra se refere às devoções da Lei que nunca são
criticadas por São Paulo, mesmo que tenham sido abolidas. No máximo são
“sombras” (cf. Cl 2, 16-17), o que não é crítica, mas apenas a descrição da
realidade.
E
como a Lei é vista como um todo, a circuncisão é citada em Gl 2, 3, quando São
Paulo afirma que indo a Jerusalém para expor o evangelho que pregava, nem sequer meu companheiro Tito, embora
gentio, foi obrigado a circuncidar-se. Isso demonstra que a discussão é
ampla e inclui a Lei inteira, não podendo apenas tocar negativamente a sua
parte moral, que é eterna e irrevogável.
São
Pedro, como chefe da Igreja, agiu temendo
os circuncidados (Gl 2, 13), de modo a evitar comer com os pagãos, levando
com sua atitude a muitos outros judeus cristãos, e até mesmo Barnabé, que era
líder cristão. Isso demonstra a autoridade de Pedro. Foi um equívoco do
primeiro papa. Foi uma atitude equívoca, uma dissimulação.
Então,
São Paulo fez-lhe uma dura crítica, que é comum na Igreja, onde bispos,
sacerdotes, e mesmo leigos, respeitosamente admoestaram papas. São Paulo diz: “vives como gentio”. É óbvio que São
Pedro não estava vivendo como pagão, observando leis gentias. Mas a crítica era
sobre sua hipocrisia.
Com
isso, São Paulo continua no v. 14, mostrando que essa atitude era ligada à
ideia da justificação pela Lei: sabemos,
contudo, que ninguém se justifica pela prática da Lei. E mais adiante
afirma à volta ao pecado após a justificação, e escreve: “Se torno a edificar o que destruí, confesso-me transgressor.”.
E
continuando a dura exortação aos gálatas, afirma que estavam voltando à carne
(Gl 3, 3), criticando os que se apoiam
nas práticas legais (v. 10). E logo mais usa a comparação do pedagogo, que
era a Lei antiga.
Dessa
forma, ao explicar esses pormenores aos gálatas, o apóstolo está mostrando que
a volta à Lei ou ao que quer que seja anterior, com fins de justificação, é
contrário ao evangelho.
Mas
é observado que São Paulo estaria criticando uma distorção da Lei, pois não é
encontrado um mandamento que proíba um judeu comer com gentio. Responde-se a
isso com o que foi explicado acima, e que está no contexto geral da Lei, de
modo que esse pormenor não permite sair da questão. A discussão está caminhando
no caminho certo, mas há uma diferença sutil: enquanto o argumento adventista
reconhece que São Paulo está criticando uma distorção da Lei, o que está certo,
não dá um passo a mais na mesma direção e conclui que a Lei, ainda que sem a
distorção, não deve ser guarda, a não ser em seu aspecto moral. Por isso, é
preciso cumprir a Lei.
A
crítica à interpretação de que o amor cumpre a Lei e dispensaria do sábado é
válida. Pois bem.
Se
os cristãos da Galácia estavam ensinando que era necessária a observância de
certas regras para serem salvos, ao admitir que isso está errado deve-se
reconhecer também que no contexto a própria Lei é mostrada como não tendo mais
obrigação aos cristãos. E isso em relação às coisas citadas, onde todas são
cerimoniais. Nesse ponto há concordância entre a interpretação adventista e a
interpretação católica. Contudo, as devidas distinções estão sendo feitas e a
conclusão correta está sendo apontada.
Por
isso, a pergunta sobre o sábado é muito oportuna: tudo o que foi pensando no
argumento em Gálatas inclui o sábado como não mais obrigatório? O adventista
nega esse ponto.
De
fato, o sábado é geral, não é ligado ao judeu apenas, nem exclusivo do sistema
levítico. Mas em toda a discussão o que está sendo mostrado como abrogado na
Lei é expressão de maneira geral.
É
preciso fazer a distinção bíblica aqui: a Lei, a circuncisão, a observância de
dias, como o sábado, não era pecado. No entanto, ensinar isso como necessário à
salvação era outro evangelho. Dessa forma, tudo isso não fazia parte do ensino
cristão aos novos convertidos. Esse ponto é importante, e é justamente o que é
negado pelos adventistas.
Dessa
forma, por exemplo, ir orar no templo era uma prática saudável dos cristãos,
como vemos fazer São Pedro e São João em Atos 3, 1. Mas não era obrigatória. A
circuncisão poderia ser praticada, mas não era mais parte do evangelho. Votos
poderiam ser feitos por judeus convertidos ao cristianismo, mas não eram
exigências da Igreja. A guarda do sábado poderia ser mantida, mas não mais era
parte da doutrina cristã. Caso contrário, seria “outro evangelho”.
Em
outras palavras: os cristãos daqueles dias se reuniam no domingo para a missa,
a celebração da ressurreição (cf. Atos 20, 7). Não há qualquer passagem onde os
cristãos são mostrados celebrando o sábado. Suas idas às sinagogas aos sábados
era opcional, era uma prática piedosa, e usada para a conversão dos judeus e
prosélitos ali. Assim, logo que não havia receptividade do evangelho nas
sinagogas, os cristãos se reuniam em outros lugares para ensinar a doutrina
cristã. Portanto, os cristãos judeus¸
quase que exclusivamente, observavam muitas leis antigas, inclusive o sábado,
mas não mais como parte do evangelho, e não ensinavam essas práticas aos cristãos
gentios. E todos os cristãos se
reuniam no primeiro dia da semana para cumprirem o preceito cristão.
Colossenses 2, 16-17
Nesse
contexto, comidas e bebidas, a guarda de dias ou lua nova ou sábados faziam
parte daquilo que não estava mais em vigor, pois eram sombras. E o mesmo
contexto mostra que os julgamentos viriam aos cristãos que não guardavam
prescrições alimentares, dia de festa, lua nova ou sábados, pois tudo isso era
sombra do que haveria de vir, pois o
corpo é Cristo.
Essa
última frase refuta qualquer interpretação que não tenha esse pormenor em
vista: a Lei veio até Cristo. A
realidade é Cristo, e portanto o que é chamado sombra se refere ao que serviu para levar o povo fiel aos dias de
Cristo.
E
quanto à questão da expressão em merei?
O problema poderia ser a guarda, à não guarda ou à maneira como se guarda? Pelo
contexto a maioria dos problemas se resolve, a ponto de não depender de uma
exatidão de sentido do grego a ser encontrada.
Será
que os colossenses guardavam o sábado de uma maneira diferente, e isso não
deveria causar-lhes julgamento? Assim, com essa leitura, os cristãos de
Colossos estariam em uma controvérsia sobre como guardar o sábado. Alguns
guardavam de um modo e os cristãos colossenses estariam guardando de outro.
O
paralelo com o evangelho ajuda a entender melhor algo que é compatível ainda
mais com a interpretação católica. De fato, Jesus e os discípulos foram
julgados como transgressores do sábado. Mas Cristo afirmou a forma correta de
guardar o sábado naquele contexto. O mesmo não ocorre aqui, onde o texto de Cl
2, 16-17 não afirma que o sábado deve ser guardado de tal forma, mas que os
elementos citados são sombra (σκιὰ) de coisas futuras e o corpo é Cristo.
Se
os colossenses estavam guardando o sábado, também estavam guardando as
prescrições cerimoniais sobre os alimentos, e os dias de festa, as luas novas
também. Essa interpretação é negada pelo testemunho geral do Novo Testamento,
onde nenhuma prescrição alimentar, nem as festas judaicas, como o Pentecostes,
nem o sábado, é ensinado como prescrição para os cristãos. Pelo contrário, o
contexto aponta sempre para a caducidade daquela lei, como acontece também em
Cl 2, 16-17.
São
Paulo estaria preocupado com o juízo dos hereges e não com as práticas
julgadas. Mas não é assim. De fato, lembre-se o leitor de que Atos 10 afirma
que todos os alimentos são puros. Assim, por exemplo, não havia regras de comer
e beber sendo praticadas de outra forma pelos cristãos.
Quando
à tradução “Que são sombras das coisas futuras” se referir a algo do presente
para apontar ao que está vindo, isso não é correto. De fato, os sacramentos da
Lei de Cristo apontam para algo que está vindo, mas os do AT apontam para o
futuro em relação àquelas prescrições. Portanto, já vieram. Doutro modo,
estaria o apóstolo afirmando que não deveriam preocupar-se com a maneira de guardar essas leis, que são sombras do
que virão, pois o corpo é Cristo, o que faz menos sentido, estando de certa
forma a menosprezar algo atual como
se fosse sombra.
Essa
interpretação de que “sombra” indica que o sábado era atual para os colossenses
é uma novidade. De fato, é unanimidade que o contexto inteiro do NT demonstra
que a Lei é Cristo. Assim, tudo o que estava na Lei apontava para Cristo. Desse
modo, o padrão é passado apontando para o futuro que se completou em Cristo, e não o presente que será
completado futuramente.
Primeiro,
como fazer a distinção que a interpretação adventista faz nessa passagem, onde
o sábado permaneceria válido e os festivais não seriam normativos? De fato,
ambos são citados no mesmo contexto, tendo
o mesmo sentido. Segundo, onde está a prática da Igreja primitiva mantendo os
festivais em sua prática para apontar para a parusia? Terceiro, como práticas bíblicas não normativas, e não mais obrigatórias, deveria ser mantidas ao
longo dos milênios, para apontar para a vinda de Jesus, se elas mesmas deixaram
de ser obrigatória, no contexto geral da Lei, mostrando que não teriam mais
sentido para o cristão?
E
a maneira feita para explicar o motivo do sábado ser citado entre outras coisas
que são claramente não normativas, como se também tivesse o papel de apontar
para Cristo, não é convincente e está de algum modo alheio ao contexto. As
questões acima já demonstram isso. Se São Paulo estivesse preocupado em lembrar
que o sábado tem a função de lembrar que
não somos mais escravos do pecado e que Cristo, nossos salvador, está por vir,
essa também seria a conotação das comidas e bebidas, das festas, e da lua nova,
sendo impossível afirmar o que é ou não é mais normativo.
De
fato, o sábado é sombra como todas as
outras coisas citadas, tendo o intuito de levar a Cristo, como está em todo o
Novo Testamento. As interpretações adventistas não podem responder a isso.
Atos 15, 28-29
O
que deveria ser prescrito aos gentios seriam as coisas essenciais que eram
lidas nas sinagogas aos sábados. Isso era muito caro aos judeus, e permaneceu
entre os convertidos. Apenas o que está em At 15, 19-20. A carta não faz lista
de tudo o que necessário seguir, mas é clara no contexto do assunto. Não é
necessária a circuncisão e não é necessário cumprir a lei. Isso é corroborado
em todo o NT.
Por
isso, as quatro regras não faz alusão à circuncisão e às festas, pois esse foi
justamente o ponto discutido e deixado claro que não são elementos a serem
ensinados aos cristãos.
Mais
uma vez, a interpretação adventista supõe que os cristãos frequentavam as
sinagogas e guardavam o sábado, e festas, e circuncisão, e etc., ainda que não
o fizessem como necessários à salvação. Isso seria praticado por todos os
cristãos gentios e assim não seria necessário que se prescrevesse mais nada, a
não ser as quatro regras de At 15, 19-21.
Para
refutar isso, façamos a exegese do texto:
““Pelo
que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se
convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos
ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e
do sangue. Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o
pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados””
“Pelo
que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se
convertem a Deus”: isso mostra que os novos convertidos vindos do paganismo, e
que não conheciam a Lei judaica, não deviam ser perturbados o ensinamento da
Lei.
“mas
escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das
relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue”: essas
coisas, todas elas, eram praticadas no paganismo, e por isso, mesmo não tendo o
ensino da Lei, eles deveriam saber que não deviam contaminar-se com os ídolos,
não deveriam praticar relações sexuais ilícitas, nem comer carnes com sague e
nem alimentar-se do sangue. Portanto, eram leis que todo judeu praticava, e não
era conhecida por nenhum pagão, e assim deveriam ser ensinados a isso.
A
exegese do texto por si só já refuta a afirmação de que os gentios não eram
transgressores dos preceitos gerais, como se já conhecessem todos. E que
frequentavam sinagogas e etc. A lei é clara que se trata dos novos cristãos que
viriam, os que se convertem a Deus, e não dos cristãos gentios que já estavam
convertidos e já sabiam da caducidade das práticas judaicas.
Dessa
forma, as palavras de São Tiago demonstram que o sábado não era conhecido entre
os pagãos, conforme Cl 2, 16-17, e não seria ensinado a eles como preceito
cristão. Eles não conheceriam a Lei, mas, em
relação a isso, apenas aqueles preceitos citados no concílio.
Debaixo da Lei
Isso
significa que não estamos debaixo da Lei judaica, mas apenas da Lei moral que
Cristo ratificou.
O
Novo Testamento não cita o sábado a não ser em controvérsias, como os textos
estudados. Assim, quando se fala da ab-rogação da Lei está incluído o sábado.
Portanto, o sábado não é parte do credo cristão, e não é citado como mandamento
porque o domingo havia substituído a prática sabática para a Igreja. Desse
modo, todos os outros mandamentos morais são citados e os cristãos aparecerem
reunindo-se no domingo e nunca no sábado.
Na
verdade, os problemas enfrentados por Paulo, como escreve o autor adventista, não
são somente a circuncisão, as festas e as tradições extrabíblicas, mas como Cl
2, 16-17 é claro, o sábado também estava entre o que havia deixado de ser
obrigatório.
Assim,
também foi possível mostrar que a doutrina católica é bíblica, pode ser
defendida com a Bíblia somente, e seus princípios refutam os princípios
adventistas. Ainda, que o sábado não está na tradição, mas está no que escreveu
Ellen White, que corroborou a interpretação bíblica feita pelos adventistas do
sétimo dia.
Portanto,
para o católico é tradição apostólica que o domingo é o dia do Senhor, e para
os adventistas, conforme autoridade de Ellen White, o sábado deveria ser
guardado e não o domingo.
Para
quem crê na tradição, é dogma a guarda do domingo. Para os adventistas que
seguem o espírito de profecia de Ellen White, é dogma a guarda do sábado. A
discussão bíblica deve ser feita, mas o leitor deve concordar que as
interpretações estão fechadas nos respectivos campos, o que prova que Ellen
White é de grande autoridade para a IASD.
Para
resolver isso, basta ir à Bíblia e ver a autoridade da Igreja Católica, e
crendo nela, estudar o que a mesma ensina sobre o domingo, com sua
fundamentação bíblica, e como responde a cada objeção adventista, de forma que
é possível concluir que o domingo é de fato o dia santo de guarda.
Capítulo
11
Ellen
White e as doutrinas distintivas do adventismo - Parte B
Imortalidade
da alma
Aniquilacionismo
A
ressurreição de Moisés
Essa
interpretação é tipicamente adventista. Se não é baseada em Ellen White, é
fraca biblicamente, como já tenho afirmado em outros estudos, quando se compara
com a doutrina da ressurreição da virgem Maria.
A
afirmação de que a Bíblia não sustenta a imortalidade da alma não procede.
Assim, se Moisés apareceu no Monte, como de fato apareceu, não é necessário que
tenha ressuscitado. Se ressuscitou, isso não depõe contra a imortalidade da
alma. Se não ressuscitou, isso sim é um grande problema para os adventistas.
A
aparição implica ressurreição. Simples raciocínio adventista. Mas, uma vez que
a imortalidade da alma está provada biblicamente, a aparição de Moisés apenas
quer dizer que sua alma apareceu a Jesus e aos dois apóstolos. Primeira prova
não se sustenta.
A
comunicação com os mortos proibida se dá no contexto de uma evocação. Não há
qualquer versículo bíblico que proíba conversa com alma dos mortos que
porventura apareçam. Assim como se pode conversar com os anjos, pode-se
conversar com uma alma que venha a aparecer. A segunda prova também não se
sustenta.
Deus
enterrou o corpo de Moisés. Esse foi o momento em que Miguel veio, pois
certamente foi ele que sepultou Moisés. Por ordem de Deus, é claro, e assim se
diz que Deus o sepultou. A menção a Miguel acontece com referência ao
sepultamento de Moisés.
É
estranho que Deus tenha posto Moisés no sepulcro para depois ressuscitá-lo. De
fato, a Bíblia não indica que isso tenha ocorrido, mas explica que não há até
aqueles dias o conhecimento do local onde Moisés tinha sido sepultado.
Essa
terceira base é interessante, mas não é tão forte. É um entendimento, uma
plausibilidade, que explica o motivo de Satanás querer o corpo de Moisés. No
entanto, tendo-se em conta que ele contendeu com Miguel no momento do
sepultamento, essa dificuldade se desfaz. Nesse caso, ele queria evitar que
Moisés fosse sepultado. E isso é algo humilhante na Bíblia. Veja que o rei de
Isaías 14 não é sepultado, assim como as duas testemunhas de Apocalipse 11. E
as testemunhas foram proibidas de serem enterradas. Satanás queria humilhar o
servo Moisés.
Quanto
ao entendimento fluir da Bíblia e não de Ellen White, isso ficou claro. Aqui
apenas há a contra argumentação.
A
virgem Maria ressuscitou. O silêncio desse fato na Bíblia não prova nada, e
argumentar com o silêncio é uma falácia, um argumento inválido, para usar
palavras do autor quanto ao caso de Moisés. Esse entendimento teológico é
bastante coerente, profundo, e explica o caso da assunção da virgem Maria.
Raciocinar a partir dos princípios.
Agora,
que tudo está compreendido, vejamos o caso tradição apostólica e Ellen White.
Foi visto que o argumento tem base na Bíblia, no entendimento de princípios que
levariam a tal conclusão. No entanto, na interpretação católica não há tal
entendimento sobre Moisés, e não há esse dado na tradição. Quanto à virgem
Maria, a tradição sempre apontou para a sua assunção do céu ressuscitada e
glorificada. E a IASD afirma que Deus poderia ressuscitar Maria mas não há como
provar isso, não há base para supormos. Não se pode conjecturar sobre fatos não
revelados, e nestes casos, o silêncio é
eloquência (Virgem
Maria morreu e está no Céu? - Centro de Pesquisas Ellen G. White
(centrowhite.org.br)).
Não
sabe o autor do artigo que a Bíblia tem muito, mas muito mesmo, que prova que a
virgem Maria foi assunta ao céu. E isso é mais evidente quando se compara a
base para crer na ressurreição de Moisés.
Portanto,
a autoridade da tradição comprova a ressurreição de Maria para a ICAR e a
autoridade Ellen White comprova a ressurreição de Moisés para IASD. Um é dogma
católico e outro é dogma adventista.
Mas,
e se Moisés ressuscitou? O que ocorre com a doutrina católica? Nada. E o fato
admitido de que a virgem Maria ressuscitou, qual o impacto sobre a doutrina
adventista? Muito. A própria tradição de que a alma de Maria foi reunida ao seu
corpo é negada pela doutrina adventista, que não crê na imortalidade da alma. E
sua doutrina é inquestionável porque foi confirmada por Ellen White.
Assim,
temos que a doutrina adventista nega esse dogma, indiretamente pela autoridade
de Ellen White, sem qualquer argumento contra a assunção de Maria, como mostra
o artigo de Alberto R. Trimm (Veneração
de Maria - Centro de Pesquisas Ellen G. White (centrowhite.org.br)).
Miguel
Decreto dominical
Fechando
o tópico, o leitor certamente entendeu que toda a discussão doutrinária pode
ser levada tendo em consideração apenas a Bíblia, e que a doutrina católica é
inteiramente Bíblia. Ainda que não haja no Catolicismo qualquer exigência de
que a tradição não possa ser usada para provar doutrina, pelo contrário, mas
fica verificado que a autoridade da tradição torna a interpretação certa e
imutável. Assim também, a autoridade de Ellen White transforma uma
interpretação bíblica adventista em dogma.
Estudo do Capítulo 6
Reconhecendo a
mensageira
No
estudo desse capítulo, será analisada a doutrina protestante adventista que ele
apresenta, e uma contribuição para o entendimento da doutrina católica para o
público adventista.
Para
tanto, far-se-á uma comparação, que para muitos pode parecer estranha, mas que
há muito significado e auxilia no entendimento da doutrina da Tradição divina
ou Tradição apostólica para o Catolicismo, ao passo que se entende melhor a
relevância da mensageira Ellen Gould White no Adventismo.
A
mensagem defendida no livro “Conselhos de Ellen White...”, para fazer conhecer
melhor a posição adventista sobre Ellen White, sua profetisa “não-canônica”,
afirma entretanto que a mesma (1) não traz nenhuma regra que já não esteja na
Bíblia, (2) não serve de base para doutrinas, (3) não é fundamento e centro de
sermão.
Ela
é usada por muitos como se fosse uma “resolvedora
de questões bíblicas”, base para determinadas práticas, centro e fundamento
de sermão e especialistas em todas as áreas, e etc. Isso não deveria ocorrer,
afirma o livro. Portanto, pode-se acrescentar, Ellen White não é comparável ao magistério da Igreja. Para o adventismo,
ela estaria como que em um patamar inferior ao da Bíblia em termos de autoridade,
mas em igualdade em termos de inspiração.
Isso
porque entende-se que o que Ellen White traz para a IASD já está na Bíblia, e
leva à busca dessa verdade na Bíblia, de modo que ela é uma luz menor que leva
à luz maior. No entanto, como veremos, sua importância é tão grande na IASD que
ela está em termos práticos, pelo menos, como a Tradição divina está para a
Igreja Católica.
Voltando
ao que o capítulo 6 do livro apresente, esses usos da mensagem de Ellen White,
como mencionados, são desvios do que a mesma ensinava. Isso significa que se os
críticos afirmam que tudo isso é posição que deve ser tomada pela Bíblia
somente, estão certos, e devem saber que a profetisa Ellen White ensinava o
mesmo.
Essa
questão nos leva a entender mais o papel de Ellen White para a Igreja
Adventista do Sétimo Dia – IASD, e comparar com o que a Tradição Apostólica tem
em relação com a Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR.
Isso
mesmo. É muito interessante o que essa profetisa tem em termos de autoridade
para o Adventismo, chegando a ser como que a tradição para o Catolicismo.
Talvez isso ajude a quem estuda a doutrina católica e seja de origem
adventista. Os demais protestantes precisam entender melhor o que é a tradição
divina para a ICAR e o que significa a mensagem de Ellen White para a IASD. Os
adventistas, por sua vez, já bem entendidos sobre Ellen White, precisam saber o
que é a tradição divina para a Igreja Católica e perceber as semelhanças com
aquilo que sua mensageira significa para sua igreja.
Pois
bem. Alguém poderia citar Ellen White como se fosse a Virgem Maria na Igreja
Católica, por ser tão admirada e seguida. Mas isso não tem lugar no Adventismo,
já que ali não há culto de veneração a Ellen White, embora “venerem-na” (a
respeitam, a amam, a honram, etc.) de fato pela sua doutrina e em sua memória.
Mas, não é essa a questão, e se referir desse modo seria algo muito
superficial. Ela não tem no adventismo o tratamento comparável a uma santa
católica.
Também,
Ellen White não poderia ser o Magistério da Igreja para a IASD, pois isso é uma
comparação superficial, pois nenhuma vez ela se colocou para ensinar questões
de fé e prática, com autoridade como se fosse outra instância com a Bíblia, nem
foi consultada para dirimir questões nesse âmbito, com essa ênfase, não teve
esse papel e não é admitida como sendo o lugar onde se procura para resolver
assuntos de fé e prática para os adventistas. Então, também ela não é
semelhante ao magistério da Igreja Católica. E o protestante adventista faria
bem conhecer bem o que significa o magistério católico, caso queira entender
melhor a comparação que se faz aqui com relação a sua mensageira.
Agora,
entendendo bem o papal de Ellen White no Adventismo e da Tradição no
Catolicismo, temos de admitir que há pontos semelhantes, que levam a afirmar
que de fato a profetisa adventista não-canônica é como que a tradição para IASD. Não crer em Ellen White impossibilita ser um
adventista.
Dito
doutro modo, o adventismo possui uma tradição. Essa de alguma forma influi na
sua interpretação bíblica, etc. Mas, Ellen White é maior que a tradição
adventista, pois ela funciona para a Igreja Adventista como a tradição católica
é para a Igreja Católica. Assim, Ellen White tem autoridade maior para o
adventista que sua própria tradição.
Não
se trata de afirmações categóricas de Ellen White nesse sentido, nem do
Adventismo, como se o mesmo a reconhecesse assim, em suas afirmações oficieis,
pois é sabido que a posição protestante geral é oficialmente o Sola Scriptura, assim como a persuação
adventista o é, e portanto não poderia haver outra fonte doutrinal infalível
para a Igreja a não ser a Bíblia.
O
que se está aqui demonstrando é que de
fato Ellen White tem papel semelhante àquilo que a Tradição Apostólica tem
na Igreja Católica. Para termos essa ideia é preciso conhecer o que é a
Tradição Apostólica como regra de fé católica e o que Ellen Gould White
significa para o Adventismo como profetisa não-canônica. Fazendo isso, é
possível perceber a afirmação acima.
O
livro faz uma apresentação do que é uma profetisa não-canônica e afirma que
isso não rivaliza com o princípio Sola
Scriptura. Esse ponto é interessante, pois na Igreja Católica o
entendimento da Tradição Apostólica e sua função na Igreja também não cria
rivalidade com a Bíblia. No entanto, não há na Igreja Católica o princípio que
exige que tudo o que é relativo à fé e aos costumes seja resolvido pela Bíblia.
Voltemos ao ponto em questão: o papel de Ellen White no adventismo está
conforme o Sola Scriptura assim como
a Tradição se harmoniza com a Bíblia no catolicismo. Em seus respectivos
campos, há harmonia.
É
importante notar, agora, que no Catolicismo é oficialmente reconhecido que há
três regras de fé, sendo a Bíblia, a tradição e o magistério, o que já supõe
que é pacífico que essas regras estão em plena harmonia. A Bíblia e a Tradição
são duas fontes ou dois modos pelos quais a doutrina cristã flui na Igreja
Católica, e o Magistério é um organismo que regula as fontes. Se o termo fonte
de doutrina não for o melhor, quando se sabe que há uma só fonte da doutrina,
que é Deus, poderia ser usado modo de apresentação da doutrina, sendo dois, um
escrito e outro oral. Mas, na prática não faz diferença.
Por
isso, ao fazer a comparação com Ellen White e o Sola Scriptura não se está fazendo comparação com o Protestantismo
como um todo, mas com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em particular, que tem
oficialmente Ellen White como profetisa e entende que está em perfeita harmonia
como princípio protestante Sola
Scriptura.
A
prova sobre a continuidade do dom de profecia é bastante clara, e nisso o autor
adventista acertou e refutou visões contrárias. Essa posição está conforme a
doutrina católica.
E
nisso, ao entender que o dom de profecia tem a ver com o testemunho de Jesus na
Igreja, e tendo em vista a compreensão do dom de profecia com a verdade
presente apresentada por Ellen White como não acrescentando à Bíblia, temos
também que esse pormenor é possível entender em relação à Tradição e a Bíblia
no Catolicismo, onde as doutrinas da tradição estão de algum modo, explícito ou
implícito, na Bíblia, não tendo o papel de introduzir nenhuma novidade
teológica em termos de salvação para ser crida como doutrina obrigatória para
toda a Igreja.
É
preciso saber que há uma diferença crucial. De fato, a Igreja Católica
oficialmente afirma que há três autoridades, a Bíblia, a tradição e o
magistério. Desse modo, havendo alguma doutrina que seja encontrada somente na
tradição oral, isso não invalida sua admissão no credo católico, já que não há
necessidade que a mesma tenha sua expressão clara no texto bíblico. Mas, isso é
bastante interessante, pois é notável que todas
as doutrinas católicas possuem fundamentação bíblica profunda, de modo que é possível
percebê-las, mesmo que por seus princípios, e às vezes por fatos em passagens
bíblicas, e que é possível prová-las pela Bíblias somente.
É,
por isso, oportuno notar que Ellen White é uma profetisa que, de acordo com o
autor adventista, possui um papel onde sua mensagem não acrescenta algo à
doutrina que deve ser crida, e é subserviente à Palavra de Deus. Assim,
seguindo o princípio protestante, todas as instâncias doutrinais são testadas à
luz da única instância infalível, que é a Bíblia.
Para
a Igreja Católica não há necessidade que outras instâncias como a Tradição e o
Magistério sejam testados à luz da Palavra, pois se entende que há harmonia
entre Bíblia e Tradição e que há o carisma da infalibilidade do Magistério
quando o assunto é fé e prática.
Ellen
White tem o ministério de “exortar a
congregação à fidelidade bíblica”, através dos seus escritos, ajudar no
crescimento espiritual dos irmãos e prepará-los para o futuro.
A
Tradição católica tem a função, comumente percebida no decorrer dos séculos, de
fazer entender melhor a Palavra de Deus. Traz alguns traços que lhe são
próprios, como certos costumes e certas doutrinas ou ênfases ou interpretações
consensuais sobre certas passagens bíblicas, de modo que é luz para a vida
cristã. É a própria tradição que apresenta o cânon bíblico. Desse modo, a
tradição é Palavra de Deus. Ela foi a pregação apostólica, portanto inspirada.
Dessa
forma, Ellen White é tida no adventismo como profetisa, mensageira, inspirada.
É uma pessoa que traz consigo tamanha autoridade. No caso da tradição
apostólica, temos que os apóstolos foram inspirados a ensinar e escrever, e
assim o que ensinaram oralmente é de autoridade divina. Então, a tradição
apostólica é de autoridade máxima na Igreja com a Bíblia. Embora Ellen White
seja apresentada como luz menor, ela possui uma autoridade no adventismo
imensa, por ser tida como inspirada, e tendo confirmado doutrinas.
O
caso de Guilherme Miller pode ajudar a entender a questão de Ellen White. De
fato, Miller cria na Bíblia, foi um estudante aplicado e sincero, convenceu-se
de sua interpretação, pensou estar sendo guiado por Deus. E ainda assim, errou
em certos pontos. Um adventista não diria o mesmo sobre Ellen White e a
doutrina adventista por ela confirmada.
O
próprio fato de muitos “marcarem datas” para a volta de Jesus mostra o equívoco
tremendo que tinha o movimento, pois a Bíblia é explícita ao afirmar que sobre
esse dia e hora não há revelação.
Caso
Miller fosse católico, e estivesse trazendo uma mensagem nova, uma interpretação
inigualável, algo que estivesse fazendo alvoroço na Igreja, e isso levasse
mesmo a um concílio, seria preciso que a mensagem de Miller estivesse de acordo
com toda a doutrina cristã pregada e crida durante dos todos os séculos, que
fosse acatada pela opinião geral dos fieis católicos em todo o mundo, sem que
nada contradissesse qualquer passagem bíblica nem o consenso dos Santos Padres
e Concílios que versaram sobre o tema ou que tiveram algo definido que de
alguma forma baliza a interpretação surgida dos estudos daquele homem. Seria
impossível que a doutrina de Miller entrasse no rol de doutrinas da Igreja.
Uma
vez não encontrada uma ligação doutrinal clara com a Bíblia e a tradição, certamente
a doutrina, a interpretação, a mensagem, a revelação, seria refutada. E por quê
isso? Porque a revelação foi fechada, não há nenhuma doutrina que possa ser
revelada para toda a Igreja após o fechamento da revelação. Isso é pacífico.
Católicos e protestantes creem nisso. Assim, os adventistas estão de acordo.
E,
então, como a mensagem de Miller foi, de alguma forma, aceita? Isso se dá
porque o a IASD é protestante, e no Protestantismo há espaço para essas
mudanças. No entanto, nesse caso particular, as revelações a Ellen White
tiveram maior peso.
Assim,
isso teve a ver com o levantamento de um “profeta” ou “profetisa”. Diante
disso, dizemos que tal coisa é compreensível em tempos do Antigo Testamento,
quando a revelação estava sendo dada, mas não em questões de fé nos tempos do
Novo Testamento. Toda revelação precisa estar em consonância com aquilo que a
Igreja oficialmente tem pregado em toda a sua história. E a interpretação de
Guilherme Miller não cumpre os critérios católicos.
Então,
e o que dizer de restaurar verdades bíblicas? Ou seja, há alguma doutrina que
não havia sido descoberta por ninguém e, como no caso de Miller, a partir de
certo período foi “restaurada”? No caso da Igreja Católica e de como as coisas
funcionam, não há espaço para introdução de novidades assim. Serve para a
reflexão do leitor.
Assim
também, a visão de Hiram Edson levou à adoção da interpretação da purificação
do santuário celestial. E a visão levou ao estudo da Bíblia. Pois bem.
Isso,
pelo dito antes, não é suficiente para que uma doutrina seja adotada na Igreja
Católica, pois podem existir visões que apresentam doutrinas e textos bíblicos
que parecem favorecer a visão, e sinceridade nos estudos, que supõem concordar
com as revelações. No entanto, uma vez que a doutrina não é parte do patrimônio
cristão e contradiz alguma definição dogmática, em um estudo mais acurado, é
possível, e de forma cabal, mostrar onde está o erro da interpretação.
E
a partir de 1844: “Nos anos posteriores,
Ellen White teria muitas visões que confirmavam pontos já estudados e
resgatados por diferentes membros do movimento, incluindo o sábado.” O
problema aqui já foi comentado. O sábado, no sentido moral e religioso, dia
santificado para o repouso e culto a Deus, é claramente um mandamento que é
cumprido no Novo Testamento com a guarda do domingo.
Dessa
forma, ainda que existam interessantes interpretações sobre o sétimo dia, e
essas foram corroboradas e confirmadas
por visões de Ellen White, em relação ao sábado isso contradiz a doutrina dos
santos Padres e a doutrina dos concílios, o que mostra que a guarda do sétimo
dia, o sábado, não é doutrina da Igreja. Dessa forma, basta um estudo da
doutrina bíblica para certificar-se que o domingo cumpre o preceito divino.
Então,
o convencimento por estudos bíblicos seguidos de visões não é suficiente para a
introdução e doutrina no conjunto de doutrinas da Igreja. É necessário que
esteja conforme a tradição.
Então,
no Adventismo, se o sábado foi estudado, e os estudos concluíram que o sétimo
dia deveria continuar a ser observado como no Antigo Testamento, e teve
revelações de Ellen White confirmando as conclusões dos estudiosos do movimento
adventista sobre o tema, isso torna o sábado parte integrante das doutrinas da
IASD, de modo infalível e irreformável, certo e dogmático.
Para
aquele que crê no dom profético de Ellen White é impossível que não creia na obrigatoriedade da guarda do sábado do
sétimo dia conforme está na doutrina adventista, pelas bases bíblicas
apresentadas na interpretação adventista, o que já cumpre o princípio Sola Scriptura, e pela confirmação da
profetisa, é impossível que não creia e ainda seja um adventista do sétimo dia.
Não há estudo bíblico para averiguais essa questão novamente, pois para o
adventismo isso deverá estar encerrado.
A
doutrina da mortalidade da alma é outra que o adventismo adota, e que foi
estudada no movimento e teve revelação de Ellen White confirmando a
interpretação adventista. Esse último fato torna a doutrina um dogma
adventista.
No
entanto, essa doutrina antiga, que o metodista George Storrs apresentou no
século dezenove ao movimento milerita, que tinha estudiosos citados no livro
como Henry Grew e Carlos Fitch, é totalmente refutada biblicamente. É uma
doutrina antiga, mas não a original, de origem apostólica.
Se
o leitor quiser comprovar isso, basta ler o livro A imortalidade da alma não
é lenda, de mais de seiscentas páginas, que está em fase de conclusão, e
possui argumentos irrefutáveis, refutando todas
as importantes objeções mortalistas.
Isso
mostra que ainda que o mortalismo tenha seus pontos fortes na argumentação, e
que a doutrina foi confirmada por Ellen White, ela não pode manter-se de pé
diante de um estudo bíblico profundo. Também não encontra-se na doutrina dos
santos Padres e dos concílios, que mais de uma vez condenaram a doutrina da
morte da alma. E, por fim, o consenso universal cristão católico sobre a
imortalidade da alma. Isso mostra que é uma doutrina bíblica e presente na
tradição apostólica e definida pelo magistério. Nenhuma outra interpretação nem
revelação particular pode introduzir outra doutrina.
Para
o adventismo, que crê no Sola Scriptura
e em Ellen White, o papel da profetisa selou a convicção da interpretação da
mortalidade da alma, tornando impossível que um adventista seja convencido de
que a alma é imortal e permaneça adventista.
É
basicamente assim: nos escritos de Ellen White há a doutrina da morte da alma,
da inconsciência dos mortos, e, portanto, essa doutrina é dogma adventista. É
uma confirmação de que a interpretação bíblica em questão não pode ser
reformada. É o mesmo que encontrar uma definição conciliar sobre o tema. Se o
catolicismo definiu que a alma é imortal, isso é dogma de fé, crido por todos
os católicos. Se Ellen White escreveu que a alma morre, os adventistas só
poderão ser mortalistas.
No
entanto, ela não passa no crivo cristão católico: biblicamente todos os
argumentos do mortalismo são refutados. Não há nenhum que seja superior aos
argumentos imortalistas.
Entretanto,
a interpretação católica é profunda, sólida e irrefutável. Ainda,
tradicionalmente a Igreja já pronunciou-se contra a doutrina mortalista,
mostrando que a imortalidade da alma é um dado revelado. Isso acaba com a
possibilidade de que o mortalismo esteja correto. Aqui é preciso entender,
conforme o assunto do presente estudo: ou a Bíblia e a tradição ou a Bíblia e
Ellen White. O cristão católico estudo a Bíblia e encontra a interpretação
autêntica de que a alma é imortal. O adventista só poderá concordar com a
interpretação adventista de que a alma é mortal. O católico não pode negar a
imortalidade da alma, assim como o adventista não pode aceitar essa doutrina. O
fato é que a tradição católica é imortalista, Ellen White é mortalista. Que o
leitor compreenda a comparação.
Mais
uma comparação torna isso mais claro. Vamos à doutrina do purgatório. Para o
catolicismo, essa doutrina possui bases bíblicas, no Antigo Testamento e no
Novo Testamento, e foi proclamada na tradição como doutrina revelada. Não há
como negar.
No
entanto, Ellen White afirma que a alma deixa de existir na morte, o que
confirmava o estudo de vários grupos protestantes daquele tempo, e dos grupos
que estudavam a Bíblia no movimento adventista, de modo que para o adventismo
não pode haver purgatório.
Mais
uma vez, ou a tradição apostólica que prova que existe o purgatório, e,
portanto, a doutrina está na Bíblia, ou a autoridade da interpretação
adventista corroborada por Ellen White sobre o estado inconsciente dos mortos.
Então, leitor adventista, é necessário ler o livro que refuta biblicamente as
argumentações mortalistas. Há vários artigos do mesmo no blog.
Naquilo
que Ellen White ensinou em conformidade com a tradição católica, não há o que
objetar, como a doutrina da trindade, e da instrução a não marcar datas para a
segunda vinda de Cristo e do cuidado com a saúde. Essas posições fazem parte da
doutrina da Igreja e estão corretas.
Diga-se
de passagem que se é verdade que a saúde dos adventistas testemunha a correção
dos seus modos de vida para o cuidado com a saúde, é verdade que os cristãos
católicos que vivem melhor os princípios católicos possuem também saúde acima
da média, bastando olhar para os religiosos católicos, onde padres, bispos, cardeais,
estão trabalhando com idades superiores aos 90 anos. Aliás, uma freira está
entre as três pessoas mais idosas do mundo.
A
cidade onde há muitos adventistas possui expectativa de vida de 79 anos. Para
fazer uma comparação simples, o estado do Vaticano, de maioria absoluta
católica, e que seguem mais de perto as doutrinas da Igreja, possui expectativa
de vida de 84 anos.
É
digno de nota a passagem que menciona um tema em que na IASD começou-se a ver a
“tradição” e “Ellen White” como “resolvedores” de divergências bíblicas e
teológicas, ganhando assim “vícios católicos”.
É
claro que se assim ocorresse, o movimento adventista teria de adotar uma
tradição mais rígida e as revelações de Ellen White não teriam o papel que
possuem.
Quando
se diz que mesmo os reformadores não acertaram em tudo, é preciso concordar e
repetir que é verdade que mesmo os “grandes cristãos do passado” não acertaram
em tudo porque é somente a Igreja em seu magistério que, conforme a Divina
Providência, quando toma a dianteira para resolver questões de fé e moral é
que, nesse caso e somente nesse caso, é infalível, acerta em tudo. Não há na
Igreja Católica nenhum indivíduo que tenha acertado no ensino em tudo em termos
de fé e prática.
Se
se questionar se Ellen White errou em doutrina e prática em seus escritos, o
adventista deverá dizer: não. Assim, também, como na tradição apostólica não há
nenhuma doutrina errônea.
E
quanto ao estudo bíblico e a adoção das doutrinas: “O processo de assimilação não é simples e varia de indivíduo para
indivíduo.”, escreve o autor. De fato.
Para
um adventista crer, por meio de estudo bíblico, que a alma é imortal, é, como
já dito acima, deixar de ser adventista. O motivo é simples: o estudo foi
confirmado pela profetisa e, uma vez que se crê que ela é infalível na
doutrina, não se pode adotar uma interpretação que negue o que foi confirmado.
E
mesmo com a noção protestante da falibilidade da Igreja, o adventista terá de
crer que determinada doutrina foi corretamente interpretada e por isso alcançou
a graça de uma confirmação da profetisa Ellen White, levando com isso a
reconhecer tal doutrina como verdadeiro dogma.
Mas,
quanto à imortalidade da alma, cada argumento que forma a doutrina desfaz todos
os argumentos mortalistas. Portanto, o mortalismo não pode estar correto.
Dessa
forma, a seguinte afirmação: “E manter
essa noção é essencial para que o movimento não se julgue infalível, mas
procure, pelo estudo constante e com humildade, sempre consertar seus erros e
chegar mais próximo da verdade.”, essa afirmação significa que “outras
doutrinas” podem ser reformadas etc., mas não aquelas já confirmadas, como a doutrina do sábado, da inconsciência dos mortos
e do santuário, por exemplo, que já passaram pela confirmação da profetisa, o
que equivale a dizer que é como se fosse um dado da tradição da Igreja,
portanto, doutrina revelada. Assim, o que está em Ellen White é tradição,
posterior à Bíblia em termos lógicos e cronológicos.
De
fato, nenhum adventista se colocará a rever a doutrina da mortalidade da alma em
estudos bíblicos, pensando ser possível estar errada e que poderá chegar mais
próximo da verdade.
Mas,
é um convite para aquele que deseja estudar biblicamente sobre a imortalidade
da alma, que leia o livro indicado acima.
Será
mesmo que os movimentos que são citados na reforma cristã são de fato
“reformadores” e levantados por Deus para levar a Igreja à verdade, apresentando
com esses uma mensagem para aquele tempo? Parece que não.
De
fato, esses movimentos parecem mais a permissão de Deus para levar a Igreja a
reformar-se, sendo heresias que são inevitáveis: “Porque é necessário que haja entre vós heresias, para que os que são
sinceros se manifestem entre vós”. Assim, com as muitas opiniões
protestantes, a Igreja Católica saiu fortalecida com o Concílio de Trento, que
formou clero santo, abriu escolas, monastérios, publicou catecismo, deu novo
ímpeto a missões, favoreceu a vida religiosa renovada, aumentou a prática
piedosa de boas obras, mais construção de igrejas arquitetonicamente belas,
florescimento da teologia e etc.
Há
uma frase interessante no livro: “Pelo
contrário, é vergonha pretender infalibilidade quando não se tem.”
Certamente se refere à doutrina católica da infalibilidade da Igreja. Mas a
Igreja a possui, então não é vergonha ensiná-la.
E,
continuando, o autor afirma que um profeta, chamando atenção para o ministério
de Ellen White, não tem a missão de dar ao movimento uma interpretação correta
de todas as passagens bíblicas e doutrinas. Isso é formidável.
É
basicamente o mesmo que é afirmado da tradição da Igreja Católica, ou mesmo do
magistério, que não comentário infalível da Bíblia, nunca fez definição de
todas as passagens bíblicas, pois tudo o que é revelado é de fé, e não há
necessidade de nenhuma explicação infalível para cada passagem bíblica.
E
mais: o profeta seria para o movimento não se desviar da missão. De fato, Deus
pode levantar pessoas, como os santos, na Igreja Católica, para evitar que seu
povo se afaste da verdade. No entanto, quando é necessário resolver questões de
doutrina, o meio utilizado por Deus é o concílio.
A
Igreja é inerrante, pois como ocorreu no concílio de Jerusalém, o que foi
decidido foi a vontade do Espírito Santo, que não pode errar, e foi acatada por
todos os cristãos.
Ainda,
a relevância de Ellen White é “contínua” para a IASD. Isso mostra mais uma vez
o quanto se assemelha à tradição apostólica, que é sempre relevante para a fé
católica.
Ellen
White foi profetisa, e muito mais uma mensageira da IASD. Isso é interessante.
Também, suas doutrinas levam a Cristo, à Bíblia, e são fieis à tradição
protestante. É também correto afirmar isso.
Mas,
quando se diz que a doutrina do sábado e da mortalidade da alma, o juízo
pré-advento, a escatologia historicista, a reforma da saúde, são corretas, isso
está equivocado, e basta um estudo bem feito para certificar-se do fato. São
coisas que podem surgir do estudo bíblico, mas que não refutam a doutrina
original. Para ver isso, leia o livro que prova a imortalidade da alma
refutando através da Bíblia todos os argumentos mortalistas. Vários artigos já
estão no blog.
E
usando as palavras do livro, de que a Bíblia valida Ellen White, por serem as
doutrinas adventista oriundas dos estudos bíblicos e corroboradas por Ellen
White, sabemos que a Bíblia valida a tradição apostólica: guardai as tradições (2 Ts 2, 15).
Sem
Ellen White, na perspectiva interna da IASD, as heresias teriam prosperado no
adventismo, afirma o autor. É praticamente a relevância da tradição apostólica,
que garantiu a verdade na Igreja Católica, contra erros e inovações.
Lembremos
que a tradição mostra como foi formado o próprio cânon bíblico, apontado para a
verdade da Bíblia, e afirma a inspiração da Bíblia, garante que a Bíblia é a
Palavra de Deus. E a Bíblia, por sua vez, atesta a veracidade da tradição. Ou
seja, pela tradição conhecemos que livro foi inspirado por Deus. É como Ellen
White no adventismo, que aponta doutrinas que devem estar na Bíblia.
Temos
então que na IASD a relevância de Ellen White seria como a tradição para a
Igreja Católica.
“experiência
de Edson me parece ter sido um ponto de partida para desfazer confusões.”
Estudo
do Capítulo 12: O Sola Scriptura é
bíblico?
A
Igreja Católica ensina que o critério, o padrão, para se conhecer a doutrina verdadeira,
aquilo que devemos crer e praticar, é composto por três elementos: a Bíblia, a
tradição e o magistério. O Protestantismo aceita somente a Bíblia.
Ou
o princípio Sola Scriptura está
correto ou os irmãos católicos estão certos quando afirmam estar em pé de
igualdade a Escritura, a Tradição e o Magistério. E agora?
Como
a Bíblia é o único texto inspirado, a Igreja Católica ensina que ela tem uma
posição singular na fé. Isso é afirmado, embora tenhamos a Tradição Apostólica
e o Magistério da Igreja como estando em igualdade de autoridade para a fé e a
moral. E o Protestantismo entende que a Bíblia possui uma posição única, de
modo que nada mais pode ser de autoridade para definir o que é de fé e prática.
A
questão é difícil, e mais difícil ainda é fazer-se entender. Tantos debates
demonstram essa dificuldade. Há muito escrito sobre isso, e pouca compreensão.
Muitos concluem coisas precipitadamente a respeito desse debate, e isso, na
maioria das vezes, parece atrapalhar, já que o resultado é cada um terminar o
debate ou a leitura do assunto e estar com a mesma ideia inicial, e com ideias
pouco ou nada precisas da doutrina que está combatendo. A conclusão precipitada
é uma lástima.
Pois
bem. Vamos aos pontos específicos da questão. Quando se diz que a Bíblia é o
texto padrão fundamental, única instância infalível, pelo qual toda a doutrina
deve ser julgada, isso já pressupõe que alguém irá ler a Bíblia e com seu
entendimento irá olhar para as doutrinas e concluir se estão de acordo com o
texto bíblico lido ou não. E, portanto, aí começa um problema, ao invés desse
princípio tê-lo resolvido.
De
fato, todos tempos acesso à Bíblia, e, como cristãos católicos, cremos
firmemente que ela é a Palavra de Deus. Assim, ao lermos a Bíblia, estamos
diante da Palavra de Deus para nós, e cremos tudo o que ela ensina.
Continua
o Protestantismo adventista afirmando que Bíblia é suficiente para conhecermos
toda a revelação básica de Deus, não sendo necessário mais nada para
acrescentar para que possamos chegar à salvação. Nessa questão não há muito o
que objetar, desde que se faça correta interpretação dessa afirmação.
Entretanto,
temos a verdade que a Bíblia possui, pelo menos de forma implícita, toda a
revelação necessária para que conheçamos e sejamos salvos.
Então,
como afirma o adventismo, não há necessidade de complemento doutrinário, ou
seja, outra fonte de doutrina. Essa é uma afirmação muita usada no
Protestantismo, não é de origem católica, mas é surpreendente que mesmo essa
afirmação possui um bom sentido e pode ser admitida pelos católicos, como
visto. A Bíblia não necessita de nenhum complemento.
Caso
haja divergência entre fontes não doutrinárias e a Bíblia, a Bíblia possui
primazia. Isso também está correto.
E,
por fim, quando se diz que a Bíblia possui ferramentas para a interpretação de
seu próprio texto, é preciso admitir que o leitor, seja ele católico,
protestante ou ortodoxo, fará uso dessas ferramentas para interpretar a Bíblia
e potencialmente pode falhar. Não há como garantir que a interpretação de alguém
esteja correta.
Ainda
que haja hermenêutica e exegese, é tamanha a realidade que não se pode negar,
tão clara como o sol do meio dia em céu sem nuvens, de que os leitores, os mais
bem intencionados, caem em muitas e muitas heresias.
É
só lembrar que muitos no próprio movimento adventista chegaram à conclusão de
que Cristo não era Deus, negando a trindade, que é um dogma já definido, onde a
Igreja, os primeiros cristãos, que combateram os erros com perigo de vida, proclamou
nos antigos concílios, respeitados em toda a Cristandade, a verdade da
Santíssima Trindade.
Assim,
alguns protestantes, pela nova onda no século dezenove de ir à Escritura e
fazer livre exame para chegar a novas luzes doutrinais, foram levando para
longe da verdade em pontos que já estavam totalmente resolvidos. Estavam
tentando reinventar a roda. Assim, no caso adventista, felizmente puderam
voltar nesse ponto, novamente, à antiga fé, por outros meios, que serão mais
adiante mencionados. Mas em outros, por não seguirem a luz da verdade já
brilhante na Igreja Católica há séculos, foram criando outras doutrinas por
meio de suas interpretações particulares, como nova denominação.
Então,
o conceito Sola Scriptura é um dos
que fazem a diferença entre católicos e protestantes, mas quando bem entendido,
no seu bom sentido, ele é conforme a doutrina católica, e impossível de conciliar
com a protestante. E, nesse caso, já que se está aqui estudando a doutrina em
obra adventista, é impossível harmonizar o princípio com o adventismo.
Quando
se diz que: “Para os católicos, a Bíblia
não é o único padrão para julgar fé e prática, nem a suficiente revelação de
Deus para as questões básicas da fé.”, está afirmando que a Igreja Católica
possui fontes extra-bíblicas, extra-canônicas, que são consideradas como
autoridades infalíveis para as questões de fé.
Assim,
explicando de uma forma católica, as obras dos santos Padres, os sínodos, os
concílios gerais ou ecumênicos, as encíclicas, as bulas papais, as obras dos
teólogos, as revelações particulares, os ritos e cerimônias da liturgia, as
festas religiosas e etc., contem a tradição apostólica, que por sua vez traz
elementos de fé e prática não exarados explicitamente na Bíblia.
Isso
é verdade, é como a Igreja Católica entende a questão. Portanto, não é tudo o
que está escrito fora da Bíblia e que está na tradição da Igreja que é
considerado tradição apostólica. A Tradição Apostólica está no meio de um
inumerável número de tradições da Igreja que é transmitida durante os séculos. Essas tradições contem a tradição apostólica
que vem do primeiro século juntamente com a Bíblia.
Dessa
forma, a Bíblia não poderia ser o “único padrão” para julgar questões de fé e
prática, pois nos pontos onde há controvérsia haveria apenas o leitor diante do
texto da Bíblia para extrair dali o sentido e compará-lo com outros e concluir
segundo o ele mesmo como intérprete. É sempre um perigo. E, em termos gerais,
nenhuma instituição funciona assim.
Assim,
quando se diz que: “Ela requer a
complementação da tradição da ICAR e de seu magistério, em especial o Papa.”
Dessa
forma, há que se entender o que é a doutrina da tradição apostólica. E,
obviamente, toda doutrina da tradição deve estar conforme a Bíblia. Para
certificar-se disso, deve-se estudar, extrair a doutrina revelada de suas
fontes, esclarecer, proclamar oficialmente essas doutrinas cristãs que devem
ser cridas por todos os cristãos. E quem faz isso não é apenas uma pessoa, nem
qualquer grupo, mas aqueles que compõem o que se chama Magistério Eclesiástico,
que é composto pelo papa e pelos bispos, e que estão na linha de sucessão
apostólica, seguindo também o senso da fé geral da Igreja, não podendo
contradizer nenhuma doutrina bíblica e da tradição já proclamadas.
Basta
uma olhada para perceber como o princípio católico é robusto. Nenhum membro da
Igreja, nem o papa, pode mudar um dado revelado. Assim, se o texto bíblico
devesse ser o único padrão para ser lido e julgar tudo o mais em questão de
doutrina, a harmonia acima não poderia mais ser garantida. O Espírito Santo
deveria falar com um só, ou com um grupo que deveria ser conhecido como esse
canal, e tal critério seria bastante duvidoso.
Mas,
se a autoridade da Bíblia, como Palavra inspirada, inerrante e infalível de
Deus, é única, por ser o único texto inspirado por Deus na terra, qual o papel
da Bíblia na Igreja Católica e sua relação com a tradição e o magistério em
termos mais precisos? Isso será respondido seguindo o raciocínio protestante na
sua defesa do Sola Scriptura contra a
tradição e o magistério. Que o leitor tenha a paciência de seguir o raciocínio
na apresentação que segue.
São
apresentadas cinco evidências para o Sola
Scriptura. A primeira é que Jesus não teria falado das antigas tradições
rabínicas nem defendido os escribas e fariseus, o magistério da época.
Mas
é preciso responder a isso afirmando que: o magistério antigo não recebeu a
mesma promessa do magistério cristão, pois Jesus afirmou que a Igreja nunca
será vencida pelos poderes do inferno. É algo novo.
E,
além disso, no que se trata de pontos fundamentais, Jesus afirmou que o
magistério judaico devia ser ouvido, que suas doutrinas deveriam ser
praticadas, e somente as ações hipócritas dos líderes não deveriam ser
imitadas. Isso já refuta a objeção que se formou acima.
Com
isso, temos que o fato da falibilidade humana dos líderes, e das tradições, não
prova o Sola Scriptura, já que quando
Cristo afirmou que todos deviam obedecer
e fazer tudo o que eles dizem (cf.
Mt 23, 1-4), referindo-se ao ensino do magistério judaico, isso mostra que eles
conheciam e pregavam a doutrina bíblica correta, o que pressupõe correção nos
pontos fundamentais e salvíficos, mas que agiam mal em suas vidas. Levando isso
para o Novo Testamento, temos maior razão para crer na correção da doutrina da
Igreja Católica ensinada pelo seu magistério, instituído por Jesus Cristo.
E
aqui, entra novamente a Bíblia: “Por
isso, ela tem autoridade superior.” De fato, diante da vida dos homens, das
autoridades da Igreja, dos documentos doutrinais, de tudo o que é ensinado e conservado,
a Bíblia possui autoridade suprema.
Desse
modo, essa frase protestante é totalmente católica, e estamos aqui em um
terreno onde o princípio está sendo estudado, compreendido e desenvolvido
segundo a fé católica, com razões bastante claras. E, ao longo da discussão as
objeções em defesa do Sola Scriptura
estão sendo refutadas. Até o momento não há nada que possa ser afirmado como
dificuldade para a doutrina católica.
É
importante entender que o magistério possui autoridade de acordo com a Palavra
de Deus, não para produzir doutrinas, mas para ensiná-las e defendê-las. Mas o
princípio Sola Scriptura leva a
afirmar: “Em suma, as tradições nem
sempre são boas.”.
E
de fato é assim. Por isso, a Igreja somente proclama dogmas em concílios por
entender que esses dogmas não são parte de qualquer tradição, mas da tradição
apostólica, que é Palavra de Deus e está em conformidade com a Bíblia. Não são
todas as tradições da Igreja que são apostólicas.
O
fato do Sumo Sacerdote não ter sido dito “infalível” e ter errado em condenar
Jesus não é algo que pode ser usado contra a doutrina da infalibilidade papal,
pelo já exposto antes, é já expressa certas incompreensões. Os judeus ensinavam
corretamente a doutrina (Mt 23), mas foram repreendidos por sua conduta. As tradições
que são condenadas e os seus motivos são expressos por Jesus de forma clara.
Mas, de modo geral, estavam ensinando corretamente.
Ainda,
é preciso entender que um erro jurídico não é o mesmo que um erro doutrinal em
matéria de fé e prática. Nem mesmo o papa possui infalibilidade jurídica,
política, científica, acadêmica, etc., mas somente naquilo que se refere à fé e
à moral em momentos específicos, onde há clara intenção de conhecer, ensinar e
proclamar a verdade salvífica a toda a Igreja com a autoridade recebida de
Jesus Cristo, o que é entendido por falar ex
cathedra. Isso é muito mais do que alguém fazer um estudo privado da Bíblia
e ensinar sua interpretação de uma passagem. O papa tem consigo a companhia dos
bispos, o estudo dos teólogos, o senso de fé dos fieis em todo o mundo, a
tradição apostólica proclamada nos concílios. E, ainda, tem as revelações
particulares dos santos e videntes cristãos católicos que atestam a verdade de
muitas doutrinas, sem que essas revelações sejam fonte doutrinária.
Depois
de compreender isso, é bom lembrar e entender por isso o motivo de Jesus respeitar
a autoridade do Sumo Sacerdote, como está em Jo 18, 22, pois Suas palavras não
tiveram a intenção de negar aquela autoridade, assim também em Atos 23, 5, onde
São Paulo reconhece a autoridade do Sumo Sacerdote.
Dessa
forma, o magistério judaico errou, e mesmo o magistério da Igreja Católica pode
errar em questões que não estão
ligadas diretamente à fé e à moral. Em aplicações da moral, em muitas
expressões ordinárias do magistério, pode haver erro.
Assim,
há vários exemplos em que atitudes magisteriais foram mal-sucedidas, como no
caso específico da condenação de Santa Joana D´arc, e no caso de Galileu e
etc., o que não afeta em nada a questão da infalibilidade do papa e do
magistério, que versa sobre outras questões. Por isso, o próprio magistério
reconheceu a santidade de Joana D´arc e a canonizou, quando soube do erro do
processo de inquisição local que julgou aquela santa. Assim, não se pode por
razões apresentadas dos erros dos sumos sacerdotes afirmar que o magistério não
pode ser infalível em matéria de doutrina.
E
a pergunta: “E se não o era em Israel,
povo étnico de Deus, por que o seria entre os cristãos?” é um
questionamento bastante compreensível, mas contem erro.
De
fato, nessa pergunta há contraste e distinção entre Israel, povo étnico, e os
cristãos, e deixa transparecer que se no Antigo Israel não houve o carisma da
infalibilidade no seu magistério, também não haveria de existir entre os
cristãos que “nem” são o povo étnico de Deus.
Essa
ideia que é possível ser sentida no texto, e certamente não foi intenção do
autor ensiná-la, é um equívoco. Primeiro, porque a Nova Aliança é eterna é
superior. A antiga aliança foi provisória, imperfeita, não possuía a promessa
da infalibilidade do magistério. Segundo, porque a Nova Aliança foi iniciada
pelos judeus que reconheceram Jesus como Cristo, o Messias prometido, e
converteram-se à fé cristã, sendo aqueles aos quais a Palavra de Deus foi
pregada em primeiro lugar. E, portanto, os primeiros cristãos foram judeus
étnicos e da promessa, e formaram o magistério católico, que é sucedido até os
dias atuais pela sucessão apostólica. Terceiro, a parte endurecida étnica, que
é da promessa, será outra vez enxertada na Oliveira verdadeira, onde já estão
todos unidos na Igreja judeus e gentios, usufruindo da promessa que foi dada a
Israel.
De
fato, a Igreja é o novo Israel, aguardando apenas, por assim dizer, a plenitude
dos judeus e dos gentios. Por tudo isso, corrigido o equívoco, como se o que
não existiu no antigo povo étnico não poderia existir no novo Israel
espiritual, que também contém o étnico, passemos a entender mais o que é
infalibilidade, e fazendo as devidas distinções entre antiga e nova aliança, se
pode conhecer mais a verdade. Eis as razões bíblicas para entender que o
magistério cristão católico é de fato superior ao antigo: mudança de lei,
mudança de aliança, mudança de sacerdócio, mudança de magistério, maior graça.
E,
assim, tudo o que a primeira evidência mostrou foi que a Bíblia é suprema, e
com isso a Igreja Católica concorda plenamente. Não provou nada contra a
tradição apostólica nem contra o magistério eclesiástico que estão sempre em conformidade com a Bíblia. Até os
exemplos dados sugeriram e deram ocasião para apresentar a verdade de que o
magistério católico, por estar no Novo Testamento, deve ser mais robusto. Pelo
que foi dito acima, foi possível entender que as razões católicas são sólidas.
Quando
na segunda evidência é citada a providência de Deus na conservação dos escritos
entre tantos que existiram no Antigo Testamento no Povo de Israel, que iriam
compor a Bíblia, devemos tem em mente que o Povo escolhido foi o meio de
conservar esses escritos. Isso também aconteceu no Novo Testamente, onde a
Igreja Católica teve essa incumbência da onisciente providência divina, e
conservou os escritos inspirados do Antigo Testamento e do Novo Testamento
desde os dias dos apóstolos, passando pela Idade Antiga, a Idade Média.
Embora
tenham havido motivos para fechar a lista dos livros inspirados, isso não
ocorreu no Antigo Testamento, e foi feito pelos judeus, já na Era Cristã, e
pela Igreja, de forma separada. O cânon do Antigo Testamento foi definido nos
mesmos concílios com o cânon do Novo Testamento, o que mostra que foi parte da
providência de Deus para definir toda a questão. E, certamente, Deus guiou os
concílios cristãos referentes ao cânon.
Na
evidência 3 temos que a Bíblia no AT praticamente possui os mesmos conceitos
quando se compara a Torah e os profetas, conceitos esses que foram aplicados,
ampliados, desenvolvidos e explicados.
É
bom lembrar que a tarefa dos concílios católicos também sempre envolve essas
ações, de aplicar os conceitos da Palavra de Deus, de ampliá-los, de fazê-los
conhecer melhor, de desenvolvê-los, de explicá-los, de tal forma a não deixar
dúvidas. Enfim, é praticamente isso que faz a definição de um dogma.
Quando
se reconhece que a Torah em certo
sentido era suficiente, pois as revelações precisavam desenvolver pontos que já
existiam na Torah, é uma ótima ocasião para entender também que nesse sentido a
Bíblia é suficiente na Igreja Católica, pois tudo o que é preciso fazer para
desenvolver certa doutrina e defini-la para o Povo de Deus tem de estar em
conformidade com os conceitos revelados na Bíblia, nunca se desviando dela, com
todos os conceitos de seu conteúdo inteiro. Todos os dogmas católicos estão em
conformidade com a Bíblia.
E
se Jesus ensinou algo que talvez não seja possível encontrar os conceitos na
Torah e nos Profetas? A resposta é que Ele é Deus.
Correto,
Jesus é o Messias e veio revelar tudo o que é necessário para fazer parte da
Sua Igreja.
E,
além disso, essa ideia é importante para entender que a Igreja Católica muitas
vezes traz certas práticas e ensinos que estão menos claros no texto bíblico,
mas ela é a Igreja de Jesus Cristo, que tem autoridade para ensinar e para
exigir obediência. Enfim, tudo o que a Igreja ensina está em conformidade com a
Bíblia. A Igreja não cria doutrinas.
Na
evidência 4 temos que os escritos inspirados do NT tiveram aval e monitoramento
dos apóstolos. Isso é formidável, e parte do plano de Deus para manter intacta
Sua Palavra. De fato, a Providência mantém intacta a revelação escrita, e
também oral.
E
esse fato: “Embora, como no caso do AT em
Israel, algumas comunidades cristãs divergissem um pouco quanto a quais livros
deveriam compor o cânon do NT, a maior parte dos livros era aceita pela maioria
dos cristãos.”. Essa afirmação requer a admissão de que foram os concílios
católicos que definiram o cânon bíblico, pois se apenas um livro está em
discussão geral, a autoridade da Igreja se tornou necessária para definir a
questão. E sabe-se que vários foram objetos de divergências.
Na
evidência 5 o argumento de que não havia Sola
Scriptura durante a vida dos apóstolos, já que não havia Escritura ainda no
Novo Testamento, pelo menos, é tida como argumentação frágil. Mas não é.
De
fato, não há nenhum registro e nem o conceito de que os cristãos usassem do
livre exame para garantir a correção da pregação apostólica. Muito pelo
contrário.
Se
a pregação dos fatos foram sendo julgados pelas Escrituras for a Sola Scriptura, então tudo bem, e isso
não é tão divergente da doutrina católica. De fato, tudo o que a Igreja prega
está em conformidade com a Bíblia, e pode ser verificado nela.
No
entanto, é preciso frisar que não havia espaço para alguém ensinar algo
diferente do que os apóstolos pregavam. Do contrário, seria anátema. Imagine um
cristão afirmando que é necessário circuncidar-se para ser salvo, ainda que os
apóstolos em concílio chegaram à conclusão contrária. Assim, a Igreja pregava
com autoridade, ensinava o evangelho, e todos aderiam conforme a autoridade de
Deus dada à Sua Igreja.
Os
bereanos foram elogiados, mas não eram cristãos. Eram pessoas que ouviram a
pregação e crendo estarem os apóstolos de fato de acordo com as Escrituras, que
prometiam o Messias, abraçaram a fé. A partir dali, se viram sob a autoridade
dos apóstolos para aprenderem o evangelho. Isso é Sola Scriptura somente no sentido harmonioso com a fé católica.
Ninguém julgava a pregação apostólica por pelo livre exame.
Em
outras palavras, quando um católico vai à Bíblia para julgar uma doutrina com
que teve contato, estaria fazendo uso do princípio Sola Scriptura, no sentido católico, já que ele faz interpretação
correta, conformando-se à autoridade eclesiástica, que está em harmonia com a
interpretação oficial. Pode ser que encontrou em algum lugar uma doutrina, e
percebeu pela sua leitura da Bíblia que ela está correta e aceitou seu ensino.
Assim, fez uso do princípio Sola
Scriptura, se essa doutrina de fato está correta e, portanto, é ensinada
pela Igreja.
Se
os bereanos ficaram convencidos de que os apóstolos pregavam o verdadeiro
Messias, por ter ido às Escrituras e se certificado do fato, essa atitude do Sola Scriptura não contradiz a fé
católica.
Somente
se depois os bereanos se pusessem a julgar a pregação apostólica alegando
estarem fazendo comparação do que estava na Bíblia do Antigo Testamento e,
talvez, em algumas partes do Novo Testamento já escritas, e discordassem do
ensino apostólico, então estariam fazendo livre interpretação contra a
autoridade dos apóstolos, o que fere o princípio cristão católico.
De
fato, esse modelo não se encontra em lugar nenhum na Bíblia, nem em toda a
história da Igreja, sendo sempre algo errôneo. É preciso entender isso para
compreender a argumentação católica sobre o assunto.
Na
verdade, aqueles judeus se converteram à fé cristã por reconhecerem Jesus como
Messias. Eles aceitaram a fé cristã e se submeteram ao batismo, à ceia, não
mais creram na circuncisão como meio de salvação, etc., etc., sem questionar
nada mais, pois sabiam que ali estavam os representantes da Nova Aliança.
Partiram das Escrituras e, por isso, foram à autoridade da Igreja e lhes deram
crédito. Por outro lado, isso está conforme o modelo Bíblia, Tradição e
Magistério.
Há
atitudes do modelo Sola Scriptura que
estão conforme a fé católica, enquanto que outras, que estão no entender
católico, e são de fato Sola Scritptura,
refutam as objeções protestantes do Sola
Scriptura protestante.
Ainda,
a Tradição era obviamente recente no primeiro século, mas já começaram algumas
disputas sobre a fé, e essas foram resolvidas pela autoridade dos apóstolos, e
não pela interpretação bíblica de alguém.
Então
a Bíblia está em conformidade com a Tradição e o Magistério. Portanto, não há
como a tradição apostólica ser “avaliada de acordo com a Bíblia” por cristãos
de outras épocas, pois essa tradição vem juntamente com a pregação da Bíblia na vida da Igreja, ininterruptamente
ensinada. Ela é expressa autoritativamente nos concílios.
Também,
a ideia de que os antigos estão mais despreparados do que os intérpretes
atuais, pela evolução das ciências, dos achados arqueológicos, e etc., supõe
que a verdade apostólica foi “perdida”, em algum grau, e que agora muitos estão
mais próximos dela que os doutores do segundo, terceiro e quarto século, por
exemplo. Essa é uma simplificação errônea.
Ainda,
lembrar que o cânon bíblico foi definido séculos após os apóstolos, pela
autoridade católica, e que por isso não se sabia exatamente, durante séculos,
quais eram os livros inspirados com seu número exato. Esse fato é
incontestável.
Assim,
o próprio cânon bíblico, que foi fechado no tempo dos apóstolos, não havendo
mais inspiração para a fé da Igreja após esse período, fechando de forma
virtual a revelação, fechamento esse conhecido de forma exata somente por Deus
naquele momento, foi uma verdade que só foi definida tempos depois, pela
autoridade da Igreja, mostrando um dado da fé apostólica.
Se
alguém procura a decisão do cânon bíblico nos três primeiros séculos não
encontrará, pois ainda havia divergências tais capazes de levar à resolução por
parte da Igreja. Desse modo, o cânon foi conhecido mais tarde, no século quarto,
mas sua origem é apostólica, como toda doutrina definida em concílios. A
doutrina da Igreja, pregada oficialmente, garantia a pureza da fé, estando
sempre em conformidade com a Bíblia, e sempre quando foi necessário abriu-se um
concílio para dirimir questões de fé e moral. Um desses exemplos foi a
definição do cânon da Bíblia.
Gledson Meireles.