quarta-feira, 31 de julho de 2024

Um protestante sobre a unção dos enfermos

O protestante batista prefere não usar o termo sacramento, e não acredita nem mesmo no seu conceito. Mas isso é problemático para o ramo batista.

Assim, o protestante Rafael Pablo afirma no vídeo que a unção dos enfermos é coisa simples.

Muito bem. É simples, mas por que não é qualquer um que pode fazer, e deve-se chamar os presbíteros da Igreja?

Então, não é tão simples. Começo de conversa já refuta a posição do protestante.

Ele diz que não é sacramento.

Na doutrina católica sacramento é sinal sensível da graça. O batista nega isso. Mas vejamos o restante da crítica. Pode-se chamar de outra coisa, mas não se pode negar o que está dito na Bíblia sobre essa ação de ungir com óleo.

Resumindo, com o intuito de estar de acordo com texto bíblico, literalmente, o protestante diz que se há alguém doente, chame os presbíteros, os presbíteros ungirão o enfermo e orarão por ele e somente isso.

E afirma: não tem misticismo. Diante disso, podemos dizer: obviamente, a Igreja afirma que é sacramento, não é misticismo. Reflita.

E mais. Ele diz: não tem transmissão de graça. Pois bem. Chame de outra coisa, mas não negue o que acontece ali, segundo o texto bíblico. Se há cura, foi pelo poder de Deus, pela graça. A graça veio ao doente e esse recuperou a saúde. O que foi que houve então? Chame a transmissão de graça de outra forma.

De fato, como se entende a cura que Deus opera por meio da unção? O doente passa a ser curado, segundo está escrito. Isso não é “transmissão de graça”?

E mais: e o perdão dos pecados? É pela graça que se dá o perdão dos pecados. Não há motivo para discordar. É óbvio que entende-se a necessidade de arrependimento, etc.. Mas o que está sendo ensinado é que naquela unção acontece perdão de pecados.

E agora tudo piora. Ele diz depois: Se Deus quiser vai levantar, se Deus quiser vai curar, se a pessoa se arrependeu dos seus pecados verdadeiramente ele terá os seus pecados perdoados, e afirma que caso contrário não haverá perdão etc.

Tudo isso está suposto no texto, pelo conhecimento que temos da doutrina geral. Não tem problema.

Mas isso não está no texto. Usando a mesma reclamação que o autor afirmou várias vezes na sua crítica.

Ele mesmo que discordou da prática católica de ungir apenas doentes graves.

Mas isso pode ser que a Igreja entendeu como melhor para ser praticado, de acordo com a doutrina geral interpretada nos tempos antigos.

Ele também discordou da explicação do pastor Nicodemus, etc., porque não está explícito no texto.

No entanto, da mesma forma a Igreja Presbiteriana tem esses requisitos por entender geralmente que aquilo seria o melhor meio de se fazer, tendo chegado a isso através de interpretação de outras partes da doutrina geral.

E agora, ele mesmo diz coisas que não estão no texto, como a ideia: a coisa é simples, se Deus quiser curar vai curar, se o doente arrepender vai ser perdoado, e só. Mas essa explicação não está no texto.

Então, a Igreja em sua sabedoria pode ter chegado à conclusão de que deveria fazer certas exigências para a prática da unção dos enfermos, o que explicitamente não está no texto.

E pergunta o protestante: se os enfermos nem sempre se levantam por que sempre os pecados serão perdoados?

A resposta é: a doutrina católica ensina que para haver perdão é necessário arrependimento. Está respondido.

A Igreja não diz que sempre haverá cura. Deus tem seus propósitos. Não diz que sempre haverá perdão. Simples assim.

Então, vamos à seguinte reflexão.

Se o Rafael crê que:

existe unção dos enfermos

que essa unção pode curar

que essa unção pode perdoar pecados

que essa unção deve ser feita pelos presbíteros da igreja

que essa unção está na Bíblia e é ensinada por São Tiago

que essa unção é certamente uma prática ensinada por Jesus, porque foi ensinada no NT

            Se ele crê nisso, está crendo na doutrina católica. É bíblica, é católica, é apostólica, é romana, porque a Igreja inteira a professa nessa unidade com a sede de Roma.

Mas não fique preocupado com os termos. Se crê assim, está de acordo com a doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana.

Se ele crê que:

Os doentes não graves podem receber a unção,

e que deveriam receber a unção,

então é isso que a Igreja Católica faz hoje, no entendimento que ele mesmo viu o papa Francisco ensinar, e que está conforme a doutrina oficial do Concílio Vaticano II.

Se ele que em tudo isso, o restante é pouca coisa: aceitar que o nome mais usado é sacramento, é algo que pode vir com o tempo, mas deve-se aceitar que Deus pode curar e perdoar, e isso Ele o faz pela graça, no momento daquela prática ali aconselhada.

Então, está conforme a fé cristã católica.

Se o Rafael Pablo crê assim, dificilmente está crendo como protestante.

Fonte: vídeo: A Bruna não respondeu... mas a gente desenha. 

Agora, vamos ao texto do padre Júlio Lombarde.

A resposta do jornal batista é um exemplo de como os batistas tradicionalmente entendem essa passagem. Em primeiro lugar, não creem que seja sacramento. Interpretam apenas como anciãos fazendo oração por um enfermo e usando o óleo de forma medicinal.

Esse é um erro de interpretação da Igreja Batista em geral, e está na resposta que o livro traz.

Também é feita uma crítica à ideia de que os presbíteros estejam desempenhando função sacerdotal. A doutrina batista é fortemente contrária a isso.

De fato, alude ao que está no texto, onde os presbíteros ungem e ali pode haver cura e perdão, no contexto onde há confissão de pecados. Então esses presbíteros agem como sacerdotes.

O padre afirma que pastor em vez de dar a resposta vira-se logo contra a fé católica. O protestante entende que o pastor já deu a resposta. Mas, parece que a indignação do padre é porque o pastor usa aquele momento para criticar a doutrina católica. Mas, continuemos.

Há muito no texto que pode deixar perplexo o protestante.

Se há algum doente na igreja, deve-se chamar os sacerdotes (presbíteros). Farão oração pelo doente, ungirão o mesmo com óleo, em Nome do Senhor. Isso é rito religioso e não emprego de óleo medicinal.

E a oração cheia de fé, diz o texto, falando da fé dos sacerdotes, essa oração "salvará o doente", e então "o Senhor o aliviará' e também: "se tiver cometido pecados, ser-lhes-ão perdoados". 

Isso mostra que há aqueles que não cometeram pecados. Essa frase é católica, e nunca protestante. De fato, na distinção entre pecado mortal e venial, há quem não tenham cometido pecado mortal, mas cometeu pecados de alguma forma. O texto então diz respeito há algo mais grave, aos pecados mortais.

Para o protestante, toda ação do não convertido é pecaminosa. Todo pecado é igual perante Deus. Os pecados dos salvos eleitos são perdoados, sejam quais forem, pois não haveria gradação e pecado. Então, dificilmente se poderia ler que alguém não cometesse pecado nessa concepção protestante. 

No entanto, diz a Bíblia: se tiver cometido pecado. Isso leva a crer que há os que não cometeram tais tipos de pecados aí aludidos.

O padre critica o termo ancião, que nega o sacerdócio. Isso é o cerne da questão.

Afirma que se fosse cerimônia exterior não haveria necessidade de chamar alguém, e ainda um idoso apenas. É o que o padre está criticando.

E afirma que a unção não era praticada pelos protestantes.

Então, depois, o padre afirma que estamos diante de uma instituição divina. E isso é verdade, pois se a Bíblia manda chamar os presbíteros para ungir os doentes é porque isso foi instituído por Deus.

Essa instituição é chamada sacramento. Não é qualquer um que pode aplicá-lo, e não é apenas anciãos (idosos) mas presbíteros (homens ordenados para cuidas da igreja, sacerdotes de Cristo, no único sacerdócio de Cristo).

Há óleo e oração.

Há mandamento para chamar os presbíteros para conferir o rito.

Há cura e perdão.

E o padre afirma que essa unção dada na extremidade da vida chama-se extrema unção. Ele está explicando conforme o costume do seu tempo para entender como o sacramento é chamado.

Desse modo, está provado que há unção dos enfermos e que a Igreja Católica é fiel no seu cumprimento.

Em nenhum momento o padre usou argumentos para falar dos requisitos do sacramento etc., mas usou a Bíblia para provar que existe esse sacramento, e o fez muito bem. É irrefutável.

Gledson Meireles.

domingo, 28 de julho de 2024

Os apóstolos Tiago, Simão e Judas

Exegese sobre os apóstolos Tiago, Simão e Judas


Em Mateus 13, 55: Tiago, José, Simão e Judas, e Marcos 6, 3: Tiago, José, Judas e Simão, temos os nomes dos irmãos de Jesus. Simão e Judas mudam de ordem nos dois textos.

Temos os apóstolos em Mateus 10, 1-4: Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.

Marcos 3, 16-19: Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou.

Lucas 6, 14-16: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor.

Temos os nomes Tiago, Tadeu e Simão nas listas dos apóstolos nos evangelhos da seguinte forma:

Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu (Mateus 10)

Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador (Marcos 3)

Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago (Lucas 6)

No evangelho de Mateus temos que Tiago é filho de Alfeu. Esse é seguido por Tadeu. E Simão é chamado de o cananeu.

No evangelho de Marcos sabemos que Simão é também chamado de Zelador.

No evangelho de Lucas, ficamos sabemos que o Tadeu é também chamado de Judas, e que o mesmo é irmão de Tiago.

De fato, os irmãos são próximos nas listas, intermediados apenas por explicações relativas à sua pessoa, como sobre Tiago se diz sempre que é filho de Alfeu e de Simão é dito que é cananeu e zelador. E, como São Lucas foi um pouco mais detalhista, ele afirma que Judas é irmão de Tiago.

Sendo assim, tendo Tiago, Tadeu e Simão (Mateus 10); Tiago, Tadeu e Simão (Marcos 3) e Tiago, Simão e Judas (Lucas 6), percebemos que esses provavelmente são parentes.

Quando é dito que Judas é irmão de Tiago, concluímos que são filhos de Alfeu. Assim, o que está entre os dois, o apóstolo Simão, o Zelador, certamente é irmão de Tiago. Assim, Simão é filho de Alfeu.

Isso é razoável, visto que os apóstolos Pedro, André, Tiago e João são citados de forma semelhante. Vejamos:

Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. (Mateus 10)

Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André (Marcos 3)

Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João (Lucas 6)

Em Mateus sabemos que Simão foi chamado de Pedro e André é seu irmão.

Em Marcos Simão é chamado de Pedro, e André aparece depois, e não há a explicação de que é irmão de Simão. Essa informação já temos em Mateus e também é revelada em Lucas.

A ordem é a seguinte:            Simão, André (Mateus 10)

                                               Simão, Tiago, João, André (Marcos 3)

                                               Simão, André, Tiago, João (Lucas 6)

Se lêssemos somente Marcos não saberíamos que Simão é irmão de André.

Quando aos irmãos Tiago e João, eles aparecem da seguinte forma:

Tiago é chamado filho de Zebedeu, e João, seu irmão, em Mateus 10. Então, concluímos que Tiago e João são irmãos, filhos do mesmo pai. O mesmo ocorre em Marcos 3. No entanto, São Marcos revela que foram chamados de Boanerges, filhos do Trovão.

Em Lucas temos que Tiago e João, sem nenhuma explicação de parentesco. Sabemos isso por meio dos outros evangelhos.

Vemos que a ordem dos irmãos é mais ou menos fixa, e muda quando há alguma explicação intermediária sobre algum apóstolo. Isso é semelhante ao que ocorre com Tiago, Judas e Simão. Esses apóstolos são filhos de Alfeu.

Em Atos 1, 13 a ordem muda um pouco: Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago.

Por essa lista não seria possível identificar Pedro e André como irmãos, nem mesmo Tiago e João, filhos de Zebedeu. Pedro é seguido de João, certamente por sua associação maior após a ressurreição, pois vemos que são citados juntos em Atos 3. Certamente, Tiago juntou-se a André em seu ministério apostólico, e por isso apareceu juntos nessa lista.

Os apóstolos Tiago, Simão e Judas aparecem nessa ordem novamente: Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago.       

O apóstolo Levi é coletor de impostos. Também é chamado filho de Alfeu. Essas informações estão em Marcos 2, 14 e Lucas 5, 27. No evangelho de Mateus sabemos que o publicano é chamado de Mateus. Então, conclui-se que Levi é o apóstolo Mateus. Não há explicação para os dois nomes. A identificação é dada por se tratar de um dos doze apóstolos e de ser ele o publicano. Isso mostra que os evangelistas não estão preocupados em explicar cada detalhe.

Assim, Levi-Mateus é filho de Alfeu. Não sabemos se é o mesmo Alfe pais de Tiago, Judas-Tadeu e Simão. Mas, não é improvável. De fato, as listas mostram a seguinte ordem quando se fala de Mateus:

Tomé, Mateus, Tiago, Tadeu, Simão (Mateus 10)

Mateus, Tomé, Tiago, Tadeu, Simão, (Marcos 3)

Mateus, Tomé, Tiago, Simão, Judas (Lucas 6)

Vemos que Mateus aproxima-se dos outros apóstolos que são filhos de Alfeu. E o apóstolo Tomé é citado próximo, mas não há mais informações que o ligue aos demais por laços de parentesco. Se apenas a proximidade de citação for levada em conta, todos se tornam parentes, e não é isso somente o que está sendo considerado aqui. Em Atos, o apóstolo Mateus é seguido por Tiago, Simão e Judas.

Tiago, Tadeu, Simão (Mt)

Tiago, Tadeu, Simão (Mc)

Tiago, Simão, Judas (Lc)

Tiago, Simão Judas (At)

Essa é a ordem que se assemelha a Mateus 13, 55 e Marcos 6, 33:

Tiago, José, Simão, Judas (Mt)

Tiago, José, Judas, Simão (Mc)

Pode-se por essas listas notar que José não é apóstolo.

Nos evangelhos podemos saber mais sobre esses apóstolos.

Marcos 15, 40: Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, que o tinham seguido e o haviam assistido....

Mateus 27, 56: Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. Essas mulheres olhavam de longe. Elas haviam seguido Jesus para o servir (v. 55). São as citadas em Marcos 15, 40, que observavam de longe.

João 19, 25: Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.

            Assim, a ordem das mulheres na lista é:

Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e de José e Salomé (Mc)

Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José, e a mãe dos filhos de Zebedeu (Mt)

A mãe de Jesus, a irmã dela chamada Maria, e Maria Madalena (Jo)

Por essas informações, temos que as mulheres ficaram de longe, mas em algum momento elas se aproximaram da cruz, pois São João afirma que estavam aos pés da cruz com a mãe de Jesus.

Desse modo, Maria, mãe de Jesus estava junto à cruz, e outras mulheres estavam observando de longe. Essas, como citadas acima, eram: Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé. Também sabemos que Salomé é a mulher de Zebedeu, e que é mãe dos apóstolos Tiago e João, os filhos de Zebedeu citados nas listas dos apóstolos.

Elas eram da Galileia, serviam Jesus, e ficaram olhando de longe a crucificação, mas em algum momento foram para perto da cruz, onde estava Maria

Então, sabemos que a Maria, mãe de Tiago e de José, que estava longe com as outras mulheres, é irmã de Maria. Sendo irmã um termo usado no hebraico para parentes, primos, essa Maria é parente da mãe de Jesus. Também sabemos que ela é mulher de Cléofas. Não há explicação para o nome Cléofas, mas pela identificação feita anteriormente, pode-se afirmar que se trata de Alfeu, pai de Tiago e Simão e José, como observamos pelas informações do texto sagrado.

No dia da ressurreição, foram ao sepulcro algumas mulheres. São Mateus revela que foram Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo (Mt 28, 1).

Em Marcos está escrito: Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus.

Assim, sabemos que a outra Maria que acompanhava Maria Madalena é a mãe de Tiago. Esse Tiago é o irmão de José, e de Judas, e de Simão, como vimos, que são filhos de Alfeu. Essa Maria é mulher de Cléofas. Ou ficara viúva e casou-se com outro homem chamado Cléofas, ou esse é o mesmo Alfeu. De fato, os evangelhos não explicam os nomes diferentes para a mesma pessoa, como ocorre com Levi Mateus, Judas Tadeu, que sabemos por exegese. Certamente, Afleu é também chamado Cleófas, e o sabemos por meio de seus filhos e a mãe deles.

Em Lucas 24, 10 são citados os nomes das mulheres que foram ao túmulo: Eram elas Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago; as outras suas amigas relatarem aos apóstolos a mesma coisa. Aqui aparece Joana, não citada antes, e outras amigas suas.

Temos que a outra Maria, que frequentemente estava com Maria Madalena, é mãe de Tiago e de José, é irmã da mãe de Jesus, e mulher de Cléofas. Sabendo que Tiago e José são irmãos, e que Judas é irmão de Tiago, e que certamente também o é Simão, temos que: Tiago, José e Judas são filhos de Alfeu e Maria.

Então, Tiago, José, Judas e Simão são filhos de Alfeu e Maria, irmã da mãe de Jesus. Essa Maria é chamada de Cléofas. Então pode-se concluir que esses são dois nomes para a mesma pessoa.

Desse modo, como vimos que Maria é irmã da mãe de Jesus, entende-se o motivo de seus filhos serem chamados de irmãos de Jesus.

Outra observação que deve ser repetida é sobre Tiago, Judas e Simão, que são apóstolos.

Assim, São Paulo chamou Tiago de apóstolos em Gálatas 1, 19. Esse não pode ser apenas um nome dado a outros fora dos doze, como acontece com Barnabé, pois essa ida de São Paulo a Jerusalém foi no início de seu ministério, e ele menciona os outros apóstolos, entendendo os demais além de Pedro, e afirma que não viu nenhum outro a não ser Tiago, identificando-o como irmão do Senhor. Isso está conforme o que foi verificado acima, pois esse Tiago de Maria, irmã da mãe de Jesus, mulher de Cléofas Alfeu, é parente de Jesus. Então, em Judas 1, 1 temos a confirmação de que Judas é irmão de Tiago, e são apóstolos.

É digno de nota que Maria mãe de Jesus era a única que estava ao pé da cruz desde o início, e é a única que não foi ao túmulo no dia da ressurreição.

Gledson Meireles.

Livro de Uriah Smith: sobre a interpretação adventista de Apocalipse 20

Apocalipse 20 – A primeira e a segunda ressurreições


Na interpretação adventista o capítulo 20 é um acontecimento ligado ao capítulo 19 em sequência cronológica. Isso também está em O Grande Conflito, escrito por Ellen White. Essa interpretação identifica o anjo, a chave e a corrente, o abismo e a prisão de Satanás. Convido o leitor adventista a conhecer um pouco da interpretação católica sobre mais esse capítulo do santo livro do Apocalipse.

            Tendo o dia da expiação e seus elementos como antítipos do que há revelado em Apocalipse 20, Satanás é identificado como aquele bode emissário. Tradicionalmente tem-se interpretado o bode como Cristo. Um bode morre pela expiação e o outro é levado ao deserto. Isso mostraria o pecado perdoado e levado para longe. Também significa o pecador sendo banido. Pode-se dizer que em última análise pode ser Satanás sendo castigado.

            A interpretação é bastante engenhosa, interessante, cheia de pormenores. Apenas um problema parece ser importante até aqui, que é o significado de abismo. Esse é entendido como a terra, mas no Apocalipse, em todo o contexto, ele é tido como lugar onde há espíritos que fica abaixo terra. Esse é um dos problemas dessa interpretação.

            Em Apocalipse 9, 1-2 o abismo é lugar de maus espíritos, e em Romanos 10, 7 é o lugar onde estão os mortos. Dessa forma, é difícil sustentar que abismo aí significa terra. A Igreja Adventista o faz por meio de uma análise do termo abismo, comparando com o que está em Gênesis 1, 2, lembrando a terra em estado de caos, na criação. Porém, o contexto geral é que Satanás está agindo na terra e é acorrentado e lançado no abismo, diferenciando a terra do abismo. E isso é feito no contexto imediato. A interpretação adventista perde esse pormenor.

            Também, o dia da vinda de Cristo trará vários acontecimentos: a ressurreição dos mortos, a separação de ovelhas e cabritos, o juízo, a entrada dos bons no reino dos céus, o lançamento dos maus no inferno (cf. Mateus 25), a criação dos novos céus  e nova terra (cf. 2 Pedro 3). Desse modo, os acontecimentos de Apocalipse 20 não são continuação do que é descrito no final de Apocalipse 19, mas uma recapitulação, levando-nos novamente a olhar para o início da vinda de Cristo até a Sua vinda, com mais detalhes. Essa parte, sendo admitida, refuta a interpretação adventista.

Assim, o ministério de Cristo e Sua vitória sobre a morte é o momento em que Satanás é preso. Isso nos leva ao fim da história, quando é mostrado o trono branco, a ressurreição, o desaparecimento do céu e da terra, e o julgamento dos mortos. Essa revelação lembra a do capítulo 14, onde o juízo é descrito e, ao final, o apóstolo tem outra visão, dos sete anjos com os sete últimos flagelos no capítulo 15.

Interpretando cronologicamente o juízo seria seguido dos flagelos, mas não é em sentido cronológico que a visão está sendo mostrada, pois ela volta a descrever pormenorizadamente o que ocorre antes do juízo. Essa ordem cronológica entra em choque com a interpretação adventista.

Haveria uma ressurreição, a dos salvos e de alguns ímpios, e depois uma batalha dos salvos contra os ímpios, onde Cristo batalharia contra Satanás. Essa seria outra ressurreição, a dos ímpios, e somente assim, depois de vários acontecimentos, viriam os novos céus e nova terra. O ensino da ressurreição dos ímpios para a batalha, que os destrói, não explica o seu comparecimento diante do Trono Branco imediatamente após a ressurreição.

            Portanto, essa interpretação escatológica não está de acordo com a doutrina do evangelho. É mais um dos equívocos do adventismo. Se o leitor prestar mais atenção, verá que não se trata apenas de harmonizar aquela interpretação do antítipo feita em relação do Dia da Expiação, que é algo válido, mas que é entendida de outra forma, mas também com esses dois pontos citados acima, que não se harmonizam com a doutrina pregada por Jesus, onde há apenas uma ressurreição, que é geral, que é feita no dia do juízo final. Desse modo, para resolver esses problemas há que corrigir certas doutrinas.

            A chave e a corrente são interpretadas corretamente, como símbolos de poder e autoridade conferidos ao anjo.

            O abismo é interpretado como deserto em Apocalipse 9, 1-2 e sepultura em Romanos 10, 7. Mas o adventismo, incluindo Ellen White, entende que o abismo é o mesmo descrito em Gênesis 1, 2, e significaria a terra.

No entanto, biblicamente o abismo é o mesmo que está em Lucas 8, 31, é o lugar para onde são mandados os demônios. Se trata de um lugar para onde eles não querem ir. Desse modo, o abismo de Lucas 8, 31 é esse mesmo lugar espiritual que Satanás foi trancafiado em Apocalipse 20.

Assim, não se trata de algo futuro, na vinda de Jesus, mas passado, realizado quando Cristo veio e morreu na cruz e ressuscitou, e descrevendo o presente. De certo modo, Satanás está preso, em circunstâncias diferentes, em comparação com o tempo anterior à vinda de Cristo, quando o mesmo estava solto e podia tomar posse das pessoas, governando o mundo, quando o Espírito Santo não havia descido à terra. Ele pode investir esforços contra a Igreja e etc., enganar a muitos, mas não enganar as nações, com antes, não podendo reuni-las para a guerra contra Deus.

Outro ponto que não parece se adequar bem à descrição do evento, é que Satanás ficaria no mesmo lugar onde está, que é a terra. As circunstâncias mudariam, os salvos seriam tirados e iriam para o céu, os ímpios não existiriam, estando mortos, que para o mortalismo estariam em estado de sono, entendido como inexistência. Então, Satanás que está na terra continuaria na terra, mas agora preso circunstancialmente, pois não teria pessoas para tentar.

Mas, o texto afirma que um anjo desce do céu com a chave do abismo, não podendo ser chave da terra, mas chave de uma prisão, e prende Satanás e o lança no abismo para não enganar as nações.

Isso significa que, contextualmente, Satanás sofre uma pena. Além disso, há nações na terra que poderiam ser enganadas por ele. A terra não está vazia. Isso é o que o contexto sugere e que está contra a interpretação da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Nessa interpretação Satanás fica preso porque não há ninguém que possa enganar, sendo uma cena bastante diversa daquela sugerida pelo Apocalipse.

A ideia da terra desolada é tirada de Isaías 24, 1. No entanto, a ideia da devastação da terra, que está em Isaías 24, não é o que ensina a doutrina adventista. Essa destruição é descrita de forma hiperbólica, de modo que é dito que o Senhor torna a terra deserta. Porém, o verso 6 é claro ao mostrar que um pequeno número de homens sobrevive. Então, no capítulo geral não há ideia de que esses versos cumpram o que está na interpretação da IASD.

Caso o uso dessas passagens fosse idêntico ao que os escritores católicos sempre fizeram ao aplicar com liberdade certas passagens da Bíblia a determinados eventos e pessoas, tal uso é plausível, útil, bastante proveitoso. No entanto, o contexto geral do livro não seria uma forte refutação, pois há passagens bíblicas, como o Salmo 69, que é messiânico, mas que não significa que todos os seus versículos sejam aplicados a Cristo. Assim, Isaías 64, 1 poderia fornecer base para o entendimento de que a terra ficaria por um tempo vazia e desolada.

Contudo, essa leitura não é encontrada na escatologia dos evangelhos em nenhum lugar, e muitos detalhes da doutrina adventista colidem com a doutrina católica aqui apresentada. O leitor tem o privilégio de ver as duas leituras comparadas e perceber os argumentos que estabelecem a fé católica.

Também, Jesus afirmou que os mortos ressuscitarão em um só dia, todos eles (cf. João 5, 28-29). A outra ressurreição que Jesus alude no mesmo capítulo é espiritual (v. 25), por isso Jesus afirma que essa ocorre agora. Essa é a realidade de Apocalipse 20, onde uma ressurreição é espiritual e a outra é física, mas futura, no juízo final.

A respeito do aprisionamento de Satanás, esse foi feito por Jesus, que acorrentou o homem forte. Isso se deu por meio do anjo, em Apocalipse 20. No momento presente, que é o milênio espiritual, Satanás está restrito, preso, e não pode livremente enganar as nações. Suas ações são limitadas. Estamos nos 1000 anos. Esse é o tempo em que a Igreja está reinando com Cristo nos céus, conforme Efésios 2,6, que afirma que estamos assentados com Cristo nos céus. Isso ocorre espiritualmente. As almas dos santos reinam com Cristo, na glória, e a Igreja é espiritualmente considerada estando nos céus nesse reinado, pela graça.

Ao mesmo tempo, a Igreja está vivendo os 1260 dias, em uma circunstância literal, na terra. Os 1000 anos referem-se ao período de reinado pela graça. Os 1260 significam um curto período de perseguição. Esse de fato é o tempo em que a Igreja sofre perseguição na terra.

Dessa forma, Satanás está atualmente limitado em seu poder, o que explica o sentido de sua prisão. A interpretação adventista não cabe, visto que em Lucas 8, 31, onde se fala claramente do abismo para onde os espíritos são lançados, esse mesmo texto distingue abismo e terra, assim como está no Apocalipse. Então, temos que o abismo no Apocalipse é diferente daquele explicado pelo adventismo, e a escatologia também é diversa daquela ensinada por Jesus e pelos apóstolos.

Satanás será solto pouco antes da vinda de Jesus, para enganar as nações e preparar o Armagedon. Esse será o tempo do Anticristo. Assim, a escatologia católica faz todo o sentido em cada detalhe principal.

A exaltação dos santos. Para os adventistas os santos que reinam com Cristo julgarão os mortos ímpios, e isso ocorreria apenas futuramente, e os mortos ímpios não existiriam nesse momento.

No entanto, temos que desde o início da Igreja os mártires estão aqui em Ap 20, 4 representados como reinando espiritualmente com Jesus (cf. Efésios 2, 6). As almas no céu e a Igreja espiritualmente com Cristo também nos céus.

A doutrina das duas ressurreições não significa que haverá duas ressurreições físicas. A primeira é espiritual, no batismo, na conversão, e a segunda é física. A primeira ocorre no milênio e a segunda após o milênio. O milênio é presente, desde a ascensão de Jesus até sua vinda, ou pouco antes da Sua vinda, quando Satanás será solto.

Todos ressuscitam no mesmo dia. Os mortos ressuscitam após o milênio, ou seja, no dia da vinda de Cristo. Essa é a ressurreição de salvos e ímpios. Para os adventistas somente os ímpios ressuscitam nesse tempo, mas não é essa a doutrina que está em todas as passagens bíblicas literais que tratam do assunto. O Apocalipse refere-se a isso em termos figurados, afirmando duas ressurreições, com Cristo fez em João 5, onde apenas uma ressureição é física.

É verdade que ao fim do milênio a Jerusalém celestial desce à terra. No entanto, entende-se no adventismo que a Igreja descerá à terra e os ímpios ressurretos estarão prontos para a batalha. Na perspectiva católica quando a Jerusalém descer não haverá mais ímpios na terra, pois Jesus terá dito: ide para o fogo eterno.

É interessante, mas não há essa cena descrita de uma guerra entre ressuscitados salvos e ímpios. O fogo que desce do céu e mata os ímpios acontece na vinda de Cristo, matando aqueles ímpios vivos, antes da ressurreição. Se assim fosse o castigo dos ímpios, dificilmente se pode entender aí um castigo proporcional ao pecado de cada um, pois o evento expressa claramente algo instantâneo.

É também difícil entender que a Jerusalém celeste desce ao mundo ainda não transformado, já que se diz que os ímpios são devorados pelo fogo, e acontece o que está em 2 Pedro 3, 7.10.

O texto sagrado afirma que o fogo que transformará a terra e perderá os ímpios virá no dia do juízo. Dessa forma, não se pode entender que a Jerusalém do céu desce à terra não transformada antes desse dia.

E o versículo 10 afirma que nesse dia o Senhor virá como ladrão, ou seja, repentinamente, e está no contexto onde os salvos esperam o Senhor: o Senhor não retarda o cumprimento de sua promessa (v. 9). A Igreja está à espera do que acontecerá, e que está descrito em 2 Pedro 3, 8-10. Essa cena não se adequa à escatologia da IASD.

Algumas interpretações são citadas por Smith. Uma é que a terra é transformada na vinda de Cristo, para que os salvos vivam durante o milênio. Outra é que Cristo descerá e governará na Palestina para conquistar as nações, também no milênio.

Mas a IASD refuta tal ideia, afirmando que os ímpios não podem pisar na terra renovada, e chama isso de ideias absurdas. O segundo ponto é que Cristo estaria governando a terra por mil anos e, ao final, haveria guerra contra os que se apropriam dela fazendo os santos perderem território, o que é absurdo. Então, a interpretação melhor do adventismo é apresentada. Essa mesma está sendo estudada neste comentário.

Mil anos no céu. Para os adventistas os santos habitarão ressuscitados no céu durante o milênio em que a terra estará desolada. Mas, tal visão não se harmoniza com o que foi mostrado acima, pois a Igreja aguarda a vinda de Jesus repentina para julgar e renovar a terra.

Quando a Jerusalém desce à terra, essa já está renovada. Assim, não há ímpios que possam pisá-la, e também não há guerra contra Cristo ressuscitado, que é o Juiz, agindo em glória, nem contra os santos ressurretos, que estão com Cristo. A guerra do Armagedon ocorre antes, na vinda de Jesus. A Jerusalém desce à terra depois.

É certo que o juízo dos ímpios ocorre antes da renovação do mundo. No entanto, a Jerusalém celestial não está na terra antes disso. E o fogo transformador da terra e dos céus não é o mesmo que o castigo dos ímpios, pelo fato de que há necessidade de que cada um receba o castigo proporcional, o que não é implicado nessa leitura.

Quem é alvo do tormento. Para quem não crê no inferno eterno, essa passagem é problemática. Talvez por isso tenha surgido a ideia de que somente o diabo será atormentado dia e noite, enquanto os ímpios seriam aniquilados. Mas o próprio autor adventista nota que a Bíblia afirma no plural “serão atormentados” e não no singular.

Entretanto, a interpretação adventista traz outro problema ao afirmar que a besta e o falso profeta foram destruídos no início do milênio, trazendo um juízo na vinda de Cristo contra os ímpios e outro juízo em outra vinda contra outros ímpios. Essa cena não é parte dos evangelhos. Afirma que há um juízo assim em Ap 19, 20 e outro em Apo 20, 10, enquanto que para os católicos esse é o mesmo momento. O mesmo momento é descrito em Ap 18, 8; Ml 4, 1; Mt 25, 41.

No juízo do grande trono branco a terra e o céu fogem. Como dizer que a Jerusalém celeste está na terra nesse momento? É um absurdo. Afirma-se que a cidade terá seus alicerces se estendendo por baixo da terra, e assim não será atingida. Essa é uma boa explicação, mas não é bíblica, segundo o que mostra o Apocalipse e a doutrina geral do Novo Testamento. É uma forma de explicar como a Jerusalém está na terra em chamas.

Interessante interpretação dos justos saindo e vendo os ímpios mortos, em Isaías 66, 24. No entanto, a cena da descida da noiva, a nova Jerusalém, é seguida de maravilhas que não mostram nenhum juízo e transformação da terra ocorrendo. Se essa é a cena aludida em Isaías 33, 14, onde os santos na Jerusalém estariam sobre “chamas eternas”, é difícil harmonizar tal cena com a eternidade desse fogo. O autor adventista afirma: e é nesse momento que esse versículo se cumprirá.

No entanto, esse texto parece se dirigir aos ímpios, que serão atormentados pelo fogo. De fato, no verso 6 é dito que o salvo habitará nas alturas, e de lá verá Jerusalém. O versículo 20 ensina: teus olhos verão Jerusalém. Nesse contexto, o Senhor reina no alto (v. 5). Então, o contexto não indica que o justo poderá permanecer nesse fogo. Assim, ainda que deslocado o texto, interpretado como se cumprindo com o justo, a ideia geral não se harmoniza com a escatologia bíblica.

O argumento que diz que as chamas do inferno são iguais em todas as partes e afetará todas as almas igualmente é o mesmo que está no castigo proporcional dos ímpios pelo fogo abrasador que desce dos céus para consumi-los. Se o leitor adventista entende que há proporção do castigo aí, então entende também que há no inferno.

Resta explicar quanto tempo durará para a transformação do universo e castigo dos ímpios, de modo que após isso ainda restará cadáveres na terra, que serão vistos pelos salvos que saírem da cidade. É outra cena não vista em Apocalipse 21.

Ficarão os salvos aguardando a renovação da terra e aniquilamento dos ímpios na nova Jerusalém? Os ímpios mortos serão vistos pelos salvos na terra já renovada? Se não, depois disso o fogo novamente queimará e renovará a terra? Essas são algmas dificuldades que surgem. Esse relato não está em parte alguma da Bíblia, mas é obtido pela IASD através da compreensão dos versículos citados acima. O problema é que não está conforme a descrição geral dos eventos feitos em todo o Novo Testamento. Por isso, não se trata de uma crítica à exegese que extrai princípios para formular a doutrina, mas de uma inadequada realidade que se formou diante da doutrina escatológica geral.

O livro da vida. De fato, é uma dificuldade explicar o motivo do livro da vida ser aberto no juízo onde estariam somente os ímpios. Nenhum nome seria encontrado. É a primeira dificuldade. A melhor explicação, ao que parece um pouco forçada, é que para que se possa ver que nenhum dos nomes dentre toda a multidão que sofrerá a segunda morte se encontra no livro da vida e por que eles não se encontram ali. O juízo teria o intuito de mostrar que os nomes não estariam no livro e o motivo de cada um ser julgado réprobo.

De fato, isso ocorrerá no juízo final. No entanto, todos estarão ali, salvos e ímpios, quando Cristo tiver separado ovelhas de cabritos. Então, o livro da vida será aberto e todos serão julgados. Por isso o verso 15 diz: E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.

Essa cena implica que há aqueles que estão inscritos no livro da vida e outros que não naquele momento. Não faria sentido abrir o livro para um juízo que se sabe conter pessoas que não estão nele.

A morte o inferno foram lançados no lago de fogo. Aqui a morte é tida como personificação do poder da morte. O lago de fogo é o lugar do suplico, da destruição. A morte sendo ali lançada significa que não atingirá mais o ser humano. O inferno é o hades, o lugar dos mortos, ligado ao poder da morte. É como afirmar que esse lugar tenebroso da morte foi destruído no lago. É claro que a morte o hades não podem queimar, sofrer, pagar pecados. Então, o lago de fogo é o lugar da pena eterna.

A ideia de que ímpios ressurretos atacam a Nova Jerusalém inclui a ideia de que eles são julgados diante do trono e depois vão para a guerra, o que é absurdo. Ou poderiam ressuscitar e pelejar contra os santos e depois serem julgados. No entanto, o fogo que os atinge viria após essa guerra, o que excluiria o momento do juízo. Não há como harmonizar-se com o que ensina do livro do Apocalipse.

Os cristãos adventistas precisam rever suas posições quanto à imortalidade da alma, que é a doutrina bíblica, e o método historicista de interpretação do Apocalipse, que é aqui estudado e que não é superior à interpretação católica.


Gledson Meireles.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Refutando argumentos protestantes sobre Mateus 1, 25

 

Jesus deixará de reinar? Argumento do “até que”, em 1 Coríntios 15, 25.


O protestante Rafael afirma que haverá alteração no estado das coisas, e por isso Cristo deixará de reinar.

Mas, o argumento ainda permanece de pé. O reino de Cristo é eterno, e mesmo quando Ele entregar o reino ao Pai ele reinará com o Pai para sempre. Ou seja, Cristo reina de uma forma e de outra. Ele reina até que Seus inimigos sejam colocados debaixo de Seus pés, e depois reina com o Pai. Houve alteração das coisas, mas Jesus reina sempre. É essa a força do argumento.

De fato, São Paulo não está tratando do futuro, mas enfatizando que até que todos os inimigos sejam subjugado, Cristo deve reinar. E não é o objetivo explicar que haverá alteração, ou forma de reinar, mas apenas enfatizar esse presente reinado de Cristo. Eis outra força do argumento.

Após isso, vamos a 1 Timóteo 4, 13: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.

O apologista protestante afirma que explicará o óbvio do óbvio. Há diferença entre 1 Tm 4, 13 e Mt 1, 25, que até uma criança  de 7 anos da EBD sabe explicar.

A explicação é que em 1 Tm 4, 13 se trata de instruções de coisas futuras, ou seja, é uma exortação que não significa que mesmo após a chegada de São Paulo, Timóteo deverá continuar a ler, exortar e ensinar. Ou seja, é o mesmo que o argumento católico está ensinando: o até que aqui não indica nenhuma mudança de coisas.

Então, o protestante admite que há contexto em que até que não indica nenhuma alteração.

Mas, em Mateus 1, 25 afirma sobre coisas passadas, e assim o evangelista estaria falando do que havia ocorrido antes e depois, sabendo da mudança. Será? Qual o assunto em questão? Ele estava falando que antes José não a conheceu, mas depois sim? É óbvio que não. O assunto não é esse. O evangelista não quis indicar que houve um tempo em que José não conheceu, mas que conheceu depois, mas apenas indicar que não houve nenhum envolvimento humano na concepção de Jesus. Não trata de outra questão.

Se a Bíblia se preocupa em mostrar que José não conheceu Maria nem mesmo durante a gravidez, é um argumento a mais a favor da virgindade dela, que serve para destruir a argumentação da mente caída e impregnada pelo pecado, e que deve ser, quanto mais nessas questões espirituais, iluminada pela fé na Palavra de Deus.

Assim, a virgindade de Maria é mais um argumento a favor da concepção virginal de Jesus, já que ela concebeu virgem, teve toda a geração de Jesus em seu ventre enquanto virgem, e assim continuou virgem, de modo que as gerações posteriores não tivessem a mínima dúvida da concepção virginal de Jesus.

Quanto à explicação de que Maria disse que até aquele momento ela não tinha tido relação sexual é outra tentativa de fracassada de tentar explicar a pergunta de Maria ao anjo: como se dará isso se não conheço homem? Ou seja, para essa explicação protestante ela apenas disse: como ficarei grávida se até agora não tive relação sexual? Isso mostra o quão desesperado é tentar explicar essa passagem.

A virgem Maria estava noiva, e logo iria casar-se. Assim, não é razoável dizer “até agora não conheci homem, como vou ficar grávida”, porque o anjo afirma que a concepção é futura, e futuramente a virgem Maria sabia como iria acontecer naturalmente uma concepção (vídeo).

Gledson Meireles.

Ellen White e a Tradição: a autoridade de Ellen Gould White para os adventistas

 

Ellen White e a Tradição

 

Comentário feito ao

Livro: Conselhos de Ellen White sobre Sola Scriptura: o que a mensageira adventista realmente disse sobre o tema. Autor: Davi Caldas, 2021:

 

Para o cristão adventista que deseja conhecer mais

sobre a Igreja Católica Apostólica Romana

 

 

Introdução

 

O presente estudo de partes do livro Conselhos de Ellen White sobre Sola Scriptura visa entender mais a doutrina adventista e ao mesmo tempo apresentar a doutrina católica.

O leitor entenderá melhor o que é a Tradição Apostólica por meio das apresentações do papel de Ellen White na Igreja Adventista do Sétimo Dia – IASD, e verá que, ao que parece, a profetisa adventista toma o lugar da tradição apostólica para a Igreja Adventista. Também verá que aquilo que é dito na doutrina adventista sobre a Igreja Católica não pode ser sustentado pela Bíblia.

Ainda, verá que a tradição adventista é moldada pela autoridade de Ellen White, de modo que aqui se faz a comparação entre a Tradição como é entendida na Igreja Católica e Ellen White conforme seu lugar na doutrina adventista do sétimo dia.

Aprenderá também que o princípio Sola Scriptura é incompleto e que a doutrina da infalibilidade do magistério da Igreja é bíblica.

A doutrina da santa Igreja Católica Apostólica Romana está fundamentada na Bíblia Sagrada e na Sagrada Tradição Apostólica. A Sagrada da Tradição Apostólica comporta os ensinamentos de Jesus Cristo e dos apóstolos, durante o período do ano 30 d. C. a aproximadamente 100 d. C. Então, a revelação foi fechada e nada mais foi revelado sobre questões de fé e moral para que sejam cridas por toda a Igreja.

Esses ensinos foram transmitidos oralmente pelos discípulos, os primeiros cristãos, e depois foram sendo ensinados a outros, e praticados pela Igreja, de modo que seu conteúdo está nas artes, na liturgia, nos escritos dos santos padres, nos cantos, nas celebrações, nos concílios, nas encíclicas e bulas papais e etc. Esse modo de transmissão não foi dado por meio de escritos inspirados, mas foi infalivelmente guardado pela ação do Espírito Santo na Igreja, que não permite que o erro, a heresia, invada o sagrado depósito.

Mas, eis que o Protestantismo ensina que a Bíblia somente é a regra infalível de fé, e que a tradição é importante, mas falível. Ainda, afirma que tudo o que era necessário para ser escrito e reger a fé e a prática dos cristãos está na Bíblia, de modo que a tradição sempre deverá ser testada por meio do exame da Bíblia.

Desse modo, tudo deve ter “base bíblica”. Contudo, devemos notar que a base bíblica pode existir em mais de um sentido. Ou seja, pode ser expressa claramente, em passagens explícitas sobre determinada doutrina, ou pode trazer a base tacitamente, de modo que haja apenas indicações. Ou também podem os princípios bíblicos levarem a formular o entendimento que fundamenta certa doutrina. Dessa forma, a doutrina terá base bíblica.

O livro ensina também, conforme o princípio Sola Scriptura, que a Bíblia interpreta a si mesma. No entanto, quando se diz que “qualquer leigo dotado de regras básicas de interpretação pode entender o que a Escritura diz, sem a necessidade de um clero com autoridade interpretativa exclusiva”, deve-se lembrar que todos, ainda assim, podem errar em determinado momento ao ler a Bíblia e não entender o que a mesma diz, mas entender o que seu próprio pensamento formulou sobre a leitura e interpretação que fez.

Além do mais, não deve esquecer que o clero católico crê firmemente a doutrina bíblica que a Igreja não pode cair em erro, não pode ser derrotada pelas investidas do inferno, e que Cristo está com ela todos os dias até a consumação dos séculos. Dessa forma, o clero, na pessoa do papa e dos bispos em comunhão com ele, possui o carisma da infalibilidade, que não é dado a ninguém mais.

Portanto, diante de tudo isso, se a tradição não é norma de fé e prática para a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), como não o é para todo o Protestantismo, há uma esfera do ensino adventista que serve como a tradição para o Catolicismo. Esse lugar é a pessoa da mensageira Ellen Gould White.

Assim como qualquer doutrina da tradição não pode ser mudada no Catolicismo, qualquer doutrina que foi confirmada por Ellen White é irreformável no Adventismo. Desse modo, Ellen White tem o papel de tradição sagrada para o fiel adventista.

Como está na citação do preâmbulo da declaração de fé adventista, a Bíblia é o único credo, e as crenças fundamentais que são tidas como ensinos da Escrituras são o modo que a Igreja Adventista do Sétimo Dia as compreendeu e as expressou, podendo ser feitas “revisões destas declarações em Assembleia da Associação Geral”, por entender que o Espírito Santo levou a Igreja a um entendimento mais claro do assunto, ou mesmo encontrou uma linguagem melhor de ensinar a doutrina.

Essas palavras mostram que o estudo da Bíblia está sendo colocado em primeiro lugar, e mesmo as crenças já ensinadas pela Igreja Adventista por ser revisadas. Dessa forma, a tradição pode ser testada pelo ensino das Escrituras Sagradas.

Contudo, a autoridade de Ellen White supre essa lacuna para o adventista, que necessita de outra autoridade “infalível” para as questões de fé e prática. De fato, uma doutrina já confirmada por Ellen White, como a santidade do sábado do sétimo dia, não tem como ser deixada por meio de estudos bíblicos e novas luzes do Espírito. É um dogma adventista.

Dessa forma, assim como uma doutrina que já está definida na tradição apostólica, também uma doutrina ensinada por Ellen White é irreformável para o cristão adventista. Isso acontece porque é entendido que a doutrina foi encontrada na Bíblia Sagrada após estudos profundos, e só mais tarde confirmada pelo Espírito de profecia através da profetisa Ellen White, levando a crer que aquela conclusão dos estudos bíblicos está correta e tornando a mesma parte indiscutível do credo adventista, continuando assim de pé o princípio Sola Scriptura, já que a doutrina é entendida como tendo base bíblica.

Para o católico, a questão do sábado do sétimo dia é clara, e está na tradição apostólica, que foi ensino de Cristo e dos apóstolos. A prática e os princípios mostram ser o dia de domingo o novo sábado para o cristão.

Aliás, é bastante interessante que o cânon bíblico e a guarda do domingo são duas informações que ninguém pode encontrar claramente na Bíblia. É óbvio que dirão que o cânon pode ser encontrado no próprio cânon. Mas isso em nada muda o fato histórico de que o cânon foi reconhecido após muitas controvérsias, através de concílios. A guarda do domingo foi mais pacífica e bem antes do fechamento do cânon há muita informação de que os primeiros cristãos guardavam o primeiro dia da semana.

Sendo isso confirmado no consenso dos primeiros cristãos, nas obras dos santos padres e nos sínodos e concílios da Igreja, entende-se claramente que é fé apostólica que o sábado do sétimo dia foi ab-rogado e o dia de domingo é o dia santificado para os cristãos. Isso é dogma de fé católica.

Desse modo, há de se ter na Bíblia, que é o texto inspirado, uma forma de resolver a questão: está correta a tradição apostólica nesses quase dois milênios a respeito do sábado ou Ellen White no século dezenove? Um acurado estudo bíblico mostra que não há nenhuma objeção adventista quanto ao sábado que a doutrina católica não consiga responder biblicamente.

Assim, todas as doutrinas citadas podem ser estudadas à luz da Bíblia e da tradição apostólica: “santidade do sábado, mortalidade da alma, inferno como sepultura, distinção entre alimentos puros e impuros, importância da reforma de saúde, Santuário celestial e escatologia historicista”.

Se a maioria das Igrejas não crê dessa forma, porque de fato essas doutrinas não se encontram na tradição, a IASD as ensina, porque conforme seu entendimento, elas são bíblicas e foram confirmadas por Ellen White. No entanto, a Bíblia é estudada em todas as Igrejas, e a maioria tem chegado a conclusões diversas, e que, no caso da ICAR, seu ensino está conforme o ensino da sagrada tradição. Assim, o que está aqui como lugar de diferença entre o católico e o adventista é tradição e Ellen White. Todos esses ensinos citados não se encontram na tradição, mas estão nos escritos de Ellen White.

O autor afirma que “como não sou católico, não creio em uma igreja infalível”. Mas, em certo sentido todas as igrejas possuem falhas. No entanto, há algo que é infalível. Assim, a Bíblia é o único livro infalível. A tradição cristã, é a única tradição infalível. A Igreja Católica é a única igreja infalível. Isso se dá nas questões de fé e moral, e não em cada membro em particular, nem nas formas de ensino, nos instrumentos usados para transmitir a doutrina, e em todos os demais assuntos não necessariamente de fé e prática. Assim como o adventista crê na inspiração de Ellen White, e crê que as doutrinas que a mesma ensinou devem ser transmitidas a todos os cristãos, o católico acredita que a doutrina bíblica e tradicional na Igreja é que deve ser pregada a todos como verdade cristã.

Se a IASD “soube se consertar e desenvolver em diversos pontos de sua história”, é certo que não mudou nada sobre a doutrina do sábado, da alma, dos alimentos puros e impuros, do santuário celestial, do inferno como sepultura e da escatologia historicista. Se o cristão adventista refletir sobre esse ponto, entenderá que há coisas na igreja que não necessitam de reforma. Assim, compreenderá o que o católico crê quando diz que a Igreja é infalível, pois afirma que isso acontece nos pontos irreformáveis. O que restará é saber se a posição católica ou a posição adventista está conforme a verdade.

Conforme dito pelo autor, no capítulo 4 ele se esforça para demonstrar que a IASD é fiel ao princípio protestante Sola Scriptura e não se baseia em Ellen White para estabelecer doutrinas e concluir interpretações bíblicas. Ao final do livro, há a tentativa de mostrar que a fé unicamente na Bíblia e na continuidade do dom profético, como acontece em Ellen White. E quando diz  que “Contudo, apenas quando as duas crencas sao corretamente entendidas na pratica e que podemos concilia-las. Do contrário, haverá sempre incoerência.”, isso serve perfeitamente para os adventista utilizarem o mesmo entendimento para compreender a relação entre Bíblia e Tradição Apostólica na Igreja Católica Apostólica Romana. Do contrário, haverá sempre incoerências nas críticas à ICAR.

Esse estudo do livro não é feito a partir da própria perspectiva adventista, como se um membro da IASD analisasse o que foi escrito pelo autor, mas é feito sob a perspectiva católica fazendo um verdadeiro diálogo para a compreensão da doutrina de sempre ensinada no Catolicismo.

Dessa forma, há rigor intelectual, como é dito pelo autor, e quando há erro na doutrina, isso será apontado, e dito o motivo de serem erros, ao mesmo tempo em que será mostrada a interpretação correta e porque ela é correta. Dessa forma, o leitor estará diante de um sólido argumento da doutrina católica. Ainda, considerar-se-á todas as implicações lógicas nesse estudo, sem problemas. Usando-se premissas certas e a lógica correta haverá uma conclusão lógica, é claro (cf página 16).

Para utilizar a razão e, portanto, a lógica, vamos a um argumento importante que estabelece a fé cristã católica.

Na Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR, temos a Bíblia, a Tradição e o Magistério. Para provar a autoridade do magistério da Igreja nós devemos recorrer à Bíblia. E como sabemos o que é a Bíblia, quais os livros que a compõem? Devemos perguntar à Igreja, que é o magistério.

Isso seria um aparente círculo vicioso, se não fosse outro elemento, um terceiro termo, como afirma Fernando Carballo, que é a tradição. Por meio da tradição, temos que a Bíblia e o magistério são verdadeiros.

1.   No número um, o autor afirma que por meio da crítica histórica sabemos que os quatro evangelhos foram escritos pelos quatro evangelistas que aparecem como autores, ou seja, Mateus, Marcos, Lucas e João. Esses realmente escreveram os livros que foram intitulados com seus nomes. Se o leitor aceita esse fato, vamos ao próximo.

2.   Esses evangelistas estão dizendo a verdade, contando-nos a vida de Jesus. Eles foram até o martírio e não negaram o que ensinaram por seus escritos. E os apóstolos e primeiros cristãos foram igualmente convictos da verdade ensinada pelos evangelhos. Outro fato que o leitor deve ter mente e prosseguir.

3.   Nos evangelhos estão escritos milagres que só Deus pode realizar, como a ressurreição dos mortos. Se escreveram a verdade, então é verdadeiro que Jesus ressuscitou mortos.

4.   Então, Jesus é Deus, fez milagres com o poder de Deus, e mostrou que era Deus com o Pai. Até aqui, o leitor não pode ter dúvidas, já que cada passo está claro em si mesmo.

5.   E Jesus aceita os livros da Bíblia.

6.   Se Jesus os aceita, então eles são autênticos. Portanto, os livros sagrados, os evangelhos são autênticos. E por meio desses livros vemos que Jesus conferiu a um grupo de pessoas a faculdade de ensinar na Igreja. Esses foram os apóstolos e assim por diante, pois os apóstolos morreram, mas Cristo afirma que estaria “convosco” até o fim dos tempos, demonstrando que fala a toda a Igreja em todas as épocas.

7.   Desse modo, valendo-se da autoridade dada por Jesus Cristo, a Igreja em seu magistério, declara quais livros são canônicos. Dessa forma, com esse raciocínio, pela tradição está estabelecida a autoridade da Bíblia e do magistério. Não podendo negar nenhum deles, deve-se acatar a conclusão. Sendo assim, não se pode negar a autoridade da Bíblia, nem da tradição, nem do magistério.

Os estudiosos protestantes preferem afirmar algo como: a Igreja apenas reconheceu os livros inspirados. Isso soa como se os livros se apresentassem a si mesmos, o que não é razoável. É claro que tudo foi obra de Deus, em Sua Providência, para levar a Igreja ao estabelecimento do cânon bíblico. E tudo se deu lentamente, fechando o cânon nos concílios do século IV, onde foram escolhidos os 46 do Antigo Testamento e os 27 livros do Novo Testamento. Veja que esse é o mesmo cânon da ICAR até os dias de hoje.

Assim, a história apresenta os evangelhos, que foram escritos por discípulos de Jesus, que ensinaram que Jesus fez milagres que só Deus podia realizar, e que aceitou as Escrituras, o que prova que os próprios os evangelhos são autênticos. Os mesmos evangelhos estabelecem o poder do magistério da Igreja. Se o magistério reconheceu o cânon bíblico, isso prova a autenticidade do cânon e da tradição. A história prova os evangelhos e todo o seu conteúdo é de fé. Assim, a Bíblia e a tradição são a Palavra de Deus. Se o leitor compreendeu tudo isso, chegou à conclusão lógica, e está no caminho de aceitar toda a verdade católica.

A autoridade do episcopado, uma vez provada, leva a aceitação de toda a doutrina cristã católica. E assim, quando estudamos outras doutrinas, com essa luz, vemos que as mesmas possuem certas incoerências sérias, que não se encontram em nenhuma doutrina verdadeira.

De fato, Jesus enviou os apóstolos a ensinar e a batizar (Mt 28, 18-20), e afirmou estar com a Igreja até o fim do mundo, e que os cristãos seriam suas testemunhas em Jerusalém, Samaria e nos confins da terra. Desse modo, essa é a missa dada aos apóstolos não pessoalmente, mas como cabeças da Igreja. De fato, os apóstolos morreram, mas esse magistério existirá até o fim do mundo. A Igreja Católica existirá até o fim dos tempos.

Como os apóstolos ordenaram outros para continuar sua missão (os bispos), que deverão ensinar a verdade e combater o erro até o fim dos tempos, temos estabelecido biblicamente o magistério da Igreja. Dessa forma, é impossível que a mesma tenha caído e que o chifre pequeno seja o papado.


 

Conselho 01: Deve-se citar a Bíblia no “trabalho público”. De fato, já se espera que o adventista creia nos testemunhos e na Bíblia. Seria o mesmo que dizer aos que não aceitam a autoridade da Tradição, que se evite citá-la, mas que o campo de debate seja a Bíblia. É algo lógico. O cristão católico pode debater e fundamentar todas as doutrinas e dogmas com a Bíblia.

Conselho 02: Para o católico é preciso afirmar que todos devem ouvir o que diz a autoridade da Igreja. Isso porque todos creem que a Igreja ensina o que a Bíblia ensina. Se alguém ouve o ensino católico esse está seguindo a reta interpretação da Bíblia. É louvável que o cristão católico se ponha ao exame das Escrituras, mas essa não é a tônica da pregação católica. É útil ler a Bíblia, mas é necessário obedecer à Igreja. A razão é que é possível e altamente provável que o intérprete caia em erros e heresias.

Que os cristãos católicos não creiam em interpretações errôneas dos escritos da Tradição, assim como os adventistas são exortados a não creem em interpretações errôneas dos escritos de Ellen White.

Conselho 03: Deve-se despir do eu ao estudar a Bíblia. Fazendo isso, todos chegarão à verdade católica. É um trabalho árduo, pois é tendência ser indulgente com o ego.

A  questão de Ellen White é entendida como algo submetido à Bíblia, mas com o mesmo grau de inspiração. A Tradição apostólica é um elemento igual à Bíblia por conservar verdades pregadas por Jesus e os apóstolos de uma forma que é possível identifica-las na vida da Igreja. É por esse motivo que se diz que ela tem a mesma autoridade junto com a Bíblia, pois se trata da mesma verdade salvífica.

O que se está fazendo neste comentário é comparar a autoridade de Ellen White para o Adventismo com a autoridade da Tradição para o Catolicismo. Isso mostra que, no fim, são bastante semelhantes.

Conselho 04: Negar doutrinas que são colunas da fé cristã é negar a autoridade da Bíblia e da tradição.

A doutrina de que a Igreja é conjunto de todos os fieis, é a mesma que a Igreja Católica ensina, afirmando que todos os que estão em boa fé são cristãos católicos. Assim, há muitos fieis adventistas que estão na Igreja Católica, não institucionalmente ou visivelmente, mas espiritualmente. Essa doutrina é desconhecida pelos protestantes.

E como foi citado esse conjunto de doutrinas distintivas do adventismo, deve-se notar que há erros graves, como a mortalidade da alma.

Conselho 05: Os testemunhos não adicionam verdades, afirma Ellen White, mas Deus tem facilitado a compreensão das verdades importantes já reveladas. Essa é a mesma noção de Tradição, que está na Bíblia, mesmo que em princípios, e que pode se encontrada no diligente estudo, mas que está na Tradição, que faz com que a Escritura seja mais bem entendida. Isso está na Dei Verbum 8, onde a tradição tem feito quase que exclusivamente o trabalho de tornar mais compreensível a Bíblia: “Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente... ”. Ou seja, a tradição faz-nos entender mais profundamente a Bíblia.

Desse modo, em termos simples, o adventista tem em Ellen White melhor compreensão da Bíblia, assim como os católicos entendem mais a Bíblia por meio do estudo da tradição. Há diferença, no entanto, já que os testemunhos foram dados, segundo a perspectiva adventista, porque o povo não obedeceu à Palavra de Deus.

Desse modo, nesse âmbito, tempos que a Tradição católica deve ser comparada pela tradição adventista e o leitor verificar a verdade.

Para fins de reflexão, há muitas coisas na tradição cristã católica que não são doutrinais, mas que são atrelados à essência da vida da Igreja, como o uso do incenso, de velas, de paramentos, de óleos, etc., o que é muito criticado no Protestantismo como “desvio” e que não há nada a ver com salvação, santificação, natureza e caráter de Deus ou algo do tipo, para usar as palavras do autor adventista quando defende os escritos de Ellen White quando ela fala de questões não doutrinárias.

Todos podem ler, estudar e entender as Escrituras, mas quando isso é feito corretamente estarão de acordo com a interpretação oficial da Igreja Católica Apostólica Romana.

Em outras palavras, se os adventistas estudam a Bíblia e chegam a conclusões contrárias às de Ellen White, como sobre a imortalidade da alma, estarão, por assim dizer, contra o ensino oficial, e não se espera nesse campo que haja mudança, ou seja, não se deve esperar que a IASD adota a verdade de que a alma é imortal.

Pelo contrário, o estudioso adventista, é o que se espera, é que deve adequar seus estudos e chegar à conclusão que é conforme à doutrina adventista. É o mesmo que se espera do fiel católico, porque pelo estudo correto da Bíblia chegará à verdade da imortalidade da alma.

 

Conselho 06: O ensino de Ellen White, suas visões proféticas, devem confortar e corrigir  quem se desvia da Bíblia. Pode-se fazer assim alguma comparação com a tradição. Quando se tem o perigo de se desviar da Bíblia, que é a Palavra de Deus, a Igreja Católica  reúne-se em Concílio Ecumênico e ensina o que a Bíblia e a tradição ensinam sobre determinado ponto que está sendo controvertido.

O exemplo da visão de São Pedro em Atos 10 é bom. No entanto, como estamos diante da revelação do Novo Testamento, esse ensino é maior, é infalível, é regra de fé e prática, e portanto autoridade para todos os cristãos. Assim, desenvolveu-se, por essa visão, que Deus purificou todos os alimentos, ritualmente, e que não há mais aquelas distinções de Levíticos 11 sobre animais puros e impuros. Desse modo, quando São Pedro passou dias na casa de Cornélio, e certamente depois disso conviveu com outros gentios convertidos, ele não precisava mais ter escrúpulos quanto aos alimentos que os gentios preparavam. É algo da Bíblia, e algo lógico.

Imagine se São Pedro afirmasse que entendeu apenas que não havia necessidade de fazer distinções entre pessoas, entre judeus e gentios, mas que não comeria carne impura, porque essa sempre havia sido a doutrina judaica, revelada nas Escrituras no Antigo Testamento. Como poderia pensar assim se a própria visão afirma “mate e coma”, algo muito literal que estaria acontecendo no convívio com os cristãos de origem gentia ao alimentar-se em suas casas. Assim, a visão de São Pedro pode trazer a perfeição do evangelho, o que outras visões, posteriores à morte dos apóstolos, não podem.

Conselho 07: A tradição da Igreja contem princípios bíblicos que auxiliam na compreensão e aplicação dos mesmos na vida dos fieis.

Conselho 08: Interessante a questão da reforma da saúde, de forma equilibrada.

Conselho 09: Interessante a posição do casal White quanto aos dons e profecias para os adventistas.

Conselho 10: Os Testemunhos não tinham por objetivo trazer nova doutrina. A Tradição apostólica não traz nova doutrina, pois foi fechada com a morte do último apóstolo. Assim, o que a tradição faz é garantir que a Palavra de Deus seja sempre conservada intacta na santa Igreja.

Conselho 11: Toda a Tradição apostólica conduz à autoridade da Bíblia, pois emana de Deus igualmente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Estudo da Parte 4: Aplicação prática do Sola Scriptura

Ellen White e as doutrinas distintivas do adventismo – Parte A

O problema notado entre os adventistas no que diz respeito à autoridade de Ellen White pode ser usado para entender algo relativo ao que ocorre nas críticas protestantes ao catolicismo e ao que aparece nos debates sobre Bíblia e tradição, onde argumentos que exaltam a tradição parecem colocá-la acima da Escritura, quando a doutrina católica oficial sempre ensinou igualdade das duas autoridades: Bíblia e tradição.

Há os críticos de Ellen White, os quais dizem que as doutrinas distintivas do adventismo só podem ser encontradas nos escritos da profetisa, e há também os tradicionalistas, que afirmam que as doutrinas adventistas podem ser provadas todas pela Bíblia unicamente, mas que a Bíblia não é clara suficientemente em certos pontos, não é clara nem detalhista em todas as coisas.

Abrindo um parêntese aqui, sobre a clareza da Bíblia, é óbvio que a Bíblia não é clara em todas as coisas. Se fosse, a doutrina do Santuário e do Juízo Investigativo, conforme explicada no livro, seria fácil de compreensão por qualquer um que a lesse. E não é. Entretanto, há inúmeros pontos a serem considerados para formular a doutrina do juízo investigativo, que não é possível que qualquer leitor da Bíblia chegue a essa conclusão por si mesmo. Fechando o parêntese.

Então, haveria necessidade de recorrer à profetisa para sustentar certas interpretações. Obviamente o princípio Sola Scriptura não prevê tal prática. Tudo deveria ser concluído com fundamentação bíblica.

Assim, as doutrinas devem ser provadas pela Bíblia. No entanto, se uma interpretação é feita e a Igreja a adota como expressão verdadeira da doutrina, ainda que contradizendo uma expressão de fé anterior, não haveria certeza plena de que a mesma é irreformável. Dessa forma, se Ellen White fez pronunciamento sobre a interpretação feita e a ratificou, a mesma se torna certa, clara, inquestionável e irreformável, de modo que a autoridade da profetisa se encontra nesse particular. Parece não haver como negar essa conclusão.

No âmbito católico alguém poderia estar debatendo o tema Bíblia e tradição e usar argumentos afirmando que a Bíblia não contem todas as doutrinas fundamentais e que a tradição é necessária para completá-la, o que não é posição dogmática da Igreja e não é o que um protestante aceitaria facilmente.

De fato, a Igreja Católica nunca fez pronunciamento dogmático sobre esse ponto, mas em suas afirmações é possível notar que a Bíblia e a tradição podem ser fontes ou mesmo modos de transmissão da Palavra de Deus, e que a Bíblia tem em si toda a verdade salvífica, mas que é mais profundamente entendida através da tradição. Tudo o que é necessário para a salvação está na Bíblia, mas a mesma sempre foi entendida na vida da Igreja, que é a tradição. Ou ainda, poder-se-ia afirmar que a tradição contem doutrinas não encontradas na Bíblia pelo menos claramente, como o fato, por exemplo, da assunção da virgem Maria ao céu de corpo e alma, e etc., mas que essas doutrinas podem ser verificadas nos seus princípios, podendo-se afirmar que é uma doutrina com base bíblica, e que nunca há tensão ou contradição entre Bíblia e tradição. Essa posição é oficial.

E como a ICAR não é solascripturista, pelo menos no sentido protestante, não há problema em apresentar a tradição para provar doutrina. Não é problema entre os cristãos católicos. O que há de fato é que é plenamente possível provar todas as doutrinas católicas a partir da Bíblia somente. Isso é o que assusta os protestantes, que pensam ser isso algo impossível.

Um adventista pode até mesmo afirmar que a Bíblia não é clara nem detalhista e que Ellen White esclarece muito. Isso é visto como problema. Também pode afirmar que somente através de Ellen White é que se pode chegar a tais e tais doutrinas. Um problema ainda maior, já que atinge o ponto doutrinal, como se essa fosse a afirmação oficial da IASD, o que não é. E mais: ainda contradiz a posição oficial da congregação.

O problema que continua existindo, e que já foi apontado acima, é que ainda assim a autoridade de Ellen White é algo que necessariamente precisa ser reconhecida como fundamental para o adventismo, assim como a autoridade da tradição apostólica o é para o catolicismo. E aí está toda a problemática: qual deve ser a adesão do cristão adventista quando Ellen White contradiz uma doutrina da tradição?

Toda a doutrina católica passa no crivo que o autor adventista apresentou. Alguém pode discordar de uma doutrina católica, mas não pode afirmar que a mesma é destituída de estudo bíblico. Pode-se dizer que é errada, que contem falhas, que concluiu erradamente, mas não que seja extrabíblica ou antibíblica, pois a discussão inteira está dentro da Bíblia. E pode ser provada. Por isso, o exemplo da assunção de Maria, proclamada muito recentemente na história da Igreja, em 1950, pelo papa Pio XII, e que não é um fato encontrado nas Escrituras, está totalmente de acordo com a doutrina das Escrituras.

O ser humano e os anjos foram criados sem pecado, perfeitos, inteiramente santos. O pecado foi a desobediência, um intruso, que causou transtornos na criação. Desse modo, ser sem pecado é o original, e não o que é natural.

Por isso, Cristo veio sem pecado. Essa doutrina clara na Bíblia leva à premissa certa de que a mãe de Jesus foi preparada para ser sem pecado. Assim, como Adão e Eva sem pecado caíram na cilada do Demônio, Cristo e Maria sem pecado venceram o antigo Inimigo. Esse princípio é bíblico e é atestado pela razão iluminada pela fé.

Outro argumento bíblico é que quanto mais próximo de Deus, mais santo deve ser. A santidade não é apenas uma separação para o serviço de Deus, mas uma transformação no ser, que é levado à estatura de Cristo.

Dessa forma, para trazer Jesus ao mundo, Maria deve ter sido preparada de forma santíssima, por causa da santidade do Criador.

Como pode ser visto, nenhum desses dois princípios é extrabíblico, nem antiblíco, nem irracional. Todos são bíblicos e racionais. Assim, crer na santidade de Maria é bíblico. Mas, o protestante exigirá mais, alguma afirmação direta, ou algo mais claro que indique essa santidade. Embora em suas doutrinas nem sempre há o mesmo grau de exigência para serem formuladas.

Na Bíblia aprendemos que somos salvos pela graça. A graça é a antítese do pecado, e faz o pecador ser justo e santo. Dessa forma, ser cheia de graça é ser totalmente santa. A melhor tradução é cheia de graça, e não agraciada, pelo contexto. Também vemos que Jesus e Maria são chamados de benditos nesse contexto. Dessa forma, há uma estreita ligação de santidade entre Cristo e sua mãe. Assim, deduz-se que ela é perfeitamente santa.

A Bíblia ensina que pessoas foram chamadas desde o ventre materno para certos propósitos. A virgem Maria foi chamada desde o ventre materno. Pode-se deduzir qual foi a preparação de Deus para o ministério materno da virgem Maria.

Sansão foi chamado desde o ventre de sua mãe (Juízes 16, 17). Também o foi Isaías (cf. 49, 1.5). Há vários exemplos. Então é bíblico pensar que a virgem Maria foi preparada desde o ventre de sua mãe. De fato, é bíblico ensinar que desde a eternidade a virgem Maria foi preparada.

Por analogia e plausibilidade, baseado em muitas passagens bíblicas, podemos concluir que é bíblico e razoável crer que Maria foi sem pecado. Nada na Bíblia contradiz essa crença. Se alguém disser que todos pecaram (Rm 3, 23), respondemos que sim, em Adão todos pecaram, estão destituídos da glória, mas em Cristo todos são santificados e entrarão na glória do céu. Dessa forma, Maria foi santificada em Sua criação pelo preço do sangue de Jesus Cristo.

É bíblica também a fé de que o sacrifício de Jesus é causador da graça mesmo antes de ser efetuado na cruz. Todos os santos salvos no AT foram salvos por Jesus Cristo. Assim, a purificação de Maria na concepção foi devido aos méritos de Jesus Cristo na cruz.

O profeta Jeremias (1, 5) e João Batista (Lc 1, 41-44) foram santificados no ventre. A virgem Maria por maior razão também o foi. Por isso é chamada cheia de graça pelo anjo. Toda essa argumentação foi feita com base no argumento do apologista Dave Armstrong: Mary´s Immaculate conception: a biblical argument. É evidente que nada na fé na imaculada conceição é anticristã, mas que a doutrina exalta a Cristo. De fato, a santidade de Maria é necessária para melhor compreendermos quão grande e santo e justo é Cristo, que preparou um ventre santo para formar seu corpo humano.

Desse modo, Maria foi imaculada. Então, não precisou estar sujeita à morte.

Assim se prova a assunção de Maria.

De fato, há várias analogias para prova essa doutrina. Enoque andou com Deus, o que implica sua grande santidade, e foi arrebatado, não passando pela morte. Também o grande profeta Elias, recebeu a graça de ser levado aos céus (2 Reis 2, 11; Heb 11, 5). Assim, é bíblico que alguém possa ser arrebatado, assunto ao céu.

Que Deus pode criar alguém sem pecado, ninguém pode negar. Mas o adventista, como todo protestante, questiona se isso foi fato. A tradição prova que sim. Não crendo na tradição, e não crendo na interpretação da Igreja, negam essa verdade de fé, ainda que não possam refutá-la biblicamente. (Argumentos tirados do artigo de Dave Armstrong: Biblical Argument in Support of Mary´s Assumption).

Então, a fé na assunção de Maria está conforme toda a doutrina bíblica, não contradizendo nenhuma, e é atestada pela tradição.

 

A Doutrina do Santuário/Juízo Investigativo

Essa doutrina é nova na história da Igreja. Mas o adventismo apresenta que “fatos básicos em torno dela são inquestionáveis”. Compare com a doutrina da imaculada conceição e da assunção de Maria e veja também que há fatos básicos em torno da assunção da virgem que são inquestionáveis. São doutrinas diferentes, mas que o ponto a ser entendido aqui é sua plausibilidade bíblica. E, no fim, há o motivo de uma ser correta e que deve ser adotada na Igreja e a outra não: a imaculada conceição e a assunção de Maria está na tradição apostólica. A doutrina do juízo investigativo não. E não pode ser crida por conter elementos que contradizem a tradição, como a mortalidade da alma.

O autor apresenta o exemplo do batismo como fato inquestionável aceito por todos os cristãos, por toda igreja séria. De fato, há divergências a respeito do batismo, mas não há nada que conteste o fato do batismo. Não se pode negar que essa ordem não exista na Bíblia. E o autor afirma que há fatos inescapáveis da doutrina do Santuário, de modo que não há como negar que existam na Bíblia.

Da mesma forma, há o fato de que Deus impôs uma inimizade entre Satanás e a mulher (Gn 3, 15). Essa mulher não é literalmente Eva, nem o conjunto feminino da humanidade. Também a serpente não é uma cobra literal, mas a figura de Satanás. Desse modo, na profecia a semente da Mulher não é um filho de Eva nem a humanidade inteira, mas é Cristo.

Assim, a inimizade entre Satanás e Cristo é total. Essa inimizade é a mesma entre Satanás e Maria.

Essa total inimizade bloqueia qualquer possibilidade de pecado em Cristo. Então, Jesus Cristo é sem pecado. Conclui-se que Maria é igualmente sem pecado.

Continuemos com o estudo sobre a doutrina do santuário. Os fatos sobre o santuário são que: há um santuário no céu, e há um juízo sendo feito como em Dn 7, 9-14;26-27. Podem haver outras interpretações mas não se pode negar os fatos.

Há os fatos sobre os livros celestes, o livro da vida, o juízo sobre as boas e más obras de todos os homens. É possível divergir sobre como será esse juízo e quando será feito.

A purificação do Santuário é entendida como sendo o evento de Dn 8, 13-14 e Dn 7, 9-14. O juízo seria o mesmo da purificação. Isso seria reforçado em Hb 8, 1-5; 9, 6-10; 10, 1-2. A ascensão de Jesus seria o antítipo da unção feita por Moisés, e o dia da expiação deveria indicar outro evento, o do juízo.

Os sacrifícios diários de Ex 29, 38-46 e Nm 28, 3-8 representam a eficácia diária, constante e perpétua do sacrifício de Jesus. O santuário deveria ser purificado: Ex 30, 10; Lv 4, 1-7; 6, 30. O dia da expiação deveria ocorrer em algum momento da história da Igreja.

Quando o autor afirma que o juízo investigativo é para mostrar a justiça de Deus aos seres criados, afirma; “anjos e quaisquer outras criaturas presentes” no céu, porque isso não é tão simples para um adventista afirmar e reconhecer que há santos no céu, já que não creem na imortalidade da alma e deverão provar que muitos ressuscitaram e foram para o céu, o que não há qualquer indício na Bíblia.

Mas, pela doutrina bíblica, o dia da expiação aponta para o sacrifício de Jesus feito na cruz, de modo que na ascensão tudo foi concluído. O que esperamos é a vinda de Jesus, que será o dia em que voltará à terra.

Se o juízo investigativo está ocorrendo, isso está sendo feito com os anjos e santos do céu todos que estão lá chegando, de modo que há constante trabalho de culto e adoração, intercessão e juízo particular das almas, feito por Cristo, e certamente acompanhado por anjos e santos na presença de Deus, até a parusia.

E quanto ao poder opressor “surgir” dentro da Igreja, isso é problemático. De fato, tentar mostrar que a ICAR – o papado – estaria usurpando o lugar de Deus, é o erro que a doutrina do juízo investigativo tem como fundamento. Isso será refutado mais adiante.

Em Hb 8, 6 é dito que a Jesus é Sumo Sacerdote, portanto está no Santo dos Santos, e a Ele compete ministério mais excelente, como é mediador de uma aliança mais perfeita, sela por melhores promessas. Tudo isso indica término daquilo que era tipificado pelo dia da expiação, restando apenas o dia em que Cristo voltará à terra para o juízo, quando sair do Santo dos Santos.

Então, o Sumo Sacerdote está à direita de Deus, no Santo dos Santos (cf. Hb 8, 1), Ele é ministro do santuário (esse mesmo lugar onde está sentado), que é o verdadeiro tabernáculo. Está ministrando como Sumo Sacerdote.

Então, Ele adentrou o Santo dos Santos na ascensão, como todos os cristãos reconhecem, e não mais precisa entrar aí, pois não saiu desse lugar.

Desse modo, não haveria de entrar em 1844, pois já está lá desde o século primeiro. Em Dn 7 o Filho do Homem vai para onde está o Pai. Isso na ascensão e não após muito tempo. Não é dito que Jesus foi ungir o Santo dos Santos e depois deveria voltar a ele para juízo, pois o texto deixa bastante claro que a mediação e a aliança nova e eterna se cumprem plenamente, e o ministério de Sumo Sacerdote chega cumprimento, de modo que nesse particular não há nova entrada no lugar Santíssimo, pois Cristo não mais saiu de lá. Não parece sugerir que houve mudança de ministério após a ascensão.

Quanto à doutrina da assunção de Maria, é certo que o protestante adventista não irá admitir. Mas é também certo que a mesma possui muita força na Bíblia e na tradição, como visto acima. Santo Epifânio escreveu que sobre a não sabia se Maria morreu ou não, o que prova que na sua época (século IV) todos criam na assunção de Maria ao céu. Um dado como esse reflete a tradição apostólica sobre o arrebatamento de Maria, pois seria impossível que se tivesse esse dúvida sobre outro ser humano.

Também, essa doutrina foi proclamada pelo papa, que tem a infalibilidade. Essa doutrina era admitida por todos os teólogos de então, foi estudada séria e profundamente. Havia também uma unanimidade. Todos os cristãos católicos concordavam com essa doutrina.

Como já provado antes, a Bíblia afirma que Deus colocou inimizade entre Satanás e a Mulher (cf. Gn 3,15). Essa mulher é profeticamente a virgem Maria. Essa inimizade imposta é, pelo que se pode deduzir, total, e portanto a virgem Maria não faz qualquer obra de Satanás. Dessa forma, ela é imaculada, sem pecado.

Para corroborar isso, vemos que o anjo Gabriel chamou a virgem por um nome que significa cheia de graça, agraciada (cf. Lc 1, 28). Essa graça vem de Deus, dada à virgem, e foi usada como nome da virgem Maria no momento da anunciação, o que não é costume dos anjos fazer diante de qualquer outra pessoa. Dessa forma, mais uma vez, é indicativo de que a virgem Maria não teve pecado.

As razões teológicas mostram que a virgem Maria deveria ser pura e sem pecado. De fato, ela é a mãe de Cristo, que é Homem e Deus, e portanto deveria ser gerado por uma mãe perfeita. Uma vez que a Bíblia afirma que Jesus é o novo Adão, e que  Ele salvou a humanidade que ficou escrava do pecado por meio do primeiro Adão, também se pode deduzir que a virgem Maria, a mulher de Gn 3, 15, é a segunda Eva, que contrariamente à primeira, não ouviu as seduções da Serpente, mas foi totalmente obediente a Deus.

Não tendo pecado, a virgem Maria não está sob o poder do pecado e da morte. E assim como Jesus Cristo, morreu e foi ressuscitada, não conhecendo a corrupção, e foi levada ao céu, pois sua humanidade é estreitamente ligada à humanidade de Cristo, que não pôde conhecer a corrupção.

Desse modo, a mulher vestida de sol e coroada, vista por São João no Apocalipse, capítulo 12, 1, é uma alusão à santidade e mesmo à assunção da virgem Maria.

Uma doutrina não necessita estar toda formulada e acabada para ser crida. Basta que seus princípios estejam na Bíblia e na tradição apostólica. É um fato que a Igreja nunca ensinou que Maria esteve submissa ao pecado. Esse dado está conforme a Bíblia e demonstra a tradição apostólica.

Assim, a primeiras vezes em que o tema foi tradado ficou certo que na virgem não havia nada relativo ao pecado. E também, o fato de sua assunção ao céu foi admitido sem problemas desde a antiguidade, o que está conforme a tradição apostólica.

Sabemos que a razão é um dom de Deus, é necessária para conhecer a verdade. A verdade sobrenatural é compreendida pela razão iluminada pelas luzes da fé.

A verdade cristã católica é entendida por meio de uma verdadeira ciência, a Teologia. Os dados da Escritura e da Tradição são coligidos, interpretados e coordenados, como ensina Adolphe Tanquerey.

Para compreender a Bíblia e a tradição é preciso situar seus dados no meio em que se originaram, em que foram revelados, aproximá-los de doutrinas análogas, como diz Adolphe Tanquerey ao falar da teologia mística, e agrupar os dados e interpretá-los a luz de todo complexo das verdades cristãs.

Aqui está uma diferença entre a fé católica e a protestante adventista. Enquanto os protestantes, com suas tradições autoritativas, mas não infalíveis, podem mudar dados do seu credo, embora isso seja raro e improvável. No entanto, é possível que muitos deixem de crer verdades certas e consagradas em suas tradições.

A IASD pôde, como visto, formular a doutrina do Santuário/Juízo investigativo, embora tal doutrina apresente dados que não se adequam com outras doutrinas cristãs, e não estão de acordo com todo complexo de verdades cristãs, como por exemplo a doutrina da imortalidade da alma.

Pode-se dizer, segundo Adolphe Tanquerey, que fala do método doutrinal ou dedutivo, que consiste em estudar a Bíblia, a Tradição, por exemplo, e, por que não dizer, muitas outras obras cristãs, diríamos, e deduzir conclusões sobre o que se está estudando.

Diante disso, o cristão precisa saber que a tradição possui verdades que a Bíblia apresenta apenas em princípio, e que são igualmente verdades reveladas aos apóstolos, e ensinada oralmente, estando nas práticas da Igreja, nos escritos dos santos Padres, nos pronunciamentos dos concílios e dos papas.

 

A doutrina do sábado

 

Os adventistas, como bons protestantes que são, certamente fizeram sua interpretação bíblica particular, e contra a tradição, ensinaram que o sábado era o dia de guarda válido na Nova Aliança. Essa doutrina foi confirmada por Ellen White, tornando isso algo irreformável no adventismo. Assim, se o adventista aprender biblicamente que o domingo é o dia de guarda cristão, estará se desligando da IASD automaticamente.

E qual é a base bíblica para ensinar que o sábado continua para os cristãos como dia de observância? Será que a interpretação adventista tem sentido? Vamos avalia-la.

Deus abençoou e santificou o sétimo dia e descansou nele (Gn). Mas também a Bíblia ensina que Deus fez outro dia para nós (Sl 118). Se é uma das maneiras mais evidentes de lembrar de Deus e adorá-lo é observando o mandamento do sábado, isso não é menos evidente do que lembrar de Deus e adorá-lo no dia em que Ele fez para nós. Esse dia é o domingo. Veja que isso é interpretação bíblica.

Da mesma maneira que o sábado não fala diretamente da salvação, mas da criação, e pode ser guardado também como honrando a Cristo pela salvação, assim também o domingo, que não trata da criação, mas da redenção, pode ser guardado em honra de Deus pela criação do mundo. De fato, também celebra a nova criação. Assim, não há nada que possa refutar essa interpretação.

A afirmação de que há indícios de que a guarda do sábado pelos cristãos era natural em Jerusalém não tem exemplos. Afirmar que os apóstolos continuaram a frequentar as sinagogas aos sábados, inferindo com isso que todos os cristãos guardavam a lei, não pode ser exemplificado em nenhuma passagem. (At 13:14 e 42-44, 17:1-4, 18:1-4; ver ainda At 2:46, 3:1-3, 5:20-21, 5:42, 9:2, 13:5, 14:1, 17:10-17, 18:19, 19:8-10) Se São Paulo não se reconhecia como transgressor das leis judaicas, e que isso prova que ele guardava o sábado, isso também leva à conclusão de que ele não ensinava o sábado aos cristãos gentios. De fato, o contexto mostra que aquelas práticas de São Paulo eram realizadas por sua história como judeu e para facilitar a evangelização entre os judeus, e não eram mais ensinadas aos gentios, de modo que diziam, por causa disso, que São Paulo falava contra a lei. Em suas pregações ele fala da abolição da Lei.

Todos necessitam descansar espiritual, emocional e fisicamente. Assim, no domingo o preceito cumprido. Quem autorizou a mudança do sábado para o domingo certamente foi Jesus Cristo. Dessa mudança há indícios no Novo Testamento e mais tarde isso vai ficando mais claro, de modo que não há dúvida de que os primeiros cristãos guardavam o domingo.

Uma vez provada pelos evangelhos a autoridade da Igreja, que deverá exercê-la até o fim dos tempos, devemos aceitar que a guarda do domingo, como ensinado pela santa Igreja, é a doutrina original. Portanto, a prova é bíblica.

 

Romanos 14, 1-6

O texto de Romanos não serve diretamente para discutir a questão do sábado. Ele fala de alimentação e da distinção de dias. Não é algo dogmático, mas relativo à opinião de cristãos fracos na fé e sua tensão com os cristãos mais fortes, esclarecidos.

 

Gálatas 4, 8-11

Pela simples leitura dessa passagem podemos interpretá-la no sentido que a Lei, já ab-rogada, com exceção de sua parte moral, não poderia mais ser guardada com fins de salvação, uma crítica que é encontrada em outras partes do Novo Testamento. Assim, não há como “voltar” a esses rudimentos, guardando dias, meses, tempos e anos.

Vejamos a crítica adventista para a defesa do sábado.

O verso 3 fala dos rudimentos que são “do mundo”. Isso não pode ser a Lei de Deus. Essa observação adventista é verdadeira, já que no verso 8 está escrito: “Outrora, é certo, desconhecendo a Deus, servíeis aos que na realidade não são deuses”. Isso mostra que aqueles cristãos eram de origem gentia. Isso é claro.

Talvez estivessem voltando a práticas que eram em essência comuns a judeus e gentios, na guarda de dias e etc. O assunto de Gálatas 3, 23 a 4, 11 é sobre a Lei como pedagogo (v. 24). Assim, não mais sob o pedagogo todos são iguais em Cristo e descendentes de Abraão segundo a promessa (vv. 26-29).

Dessa forma, quando se diz que tutores e administradores são os responsáveis de “nós, quando menores”, que “estávamos escravizados pelos rudimentos do mundo”, isso está no contexto geral da Lei como pedagogo. Portanto, a interpretação inicial permanece de pé, mesmo com a distinção feita na observação adventista.

Dessa forma, se um cristão gentio volta a práticas do paganismo, ainda que tentando cristianizá-la, ou um cristão judeu volta às práticas do judaísmo, com esse mesmo objetivo, estão na mesma realidade.

Então, a primeira observação adventista está respondida: São Paulo não chama mandamentos de Deus de fracos e idolátricos, mas sua crítica engloba judeus e gentios, o que demonstra que voltando às antigas práticas de modo a crer que são coisas necessárias salvação e parte da obrigação cristã, é estar em erro grave. Isso inclui a guarda do sábado do sétimo dia como se fosse uma doutrina cristã.

A outra observação é supor que o sábado era guardado por todos os cristãos, já que esses eram judeus convertidos das sinagogas ou grupo de judeus, que eram já observadores do sábado.

Essa observação não é exata. De fato, todos os judeus cristãos continuaram a guardar muitas leis do Antigo Testamento, de modo a mais tarde chegar à questão controversa da circuncisão e leis do AT como necessárias à salvação. Assim, era comum a guarda piedosa da lei, mas não o ensino cristão sobre essa guarda aos novos convertidos. Então, ninguém recebia o ensino dos apóstolos de que o sábado continuava em vigor. Certamente, já eram ensinados à guarda do domingo.

Essa afirmação é bastante clara e direta e pode assustar o adventista, que está preparado a negá-la prontamente. Mas, convido o leitor a desarmar seu espírito e aceitar essa leitura, a fim de entendê-la, e só depois tentar refutá-la.

Por isso, o sábado pode sim ser “novidade teológica”, se for colocado como necessário à observância. E estaria em um rol de muitas outras coisas: dias, meses e anos. Se os gálatas estavam voltando a práticas já conhecida no paganismo, elas não eram novidades também. Aqui a crítica adventista é refutada. De fato, falando de algo velho e ultrapassado, está se referindo a algo conhecido, e não novidade. Mas, ao voltar colocar tais coisas como obrigatórios de serem praticadas, eis o “outro evangelho”, as novidades, tanto do ponto de vista pagão como judeu, como já explicado antes. Vê como as coisas estão se tornando mais claras, e indo em direção à fundamentação da doutrina católica, mesmo diante de tantas boas observações da apologética adventista?

São Paula fala de como era zeloso das tradições do seus pais (Gl 1, 14). Segundo a interpretação adventista, São Paulo estava criticando, não a Lei pura e simples, mas suas “distorções”. Essas distorções são o que está dito acima: a Lei não pode mais ser observada como obrigatória aos cristãos, mas apenas como uma observância piedosa, parte das tradições antigas, que são boas em si, mas não estão mais no catecismo cristão.

Mas, acompanhemos o argumento adventista. A tradição não era apenas algo “extrabíblico”, mas a palavra se refere às devoções da Lei que nunca são criticadas por São Paulo, mesmo que tenham sido abolidas. No máximo são “sombras” (cf. Cl 2, 16-17), o que não é crítica, mas apenas a descrição da realidade.

E como a Lei é vista como um todo, a circuncisão é citada em Gl 2, 3, quando São Paulo afirma que indo a Jerusalém para expor o evangelho que pregava, nem sequer meu companheiro Tito, embora gentio, foi obrigado a circuncidar-se. Isso demonstra que a discussão é ampla e inclui a Lei inteira, não podendo apenas tocar negativamente a sua parte moral, que é eterna e irrevogável.

São Pedro, como chefe da Igreja, agiu temendo os circuncidados (Gl 2, 13), de modo a evitar comer com os pagãos, levando com sua atitude a muitos outros judeus cristãos, e até mesmo Barnabé, que era líder cristão. Isso demonstra a autoridade de Pedro. Foi um equívoco do primeiro papa. Foi uma atitude equívoca, uma dissimulação.

Então, São Paulo fez-lhe uma dura crítica, que é comum na Igreja, onde bispos, sacerdotes, e mesmo leigos, respeitosamente admoestaram papas. São Paulo diz: “vives como gentio”. É óbvio que São Pedro não estava vivendo como pagão, observando leis gentias. Mas a crítica era sobre sua hipocrisia.

Com isso, São Paulo continua no v. 14, mostrando que essa atitude era ligada à ideia da justificação pela Lei: sabemos, contudo, que ninguém se justifica pela prática da Lei. E mais adiante afirma à volta ao pecado após a justificação, e escreve: “Se torno a edificar o que destruí, confesso-me transgressor.”.

E continuando a dura exortação aos gálatas, afirma que estavam voltando à carne (Gl 3, 3), criticando os que se apoiam nas práticas legais (v. 10). E logo mais usa a comparação do pedagogo, que era a Lei antiga.

Dessa forma, ao explicar esses pormenores aos gálatas, o apóstolo está mostrando que a volta à Lei ou ao que quer que seja anterior, com fins de justificação, é contrário ao evangelho.

Mas é observado que São Paulo estaria criticando uma distorção da Lei, pois não é encontrado um mandamento que proíba um judeu comer com gentio. Responde-se a isso com o que foi explicado acima, e que está no contexto geral da Lei, de modo que esse pormenor não permite sair da questão. A discussão está caminhando no caminho certo, mas há uma diferença sutil: enquanto o argumento adventista reconhece que São Paulo está criticando uma distorção da Lei, o que está certo, não dá um passo a mais na mesma direção e conclui que a Lei, ainda que sem a distorção, não deve ser guarda, a não ser em seu aspecto moral. Por isso, é preciso cumprir a Lei.

A crítica à interpretação de que o amor cumpre a Lei e dispensaria do sábado é válida. Pois bem.

Se os cristãos da Galácia estavam ensinando que era necessária a observância de certas regras para serem salvos, ao admitir que isso está errado deve-se reconhecer também que no contexto a própria Lei é mostrada como não tendo mais obrigação aos cristãos. E isso em relação às coisas citadas, onde todas são cerimoniais. Nesse ponto há concordância entre a interpretação adventista e a interpretação católica. Contudo, as devidas distinções estão sendo feitas e a conclusão correta está sendo apontada.

Por isso, a pergunta sobre o sábado é muito oportuna: tudo o que foi pensando no argumento em Gálatas inclui o sábado como não mais obrigatório? O adventista nega esse ponto.

De fato, o sábado é geral, não é ligado ao judeu apenas, nem exclusivo do sistema levítico. Mas em toda a discussão o que está sendo mostrado como abrogado na Lei é expressão de maneira geral.

É preciso fazer a distinção bíblica aqui: a Lei, a circuncisão, a observância de dias, como o sábado, não era pecado. No entanto, ensinar isso como necessário à salvação era outro evangelho. Dessa forma, tudo isso não fazia parte do ensino cristão aos novos convertidos. Esse ponto é importante, e é justamente o que é negado pelos adventistas.

Dessa forma, por exemplo, ir orar no templo era uma prática saudável dos cristãos, como vemos fazer São Pedro e São João em Atos 3, 1. Mas não era obrigatória. A circuncisão poderia ser praticada, mas não era mais parte do evangelho. Votos poderiam ser feitos por judeus convertidos ao cristianismo, mas não eram exigências da Igreja. A guarda do sábado poderia ser mantida, mas não mais era parte da doutrina cristã. Caso contrário, seria “outro evangelho”.

Em outras palavras: os cristãos daqueles dias se reuniam no domingo para a missa, a celebração da ressurreição (cf. Atos 20, 7). Não há qualquer passagem onde os cristãos são mostrados celebrando o sábado. Suas idas às sinagogas aos sábados era opcional, era uma prática piedosa, e usada para a conversão dos judeus e prosélitos ali. Assim, logo que não havia receptividade do evangelho nas sinagogas, os cristãos se reuniam em outros lugares para ensinar a doutrina cristã. Portanto, os cristãos judeus¸ quase que exclusivamente, observavam muitas leis antigas, inclusive o sábado, mas não mais como parte do evangelho, e não ensinavam essas práticas aos cristãos gentios. E todos os cristãos se reuniam no primeiro dia da semana para cumprirem o preceito cristão.

 

Colossenses 2, 16-17

Nesse contexto, comidas e bebidas, a guarda de dias ou lua nova ou sábados faziam parte daquilo que não estava mais em vigor, pois eram sombras. E o mesmo contexto mostra que os julgamentos viriam aos cristãos que não guardavam prescrições alimentares, dia de festa, lua nova ou sábados, pois tudo isso era sombra do que haveria de vir, pois o corpo é Cristo.

Essa última frase refuta qualquer interpretação que não tenha esse pormenor em vista: a Lei veio até Cristo. A realidade é Cristo, e portanto o que é chamado sombra se refere ao que serviu para levar o povo fiel aos dias de Cristo.

E quanto à questão da expressão em merei? O problema poderia ser a guarda, à não guarda ou à maneira como se guarda? Pelo contexto a maioria dos problemas se resolve, a ponto de não depender de uma exatidão de sentido do grego a ser encontrada.

Será que os colossenses guardavam o sábado de uma maneira diferente, e isso não deveria causar-lhes julgamento? Assim, com essa leitura, os cristãos de Colossos estariam em uma controvérsia sobre como guardar o sábado. Alguns guardavam de um modo e os cristãos colossenses estariam guardando de outro.

O paralelo com o evangelho ajuda a entender melhor algo que é compatível ainda mais com a interpretação católica. De fato, Jesus e os discípulos foram julgados como transgressores do sábado. Mas Cristo afirmou a forma correta de guardar o sábado naquele contexto. O mesmo não ocorre aqui, onde o texto de Cl 2, 16-17 não afirma que o sábado deve ser guardado de tal forma, mas que os elementos citados são sombra (σκιὰ) de coisas futuras e o corpo é Cristo.

Se os colossenses estavam guardando o sábado, também estavam guardando as prescrições cerimoniais sobre os alimentos, e os dias de festa, as luas novas também. Essa interpretação é negada pelo testemunho geral do Novo Testamento, onde nenhuma prescrição alimentar, nem as festas judaicas, como o Pentecostes, nem o sábado, é ensinado como prescrição para os cristãos. Pelo contrário, o contexto aponta sempre para a caducidade daquela lei, como acontece também em Cl 2, 16-17.

São Paulo estaria preocupado com o juízo dos hereges e não com as práticas julgadas. Mas não é assim. De fato, lembre-se o leitor de que Atos 10 afirma que todos os alimentos são puros. Assim, por exemplo, não havia regras de comer e beber sendo praticadas de outra forma pelos cristãos.

Quando à tradução “Que são sombras das coisas futuras” se referir a algo do presente para apontar ao que está vindo, isso não é correto. De fato, os sacramentos da Lei de Cristo apontam para algo que está vindo, mas os do AT apontam para o futuro em relação àquelas prescrições. Portanto, já vieram. Doutro modo, estaria o apóstolo afirmando que não deveriam preocupar-se com a maneira de guardar essas leis, que são sombras do que virão, pois o corpo é Cristo, o que faz menos sentido, estando de certa forma a menosprezar algo atual como se fosse sombra.

Essa interpretação de que “sombra” indica que o sábado era atual para os colossenses é uma novidade. De fato, é unanimidade que o contexto inteiro do NT demonstra que a Lei é Cristo. Assim, tudo o que estava na Lei apontava para Cristo. Desse modo, o padrão é passado apontando para o futuro que se completou em Cristo, e não o presente que será completado futuramente.

Primeiro, como fazer a distinção que a interpretação adventista faz nessa passagem, onde o sábado permaneceria válido e os festivais não seriam normativos? De fato, ambos são citados no mesmo contexto, tendo o mesmo sentido. Segundo, onde está a prática da Igreja primitiva mantendo os festivais em sua prática para apontar para a parusia? Terceiro, como práticas bíblicas não normativas, e não mais obrigatórias, deveria ser mantidas ao longo dos milênios, para apontar para a vinda de Jesus, se elas mesmas deixaram de ser obrigatória, no contexto geral da Lei, mostrando que não teriam mais sentido para o cristão?

E a maneira feita para explicar o motivo do sábado ser citado entre outras coisas que são claramente não normativas, como se também tivesse o papel de apontar para Cristo, não é convincente e está de algum modo alheio ao contexto. As questões acima já demonstram isso. Se São Paulo estivesse preocupado em lembrar que o sábado tem a função de lembrar que não somos mais escravos do pecado e que Cristo, nossos salvador, está por vir, essa também seria a conotação das comidas e bebidas, das festas, e da lua nova, sendo impossível afirmar o que é ou não é mais normativo.

De fato, o sábado é sombra como todas as outras coisas citadas, tendo o intuito de levar a Cristo, como está em todo o Novo Testamento. As interpretações adventistas não podem responder a isso.

 

Atos 15, 28-29

O que deveria ser prescrito aos gentios seriam as coisas essenciais que eram lidas nas sinagogas aos sábados. Isso era muito caro aos judeus, e permaneceu entre os convertidos. Apenas o que está em At 15, 19-20. A carta não faz lista de tudo o que necessário seguir, mas é clara no contexto do assunto. Não é necessária a circuncisão e não é necessário cumprir a lei. Isso é corroborado em todo o NT.

Por isso, as quatro regras não faz alusão à circuncisão e às festas, pois esse foi justamente o ponto discutido e deixado claro que não são elementos a serem ensinados aos cristãos.

Mais uma vez, a interpretação adventista supõe que os cristãos frequentavam as sinagogas e guardavam o sábado, e festas, e circuncisão, e etc., ainda que não o fizessem como necessários à salvação. Isso seria praticado por todos os cristãos gentios e assim não seria necessário que se prescrevesse mais nada, a não ser as quatro regras de At 15, 19-21.

Para refutar isso, façamos a exegese do texto:

““Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue. Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados””

“Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus”: isso mostra que os novos convertidos vindos do paganismo, e que não conheciam a Lei judaica, não deviam ser perturbados o ensinamento da Lei.

“mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue”: essas coisas, todas elas, eram praticadas no paganismo, e por isso, mesmo não tendo o ensino da Lei, eles deveriam saber que não deviam contaminar-se com os ídolos, não deveriam praticar relações sexuais ilícitas, nem comer carnes com sague e nem alimentar-se do sangue. Portanto, eram leis que todo judeu praticava, e não era conhecida por nenhum pagão, e assim deveriam ser ensinados a isso.

A exegese do texto por si só já refuta a afirmação de que os gentios não eram transgressores dos preceitos gerais, como se já conhecessem todos. E que frequentavam sinagogas e etc. A lei é clara que se trata dos novos cristãos que viriam, os que se convertem a Deus, e não dos cristãos gentios que já estavam convertidos e já sabiam da caducidade das práticas judaicas.

Dessa forma, as palavras de São Tiago demonstram que o sábado não era conhecido entre os pagãos, conforme Cl 2, 16-17, e não seria ensinado a eles como preceito cristão. Eles não conheceriam a Lei, mas, em relação a isso, apenas aqueles preceitos citados no concílio.

 

Debaixo da Lei

 

Isso significa que não estamos debaixo da Lei judaica, mas apenas da Lei moral que Cristo ratificou.

O Novo Testamento não cita o sábado a não ser em controvérsias, como os textos estudados. Assim, quando se fala da ab-rogação da Lei está incluído o sábado. Portanto, o sábado não é parte do credo cristão, e não é citado como mandamento porque o domingo havia substituído a prática sabática para a Igreja. Desse modo, todos os outros mandamentos morais são citados e os cristãos aparecerem reunindo-se no domingo e nunca no sábado.

Na verdade, os problemas enfrentados por Paulo, como escreve o autor adventista, não são somente a circuncisão, as festas e as tradições extrabíblicas, mas como Cl 2, 16-17 é claro, o sábado também estava entre o que havia deixado de ser obrigatório.

Assim, também foi possível mostrar que a doutrina católica é bíblica, pode ser defendida com a Bíblia somente, e seus princípios refutam os princípios adventistas. Ainda, que o sábado não está na tradição, mas está no que escreveu Ellen White, que corroborou a interpretação bíblica feita pelos adventistas do sétimo dia.

Portanto, para o católico é tradição apostólica que o domingo é o dia do Senhor, e para os adventistas, conforme autoridade de Ellen White, o sábado deveria ser guardado e não o domingo.

Para quem crê na tradição, é dogma a guarda do domingo. Para os adventistas que seguem o espírito de profecia de Ellen White, é dogma a guarda do sábado. A discussão bíblica deve ser feita, mas o leitor deve concordar que as interpretações estão fechadas nos respectivos campos, o que prova que Ellen White é de grande autoridade para a IASD.

Para resolver isso, basta ir à Bíblia e ver a autoridade da Igreja Católica, e crendo nela, estudar o que a mesma ensina sobre o domingo, com sua fundamentação bíblica, e como responde a cada objeção adventista, de forma que é possível concluir que o domingo é de fato o dia santo de guarda.

 

 

 


 

Capítulo 11

Ellen White e as doutrinas distintivas do adventismo - Parte B

Imortalidade da alma

Aniquilacionismo

A ressurreição de Moisés

Essa interpretação é tipicamente adventista. Se não é baseada em Ellen White, é fraca biblicamente, como já tenho afirmado em outros estudos, quando se compara com a doutrina da ressurreição da virgem Maria.

A afirmação de que a Bíblia não sustenta a imortalidade da alma não procede. Assim, se Moisés apareceu no Monte, como de fato apareceu, não é necessário que tenha ressuscitado. Se ressuscitou, isso não depõe contra a imortalidade da alma. Se não ressuscitou, isso sim é um grande problema para os adventistas.

A aparição implica ressurreição. Simples raciocínio adventista. Mas, uma vez que a imortalidade da alma está provada biblicamente, a aparição de Moisés apenas quer dizer que sua alma apareceu a Jesus e aos dois apóstolos. Primeira prova não se sustenta.

A comunicação com os mortos proibida se dá no contexto de uma evocação. Não há qualquer versículo bíblico que proíba conversa com alma dos mortos que porventura apareçam. Assim como se pode conversar com os anjos, pode-se conversar com uma alma que venha a aparecer. A segunda prova também não se sustenta.

Deus enterrou o corpo de Moisés. Esse foi o momento em que Miguel veio, pois certamente foi ele que sepultou Moisés. Por ordem de Deus, é claro, e assim se diz que Deus o sepultou. A menção a Miguel acontece com referência ao sepultamento de Moisés.

É estranho que Deus tenha posto Moisés no sepulcro para depois ressuscitá-lo. De fato, a Bíblia não indica que isso tenha ocorrido, mas explica que não há até aqueles dias o conhecimento do local onde Moisés tinha sido sepultado.

Essa terceira base é interessante, mas não é tão forte. É um entendimento, uma plausibilidade, que explica o motivo de Satanás querer o corpo de Moisés. No entanto, tendo-se em conta que ele contendeu com Miguel no momento do sepultamento, essa dificuldade se desfaz. Nesse caso, ele queria evitar que Moisés fosse sepultado. E isso é algo humilhante na Bíblia. Veja que o rei de Isaías 14 não é sepultado, assim como as duas testemunhas de Apocalipse 11. E as testemunhas foram proibidas de serem enterradas. Satanás queria humilhar o servo Moisés.

Quanto ao entendimento fluir da Bíblia e não de Ellen White, isso ficou claro. Aqui apenas há a contra argumentação.

A virgem Maria ressuscitou. O silêncio desse fato na Bíblia não prova nada, e argumentar com o silêncio é uma falácia, um argumento inválido, para usar palavras do autor quanto ao caso de Moisés. Esse entendimento teológico é bastante coerente, profundo, e explica o caso da assunção da virgem Maria. Raciocinar a partir dos princípios.

Agora, que tudo está compreendido, vejamos o caso tradição apostólica e Ellen White. Foi visto que o argumento tem base na Bíblia, no entendimento de princípios que levariam a tal conclusão. No entanto, na interpretação católica não há tal entendimento sobre Moisés, e não há esse dado na tradição. Quanto à virgem Maria, a tradição sempre apontou para a sua assunção do céu ressuscitada e glorificada. E a IASD afirma que Deus poderia ressuscitar Maria mas não há como provar isso, não há base para supormos. Não se pode conjecturar sobre fatos não revelados, e nestes casos, o silêncio é eloquência (Virgem Maria morreu e está no Céu? - Centro de Pesquisas Ellen G. White (centrowhite.org.br)).

Não sabe o autor do artigo que a Bíblia tem muito, mas muito mesmo, que prova que a virgem Maria foi assunta ao céu. E isso é mais evidente quando se compara a base para crer na ressurreição de Moisés.

Portanto, a autoridade da tradição comprova a ressurreição de Maria para a ICAR e a autoridade Ellen White comprova a ressurreição de Moisés para IASD. Um é dogma católico e outro é dogma adventista.

Mas, e se Moisés ressuscitou? O que ocorre com a doutrina católica? Nada. E o fato admitido de que a virgem Maria ressuscitou, qual o impacto sobre a doutrina adventista? Muito. A própria tradição de que a alma de Maria foi reunida ao seu corpo é negada pela doutrina adventista, que não crê na imortalidade da alma. E sua doutrina é inquestionável porque foi confirmada por Ellen White.

Assim, temos que a doutrina adventista nega esse dogma, indiretamente pela autoridade de Ellen White, sem qualquer argumento contra a assunção de Maria, como mostra o artigo de Alberto R. Trimm (Veneração de Maria - Centro de Pesquisas Ellen G. White (centrowhite.org.br)).

 

Miguel

Decreto dominical

 

 

Fechando o tópico, o leitor certamente entendeu que toda a discussão doutrinária pode ser levada tendo em consideração apenas a Bíblia, e que a doutrina católica é inteiramente Bíblia. Ainda que não haja no Catolicismo qualquer exigência de que a tradição não possa ser usada para provar doutrina, pelo contrário, mas fica verificado que a autoridade da tradição torna a interpretação certa e imutável. Assim também, a autoridade de Ellen White transforma uma interpretação bíblica adventista em dogma.

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Estudo do Capítulo 6

Reconhecendo a mensageira

 

No estudo desse capítulo, será analisada a doutrina protestante adventista que ele apresenta, e uma contribuição para o entendimento da doutrina católica para o público adventista.

Para tanto, far-se-á uma comparação, que para muitos pode parecer estranha, mas que há muito significado e auxilia no entendimento da doutrina da Tradição divina ou Tradição apostólica para o Catolicismo, ao passo que se entende melhor a relevância da mensageira Ellen Gould White no Adventismo.

A mensagem defendida no livro “Conselhos de Ellen White...”, para fazer conhecer melhor a posição adventista sobre Ellen White, sua profetisa “não-canônica”, afirma entretanto que a mesma (1) não traz nenhuma regra que já não esteja na Bíblia, (2) não serve de base para doutrinas, (3) não é fundamento e centro de sermão.

Ela é usada por muitos como se fosse uma “resolvedora de questões bíblicas”, base para determinadas práticas, centro e fundamento de sermão e especialistas em todas as áreas, e etc. Isso não deveria ocorrer, afirma o livro. Portanto, pode-se acrescentar, Ellen White não é comparável ao magistério da Igreja. Para o adventismo, ela estaria como que em um patamar inferior ao da Bíblia em termos de autoridade, mas em igualdade em termos de inspiração.

Isso porque entende-se que o que Ellen White traz para a IASD já está na Bíblia, e leva à busca dessa verdade na Bíblia, de modo que ela é uma luz menor que leva à luz maior. No entanto, como veremos, sua importância é tão grande na IASD que ela está em termos práticos, pelo menos, como a Tradição divina está para a Igreja Católica.

Voltando ao que o capítulo 6 do livro apresente, esses usos da mensagem de Ellen White, como mencionados, são desvios do que a mesma ensinava. Isso significa que se os críticos afirmam que tudo isso é posição que deve ser tomada pela Bíblia somente, estão certos, e devem saber que a profetisa Ellen White ensinava o mesmo.

Essa questão nos leva a entender mais o papel de Ellen White para a Igreja Adventista do Sétimo Dia – IASD, e comparar com o que a Tradição Apostólica tem em relação com a Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR.

Isso mesmo. É muito interessante o que essa profetisa tem em termos de autoridade para o Adventismo, chegando a ser como que a tradição para o Catolicismo. Talvez isso ajude a quem estuda a doutrina católica e seja de origem adventista. Os demais protestantes precisam entender melhor o que é a tradição divina para a ICAR e o que significa a mensagem de Ellen White para a IASD. Os adventistas, por sua vez, já bem entendidos sobre Ellen White, precisam saber o que é a tradição divina para a Igreja Católica e perceber as semelhanças com aquilo que sua mensageira significa para sua igreja.

Pois bem. Alguém poderia citar Ellen White como se fosse a Virgem Maria na Igreja Católica, por ser tão admirada e seguida. Mas isso não tem lugar no Adventismo, já que ali não há culto de veneração a Ellen White, embora “venerem-na” (a respeitam, a amam, a honram, etc.) de fato pela sua doutrina e em sua memória. Mas, não é essa a questão, e se referir desse modo seria algo muito superficial. Ela não tem no adventismo o tratamento comparável a uma santa católica.

Também, Ellen White não poderia ser o Magistério da Igreja para a IASD, pois isso é uma comparação superficial, pois nenhuma vez ela se colocou para ensinar questões de fé e prática, com autoridade como se fosse outra instância com a Bíblia, nem foi consultada para dirimir questões nesse âmbito, com essa ênfase, não teve esse papel e não é admitida como sendo o lugar onde se procura para resolver assuntos de fé e prática para os adventistas. Então, também ela não é semelhante ao magistério da Igreja Católica. E o protestante adventista faria bem conhecer bem o que significa o magistério católico, caso queira entender melhor a comparação que se faz aqui com relação a sua mensageira.

Agora, entendendo bem o papal de Ellen White no Adventismo e da Tradição no Catolicismo, temos de admitir que há pontos semelhantes, que levam a afirmar que de fato a profetisa adventista não-canônica é como que a tradição para IASD. Não crer em Ellen White impossibilita ser um adventista.

Dito doutro modo, o adventismo possui uma tradição. Essa de alguma forma influi na sua interpretação bíblica, etc. Mas, Ellen White é maior que a tradição adventista, pois ela funciona para a Igreja Adventista como a tradição católica é para a Igreja Católica. Assim, Ellen White tem autoridade maior para o adventista que sua própria tradição.

Não se trata de afirmações categóricas de Ellen White nesse sentido, nem do Adventismo, como se o mesmo a reconhecesse assim, em suas afirmações oficieis, pois é sabido que a posição protestante geral é oficialmente o Sola Scriptura, assim como a persuação adventista o é, e portanto não poderia haver outra fonte doutrinal infalível para a Igreja a não ser a Bíblia.

O que se está aqui demonstrando é que de fato Ellen White tem papel semelhante àquilo que a Tradição Apostólica tem na Igreja Católica. Para termos essa ideia é preciso conhecer o que é a Tradição Apostólica como regra de fé católica e o que Ellen Gould White significa para o Adventismo como profetisa não-canônica. Fazendo isso, é possível perceber a afirmação acima.

O livro faz uma apresentação do que é uma profetisa não-canônica e afirma que isso não rivaliza com o princípio Sola Scriptura. Esse ponto é interessante, pois na Igreja Católica o entendimento da Tradição Apostólica e sua função na Igreja também não cria rivalidade com a Bíblia. No entanto, não há na Igreja Católica o princípio que exige que tudo o que é relativo à fé e aos costumes seja resolvido pela Bíblia. Voltemos ao ponto em questão: o papel de Ellen White no adventismo está conforme o Sola Scriptura assim como a Tradição se harmoniza com a Bíblia no catolicismo. Em seus respectivos campos, há harmonia.

É importante notar, agora, que no Catolicismo é oficialmente reconhecido que há três regras de fé, sendo a Bíblia, a tradição e o magistério, o que já supõe que é pacífico que essas regras estão em plena harmonia. A Bíblia e a Tradição são duas fontes ou dois modos pelos quais a doutrina cristã flui na Igreja Católica, e o Magistério é um organismo que regula as fontes. Se o termo fonte de doutrina não for o melhor, quando se sabe que há uma só fonte da doutrina, que é Deus, poderia ser usado modo de apresentação da doutrina, sendo dois, um escrito e outro oral. Mas, na prática não faz diferença.

Por isso, ao fazer a comparação com Ellen White e o Sola Scriptura não se está fazendo comparação com o Protestantismo como um todo, mas com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em particular, que tem oficialmente Ellen White como profetisa e entende que está em perfeita harmonia como princípio protestante Sola Scriptura.

A prova sobre a continuidade do dom de profecia é bastante clara, e nisso o autor adventista acertou e refutou visões contrárias. Essa posição está conforme a doutrina católica.

E nisso, ao entender que o dom de profecia tem a ver com o testemunho de Jesus na Igreja, e tendo em vista a compreensão do dom de profecia com a verdade presente apresentada por Ellen White como não acrescentando à Bíblia, temos também que esse pormenor é possível entender em relação à Tradição e a Bíblia no Catolicismo, onde as doutrinas da tradição estão de algum modo, explícito ou implícito, na Bíblia, não tendo o papel de introduzir nenhuma novidade teológica em termos de salvação para ser crida como doutrina obrigatória para toda a Igreja.

É preciso saber que há uma diferença crucial. De fato, a Igreja Católica oficialmente afirma que há três autoridades, a Bíblia, a tradição e o magistério. Desse modo, havendo alguma doutrina que seja encontrada somente na tradição oral, isso não invalida sua admissão no credo católico, já que não há necessidade que a mesma tenha sua expressão clara no texto bíblico. Mas, isso é bastante interessante, pois é notável que todas as doutrinas católicas possuem fundamentação bíblica profunda, de modo que é possível percebê-las, mesmo que por seus princípios, e às vezes por fatos em passagens bíblicas, e que é possível prová-las pela Bíblias somente.

É, por isso, oportuno notar que Ellen White é uma profetisa que, de acordo com o autor adventista, possui um papel onde sua mensagem não acrescenta algo à doutrina que deve ser crida, e é subserviente à Palavra de Deus. Assim, seguindo o princípio protestante, todas as instâncias doutrinais são testadas à luz da única instância infalível, que é a Bíblia.

Para a Igreja Católica não há necessidade que outras instâncias como a Tradição e o Magistério sejam testados à luz da Palavra, pois se entende que há harmonia entre Bíblia e Tradição e que há o carisma da infalibilidade do Magistério quando o assunto é fé e prática.

Ellen White tem o ministério de “exortar a congregação à fidelidade bíblica”, através dos seus escritos, ajudar no crescimento espiritual dos irmãos e prepará-los para o futuro.

A Tradição católica tem a função, comumente percebida no decorrer dos séculos, de fazer entender melhor a Palavra de Deus. Traz alguns traços que lhe são próprios, como certos costumes e certas doutrinas ou ênfases ou interpretações consensuais sobre certas passagens bíblicas, de modo que é luz para a vida cristã. É a própria tradição que apresenta o cânon bíblico. Desse modo, a tradição é Palavra de Deus. Ela foi a pregação apostólica, portanto inspirada.

Dessa forma, Ellen White é tida no adventismo como profetisa, mensageira, inspirada. É uma pessoa que traz consigo tamanha autoridade. No caso da tradição apostólica, temos que os apóstolos foram inspirados a ensinar e escrever, e assim o que ensinaram oralmente é de autoridade divina. Então, a tradição apostólica é de autoridade máxima na Igreja com a Bíblia. Embora Ellen White seja apresentada como luz menor, ela possui uma autoridade no adventismo imensa, por ser tida como inspirada, e tendo confirmado doutrinas.

O caso de Guilherme Miller pode ajudar a entender a questão de Ellen White. De fato, Miller cria na Bíblia, foi um estudante aplicado e sincero, convenceu-se de sua interpretação, pensou estar sendo guiado por Deus. E ainda assim, errou em certos pontos. Um adventista não diria o mesmo sobre Ellen White e a doutrina adventista por ela confirmada.

O próprio fato de muitos “marcarem datas” para a volta de Jesus mostra o equívoco tremendo que tinha o movimento, pois a Bíblia é explícita ao afirmar que sobre esse dia e hora não há revelação.

Caso Miller fosse católico, e estivesse trazendo uma mensagem nova, uma interpretação inigualável, algo que estivesse fazendo alvoroço na Igreja, e isso levasse mesmo a um concílio, seria preciso que a mensagem de Miller estivesse de acordo com toda a doutrina cristã pregada e crida durante dos todos os séculos, que fosse acatada pela opinião geral dos fieis católicos em todo o mundo, sem que nada contradissesse qualquer passagem bíblica nem o consenso dos Santos Padres e Concílios que versaram sobre o tema ou que tiveram algo definido que de alguma forma baliza a interpretação surgida dos estudos daquele homem. Seria impossível que a doutrina de Miller entrasse no rol de doutrinas da Igreja.

Uma vez não encontrada uma ligação doutrinal clara com a Bíblia e a tradição, certamente a doutrina, a interpretação, a mensagem, a revelação, seria refutada. E por quê isso? Porque a revelação foi fechada, não há nenhuma doutrina que possa ser revelada para toda a Igreja após o fechamento da revelação. Isso é pacífico. Católicos e protestantes creem nisso. Assim, os adventistas estão de acordo.

E, então, como a mensagem de Miller foi, de alguma forma, aceita? Isso se dá porque o a IASD é protestante, e no Protestantismo há espaço para essas mudanças. No entanto, nesse caso particular, as revelações a Ellen White tiveram maior peso.

Assim, isso teve a ver com o levantamento de um “profeta” ou “profetisa”. Diante disso, dizemos que tal coisa é compreensível em tempos do Antigo Testamento, quando a revelação estava sendo dada, mas não em questões de fé nos tempos do Novo Testamento. Toda revelação precisa estar em consonância com aquilo que a Igreja oficialmente tem pregado em toda a sua história. E a interpretação de Guilherme Miller não cumpre os critérios católicos.

Então, e o que dizer de restaurar verdades bíblicas? Ou seja, há alguma doutrina que não havia sido descoberta por ninguém e, como no caso de Miller, a partir de certo período foi “restaurada”? No caso da Igreja Católica e de como as coisas funcionam, não há espaço para introdução de novidades assim. Serve para a reflexão do leitor.

Assim também, a visão de Hiram Edson levou à adoção da interpretação da purificação do santuário celestial. E a visão levou ao estudo da Bíblia. Pois bem.

Isso, pelo dito antes, não é suficiente para que uma doutrina seja adotada na Igreja Católica, pois podem existir visões que apresentam doutrinas e textos bíblicos que parecem favorecer a visão, e sinceridade nos estudos, que supõem concordar com as revelações. No entanto, uma vez que a doutrina não é parte do patrimônio cristão e contradiz alguma definição dogmática, em um estudo mais acurado, é possível, e de forma cabal, mostrar onde está o erro da interpretação.

E a partir de 1844: “Nos anos posteriores, Ellen White teria muitas visões que confirmavam pontos já estudados e resgatados por diferentes membros do movimento, incluindo o sábado.” O problema aqui já foi comentado. O sábado, no sentido moral e religioso, dia santificado para o repouso e culto a Deus, é claramente um mandamento que é cumprido no Novo Testamento com a guarda do domingo.

Dessa forma, ainda que existam interessantes interpretações sobre o sétimo dia, e essas foram corroboradas e confirmadas por visões de Ellen White, em relação ao sábado isso contradiz a doutrina dos santos Padres e a doutrina dos concílios, o que mostra que a guarda do sétimo dia, o sábado, não é doutrina da Igreja. Dessa forma, basta um estudo da doutrina bíblica para certificar-se que o domingo cumpre o preceito divino.

Então, o convencimento por estudos bíblicos seguidos de visões não é suficiente para a introdução e doutrina no conjunto de doutrinas da Igreja. É necessário que esteja conforme a tradição.

Então, no Adventismo, se o sábado foi estudado, e os estudos concluíram que o sétimo dia deveria continuar a ser observado como no Antigo Testamento, e teve revelações de Ellen White confirmando as conclusões dos estudiosos do movimento adventista sobre o tema, isso torna o sábado parte integrante das doutrinas da IASD, de modo infalível e irreformável, certo e dogmático.

Para aquele que crê no dom profético de Ellen White é impossível que não creia na obrigatoriedade da guarda do sábado do sétimo dia conforme está na doutrina adventista, pelas bases bíblicas apresentadas na interpretação adventista, o que já cumpre o princípio Sola Scriptura, e pela confirmação da profetisa, é impossível que não creia e ainda seja um adventista do sétimo dia. Não há estudo bíblico para averiguais essa questão novamente, pois para o adventismo isso deverá estar encerrado.

A doutrina da mortalidade da alma é outra que o adventismo adota, e que foi estudada no movimento e teve revelação de Ellen White confirmando a interpretação adventista. Esse último fato torna a doutrina um dogma adventista.

No entanto, essa doutrina antiga, que o metodista George Storrs apresentou no século dezenove ao movimento milerita, que tinha estudiosos citados no livro como Henry Grew e Carlos Fitch, é totalmente refutada biblicamente. É uma doutrina antiga, mas não a original, de origem apostólica.

Se o leitor quiser comprovar isso, basta ler o livro A imortalidade da alma não é lenda, de mais de seiscentas páginas, que está em fase de conclusão, e possui argumentos irrefutáveis, refutando todas as importantes objeções mortalistas.

Isso mostra que ainda que o mortalismo tenha seus pontos fortes na argumentação, e que a doutrina foi confirmada por Ellen White, ela não pode manter-se de pé diante de um estudo bíblico profundo. Também não encontra-se na doutrina dos santos Padres e dos concílios, que mais de uma vez condenaram a doutrina da morte da alma. E, por fim, o consenso universal cristão católico sobre a imortalidade da alma. Isso mostra que é uma doutrina bíblica e presente na tradição apostólica e definida pelo magistério. Nenhuma outra interpretação nem revelação particular pode introduzir outra doutrina.

Para o adventismo, que crê no Sola Scriptura e em Ellen White, o papel da profetisa selou a convicção da interpretação da mortalidade da alma, tornando impossível que um adventista seja convencido de que a alma é imortal e permaneça adventista.

É basicamente assim: nos escritos de Ellen White há a doutrina da morte da alma, da inconsciência dos mortos, e, portanto, essa doutrina é dogma adventista. É uma confirmação de que a interpretação bíblica em questão não pode ser reformada. É o mesmo que encontrar uma definição conciliar sobre o tema. Se o catolicismo definiu que a alma é imortal, isso é dogma de fé, crido por todos os católicos. Se Ellen White escreveu que a alma morre, os adventistas só poderão ser mortalistas.

No entanto, ela não passa no crivo cristão católico: biblicamente todos os argumentos do mortalismo são refutados. Não há nenhum que seja superior aos argumentos imortalistas.

Entretanto, a interpretação católica é profunda, sólida e irrefutável. Ainda, tradicionalmente a Igreja já pronunciou-se contra a doutrina mortalista, mostrando que a imortalidade da alma é um dado revelado. Isso acaba com a possibilidade de que o mortalismo esteja correto. Aqui é preciso entender, conforme o assunto do presente estudo: ou a Bíblia e a tradição ou a Bíblia e Ellen White. O cristão católico estudo a Bíblia e encontra a interpretação autêntica de que a alma é imortal. O adventista só poderá concordar com a interpretação adventista de que a alma é mortal. O católico não pode negar a imortalidade da alma, assim como o adventista não pode aceitar essa doutrina. O fato é que a tradição católica é imortalista, Ellen White é mortalista. Que o leitor compreenda a comparação.

Mais uma comparação torna isso mais claro. Vamos à doutrina do purgatório. Para o catolicismo, essa doutrina possui bases bíblicas, no Antigo Testamento e no Novo Testamento, e foi proclamada na tradição como doutrina revelada. Não há como negar.

No entanto, Ellen White afirma que a alma deixa de existir na morte, o que confirmava o estudo de vários grupos protestantes daquele tempo, e dos grupos que estudavam a Bíblia no movimento adventista, de modo que para o adventismo não pode haver purgatório.

Mais uma vez, ou a tradição apostólica que prova que existe o purgatório, e, portanto, a doutrina está na Bíblia, ou a autoridade da interpretação adventista corroborada por Ellen White sobre o estado inconsciente dos mortos. Então, leitor adventista, é necessário ler o livro que refuta biblicamente as argumentações mortalistas. Há vários artigos do mesmo no blog.

Naquilo que Ellen White ensinou em conformidade com a tradição católica, não há o que objetar, como a doutrina da trindade, e da instrução a não marcar datas para a segunda vinda de Cristo e do cuidado com a saúde. Essas posições fazem parte da doutrina da Igreja e estão corretas.

Diga-se de passagem que se é verdade que a saúde dos adventistas testemunha a correção dos seus modos de vida para o cuidado com a saúde, é verdade que os cristãos católicos que vivem melhor os princípios católicos possuem também saúde acima da média, bastando olhar para os religiosos católicos, onde padres, bispos, cardeais, estão trabalhando com idades superiores aos 90 anos. Aliás, uma freira está entre as três pessoas mais idosas do mundo.

A cidade onde há muitos adventistas possui expectativa de vida de 79 anos. Para fazer uma comparação simples, o estado do Vaticano, de maioria absoluta católica, e que seguem mais de perto as doutrinas da Igreja, possui expectativa de vida de 84 anos.

É digno de nota a passagem que menciona um tema em que na IASD começou-se a ver a “tradição” e “Ellen White” como “resolvedores” de divergências bíblicas e teológicas, ganhando assim “vícios católicos”.

É claro que se assim ocorresse, o movimento adventista teria de adotar uma tradição mais rígida e as revelações de Ellen White não teriam o papel que possuem.

Quando se diz que mesmo os reformadores não acertaram em tudo, é preciso concordar e repetir que é verdade que mesmo os “grandes cristãos do passado” não acertaram em tudo porque é somente a Igreja em seu magistério que, conforme a Divina Providência, quando toma a dianteira para resolver questões de fé e moral é que, nesse caso e somente nesse caso, é infalível, acerta em tudo. Não há na Igreja Católica nenhum indivíduo que tenha acertado no ensino em tudo em termos de fé e prática.

Se se questionar se Ellen White errou em doutrina e prática em seus escritos, o adventista deverá dizer: não. Assim, também, como na tradição apostólica não há nenhuma doutrina errônea.

E quanto ao estudo bíblico e a adoção das doutrinas: “O processo de assimilação não é simples e varia de indivíduo para indivíduo.”, escreve o autor. De fato.

Para um adventista crer, por meio de estudo bíblico, que a alma é imortal, é, como já dito acima, deixar de ser adventista. O motivo é simples: o estudo foi confirmado pela profetisa e, uma vez que se crê que ela é infalível na doutrina, não se pode adotar uma interpretação que negue o que foi confirmado.

E mesmo com a noção protestante da falibilidade da Igreja, o adventista terá de crer que determinada doutrina foi corretamente interpretada e por isso alcançou a graça de uma confirmação da profetisa Ellen White, levando com isso a reconhecer tal doutrina como verdadeiro dogma.

Mas, quanto à imortalidade da alma, cada argumento que forma a doutrina desfaz todos os argumentos mortalistas. Portanto, o mortalismo não pode estar correto.

Dessa forma, a seguinte afirmação: “E manter essa noção é essencial para que o movimento não se julgue infalível, mas procure, pelo estudo constante e com humildade, sempre consertar seus erros e chegar mais próximo da verdade.”, essa afirmação significa que “outras doutrinas” podem ser reformadas etc., mas não aquelas já confirmadas, como a doutrina do sábado, da inconsciência dos mortos e do santuário, por exemplo, que já passaram pela confirmação da profetisa, o que equivale a dizer que é como se fosse um dado da tradição da Igreja, portanto, doutrina revelada. Assim, o que está em Ellen White é tradição, posterior à Bíblia em termos lógicos e cronológicos.

De fato, nenhum adventista se colocará a rever a doutrina da mortalidade da alma em estudos bíblicos, pensando ser possível estar errada e que poderá chegar mais próximo da verdade.

Mas, é um convite para aquele que deseja estudar biblicamente sobre a imortalidade da alma, que leia o livro indicado acima.

Será mesmo que os movimentos que são citados na reforma cristã são de fato “reformadores” e levantados por Deus para levar a Igreja à verdade, apresentando com esses uma mensagem para aquele tempo? Parece que não.

De fato, esses movimentos parecem mais a permissão de Deus para levar a Igreja a reformar-se, sendo heresias que são inevitáveis: “Porque é necessário que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós”. Assim, com as muitas opiniões protestantes, a Igreja Católica saiu fortalecida com o Concílio de Trento, que formou clero santo, abriu escolas, monastérios, publicou catecismo, deu novo ímpeto a missões, favoreceu a vida religiosa renovada, aumentou a prática piedosa de boas obras, mais construção de igrejas arquitetonicamente belas, florescimento da teologia e etc.

Há uma frase interessante no livro: “Pelo contrário, é vergonha pretender infalibilidade quando não se tem.” Certamente se refere à doutrina católica da infalibilidade da Igreja. Mas a Igreja a possui, então não é vergonha ensiná-la.

E, continuando, o autor afirma que um profeta, chamando atenção para o ministério de Ellen White, não tem a missão de dar ao movimento uma interpretação correta de todas as passagens bíblicas e doutrinas. Isso é formidável.

É basicamente o mesmo que é afirmado da tradição da Igreja Católica, ou mesmo do magistério, que não comentário infalível da Bíblia, nunca fez definição de todas as passagens bíblicas, pois tudo o que é revelado é de fé, e não há necessidade de nenhuma explicação infalível para cada passagem bíblica.

E mais: o profeta seria para o movimento não se desviar da missão. De fato, Deus pode levantar pessoas, como os santos, na Igreja Católica, para evitar que seu povo se afaste da verdade. No entanto, quando é necessário resolver questões de doutrina, o meio utilizado por Deus é o concílio.

A Igreja é inerrante, pois como ocorreu no concílio de Jerusalém, o que foi decidido foi a vontade do Espírito Santo, que não pode errar, e foi acatada por todos os cristãos.

Ainda, a relevância de Ellen White é “contínua” para a IASD. Isso mostra mais uma vez o quanto se assemelha à tradição apostólica, que é sempre relevante para a fé católica.

Ellen White foi profetisa, e muito mais uma mensageira da IASD. Isso é interessante. Também, suas doutrinas levam a Cristo, à Bíblia, e são fieis à tradição protestante. É também correto afirmar isso.

Mas, quando se diz que a doutrina do sábado e da mortalidade da alma, o juízo pré-advento, a escatologia historicista, a reforma da saúde, são corretas, isso está equivocado, e basta um estudo bem feito para certificar-se do fato. São coisas que podem surgir do estudo bíblico, mas que não refutam a doutrina original. Para ver isso, leia o livro que prova a imortalidade da alma refutando através da Bíblia todos os argumentos mortalistas. Vários artigos já estão no blog.

E usando as palavras do livro, de que a Bíblia valida Ellen White, por serem as doutrinas adventista oriundas dos estudos bíblicos e corroboradas por Ellen White, sabemos que a Bíblia valida a tradição apostólica: guardai as tradições (2 Ts 2, 15).

Sem Ellen White, na perspectiva interna da IASD, as heresias teriam prosperado no adventismo, afirma o autor. É praticamente a relevância da tradição apostólica, que garantiu a verdade na Igreja Católica, contra erros e inovações.

Lembremos que a tradição mostra como foi formado o próprio cânon bíblico, apontado para a verdade da Bíblia, e afirma a inspiração da Bíblia, garante que a Bíblia é a Palavra de Deus. E a Bíblia, por sua vez, atesta a veracidade da tradição. Ou seja, pela tradição conhecemos que livro foi inspirado por Deus. É como Ellen White no adventismo, que aponta doutrinas que devem estar na Bíblia.

Temos então que na IASD a relevância de Ellen White seria como a tradição para a Igreja Católica.

 

experiência de Edson me parece ter sido um ponto de partida para desfazer confusões.

 


 

Estudo do Capítulo 12:  O Sola Scriptura é bíblico?

 

A Igreja Católica ensina que o critério, o padrão, para se conhecer a doutrina verdadeira, aquilo que devemos crer e praticar, é composto por três elementos: a Bíblia, a tradição e o magistério. O Protestantismo aceita somente a Bíblia.

Ou o princípio Sola Scriptura está correto ou os irmãos católicos estão certos quando afirmam estar em pé de igualdade a Escritura, a Tradição e o Magistério. E agora?

Como a Bíblia é o único texto inspirado, a Igreja Católica ensina que ela tem uma posição singular na fé. Isso é afirmado, embora tenhamos a Tradição Apostólica e o Magistério da Igreja como estando em igualdade de autoridade para a fé e a moral. E o Protestantismo entende que a Bíblia possui uma posição única, de modo que nada mais pode ser de autoridade para definir o que é de fé e prática.

A questão é difícil, e mais difícil ainda é fazer-se entender. Tantos debates demonstram essa dificuldade. Há muito escrito sobre isso, e pouca compreensão. Muitos concluem coisas precipitadamente a respeito desse debate, e isso, na maioria das vezes, parece atrapalhar, já que o resultado é cada um terminar o debate ou a leitura do assunto e estar com a mesma ideia inicial, e com ideias pouco ou nada precisas da doutrina que está combatendo. A conclusão precipitada é uma lástima.

Pois bem. Vamos aos pontos específicos da questão. Quando se diz que a Bíblia é o texto padrão fundamental, única instância infalível, pelo qual toda a doutrina deve ser julgada, isso já pressupõe que alguém irá ler a Bíblia e com seu entendimento irá olhar para as doutrinas e concluir se estão de acordo com o texto bíblico lido ou não. E, portanto, aí começa um problema, ao invés desse princípio tê-lo resolvido.

De fato, todos tempos acesso à Bíblia, e, como cristãos católicos, cremos firmemente que ela é a Palavra de Deus. Assim, ao lermos a Bíblia, estamos diante da Palavra de Deus para nós, e cremos tudo o que ela ensina.

Continua o Protestantismo adventista afirmando que Bíblia é suficiente para conhecermos toda a revelação básica de Deus, não sendo necessário mais nada para acrescentar para que possamos chegar à salvação. Nessa questão não há muito o que objetar, desde que se faça correta interpretação dessa afirmação.

Entretanto, temos a verdade que a Bíblia possui, pelo menos de forma implícita, toda a revelação necessária para que conheçamos e sejamos salvos.

Então, como afirma o adventismo, não há necessidade de complemento doutrinário, ou seja, outra fonte de doutrina. Essa é uma afirmação muita usada no Protestantismo, não é de origem católica, mas é surpreendente que mesmo essa afirmação possui um bom sentido e pode ser admitida pelos católicos, como visto. A Bíblia não necessita de nenhum complemento.

Caso haja divergência entre fontes não doutrinárias e a Bíblia, a Bíblia possui primazia. Isso também está correto.

E, por fim, quando se diz que a Bíblia possui ferramentas para a interpretação de seu próprio texto, é preciso admitir que o leitor, seja ele católico, protestante ou ortodoxo, fará uso dessas ferramentas para interpretar a Bíblia e potencialmente pode falhar. Não há como garantir que a interpretação de alguém esteja correta.

Ainda que haja hermenêutica e exegese, é tamanha a realidade que não se pode negar, tão clara como o sol do meio dia em céu sem nuvens, de que os leitores, os mais bem intencionados, caem em muitas e muitas heresias.

É só lembrar que muitos no próprio movimento adventista chegaram à conclusão de que Cristo não era Deus, negando a trindade, que é um dogma já definido, onde a Igreja, os primeiros cristãos, que combateram os erros com perigo de vida, proclamou nos antigos concílios, respeitados em toda a Cristandade, a verdade da Santíssima Trindade.

Assim, alguns protestantes, pela nova onda no século dezenove de ir à Escritura e fazer livre exame para chegar a novas luzes doutrinais, foram levando para longe da verdade em pontos que já estavam totalmente resolvidos. Estavam tentando reinventar a roda. Assim, no caso adventista, felizmente puderam voltar nesse ponto, novamente, à antiga fé, por outros meios, que serão mais adiante mencionados. Mas em outros, por não seguirem a luz da verdade já brilhante na Igreja Católica há séculos, foram criando outras doutrinas por meio de suas interpretações particulares, como nova denominação.

Então, o conceito Sola Scriptura é um dos que fazem a diferença entre católicos e protestantes, mas quando bem entendido, no seu bom sentido, ele é conforme a doutrina católica, e impossível de conciliar com a protestante. E, nesse caso, já que se está aqui estudando a doutrina em obra adventista, é impossível harmonizar o princípio com o adventismo.

Quando se diz que: “Para os católicos, a Bíblia não é o único padrão para julgar fé e prática, nem a suficiente revelação de Deus para as questões básicas da fé.”, está afirmando que a Igreja Católica possui fontes extra-bíblicas, extra-canônicas, que são consideradas como autoridades infalíveis para as questões de fé.

Assim, explicando de uma forma católica, as obras dos santos Padres, os sínodos, os concílios gerais ou ecumênicos, as encíclicas, as bulas papais, as obras dos teólogos, as revelações particulares, os ritos e cerimônias da liturgia, as festas religiosas e etc., contem a tradição apostólica, que por sua vez traz elementos de fé e prática não exarados explicitamente na Bíblia.

Isso é verdade, é como a Igreja Católica entende a questão. Portanto, não é tudo o que está escrito fora da Bíblia e que está na tradição da Igreja que é considerado tradição apostólica. A Tradição Apostólica está no meio de um inumerável número de tradições da Igreja que é transmitida durante os séculos.  Essas tradições contem a tradição apostólica que vem do primeiro século juntamente com a Bíblia.

Dessa forma, a Bíblia não poderia ser o “único padrão” para julgar questões de fé e prática, pois nos pontos onde há controvérsia haveria apenas o leitor diante do texto da Bíblia para extrair dali o sentido e compará-lo com outros e concluir segundo o ele mesmo como intérprete. É sempre um perigo. E, em termos gerais, nenhuma instituição funciona assim.

Assim, quando se diz que: “Ela requer a complementação da tradição da ICAR e de seu magistério, em especial o Papa.

Dessa forma, há que se entender o que é a doutrina da tradição apostólica. E, obviamente, toda doutrina da tradição deve estar conforme a Bíblia. Para certificar-se disso, deve-se estudar, extrair a doutrina revelada de suas fontes, esclarecer, proclamar oficialmente essas doutrinas cristãs que devem ser cridas por todos os cristãos. E quem faz isso não é apenas uma pessoa, nem qualquer grupo, mas aqueles que compõem o que se chama Magistério Eclesiástico, que é composto pelo papa e pelos bispos, e que estão na linha de sucessão apostólica, seguindo também o senso da fé geral da Igreja, não podendo contradizer nenhuma doutrina bíblica e da tradição já proclamadas.

Basta uma olhada para perceber como o princípio católico é robusto. Nenhum membro da Igreja, nem o papa, pode mudar um dado revelado. Assim, se o texto bíblico devesse ser o único padrão para ser lido e julgar tudo o mais em questão de doutrina, a harmonia acima não poderia mais ser garantida. O Espírito Santo deveria falar com um só, ou com um grupo que deveria ser conhecido como esse canal, e tal critério seria bastante duvidoso.

Mas, se a autoridade da Bíblia, como Palavra inspirada, inerrante e infalível de Deus, é única, por ser o único texto inspirado por Deus na terra, qual o papel da Bíblia na Igreja Católica e sua relação com a tradição e o magistério em termos mais precisos? Isso será respondido seguindo o raciocínio protestante na sua defesa do Sola Scriptura contra a tradição e o magistério. Que o leitor tenha a paciência de seguir o raciocínio na apresentação que segue.

São apresentadas cinco evidências para o Sola Scriptura. A primeira é que Jesus não teria falado das antigas tradições rabínicas nem defendido os escribas e fariseus, o magistério da época.

Mas é preciso responder a isso afirmando que: o magistério antigo não recebeu a mesma promessa do magistério cristão, pois Jesus afirmou que a Igreja nunca será vencida pelos poderes do inferno. É algo novo.

E, além disso, no que se trata de pontos fundamentais, Jesus afirmou que o magistério judaico devia ser ouvido, que suas doutrinas deveriam ser praticadas, e somente as ações hipócritas dos líderes não deveriam ser imitadas. Isso já refuta a objeção que se formou acima.

Com isso, temos que o fato da falibilidade humana dos líderes, e das tradições, não prova o Sola Scriptura, já que quando Cristo afirmou que todos deviam obedecer e fazer tudo o que eles dizem (cf. Mt 23, 1-4), referindo-se ao ensino do magistério judaico, isso mostra que eles conheciam e pregavam a doutrina bíblica correta, o que pressupõe correção nos pontos fundamentais e salvíficos, mas que agiam mal em suas vidas. Levando isso para o Novo Testamento, temos maior razão para crer na correção da doutrina da Igreja Católica ensinada pelo seu magistério, instituído por Jesus Cristo.

E aqui, entra novamente a Bíblia: “Por isso, ela tem autoridade superior.” De fato, diante da vida dos homens, das autoridades da Igreja, dos documentos doutrinais, de tudo o que é ensinado e conservado, a Bíblia possui autoridade suprema.

Desse modo, essa frase protestante é totalmente católica, e estamos aqui em um terreno onde o princípio está sendo estudado, compreendido e desenvolvido segundo a fé católica, com razões bastante claras. E, ao longo da discussão as objeções em defesa do Sola Scriptura estão sendo refutadas. Até o momento não há nada que possa ser afirmado como dificuldade para a doutrina católica.

É importante entender que o magistério possui autoridade de acordo com a Palavra de Deus, não para produzir doutrinas, mas para ensiná-las e defendê-las. Mas o princípio Sola Scriptura leva a afirmar: “Em suma, as tradições nem sempre são boas.”.

E de fato é assim. Por isso, a Igreja somente proclama dogmas em concílios por entender que esses dogmas não são parte de qualquer tradição, mas da tradição apostólica, que é Palavra de Deus e está em conformidade com a Bíblia. Não são todas as tradições da Igreja que são apostólicas.

O fato do Sumo Sacerdote não ter sido dito “infalível” e ter errado em condenar Jesus não é algo que pode ser usado contra a doutrina da infalibilidade papal, pelo já exposto antes, é já expressa certas incompreensões. Os judeus ensinavam corretamente a doutrina (Mt 23), mas foram repreendidos por sua conduta. As tradições que são condenadas e os seus motivos são expressos por Jesus de forma clara. Mas, de modo geral, estavam ensinando corretamente.

Ainda, é preciso entender que um erro jurídico não é o mesmo que um erro doutrinal em matéria de fé e prática. Nem mesmo o papa possui infalibilidade jurídica, política, científica, acadêmica, etc., mas somente naquilo que se refere à fé e à moral em momentos específicos, onde há clara intenção de conhecer, ensinar e proclamar a verdade salvífica a toda a Igreja com a autoridade recebida de Jesus Cristo, o que é entendido por falar ex cathedra. Isso é muito mais do que alguém fazer um estudo privado da Bíblia e ensinar sua interpretação de uma passagem. O papa tem consigo a companhia dos bispos, o estudo dos teólogos, o senso de fé dos fieis em todo o mundo, a tradição apostólica proclamada nos concílios. E, ainda, tem as revelações particulares dos santos e videntes cristãos católicos que atestam a verdade de muitas doutrinas, sem que essas revelações sejam fonte doutrinária.

Depois de compreender isso, é bom lembrar e entender por isso o motivo de Jesus respeitar a autoridade do Sumo Sacerdote, como está em Jo 18, 22, pois Suas palavras não tiveram a intenção de negar aquela autoridade, assim também em Atos 23, 5, onde São Paulo reconhece a autoridade do Sumo Sacerdote.

Dessa forma, o magistério judaico errou, e mesmo o magistério da Igreja Católica pode errar em questões que não estão ligadas diretamente à fé e à moral. Em aplicações da moral, em muitas expressões ordinárias do magistério, pode haver erro.

Assim, há vários exemplos em que atitudes magisteriais foram mal-sucedidas, como no caso específico da condenação de Santa Joana D´arc, e no caso de Galileu e etc., o que não afeta em nada a questão da infalibilidade do papa e do magistério, que versa sobre outras questões. Por isso, o próprio magistério reconheceu a santidade de Joana D´arc e a canonizou, quando soube do erro do processo de inquisição local que julgou aquela santa. Assim, não se pode por razões apresentadas dos erros dos sumos sacerdotes afirmar que o magistério não pode ser infalível em matéria de doutrina.

E a pergunta: “E se não o era em Israel, povo étnico de Deus, por que o seria entre os cristãos?” é um questionamento bastante compreensível, mas contem erro.

De fato, nessa pergunta há contraste e distinção entre Israel, povo étnico, e os cristãos, e deixa transparecer que se no Antigo Israel não houve o carisma da infalibilidade no seu magistério, também não haveria de existir entre os cristãos que “nem” são o povo étnico de Deus.

Essa ideia que é possível ser sentida no texto, e certamente não foi intenção do autor ensiná-la, é um equívoco. Primeiro, porque a Nova Aliança é eterna é superior. A antiga aliança foi provisória, imperfeita, não possuía a promessa da infalibilidade do magistério. Segundo, porque a Nova Aliança foi iniciada pelos judeus que reconheceram Jesus como Cristo, o Messias prometido, e converteram-se à fé cristã, sendo aqueles aos quais a Palavra de Deus foi pregada em primeiro lugar. E, portanto, os primeiros cristãos foram judeus étnicos e da promessa, e formaram o magistério católico, que é sucedido até os dias atuais pela sucessão apostólica. Terceiro, a parte endurecida étnica, que é da promessa, será outra vez enxertada na Oliveira verdadeira, onde já estão todos unidos na Igreja judeus e gentios, usufruindo da promessa que foi dada a Israel.

De fato, a Igreja é o novo Israel, aguardando apenas, por assim dizer, a plenitude dos judeus e dos gentios. Por tudo isso, corrigido o equívoco, como se o que não existiu no antigo povo étnico não poderia existir no novo Israel espiritual, que também contém o étnico, passemos a entender mais o que é infalibilidade, e fazendo as devidas distinções entre antiga e nova aliança, se pode conhecer mais a verdade. Eis as razões bíblicas para entender que o magistério cristão católico é de fato superior ao antigo: mudança de lei, mudança de aliança, mudança de sacerdócio, mudança de magistério, maior graça.

E, assim, tudo o que a primeira evidência mostrou foi que a Bíblia é suprema, e com isso a Igreja Católica concorda plenamente. Não provou nada contra a tradição apostólica nem contra o magistério eclesiástico que estão sempre em conformidade com a Bíblia. Até os exemplos dados sugeriram e deram ocasião para apresentar a verdade de que o magistério católico, por estar no Novo Testamento, deve ser mais robusto. Pelo que foi dito acima, foi possível entender que as razões católicas são sólidas.

Quando na segunda evidência é citada a providência de Deus na conservação dos escritos entre tantos que existiram no Antigo Testamento no Povo de Israel, que iriam compor a Bíblia, devemos tem em mente que o Povo escolhido foi o meio de conservar esses escritos. Isso também aconteceu no Novo Testamente, onde a Igreja Católica teve essa incumbência da onisciente providência divina, e conservou os escritos inspirados do Antigo Testamento e do Novo Testamento desde os dias dos apóstolos, passando pela Idade Antiga, a Idade Média.

Embora tenham havido motivos para fechar a lista dos livros inspirados, isso não ocorreu no Antigo Testamento, e foi feito pelos judeus, já na Era Cristã, e pela Igreja, de forma separada. O cânon do Antigo Testamento foi definido nos mesmos concílios com o cânon do Novo Testamento, o que mostra que foi parte da providência de Deus para definir toda a questão. E, certamente, Deus guiou os concílios cristãos referentes ao cânon.

Na evidência 3 temos que a Bíblia no AT praticamente possui os mesmos conceitos quando se compara a Torah e os profetas, conceitos esses que foram aplicados, ampliados, desenvolvidos e explicados.

É bom lembrar que a tarefa dos concílios católicos também sempre envolve essas ações, de aplicar os conceitos da Palavra de Deus, de ampliá-los, de fazê-los conhecer melhor, de desenvolvê-los, de explicá-los, de tal forma a não deixar dúvidas. Enfim, é praticamente isso que faz a definição de um dogma.

Quando se reconhece que a Torah em certo sentido era suficiente, pois as revelações precisavam desenvolver pontos que já existiam na Torah, é uma ótima ocasião para entender também que nesse sentido a Bíblia é suficiente na Igreja Católica, pois tudo o que é preciso fazer para desenvolver certa doutrina e defini-la para o Povo de Deus tem de estar em conformidade com os conceitos revelados na Bíblia, nunca se desviando dela, com todos os conceitos de seu conteúdo inteiro. Todos os dogmas católicos estão em conformidade com a Bíblia.

E se Jesus ensinou algo que talvez não seja possível encontrar os conceitos na Torah e nos Profetas? A resposta é que Ele é Deus.

Correto, Jesus é o Messias e veio revelar tudo o que é necessário para fazer parte da Sua Igreja.

E, além disso, essa ideia é importante para entender que a Igreja Católica muitas vezes traz certas práticas e ensinos que estão menos claros no texto bíblico, mas ela é a Igreja de Jesus Cristo, que tem autoridade para ensinar e para exigir obediência. Enfim, tudo o que a Igreja ensina está em conformidade com a Bíblia. A Igreja não cria doutrinas.

Na evidência 4 temos que os escritos inspirados do NT tiveram aval e monitoramento dos apóstolos. Isso é formidável, e parte do plano de Deus para manter intacta Sua Palavra. De fato, a Providência mantém intacta a revelação escrita, e também oral.

E esse fato: “Embora, como no caso do AT em Israel, algumas comunidades cristãs divergissem um pouco quanto a quais livros deveriam compor o cânon do NT, a maior parte dos livros era aceita pela maioria dos cristãos.”. Essa afirmação requer a admissão de que foram os concílios católicos que definiram o cânon bíblico, pois se apenas um livro está em discussão geral, a autoridade da Igreja se tornou necessária para definir a questão. E sabe-se que vários foram objetos de divergências.

Na evidência 5 o argumento de que não havia Sola Scriptura durante a vida dos apóstolos, já que não havia Escritura ainda no Novo Testamento, pelo menos, é tida como argumentação frágil. Mas não é.

De fato, não há nenhum registro e nem o conceito de que os cristãos usassem do livre exame para garantir a correção da pregação apostólica. Muito pelo contrário.

Se a pregação dos fatos foram sendo julgados pelas Escrituras for a Sola Scriptura, então tudo bem, e isso não é tão divergente da doutrina católica. De fato, tudo o que a Igreja prega está em conformidade com a Bíblia, e pode ser verificado nela.

No entanto, é preciso frisar que não havia espaço para alguém ensinar algo diferente do que os apóstolos pregavam. Do contrário, seria anátema. Imagine um cristão afirmando que é necessário circuncidar-se para ser salvo, ainda que os apóstolos em concílio chegaram à conclusão contrária. Assim, a Igreja pregava com autoridade, ensinava o evangelho, e todos aderiam conforme a autoridade de Deus dada à Sua Igreja.

Os bereanos foram elogiados, mas não eram cristãos. Eram pessoas que ouviram a pregação e crendo estarem os apóstolos de fato de acordo com as Escrituras, que prometiam o Messias, abraçaram a fé. A partir dali, se viram sob a autoridade dos apóstolos para aprenderem o evangelho. Isso é Sola Scriptura somente no sentido harmonioso com a fé católica. Ninguém julgava a pregação apostólica por pelo livre exame.

Em outras palavras, quando um católico vai à Bíblia para julgar uma doutrina com que teve contato, estaria fazendo uso do princípio Sola Scriptura, no sentido católico, já que ele faz interpretação correta, conformando-se à autoridade eclesiástica, que está em harmonia com a interpretação oficial. Pode ser que encontrou em algum lugar uma doutrina, e percebeu pela sua leitura da Bíblia que ela está correta e aceitou seu ensino. Assim, fez uso do princípio Sola Scriptura, se essa doutrina de fato está correta e, portanto, é ensinada pela Igreja.

Se os bereanos ficaram convencidos de que os apóstolos pregavam o verdadeiro Messias, por ter ido às Escrituras e se certificado do fato, essa atitude do Sola Scriptura não contradiz a fé católica.

Somente se depois os bereanos se pusessem a julgar a pregação apostólica alegando estarem fazendo comparação do que estava na Bíblia do Antigo Testamento e, talvez, em algumas partes do Novo Testamento já escritas, e discordassem do ensino apostólico, então estariam fazendo livre interpretação contra a autoridade dos apóstolos, o que fere o princípio cristão católico.

De fato, esse modelo não se encontra em lugar nenhum na Bíblia, nem em toda a história da Igreja, sendo sempre algo errôneo. É preciso entender isso para compreender a argumentação católica sobre o assunto.

Na verdade, aqueles judeus se converteram à fé cristã por reconhecerem Jesus como Messias. Eles aceitaram a fé cristã e se submeteram ao batismo, à ceia, não mais creram na circuncisão como meio de salvação, etc., etc., sem questionar nada mais, pois sabiam que ali estavam os representantes da Nova Aliança. Partiram das Escrituras e, por isso, foram à autoridade da Igreja e lhes deram crédito. Por outro lado, isso está conforme o modelo Bíblia, Tradição e Magistério.

Há atitudes do modelo Sola Scriptura que estão conforme a fé católica, enquanto que outras, que estão no entender católico, e são de fato Sola Scritptura, refutam as objeções protestantes do Sola Scriptura protestante.

Ainda, a Tradição era obviamente recente no primeiro século, mas já começaram algumas disputas sobre a fé, e essas foram resolvidas pela autoridade dos apóstolos, e não pela interpretação bíblica de alguém.

Então a Bíblia está em conformidade com a Tradição e o Magistério. Portanto, não há como a tradição apostólica ser “avaliada de acordo com a Bíblia” por cristãos de outras épocas, pois essa tradição vem juntamente com a pregação da Bíblia na vida da Igreja, ininterruptamente ensinada. Ela é expressa autoritativamente nos concílios.

Também, a ideia de que os antigos estão mais despreparados do que os intérpretes atuais, pela evolução das ciências, dos achados arqueológicos, e etc., supõe que a verdade apostólica foi “perdida”, em algum grau, e que agora muitos estão mais próximos dela que os doutores do segundo, terceiro e quarto século, por exemplo. Essa é uma simplificação errônea.

Ainda, lembrar que o cânon bíblico foi definido séculos após os apóstolos, pela autoridade católica, e que por isso não se sabia exatamente, durante séculos, quais eram os livros inspirados com seu número exato. Esse fato é incontestável.

Assim, o próprio cânon bíblico, que foi fechado no tempo dos apóstolos, não havendo mais inspiração para a fé da Igreja após esse período, fechando de forma virtual a revelação, fechamento esse conhecido de forma exata somente por Deus naquele momento, foi uma verdade que só foi definida tempos depois, pela autoridade da Igreja, mostrando um dado da fé apostólica.

Se alguém procura a decisão do cânon bíblico nos três primeiros séculos não encontrará, pois ainda havia divergências tais capazes de levar à resolução por parte da Igreja. Desse modo, o cânon foi conhecido mais tarde, no século quarto, mas sua origem é apostólica, como toda doutrina definida em concílios. A doutrina da Igreja, pregada oficialmente, garantia a pureza da fé, estando sempre em conformidade com a Bíblia, e sempre quando foi necessário abriu-se um concílio para dirimir questões de fé e moral. Um desses exemplos foi a definição do cânon da Bíblia.

 

 Gledson Meireles.