quinta-feira, 9 de julho de 2020

Calvinismo: comentando apresentação de Michael Horton


Segue um comentário sobre a apresentação do Calvinismo por Michael Horton, no seu livro For Calvinism.
Horton afirma que, na polêmica envolvendo a Ceia do Senhor, foi usado em 1558 pela primeira vez o termo calvinismo. 

Podemos afirmar, pelas informações de Horton, que Igrejas haviam recebido esse nome por associação ao seu fundador Lutero, mas as Igrejas protestantes fundadas por Zuínglio, Calvino e outros ficaram sob o nome de Reformadas.

Alguns reclamam dessa designação, pois parece restringir a reforma apenas às igrejas que tiveram maior influência das doutrinas de Calvino.

É claro que, em sentido geral, os calvinistas afirmam que as doutrinas que seguem não são de Calvino, mas são as doutrinas da graça, doutrinas do evangelho, que teriam sido redescobertas por muitos na historia da Igreja, como Santo Agostinho, Lutero, e, especialmente, por Calvino. Há calvinistas que citam Santo Tomás como sendo alguém com quem Calvino concordou em essência na doutrina da predestinação.

Creem quem não estão ensinando a doutrina de um homem, mas entendem que Calvino em linhas gerais foi um bom intérprete das Escrituras e que reestabeleceu, com os demais reformadores, os pilares da Reforma, e que foi o maior sistematizador da doutrina protestante.

Como Michael Horton observa, as Igrejas Reformadas não incluem os escritos de João Calvino na sua doutrina oficial. Isso é feito pelas Igrejas Luteranas quanto aos escritos de Lutero, e nas Metodistas, que subscrevem escritos de John Wesley. Talvez asseverando isso já de início, o teólogo reformado dá um sinal de que a mensagem reformada não tem a intenção de seguir um líder humano. Mas, assim dito, essa é a mesma posição dos luteranos e dos metodistas citados, não havendo diferença quanto à sua ligação aos respectivos reformadores e aos reformadores protestantes do século dezesseis em geral.

Calvino foi o mais influente reformador. As diversas confissões, como a francesa, a escocesa, a belga, a helvética, explica Horton, nasceram devido à diversidade de experiência, mas têm a mesma essência.

As Igrejas Reformadas do Continente, explica o teólogo, abraçaram a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg e os Cânones do Sínodo de Dort. Pode-se afirmar que, a última confissão, de 1648, a Confissão de Fé de Westminster, é de um grande resumo da fé reformada e calvinista.

Há pastores que apresentam a síntese de sua fé como expressa na Confissão de Westminster, por compreender que essa testemunha a fé cristã como ensinam as Escrituras. De fato, esses são documentos de suma importância para entender a doutrina reformada. Na Inglaterra a Igreja Reformada segue os 39 Artigos da Religião.

Outra característica, e uma curiosidade, é que as igrejas reformadas possuem certa divisão organizacional. Parece que o modo presbiteriano é o original, mas as igrejas da Inglaterra e Hungria, por exemplo, são episcopais. Ainda, mais tarde, surgiram os congregacionais, mantendo a doutrina reformada, que chamam as doutrinas da graça.

As Igrejas Batistas que mantiveram a doutrina proposta pelo calvinista, ou ex-calvinista, já que negou pontos importantes da doutrina de Calvino, embora muitos afirmem que no restante ele continuou concordando com o calvinismo.

Jacob Armínio discordava daqueles que mantiveram a doutrina calvinista nos pontos criticados. Há entre os batistas aqueles que não seguem nem as ênfases de Armínio nem as de Calvino. Propõem uma visão mais radicalmente batista, distinta da reformada. Assim também os luteranos expressam a sua fé como essencialmente luterana, não sendo calvinistas nem arminianos. Por aí vemos as diversas linhas de divisão que existem entre os protestantes, e que tocam doutrinas importantes.

Essas discordâncias são vistas por muitos como não justificativas de brigas e divisões, chamando a todos à humilde unidade. Dessa forma, procuram a unidade nas doutrinas contidas nos credos antigos e nos pontos defendidos na Reforma Protestante, para que as demais divergências não sejam tão exaltadas a ponto de levar um protestante a considerar o outro como herege. Nesse caso, há aqueles que explicam a unidade nos dois conjuntos mencionados e liberdade quanto às doutrinas que distinguem as denominações, propondo que os erros teológicos não são divisores, mas somente as heresias, que são doutrinas que tocam o fundamento da fé cristã.

Conhecendo esse cenário geral, continuemos à exposição da fé reformada, conforme Michel Horton. Ele esclarece o que é o novo calvinismo, que apresenta-se como Reformado, embora esteja também em ambiente não reformado, e afirma que a maioria das igrejas reformadas e presbiterianas ignoram ou rejeitam seus distintivos calvinistas. Por isso, há um crescente desejo de revitalização das doutrinas calvinistas, reformadas, de modo que muitos protestantes de outras persuasões estão abraçando a doutrina de Calvino. E, como sempre repetido, a fé reformada é mais do que os cinco pontos do calvinismo.

A tradição reformada tem raízes em Lutero, pois é reconhecido que Calvino foi influenciado pelos escritos luteranos, assim como por Martin Bucer. Calvino era amigo de Melancton. Outros como Heinrich Bullinger, John Knox, e etc., também formaram a tradição reformada. As primeiras expressões da doutrina nos catecismos reformados distinguiam a doutrina em contraposição com o Catolicismo e os anabatistas.

Outra afirmação é que Calvino enfatizou mais o amor e benevolência de Deus em Cristo do que a soberania e autoridade.

Horton mostra que a ênfase na doutrina da predestinação é um fruto histórico, e vem à tona por meio das controvérsias. E que o calvinismo não tem um dogma central.
O autor afirma que o calvinismo tem sido caricaturado e distorcido, assim como o arminianismo. Essa é um boa constatação, e é fruto de quem está engajado em estudos como esses, que se relacionam com os debates entre calvinistas e  arminianos.

Gledson Meireles.

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