terça-feira, 5 de maio de 2020

Identificando a Igreja: a Igreja nas Epístolas a Timóteo e a Tito


São Paulo escreve a São Timóteo, por volta do ano 62, para que ele cuide da Igreja em Éfeso. Logo no início da epístola ele previsse contra “doutrinas extravagantes”, que são ensinos que não estão conforme a verdade.

Certamente, as heresias que incomodavam aquela comunidade vinham do gnosticismo, mas também dos judaizantes. De fato, no v. 7 são citados “pretensos doutores da Lei”.

No verso 20 São Paulo menciona dois cristãos que haviam sido excomungados, os quais foram Himeneu e Alexandre. O motivo era terem se afastado da verdade, que abandonaram o bom combate (v. 19).

Aprendemos muito sobre a organização incipiente da Igreja naqueles dias. Os bispos e diáconos recebem conselhos no capítulo 3. Ainda os títulos de bispo e presbítero eram usados para as mesmas funções. No entanto, existiam os presbíteros que formavam um corpo subordinado a um presbítero-chefe ou bispo-chefe, que mais tarde foi chamado apenas de bispo, enquanto grupo a ele obediente foi chamado presbitério, pois constituído de presbíteros, que são os padres.

Havia falsos doutores que ensinavam certas proibições, quanto ao casamento e à alimentação. (1 Tm 4,1-6) Essas doutrinas são chamada de diabólicas no v. 1. Essas são heresias condenadas, que não devem ser adotadas pelos cristãos.

No geral, a epístola dá conselhos aos bispos, aos diáconos, aos homens, às mulheres, às viúvas, aos anciãos, aos escravos. Todos estão sob a autoridade apostólica, constituindo a igreja organizada e conduzida por um apóstolo ou por alguém constituído por um apóstolo. Timóteo é colocado com o objetivo de ensinar o evangelho, combater as heresias, julgar o que for necessário. Assim, 1 Tm 5,19 mostra que São Timóteo tinha incumbência de julgamento, quando presbíteros recebessem alguma acusação. Foi estabelecido necessário duas ou três testemunhas para formalizar o processo. Essa passagem mostra que Timóteo exercia a função de bispo sobre os presbíteros locais. Ele respondia diretamente ao apóstolo São Paulo.

A Igreja é a casa de Deus. Por isso é citada no singular em 1 Tm 3,15. O sentido evidente é a totalidade da Igreja, e não somente a comunidade de Éfeso. Não é uma igreja local que é mencionada, mas a Igreja Católica. É a Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade.

Naqueles tempos, as igrejas particulares formavam um único corpo sob a liderança apostólica. O governo central estava em Jerusalém, com o colégio dos apóstolos. Mais tarde a sede foi transferida para Roma, quando os apóstolos Pedro e Paulo sofreram martírio por volta do ano 64. Jerusalém foi atacada e destruída no ano 70, enfraquecendo sua influência por algum tempo. Pode-se notar essa tendência na carta aos Romanos, que mostra o desejo de São Paulo de ir para Roma. São Pedro exercia um papel de primazia entre os apóstolos, como fica claro em muitas passagens, como na visita de Paulo em Gálatas e no Concílio de Jerusalém, narrado nos Atos dos Apóstolos, ocorrido por volta do ano 50. Os doze apóstolos eram inspirados por Deus, não necessitando de que um governasse o outro. No entanto, possuíam uma unidade exemplar na doutrina que pregavam e escreviam, e reconheciam a dignidade primeira conferida por Cristo a Pedro.

Dessa forma, as igrejas em cada localidade respondiam diante do governo eclesiástico de Jerusalém. O centro era a cidade santa de Jerusalém. Por isso a carta conciliar foi enviada a todas as igrejas, que deviam seguir as decisões tomadas no concílio. Essas verdades são tratadas na história da Igreja dos Atos dos Apóstolos.

A doutrina cristã deve ser guardada intacta. É o “depósito”, “os ensinamentos salutares que recebeste de mim”, o “precioso depósito” (2 Tm 1,12.13.14). Naqueles tempos alguns cristãos deixaram a comunhão da Igreja Católica, como indica a menção a Figelo e Hermógenes, citados no v. 15.

A heresia pregada por Himeneu e Fileto era referente à ressurreição. Certamente ensinavam uma ressurreição espiritual, que já teria acontecido, negando a ressurreição da carne. Essa doutrina é duramente reprovada. São Paulo afirma que eles “se desviaram da verdade” e que “transtornaram a fé em alguns”. Isso mostra que as heresias estavam disseminando-se aos poucos, mas os hereges eram excomungados. Será isso uma divisão na Igreja? De forma alguma, uma vez que aqueles que ficaram firmes no evangelho pregado por Paulo, e confiados também a Timóteo, conservavam a unidade, e não deram crédito às palavras se Himeneu e Fileto.

Os que foram levados por eles saíram da comunhão da Igreja, sendo esses os que deixaram a fé, que afastaram-se da verdade, e não os que ficaram. Os que ouviram a voz inspirada dos apóstolos eram unidos na mesma doutrina, obedecendo aos mesmos pregadores, e não estavam desunidos, mas antes eram um só corpo, como está nos Atos dos Apóstolos, pois viviam unidos, tinham tudo em comum, unidos em um só coração (Atos 2,44.46). Por essa perspectiva, não houve quebra de unidade.

Dessa forma, mesmo diante das heresias, a Escritura continua no verso 19: “Contudo, o sólido fundamento de Deus se mantém firme, porque vem selado com estas palavras: O Senhor conhece os que são seus (....)”. “Os seus” se referem àqueles que estão na unidade da Igreja. A perseverança na verdadeira doutrina e unidade com a Igreja é um sinal da eleição. E continua: “Renuncie à iniquidade todo aquele que pronuncia o nome do Senhor”.

Timóteo era exortado a conservar-se “isento dessas doutrinas” (2 Tm 2,21), a fugir das paixões da mocidade, as evitar as discussões tolas, a corrigir os adversários (vv. 22-25), o que é dever de todos os cristãos.

Denunciados com autoridade são também aqueles que vivem na imoralidade, “sempre a aprender sem nunca chegar ao conhecimento da verdade” (1 Tm 3, 7). Comparados a Janes e Jambres que resoltaram-se contra Moisés (v. 8). Resistir à verdade pregada pela Igreja é uma atitude estritamente reprovada.

Então, São Paulo diz a São Timóteo: “Tu, pelo contrário, te aplicaste a seguir-me de perto na minha doutrina, no meu modo de vida, nos meus planos, na minha fé, na minha paciência, na minha caridade, na minha constância” (v. 10).

São Paulo mostra-se como exemplo seguido por São Timóteo, quando reprova aqueles que resistem à autoridade da verdade pregada pela Igreja, que é a casa de Deus, a coluna e sustentáculo da verdade. A santa Igreja não constitui apenas coluna, que dá firmeza, que fortalece, mas também sustentáculo, que é o suporte da verdade, alicerce da verdadeira doutrina, o fundamento do Evangelho. Os dissidentes são desautorizados e admoestados por pregar algo contra a doutrina apostólica. E não somente isso, são excomungados, expulsos da comunhão, tirados da unidade visível da Igreja. Essa disciplina serve para a conversão.

As Sagradas Escrituras são o firme fundamento para a sabedoria que conduz à salvação, para a capacitação para toda boa obra. (2 Tm 3, 14-17) Dessa forma, a Escritura e a Igreja estão entrelaçadas na exposição da verdade que todo cristão deve crer e professar para a salvação. A Igreja é anunciadora da doutrina das Escrituras.

Em 2 Tm 4, 3-5 afirma que os homens não mais serão dóceis à sã doutrina, e por seus pecados e desejo de novidades, ajuntarão para si mestres, que, dessa forma, pregarão contra a verdade.

No v. 10 o apóstolo menciona Demas, que o abandonou “por amor das coisas do século presente”. Mas cita também outros companheiros que permaneceram na verdade  como Crescente, Tito, Lucas, Marcos, Tíquico. Aliás, São Lucas e São Marcos também foram inspirados para escrever os evangelhos.

Outro nome de um herege é Alexandre, do qual São Paulo reclama ter sido maltratado e de ter enfrentado “oposição cerrada à nossa pregação” (2 Tm 4, 14). Portanto, não são especificados os pontos que Alexandre não cria, mas que negava o evangelho pregado por Paulo e Timóteo. Tudo isso demonstra que a Igreja sempre enfrentou heresias, mas mantem-se a unidade e a contrapõe a elas.


A Igreja na Epístola a Tito


 
Logo nos primeiros versos, no v. 5, encontra-se a tarefa de organizar a igreja, de estabelecer anciãos em cada cidade, conforme as normas traçadas por São Paulo. Isso mostra que São Tito é um bispo que tem a incumbência de preparar as comunidades cristãs, numa posição hierárquica acima dos presbíteros. Como bispo pode consagrar bispos, presbíteros e diáconos. Ele responde diretamente ao apóstolo São Paulo.

Algo importante é que o presbítero ou bispo deve guardar a doutrina da fé que foi ensinada. “Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem”. (Tito 1, 8-9) O bispo não tinha que aprender por si somente a palavra de Deus através da leitura das Escrituras, mas aprender a doutrina já estabelecida por Cristo e ensinada pelos apóstolos. A leitura devocional das Escrituras, para alimento espiritual, com está em 2 Tm 3,14-17, é dever dos clérigos e de todos os cristãos, pois constitui o sustentáculo da fé, feita conforme a doutrina da fé ensinada pela Igreja, que é segundo a mesma Escritura. O exame das Escrituras é realizado na comunhão da Igreja.

Então, passa a mencionar questões que dizem respeito à heresias. “Há muitos insubmissos”, v. 10. São Tito é ensinado a repreender com severidade os cristãos “para que se mantenham sãos na fé’. (v. 13) A doutrina ensinada é de Deus, nosso Salvador. (Tt 2,10) São alguns exemplos as doutrinas da graça de Deus para salvação, da vida santa, da vinda de Cristo, do Seu sacrifício salvífico e da Igreja, como estão em Tito 2, 11-15.

No versículo 10 encontra-se do conselho de evitar o homem que fomenta divisões, aquele que após advertido duas vezes ainda continua no seu caminho. Esse condena-se a si próprio (v. 11).

São Paulo cita outros colaboradores seus, como Ártemas, Tíquico, Zenas e Apolo, que são alguns que o auxiliavam na pregação do evangelho e nas boas obras cristãs.

Dessa forma, mais uma vez apresenta-se a unidade da Igreja estabelecida pela pregação do evangelho tal como é anunciado pelos apóstolos, tendo as heresias e os seus fautores dura repreensão. Está pois identificada a Igreja na Carta a Tito, que não está com os insubmissos, mas com aqueles que estão sob a autoridade de São Tito e de São Paulo.
 
Gledson Meireles.

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