segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Tradição Apostólica

O apologista protestante Lucas Banzoli afirma que a tradição é o seguinte:

1. Uma doutrina que não se encontra na Bíblia em lugar nenhum.

2. Uma doutrina que foi transmitida somente oralmente.

3. Uma doutrina não-escrita e não-bíblica (i.e, fora das Escrituras) que foi conservada pela Igreja de Roma.

4. Uma doutrina que serve para complementar as Escrituras e que está a par dela.

5. Uma autoridade de fé distinta das Escrituras, que serve para comprovar doutrinas que não se encontram na Bíblia.

Afirma que, para o católico, tradição significa isso; que se trata do “encanto católico” que irá quebrar, e que mostrará o que realmente significa tradição nos escritos patrísticos. Afirma que para os padres da Igreja “a tradição servia apenas para interpretar as Escrituras”. Interessante que essa foi a conclusão a que cheguei estudando a doutrina católica, de que a tradição é um comentário das Escrituras.

Então, no estudo do autor ele está combatendo a ideia de que a Tradição tem o intuito de, 1) ser autoridade a par das Escrituras, 2) fornecer base para doutrinas que não se encontram na Bíblia, 3) e provar o significado de que a Bíblia não é suficiente “em si mesma”. [Não nego que existam cristão católicos que pensem assim.]

Nesse estudo aqui refiro-me apenas ao que a Igreja Católica ensina sobre a Tradição, o que encontramos normalmente nas fontes católicas, que explicam sobre a tradição, e comparo com o que o Lucas afirmou sobre o que os católicos crêem sobre tradição.

Se o Lucas estiver correto, então o restante dos seus artigos sobre a Tradição Apostólica desenvolvem-se criticando um elemento real do Catolicismo, e assim deve-se ater à crítica. Se não, sua crítica começa por uma suposição falha. Nesse caso temos que analisar outros pontos.

Em escritos católicos, incluindo documentos oficiais da Igreja (que já são parte da tradição), temos que a tradição consiste:


  1. “nos ensinamentos que os apóstolos transmitiram oralmente através de sua pregação”. [explicação em artigo com IMPRIMATUR: +Robert H. Brom.]
  2. Há aqueles que explicam a tradição como “uma fonte de Revelação Divina.
  3. “A Sagrada Tradição é o ensino oral de Jesus Cristo transmitido aos seus apóstolos, os quais por sua vez transmitiram aos seus discípulos (os primitivos Padres da Igreja), e então à próxima geração, e assim finalmente a nós.”
  4. A tradição às vezes refere-se ao objeto transmitido (doutrina, etc.), e também ao órgão ou modo de transmissão. [Enciclopédia Católica]
  5. A tradição transmite a verdade revelada “somente em formulas humanas.” [Enciclopédia Católica]
  6. Pela tradição “cresce o conhecimento tanto das coisas como das palavras que constituem parte da Tradição”, “faz compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma Sagrada Escritura e torna-a operante cem cessar.” [Dei Verbum, 8. Texto Mês da Bíblia, 2012]
  7. “... o conteúdo doutrinário da Sagrada Tradição Católica, naquilo que nos é proposto a crer com fé divina e revelada, está também contido na Bíblia, ao menos implicitamente.” [Pe. Lício Legnar]
  8. A Igreja preserva “as tradições não escritas”, e reconhece como Palavra de Deus, que transmitem a “verdade salvífica e as regras de conduta”. Portanto, reconhece “também as tradições, se elas são relativas à fé ou à moral”. [Sessão IV, Concílio de Trento]
  9. A tradição guarda os elementos da Bíblia ajustados apropriadamente para apresentar a doutrina. Então, “não é uma revelação separada, secreta e paralela”. Essa visão é condenada pela Igreja Católica. [baseado no que escreve o apologista Mark Shea].
  10. “Tradição, que é o veículo oral da Revelação de Cristo.” [Alessandro Lima, Veritatis Splendor]
Observação: embora às vezes se fale da tradição como “fonte” da Revelação, a Igreja parece preferir a explicação de que a tradição é outra “via” ou mesmo outro “modo” de transmissão da Revelação. A fonte da Revelação é Deus.

O Lucas afirma que os católicos entendem a tradição como doutrina que não está na Bíblia, que veio até hoje somente de forma oral, e que não foi escrita, também não está na Bíblia, e que serve para complementar a Bíblia, e que é uma autoridade para comprovar as doutrinas que não estão na Bíblia. Ficou claro. Nada da tradição está na Bíblia e a tradição é para comprovar conteúdos não bíblicos e completar a Bíblia.

Pelo que a Igreja ensina, a tradição é onde aprendemos o ensino oral de Jesus e dos apóstolos, em fórmulas humanas, fazendo a Escritura ser mais claramente compreendida por nós, e que sua doutrina está na Bíblia. Temos que devemos crer que a Tradição é uma via de transmissão da Divina Revelação (como que a fonte oral, ou modo oral de transmissão, mas da mesma fonte: Deus), e que seu conteúdo é bíblico, levando-nos a compreender melhor a Palavra de Deus.

Essa comparação mostra que a doutrina católica tem a tradição como Palavra de Deus, de conteúdo doutrinal igual ao da Escritura, e que difere apenas por ser um modo indireto da Revelação, que ajusta os dados da mesma para melhor esclarecê-los, para depois explicá-los e então defini-los, sendo uma instância bíblica, apontada pela Bíblia, e ao mesmo tempo fora da Bíblia.

Resumindo a comparação:


Tradição Apostólica segundo as fontes católicas
Entendimento do Lucas sobre a Tradição Apostólica na doutrina católica

Conteúdo doutrinário igual ao da Bíblia, e que leva à melhor compreensão da Bíblia

Doutrina que não se encontra na Bíblia

Modo de transmissão oral da doutrina

Somente oral
Via de transmissão indireta, mas também escrita, nos documentos etc., da doutrina bíblica

Não-escrita e não-bíblica
Ligada à Escritura

A par da Escritura

Autoridade de fé apontada pela Bíblia
Autoridade de fé distinta da Escritura


A comparação evidencia diferença de doutrina entre os documentos da Igreja e os escritos do apologista Lucas Banzoli referentes à tradição. Assim, o autor deve primeiramente corrigir esse erro, nos pontos necessários, para continuar a crítica que faz de escritos patrísticos sobre a tradição apostólica.


Obs.: a tradição estar "a par" da Escritura no sentido de ser "outra via" "outro modo" de transmissão, com conteúdo ligado ao da Escritura, estando fora dela, ao lado dela, como expressão dela, então está correto. Se o "a par" da Escritura significa isso nos escritos aludidos acima, então está correto. Se não, há o que corrigir.


Exemplo: a assunção de Maria é um fato que não é descrito na Bíblia. Nesse sentido não é bíblico. Mas, em sua natureza a doutrina está de acordo com a doutrina da Bíblia, onde os princípios estão na Bíblia. Portanto, a doutrina é bíblica.

Como se conhece: pelos escritos da Igreja, que mostram a tradição. Por que é mantida? Porque está conforme a revelação bíblica, e por isso foi proclamada dogma.
Entre os protestantes, de modo semelhante, há o Dispensacionalismo, surgido no século 19 com Darby. Segundo é explicado se trata de uma doutrina que sempre existiu, pregada desde o início do Cristianismo, e que foi resgatada no século 19, como algo que estava em declínio, em esquecimento, etc., e não é vista como algo novo, como sendo uma heresia. Em princípio, tem-se que a afirmação é de que a doutrina contida no dispensacionalismo é bíblica. Há quem afirme o contrário, mas existe o fato.


Gledson Meireles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário