quinta-feira, 9 de abril de 2020

Provérbios 16,4: castigo dos ímpios

“Tudo faz o Senhor para seu fim, até o ímpio para o dia da desgraça.”

(Provérbios 16, 4.)

A doutrina reformada entende esse verso, à luz de tantos outros que tratam do assunto da Soberania de Deus, e que são pelos calvinistas elencados e ajustados sistematicamente em torno da questão, fazendo parecer que há uma leitura contextual da Escritura para o ponto estudado, que o mesmo estaria afirmando que o Senhor Deus criou o ímpio com o propósito de condená-lo a fim de mostrar sua ira, justiça e glória.

No entanto, o texto não afirma isso. Obviamente uma heresia só pode influenciar bastante se em seu bojo houver muito da verdade, e em sua linguagem externar semelhança de uma correção doutrinal. É como Satanás aparecendo disfarçado em anjo de luz. Ninguém crê em um erro se ele claramente revela seus absurdos. Por isso, é de pensar que muito do que é dito sobre Provérbios 16,4 na teologia reformada seja de fato verdadeiro. No entanto, sua conclusão é errônea.

De fato, o texto afirma que a desgraça do ímpio contribui para manifestar a justiça de Deus. É o que ensina a nota explicativa da Bíblia Ave Maria. Não é o mesmo que está na explicação calvinista? Apenas em parte, pois os reformados entendem que Deus criou o ímpio para o mal, e para a condenação. Pelo contrário, o texto afirma que tudo foi feito por Deus, até o ímpio para a desgraça, não tratando diretamente da questão da criação do ímpio para esse fim.

Literalmente tudo o que foi feito é criação divina. O homem ímpio também existe por criação de Deus. Mas a Bíblia afirma que Deus não criou o homem nesse estado. Para iluminar uma passagem obscura e que está levando a conclusões terríveis, basta estudar a Palavra de Deus e encontrar textos claros que tratam diretamente da questão, e que o sentido que procuramos será revelado.

Em Eclesiastes 7, 29 está escrito:
“Somente descobre isto: Deus fez o homem reto, mas é ele quem procura os extravios”.
O rei Salomão trata da criação do homem em estado de justiça, saindo das mãos de Deus em retidão. No entanto, ele se torna mau por procurar extravios. É uma passagem clara sobre a criação do homem bom e como ele se torna mau. Assim, Provérbios 16,4 já trata do homem no estado da maldade, por pura culpa sua, e que a sua condenação mostrará a justiça de Deus.

A própria passagem de Provérbios 16 ensina isso. O verso 1 afirma que o homem tem projetos no seu coração, o que nos faz pensar na natureza humana livre compondo planos em seu interior. Mas afirma que o Senhor tem a resposta, mostrando a Soberania de Deus que cuida dos Seus planos perfeitamente.

O verso 2 afirma que os caminhos parecem puros aos homens, mas Deus sonda os corações e é Ele quem conhece profundamente a realidade das coisas.
O verso 3 aconselha entregar os negócios a Deus para alcançarmos êxito. Temos ação de Deus e do homem revelada.
Chegamos ao verso 4 que trata do homem mau feito para o dia da ira. Não foi o Senhor que o fez mau, mas ele mesmo, como diz a Escritura, entrou nesse estado.
Então, Provérbios afirma, com toda a Escritura, que tudo fez o Senhor, e o ímpio está incluído no plano de Deus, que criou o homem bom, mas que ele tornou-se mau por desobediência, por isso será castigado no dia do juízo, por ter escolhido a iniquidade.
No estudo da eleição incondicional ficará mais clara essa questão.

Gledson Meireles.

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