O sentido do título Corredentora dado à virgem Maria
A nota Mater Populi fidelis, do Dicastério para a Doutrina da Fé, trata sobre alguns títulos marianos, e tem causado debates entre os católicos e recebido enorme atenção dos protestantes.
Na
internet há inúmeros vídeos e comentários sobre o tema. Há os que dizem que a
Igreja mudou a interpretação, e que Maria não é mais corredentora. Outros
sugerem que a interpretação não foi radical, mas que a Igreja Católica deu
passos em direção à Reforma Protestante. Ou seja, essas duas opiniões afirmam
que houve mudança essencial na doutrina.
O
que diz a doutrina de que Maria é corredentora? Embora não seja um dogma, muito
foi escrito a respeito do tema. É fé da Igreja a corredenção de Maria. E o
documento do Dicastério o afirma no parágrafo 5: “A participação de Maria na
obra salvadora de Cristo está atestada nas Escrituras...”.
Parece
que poucos leram essa parte que tem o subtítulo de “A cooperação de Maria na
obra da Salvação”.
Aos
que dizem que a doutrina mudou, está aí a própria documento afirmando que não.
Maria possui um papel na redenção, ela participa, como sempre ensinou a
doutrina católica, como está nas Escrituras Sagradas.
No
entanto, a Igreja está tratando do “título” de Corredentora e seu significado.
Como se dá essa participação. É um título que tenta expressar a doutrina de
sempre, mas que foi usado no século XV até o século XVIII, conforme o documento.
Por isso, não é o título a própria doutrina, mas uma forma de expressá-la. E,
pelo que se diz, o título não foi usado desde o início, mas foi uma expressão
utilizada no século XVI para tratar do assunto que já existe.
É
justa a preocupação da Igreja a respeito dos mal-entendidos que o título pode
causar? A resposta é sim. Basta ver os vídeos que o tema inspira e notar que
muitos não entendem a doutrina. Muitos católicos e, obviamente, os protestantes,
estão entendendo a questão.
É
óbvio que para o protestante Maria “não” tem cooperação nenhuma na obra da
redenção. Mas a questão é debatida no orbe católico.
Claro
também que Maria não é salvadora, não é redentora, não é corredentora,
portanto, ela não pode salvar a ninguém, nem a si própria, pois o único meio
capaz de salvar é Jesus Cristo por seu sangue derramado na cruz. Essa é
doutrina católica.
E
agora, qual é então essa participação de Maria na redenção? Por que os títulos
de redentora e corredentora foram usados? Que papel teve Maria na redenção, que
fez muitos darem o título a ela de redentora ou de corredentora? Esse é o ponto
básico.
Assim,
é de se esperar que as explicações não ultrapassem o dogma de que Cristo é o
único Salvador. Tudo mais deve ser exposto por uma linguagem que não cause
problemas o máximo possível.
Todos
temos união com Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Mas a doutrina católica
mostra a união de Maria com Deus de forma especial, pois ela foi criada para
ser o meio do Filho de Deus tornar-Se Homem. Esse é ponto básico.
A
relação de Maria com Seu Filho Jesus é espiritualmente usada por Deus no
mistério da salvação da humanidade. Após ser salva, Maria entra no plano da
salvação associada a Jesus. Assim, como ela, e depois dela, todos os salvos.
Toda
a função de Maria no mistério de Deus é ser cooperadora de Deus. É o que afirma
o padre Júlio Maria, no livro Por que amo Maria?. É uma forma de desenvolver uma secundária na doutrina: “Jesus é Redentor”.
Se
Maria coopera em tudo com Ele, ela é corredentora. No entanto, esse título deve
ser explicado para não contradizer a verdade de que Jesus é o Único Redentor.
Essa
verdade vem por muitas afirmações bíblicas e patrísticas: Santo Agostinho
afirma que por Maria veio a salvação. É óbvio que há um sentido para essa
afirmação, e não é o de que Maria é a salvadora, mas de que por meio dela
nasceu Aquele que é o Salvador. É uma forma de considerar a importância de
Maria na salvação.
A
doutrina bíblica de que a queda veio por um homem e por uma mulher leva a
entender o mesmo da salvação. As devidas proporções devem ser mantidas. Este é
o cerne da doutrina, de origem bíblica.
“Só
Jesus é nosso Redentor”, afirma o padre. É interessante notar como ficam
perplexos os protestantes quando vêem os padres na internet comentando a
doutrina mostrando que é fé cristã católica que Jesus é o único Salvador.
Eles
não compreendem como pode então haver corredentora. De fato, o nome não
expressa exatamente a doutrina. Por isso, o Dicastério acerta em dizer que o
título é inoportuno.
Outra
explicação do padre Júlio: “As preces e os méritos de Maria Santíssima são de
ordem essencialmente inferior às de Jesus”. Portanto, são de outra ordem. Só
Jesus possui preces e méritos de Redenção. Os de Maria são de criatura e
associados a Cristo por vontade de Deus.
E,
por isso, Maria tem preces e méritos essencialmente diferentes dos demais
santos, ainda que todos os santos tenham preces e méritos também. É uma forma
de mostrar o papel de Maria como mãe de Jesus e associada a todo o mistério da
Sua vida. Apenas isso.
Então,
o título de corredentora é explicado como de “associada ao Senhor”. Parece
bastante claro agora.
Vamos
assim tornar tão claro como o sol ao meio dia, no verão e o céu sem nuvens,
para não ficar nenhuma dúvida quanto à expressão.
Deus
associa criaturas à Sua obra. Deus ilumina o mundo. E como Deus faz isso? Através
das estrelas, do sol e de todo foco de luz. Poderíamos afirmar que o sol não
ilumina, mas é Deus que ilumina? Seria um contrassenso. É claro que Deus é a fonte de toda a luz, mas
criou um astro para iluminar a terra, e o astro serve o criador para isso.
E
Deus usa também os anjos para iluminar os outros. É o ministério angélico. Quem
ilumina? Deus. Mas podemos afirmar que os santos e os anjos podem iluminar o
mundo. Estão associados a Deus nesse ministério.
Assim,
na obra de salvação Deus associou a virgem Maria. Seguindo os exemplos
percebemos o alcance da doutrina.
“O
mundo inteiro é chamado a cooperar nessa obra”, afirma o padre Júlio. E nesse
âmbito fala da cooperação excelente de Maria que foi chamada por isso de “corredentora”.
Assim,
se alguém disser que na lógica de Maria ser corredentora nesse sentido todo nós
o somos, de certa forma está correto, guardando as devida proporções, pois se
fala da pessoa de Maria em união mais próxima de Cristo, pois foi a Sua mãe,
ocupando o primeiro lugar entre os santos.
Todos
os santos são nesse sentido “corredentores” por seus trabalhos no Reino de
Deus, por seus sacrifícios, por suas preces. Maria o é em grau máximo, pois é a
primeira crente em Cristo. Esse é o entendimento cristão católico. Ela não foi
a causa da sua própria salvação e nem a causa da salvação de ninguém mais. No entanto,
após ser salva foi associada no ministério de salvação por Cristo Senhor, onde
a Igreja, em conjunto, também exerce esse múnus salvífico. Vê-se assim a que o
título se refere.
Em
outras palavras, Jesus agora utiliza dos santos remidos para santificar e
salvar, para distribuir Sua graça uns aos outros. E Maria, sendo Sua mãe, é
unida desde o início na obra da salvação do Senhor Jesus Cristo, é ela á
primeira, a mais importante nessa “corredenção”.
Nada
pode ser acrescentado ao infinito. A redenção de Cristo tem valor total e
infinito. Portanto, a contribuição de Maria é apenas na aplicação dos méritos
de Cristo, que em grau maior ou menor participam todos os santos.
A
comparação com Eva é também essencial. Eva pecou, mas seu pecado pessoal não
teria infectado a humanidade se Adão não pecasse. Assim, efetivamente o pecado
de Adão foi o responsável pela queda geral da humanidade. A corredenção de
Maria não poderia efetivar nada se não fosse a redenção de Cristo. Maria não
poderia ter sofrido por ela e por alguém mais. E ainda assim, a redenção de
Cristo, sozinho, salvou a todos, mesmo Maria, e somente a partir daí, já salva
e santificada, pode associar-se a Jesus para cooperar na salvação das almas.
Essa
é a doutrina católica. O dicastério entende um problema apenas em relação ao
título, preservando a doutrina.
A Igreja nunca ensinou que Maria participou da redenção acrescentando algo, pois é impossível, mas ela recebeu na redenção operada por Cristo, a partir da obra da salvação, a capacidade de associar-se a Ele. Assim, com ela toda a Igreja.
Gledson Meireles.
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