domingo, 11 de dezembro de 2016

Imortalidade da alma: estar ausente do corpo

1 Coríntios 5,1-8

O que é mostrado nessa passagem, sobre o partir e estar com Cristo, significa a realidade da visão beatífica no céu e ou o momento da ressurreição? Foi provado que São Paulo refere-se a deixar os irmãos para habitar com Jesus Cristo, enquanto que a Bíblia mostra que o momento da ressureição será o mesmo para todos. Isso mostra que não é a ressurreição que o apóstolo está apontando.
Em 2 Coríntios 5,1-8 há o seguinte:

1)    Há uma casa em que vivemos neste mundo, que é o nosso corpo.
2)    Deus dá uma nova casa no céu.
3)    Queremos profundamente ser revestidos. Isso mostra que é uma nova roupa por cima da que já temos.
4)    Isso pode acontecer se estivermos vestidos.
5)    Nós não queremos ser despidos. Não há desejo de deixar a nossa veste. Esse termo veste também é uma figura do corpo.
6)    Queremos ser revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Então, o corpo mortal torna-se imortal.
7)    Enquanto estamos no corpo estamos ausentes do Senhor. Isso mostra que na vida estamos longe de Deus, nesse sentido específico, que é estar com Ele pela fé. Queremos ter a visão de Deus.
8)    Mas, o desejo mais íntimo, “desejamos antes”, é deixar o corpo, na morte, para viver com o Senhor, por vista, ou seja, tendo a visão direta de Deus.

Isso é bastante claro no texto, mas a teologia mortalista, que está ganhando terreno a passos rápidos, não aceita essa leitura, e introduz algumas noções que tornam a mesma diferente, e mudam completamente o sentido. A mudança é que nessa nova intepretação, vinda por influência maior da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com o dogma defendido por Ellen White, entendem que São Paulo está falando de estar com Cristo somente na ressurreição, negando muitas das afirmações que estão no texto acima referido. Dessa forma, veremos aqui os mais comuns e mais fortes argumentos de que dispõe essa tese.

São Paulo usa o condicional: “se a nossa casa se desfizer”, ou melhor, caso ocorra a morte, se viermos a morrer, temos a habitação de Deus. O corpo que recebemos de Deus, que é a habitação nos céus, é dado logo após a casa ser desfeita, então não poderá ser apenas a ressurreição, já que não parece haver um hiato aí.

A comparação com o que Jesus diz em Marcos 14,58 é importante para mostrar que teremos o corpo glorioso, o que é verdade. Mas, o que São Paulo fala é que a habitação está “nos céus”. Se isso fosse apenas o corpo ressurreto, pareceria que o corpo está glorioso nos céus à espera da alma que irá para lá. Mas, não é isso. Na verdade, o que é mostrado é a habitação espiritual não definitiva até a ressurreição, e por meio dessa habitação já é possível ter a visão do Senhor, estar com Ele. Não é uma inexistência.
A visão de São Paulo inclui o revestimento do corpo mortal pelo imortal, e isso ele o diz em relação ao momento da morada terrestre ser desfeita. Em nenhum lugar ele deseja desfazer-se do corpo mortal, mas ser revestido, o que é diferente. Como seria possível vestir se não houvesse alma? Revestir também só pode acontecer quando alguém está vivo.

Se na morte a pessoa entrasse na inexistência, a ressurreição seria a criação do ser inteiro novamente, e não um “vestir”, pois essa figura remete à colocação de uma roupa em um corpo. Essa veste pode vir por cima do corpo natural, transformando-o em glorioso, ou pode ser posta na alma, dando-lhe a imortalidade sobre o corpo ressurreto. Mas, antes disso, já pode conferir a vida à alma que está com Deus no céu.

Alguns dizem que Paulo queria morrer para ser revestido. Nada disso. O morto pode ser vestido, com o corpo ressurreto, e o vivo pode ser revestido, na transformação do corpo mortal para o imortal. Desse modo, essa passagem é uma prova da imortalidade da alma, de fato.

Paulo queria estar ausente do corpo? Do ponto de vista mortalista, o v. 8 teria o sentido do desejo de deixar o corpo mortal e receber o corpo glorioso, e assim habitar com o Senhor. O desejo de Paulo seria apenas a ressurreição, e não a morte e o estado intermediário. Deixar o corpo é o mesmo que a casa terrestre ser desfeita. Se isso é verdade, então deixar o corpo não é igual à ressurreição, mas à morte. Assim, todo o argumento construído sobre isso cai fragorosamente.

De fato, “Porque é necessário que isso que é corruptível se revista da incorruptibilidade”, refere-se ao corpo mortal sendo transformado em corpo espiritual imortal. São Paulo está tratando, nessa expressão, dos que estiverem vivos no momento da volta do Senhor.

A citação de Joe Crews argumenta da tensão entre não desejar estar despido e desejar estar com o Senhor, que essa não é compatível com a imortalidade da alma. O problema é que ser despido não é dificuldade para estar com Cristo. Estar sem o corpo não é o desejo humano, pois esse não quer morrer. Mas, estar com Cristo é possível de duas formas: na morte, longe do corpo, e na ressurreição, com a glorificação do corpo. Assim, mesmo que o apóstolo não tenha desejado estar despido, o desejo mais íntimo era deixar o corpo e viver com o Senhor, pois esse último é o que caracteriza toda esperança do cristão.

Outra questão de enorme força para provar a imortalidade da alma aqui, é que a ressurreição é estar no corpo. E, por outro lado, estar no corpo antes da ressurreição é estar longe do Senhor. Visto assim, a expressão estar ausente do corpo não significa ressurreição, mas morte. E estar com o Senhor é somente por meio da alma, até o dia em que haverá a ressurreição da carne. Mais uma vez a imortalidade da alma é provada e conectada à esperança da ressurreição.

Gledson Meireles.

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