A Bíblia afirma categoricamente
a existência do juízo final, que é chamado o dia do juízo, e que ocorrerá
quando da vinda de Jesus no último dia. Para muitos, então, as almas não foram
julgadas ainda, e se já gozassem da vida no céu ou dos sofrimentos do inferno
não seria lógico haver outro julgamento, e isso tornaria totalmente
desnecessário que houvesse o juízo final para cada pessoa. Assim, admitem
apenas um único juízo, que é o do último dia.
Essa é a opção que mais deve
satisfazer àqueles que ensinam que a alma cai na inexistência juntamente com o
corpo. No entanto, os demais cristãos não-católicos que ensinam que a alma é
imortal, e que mesmo assim creem que o juízo é somente aquele do dia final,
esses devem procurar uma forma de harmonizar as duas sentenças.
Para muitos, então, não há
dois juízos para cada pessoa, mas apenas um. A Igreja Católica, por outro lado,
sempre ensinou a existência do juízo particular, já desde o momento da morte,
pois é o que é inferido de Hebreus 9,27. É reconhecido que o texto não é claro
quanto à concepção do autor, se esse estava apenas afirmando o juízo final, ou
se estava referindo-se ao juízo imediatamente após a morte, que é o juízo
particular.
No entanto, devido aos
ensinos da Bíblia de que os mortos já recebem a justa retribuição iniciando
após a morte, como está na parábola do rico e Lázaro, então a fé cristã
católica é de que não pode haver essa recompensa sem que um juízo já tenha
ocorrido individualmente.
A Bíblia afirma que os anjos
que pecaram foram lançados no tártaro, na escuridão, para serem julgados no juízo
final. Embora não tenham participado desse juízo, que é sempre referido no
singular, eles já foram julgados, de certa forma, pois não estão mais na
liberdade do céu, mas foram jogados nas trevas. Longe de Deus não há
felicidade, e assim é de pensar que há sofrimento para esses seres angélicos,
mesmo antes do juízo. De fato, estão presos em cadeias espirituais.
Também, é pertinente pensar
que Deus não pôs os anjos em estado de sono, nem mesmo os destruiu para
volta-los à existência no dia do Juízo, mas os colocou na prisão. Isso ajuda a
entender que as almas são igualmente julgadas, e recebem a devida recompensa,
mas ainda receberão a glória plena quando da ressurreição da carne.
O ensino bíblico é que:
1)
Após a morte há o juízo. (cf. Hebreus 9,27)
2)
Os mortos já experimentam as recompensas
eternas. (cf. 2 Coríntios 5,10)
3)
Então, há um juízo para as almas de cada
pessoa individualmente.
O que está no número um é
verdade ensinada explicitamente na Bíblia, da mesma forma como o que está
expresso no número dois. Desse modo, as duas premissas são fatos bíblicos
manifestos, e irrefutáveis, sendo premissas verdadeiras, fazendo com que a
conclusão seja correta.
O texto de 2 Coríntios 5,10
é claro ao indicar a distinção alma-corpo, pois afirma o que foi feito através
do σώματος [somatos] corpo[1]. A linguagem caracteriza
essa concepção, pois se não houvesse esse subentendimento, não haveria por que
falar em “coisas” “através” do “corpo” feitas, fazendo com que o corpo seja
compreendido como instrumento para alguma ação.
“Porquanto
todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a
fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante sua vida no
corpo, seja para o bem, seja para o mal”. (2 Cor 5,10)
Doutra forma, seja usada uma
linguagem inequívoca, ou seja, “a fim de que cada um receba a retribuição do
que fez, seja para o bem seja para o mal”, ou até mesmo “a fim de que cada um
receba a retribuição do que fez em vida, ou enquanto vivo, seja para o bem seja
para o mal”. Contudo, essa última possibilidade seria ainda uma modo falho de
informar o caso, pois não teria necessidade de afirmar algo feito em vida se a
morte não proporcionasse nenhuma possibilidade de ação da alma. Mas, o texto
grego é enfático em afirmar das obras feitas “através do corpo”, o que supõe a
imortalidade da alma.
Da mesma forma, em Mateus
27,52 é narrado o acontecimento magnífico da ressurreição de santos no dia da
morte de Cristo. E o texto afirma que foram os “corpos” que ressuscitaram, uma
linguagem que tem o mesmo sentido daquela que estamos analisando em 2 Cor 5,10.
Está escrito: “Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos
falecidos ressuscitaram”. (Mt 27,52) A palavra é realmente somata [corpos] no original. Temos assim
que mesmo no entendimento estritamente judaico é possível falar de corpo, em
íntima conexão com a alma, que volta à vida.
Temos assim que o juízo
particular é ensinado nas Escrituras, através das premissas que são delineadas
por uma exegese bíblica verdadeira.
Gledson Meireles.
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