quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Imortalidade da alma: o juízo final


 O juízo

A Bíblia afirma categoricamente a existência do juízo final, que é chamado o dia do juízo, e que ocorrerá quando da vinda de Jesus no último dia. Para muitos, então, as almas não foram julgadas ainda, e se já gozassem da vida no céu ou dos sofrimentos do inferno não seria lógico haver outro julgamento, e isso tornaria totalmente desnecessário que houvesse o juízo final para cada pessoa. Assim, admitem apenas um único juízo, que é o do último dia.

Essa é a opção que mais deve satisfazer àqueles que ensinam que a alma cai na inexistência juntamente com o corpo. No entanto, os demais cristãos não-católicos que ensinam que a alma é imortal, e que mesmo assim creem que o juízo é somente aquele do dia final, esses devem procurar uma forma de harmonizar as duas sentenças.

Para muitos, então, não há dois juízos para cada pessoa, mas apenas um. A Igreja Católica, por outro lado, sempre ensinou a existência do juízo particular, já desde o momento da morte, pois é o que é inferido de Hebreus 9,27. É reconhecido que o texto não é claro quanto à concepção do autor, se esse estava apenas afirmando o juízo final, ou se estava referindo-se ao juízo imediatamente após a morte, que é o juízo particular.

No entanto, devido aos ensinos da Bíblia de que os mortos já recebem a justa retribuição iniciando após a morte, como está na parábola do rico e Lázaro, então a fé cristã católica é de que não pode haver essa recompensa sem que um juízo já tenha ocorrido individualmente.

A Bíblia afirma que os anjos que pecaram foram lançados no tártaro, na escuridão, para serem julgados no juízo final. Embora não tenham participado desse juízo, que é sempre referido no singular, eles já foram julgados, de certa forma, pois não estão mais na liberdade do céu, mas foram jogados nas trevas. Longe de Deus não há felicidade, e assim é de pensar que há sofrimento para esses seres angélicos, mesmo antes do juízo. De fato, estão presos em cadeias espirituais.

Também, é pertinente pensar que Deus não pôs os anjos em estado de sono, nem mesmo os destruiu para volta-los à existência no dia do Juízo, mas os colocou na prisão. Isso ajuda a entender que as almas são igualmente julgadas, e recebem a devida recompensa, mas ainda receberão a glória plena quando da ressurreição da carne.

O ensino bíblico é que:

1)    Após a morte há o juízo. (cf. Hebreus 9,27)

2)    Os mortos já experimentam as recompensas eternas. (cf. 2 Coríntios 5,10)

3)    Então, há um juízo para as almas de cada pessoa individualmente.

O que está no número um é verdade ensinada explicitamente na Bíblia, da mesma forma como o que está expresso no número dois. Desse modo, as duas premissas são fatos bíblicos manifestos, e irrefutáveis, sendo premissas verdadeiras, fazendo com que a conclusão seja correta.

O texto de 2 Coríntios 5,10 é claro ao indicar a distinção alma-corpo, pois afirma o que foi feito através do σώματος [somatos] corpo[1]. A linguagem caracteriza essa concepção, pois se não houvesse esse subentendimento, não haveria por que falar em “coisas” “através” do “corpo” feitas, fazendo com que o corpo seja compreendido como instrumento para alguma ação.

Porquanto todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal”. (2 Cor 5,10)

Doutra forma, seja usada uma linguagem inequívoca, ou seja, “a fim de que cada um receba a retribuição do que fez, seja para o bem seja para o mal”, ou até mesmo “a fim de que cada um receba a retribuição do que fez em vida, ou enquanto vivo, seja para o bem seja para o mal”. Contudo, essa última possibilidade seria ainda uma modo falho de informar o caso, pois não teria necessidade de afirmar algo feito em vida se a morte não proporcionasse nenhuma possibilidade de ação da alma. Mas, o texto grego é enfático em afirmar das obras feitas “através do corpo”, o que supõe a imortalidade da alma.

Da mesma forma, em Mateus 27,52 é narrado o acontecimento magnífico da ressurreição de santos no dia da morte de Cristo. E o texto afirma que foram os “corpos” que ressuscitaram, uma linguagem que tem o mesmo sentido daquela que estamos analisando em 2 Cor 5,10.

Está escrito: “Abriram-se os túmulos e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram”. (Mt 27,52) A palavra é realmente somata [corpos] no original. Temos assim que mesmo no entendimento estritamente judaico é possível falar de corpo, em íntima conexão com a alma, que volta à vida.

Temos assim que o juízo particular é ensinado nas Escrituras, através das premissas que são delineadas por uma exegese bíblica verdadeira.
 
Gledson Meireles.


[1] http://biblehub.com/text/2_corinthians/5-10.htm.

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