sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Imortalidade da alma: partir e estar com Cristo


Filipenses 1,23

Em Filipenses 1,23 São Paulo ensina muitas coisas, e o principal é que na morte o salvo está com Cristo imediatamente.

1)    O morrer é lucro: como é lucro, se o viver já é Cristo? Isso mostra que o morrer é estar com Cristo de forma mais direta que o viver, pois que agora estamos com Cristo pela fé, e temos acesso direto a Ele, pela graça. Então, o morrer tem algo a mais, e só assim poderá ser dito lucro.

2)    Viver na carne traz fruto para o trabalho: então, Paulo fala do seu ministério em vida.

3)    Partir e estar com Cristo: isso demonstra que ele fala da morte.

4)    Incomparavelmente melhor: se o trabalho no ministério evangélico era bom, partir e estar com Cristo (na morte física) é muito melhor. Tal coisa significa o encontro com Jesus já antes da ressurreição.

Conforme mostrado no livro[1] por autores do Protestantismo como Hermes Fernandes, o Dr. Samuele Bacchiocchi, o apologista Joe Haynes, Wolfhart Pannenberg, etc., esse texto estaria mostrando algo como uma inexistência de tempo entre a morte e a ressurreição, e a inexistência igualmente do ser humano morto, de forma a parecer que ambos os eventos, morte e ressurreição, são seguidos imediatamente. Assim, a morte da alma está em face à vida ressurreta como se o acontecimento durasse frações de milésimos de segundo, ainda que no tempo cronológico tenha passado diversos milênios. Nada mais do que isso.

No entanto, a passagem não admite essa interpretação fantástica, bem elaborada, é claro, e fruto de mentes de fértil imaginação, e bom raciocínio lógico dentro de seus respectivos sistemas. Só não tem a ver com o sistema bíblico em si.

Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado no meu corpo (tenho toda certeza disto), quer pela minha vida, quer pela minha morte.” (Fl 1,20) São Paulo afirma que Cristo será com certeza glorificado em seu corpo, tanto na sua vida quanto na sua morte. Esse é o início do tema em questão.

Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”. (v. 21)

Mas, se o viver no corpo é útil para o meu trabalho, não sei então o que devo preferir.” (v. 22)

Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-se para estar com Cristo – o que seria imensamente melhor;” (23)

Mas, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós...” (v. 24)

Persuadido disso, sei que ficarei e continuarei com todos vós, para proveito vosso e consolação da vossa fé”. (v. 25)

A Palavra de Deus é tremenda, é um martelo contra toda heresia, e bateu na heresia que critiquei acima, de modo a não deixar senão o pó da mesma!

Em primeiro lugar, São Paulo está certo de que Cristo será glorificado no seu corpo, mesmo se ele morrer. Depois, ele afirma que o morrer é lucro. Mas, há uma tensão: o seu trabalho no evangelho, com sua necessidade de um lado, e o seu desejo de partir e estar com Cristo, que é o mesmo que morrer, do outro lado. E qual o motivo de falar da morte nessa passagem? A razão é que no v. 13 ele menciona a sua prisão.

Dessa maneira, essa pressão está de difícil alívio. O v. 23 afirma que partir e estar com Cristo é muitíssimo melhor, e o v. 24 afirma que viver seria “mais necessário” por causa dos cristãos, que são edificados com o ministério de Paulo entre eles. Não há dúvida aqui: ele está falando da morte para encontrar-se com Jesus antes dos demais cristãos, mas que, pela necessidade desses, ele foi persuadido de que viveria ainda mais, para proveito dos cristãos, para a consolação na fé deles. (cf. v. 25)

Assim, se ele falasse da morte e ressurreição do ponto de vista de uma entrada sem percepção sob a perspectiva psicológica no intervalo de tempo cronológico, por causa da uma suposta inexistência da alma na morte, então a implicação seria, como já afirmei em certa ocasião, ao estudar essa passagem, seria como afirmar que estava cansado da obra evangelística e desejaria logo morrer, ainda que sabendo que seu encontro com Jesus se daria no mesmo momento do encontro dos outros fieis com Ele. Isso soaria como uma confissão do “desejo de partir” que o apóstolo tinha, e nada mais. De fato, como seria diferente, desse suposto sentido, pedir a morte sabendo que a visão do Senhor somente seria realidade na ressurreição? De fato, quando alguém apresenta Fl 3,20 como contexto dessa passagem, afirmando que São Paulo cria poder encontrar Jesus somente na sua Vinda, juntamente com todos, o argumentador esquece no v. 25, tratado acima, em que o apóstolo sabia que não morreria ainda, e sua esperança continuava como a de todos pela Parusia. Dessa forma, nada tem a ver com a passagem de Fl 1,23 sobre sua partida para estar com Cristo já a partir da morte. Portanto, o texto de Filipenses realmente significa que São Paulo cria que se morresse estaria com Jesus antes dos que deixaria em vida na Terra.



[1] BANZOLI, Lucas. A lenda da imortalidade da alma, cf. pp. 235-6.

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