É próprio do pensamento
protestante a ideia de que a Bíblia, já pelo texto dos 10 Mandamentos, ensina a
“proibição divina de não confeccionar ícones e prostrar-se diante deles.”[1] A
ênfase parece recair sobre essa última afirmação em especial: “prostrar-se
diante deles”, já que por essa expressão é entendido o que determinaria a adoração.
No entanto, o Protestantismo não admitirá nem ter uma imagem de Jesus ou de um
santo apóstolo na igreja, ou em casa, ou estampado em uma roupa, etc.[2]
De maneira geral, para
o Protestantismo não há lugar para adoração nem para a veneração de imagens. Afinal,
afirma-se que veneração e adoração são a mesma coisa. Primeiro porque ambos os
termos são erroneamente entendidos como tendo significado idêntico.[3] Se
porventura, um protestante entender que há a devida diferenciação, ele pulará
para outra argumentação, afirmando que ainda assim não podemos oferecer nenhuma
honra religiosa a um objeto (veneração - dulia),
porque tal coisa seria dividir a glória de Deus com outrem, o que redundaria em
idolatria.
Por isso, quando algum
cristão católico é visto ajoelhado diante de uma imagem, ou mesmo fazendo
qualquer sinal de reverência a ela, logo concluem que isso constitui o pecado de
idolatria.[4] E
não aceitam ulteriores explicações. Pensam assim porque para os protestantes o
ato de ajoelhar, e de prostrar-se, etc., são sinais claros de adoração, aliás,
o principal sinal, e se forem feitos diante das imagens isso seriam notórias “provas”
de idolatria.
Não obstante conhecerem
os exemplos bíblicos de que os antigos usavam até a prostração diante de
pessoas, os protestantes convencionalmente irão dizer que tais fatos eram
apenas frutos de convenção social, e constituíam um costume adotado antigamente
em determinada cultura, e que não havia nada de religioso e espiritual naquelas
ocasiões, e que aqueles fatos não denotavam honras de veneração, mas apenas
cumprimentos e reverências culturais.[5]
Diante do exposto neste
estudo, essa argumentação, ainda que interessante, e em parte fundamentada em
verdade (só em parte), já que existe em diversas culturas orientais o ato de ajoelhar-se
vinculado mesmo à cultura, ela não é verdadeira quanto ao que se propôs provar.
O estudo bíblico sincero e imparcial prova que os atos de prostração relatados
na Sagrada Escritura, por exemplo, eram religiosos e possuíam grande valor
espiritual, e não meras expressões sócio-culturais de determinado tempo.
Por isso, as objeções
que giram em torno dessa realidade não podem sobreviver a um escrutínio mais
acentuado, e não constituem problema real para a fé cristã e sua prática de
veneração de imagens e ícones.
É um fato verificado
nos debates católico-protestantes a respeito das imagens que, embora haja em
certos casos uma boa argumentação e considerável alcance e profundidade sobre o
tema, os argumentos protestantes revelam não terem captado o cerne da doutrina
católica quanto às imagens.
A sutilidade dessas
coisas torna praticamente quase impossível compreender os pormenores, e chega a
obnubilar o entendimento até dos estudiosos, apologistas e teólogos do
Protestantismo.
Em um diálogo fictício,
criado pelo autor da obra em referência, que traz argumentos reais entre duas
pessoas católicas e uma protestante, sobre a veneração e imagens e a idolatria,
a profundidade de ambos os lados deixa entrever uma ótima compreensão das
objeções, mas também expõe as grandes dificuldades e a realidade de
incompreensão protestante sobre essa temática cristã.
Diante de um conhecido
exemplo esclarecedor do modo como são tratadas as imagens na Igreja Católica faz-se
a comparação com o uso das fotografias. No diálogo citado a personagem católica
apresenta essa comparação.
Contudo, com isso o
protestante responde que o retrato é um objeto artístico e não cultual, que
ninguém presta culto a ela, e tece sua argumentação diferenciando os atos
religiosos em relação às imagens com o que acontece com as fotografias: ninguém
borrifa água sobre as fotos, nem acende velas diante delas, ou prostra-se
perante elas, e coisas assim.
O problema é que tal
argumentação não está compreendendo o núcleo da comparação. Apenas os objetos
devem servir para esse propósito, e cada um em sua respectiva circunstância e
ambiente: a imagem na esfera religiosa e a fotografia no âmbito social e
cultural.
Sendo assim, as
atitudes em uma esfera não serão as mesmas que existem na outra, mas a
existência do objeto nessa questão e a relação humana para com ele é que está
sendo enfatizada. Em uma está sendo tratado o perfil religioso da prática, e em
outra ocasião o seu desdobramento social.
Dessa forma, as
atitudes para com a imagem sagrada serão diferentes daquelas para com a
fotografia, porque os cenários e motivações e ambientes são diferentes. O que
está na base é a relação humana referente a um objeto material, e é esse o
ponto fundamental que deve ser comparado e servir de exemplo.
Por isso, uma imagem
sagrada que é feita para enfeitar, lembrar uma pessoa santa e suscitar devoção
religiosa, terá para consigo atos próprios de devoção religiosa: velas acesas
como símbolo da presença espiritual de Deus na Igreja, carregamento em
procissões como meio de homenagens àquela pessoa ali retratada, queima de
incenso na liturgia, que é símbolo da presença de Deus e da oração da Igreja
que sobe ao trono de Deus, por sua significação, que é fruto da obra do
Espírito Santo e etc.
Mas, para com a fotografia
não há tais coisas, evidentemente, mas existem diversas outras. De fato, a
fotografia é (1) guardada, e (2) revista em várias ocasiões, e (3) serve de
lembrança de pessoas, fatos e acontecimentos. Assim, são (4) expostas em
quadros, folders, camisetas, faixas, outdoors,
(5) são penduradas na parede, colocadas em cima de móveis da casa, para serem
vistas por todos e servirem de ornamentação. São numerosos os usos.
São meios de lembrança
e não raramente são alvos de atos sentimentais: alguém pode emocionar-se ao ver
determinada cena e pessoa em uma foto, sentir saudade, beijar a fotografia, colocá-la
em local de destaque por algum motivo imediato, etc.
Esses exemplos
demonstram o uso social realizado pelo homem para com o objeto fotografia, ato
esse naturalmente fundamentado, da mesma forma que existe na prática religiosa
entre o homem e as imagens. Não se pode confundir uma coisa com a outra por sua
forma externa, para que o princípio que governa essa argumentação não seja
perdido, como acontece diariamente nos debates.[6]
Outro exemplo é o que
vemos na argumentação seguinte: o católico crê que a humanidade de Jesus pode
ser representada. A isso o protestante responde que a encarnação de Jesus “não
nos dá o direito de quebrar o segundo mandamento da Lei de Deus”.
Parece que o argumento
católico não foi entendido, se pararmos a leitura já nessa fase do diálogo. E,
na verdade, isso é comprovado logo que continuamos. Diz o protestante: “Jesus
nunca mandou fazer imagens dele, para que supostamente por meio delas, os fieis
chegassem mais perto de Deus”.
Esse último ponto,
exemplificado pelo protestante, e que expressa o seu verdadeiro entendimento
sobre a posição católica, prova o seu desentendimento da mesma. E prova que o
protestante não entendeu a doutrina católica. Mostrando o que o protestante
pensa sobre a fé do católico, ele supõe que o católico usa as imagens crendo
que “por meio delas” ele está chegando mais perto de Deus.
O grave problema é que
tal coisa não aparece em nenhum documento da Igreja, não é doutrina cristã
católica, e não pode ser acreditado pelos católicos. O protestante pensa estar
refutando algo da doutrina da Igreja Católica, mas na verdade ele tem um
pensamento que é alheio ao que o Catolicismo ensina. Com esse entendimento das
imagens, que supostamente são formas pelas quais alguém aproxima-se de Deus, o
argumento protestante perde mais o seu valor.[7]
Para tratar dessas
questões apresentarei mais alguns exemplos para esclarecer essa difícil
realidade que envolve a profunda problemática que temos experimentado há
milênios.
Mesmo admitindo que a
Igreja usava imagens (sob forma de desenho, pintura, etc.) desde o primeiro
século, a afirmação seguinte é essencialmente o pensamento de todo protestante:
“Ninguém as venerava ou lhes prestava culto, não se dobrava o joelho perante
elas, não eram beijadas, não se queimava incenso ou se dirigiam orações a elas
como se faz hoje diante das supostas imagens de Jesus, de Maria ou dos santos.”[8]
Diante do que foi
estudado, essa afirmação só demonstra o desconhecimento total da doutrina
bíblica, e tem uma base frágil que é usada para atacar os cristãos sobre o
costume de usar imagens e ter reverência por elas.
Entre os judeus e os
primeiros cristãos sempre foram usadas imagens, no templo, nas sinagogas e nas
igrejas cristãs, sejam como símbolos, tipos ou objetos de culto. Sabendo que o
Antigo Testamento testemunha o uso das imagens religiosas, os protestantes
explicam esse fato geralmente afirmando que as imagens eram apenas objetos de
decoração e não de culto.[9]
Para fortalecer sua
posição, afirmam que basta a proibição de Êxodo 20, 3-4 para provar que não há
espaço para uso de imagens na adoração a Deus, sejam elas quais forem. E no que
tange às imagens usadas entre os israelitas, afirmam que as mesmas não eram
adoradas. Assim afirma Karl Weiss: “Deus, de fato, mandou que retratassem
querubins, uma serpente e outras tantas figuras, mas jamais mandou que o povo
as adorasse, tampouco que dirigisse a elas preces ou súplicas.”[10]
Depois, lembra o caso
do bezerro de ouro e da idolatria, fato que quase trouxe a exterminação do
povo. E para explicar a finalidade daquelas imagens do templo, diz o erudito
protestante: “A finalidade de tais figuras sempre foi promover a lembrança do
sagrado, de tudo aquilo que se referia a Deus (templo, arca, etc), de acordo
com o cenário celestial, bem como profetizar o que estava por vir como, por
exemplo, no caso da serpente de bronze, que simbolizava Jesus.” (ibidem.)
Assim, afirma que as imagens são para decoração, para lembrança e para uso
profético.[11]
Mas, ainda não há o
devido entendimento. Para um protestante, os gestos que são dirigidos às
imagens são “adoração”, e por isso eles afirmam que os cristãos católicos são
“idólatras”. E supõem erroneamente que os judeus não faziam nada em relação às
imagens.
Desse modo, nem as
definições de adoração e de veneração convencem, pois eles afirmam que os
católicos fazem o seguinte: “a) Se ajoelham diante das imagens; b) Acendem-lhes
velas; c) Diante delas, fazem promessas; Fazem o sinal da cruz; d) Rezam; e)
Carregam em procissão; f) Constrói-lhes Igrejas; Têm-nas como padroeiro; e o
que mais resta, para caracterizar o culto? Será que não enxergam que os ídolos
os cegaram para que não vejam a verdade? (Is 44:9-18)” (SANTOS, p. 33)
É bom notar que o que
está no item “f” não é verdadeiro, pois não há erguimento de igrejas para
imagens. Há o caso de certas imagens, como a de Nossa Senhora da Conceição
Aparecida, que tornou-se objeto especial, por seu valor histórico, e para
devoção à mãe do Senhor Jesus foi construída uma basílica, não para a imagem,
mas em honra de Deus pelos benefícios alcançados pela virgem Maria. Nenhuma
imagem é padroeira e nem tem uma igreja construída para ela, como afirmam.[12] Ainda,
chamam as imagens sagradas de ídolos, e confundem o que é lícito com o que não
é. Isso faz usarem a Bíblia para atacar algo que está correto.
Há ainda ulteriores considerações
das imagens usadas no Antigo Testamento. Para responder ao argumento da arca e
outras imagens do templo, o autor afirma:
“A arca tinha
querubins, mas não encontramos qualquer registro de atos semelhantes ou mesmo
parecidos, com os que os Católicos fazem hoje! Não havia qualquer forma de
culto ou veneração! Eram apenas objetos de adorno colocados no Santo dos
Santos, aonde somente o Sumo Sacerdote penetrava uma vez por ano (Hb 9:2-7; Êx
30:10). Ali estava a glória do Senhor, onde não havia lugar para idolatria, ou
qualquer outra atitude humana, que não seja adorar e exaltar aquele que é e
será para sempre o nosso Deus Todo-Poderoso.” (ibidem., p. 34)
O autor quer fazer
entender que nenhuma atitude de veneração era dirigida a qualquer imagem do
templo, nem à arca, nem a qualquer outra coisa, e que essas não passavam de
objetos de adorno. Volta-se ao ponto zero de argumentação, que já foi provado
falso. Essa é a posição comum defendida pelos protestantes.
É importante notar,
porém, que o autor responde ao argumento baseado na comparação que é feita a respeito
da veneração à bandeira nacional, o que seria semelhante ao culto das imagens.
Ele discorda da comparação, mas afirma que à bandeira de fato há veneração,
enquanto que às imagens há real adoração, pelas diferenças de atitudes entre
uma e outra ocasião. Se ele assim entende, uma coisa já está resolvida nesse
caso: está estabelecido que existe na veneração algo que é distinto da
adoração. Pelo menos ele intuitivamente concordou, talvez, com algo fundamental
paro o entendimento do tema. Basta seguir o raciocínio e compreenderá o
restante.
De modo geral, os
protestantes apresentam bons argumentos, mas que não ferem a correta doutrina
bíblica. Esses argumentos são úteis e verdadeiros no seu aspecto e lugar
próprios, e não invalidam o uso de imagens na Igreja.
Um dos argumentos é que
as imagens que encontramos no Antigo Testamento foram feitas para fins
específicos, de forma a servirem apenas naquele contexto, e agora não servem
mais. Aliás, são imagens que o próprio Deus ordenou fazer, e que não extrapolam
os limites precisos nos quais foram feitas, e nem oferecem princípio para que
sejam feitas imagens segundo os exemplos bíblicos aludidos.
Nisso, dizem também que
as imagens dos querubins, por exemplo, além de serem tão específicas e servirem
praticamente como apenas um ornamento, eram imagens escondidas do povo, não
vistas senão pelo sumo sacerdote uma vez ao ano, e que não recebiam nenhum
culto de veneração.
Outra coisa seria que,
sendo as imagens os tipos de realidade do Novo Testamento, essas estariam no
contexto da velha aliança, e voltar àquelas coisas significaria cair da graça
(Gl 5,4) Isso é aludido, pelo menos, à pagina 104 do livro citado.
Citando Gálatas 5,4, a
acusação é grave, pois ali São Paulo inspirado pelo Santo Espírito do Senhor
afirma: “Rompestes com Cristo, vós que buscais a justiça na Lei; caístes fora
da graça”. No entanto, o objetor deveria provar que a feitura de imagens
significa voltar à Lei, e que as imagens da igreja são cópias das imagens feitas
sob a Lei, e que possuem mesmo sentido, e orientam às coisas da Lei e não da
graça. Somente assim poderia afirmar que o uso de imagens é cair da graça.
Ainda, afirma-se que as
imagens do Antigo Testamento não serviram para auxiliar a fé. Mas, afirmar isso
estaria em confronto com o princípio bíblico e lógico: “O raciocínio propalado
pelos católicos de que as imagens ajudam a aumentar nossa fé e devoção não tem
suporte bíblico nem lógico. (p. 104)”. Essa afirmação não é provada.
Em primeiro lugar, é
preciso notar que o autor não explica o motivo de existirem imagens no AT, a
não ser quando corretamente reconhece que essas são tipos das realidades
futuras. Sendo assim, não se pode progredir no entendimento, visto que não se
explica a necessidade e a utilidade de meios visíveis, como eram as diversas
imagens, para servirem de tipos de realidade tão sublimes. Ao negar que essa
pedagogia de Deus foi usada para impressionar, suscitar e ser de auxílio à fé
do Povo de Deus, nega-se uma realidade.
Assim como as palavras
pregadas servem para aumentar a fé, os meios visuais a elas relacionados são
igualmente valiosos, e por isso foram usados por Deus. De fato, Deus mesmo
colocou na natureza humana essa necessidade de ser instruído por símbolos
visuais. Negar essa verdade demonstra a fraqueza da argumentação do autor.
Afirmar que as imagens
serviram para fins muito específicos não ajuda, já que as mesmas oferecem o
princípio provado acima, de que são meios úteis e legítimos de ensinar as
coisas da fé. Mudando o contexto, mudam as imagens e não o que pretendeu o
argumento, que seria: mudando o contexto as imagens passam a não ser mais
lícitas.
Afirmar que as imagens
do Antigo Testamento, ou seja, que nenhuma delas era venerada, é negar os dados
da Escritura que mostram o contrário, como está provado na parte bíblica do
presento estudo.
E, por fim, afirmar com
base em Gl 5,4 que utilizar o princípio daquelas imagens da Antiga Aliança é
voltar às coisas da Lei, esquece-se que na Igreja aquelas imagens não são mais
usadas, por serem justamente objetos da Lei, já cumpridos no NT, e por isso as
imagens da Nova Aliança ensinam coisas do Evangelho e do mundo que há de vir.
São decorativas, instrutivas e proféticas no âmbito da graça. Assim, a alusão a
essa passagem bíblica não tem a ver com o caso das imagens no contexto do Novo
Testamento.
Ao tratar da imagem da
serpente de bronze o autor afirma que os judeus talvez pudessem ainda estar
“venerando” a imagem. Nesse ponto, ele cai numa incoerência gigantesca, já que
em sua própria apresentação não há espaço mínimo possível da existência de algo
chamado “veneração” no culto das imagens. Se existe, então o mesmo concorda com
a distinção provada na argumentação feita acima.
Assim, ao conceder que
tal coisa pudesse estar ocorrendo naquele exemplo, ele cai em contradição com
seus próprios argumentos, caindo em incoerência por trair suas próprias
convicções, o que faz pensar que tal afirmação foi feita de modo imperceptível.
Foi um artifício argumentativo que levantou o véu de uma possível capacidade de
entendimento da real situação, mas que pelo contexto geral revela antes que
trata-se de algo que escapou na defesa da tese sem a devida reflexão.
Em outro lugar, quando
analisa as diferenças apontadas na teologia católica entre adoração e
veneração, o autor ataca o que foi apresentado como “adoração relativa”. Ao
comparar com a adoração da santa cruz, o apologista expressa sua compreensão
negando o fato de existir esse modo de adoração, e diz que a adoração relativa,
que em seu entender seria a dulia
poderia alcançar a Deus.
No entanto, a adoração
da santa cruz é um dos exemplos de real adoração relativa por não estar sendo
dirigida ao objeto material, mas apenas tendo-o como referência. Nesse caso,
como a cruz significa o próprio sacrifício do Senhor Jesus, sendo Ele mesmo o
Salvador, então há verdadeira adoração nesse momento, que não recai no objeto, mas
no símbolo por ele engendrado, de modo que esse não é um exemplo de dulia mas de latria. Ficou evidente que o autor não compreendeu esse detalhe em
todo o seu cenário de negação, e certamente não o aceitaria se o tivesse
entendido. Isso pelos argumentos gerais que utiliza, e por sua profunda aversão
às imagens. Essa incoerência não intencional de pensamento foi ressaltada
apenas para evidenciar os obstáculos que existem para o estudo do tema em sua
profundidade.
Voltando ao tema da
adoração da cruz, esse culto é o mesmo que é expresso na Escritura quando diz
que devemos nos gloriar na Cruz de Cristo. É óbvio que não se diz da
necessidade absoluta de fabricação de uma cruz material para que isso aconteça,
mas que também não impede que o símbolo da cruz seja usado. Ademais, essa
prática está em perfeita consonância com o que diz a Bíblia nessa passagem.
Então, quando São Paulo
escreve que ele encontra glória somente na Cruz, esse é o mesmo que afirmar que
adora a cruz, já que tal movimento do espírito encontra-se no rol da adoração
interior, por sua própria exclusividade.
Gledson Meireles.
[1] Paulo Cristiano da Silva.
Desmascarando a Idolatria: o que todo católico precisa saber. Editora CACP, p.
16.
[2]
Há os que aparentemente não
são “expressamente” contra as imagens, mas pregam contra elas, não as usam e
são contrários ao seu uso. Ou seja, são contra as imagens e não o dizem por
reconhecerem não ter fundamentação bíblica, por saberem que seu uso é legítimo
aos olhos de Deus e por apegarem-se a uma tradição protestante que virtualmente
é contrária ao seu uso.
[3] Há quem admite haver nuances
diversas de significado entre os termos, mas afirma-se ainda que a Bíblia
somente permite adoração e veneração a Deus. Não se pode negar, porém, que há
sentimentos sinceros e legítimos que estão sob o termo veneração, e que por
isso são justificados à luz da Bíblia.
[4] Até o fato do católico não
admitir desfazer-se do objeto já é para o protestante um sinal de que aquele
objeto é idolatrado por ele. O objetivo é fazer com que o católico quebre,
queime, jogue fora as imagens e etc.
[5] Essa fuga para explicações
sócio-culturais não é feliz, pois essas objeções são refutadas pelas
Escrituras.
[6] Cf. página 135 (e 130) do livro
Desmascarando a Idolatria. Ali o amor aos filhos é comparado com as práticas
religiosas de acender velas, dobrar os joelhar, rezar etc., confundindo os
cenários. Não compreendeu que o amor e honra expressos na esfera religiosa
estão sendo comparados com o amor e honra na esfera familiar. As atitudes devem
necessariamente ser diferentes, mas continuam essencialmente semelhantes. A
página 131 traz a explicação da prostração como somente uma prática social.
Afirma: “Enquanto a Bíblia não proíbe a
prostração como convenção social, a prostração como culto ou reverência
religiosa diante de uma imagem sempre foi condenada pela Bíblia”. Isso já
foi refutado no estudo. Outro problema é que reconhece-se que Deus fez milagre
através de objeto, como a serpente de bronze, o que torna o princípio católico
verdadeiro, mas não entende-se a natureza de sua existência (dessa imagem), a
veneração que recebeu e o motivo porque foi destruída, o que devidamente
entendido não afeta o princípio cristão. O católico sabe que Deus não condena
todas as imagens, e nisso o protestante deve concordar. Também sabe que Deus
proíbe adorar as imagens, coisa também pacífica entre católicos e protestantes.
A destruição da serpente esteve nesse contexto de idolatria, mas não depõe
contra o fato de que a imagem em si foi do agrado de Deus, o que corrobora o
princípio aludido. Esse ponto deve ser refletido.
[9]
Como se as imagens que Deus
mandou fazer, ou que foram permitidas por Deus, não recebessem nenhum ato do
sentimento religioso do povo, sendo só decorativas. Isso nenhum protestante pode provar, constituindo
essa uma afirmação gratuita.
[12] O reverendo Hernandes Dias
Lopes, reconhecido teólogo reformado, entende que as próprias imagens recebem
adoração, são padroeiras, e etc., e ataca o uso de imagens com esse fundamento,
o que denota um entendimento errôneo. Os pagãos é que tinham esse entendimento,
como é atestado por Demétrio em Atos 19,26, quando afirma que os deuses (theoi) são feitos por mãos humanas.
Esses deuses são as próprias imagens que eram adoradas pelos pagãos de Éfeso.
São os ídolos. Os cristãos nunca ensinaram que as imagens são a própria
realidade que agem e recebem culto, mas que são símbolos que servem nesse
cenário cultual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário