História da veneração de imagens
Como a Igreja utilizou
as imagens nos primeiros séculos é explicado pela Enciclopédia Católica[1], que
fornece o tratado mais profundo para o entendimento do culto às imagens
cristãs, em termos dos dados históricos e princípios bíblicos que relacionam-se
ao uso das imagens de diferentes formas na Igreja, como as estátuas, as
pinturas, etc., mostrando como isso desenvolveu-se.
Há, porém, muitos que
leem essas informações e continuam a negar a evidência que elas apresentam,
pois parecem não dar-se conta dos detalhes que fundamentam as conclusões, e
passam a construir objeções contra os dados que a matéria corretamente apresenta.
Por isso, far-se-á aqui um comentário de algumas afirmações da Enciclopédia
Católica, mostrando as premissas sobre as quais essas repousam.
Deve-se notar que os
judeus certamente foram aos poucos tornando-se mais rígidos contra toda
representação religiosa, o que não era o caso no tempo do Êxodo 20,3-5, ou
seja, nessa época não houve tal sentimento por parte dos judeus. Aliás, ainda estavam
muito próximos dos tempos em que facilmente faziam um deus para adorar. Não
estavam de forma alguma avessos às representações materiais quaisquer que
fossem. Assim, os judeus não tinham problemas em aceitar as imagens. De fato,
em Êxodo 25,18 tem-se a confecção de imagens para o Templo, o que prova ser a
lei do Êxodo contrária apenas às imagens que são ídolos, em sua absoluta
acepção, e não a qualquer outra representação religiosa ou de outro uso
artístico.[2]
Por isso, certamente a
“imagem de escultura” que foi proibida tinha o sentido técnico de “ídolo”, não
sendo referido a qualquer imagem. O ídolo era uma imagem, mas nem toda imagem
era um ídolo. Diante das tantas imagens que a Lei permitia nota-se, porém, que
evitavam a confecção de imagens humanas. Somente os querubins tinham rostos
humanos, e em sua forma geral assemelhava-se à forma humana.
Nos períodos mais
antigos, os efod certamente também
eram “estátuas de forma humana”. No entanto, no tempo dos macabeus a
compreensão da lei relativa às imagens parece ter ficado bastante rígida, pois
não mais eram permitidas quaisquer representações de coisas vivas. Assim,
conta-se que o rei Herodes mandou fazer uma águia de ouro, para o portão do
templo, e os sábios mandaram destruí-la.[3]
Mesmo na diáspora, de certa forma, ou de acordo com a circunstância, as coisas
relativas às imagens ficaram mais restritas.
Juntando a compreensão
do Êxodo 20, 3-5 e esses fatos da história judaica, formou-se para muitos a
opinião de que os judeus não utilizavam quaisquer imagens. Esse fato, porém, ficou
mais restrito à região da Palestina, já que os judeus que viviam na Diáspora,
conforme atesta a arqueologia, usavam imagens para decorar os lugares de culto
e seus monumentos.[4]
As catacumbas judaicas
eram decoradas com imagens de pássaros, animais, peixes, homens e mulheres.
Dessa forma, é um argumento irrefutável, provado pela arqueologia, com inúmeros
exemplos, de que os judeus dos primeiros séculos da era cristã usaram a arte
para fazer imagens, com diferentes técnicas, como faziam os romanos, embora os
judeus fossem exclusivos em seu tratamento das coisas de Deus e não usassem
representações de ídolos. Então, os judeus empregavam a sabedoria e os dons
artísticos para embelezar catacumbas e cemitérios mesmo com pequenas imagens de
escultura. Desse modo, quando os cristãos começaram a pintar e esculpir algumas
imagens nas catacumbas o costume das imagens era herança direta dos judeus, já
que os primeiros cristãos em sua maioria eram de origem judaica.
Devemos saber que as
catacumbas eram os locais subterrâneos escondidos, que serviam de igrejas para
a celebração da missa para cultuar a Deus, e era ali o lugar de enterrar os
mortos, inclusive os santos mártires que eram assassinados nas perseguições
imperiais.
Assim, a Enciclopédia
prova que havia imagens entre os cristãos, sendo, portanto, um fato o uso de
imagens sagradas. Fica, agora, a questão da “reverência prestada a elas”. Um
fato é a presença das imagens na Igreja, e outro é o modo como elas eram
tratadas.[5]
Entendamos que os
judeus não tinham preconceito contra imagens, figuras, pinturas e estátuas.[6]
Tudo isso não passa de um mito, que já foi desfeito pelos estudos sérios e pela
ciência arqueológica. Os judeus antigos usavam imagens. Entretanto, os cristãos
não temiam a possibilidade de que os novos convertidos usassem as imagens
cristãs como ídolos, a ponto de evitá-las completamente. Havia, sim, uma certa
prudência, sob diversas orientações. A conscientização dos novos conversos era
feita de outra forma, não evitando totalmente as imagens. É óbvio que ninguém
encontrará uma enxurrada de imagens no primeiro e segundo séculos, mas essas
eram evidentemente usadas nos lugares de culto, e por certo recebiam a devida
veneração. Tampouco é verdade que a Igreja nos três primeiros séculos não tinha
imagens. Essa afirmação é nada mais que errada. Também, não se pode afirmar que
as imagens de escultura não podiam nem servir de ornamento, pois tal afirmação
vai contra as evidências históricas.
Assim, os cristãos de
origem judaica tinham o costume de usar a arte e empregá-la com motivos
religiosos. Da mesma forma, os cristãos convertidos do paganismo não nutriam
qualquer horror para com as imagens. Isso explica o porquê das imagens terem
sido aceitas na Igreja sem qualquer alvoroço, sem debates nos primeiros
séculos. Os casos isolados, como o de Epifânio, que destruiu uma cortina que
tinha uma figura de um homem, não fornece base para a iconoclastia, já que
mesmo o evento citado não nos leva a pensar que santo Epifânio estivesse com o
parecer geral da Igreja, já que o que ele fez causou alvoroço, como algo
inusitado. De fato, a adoção das imagens foi um fato natural que desenvolveu-se
sem grandes problemas. O que não era permitido dizia respeito aos ídolos dos
pagãos, às estatuas dos imperadores, e etc., coisas que não são identificadas
com as imagens cristãs, mas totalmente separadas.
De qualquer forma, para os que
creem como João Calvino, que afirmou que a Igreja não usou imagens durante
quinhentos anos, esse deveria ter explicado como então o século 4 foi um
período onde há inúmeras provas do uso das imagens na Igreja, sem qualquer
controvérsia. Impossível pensar que as coisas foram seguindo seu curso como,
segundo Ellen White, a “idolatria”, entendida como a veneração de imagens, foi
paulatinamente tomando forma, sem que nenhuma autoridade da Igreja tenha
verificado o fato, e as primeiras definições conciliares estritamente a esse
respeito tenham sido para aprovar, e não o contrário.
O Concílio de Elvira, por
exemplo, não teve o caráter iconoclasta. Certamente queria apenas proibir as
imagens de Cristo, por motivos das controvérsias cristológicas do seu tempo. Já
foi visto que esse Concílio não tratou de proibir imagens, mas tomou posição
como forma de salvaguardar o seu uso, assim como proibiu que os cristãos fossem
destruidores dos ídolos.
Então, temos que dos
anos 150 até 313, portanto, do século 2 ao 4, aproximadamente, os cristãos
romanos tinham seu cemitério nas catacumbas de Roma. Nos sarcófagos cristãos
havia muitos ornamentos e símbolos cristãos típicos, como as letras gregas do
monograma que simboliza a Cristo, a figura do peixe etc. Por isso, as imagens
não eram apenas decorativas, mas continham também significado simbólico.
Entre as imagens de
cenas bíblicas havia aqueles de sentido simbólico e outras de cunho memorial,
como as imagens que mostram a virgem Maria, o apóstolo Pedro, o apóstolo Paulo,
etc.
As imagens inicialmente
eram feitas através da pintura nas paredes, sendo as esculturas menos
numerosas. Mas, mesmo para elas não encontra-se proibição. Explica-se seu menor
uso por motivo de dificuldade técnica maior, e pelo alto custo. No entanto,
existiam imagens de escultura também nas catacumbas cristãs, de reduzido número
certamente, e, portanto, nada havia contra elas.
Resta ainda a
argumentação de que Jesus era representando como um “tipo” e não como um “homem
particular”.[7]
Isso não introduz qualquer problema, pois a Igreja não utiliza as imagens de
Jesus como se constituíssem absoluta e sem sombra de dúvidas um retrato fidedigno
de Sua Pessoa, como se tal coisa estivesse estritamente relacionada à correta
veneração a Cristo. A Igreja não pretende mostrar uma espécie de fotografia de
Jesus para que isso referende a adoração cristã.
De fato, as imagens são
o exemplo mais notório do uso tipológico. Jesus é apreendido em nosso espírito
antes pela fé do que pela visão. Portanto, não há preocupação retratá-Lo
exatamente como viveu na terra, mas produzir uma representação que oriente
nossos sentidos e espírito à Sua Pessoa revelada na Bíblia. Está, pois,
harmonizada o uso das imagens com a vida de fé que devemos ter.
Assim que as perseguições
do Império Romano cessaram quase completamente, com a promulgação do Edito de
Milão pelo Imperador Constantino, que havia adotado o cristianismo e queria
devolver à Igreja muito do que ela havia perdido, fazendo assim uma satisfação
pelos séculos de perseguição, a Igreja sai das catacumbas, podendo agora viver
às claras do dia.
Dessa forma, as mesmas
pessoas que pintavam e esculpiam as imagens sagradas nas catacumbas, e que as
conservavam, agora podiam fazê-lo em maior escala, divulgando a arte cristã,
decorando as igrejas, ensinando através das imagens.
E a Enciclopédia
Católica afirma: “Então, eles faziam pinturas da sua religião, e, tão logo podiam
pagar por elas, estátuas do seu Senhor e dos seus heróis, sem o mais remoto
medo ou suspeita de idolatria.”
Pensar que a Igreja não
usasse imagens, e que era completamente contra isso, é uma ficção, afirma a
enciclopédia. De fato, é incrível reconhecer a existência de pinturas em grande
número nos lugares de culto dos cristãos, e no final afirmar que “nenhuma
imagem foi admitida nos primeiros séculos da era cristã” (SILVA, p. 36).[8] É
natural que com o fim das perseguições o Cristianismo crescesse e se desenvolvesse
em todos os sentidos.
Aquilo que era pintado
nas paredes das simples e escuras catacumbas era agora feito nas grandes
igrejas, com técnicas mais refinadas, como a do mosaico. As estátuas maiores foram
a evolução do costume das imagens feitas para os sarcófagos.
Desses fatos, temos que
do século 1 ao 3 as imagens estiveram mais restritas às catacumbas. Do século 4
ao 7 todos os cristãos podiam ver as imagens nas igrejas em todo lugar. O fato
percebido, porém, é que em todos os tempos a Igreja admitiu e usou imagens
sagradas. Havia, porém, algumas vozes que opunham-se contra os abusos, não reprovando
o devido uso, mas os reais abusos que existiam, e outros opinavam contra o uso mesmo
das imagens.[9]
Isso foi uma preparação para a controvérsia iconoclasta do século oitavo.
Esse cenário já
possibilita entender o lugar das imagens na Igreja desde os primeiros dias.
Como foi dito, na história não há informação a respeito de como eram veneradas
as imagens no primeiro período. Há quase um silêncio sobre as imagens nos
escritos dos padres, tendo poucas referências. A sua existência é atestada mais
pela arqueologia.
A respeito do
tratamento que as imagens recebiam, a Enciclopédia Católica afirma o seguinte:
“Por outro lado, o lugar de honra que eles davam aos seus símbolos e figuras, o
cuidado com o qual eles decoram-nas argumenta que eles tratavam as representações
das suas mais sagradas crenças com ao menos reverência decente. É dessa
reverência que a tradição inteira de venerar sagradas imagens gradualmente e
naturalmente desenvolveu.”[10]
Tem-se então: a) o
lugar de honra nos quais as imagens eram colocadas, e o b) cuidado com que eram
tratadas, o que mostra que havia reverência para com elas pelos cristãos. De
fato, as imagens estavam principalmente nos lugares de culto a Deus, e o
cuidado que tinham ao fazê-las e mantê-las mostram a fé e respeito por elas.
Dessa forma, a afirmação da enciclopédia é bem fundada, e não há nada que possa
demovê-la.[11]
E ao continuar a
exposição dessa história, a enciclopédia afirma: “Depois do tempo de
Constantino é ainda principalmente por conjectura que nós somos capazes de
deduzir a forma com que essas imagens eram tratadas.” Isso acontece por não
haver descrições pormenorizadas de como eram tratadas as imagens também nessa época,
e não haver documentações, mesmo que indiretas, que mostrem o que de fato
ocorria. Assim, é preciso ver outros fatos para entendermos como isso era
feito, deduzindo a partir da realidade da época.
Antes que alguém pense
erradamente, é bom saber que deduzir não é criar algo, e também não constitui uma
espécie de achismo, em voga atualmente, mas consiste de uma forma racional e científica
de chegar a um dado, deduzindo de premissas sérias, bem fundamentadas, que logicamente
levam a uma conclusão determinada, plausível e correta.
Assim, no Império
Bizantino pode-se perceber nas honras que a pessoa do imperador e as suas
estátuas e símbolos recebiam, e deduzir disso como as imagens sagradas eram
tratadas, pois representavam para os cristãos muito mais que o imperador e suas
respectivas imagens. É verdade que os cristãos bizantinos prostravam-se,
beijavam, e incensavam como forma de mostrar honra. E isso acontecia mesmo com as
honras civis. Eram formas naturais, já estabelecidas na cultura do Oriente.
Contudo, começou a
ocorrer excessos, e que foi além dos limites estabelecidos. As imagens foram
multiplicadas em toda parte, e honras exageradas foram-lhe dadas. Estavam em
todos os lugares possíveis, e é difícil entender o que os cristãos pensavam
delas nesse tempo, afirma a Enciclopédia Católica. O que mostram os exemplos é
que certamente a idolatria já era um fato.[12]
Dentre as práticas
excessivas estavam a) ter as imagens em todos os lugares, como se fossem
necessárias para todas as ocasiões; b) levá-las para tocar doentes, evitar
enchentes, incêndios, c) queimar incenso para elas, d) acender velas diante
delas, e) dirigir-se a elas, f) ter algumas como superiores a outras.
É
um fato que os cristãos bizantinos haviam sido acostumados a prestar homenagens
à imagens no plano religioso, cultural e social da mesma forma, com
prostrações, beijos e incensos de forma indiscriminada. Esse costume já
espalhado entre os gregos, nos séculos V e VI, aos poucos foi incorporado no
uso litúrgico. Mas, não se pode esquecer que tamanha naturalidade tenha sido
concebida nesses gestos que, também afirma a enciclopédia, os modos de
homenagem eram similares aos que hoje é comum serem prestados à bandeira
nacional.
Mas, há realmente um
sentido incompreendido que surgiu naqueles tempos, e que os protestantes chamam
de idolatria. Refere-se ao fato de que as imagens multiplicaram-se em todas as
partes, e eram tratadas de formas muito intensa, fazendo parecer que possuíam
algo místico, como canais pelos quais era possível entrar em contato com os protótipos,
e que as mesmas muitas vezes recebiam as orações que lhe eram feitas. Tudo isso
foge da doutrina da Igreja, que afirma que as imagens são o instrumento de
devoção através do qual o culto que recebem é relativo, devendo ter em mente o
protótipo e não o objeto em si, e que tal não possui poder algum.
Assim, no Oriente as
formas de honrar as imagens foi muito influencia pelo modo que os imperadores
eram tratados, de forma que no Ocidente os cristãos viam expressões de exagero
naquilo que havia se tornado comum entre os cristãos orientais. O que foi
desenvolvido em Constantinopla certamente havia extrapolado os limites da
doutrina. E essa doutrina foi explicada pelo papa São Gregório Magno e pelo
bispo Anastásio.
Os cristãos apologistas
refutaram a doutrina pagã que identificava Deus e a matéria, e por isso
Atenágoras afirma que eles oravam “aos ídolos feitos de matéria”. Ele ensina
que Deus está muito distante da matéria assim como o artista e os materiais da
arte, o oleiro e o vaso.
A argumentação de Atenágoras
é a de que as imagens são feitas por homens, e sendo assim, se fossem deuses
deveriam ter existido antes, e não terem tido origem humana. E escreve: “Eles
não são nada, a não ser terra, e pedras, e matéria e curiosa arte.”
Então, ele enfrenta uma
argumentação peculiar, de alguns, que respondem não serem as imagens os mesmos
deuses que eles cultuam, mas que representam esses deuses. Por isso, algumas
delas possuem “energias”. Ele afirma não estar tratando da falácia dos ídolos,
mas oferecendo a razão da vida cristã.
Conforme o entendimento
correto das imagens vai sendo atingido, muitas dessas coisas devem cessar, e
outras podem ser usadas contanto que de acordo com a verdadeira doutrina. Por
exemplo, alguém poderia acender uma vela diante de uma imagem apenas para
lembrar da luz da fé recebida de Deus, e da memória do santo representado, e
não como ato à imagem concebida como objeto em si mesma.
Os protestantes
decidiram seguir apenas o que era explícito na Bíblia, e o Novo Testamento
silenciava a respeito das imagens e de sua veneração. Concluíram que a
proibição de imagens nos mandamentos da Lei de Deus deveria ser observado,
apesar de toda a tradição cristã a respeito do assunto provando que as imagens
sagradas estão de acordo com os princípios dos Dez Mandamentos.
Então, no ano de 1522
foi declarada a guerra contra as imagens, quando em Wittemberg foi decretada a
retiradas das imagens das igrejas. Lutero não foi conivente com essa ordem, e
permitia o uso de imagens. Diferentemente dele, Karlstadt era um iconoclasta
convicto. Zwínglio adotou o iconoclasmo, mas era contrário ao uso da força para
retirar das igrejas as imagens. João Calvino foi além, e onde sua influência
prevalecia não houve espaço para a arte cristã das imagens e ícones.
Essa onda iconoclasta
surgida na reforma influenciou de tal forma o movimento inteiro, que nos dias
de hoje um protestante está quase incapacitado de conceber a diferença entre
imagem e ídolo, entre veneração e adoração, entre gestos de veneração às imagens
e o que está no espírito, o que é imprescindível para fundamentar o sentido do
culto. Essas e outras barreiras só podem ser derrubadas pela luz da Palavra de
Deus.
Gledson Meireles.
[2] Ainda, a proibição em Êxodo 20 e
as confecções de imagens em Êxodo 25 provam o entendimento do autor sagrado
sobre a distinção de ídolos e imagens.
[4]
Lembremo-nos que o centro
do Judaísmo é Jerusalém, e mesmo os judeus da diáspora tinham como sede da
religião o Templo. A rigidez de pensamento em relação às imagens, ocorrida
especialmente na Palestina, nesse período, tratou-se de uma influência
histórica que certamente deturpou a máxima da Escritura contrária à idolatria.
[7] Afirmar que “o homem barbudo” ou
o “Jesus louro” não era “o verdadeiro rosto de Cristo” (SILVA, p. 35) não tem
nada a ver com a essência da questão. As imagens servem por aquilo que
representam, e todos ao ver da imagem de Cristo reconhecem ser o tipo do Filho
de Jesus que encarnou-Se para nos salvar, conforme está na Bíblia Sagrada.
Dessa forma, o objetivo da imagem é alcançado.
[8] Para isso, seria necessário
provar, para início de conversa, que do início da Igreja até o ano 200 não
havia imagens. E, como é justamente o contrário que ocorre, esse argumento não
tem validade.
[9] Há quem afirme que a doutrina
protestante reformada, que é mais incisiva contra o uso de imagens de
escultura, mantém a proibição no sentido de evitar a idolatria, e que poderia
ser tolerado o uso de imagens se isso não ocorresse. Seria apenas uma questão
de prudência. O que podemos constatar em Calvino, porém, é que mesmo uma imagem
mental a respeito de Deus seria “pecado de idolatria”. Essa afirmação está no
Catecismo Maior de Westminster, pergunta 109, a respeito do que é proibido pelo
2º mandamento: “[...] fazer qualquer imagem de Deus, de todas e
qualquer das três pessoas, quer interiormente no espírito, quer
exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de criatura alguma
[...]”. (Disponível em: https://resistireconstruir.wordpress.com/2014/07/25/o-segundo-mandamento/. Acesso em: 14 Agosto 2016.) Quando
lemos, por exemplo, o relato do batismo de Jesus, onde o Espírito Santo desce
em forma de pomba, é praticamente inevitável que ao mesmo tempo imaginemos a
cena lida. De acordo com essa proibição contida no Catecismo Maior de
Westminster, tal fato seria pecado de idolatria. A leitura bíblica tornar-se-ia
ocasião fundamental de pecado! Conclui-se assim uma blasfêmia, e é refutada em
sua gênese tal afirmação. Se assim não for, é necessária uma qualificação para
essa cláusula reformada. Mas da forma como está afirmada é patentemente
herética. Com tal pensamento dificilmente uma imagem, mesmo que de santo ou
anjo, em si mesmas lícitas, seria admitida na igreja. E esse pensamento iconoclasta
parece prevalecer entre os reformados, e protestantes em geral. No entanto, há
algo que pode inserir-se nessa argumentação e desqualificá-la, por causar
desequilíbrio no raciocínio, pois é ensinado que Deus não proíbe “qualquer
imagem”, pois as imagens de criaturas são permitidas. Assim, estariam
explicadas as imagens dos querubins. Então, como não poder usar imagens dos
santos servos de Deus? A resposta usual seria que não é permitida somente a
veneração dessas imagens (beijar, reverenciar, ajoelhar, prostrar-se...) Essa é
outra afirmação refutada neste estudo.
[11] Isso é bem diferente da tese
simples que afirma que a Bíblia não permite imagens, e que os primeiros
cristãos não as usavam, que os primeiros padres da Igreja foram todos
contrários a elas, e que as imagens pintadas nas catacumbas serviam apenas para
simbolizar e não eram veneradas de forma alguma. Essas afirmações carecem de
prova. Os fatos mostram que a Bíblia permite uso de imagens na Igreja, que os
cristãos não tinham preconceito contra elas, mas apenas contra os ídolos, que
desde os primeiros dias começaram a usar arte cristã na igreja, na esteira da
tradição judaica, e que a arqueologia tem muitas provas do uso difundido das
imagens para todos os lugares, confirmado pelas obras mais abundantes a partir
do século quarto.
[12] Portanto, há razão em temer o
perigo da idolatria, e usar as imagens com cuidado e verdadeiro espírito
cristão.
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