sábado, 24 de dezembro de 2016

Um comentário sobre a história das imagens na Igreja

PARTE HISTÓRICA

História da veneração de imagens

Como a Igreja utilizou as imagens nos primeiros séculos é explicado pela Enciclopédia Católica[1], que fornece o tratado mais profundo para o entendimento do culto às imagens cristãs, em termos dos dados históricos e princípios bíblicos que relacionam-se ao uso das imagens de diferentes formas na Igreja, como as estátuas, as pinturas, etc., mostrando como isso desenvolveu-se.

Há, porém, muitos que leem essas informações e continuam a negar a evidência que elas apresentam, pois parecem não dar-se conta dos detalhes que fundamentam as conclusões, e passam a construir objeções contra os dados que a matéria corretamente apresenta. Por isso, far-se-á aqui um comentário de algumas afirmações da Enciclopédia Católica, mostrando as premissas sobre as quais essas repousam.

Deve-se notar que os judeus certamente foram aos poucos tornando-se mais rígidos contra toda representação religiosa, o que não era o caso no tempo do Êxodo 20,3-5, ou seja, nessa época não houve tal sentimento por parte dos judeus. Aliás, ainda estavam muito próximos dos tempos em que facilmente faziam um deus para adorar. Não estavam de forma alguma avessos às representações materiais quaisquer que fossem. Assim, os judeus não tinham problemas em aceitar as imagens. De fato, em Êxodo 25,18 tem-se a confecção de imagens para o Templo, o que prova ser a lei do Êxodo contrária apenas às imagens que são ídolos, em sua absoluta acepção, e não a qualquer outra representação religiosa ou de outro uso artístico.[2]

Por isso, certamente a “imagem de escultura” que foi proibida tinha o sentido técnico de “ídolo”, não sendo referido a qualquer imagem. O ídolo era uma imagem, mas nem toda imagem era um ídolo. Diante das tantas imagens que a Lei permitia nota-se, porém, que evitavam a confecção de imagens humanas. Somente os querubins tinham rostos humanos, e em sua forma geral assemelhava-se à forma humana.

Nos períodos mais antigos, os efod certamente também eram “estátuas de forma humana”. No entanto, no tempo dos macabeus a compreensão da lei relativa às imagens parece ter ficado bastante rígida, pois não mais eram permitidas quaisquer representações de coisas vivas. Assim, conta-se que o rei Herodes mandou fazer uma águia de ouro, para o portão do templo, e os sábios mandaram destruí-la.[3] Mesmo na diáspora, de certa forma, ou de acordo com a circunstância, as coisas relativas às imagens ficaram mais restritas.

Juntando a compreensão do Êxodo 20, 3-5 e esses fatos da história judaica, formou-se para muitos a opinião de que os judeus não utilizavam quaisquer imagens. Esse fato, porém, ficou mais restrito à região da Palestina, já que os judeus que viviam na Diáspora, conforme atesta a arqueologia, usavam imagens para decorar os lugares de culto e seus monumentos.[4]

As catacumbas judaicas eram decoradas com imagens de pássaros, animais, peixes, homens e mulheres. Dessa forma, é um argumento irrefutável, provado pela arqueologia, com inúmeros exemplos, de que os judeus dos primeiros séculos da era cristã usaram a arte para fazer imagens, com diferentes técnicas, como faziam os romanos, embora os judeus fossem exclusivos em seu tratamento das coisas de Deus e não usassem representações de ídolos. Então, os judeus empregavam a sabedoria e os dons artísticos para embelezar catacumbas e cemitérios mesmo com pequenas imagens de escultura. Desse modo, quando os cristãos começaram a pintar e esculpir algumas imagens nas catacumbas o costume das imagens era herança direta dos judeus, já que os primeiros cristãos em sua maioria eram de origem judaica.

Devemos saber que as catacumbas eram os locais subterrâneos escondidos, que serviam de igrejas para a celebração da missa para cultuar a Deus, e era ali o lugar de enterrar os mortos, inclusive os santos mártires que eram assassinados nas perseguições imperiais.

Assim, a Enciclopédia prova que havia imagens entre os cristãos, sendo, portanto, um fato o uso de imagens sagradas. Fica, agora, a questão da “reverência prestada a elas”. Um fato é a presença das imagens na Igreja, e outro é o modo como elas eram tratadas.[5]

Entendamos que os judeus não tinham preconceito contra imagens, figuras, pinturas e estátuas.[6] Tudo isso não passa de um mito, que já foi desfeito pelos estudos sérios e pela ciência arqueológica. Os judeus antigos usavam imagens. Entretanto, os cristãos não temiam a possibilidade de que os novos convertidos usassem as imagens cristãs como ídolos, a ponto de evitá-las completamente. Havia, sim, uma certa prudência, sob diversas orientações. A conscientização dos novos conversos era feita de outra forma, não evitando totalmente as imagens. É óbvio que ninguém encontrará uma enxurrada de imagens no primeiro e segundo séculos, mas essas eram evidentemente usadas nos lugares de culto, e por certo recebiam a devida veneração. Tampouco é verdade que a Igreja nos três primeiros séculos não tinha imagens. Essa afirmação é nada mais que errada. Também, não se pode afirmar que as imagens de escultura não podiam nem servir de ornamento, pois tal afirmação vai contra as evidências históricas.

Assim, os cristãos de origem judaica tinham o costume de usar a arte e empregá-la com motivos religiosos. Da mesma forma, os cristãos convertidos do paganismo não nutriam qualquer horror para com as imagens. Isso explica o porquê das imagens terem sido aceitas na Igreja sem qualquer alvoroço, sem debates nos primeiros séculos. Os casos isolados, como o de Epifânio, que destruiu uma cortina que tinha uma figura de um homem, não fornece base para a iconoclastia, já que mesmo o evento citado não nos leva a pensar que santo Epifânio estivesse com o parecer geral da Igreja, já que o que ele fez causou alvoroço, como algo inusitado. De fato, a adoção das imagens foi um fato natural que desenvolveu-se sem grandes problemas. O que não era permitido dizia respeito aos ídolos dos pagãos, às estatuas dos imperadores, e etc., coisas que não são identificadas com as imagens cristãs, mas totalmente separadas.

De qualquer forma, para os que creem como João Calvino, que afirmou que a Igreja não usou imagens durante quinhentos anos, esse deveria ter explicado como então o século 4 foi um período onde há inúmeras provas do uso das imagens na Igreja, sem qualquer controvérsia. Impossível pensar que as coisas foram seguindo seu curso como, segundo Ellen White, a “idolatria”, entendida como a veneração de imagens, foi paulatinamente tomando forma, sem que nenhuma autoridade da Igreja tenha verificado o fato, e as primeiras definições conciliares estritamente a esse respeito tenham sido para aprovar, e não o contrário.

 

O Concílio de Elvira, por exemplo, não teve o caráter iconoclasta. Certamente queria apenas proibir as imagens de Cristo, por motivos das controvérsias cristológicas do seu tempo. Já foi visto que esse Concílio não tratou de proibir imagens, mas tomou posição como forma de salvaguardar o seu uso, assim como proibiu que os cristãos fossem destruidores dos ídolos.

 

Então, temos que dos anos 150 até 313, portanto, do século 2 ao 4, aproximadamente, os cristãos romanos tinham seu cemitério nas catacumbas de Roma. Nos sarcófagos cristãos havia muitos ornamentos e símbolos cristãos típicos, como as letras gregas do monograma que simboliza a Cristo, a figura do peixe etc. Por isso, as imagens não eram apenas decorativas, mas continham também significado simbólico.

Entre as imagens de cenas bíblicas havia aqueles de sentido simbólico e outras de cunho memorial, como as imagens que mostram a virgem Maria, o apóstolo Pedro, o apóstolo Paulo, etc.

As imagens inicialmente eram feitas através da pintura nas paredes, sendo as esculturas menos numerosas. Mas, mesmo para elas não encontra-se proibição. Explica-se seu menor uso por motivo de dificuldade técnica maior, e pelo alto custo. No entanto, existiam imagens de escultura também nas catacumbas cristãs, de reduzido número certamente, e, portanto, nada havia contra elas.

Resta ainda a argumentação de que Jesus era representando como um “tipo” e não como um “homem particular”.[7] Isso não introduz qualquer problema, pois a Igreja não utiliza as imagens de Jesus como se constituíssem absoluta e sem sombra de dúvidas um retrato fidedigno de Sua Pessoa, como se tal coisa estivesse estritamente relacionada à correta veneração a Cristo. A Igreja não pretende mostrar uma espécie de fotografia de Jesus para que isso referende a adoração cristã.

De fato, as imagens são o exemplo mais notório do uso tipológico. Jesus é apreendido em nosso espírito antes pela fé do que pela visão. Portanto, não há preocupação retratá-Lo exatamente como viveu na terra, mas produzir uma representação que oriente nossos sentidos e espírito à Sua Pessoa revelada na Bíblia. Está, pois, harmonizada o uso das imagens com a vida de fé que devemos ter.

Assim que as perseguições do Império Romano cessaram quase completamente, com a promulgação do Edito de Milão pelo Imperador Constantino, que havia adotado o cristianismo e queria devolver à Igreja muito do que ela havia perdido, fazendo assim uma satisfação pelos séculos de perseguição, a Igreja sai das catacumbas, podendo agora viver às claras do dia.

Dessa forma, as mesmas pessoas que pintavam e esculpiam as imagens sagradas nas catacumbas, e que as conservavam, agora podiam fazê-lo em maior escala, divulgando a arte cristã, decorando as igrejas, ensinando através das imagens.

E a Enciclopédia Católica afirma: “Então, eles faziam pinturas da sua religião, e, tão logo podiam pagar por elas, estátuas do seu Senhor e dos seus heróis, sem o mais remoto medo ou suspeita de idolatria.”

Pensar que a Igreja não usasse imagens, e que era completamente contra isso, é uma ficção, afirma a enciclopédia. De fato, é incrível reconhecer a existência de pinturas em grande número nos lugares de culto dos cristãos, e no final afirmar que “nenhuma imagem foi admitida nos primeiros séculos da era cristã” (SILVA, p. 36).[8] É natural que com o fim das perseguições o Cristianismo crescesse e se desenvolvesse em todos os sentidos.

Aquilo que era pintado nas paredes das simples e escuras catacumbas era agora feito nas grandes igrejas, com técnicas mais refinadas, como a do mosaico. As estátuas maiores foram a evolução do costume das imagens feitas para os sarcófagos.

Desses fatos, temos que do século 1 ao 3 as imagens estiveram mais restritas às catacumbas. Do século 4 ao 7 todos os cristãos podiam ver as imagens nas igrejas em todo lugar. O fato percebido, porém, é que em todos os tempos a Igreja admitiu e usou imagens sagradas. Havia, porém, algumas vozes que opunham-se contra os abusos, não reprovando o devido uso, mas os reais abusos que existiam, e outros opinavam contra o uso mesmo das imagens.[9] Isso foi uma preparação para a controvérsia iconoclasta do século oitavo.

Esse cenário já possibilita entender o lugar das imagens na Igreja desde os primeiros dias. Como foi dito, na história não há informação a respeito de como eram veneradas as imagens no primeiro período. Há quase um silêncio sobre as imagens nos escritos dos padres, tendo poucas referências. A sua existência é atestada mais pela arqueologia.

A respeito do tratamento que as imagens recebiam, a Enciclopédia Católica afirma o seguinte: “Por outro lado, o lugar de honra que eles davam aos seus símbolos e figuras, o cuidado com o qual eles decoram-nas argumenta que eles tratavam as representações das suas mais sagradas crenças com ao menos reverência decente. É dessa reverência que a tradição inteira de venerar sagradas imagens gradualmente e naturalmente desenvolveu.”[10]

Tem-se então: a) o lugar de honra nos quais as imagens eram colocadas, e o b) cuidado com que eram tratadas, o que mostra que havia reverência para com elas pelos cristãos. De fato, as imagens estavam principalmente nos lugares de culto a Deus, e o cuidado que tinham ao fazê-las e mantê-las mostram a fé e respeito por elas. Dessa forma, a afirmação da enciclopédia é bem fundada, e não há nada que possa demovê-la.[11]

E ao continuar a exposição dessa história, a enciclopédia afirma: “Depois do tempo de Constantino é ainda principalmente por conjectura que nós somos capazes de deduzir a forma com que essas imagens eram tratadas.” Isso acontece por não haver descrições pormenorizadas de como eram tratadas as imagens também nessa época, e não haver documentações, mesmo que indiretas, que mostrem o que de fato ocorria. Assim, é preciso ver outros fatos para entendermos como isso era feito, deduzindo a partir da realidade da época.

Antes que alguém pense erradamente, é bom saber que deduzir não é criar algo, e também não constitui uma espécie de achismo, em voga atualmente, mas consiste de uma forma racional e científica de chegar a um dado, deduzindo de premissas sérias, bem fundamentadas, que logicamente levam a uma conclusão determinada, plausível e correta.

Assim, no Império Bizantino pode-se perceber nas honras que a pessoa do imperador e as suas estátuas e símbolos recebiam, e deduzir disso como as imagens sagradas eram tratadas, pois representavam para os cristãos muito mais que o imperador e suas respectivas imagens. É verdade que os cristãos bizantinos prostravam-se, beijavam, e incensavam como forma de mostrar honra. E isso acontecia mesmo com as honras civis. Eram formas naturais, já estabelecidas na cultura do Oriente.

Contudo, começou a ocorrer excessos, e que foi além dos limites estabelecidos. As imagens foram multiplicadas em toda parte, e honras exageradas foram-lhe dadas. Estavam em todos os lugares possíveis, e é difícil entender o que os cristãos pensavam delas nesse tempo, afirma a Enciclopédia Católica. O que mostram os exemplos é que certamente a idolatria já era um fato.[12]

Dentre as práticas excessivas estavam a) ter as imagens em todos os lugares, como se fossem necessárias para todas as ocasiões; b) levá-las para tocar doentes, evitar enchentes, incêndios, c) queimar incenso para elas, d) acender velas diante delas, e) dirigir-se a elas, f) ter algumas como superiores a outras.

É um fato que os cristãos bizantinos haviam sido acostumados a prestar homenagens à imagens no plano religioso, cultural e social da mesma forma, com prostrações, beijos e incensos de forma indiscriminada. Esse costume já espalhado entre os gregos, nos séculos V e VI, aos poucos foi incorporado no uso litúrgico. Mas, não se pode esquecer que tamanha naturalidade tenha sido concebida nesses gestos que, também afirma a enciclopédia, os modos de homenagem eram similares aos que hoje é comum serem prestados à bandeira nacional.

Mas, há realmente um sentido incompreendido que surgiu naqueles tempos, e que os protestantes chamam de idolatria. Refere-se ao fato de que as imagens multiplicaram-se em todas as partes, e eram tratadas de formas muito intensa, fazendo parecer que possuíam algo místico, como canais pelos quais era possível entrar em contato com os protótipos, e que as mesmas muitas vezes recebiam as orações que lhe eram feitas. Tudo isso foge da doutrina da Igreja, que afirma que as imagens são o instrumento de devoção através do qual o culto que recebem é relativo, devendo ter em mente o protótipo e não o objeto em si, e que tal não possui poder algum.

Assim, no Oriente as formas de honrar as imagens foi muito influencia pelo modo que os imperadores eram tratados, de forma que no Ocidente os cristãos viam expressões de exagero naquilo que havia se tornado comum entre os cristãos orientais. O que foi desenvolvido em Constantinopla certamente havia extrapolado os limites da doutrina. E essa doutrina foi explicada pelo papa São Gregório Magno e pelo bispo Anastásio.

Os cristãos apologistas refutaram a doutrina pagã que identificava Deus e a matéria, e por isso Atenágoras afirma que eles oravam “aos ídolos feitos de matéria”. Ele ensina que Deus está muito distante da matéria assim como o artista e os materiais da arte, o oleiro e o vaso.

A argumentação de Atenágoras é a de que as imagens são feitas por homens, e sendo assim, se fossem deuses deveriam ter existido antes, e não terem tido origem humana. E escreve: “Eles não são nada, a não ser terra, e pedras, e matéria e curiosa arte.”

Então, ele enfrenta uma argumentação peculiar, de alguns, que respondem não serem as imagens os mesmos deuses que eles cultuam, mas que representam esses deuses. Por isso, algumas delas possuem “energias”. Ele afirma não estar tratando da falácia dos ídolos, mas oferecendo a razão da vida cristã.

Conforme o entendimento correto das imagens vai sendo atingido, muitas dessas coisas devem cessar, e outras podem ser usadas contanto que de acordo com a verdadeira doutrina. Por exemplo, alguém poderia acender uma vela diante de uma imagem apenas para lembrar da luz da fé recebida de Deus, e da memória do santo representado, e não como ato à imagem concebida como objeto em si mesma.

Os protestantes decidiram seguir apenas o que era explícito na Bíblia, e o Novo Testamento silenciava a respeito das imagens e de sua veneração. Concluíram que a proibição de imagens nos mandamentos da Lei de Deus deveria ser observado, apesar de toda a tradição cristã a respeito do assunto provando que as imagens sagradas estão de acordo com os princípios dos Dez Mandamentos.

Então, no ano de 1522 foi declarada a guerra contra as imagens, quando em Wittemberg foi decretada a retiradas das imagens das igrejas. Lutero não foi conivente com essa ordem, e permitia o uso de imagens. Diferentemente dele, Karlstadt era um iconoclasta convicto. Zwínglio adotou o iconoclasmo, mas era contrário ao uso da força para retirar das igrejas as imagens. João Calvino foi além, e onde sua influência prevalecia não houve espaço para a arte cristã das imagens e ícones.

Essa onda iconoclasta surgida na reforma influenciou de tal forma o movimento inteiro, que nos dias de hoje um protestante está quase incapacitado de conceber a diferença entre imagem e ídolo, entre veneração e adoração, entre gestos de veneração às imagens e o que está no espírito, o que é imprescindível para fundamentar o sentido do culto. Essas e outras barreiras só podem ser derrubadas pela luz da Palavra de Deus.
 
Gledson Meireles.




[1] Catholic Encyclopedia em http://www.newadvent.org/cathen/07664a.htm.


[2] Ainda, a proibição em Êxodo 20 e as confecções de imagens em Êxodo 25 provam o entendimento do autor sagrado sobre a distinção de ídolos e imagens.


[3] Prova de que o entendimento da proibição de ídolos foi obscurecido.


[4] Lembremo-nos que o centro do Judaísmo é Jerusalém, e mesmo os judeus da diáspora tinham como sede da religião o Templo. A rigidez de pensamento em relação às imagens, ocorrida especialmente na Palestina, nesse período, tratou-se de uma influência histórica que certamente deturpou a máxima da Escritura contrária à idolatria.


[5] É verificada entre os protestantes a dificuldade de equilibrar esses dois dados.


[6] Com algumas exceções.


[7] Afirmar que “o homem barbudo” ou o “Jesus louro” não era “o verdadeiro rosto de Cristo” (SILVA, p. 35) não tem nada a ver com a essência da questão. As imagens servem por aquilo que representam, e todos ao ver da imagem de Cristo reconhecem ser o tipo do Filho de Jesus que encarnou-Se para nos salvar, conforme está na Bíblia Sagrada. Dessa forma, o objetivo da imagem é alcançado.


[8] Para isso, seria necessário provar, para início de conversa, que do início da Igreja até o ano 200 não havia imagens. E, como é justamente o contrário que ocorre, esse argumento não tem validade.


[9] Há quem afirme que a doutrina protestante reformada, que é mais incisiva contra o uso de imagens de escultura, mantém a proibição no sentido de evitar a idolatria, e que poderia ser tolerado o uso de imagens se isso não ocorresse. Seria apenas uma questão de prudência. O que podemos constatar em Calvino, porém, é que mesmo uma imagem mental a respeito de Deus seria “pecado de idolatria”. Essa afirmação está no Catecismo Maior de Westminster, pergunta 109, a respeito do que é proibido pelo 2º mandamento: “[...] fazer qualquer imagem de Deus, de todas e qualquer das três pessoas, quer interiormente no espírito, quer exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de criatura alguma [...]”. (Disponível em: https://resistireconstruir.wordpress.com/2014/07/25/o-segundo-mandamento/. Acesso em: 14 Agosto 2016.) Quando lemos, por exemplo, o relato do batismo de Jesus, onde o Espírito Santo desce em forma de pomba, é praticamente inevitável que ao mesmo tempo imaginemos a cena lida. De acordo com essa proibição contida no Catecismo Maior de Westminster, tal fato seria pecado de idolatria. A leitura bíblica tornar-se-ia ocasião fundamental de pecado! Conclui-se assim uma blasfêmia, e é refutada em sua gênese tal afirmação. Se assim não for, é necessária uma qualificação para essa cláusula reformada. Mas da forma como está afirmada é patentemente herética. Com tal pensamento dificilmente uma imagem, mesmo que de santo ou anjo, em si mesmas lícitas, seria admitida na igreja. E esse pensamento iconoclasta parece prevalecer entre os reformados, e protestantes em geral. No entanto, há algo que pode inserir-se nessa argumentação e desqualificá-la, por causar desequilíbrio no raciocínio, pois é ensinado que Deus não proíbe “qualquer imagem”, pois as imagens de criaturas são permitidas. Assim, estariam explicadas as imagens dos querubins. Então, como não poder usar imagens dos santos servos de Deus? A resposta usual seria que não é permitida somente a veneração dessas imagens (beijar, reverenciar, ajoelhar, prostrar-se...) Essa é outra afirmação refutada neste estudo.


[10] Citação de SILVA.


[11] Isso é bem diferente da tese simples que afirma que a Bíblia não permite imagens, e que os primeiros cristãos não as usavam, que os primeiros padres da Igreja foram todos contrários a elas, e que as imagens pintadas nas catacumbas serviam apenas para simbolizar e não eram veneradas de forma alguma. Essas afirmações carecem de prova. Os fatos mostram que a Bíblia permite uso de imagens na Igreja, que os cristãos não tinham preconceito contra elas, mas apenas contra os ídolos, que desde os primeiros dias começaram a usar arte cristã na igreja, na esteira da tradição judaica, e que a arqueologia tem muitas provas do uso difundido das imagens para todos os lugares, confirmado pelas obras mais abundantes a partir do século quarto.


[12] Portanto, há razão em temer o perigo da idolatria, e usar as imagens com cuidado e verdadeiro espírito cristão.

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