“Assim terminou a história de Nicanor. A partir desse tempo, a
cidade passou a ser governada pelos hebreus. Por isso, aqui encerro a minha
narrativa. Se ficou boa e literariamente agradável, era o que eu queria. Se
está fraca e medíocre, é o que fui capaz de fazer. É desagradável beber só
vinho ou só água, ao passo que vinho misturado com água é agradável e gostoso.
O mesmo acontece numa obra literária, onde o tempero do estilo é um prazer para
o ouvido do leitor. E assim termino.” Outra
tradução do verso 38: “Se ela está
felizmente concebida e ordenada, era este o meu desejo; se ela está imperfeita
e medíocre, é que não pude fazer melhor.” (Macabeus 15,37-39)
É incomum encontrarmos um
comentário objetivo dessa passagem do livro sagrado de 2 Macabeus [15,38] por
parte daqueles que não tem a fé na sua inspiração.
O autor claramente se
refere à sua “narrativa” quanto a estar “boa” e “literariamente
agradável”. Sua narrativa ficou boa ou não? Está agradável do ponto de
vista literário ou não? Ele fala do “tempero do estilo”, não das informações da
obra em si. Esse é o assunto que o autor considera, e do qual revela sua
humilde opinião, acreditando que seu esforço foi o melhor possível: “é o que
fui capaz de fazer”. Preocupou-se com a fineza do estilo, não com erros em sua
narrativa.
O autor não “refere-se à
verdade da narração”, mas ao “estilo e modo de escrever”. [Haydock´s Bible
Commentary]
É claro que dessa passagem
o cristão não tira qualquer conclusão contra a inspiração do livro sagrado.
Somente quem lê com uma preconcebida opinião [negativa] sobre a obra, pode ver
nessa passagem uma “prova” de que o livro não teria sido inspirado, e de que o
autor não estava cônscio da inspiração que recebeu, tendo receio de que seu
trabalho não fosse fidedigno.
Essa comparação do autor
de 2 Macabeus é comparável às palavras de são Paulo: “E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência”.
O apóstolo fala da sua pregação da Palavra de Deus, do seu modo de expor o
evangelho nas igrejas, e ainda assim humildemente
reconhece que alguém pode tê-lo na conta de “rude” quanto ao seu estilo. Fala a
respeito da opinião alheia. No entanto, reconhece que possui a “ciência”. (2
Coríntios 11,6)
Em 1 Coríntios 7,25
escreve são Paulo: “não tenho
mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer”. Nesse momento, são
Paulo expõe sua opinião pessoal quanto a um assunto que toca à vida cristã.
Obviamente acredita não estar ensinando o erro.
Esses exemplos da Sagrada
Escritura nos ensinam que os homens santos e inspirados para escrevê-la
possuíam estilo pessoal diverso um dos outros, e que reconheciam sua limitação,
num tom de humildade. Esse é o ponto importante para refletir.
Sobre o conhecimento da
Palavra de Deus e da profecia, está escrito: “Porque,
em parte, conhecemos, e em parte profetizamos.” Que significa dizer “em
parte”? Refere-se à imperfeição. Seria como escrever que nosso conhecimento é
imperfeito e a profecia imperfeita, ou seja, profetizamos de modo imperfeito.
Isso fica claro pelo contexto (v. 10), que explica o significado da expressão
“em parte”: “Mas, quando vier o
que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.” “O que é perfeito” contrasta com “em parte”, o imperfeito.
No entanto, ao falar da
imperfeição não se introduz noção de “erro”, mas de incompletude. Essas
passagens podem ser incompreendidas pelos incautos.
O evangelista são Lucas
decide escrever o evangelho para apresentá-lo a Teófilo: “Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó
excelente Teófilo”. E continua afirmando de seu esforço pessoal para
escrita da sua obra: “havendo-me já informado
minuciosamente de tudo desde o princípio”. (Lucas 1,3)
Alguns tentam lançar
dúvidas sobre o livro de 2 Macabeus porque seu autor deixa a possibilidade de
sua obra não ter um estilo agradável para o leitor, e dessas palavras conclui
que o autor não se via inspirado e que o livro não foi inspirado!
Esse princípio inventado
aí deveria também caber noutras partes da Bíblia se fosse verdadeiro. Assim,
tendo que o apóstolo Paulo afirmou que poderia ser rude na Palavra, alguém
poderia concluir que não estava inspirado, pois a Palavra de Deus não seria
jamais “rude”! Ou que um homem de Deus não falaria rudemente a Palavra de Deus!
Noutra passagem o mesmo
santo apóstolo afirma que o mandamento que tem não é do Senhor, mas é parecer
pessoal. No entanto, essas palavras estão na Bíblia, e cada parte da Escritura
é inspirada, cremos em nossa fé cristã católica. Por isso, ainda que alguém
impusesse aquele falso princípio de que o apóstolo aí não se reconheceu
inspirado, e, portanto, seu livro carece de inspiração, diríamos, com fé cristã,
que está em erro.
Ainda com as palavras
sagradas escritas por são Paulo, teríamos que se o conhecimento inspirado e a
profecia [que é inspirada, obviamente] são “imperfeitos”, isso implicaria em
que as mesmas não eram inspiradas, e isso teria sido reconhecido, pelo autor!
Igualmente, com as
palavras do evangelista são Lucas, que afirmou ter sido sua obra uma iniciativa
pessoal, não divina. O mesmo parece não reconhecer-se inspirado. Então,
teríamos que afirmar ser seu livro sem inspiração! Tudo isso seria uma grande
heresia.
Portanto, está provado que
o princípio que alguns tiram de 2 Macabeus 15,38 é falso e é contrário à
Palavra de Deus. Sabemos que para um livro ser inspirado não é necessário que
esse se mostre inspirado, que seu autor indique consciência clara de sua
inspiração. Esse princípio não existe, como foi expresso na refutação acima.
Para terminar, saibamos
que 2 Macabeus 15,38 apenas forneceu um exemplo de humildade de seu autor, como
2 Coríntios 11,6. Notemos também que mesmo não percebendo a inspiração [cf. Lc
1,3; 1 Cor 7,25; talvez 13,9], o autor foi inspirado sem dúvida, e por isso seu
livro está no cânon.
Explicações importantes:
O autor Lucas Banzoli
considera as respostas que comparam o texto de 2 Mc 15,38 com 2 Cor 7,10, por
exemplo, como um “devaneio”.
Afirma que são Paulo
reconhecia sua inspiração (2 Tm 3,16-17; 1 Cor 7,40), e que somente estava
afirmando que não recebeu aquele mandamento “diretamente” do Senhor. No
entanto, tinha inspiração para passar mandamentos.
Essa explicação falha no
princípio básico: se são Paulo mostrasse seu reconhecimento de inspiração nessa
passagem, como acima 1 Cor 7,25, porque teria dito que “não” tinha ensinamento sobre isso vindo do Senhor? Ele não fala de
estar diretamente ou não de posse do mandamento, mas reconhece que não ouviu
nada sobre isso do Senhor, e isso inclui ensinos diretos de Jesus a ele. Dessa
forma, se ele não lembrou de qualquer ensinamento de Cristo nesse momento, e
disse que aquele conselho era sua posição, isso encaixa-se no princípio de que
essa passagem exemplifica que o apóstolo não estava consciente de estar
recebendo inspiração para aquele pronunciamento particular. Ele acredita estar
conforme a verdade, mas atribui a opinião a si mesmo, não a Deus.
São Paulo afirma ter
TAMBÉM o Espírito de Deus (1 Cor 7,40), e isso não é contrário ao que foi dito
acima, os cristãos devem possuir o Espírito de Cristo, pois do contrário não
seriam de Cristo. Deve-se ter em mente o princípio.
Como explicado acima, o
autor de 2 Macabeus não considerou que sua obra estivesse errada, contendo
informações falsas, e fosse de pouca confiança. Longe disso. De fato, ainda que
fôssemos ler sua confissão em termos humanos, teríamos que concluir que
confiava em todas as informações do livro, visto que para ser sincero e honesto
deveria ter pesquisado e sintetizado informações que julgasse verdadeiras. Isso
o autor fala em termos claros. E, ao contrário de um autor orgulhoso de suas
faculdades, ele fala de sua esforçada empreitada, mas pede compreensão se seu
estilo não agradou o leitor. Tanto em Paulo como no caso de 2 Macabeus o
Espírito Santo permitiu que seus autores expusessem opiniões pessoais, e
verdadeiras, ainda que sob a inspiração direta.
Outra questão importante:
atos de humildade são diversos de pessoa para pessoa. Dentre 20 pessoas, por
exemplo, alguém pode realizar algum ato é isso ser sinal de humildade. Outros
podem expressar sua humildade de formas diferentes. Assim, não é preciso que
outro escritor bíblico afirme que sua composição talvez não tenha ficado
perfeita para que isso seja aceito em 2 Macabeus. Isso torna-se um petitio principii.
Então:
1) Está
refutado que o autor de 2 Macabeus reconhecesse sua obra, e não somente seu
estilo, como possivelmente pouco agradável.
2) Está
refutado o princípio de que o apóstolo reconheceu sua inspiração e por isso
pronunciou um mandamento.
3) Está
refutado o princípio implícito dessas objeções de que o escritor bíblico
reconhece explicitamente sua inspiração, ou que os livros bíblicos expressem explicitamente origem divina.
[Resposta a um
princípio contido em: Os livros apócrifos admitem que são apócrifos, de Lucas
Banzoli.]
Gledson Meireles.
Olha issso!http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/2013/05/insanidades-do-catecismo-bulas-e.html?m=1
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