domingo, 26 de fevereiro de 2017

Primeira visita de São Paulo a Jerusalém

Os Atos dos Apóstolos, no capítulo 9, versos 26 a 30, relatam com alguns detalhes importantes a viagem que o apóstolo Saulo convertido, e já chamado Paulo, fez a Jerusalém.

Como a fama do apóstolo havia sido propagada com base em seu passado de ferrenho perseguidor dos cristãos, os discípulos de Jerusalém "tinham medo dele". (v. 26)

Foi então que Barnabé levou-o a conhecer os apóstolos: "Então Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como, no caminho, Saulo vira o Senhor, o qual lhe dirigiu a palavra,; e com intrepidez, em Damasco, falara no nome de Jesus." Trata-se, assim, da primeira vez que o apóstolo vai a Jerusalém, e teve como colaborador São Barnabé.

O texto afirma que Barnabé levou Paulo "aos apóstolos", tendo contado a eles sua experiência de conversão e pregação. (v. 27)

Para quem gosta de distinguir Tiago do grupo dos doze, pondo-o como um discípulo, excluindo-o do número dos doze apóstolos, ou seja, querendo fazer dele um apóstolo fora do círculo dos 12, como Barnabé, por exemplo, eis que Atos 9,26 refuta radicalmente essa pretensão. Os discípulos (mathetais) não receberam Paulo, por medo dele. Aliás, Paulo era também um discípulo (mathetes), como diz o texto, ainda que saibamos que foi  apóstolo. De fato, antes de ser apóstolos mesmo os doze eram discípulos.

Contudo, o importante é que após o episódio de rejeição por parte dos “discípulos”, Barnabé vai até os apóstolos. Não poderia ficar mais claro.  Barnabé o levou aos apóstolos (apostolous), contando a eles (autois). Portanto, não há dúvida aqui.

Em Gálatas, capítulo 1, versos 18 e 19, o próprio São Paulo conta essa viagem, e nela coloca alguns outros detalhes, como o objetivo de sua visita, que foi conhecer Pedro, e o tempo em que ficou na cidade, por quinze dias, e com quem conversou: Pedro e Tiago.

O verso 19 afirma: "Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor". Sabendo que em Atos 9, 27 está escrito: "levou-o aos apóstolos e contou-lhes como, no caminho, Saulo vira o Senhor", e que não foi visto mais ninguém fora Pedro e Tiago, temos suficientemente informação para a certeza absoluta que Paulo, acompanhado de Barnabé, o que o texto de Atos não registrou, foi recebido em sua primeira visita apenas pelos apóstolos Pedro e Tiago, o que não incluiu em sua narração em Gálatas. Deve-se notar, ainda, que Paulo está falando dos Doze quando usa o termo apóstolo, da mesma forma que foi usado o termo em Atos.

A tradução e a nota explicativa da Bíblia de Jerusalém são tendenciosas nesse ponto. O original grego afirma que "outros" (heteron) dos apóstolos não foram vistos, "se não" (ei me) os dois citados. Ou seja, São Paulo está afirmando que não encontrou os demais apóstolos, os dez, mas somente dois.

Mas, a versão de Jerusalém, reputando Tiago como não sendo apóstolo, traduz omitindo a palavra "outro": Não vi nenhum apóstolo". Se assim fosse, nem mesmo Pedro seria apóstolo!!! Uma contradição com o próprio texto.
 
Essa tradução, não deixou claro o que o original bíblico afirma, a saber: "não vi nenhum outro apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor".

Além disso, se a informação do original não for levada em conta, há contradição com o texto de Atos, que afirma ter sido mais de um apóstolo que conversou com Paulo. Ele diz no plural: "levou-o aos apóstolos e contou-lhes" o que havia ocorrido, enquanto que Gálatas mostra quem foram os apóstolos: Pedro e Tiago.

Porém, é oportuno notar que a nota explicativa da Bíblia de Jerusalém traz o seguinte: "Declara ter visto, dentre os apóstolos, somente Pedro, e também Tiago, irmão do Senhor. Os Atos esquematizam, falando dos apóstolos em geral". Mas a Bíblia não diz que Paulo viu somente Pedro!
 
E sob o texto de Gálatas afirma: "Outros traduzem: "a não ser Tiago", supondo que Tiago faça parte dos Doze e se identifique com o filho de Alfeu (Mt 10, 3p), ou tomando "apóstolo" em sentido lato (cf. Rm 1,1+)".
 
A explicação é essa: quando Atos diz "os apóstolos", estariam incluindo os 12, o que chama "esquematizando". Na verdade, Atos apenas mostra que trata-se de mais de um apóstolo, não sendo necessário pensar em todos, já que Gálatas 1,18-19 esclarece como ocorreu.

O problema, portanto, é que não se trata de suposição, mas de exegese e de compromisso com o texto original. O grego traz o termo "outro" e "se não", e o texto de Atos e Gálatas juntos dizem que foram dois os apóstolos que conversaram com Paulo. Isso é exegese. A tradução e explicação que a BJ fornece é que não estão de acordo com os fatos bíblicos.
 
Portanto, o apóstolo Tiago, que Paulo encontrou quando visitou Jerusalém pela primeira vez, foi o chamado "irmão de Jesus", e não o Tiago filho de Zebedeu, e irmão de João. Mais uma prova de que o Tiago, o menor, foi um dos doze.
 
São Paulo converteu-se pelo ano 33. O rei Herodes, reinante no ano 44, mandou matar, à espada, Tiago irmão de João. Esse fato torna mais compreensível a identificação do outro Tiago apóstolo, conhecido como irmão (parente) de Jesus, diferenciando desse Tiago apóstolo, filho de Zebedeu, pois esse ainda estava vivo quando Paulo foi a Jerusalém pela primeira vez, tornando assim necessária a diferenciação quando Paulo contou ter visto o apóstolo Tiago.
 
Gledson Meireles.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

São Jerônimo, o papado e a primazia de Roma

São Jerônimo e o papado
 

Muitos estavam considerando os diáconos antes dos presbíteros em sua posição hierárquica. São Jerônimo (331-420) considera isso uma loucura. Sua pergunta retórica é incisiva: “Pois quando o apóstolo claramente ensina que os presbíteros são os mesmos que os bispos, não deve um mero servidor de mesas e de viúvas (Atos 6,1-2) ser insano de colocar-se a si mesmo arrogantemente sobre homens através dos quais as orações produzem o corpo e o sangue de Cristo?.” (Epístola 146)

Ele alude aos três graus da hierarquia bíblica católica, de bispos, presbíteros e diáconos, e à diferença de função dentre os bispos e presbíteros em relação aos diáconos, já que esses não celebram a eucaristia, não fazem as “orações que produzem o corpo e o sangue de Cristo”, uma menção ao momento da consagração.

Assim, além de mostrar a hierarquia de bispos, presbíteros e diáconos, sendo os dois primeiros iguais em escala e dignidade sacerdotal, e os últimos apenas servidores, ajunta-se ainda outra característica católica, que é a virtude do sacerdote que é o único que pode tornar os elementos do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo. De fato, os diáconos não são ordenados para consagrar. Disso, está claro pelas palavras de São Jerônimo, que os bispos e os presbíteros são aqueles que possuem o caráter para que por suas orações sejam feitos o Corpo e o Sangue de Cristo na santa missa. Essa é a significação das palavras de São Jerônimo.

São Jerônimo opinou que a posição de um bispo sobre os demais, que embora estejam todos na mesma posição hierárquica, foi feita para evitar o cisma: “Quando subsequentemente um presbítero foi escolhido para presidir sobre o restante, isso foi feito para remediar o cisma e para prevenir cada indivíduo de rasgar a igreja de Cristo por atraí-la para si mesmo.

Mas, assim, ele o faz para mostrar a superioridade de bispos e presbíteros, contados como iguais pelos apóstolos, sobre os diáconos, que formam um grupo à parte. Contudo, São Jerônimo mostra que os presbíteros não possuem a função idêntica à dos bispos, e não possuem igualdade funcional como proveniente dos apóstolos, mas antes há diferença nesse quesito: “Pois que função, exceto a ordenação, pertence a um bispo que não pertence também a um presbítero?”. Podemos entender isso naturalmente, pois um padre é ordenado a bispo, e com isso a mudança em sua função é que pode, a partir daí, ordenar a outros, e sua jurisdição é estendida sobre outros.

E quanto à autoridade do bispo, em qualquer lugar que esteja, essa autoridade é idêntica, não está condicionada à riqueza ou à pobreza, ao lugar em que o bispo está, mesmo na capital de Roma, como em qualquer outro lugar: “Nem a ordem da riqueza nem a pequenez da pobreza o faz mais bispo ou menos bispo. Todos semelhantemente são sucessores dos apóstolos.” Assim, enquanto sucessores dos apóstolos os bispos possuem igual dignidade, e autoridade e sua respectiva igreja.

O que viu em Roma, a respeito dos diáconos, seria fruto de maus hábitos, que deram ocasião a abusos, de modo que na ausência do bispo de Roma, que é o papa, os diáconos sentavam-se entre os presbíteros e davam a benção. São Jerônimo reporta a Atos 6,2 para que aprendam o lugar apropriado a eles, e o motivo de sua instituição.

Explica ainda os títulos de bispos e presbíteros, aqueles indicando a idade, e o segundo o cargo. E compara os bispos, presbíteros e diáconos às posições de Aarão, seus filhos e os levitas no Antigo Testamento. Essa é em linhas gerais a contextualização da epístola 146 de São Jerônimo, de data desconhecida.

 

São Jerônimo e a primazia de Roma

Nessa questão, São Jerônimo não escreveu uma palavra sequer que pudesse diminuir o poder do bispo de Roma em comparação com outros bispos de outras localidades. Isso fica claro que há apena silêncio, sobre o qual não pode-se construir nenhum argumento. O que estava em questão era a hierarquia dos bispos e presbíteros e diáconos, e São Jerônimo colocou os dois primeiros na mesma ordem, embora reconhecendo que os bispos possuíam a função de ordenar, e não os presbíteros, e que também os bispos foram aqueles eleitos para a jurisdição em uma região, para não dar ocasião a cisma. A mesma doutrina atual da Igreja Católica.

A respeito da questão dos diáconos, são Jerônimo afirma que o costume que foi colocado, quando escrevia a respeito da situação dos diáconos de Roma, e que ele mesmo havia presenciado, não era o costume correto, e não poderia ser a regra para toda a Igreja. A Igreja que está no resto no mundo é maior que uma igreja local, com um costume local que contraria o geral. É o mesmo que existe hoje na Igreja Católica.

Nessas circunstâncias, também, São Jerônimo mostra que aquele fato dos diáconos de Roma não traduzia a regra da igreja romana, mas abusos que surgiram ali, por motivo do número reduzido de diáconos naquela igreja.

Além do mais, essa questão não é diretamente uma questão doutrinal, mas um costume que foi impondo-se pelas circunstâncias, e não por um decreto ou tradição apostólica. Assim, essa é a crítica de São Jerônimo.

Na Epístola 15 a São Dâmaso ele escreveu:

Desde o Oriente, despedaçado como está pelas lutas de longa data, subsistindo entre os seus povos, está pouco a pouco rasgando em pedaços a túnica sem emenda do Senhor, tecida de alto a baixo, João 19:23, uma vez que as raposas estão destruindo o vinha de Cristo, Cântico dos Cânticos 2:15, e desde que entre as cisternas rotas, que não retêm água é difícil descobrir a fonte selada e o jardim fechado, Cântico dos Cânticos 4:12: Eu acho que o meu dever de consultar a cátedra de Pedro e se voltar para uma igreja cuja fé tem sido elogiada por Paulo”. (ênfase acrescentada)
 
Diante de dúvidas a respeito da fé e dos costumes, São Jerônimo, vendo as divergências que alastravam-se, por todos os lados, no Oriente, ele vê-se como que em uma circunstância difícil, e na obrigação de encontrar a verdadeira fé sobre o ponto que precisava, e percebe o seu dever de consultar o papa em Roma, “a cátedra de Pedro”, a Igreja que teve a fé elogiada por Paulo. Isso é muito claro quanto ao poder influente da sé de Roma, já que os problemas do Oriente são  endereçados à capital espiritual cristã no Ocidente.
 
Para quem não concorda com São Jerônimo em ter que voltar-se a Roma para consultar sobre a fé em tempos de divergência, isso é compreensível, é problema pessoal de quem pensa assim, e não é o que está sendo discutido aqui. O que deve ser aceito é o que São Jerônimo entendia, da forma como expôs, e que essa era a sua posição.
 
O ponto importante é notar que a posição de São Jerônimo era justamente a de que Roma era a sé apostólica, a cátedra de Pedro, e que deveria ser consultada para a exatidão da fé cristã. Ele não coloca sua ligação pessoal com Roma como o motivo para tal dever, como se fosse somente uma questão de obrigação pessoal, de estar conforme a fé compartilhada em Roma, mas apresenta para isso a autoridade de Pedro e o testemunho de Paulo, o que serve para todo cristão, não limitando a isso uma questão jurídica e administrativa ligada somente a São Jerônimo), e por causa disso ele deveria voltar-se à Igreja de Roma para aprender, em termos gerais, a fé, a moral e a disciplina.
 

Maus filhos desperdiçaram seu patrimônio; somente você mantem sua herança intacta.

No entanto, apesar de sua grandeza me aterrorizar, sua bondade me atrai.

Minhas palavras são faladas para o sucessor do pescador, para o discípulo da cruz. Como eu sigo nenhum líder a não ser a Cristo, então não me comunico com ninguém a não ser a sua bem-aventurança, que está com a cátedra de Pedro.
 
Se você acha que adequado promulgar um decreto; e então eu não hesitarei em falar de três hipóstases. Encomende um novo decreto para substituir o de Nicéia; e então, se somos arianos ou ortodoxos, uma confissão fará para todos nós.
 
São Jerônimo acreditava que somente o papa havia guardado a doutrina correta; reconhecia a grandeza e a bondade do cargo papal, a ponto de afirmar que essa grandeza do papa o aterrizava e a bondade o atraía; chama o papa de sucessor do pescador, e afirma ter apenas um chefe, Jesus Cristo, e por isso mesmo comunicava-se com o papa, que ocupava o trono de Pedro. Ele não via nenhuma tensão entre a fé que tinha em Cristo como único líder, e o reconhecimento que tinha do papa como chefe da Igreja. Não obsta que alguém pense diferente de São Jerônimo e da Igreja Católica, o que importa é reconhecer sua posição.
 
A argumentação é patente. Enquanto um protestante hoje diria que a Igreja de Roma não seria referência para a exatidão da doutrina, e que o papa não é reconhecido como sucessor de Pedro, e que somente Cristo é o Chefe, não tendo mais a ninguém para prestar contas, o contrário disso tudo é o que afirma São Jerônimo. Não estou afirmando que o protestante, enquanto tal, deve estar em conformidade com São Jerônimo nessa questão, mas que reconheça que o mesmo não concorda com a posição que é comum nas igrejas protestantes.
 
Pelo contrário, São Jerônimo dirige-se ao papa em termos muitíssimos respeitosos, afirma a fé na ortodoxia de Roma, e por ter a Jesus como líder único, ele está em comunhão com aquele que assenta-se na cadeira de São Pedro. Mais claro do que isso, para mostrar a diferença da doutrina católica de São Jerônimo, em relação à doutrina protestante nesse quesito é impossível. 
 

Nessa epístola, e na segunda, após não haver recebido resposta, São Jerônimo suplica ao papa que o responda, e o informe a quem ele deve comunicar-se, pois havia três bispos em sua região, em Antioquia, e desejava ter certeza sobre qual deles era ortodoxo.

Além do mais, os três afirmavam estar em comunhão com o papa em Roma. Essa constatação é importante, pois não somente são Jerônimo queria uma solução de Roma, por haver ele mesmo sido batizado ali, e ter vivido na cidade capital do império, mas ainda outros bispos também queriam ter o favor de Roma para suas posições. Isso é notoriamente o que podemos esperar do primado do papa. Essa doutrina não foi nunca negada por São Jerônimo.

São Jerônimo é venerado na Igreja, é um dos Santos Padres, portanto sua doutrina é católica, correta, em sua visão geral. Se há pontos isolados que mereçam crítica da parte da Igreja Católica isso não desfaz o valor da obra inteira.  Seus escritos são muitos, e às vezes sua opinião pode variar entre suas obras mais antigas e aquelas mais próximas do fim da sua vida. É, portanto, uma das brechas que tem alguns críticos para entrar por elas e tornar o grande santo católico em um homem com ideias relativamente semelhantes àqueles que o Protestantismo pregou no século 16.

Seria como pegar uma obra de Lutero, em seus primeiros anos, por volta de 1521, e provar uma opinião sua, totalmente católica, sem levar em consideração aquilo que ele escreveu décadas mais tarde, onde sua posição mudou drasticamente em certos pontos. Não podemos esquecer de ter o contexto geral do autor em consideração. (Isso é o que faz o apologista Dave Armstrong, de reputação e erudição inegável, mas que é criticado por protestantes que comportam-se como se não o conhecesse.)

Mas, as coisas não são tão fáceis assim, como podemos imaginar. Ainda mais quando o autor viveu no século 4º e 5º, e quando os estudiosos divergem quanto à data de composição de certas obras.

Fica fácil nesse cenário afirmar uma opinião antiga do autor como se fosse sua última palavra sobre um assunto, ou tomar as conclusões definitivas do autor sobre uma questão e reputá-las como afirmações impensadas de sua fase juvenil. Eis o que podemos ter nas questões que versam sobre São Jerônimo.

From his work against Jovinian, and the other from a letter to Evangelus (or Evagrius)

Isso ficamos sabemos ser o ocorrido na obra do Dr. Littledale, que foi refutada pelo Dr. Ryder, mas mesmo assim fatos foram repetidos pelo Dr. Littledale como se a refutação nunca houvesse existido.

Temos então esse outro problema também, que é repetir certa opinião apesar dessa ter sido realmente refutada, não considerando a refutação, e passando como se a mesma opinião refutada como se fosse a posição definitiva.

Pois bem, talvez uma análise de algumas afirmações de São Jerônimo sejam conclusivas nesse assunto, e possam ajudar a muitos que pensam entender sobre o mesmo, mas possuem opinião alheia e ele.

São Jerônimo menciona o fato de que Pedro foi a fundação da Igreja (o protestante deve não concordar), e que os demais apóstolos igualmente receberam essa prerrogativa (esse ponto é aludido pelos protestantes de forma positiva), mas que ao ser eleito um deles, ou seja, o apóstolo Pedro, todo o cisma foi removido (esse último o protestante rejeita).

Em outras palavras, na eleição de um dos apóstolos como o cabeça do grupo, a ocasião para reputar outro como chefe foi desfeita, e o cisma não ter oportunidade de encontrar lugar legítimo de existir.

Nesse ponto, São Jerônimo cita a preferência de Pedro ao invés de São João, que era virgem e celibatário, por causa da idade, pois Pedro sendo mais velho e João um jovem, assim não daria lugar a que um líder jovem fosse preferido entre os homens.

Em outra citação fornecida por Dom Chapman, São Jerônimo admoesta contra a opinião de muitos a preferir os diáconos ao invés dos sacerdotes, e explica que os presbíteros e os bispos são aqueles que possuem o poder de sua oração tornar (a mesma noção de transformar a essência do pão e do vinho em) o Corpo e o Sangue de Cristo. Essa distinção é outra distinção da doutrina católica, onde somente os padres e bispos consagram o pão e o vinho, e os diáconos são responsáveis pela pregação do Evangelho e das obras de caridade. São Jerônimo deixa essa questão bastante elucidada.

De igual modo, menciona que os bispos podem ordenar, e os sacerdotes não, e nisso está a diferença entre ambos.

Nem é a Igreja da cidade de Roma um coisa, e a Igreja de todo o resto do mundo outra. Gaul e Britânia, e África, e Pérsia, e Índia, e todas as nações bárbaras, adoram um Cristo e observam uma regra de caridade. Se autoridade é procurada, o mundo é maior do que a cidade.

“Mas você vai dizer: como, então, que em Roma um presbítero é ordenado apenas na recomendação de um diácono? Ao qual eu respondo como se segue. Por que você apresenta um costume que existe em uma única cidade? Por que você se opõe às leis da Igreja uma exceção insignificante que deu origem à arrogância e orgulho?(Jerônimo, Letter 146, To Evangelus, Cap.2) Ver também Carta 88, o mais abençoado papa Teófilo, resolvendo questão até para Roma.)

Dom Chapman escreve, sobre o que ensinou são Jerônimo a respeito da autoridade dos costumes locais da Igreja de Roma em relação ao restante do mundo:  Os costumes locais de Roma não são uma lei para o mundo inteiro.

O problema que estava havendo, e que em Roma parecia mais peculiar, por sua posição de autoridade, era que alguns tinham os diáconos em maior consideração que os presbíteros. São Jerônimo elabora o argumento de que os apóstolos deram a mesma honra aos bispos e presbíteros, diferenciando-os dos diáconos, como visto, e que nesse ponto específico o costume que se dava em Roma, era na verdade um abuso. Ele escreve: “até na Igreja de Roma os sacerdotes sentam-se, e os diáconos ficam de pé.” Os referir-se “até” nessa Igreja, mostra que chegava-se ao cúmulo da questão, pois até mesmo em Roma, a sede da Igreja, às vezes ocorria, como conta, que diáconos sentavam-se entre os bispos. Essa era a característica de abusos que estavam ocorrendo.

Na elaboração de São Jerônimo temos que os apóstolos eram iguais, todos no mesmo patamar, na mesma hierarquia, sendo todos fundamentos da Igreja, mas que entre eles o apóstolo São Pedro foi escolhido, como chefe, de modo a por fim a ocasiões de cisma. Afirma Dom Chapman: “São Pedro recebe sobre e acima do apostolado a cabeça do primado, para prevenir o cisma.” Não se trata apenas de honra, de uma primazia honrosa somente, mas de jurisdição, de uma autoridade potencial, que deveria ser usada quando fosse necessário, e que naquele posto alguém estava investido, e esse era o apóstolo Pedro.

Na epístola de Tito, são Jerônimo explica que o sacerdote e o bispo são o mesmo, para evitar que a divisão seja insinuada na Igreja, como foi em Corinto, onde cristãos criavam partidos com os nomes dos apóstolos e de Cristo, e por isso quando “as Igrejas eram governadas por um concílio comum de presbíteros”, houve a necessidade de colocar o bispo sobre todos os outros, de forma a destruir tal divisão.

São Jerônimo usou de toda sua força para empregar claramente a distinção entre os bispos e os diáconos. Para isso, usou de comparação entre bispos e presbíteros, que são iguais em ordem, tendo apenas a diferença de que o bispo pode ordenar, e abençoar o óleo do crisma, e também quanto à jurisdição, e os sacerdotes não podem fazê-lo, e não possuem. Isso fez para mostrar que os diáconos estão em outra ordem na hierarquia, e investe contra o que achou ser abuso ocorrido em Roma, quando viu um diácono sentado entre presbíteros.

 

Epístola 88

Na sua epístola 88, ao bispo Teófilo, São Jerônimo o saúda como o “mais bem-aventurado papa Teófilo”. Devemos saber que o título papa era usado em geral para os bispos. Se essa saudação mostrasse que havia um papa somente, em toda a Igreja, com autoridade singular, esse deveria ser Teófilo. Mas, se não havia nenhum com essas prerrogativas, então a saudação não possui tal valor. De qualquer modo, a própria saudação não é nenhum indício contra a existência do papa em Roma, como aquele que possui o primado.

Se há o papa em Roma, São Jerônimo deveria ter endereçado somente a ele essa saudação, que está no superlativo. Isso significa que, na possibilidade de que não havia papa naquela época, a saudação tem apenas um sentido floreado, e não quer dizer nada mais que uma extrema simpatia de São Jerônimo pelo bispo Teófilo.

Para muitos, se São Jerônimo escreveu tão grande saudação a um bispo, isso somente poderia significar que, para ele, nunca houve um bispo acima de todos residindo em Roma, pois do contrário a saudação seria para ele, e para nenhum outro. Estamos aqui detidos no sentido que a saudação a Teófilo implica.

De fato, na carta 88, São Jerônimo afirma que as cartas de Teófilo libertaram Roma da heresia. E o chama novamente de “o mais amoroso e o mais bem-aventurado papa”. Assim, mesmo em Roma a heresia foi combatida pelas palavras de outro bispo, que não o romano. Para muitos, essa é uma prova de que para São Jerônimo não havia papa.

Antes de responder a essa objeção, bem considerada, devemos ler o que está escrito na carta 63 ao bispo Teófilo, e que trata mais de perto o que estamos a analisar.

 

Epístola 63

Sabemos que não foi a primeira vez que São Jerônimo usou a saudação “ao mais abençoado papa Teófilo”, que é a mesma na epístola 63.

Mas, temos nesse documento algo mais direto ao assunto relativo ao papa em Roma. São Jerônimo assim escreve: “Eu agradeço por sua lembrança concernente aos cânones da Igreja. Verdadeiramente, aquele que o Senhor ama ele castiga, e flagela todo filho a quem recebe. Hebreus 12,6. Ainda eu asseguraria você que nada é mais meu objetivo que manter os direitos de Cristo, de conservar as linhas deixadas pelos padres, e sempre lembrar da fé de Roma; que a fé a qual é elogiada pelos lábios de um apóstolo, Romanos 1,8 e da qual a igreja alexandrina orgulha-se de ser participante.” (Epistle 63,1.2)

O bispo Teófilo (1) lembrou a São Jerônimo os cânons da Igreja, ou seja, as leis da Igreja comuns a todos, e fala da (2) conservação da doutrina deixada pelos Padres da Igreja, e (3) da fé de Roma, que deve ser lembrada, aquela fé que foi elogiada pelo apóstolo São Paulo.
 
Na carta 88 São Jerônimo dirá que do “fortalecimento com a autoridade de tão grande prelado”, que é uma consideração comum a um bispo. E pelas suas palavras a ação do bispo Teófilo foi específica, não constituindo regra.
 
No entanto, quanto à fé de Roma suas palavras mostram o que é o contexto de toda essa discussão. Roma é a sede da fé, a mesma fé que foi elogiada por Paulo.
 
Ele cita três coisas fundamentais para esse entendimento, que são os cânons da Igreja, a tradição dos padres, e a fé de Roma. Nenhum protestante hoje expressaria isso em uma discussão teológica. Não há afirmação aqui de que isso é pretensão protestante, ou seja, a de que São Jerônimo teria ensinado o mesmo que o protestantismo, mas que o protestante deve entender que São Jerônimo ensina o mesmo que a Igreja Católica hoje. São Jerônimo era assim um cristão católico romano. Mantinha a fé de Roma.
 
Quando às expressões de elogio ao bispo Teófilo, essas são entendidas nesse contexto, em que o mesmo foi importante naquela questão, seu trabalho dissipou a heresia, e que ele tinha a fé de Roma. Ele defendeu o que era a doutrina defendida em Roma. Foi uma atividade que fez bem à Igreja em seu tempo.
 
De fato, é isso o que ele escreve em Contra Rufino: “O leitor latino, diz ele, vai encontrar aqui nada discordante da nossa fé. Que fé é essa, que ele chama sua? É a fé pela qual a Igreja Romana é diferenciada? Ou é a fé que está contida nas obras de Orígenes? Se ele responde: a Romana, então nós somos católicos, uma vez que adotamos nenhum dos erros de Orígenes em nossas traduções. Mas se a blasfêmia de Orígenes é sua fé, então, embora ele tente fixar em mim a acusação de inconsistência, ele prova ser um herege.” (com auxílio do google tradutor) (Livro I, 4) Se o cristão professa a fé da Igreja de Roma, então ele é católico, não um herege. Assim, o católico é romano no sentido de ter a fé cristã conservada em Roma.
 
O herege afirmava que São Jerônimo estava do seu lado, e que a doutrina que pregava era a mesma, em completa união. Então, São Jerônimo propõe a prova, e que a fé para ser verdadeira deve ser idêntica à fé de Roma. A doutrina que fosse apresentada deveria ser aquela que distinguisse a Igreja de Roma. Se esse for o caso, quem professa essa fé é católico. Por outro lado, se a doutrina em questão é aquela que está na obra de Orígenes, então constitui heresia. A fé verdadeira é a romana, e somente assim somos católicos. Eis o que ensina São Jerônimo. Essa obra foi escrita no ano 402. Portanto, para São Jerônimo o papa era aquele que conservava a fé cristã original.
 
Gledson Meireles.
 

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Sim, João escreveu o quarto evangelho

Acompanhando o artigo que nega ao apóstolo João a autoria do quarto evangelho, e esperando a divulgação do suposto verdadeiro autor, estão disponibilizados abaixo alguns motivos importantes para continuar a defender que João apóstolo escreveu o quarto evangelho.

No artigo: Não, João não escreveu o quarto evangelho, os autores estão convictos de que o escritor do quarto evangelho não foi o apóstolo João.

Sendo uma publicação em um blog que tem por objetivo "refutar" o Catolicismo, o texto quer enfatizar que a tradição não é confiável nem nos assuntos secundários, que não são parte da doutrina.
 

Por isso, é importante estar atento aos dados da tradição, ainda que nesse ponto específico não tenha ligação com a fé e a moral, mas para certificarmos que as afirmações tradicionais não são tão fáceis de refutar, como alguns pensam.
 
Lendo as razões postas no artigo, não sendo convencido, ainda, esperarei mais explicações. Por ora, contudo, asseverarei o que a tradição sempre ensinou, ou seja, que o apóstolo João é o autor do quarto evangelho.
 
A Enciclopédia Católica aponta alguns traços que devem ser do autor do livro: 

1)      O autor deve ser um judeu palestino.

2)      Deve ter conhecimento da cultura helênica das classes altas.

3)      O quarto evangelho evita mencionar João e Tiago por nome.

4)      Como evita o nome de João em Jo 1,37-40.

 “Ora, Simão Pedro, junto a outro discípulo, seguia Jesus. Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do Sumo Sacerdote.” (João 18,15) O sumo sacerdote era Caifás.
 
Ainda, há outros dados importantes:
O discípulo amado participou da ceia, reclinando-se sobre o peito de Jesus. Era-lhe muito próximo. Era do número dos doze. Esse foi o discípulo quem escreveu o quarto evangelho, como está em João 21,24.

Sabemos que:

1)      Era conhecido do sumo sacerdote Caifás.

2)      Era o discípulo amado de Jesus.

3)      Foi esse que escreveu o quarto evangelho.

4)      Esse discípulo estava ao pé da cruz, e recebeu Maria como mãe. (João 19,25-27)

Tudo aponta para João, nada indica que não seja João.
Jesus “pôs-se à mesa com os doze”. (Mt 26,20) A ceia foi feita “com seus apóstolos”. (Lc 22,14) Jesus foi para o local da ceia “com os doze”. (Mc 14,17) Quando Jesus anunciou que um dos doze iria traí-Lo, eles, UM POR UM, perguntavam-se a si mesmos se acaso eram eles.
A respeito da dúvida sobre quem seria o traidor, o texto deixa claro que os apóstolos pensavam em alguém que não pertencia ao grupo. Por isso, Jesus afirma que “um de vós” e “um dos doze”, como duas expressões sinônimas, assim como são sinônimas as expressões “que come comigo” e “que põe a mão no mesmo prato comigo”.
O dono da casa não era apóstolo, não era outro discípulo, ou seja, alguém que seguia Jesus em Seu ministério, certamente. Era um conhecido, que a Providência Divina preparou para o momento da ceia. Se fosse esse “dono da casa” o discípulo amado, fica a explicar o motivo dos apóstolos não o conhecerem ainda, após três anos de ministério, um discípulo oculto, mas tão manifesto, uma vez que os evangelhos mostram o apóstolo que Jesus amava andando com Pedro, a par de tudo o que ocorria.
No momento mesmo da ceia é evidente que Pedro conhecia muito bem o discípulo amado, fazendo um sinal para que o mesmo perguntasse a Jesus sobre a identidade do traidor. E, antes, ficou também evidente que Pedro não conhecia o dono da casa.
A menção “discípulos” e os “doze” são sinônimas, visto que os dois discípulos, segundo Marcos, que vão procurar o local da ceia são os apóstolos Pedro e João. (Marcos 14, 12; Lucas 22,7) Os discípulos nessa passagem são os mesmos apóstolos. Cada objeção cai por terra pela autoridade da Bíblia Sagrada.
Um fato, portanto, deve ser observado, pela certeza que a Bíblia confere: o apóstolo amado era um dos apóstolos de Jesus.
“Pedro, voltando-se, viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, aquele que, na ceia, se reclinara sobre seu peito e perguntara: “Senhor, quem é que te vai entregar?”. (João 21,20) O que significa reclinar-se ao peito nessa passagem?
 
O texto de João 21,20 afirma que o discípulo amado perguntou ao Senhor quem o iria trair. Essa pergunta foi feita porque Simão Pedro pediu a esse discípulo, que estava sentado mais próximo de Jesus, que fizesse a pergunta. Nesse momento, ele “reclinando-se sobre o peito de Jesus, diz-lhe: quem é, Senhor?”.
 
Assim, o “reclinar” sobre o peito de Jesus foi o momento em que ele inclina-se para perguntar, e não apenas por estar acompanhando Jesus na ceia, uma expressão que teria o simples sentido de estar perto dele ou ao seu lado. Significa, antes, um reclinar-se mesmo, para fazer uma pergunta discreta, sem que os outros ouvissem. Vê-se que Pedro fez sinal, o que explica que o discípulo amado fez a pergunta em voz baixa.
“Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e foi quem as escreveu: e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro”. (João 21,24)
Assim, esse discípulo estava na ceia, foi com Pedro no sepulcro, estava com Pedro na aparição de João 21,7, sendo o que reconheceu Jesus naquele momento.
João era filho de Zebedeu, e tinha um irmão chamado Tiago. Os dois foram escolhidos para serem apóstolos, e foram chamados Boanerges. (Mc 3,17). Lucas apenas cita os nomes “Tiago, João”, sem maiores explicações.
Mateus afirma que Jesus passou junto ao mar e viu dois irmãos: “Tiago, filho de Zebedeu e seu irmão João.” (Mt 4,18)
A narrativa de João é diversa em sua apresentação. Ele chama João Batista apenas de “João”. Dois discípulos de João seguem a Jesus.
Em Lucas 22,8 vemos Jesus enviar Pedro e João para preparar a páscoa. Um homem foi encontrado, entrou em uma casa, e os discípulos o seguiram, conversou com o dono da casa para saber em que sala Jesus iria comer “a páscoa com meus discípulos”. Não diz que mais pessoas participariam, porque a páscoa seria realizada em uma casa de Jerusalém. Jesus pediu uma sala para cear com os apóstolos, indicando que se tratava de um lugar reservado só para Jesus e os apóstolos. De fato, à mesa estava Jesus com seus apóstolos, como está no verso 14 de Lucas 22.
Pelo relato evangélico sabemos que os apóstolos não conheciam nem o homem que vinha com uma bilha de água, nem o dono da casa, que não é nomeado por Jesus, e que os apóstolos não sabiam onde morava.
Talvez queiram convencer que o autor do quarto evangelho foi Tiago, o bispo de Jerusalém, que era parente de Jesus, chamado Seu "irmão". Se for o que pretendem, pelo menos será interessante ver a trajetória que será feita para justificar isso.
O autor afirma que a Bíblia passa indícios “de que João não pode ter sido o autor.”
1ª razão: seria o fato de o discípulo ser conhecido do sumo sacerdote. Sendo ele ainda muito jovem e morador distante da cidade de Jerusalém, de origem humilde, e outras coisas, não haveria possibilidade de ter conhecido o sumo sacerdote e ser ainda estimado por ele. Seria impossível João ter conhecido Caifás: “não tinha chance nenhuma”.  E Joao 21,24 seria a prova suficiente.
Se João tornou-se discípulo com 12 anos, quando Jesus morreu ele já estaria com 15 anos de idade. Se ser acompanhado pela mãe é um sinal de que eram muito novos os filhos, como o autor diz ser o caso indicado em Mateus 20,20, os “irmãos” de Jesus tinham bem menos idade que trinta e três. Talvez entre os 12 e os 15 anos em média. Seria por isso que estavam sempre acompanhados de Maria. Ela estaria cuidando deles, e não o contrário, caso fossem adultos.
Mas, é preciso refletir por um momento uma suposição, que é considerada “fato” pela maioria dos protestantes. Diz respeito à asserção de que Maria teve “outros” filhos. É preciso tratar dessa tese (que já foi refutada neste blog, mas vou refutar novamente), já que parece depender dela a existência de um autor do quarto evangelho que não seja apóstolo, que tenha influência em Jerusalém, que tenha levado Maria para casa e cuidado dela, para que não seja João.
Se Maria tivesse tido outros filhos, isso deveria ter ocorrido após Jesus ter a idade de 12 anos, já que nesse tempo não havia filho nenhum. Isso é o que depreende-se da leitura dos evangelhos.
Começando por aí, aos 30 anos Jesus poderia ter “irmãos” (se esse fosse o caso, pois não é) de no máximo 18 anos, supondo o máximo de idade. Como são quatro os parentes homens: Tiago, José, Judas e Simão, supondo que esses fossem os “mais velhos”, antes das irmãs, que são pelo menos duas, Maria teria tido no mínimo 6 gravidezes após Jesus ter doze anos. Assim, até aos 18 anos de Cristo ela teria estado gerando filhos e filhas.
O 1º filho quando o Senhor tinha 12 anos (mera suposição sobre um caso que sabemos não ter existido, visto que Jesus foi filho único). Maria teria subido grávida a Jerusalém para a festa da páscoa.

O 2º quando o Senhor tinha 13 anos.

O 3º quando o Senhor tinha 14 anos.

O 4º quando o Senhor tinha 15 anos.

A 5ª filha quando o Senhor tinha 16 anos.

A 6ª filha quando o Senhor tinha 17 anos.

Quando o Senhor Jesus tinha 27 anos, seu suposto irmão nascido depois dEle teria 15 anos. O segundo 14 anos, o terceiro 13 anos, o quarto 12 anos, a quinta irmã 11 anos e a sexta 10 anos, se for somente duas, pois há possiblidade que, conforme as Escrituras, “todas” as irmãs seja referência a mais de duas. Assim, haveria mais outras, uma de 9 anos, pelo menos, e assim por diante. Perfazendo o mínimo de 6 filhos, com possibilidade de 7 ou mais.
O irmão de 15 anos seria o primeiro citado, Tiago. Se não for José, já que aparece citado sozinho como referência também.
Quando Cristo foi crucificado, ele teria 21 anos, no máximo. Os outros teriam talvez 20, 19, 18, 17, 16. Quando o Senhor formou o grupo dos 12 apóstolos ele teria 18 anos, sendo a idade máxima possível.
Dessa forma, Maria andava com esses parentes do Senhor, conhecidos por nomes nos evangelhos, que teriam a idade de 18 anos, 17 anos, 16 anos 15 anos. Ainda teriam as parentas, de 14 e 13 anos, que nunca são citadas andando com Maria. E é possível que havia uma de 12 anos. Onde elas estavam? Onde ficavam?
“Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da páscoa”. (Lucas 2,41)
Sabendo que todos os anos José e Maria iam a Jerusalém, durante muito tempo Maria sempre teria ido com filhos pequenos e grávida. Por exemplo, na primeira páscoa após o nascimento de Jesus, ela teria ido com Jesus ainda bebê e grávida do seu suposto segundo filho.
Quando o Senhor Jesus tinha dois anos, teria ido com Ele, mais um irmão de quase 1 ano e possivelmente grávida de seu terceiro filho, e assim por diante.
Estamos seguindo o evangelho para fundamentar a suposição de que esses “irmãos” teriam nascido após Jesus ter 12 anos. Se alguém objetar que isso não é necessário, e que antes mesmo já havia nascido outros filhos, então Maria e José teriam subido para a festa da Páscoa com crianças de 11, 10, 9, 8, 7 e 6 anos, supondo que a idade de diferença seja de apenas um ano entre cada uma delas. No tempo da crucificação, teriam 32, 31,30, 29,28 e 27 anos.
Suponhamos o nascimento de filhos com certa “folga” de tempo de geração. Considerando o nascimento de Jesus em dezembro do ano 1.
Dezembro ano 1: Jesus nasce.

Novembro próximo, ano 2: teria nascido o SEGUNDO filho.

Outubro ano 3: teria nascido o TERCEIRO filho.

Setembro ano 4: teria nascido o QUARTO filho.

Agosto ano 5: teria nascido o QUINTO filho.

Julho ano 6: teria nascido a QUINTA filha.

Junho ano 7: teria nascido a SEXTA filha.

Aos 6 anos Jesus teria 6 irmãos. Aos 12 anos seus irmãos teriam 11, 10, 9, 8, 7 e 6 anos de idade. Ou Maria e José só começaram a ir a Jerusalém nesse tempo, com Jesus aos 6 anos e um recém-nascido, e mais cinco criancinhas de 5, 4, 3, 2 e 1 ano, ou só reiniciou a participar da festa mais tarde, quando o menor já estava mais desenvolvido, pelo menos quando do Senhor tinha 8 anos. É preciso considerar que a Escritura fala que  “todos os anos” eles iam de Jerusalém para participar da festa, o que já é estranho pensar que ficaram anos sem ir, ou que foram todos os anos nessas condições difíceis. De qualquer forma é forçada demais essa interpretação.
Podem ser percebidas as dificuldades de uma viagem de Nazaré a Jerusalém, todos os anos, com tantas crianças pequenas, juntando a isso os dias de participação da festa e a viagem de volta para casa. Não é impossível que isso ocorra, mas é muito improvável.
Se supormos que a primeira especulação, a de que Maria somente começou a gerar “outros” filhos após Jesus ter 12 anos, fica difícil de imaginar o motivo de estar há tanto tempo (12 anos) sem gerar nenhum bebê, visto que ela não era estéril, e não havia o costume de prevenir gravidez, ainda mais entre o povo judeu, para o qual a geração de filhos é um sinal de bênção.
Outro problema é que a Bíblia indica que são José faleceu antes do início da vida pública de Jesus, não se sabe quanto tempo antes, e que assim Maria teria vivido uma situação mais difícil cuidando de tantos filhos sozinha.
Além do mais, essas suposições contradizem a Bíblia e, portanto, não possuem nenhum valor.
O autor afirma que a Bíblia passa indícios “de que João não pode ter sido o autor.”
1ª razão: seria o fato de o discípulo ser conhecido do sumo sacerdote. Sendo ele ainda muito jovem e morador distante da cidade de Jerusalém, de origem humilde, e outras coisas, não haveria possibilidade de ter conhecido o sumo sacerdote e ser ainda estimado por ele. Seria impossível João ter conhecido Caifás: “não tinha chance nenhuma”.  E Joao 21,24 seria a prova suficiente.
Se João tornou-se discípulo com 12 anos, quando Jesus morreu ele já estaria com 15 anos de idade. Se ser acompanhado pela mãe é um sinal de que eram muito novos os filhos, como o autor diz ser o caso indicado em Mateus 20,20, os “irmãos” de Jesus tinham bem menos idade que trinta e três. Talvez entre os 12 e os 15 anos em média. Seria por isso que estavam sempre acompanhados de Maria. Ela estaria cuidando deles, e não o contrário, caso fossem adultos.
Mas, é preciso refletir por um momento uma suposição, que é considerada “fato” pela maioria dos protestantes. Diz respeito à asserção de que Maria teve “outros” filhos.
Se Maria tivesse tido outros filhos, isso deveria ter ocorrido após Jesus ter a idade de 12 anos, já que nesse tempo não havia filho nenhum. Isso é o que depreende-se da leitura dos evangelhos.
Começando por aí, aos 30 anos Jesus poderia ter “irmãos” (se esse fosse o caso, pois não é) de no máximo 18 anos, supondo o máximo de idade. Como são quatro os parentes homens: Tiago, José, Judas e Simão, supondo que esses fossem os “mais velhos”, antes das irmãs, que são pelo menos duas, Maria teria tido no mínimo 6 gravidezes após Jesus ter doze anos. Assim, até aos 18 anos de Cristo ela teria estado gerando filhos e filhas.
O 1º filho quando o Senhor tinha 12 anos (mera suposição sobre um caso que sabemos não ter existido, visto que Jesus foi filho único). Maria teria subido grávida a Jerusalém para a festa da páscoa.
O 2º quando o Senhor tinha 13 anos.

O 3º quando o Senhor tinha 14 anos.

O 4º quando o Senhor tinha 15 anos.

A 5ª filha quando o Senhor tinha 16 anos.

A 6ª filha quando o Senhor tinha 17 anos.

Quando o Senhor Jesus tinha 27 anos, seu suposto irmão nascido depois dEle teria 15 anos. O segundo 14 anos, o terceiro 13 anos, o quarto 12 anos, a quinta irmã 11 anos e a sexta 10 anos, se for somente duas, pois há possiblidade que, conforme as Escrituras, “todas” as irmãs seja referência a mais de duas. Assim, haveria mais outras, uma de 9 anos, pelo menos, e assim por diante. Perfazendo o mínimo de 6 filhos, com possibilidade de 7 ou mais.
O irmão de 15 anos seria o primeiro citado, Tiago. Se não for José, já que aparece citado sozinho como referência também.
Quando Cristo foi crucificado, ele teria 21 anos, no máximo. Os outros teriam talvez 20, 19, 18, 17, 16. Quando o Senhor formou o grupo dos 12 apóstolos ele teria 18 anos, sendo a idade máxima possível.
Dessa forma, Maria andava com esses parentes do Senhor, conhecidos por nomes nos evangelhos, que teriam a idade de 18 anos, 17 anos, 16 anos 15 anos. Ainda teriam as parentas, de 14 e 13 anos, que nunca são citadas andando com Maria. E é possível que havia uma de 12 anos. Onde elas estavam? Onde ficavam?
“Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da páscoa”. (Lucas 2,41)
Sabendo que todos os anos José e Maria iam a Jerusalém, durante muito tempo Maria sempre teria ido com filhos pequenos e grávida. Por exemplo, na primeira páscoa após o nascimento de Jesus, ela teria ido com Jesus ainda bebê e grávida do seu suposto segundo filho.
Quando o Senhor Jesus tinha dois anos, teria ido com Ele, mais um irmão de quase 1 ano e possivelmente grávida de seu terceiro filho, e assim por diante.
Estamos seguindo o evangelho para fundamentar a suposição de que esses “irmãos” teriam nascido após Jesus ter 12 anos. Se alguém objetar que isso não é necessário, e que antes mesmo já havia nascido outros filhos, então Maria e José teriam subido para a festa da Páscoa com crianças de 11, 10, 9, 8, 7 e 6 anos, supondo que a idade de diferença seja de apenas um ano entre cada uma delas. No tempo da crucificação, teriam 32, 31,30, 29,28 e 27 anos.

Suponhamos o nascimento de filhos com certa “folga” de tempo de geração. Considerando o nascimento de Jesus em dezembro do ano 1.

Dezembro ano 1: Jesus nasce.

Novembro próximo, ano 2: teria nascido o SEGUNDO filho.

Outubro ano 3: teria nascido o TERCEIRO filho.

Setembro ano 4: teria nascido o QUARTO filho.

Agosto ano 5: teria nascido o QUINTO filho.

Julho ano 6: teria nascido a QUINTA filha.

Junho ano 7: teria nascido a SEXTA filha.

Aos 6 anos Jesus teria 6 irmãos. Aos 12 anos seus irmãos teriam 11, 10, 9, 8, 7 e 6 anos de idade. Ou Maria e José só começaram a ir a Jerusalém nesse tempo, com Jesus aos 6 anos e um recém-nascido, e mais cinco criancinhas de 5, 4, 3, 2 e 1 ano, ou só reiniciou a participar da festa mais tarde, quando o menor já estava mais desenvolvido, pelos menos quando do Senhor tinha 8 anos. É preciso considerar ques a Escritura fala que  “todos os anos” eles iam de Jerusalém para participar da festa, o que já é estranho pensar que ficaram anos sem ir, ou que foram todos os anos nessas condições difíceis. De qualquer forma é forçada demais essa interpretação.

Podem ser percebidas as dificuldades de uma viagem de Nazaré a Jerusalém, todos os anos, com tantas crianças pequenas, juntando a isso os dias de participação da festa e a viagem de volta para casa. Não é impossível que isso ocorra, mas é muito improvável. A prova é que o evangelho deixa claro que Jesus era filho único de Maria.
Se supomos que a primeira especulação, a de que Maria somente começou a gerar “outros” filhos após Jesus ter 12 anos, fica difícil de imaginar o motivo de estar há tanto tempo (12 anos) sem gerar nenhum bebê, visto que ela não era estéril, e não havia o costume de prevenir gravidez, ainda mais entre o povo judeu, para o qual a geração de filhos é um sinal de bênção.
Outro problema é que a Bíblia indica que são José faleceu antes do início da vida pública de Jesus, não se sabe quanto tempo antes, e que assim Maria teria vivido uma situação mais difícil cuidando de tantos filhos sozinha.
Além do mais, essas suposições contradizem a Bíblia e, portanto, não possuem nenhum valor.
Considerando a data de nascimento de João, no ano 6, ele viveu até a idade de 94 anos, tendo morrido ano 100. Essa é uma idade altamente provável, ainda que em uma época de expectativa de vida inferior, o que ocorre em menor quantidade, mas sempre, em todas as épocas.

Nota: Se Jesus nasceu em 7 a. C. (de 7 a 4 a. C.) e João em 15 d. C. (6 a 15 d. C.), quando o Senhor Jesus tinha 30 anos, no início do ministério público, João tinha somente 8 anos de idade, tendo nascido em 14 d. C. Essa data, portanto, é impossível. Uma criança não sairia para seguir um mestre com tanta autonomia como os evangelhos mostram que aconteceu.
Ele deve ter nascido mesmo por volta do ano 6, e tinha aproximadamente 16 ou 17 anos quando seguiu Jesus. Acima referi 18 como o máximo.
 
Tendo em conta que os chamados irmãos de Jesus (se fossem filhos de Maria) mais provavelmente só poderiam ter sido gerados após Ele ter 12 anos, o mais velho teria quase a mesma idade de João. Todos teriam nascido após o ano 5 d. C.
 
Gledson Meireles.