Durante séculos os cristãos iam a Jerusalém em piedosas peregrinações, ainda que o controle da Cidade Santa não estivesse sob o governo cristão. Os governantes concediam certa tolerância, e isso permitia a continuidade das peregrinações, até que esse cenário mudou. É o que mostra W. Walker:
“Embora
Jerusalém estivesse nas mãos dos muçulmanos desde 638, as peregrinações
praticamente não tinham sido interrompidas, exceto por breves intervalos,
diante do governo relativamente tolerante dos árabes. Em meados do século onze,
o número de peregrinos, como também da frequência das peregrinações, havia-se
elevado. Entretanto, a situação mudou quando os turcos seljúcidas, começando em
1071, conquistaram grande parte da Ásia Menor. Em 1079 ganharam o controle de Jerusalém,
e daí em diante as peregrinações tornaram-se virtualmente impossíveis.”
(História da Igreja Cristã, Williston Walker, p. 328)[1]
A iniciativa das cruzadas
foi feita por parte do papado, mas a ideia que deu início à ideia da cruzada
foi proveniente do Oriente, dos imperadores bizantinos:
“O
primeiro impulso para os cruzados veio de um apelo do imperador oriental,
Miguel VII (1071-1078), ao papa Gregório VII, por ajuda contra os seljúcidas.
Gregório, a quem isso parecia prometer a reunião da cristandade grega e latina
e o estabelecimento dos direitos primaciais de Roma sobre Constantinopla,
lançou os planos para uma expedição em 1074. A eclosão da disputa sobre
investidura frustrou seus desígnios, porém mais tarde seriam reacendidos por
Urbano II (1088-1099), o herdeiro de Gregório VII, sob muitos aspectos.”
Aleixo I apelou “a Urbano II por assistência na preparação de um corpo de
cavaleiros ocidentais para ajuda-lo a recuperar suas províncias asiáticas
perdidas.”
Cecile Morrison, conhecendo
as diversas causas influentes na formação das cruzadas, prefere realçar causas
mais diretas de todo o movimento: “Preferimos
salientar o valor dos fatores específicos que explicam por que esse entusiasmo
pelo Oriente assumiu o formato das cruzadas”.
E mostra que os
pedidos eram inflamados e causaram uma má impressão no lado Ocidente: “Mas essas solicitações de mercenários contribuíram para
desenvolver na mente dos papas reformadores a idéia de uma expedição para o
Oriente.”
O Império Bizantino
pede ao papa apoio na luta contra inimigos par que pudesse recuperar suas terras:
“descrevia com um certo grau de exagero retórico as
dificuldades reais por que passavam os que permaneciam fiéis ao Cristianismo na
Ásia Menor ou mesmo as supostas perseguições que estavam sendo realizadas na
Terra Santa, cuja importância para os latinos era bem conhecida pelos gregos.”
A historiadora afirma que o
Ocidente, onde residia o papa, estava mal informado da real situação no
Oriente, e os bizantinos exageraram na apresentação de seus motivos quando
fizeram o pedido ao papa. Isso impossibilita o pensamento de que o papa
estivesse propositalmente “inventando” alguma coisa.
“Através do Ocidente mal informado, os temas desenvolvidos
pelas embaixadas bizantinas e as notícias difundidas por alguns peregrinos que
haviam passado por dificuldades formaram os principais argumentos que
provocaram a instauração da Primeira Cruzada.”
Quando o papa discursou,
após o Concílio de Clermont, o povo ficou extasiado ao ouvir as palavras do
papa. Contudo, o papa não desejava que os sentimentos estivessem assim
levantados: “e se esforçou para limitar os efeitos
de um entusiasmo irrefletido”. (Cecile Morrisson)
Quando os cruzados
que partiam irrefletidamente e sem as devidas permissões, e praticavam violência,
essa não ficava sem a justa repreensão dos clérigos e ainda assim não eram
suficientes para evita-las. Grupos isolados faziam isso: “As violências mais graves foram executadas por grupos
germânicos que, logo após a partida, se encarniçaram contra as comunidades
judaicas da Renânia querendo converter os judeus à força ou os massacrando,
apesar da oposição de certos bispos, particularmente em Speyer, Worms, Mainz e
Colônia.”.
Os ataques aos judeus não
surgiu da iniciativa da Igreja, nem do espírito que prevalecia nos cristãos,
mas foi uma onda nova que foi reprovada no seu nascedouro: “Misturando temas apocalípticos e escatológicos,
especialmente o da conversão dos judeus que anunciaria o fim dos tempos, a
pregação das cruzadas contribuiu para desencadear, sem que isso necessariamente
tivesse sido desejado, um incêndio de anti-semitismo oficialmente reprovado
pela Igreja.”.
De fato, os judeus até
aquela época viviam entre os cristãos, “eram tolerados” e já estavam integrados
de alguma forma na sociedade: “que até essa época
eram tolerados e relativamente integrados na população em geral”.
(continua...)
Gledson Meireles.
[1]
“Walker também concorda que os
muçulmanos não haviam impedido as peregrinações dos cristãos a Jerusalém. Ele
afirma que “embora Jerusalém
estivesse nas mãos dos muçulmanos desde 638, as peregrinações praticamente não
tinham sido interrompidas, exceto por breves intervalos, diante do governo
relativamente tolerante dos árabes”.”
(cf. http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/2016/04/a-causa-do-papa-urbano-ii-era.html.
Ênfase no artigo original). O autor cita parte do texto levando a pensar que o
historiador Williston Walker afirmou que as peregrinações a Jerusalém
continuavam permitidas no tempo do papa Urbano II, quando na verdade o
historiador afirma que as coisas mudaram, e a partir de certo momento (leia
acima no artigo) quase que tornou-se impossível fazer peregrinações.
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