A Arca da Aliança e as estátuas - imagens de escultura
Ao discutir a questão
das imagens de escultura, a posição católica bimilenar ensina que as imagens
são lícitas, estão de acordo com a Palavra de Deus, com os princípios
estabelecidos nela, e por seu lado os protestantes afirmam que elas são
terminantemente proibidas. Já está provado que a doutrina protestante está
equivocada. Para ratificar, ainda mais, continuemos o estudo.
Existem, então, basicamente,
duas orientações opostas, e os argumentos que surgem das discussões são,
algumas vezes, bastante interessantes, embora somente possam permanecer se
estiverem de acordo com a verdade.
Você que afirma que as
imagens são proibidas, porque Deus diz no Êxodo 20,3-4: Não farás para ti imagens de escultura..., e que afirma que em
nenhum contexto religioso as imagens são permitidas, saiba que essa opinião não
é bíblica. Esse argumento provém de uma ideia humana, e não da Bíblia.
Você que afirma que as imagens
podem ser usadas, mesmo em sentido religioso, desde que apenas como decoração,
saiba que essa posição não é puramente bíblica. Ela é incompleta.
Você que afirma que as
imagens que foram permitidas no Antigo Testamento, só o foram naquele tempo,
não servindo para justificar o uso de imagens hoje, saiba que você não está
desenvolvendo o pensamento segundo o princípio contido no fato da permissão das
imagens.
Você que afirma que o
ato exterior é o que determina a adoração, está contrariando o Evangelho, pois
Jesus diz que há aqueles que o honram com os lábios, apenas exteriormente, mas
tem o coração, ou seja, com a motivação que encontra-se interiormente, o
coração longe dEle. O louvor dos lábios não tem valor se o coração está
distante de Jesus. Por que seria a prostração um ato de adoração mesmo sem a
intenção? Veja que os soldados ultrajaram a Jesus ajoelhando-se diante dEle e o
chamando de rei, com escárnio. Assim, eles teriam adorado Jesus, se o ato
exterior fosse o mais importante. De fato, o ato exterior é determinado pelo
movimento que passa-se no interior do homem.
O gentio Naamã foi
permitido entrar no Templo pagão com seu senhor o rei, e ajoelhar-se com ele,
pois não tinha mais a intenção de prestar culto às divindades. Os atos
exteriores e interiores estão atrelados, e se, porém, as circunstâncias não
forem propícias até mesmo o ato exterior deve ser evitado.
Assim, Daniel não podia
ajoelhar-se para adorar o ídolo feito pelo rei. Ainda que dissesse não ter
intenção de adorar, pois ao ajoelhar-se estaria testemunhando que era um
adorador da falsa divindade, contra toda a fé judaica. Por isso, não
submeteu-se àquela lei.
Vejamos, portanto,
algumas objeções.
a) Deus proibiu imagens:
essa objeção é uma meia-verdade, e, portanto, é meio-falsa. Como a verdade só
existe em sua forma completa, essa asserção é mentira. Deus proibiu imagens de
deuses falsos, somente. É necessário qualificar essa proibição. O mandamento
está em Ex 20, 3-4, e em diversas outras passagens da Bíblia. Ninguém pode
fazer imagens de deuses, nem tê-las em casa ou em qualquer outra parte, nem
prostrar-se diante delas, nem servi-las. Essa é a proibição. Mas, Deus permitiu
várias vezes a confecção de imagens, tendo Ele mesmo instruído nesse sentido
algumas vezes, como o foi no caso da serpente de bronze. Diante disso, é uma
verdade que Deus proíbe os ídolos, que são imagens de deuses falsos, mas quanto
às outras representações, referindo-se à arte do culto divino legítimo, como é
a arte cristã, e isso deve ser reconhecido, está claro que Deus não proíbe
imagens.
b) As imagens do Antigo Testamento
serviram apenas como decoração: isso não é verdade. Todas as imagens que foram usadas no Templo,
que era o lugar-mor de culto a Deus, eram feitas para indicar o sagrado, para
ensinar algo relativo a Deus. Essas imagens eram pinturas ou gravuras
esculpidas nas paredes, imagens de escultura de anjos-querubins, de flores, de
bois, e etc. A arca da aliança, por exemplo, não teve apenas um uso estético,
para enfeitar o ambiente do templo, embora fosse um belo objeto, mas era
tratada com culto forte de veneração. A serpente de bronze também não foi usada
para decorar o acampamento israelita, mas Deus operou a cura naqueles que
olhavam com fé para essa imagem. Aliás, a serpente serviu para o fim de curar,
e não foi destruída durante séculos, até que o povo passou a cometer o pecado
de idolatria venerando-a como um deus.
c) As imagens não recebiam adoração,
ninguém as beijava, não ajoelhava-se diante delas, nem fazia orações a elas:
isso é uma meia-verdade. Sendo assim, como vimos, é uma afirmação falsa. Nem
todos os pormenores do culto das imagens no Templo de Israel está registrado.
Porém, pelo uso da arca, dos utensílios sagrados, e de todos os instrumentos
consagrados a Deus, temos que a fé de Israel era desenvolvida grandemente com
esses objetos. O povo orava de joelhos diante da arca, muitas vezes com o rosto
em terra, que é a prostração. Oferecia a Deus suas súplicas, erguiam os braços
em louvores e pedidos, ofertavam seus sacrifícios, por meio do sacerdote, etc.
Tudo era feito diante da arca, um material sagrado, portanto uma imagem, com
duas imagens de escultura de anjos em cima do propiciatório, que era o lugar do
perdão, o lugar da misericórdia. Dessa forma, sendo verdade que as imagens não
eram adoradas, elas eram veneradas, como foi provado neste estudo.
d) Alguém dirá
que os judeus não faziam isso para a
arca, mas para Deus que estava nela: isso é um contrassenso. Deus não
habita objetos. A arca apenas era símbolo de Deus, de forma indireta, ou seja, representava
a aliança de Deus com o Povo de Israel, lembrava a Sua presença no meio do
Povo, da Sua presença do Templo. O próprio Templo era reverenciado. O povo,
quando estava em outros lugares, orava voltado para Jerusalém, em direção ao
Templo. No interior do Templo, as orações e outros exercícios espirituais eram
direcionados para o lugar da arca, o Santo dos santos. Em nenhum lugar afirma
que Deus estava dentro da arca, pois essa seria uma ideia paganizada. Essa
objeção é falsa. O fato é que os judeus veneravam a arca, como foi provado
acima.
e)
Deus
não agia “por meio” das imagens: esse medo de conexão
de alguma ação de Deus em consideração a uma imagem é fruto do pensamento
moderno, certamente criado e alimentado pelo Protestantismo. O fato é que Deus
distribuía bênçãos e juízos aos homens em atenção ao seu uso de objetos. Assim,
uma vez Deus feriu com a morte quem tocou na arca, como fez com Oza (2 Samuel
6,7), o que havia sido proibido. Deus curou os mordidos pelas serpentes apenas
quando olhavam para a imagem. Isso não quer dizer que o poder de Deus descia
sobre a imagem e passava dela aos picados pelas cobras, mas apenas que Deus os
curava quando eles voltavam sua atenção para aquela imagem, conforme foi
ordenado.
f)
Aquela
imagem da serpente foi figura de Cristo na cruz, e não precisamos mais dela:
a primeira parte da afirmação é verdadeira, a segunda é falsa, em parte. Aquela
imagem serviu para apontar para o Salvador, que cura a humanidade do pecado. Em
sua significação ela será eternamente lembrada. De fato, ela somente foi
destruída séculos depois, não porque tivesse perdido sua importância, mas
porque o povo estava idolatrando a imagem e deu-lhe até mesmo um nome, como se
fosse uma divindade. Caso contrário, ela existiria até os dias atuais. Deus não
mandou destruí-la, mas elogiou Ezequias por ter feito isso, já que o povo era
idólatra. Assim, o princípio das imagens continua intacto.
g) Nós não precisamos mais de imagens:
é um fato que não precisamos absolutamente das imagens, ou seja, não precisamos
dela em sentido absoluto, mas também é verdade que as imagens são úteis na vida
do homem. De certa forma, tornam-se indispensáveis. Elas são naturais quando
usadas como meio de instrução, como é o caso em questão. E uma vez que foram
empregadas por Deus para ensinar verdades salvíficas, podem ser usadas hoje
para o mesmo fim.
h) Não sou contra nem a favor das
imagens, só não concordo com a veneração delas:
se alguém não combate as imagens, tendo-as na conta de objetos neutros, então
não terá problemas em fazer parte de uma igreja que tem imagens sagradas. E
então, não terá razões para atacar o Catolicismo por esse motivo. Se o problema
é que essa pessoa não aceita os usos que são feitos com as imagens, como
procissões, orações diante delas, prostrações, etc., deverá notar que isso é o
que faziam corretamente os israelitas, e nem por isso foram repreendidos por
Deus. Há uma incoerência persistindo nessa opinião.
i)
Só
usaria imagens se fosse ordenado por Deus: essa afirmação
brota de um coração endurecido. É natural para o homem ter imagens, e uma vez
sabendo o uso correto das mesmas, isso significa que não é necessário que Deus
tenha que ordenar cada vez que uma imagem devesse ser feita. Não consta que
Deus tenha mandado fazer cada imagem que estava no Templo de Salomão. A planta
do Templo foi mostrada por Deus, mas sua decoração religiosa foi feita pela
competência e sabedoria que Deus deu aos artífices, que usaram desse dom para
embelezar a casa de Deus. Fizeram isso voluntariamente. Essa objeção esconde a
recusa de aceitar a verdade.
j)
Os
cristãos católicos dirigem preces às imagens, as carregam, fazem igrejas para
elas, ajoelham-se, beijam, prostram-se diante delas:
essa objeção parece tentar inculcar que as imagens são objetos que recebem o
culto por si mesmas. Não é verdade. Tudo o que é feito a uma imagem significa
que está orientado para o que ela simboliza. E não adianta mais, para quem
acompanha este estudo desde o início, afirmar que não é permitido atos de veneração
para com as imagens. Assim, sabemos que no mesmo princípio o que os israelitas
faziam para com a arca é feito pelos cristãos para com as imagens. Obedecemos o
princípio bíblico estabelecido.
k) As imagens não fazem bem ou mal,
mas há um demônio por trás delas: essa opinião
significa dizer que uma imagem de Cristo, por exemplo, seria um ídolo, ou em si
mesma, ou por estar sendo usada pelo Demônio para desviar o culto a Deus.
Assim, o Demônio estaria enganando o fiel a prestar o culto ao objeto em si.
Essa opinião é enganosa, visto que quem olha para uma imagem de Jesus estará
lembrando-se de Jesus Cristo, e o culto irá para Ele, não para a imagem, que
foi apenas instrumento.
l)
As
imagens neutralizam o culto a Deus: essa objeção é
igualmente falsa, pois se assim fosse a arca da aliança teria neutralizado o
culto a Deus durante séculos no Antigo Testamento. Parece ter um fundo gnóstico
essa objeção, pois o gnosticismo ensinava o ódio à matéria. Dessa forma, quem
assim acredita e pensa que uma imagem irá atrapalhar sua adoração por ser uma
coisa material, não pensa em termos cristãos. Deus não usaria algo
essencialmente errado, como as cerimônias, rituais, símbolos e sinais, como se
isso devesse ser separado do culto espiritual a Deus. De fato, o Senhor Deus
usou tudo isso para ensinar o verdadeiro culto.
m) A imagem não é problema, mas o problema é o que
é feito com ela: isso é verdade. No entanto, muitos
pensam que a simples veneração é o que constitui o “problema”, como levar em procissão,
ajoelhar-se, etc., o que já seria adoração, e tal coisa não é verdade. Quem usa
tal argumento está pensando justamente nisso. Em outras palavras, os que dizem
isso pensam que as imagens não podem ser reverenciadas, mas, talvez, servir
apenas de decoração. E é tudo o que podem dizer, e parecer plausível, para os
ignorantes do assunto. Mas, o problema é que, segundo o ensino bíblico, o que
não deve existir, por exemplo, é a crença de que na imagem está habitando algo,
ou que algo divino e poderoso está por trás dela, ou que age nela, e que a
torna indispensável, pois isso é superstição, e idolatria. O uso das imagens
permite os gestos de reverência, como eram permitidos à arca da aliança.
n) Mas, não podemos fazer imagens com
fins religiosos: há quem pense que as imagens podem ser
usadas em vários contextos, menos no religioso. Assim, nenhuma imagem pode ser
feita para ser empregada com fins de culto. Para isso, afirmam que as imagens
do Antigo Testamento eram como os utensílios do templo, todos eles apenas
consagrados para o uso ritual, mas nenhum recebendo culto, veneração ou
adoração. Vimos, porém, que essa explicação é inexata, e até confusa, pois a
arca e outras esculturas do templo eram realmente veneradas pelo que
simbolizavam, não sendo de forma alguma apenas decorativas. A verdade é que as
imagens não podem ser feitas para receberem adoração, mas podem ser usadas na
Igreja como representações que lembram as realidades de Deus e dos Seus servos,
e assim serem honradas por sua significação.
o) Não sabemos se a imagem de Cristo
está conforme Sua verdadeira aparência: isso não é problema.
O que importa é que ao ver um determinado tipo de imagem as pessoas entendam
que ela simboliza Jesus Cristo, e isso é o que acontece. Todos podem
identificar facilmente uma imagem de Cristo entre milhares, e então o objetivo
a que prestam as imagens está sendo atingido.
p) O crucifixo lembra Cristo morto, e
prefiro lembrá-lo vivo: esse constitui um dos piores
argumentos, por esconder-se sob uma capa que o torna aparentemente piedoso. Esse
ponto não é o que ensina o Evangelho. Essa opinião é meramente humana, e tem
uma lógica que não leva em conta a doutrina bíblica. A pregação cristã católica
é Cristo, e Cristo crucificado. (cf. Gálatas 3,1-2) Sendo isso o núcleo da
pregação, o crucifixo está simbolizado uma verdade fundamental do Evangelho.
Todos sabemos que o mesmo Jesus Cristo está vivo, Ele é o nosso Salvador.
Comemorar isso não é oposto a crer em Jesus vivo. Jesus é aquele que morreu na
cruz por nós. Comemorar a ressurreição não invalida a consciência, e a
lembrança constante do valor da morte de Cristo. Eis o sentido do crucifixo.
q) Vivemos pela fé, e isso não requer
que tenhamos imagens: essa verdade não faz as imagens
desnecessárias absolutamente. A fé só acabará na glória. Assim, os que viram
Jesus quando esteve na terra continuaram a ter fé, pois não viram a Sua
divindade. Até mesmo Tomé, que viu a Cristo, continuou a exercer fé, pois o que
estava em jogo naquele momento era o fato da ressurreição. A fé durará até
vermos a Deus no Reino eterno. Assim, uma imagem que lembra a Jesus Cristo não
anula a fé, pois essa só terá fim com a visão beatífica, ou seja, a visão de
Deus face a face.
Na profecia de Ezequiel
41,17-25, o novo Templo que simboliza a nova aliança, que é o Novo Testamento,
continua tendo imagens. Assim, espiritualmente, o uso religioso das imagens
está conforme a Lei de Deus, e eternamente esse princípio ficará de pé. É um
erro grave afirmar que as imagens, e em especial as estátuas, são proibidas,
pois isso introduz divisão, tendendo a considerar mesmo o uso sadio das imagens
na Igreja como se isso fosse proibido. Falta o Espírito Santo para abrir as
mentes e o coração para a compreensão da Palavra de Deus.
Gledson Meireles.
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