Para entender o
surgimento da serpente feita de bronze por Moisés e o que ela significou, e
porque foi, séculos mais tarde, destruída pelo rei Ezequias, devemos ler o
capítulo 21 do livro dos Números.
O povo de Israel fez
uma promessa a Deus, e foi atendido: “Se
entregares este povo em meu poder, consagrarei suas cidades ao anátema”.
(Nm 21,2-3) Portanto, Deus aceita promessas. E agiu conforme a promessa do
povo.
No entanto, no caminho
pelo deserto o povo revoltou-se e falou contra Deus e contra Moisés. Esse ponto
é importante, pois a reclamação é feita contra o próprio Senhor e o Seu servo,
e isso é mostrado na Bíblia como algo adicional no que tange à gravidade do
pecado. Assim, os murmúrios do povo de dura cerviz não eram apenas relativos a
Deus, o que já seria a mais grave ofensa, nem somente contra Moisés, o que
redundaria em pecado contra Deus, pois Moisés é o santo servo posto para guiar
o povo. Mas, a Escritura ensina que o povo falava contra “Deus e contra Moisés”
(v. 5), distinguindo o Senhor e o servo, mostrando os israelitas pecando contra
ambos. Por isso, o povo afirma: “Pecamos
ao falarmos contra Iahweh e contra ti”. (v. 7)
Foi assim que o povo
pediu que Moisés intercedesse a Iahweh para que fossem livrados das serpentes.
Nisso, Deus manda que
Moisés faça uma serpente de metal: “Faze
uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e
a contemplar viverá”. Magnífico! Para aqueles que afirmam que ninguém orava
à serpente, nem fazia orações a ela, nem prostrava-se diante dela, e etc., fica
aí o texto bíblico que arranca pelas raízes a falsa objeção: “Todo aquele que
for mordido e a contemplar viverá”.
Os mordidos por
serpentes deviam olhar para aquela imagem de serpente para ser curado.
Obviamente, um homem israelita, profundamente religioso, sofrendo com um
ferimento de mordida cobra, estando prestes a morrer por causa do veneno, sabendo
que o Deus Todo-Poderoso de Israel havia oferecido o perdão e a cura daquele
ferimento mortífero, esse homem judeu olhava com toda a fé e devoção para
aquela imagem, e por isso obtinha a cura. Era Deus quem curava, mas apenas depois
que o olhar atingisse aquela imagem de metal. O argumento está, desse modo, no
fato de Deus ter usado uma imagem para curar, não importando que as nações
usassem diversas imagens, incluindo a de serpentes em seus cultos idolátricos.
Sabemos que os pagãos
adoravam serpentes, e faziam imagens de escultura desses ídolos e ofereciam
culto a eles. Mas, o Deus eterno não pensou que isso seria um perigo de
idolatria para o povo, quando escolheu curá-lo por meio de uma imagem de
escultura em forma de uma serpente. Poderia parecer algo pouco conveniente, mas
Deus não pensou assim, pois sabe que a idolatria está no coração daquele que
afasta-se de Deus e não nas meras possibilidades oferecidas pelas
circunstâncias.
Uma vez que a serpente
iria ser instrumento de cura, a fé em Deus seria reavivada, e a glória não iria
para a serpente, mas para Deus. O culto divino seria reestabelecido após aquele
pecado, e agora o povo voltava devoto ao reconhecimento de Deus e do Seu servo
Moisés.
Outro fato, também
muito importante nessa questão, é que a serpente continuou a existir durante
várias gerações entre os israelitas, não tendo sido destruída. Certamente,
todos os filhos de Israel que olhavam para aquela imagem lembravam-se do feito
que lhes era contado seus pais, e glorificavam a Deus, e também faziam memória
do venerável profeta Moisés. Era uma imagem que ensinava ao povo sobre o pecado
e apontava para a conversão a Deus.
Em uma recapitulação,
temos que a imagem da serpente foi feita com o objetivo de curar (cf. Nm 21,8)
e de fato foi usada para curar: “Moisés,
portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era
mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia”. (Nm
21,9)
Essa passagem é um
prova de que Deus faz milagres por meio de imagens de escultura. Alguns
poderiam afirmar que aquele foi um caso único, que aquela imagem foi ordenada
por Deus, e somente ali foram realizados aqueles milagres de cura, e que após
isso a serpente não mais foi utilizada para esses fins. E que as imagens não
podem ter réplicas e etc.
De fato, a imagem da
serpente teve como fim a cura daqueles que foram mordidos pelas cobras.
Contudo, não há nada na Bíblia que afirme que o milagre foi usado somente
naquela ocasião, e não podia mais repetir-se, ou que nenhuma outra imagem
pudesse ser usada por Deus para realizar curas e prodígios. Afirmar isso é
concluir algo que está além do texto bíblico. É inventar princípios.
Pelo contrário, a
continuidade da serpente entre o Povo de Israel mostra que a mesma foi conservada
com veneração, pois Deus não mandou destruir a serpente, e ela serviu para
ensinar aquele acontecimento, não tendo sido um objeto artístico para decoração
nem (1) no propósito para a sua confecção, nem (2) em seu uso e nem (3) em sua
conservação pelo povo. Foi antes, uma imagem usada para curar, depois
conservada como memória de um feito de Deus em favor do povo.
No entanto, no tempo do
rei Ezequias foi realizada uma reforma religiosa. O povo havia se afastado dos
caminhos de Deus em vários sentidos, e até a serpente de bronze havia perdido
seu significado original.
“Foi ele que aboliu os lugares altos, quebrou as estelas, cortou o poste
sagrado, e reduziu a pedaços a serpente de bronze que Moisés havia feito, pois
os israelitas até então ofereciam-lhe incenso; chamavam-na Noestã”. (2 Reis
18,4)
Ao destruir os lugares
de idolatria, o rei também inclui a serpente que Moisés havia feito por ordem
de Deus, não porque isso fosse necessário por si mesmo, mas “porque” os
israelitas estavam adorando aquela imagem, tendo até dado um nome a ela, o que
supõe terem concebido em seu espírito que ela era uma divindade. Por isso, não
mais lembrava os feitos de Deus e glorificava o verdadeiro Deus, mas recebia em
si mesma o incenso e adoração do povo, sendo chamada por um nome que foi dado a
ela, e assim era algo já distanciado do seu sentido original. Estava agora
roubando a glória de Deus.
Isso é o que vemos,
pois aqueles israelitas tinham construído “lugares altos, estelas, poste
sagrado”, mostrando total queda na idolatria. A serpente não foi o motivo da
queda, foi, no entanto, transformado seu uso depois do pecado que havia
cometido, e tornou-se não mais objeto de veneração, como antes, mas de
adoração.
Esse é o momento que
podemos vislumbrar qual foi a diferença introduzida. O texto revela alguns atos
que mostram essa modificação.
No início, o povo
somente fitava a imagem e recebia a cura. Aquilo criou na alma do povo a
verdadeira conversão a Deus, pois os israelitas eram gratos a Deus e a Moisés
pelo perdão que receberam. Aquela serpente ficou entre eles como imagem que
lembravam seu pecado e a misericórdia de Deus. (cf. Sabedoria 16,6s)
Agora, contrariamente,
dois atos são revelados, de terem surgido entre o povo caído na idolatria: “ofereciam-lhe
incenso; chamavam-na Noestã.” Somente isso. Não diz o texto que eles oravam
diante dela, nem que prostravam-se diante da serpente, nem que tocavam na haste
onde ela estava. No entanto, tudo isso está implicado no que foi dito, já que
queimavam incenso em sua honra e já a identificavam por um nome. Para eles,
então, a serpente já havia tornado-se uma entidade poderosa que merecia culto.
O povo acabou imitando os pagãos e adorando a serpente.
Temos assim os
elementos que podemos usar para fazer a justa e correta comparação entre o uso
sadio da imagem sagrada e seu uso idolátrico. Nos primeiros séculos,
certamente, a serpente de bronze feita por Moisés conservou seu sentido
original, e lembrava o povo da lição que devia sempre comemorar. Depois disso,
a imagem tornou-se algo separado daquele acontecimento, pelo menos em essência,
e tornou-se uma “deusa” de bronze, com poderes e dignidade de culto como ídolo
pagão.
Por isso, houve pecado,
a imagem que antes era boa tornou-se má, o que ensinava a verdade passou a ser
origem da mentira. De fato, Deus não revelou que aquela serpente representasse
uma divindade, ou um anjo, ou qualquer poder fora dele. Aliás, serpente é
símbolo de Satanás. Assim, a serpente naquele momento não passava de
representação das serpentes venenosas literais que mordiam os israelitas, e
lembravam seu pecado.
Quando o povo deu-lhe
um nome, ela passou não mais a ser um sinal de um simples animal, mas tornou-se
um objeto idolátrico. Dessa forma, oferecendo-lhe incenso, também prostravam-se
diante dela, faziam-lhe pedidos, adoravam-na de fato. É isso que podemos
inferir das duas ações de culto que são reveladas: o incenso e o nome que deram
à imagem. O ídolo que nasceu no coração do povo foi materializado naquela
imagem boa que Deus mandou fazer. A imagem seria neutra em si, mas a bondade dela
está no que ela ensinava, e na própria natureza material que é criação de Deus.
Não fosse o pecado do
povo de Israel para com a imagem, talvez fosse ela encontrada até os dias de
hoje entre os judeus, e seria objeto de respeito por sua origem e simbolismo
relacionado ao verdadeiro Deus.[1]
E outra consideração
que deve ser feita em relação à serpente de bronze e as imagens sagradas do
Novo Testamento diz respeito à veneração que recebem. A imagem da serpente era
valiosa por ter sido o símbolo material usado por Deus para salvar aquela
gente. No entanto, a imagem não tinha uma simbologia a mais naquele momento,
não tendo motivo de receber uma veneração além da consideração da razão de sua
existência. Por isso não é provável que a serpente tenha sido objeto diante do
qual os hebreus ajoelhavam-se ou prostravam-se, ou que diante dela fossem
feitas orações e outros gestos religiosos.
O motivo disso é que a
serpente não significava nada além daquilo que foi mostrado antes, ela não tinha
uma existência fora daquela simbologia, não era um sinal de algo ou de uma
entidade espiritual. Se caso algo fosse dirigido a ela não havia como passar
disso, ou seja, caso a veneração a mais que ela recebesse acabaria nela mesma,
pois não era representação de uma realidade espiritual.
Para ficar mais
simples, basta comparar as manifestações de devoção para com a arca e para com
a serpente: em frente à arca eram feitos sacrifícios e orações, e diante da
serpente nada disso era realizado. A arca ficava no interior na tenda e, mais
tarde, do templo, enquanto que a serpente foi colocada no meio do acampamento,
onde não era feito culto a Deus. Portanto, a comparação entre a serpente de
bronze e as imagens atuais dá-se quanto a seu uso para o ensino religioso, e
para a manifestação de algo de Deus, se esse for o desígnio divino. Não pode
ser comparada quanto às expressões de veneração que são feitas às imagens
cristãs, pois essas representam pessoas reais, e significam algo fatual para a
fé cristã.
Assim, os santos
recebem as homenagens e as honras quando suas imagens são veneradas, já que
elas são sinais que apontam para a real existência dos santos. Pedir
intercessão diante de uma imagem é o mesmo que dirigir a mente em pedido de
intercessão à pessoa que está nela representada. Nada disso era possível com
relação à serpente de bronze. Por outro lado, isso era o que ocorria com a arca,
que recebia as honras divinas, não que a arca material fosse adorada, pois a
adoração era dirigida a Deus que era lembrado por intermédio dela.
Não obstante a imagem
da serpente ter sido destruída, sua validade simbólica continuou viva, e foi
ratificada por Nosso Senhor Jesus em João 3,14-15: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja
levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha nele vida
eterna.” Eis mais uma prova da utilidade perene daquela imagem de
escultura.
Isso não quer dizer que
a imagem da serpente devesse ser restaurada, pois o que importou foi seu
sentido espiritual. Jesus usou daquele fato para revelar que aquela imagem
apontava para a Si mesmo quando fosse levantado na cruz. Foi na cruz que
Satanás foi derrotado, e o pecado destruído, e na cruz jorra a fonte do perdão
aos homens. É na cruz de Cristo que o cristão encontra sua cura espiritual, que
é o perdão do pecado, a salvação de Deus.
Inspirados nessa
verdade, os cristãos entenderam o simbolismo grandioso e central da Cruz de
Cristo, e passaram, logo nos primeiros séculos, a usar o sinal da cruz como
sinal do cristão, e a usar a arte com fins religiosos para recordar o precioso
mistério da salvação. Falar da cruz é o mesmo que falar de Cristo, honrar a
cruz é honrar a Cristo, usar o símbolo da cruz é o sinal de estar assinalado
com a salvação de Cristo.
Nasceu assim, sob a
inspiração do Evangelho, o costume do uso da cruz e do crucifixo. Se voltarmos
ao sentido do uso da arca da aliança, e da imagem da serpente de bronze,
entenderemos a devoção das imagens sagradas no Novo Testamento. Quanto ao
crucifixo, em termos de objeto de veneração, a comparação com a arca é
naturalmente gloriosa. E também sua ligação para com a serpente de bronze é
inevitável diante do que foi dito por Jesus.
O crucifixo aponta para
a cruz de Cristo, ensina a verdade do Evangelho, que é o poder de Deus para a
salvação daquele que crê. (Rom 1,6) Assim como a serpente de bronze foi
interpretada por Jesus como a figura da Sua elevação ao alto da cruz, hoje ao
usarmos a cruz estamos anunciando o ponto fulcral do Evangelho, que foi a
consumação da salvação por Jesus Cristo na Sua morte na cruz.
Desse modo, enquanto as
imagens no Antigo Testamento foram ensinando os mistérios vindouros, para os
tempos da graça de Cristo, apontando para Jesus, por seu lado as imagens que a
Igreja Católica emprega no Novo Testamento são instrumentos que sinalizam as
verdades cumpridas por Nosso Senhor Jesus Cristo, e voltam a nossa atenção para
os mistérios da salvação, para avivar a fé em Jesus o Salvador, e passam a
apontar para o Reino Celestial. Esse uso das imagens está, pois, radicado no sentido
e doutrina da Bíblia. É o que está conforme a nova Lei, a Lei da Graça, em que
a adoração é feita em espírito e em verdade.
[1]
Assim é que os arqueólogos encontraram diversas serpentes feitas de bronze,
usadas pelos pagãos, certamente para serem protegidos contra as cobras
venenosas, assim como foi a serpente de Moisés. “Acharam-se em Meneiyeh (hoje,
Timna) diversas pequenas serpentes de cobre que, sem dúvida, eram utilizadas,
como a de Moisés, para se proteger contra as serpentes venenosas.” Nota da
Bíblia de Jerusalém em Números 21,4.
Então leia 2 Reis 18: 4- 6
ResponderExcluirCaramba, tu não leu nada do que o cara escreveu? Hein, seu papagaio de pastor?
ExcluirE fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Davi, seu pai.
ResponderExcluirEle tirou os altos, quebrou as estátuas, deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã.
No Senhor Deus de Israel confiou, de maneira que depois dele não houve quem lhe fosse semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele.
2 Reis 18:3-5 verdadeemfoco.com.br
Mais um blá blá blá protestante!
ExcluirGraça e paz a todos.
ResponderExcluirNem vou entrar em discussão, queridão tire esse post do ar, seu blog perdeu total sentido. Você diz q refuta heresia e posta uma, como isso, me explica?
De uma pequena lida em Salmos 115 por favor.
Abç
Aff... Herege.
ExcluirEles se esquecem que Deus n divide a honra e a gloria dEle c ninguém.
ResponderExcluir–“Eu lhes dei a glória que me deste” (Jo 17,22);
Excluir–“Deus concede graça e glória” (Salmo 84,11) ou (Salmo 83,12);
–“O que… Deus preparou para nossa glória” (1Cor 2,7);
–“Os que chamou, também os justificou, e os que justificou, também os glorificou” (Rm 8,30);
– “Vi outro Anjo descendo do céu, tinha um grande poder e a terra ficou iluminada com a sua glória” (Apc 18,1);
–“Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem.” (Rm 2,10);
- “O Senhor agradou-se dessa oração, e disse a Salomão: Pois que me fizeste esse pedido, e não pediste nem longa vida, nem riqueza, nem a morte de teus inimigos, mas sim inteligência para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo; dou-te um coração tão sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti e nem haverá depois de ti. Dou-te, além disso, o que não me pediste: riquezas e glória, de tal modo que não haverá quem te seja semelhante entre os reis durante toda a tua vida. (1Rs 3,10-13).
Ele não está dividindo a glória Dele, Ele está dando glória para os outros que não é a glória Dele, é a glória dos outros. Ele está dando glórias e não está dividindo a glória Dele ! A glória de Deus é uma coisa, a glória dos outros é outra coisa !
ExcluirMuito bom o seu texto só não concordo com o fazer o sinal da cruz e usar o crucifixo mas com todo respeito, mas é só uma questão de interpretação parabéns amigo
ResponderExcluirMuito obrigado, Denis.
ExcluirAo irmos aprofundando o conhecimento vamos entendendo mais sobre essas coisas, como os gestos e símbolos. Aos poucos.