As
divisões do protestantismo e sua unidade fundamental
O
Protestantismo dilacerou a Igreja em incontáveis denominações. Fala-se de
38.000, segundo dados citados por Vanhoozer. É óbvio que tal número é criticado
veementemente pelos apologistas protestantes.
Na
reforma religiosa iniciada por Martinho Lutero surgiram os luteranos, mas
também os calvinistas, os wesleyanos, os zwuinglianos, os menonitas e outros. O
que isso tem de importante? Não são todos cristãos? Não estão todos unidos na
fé comum em Cristo, nas doutrinas fundamentais? De fato não. Esse pensamento é
posterior, e não o do século 16. Vanhoozer tenta resolver esse dilema.
Naqueles
tempos as disputas eram acirradas por questões relativas à eucaristia, como
ocorreu entre Lutero e Zwínglio, o que não é o mesmo que ocorre hoje entre
luteranos e batistas, por exemplo.
No
entanto, é um fato que existem hoje protestantes que não consideram luteranos como protestantes, o que é algo
formidável, já que os primeiros protestantes são desconsiderados por aqueles
que nasceram da reforma radical, que é posterior. Há ainda batistas que não se consideram
protestantes.
A
verdade é que há desacordo em pontos diversos de fé e prática, como menciona o
autor acima. E podemos dizer que são pontos importantes. Mas, eis que a apologética protestante atual frisa a unidade nos
pontos fundamentais. Até isso é algo novo, e bastante compreensível. De fato,
há certa unidade entre os protestantes nesse âmbito, mas quanto mais se procura
uma base comum, mais estamos unidos, todos os cristãos, incluindo os católicos,
embora os protestantes em geral não intencionem incluir católicos romanos nessa unidade que defendem.
Por isso, devem tentar entender onde está o erro quando procuram justificar essa unidade nas doutrinas fundamentais, que na verdade não é uma unidade tão satisfatória como parece.
A
busca da unidade verdadeira
Vanhoozer procura estabelecer o lugar para se encontrar a unidade de fato. Ele faz um estudo onde busca tirar as ideias que dariam a unidade à Igreja nos cinco solas da reforma protestante.
O
protestantismo continua com a ideia de alcançou a liberdade em todos os níveis,
como a acadêmica, onde a crítica especializada foi alcançada na teologia, o que possui o antídoto contra o dogmatismo
católico romano. Essa ideia é atual e também é o que o protestante procura
manter.
Os
protestantes certamente pensam que a apologética católica é algo fraco, pueril,
sem fundamento, e que não há alguém biblicamente formado que possa dar ouvidos
aos argumentos católicos.
Essa
é a posição e alguém que de fato entendem o mínimo de catolicismo possível,
pois é justamente o oposto: a Igreja Católica possui a doutrina eminente de
toda a Cristandade. Em todos os campos, quanto mais se aprofunda em determinado
assunto, mais se aproxima da verdade, e assim mais se está próximo da Igreja
Católica.
Protestantismo
luterano
Um
fato, já mencionado antes, aparece no livro de Kevin Vanhoozer e pode ser de
interesse de muitos.
O
luteranismo, que é o protestantismo original, é considerado academicamente como
segundo desabrochar do medievalismo
que levou indiretamente ao novo protestantismo.
No
Brasil o pentecostalismo e o neopentecostalismo, e também batistas e
presbiterianos, e outros, são os crentes conhecidos. O luteranismo passa quase
despercebido. É isso apenas um sintoma dessas ideias acima relatadas.
Isso
se deve ao fato de que os luteranos, por estarem na proximidade maior no tempo
e na doutrina, ao catolicismo, são considerados aqueles que não levaram a
reforma tão longe quanto deveriam. São muito parecidos com os católicos em sua
espiritualidade.
Dessa
forma, se alguém volta às fontes do protestantismo, esse estará mais próximo do
luteranismo, e, por sua vez, mais perto do catolicismo. É inevitável.
Os
luteranos creem na justificação pela fé, no livre exame, nos solas etc. São
eminentemente protestantes. Mas pasmem: admitem uso do crucifixo, creem na
virgindade de Maria, etc. E na apologética atual os protestantes acreditam que
é algo claro e simples que Maria teve outros filhos, usando o mesmo livre
exame. Basta esse fato notório para mostrar que o que não há é a tal
simplicidade e clareza quanto a esse assunto na Bíblia.
O
resultado do livre exame
Os
puritanos tentaram moldar uma nova espiritualidade entre os protestantes. No
entanto, entre eles surgiram problemas doutrinais e práticos, não alcançado consenso
interpretativo. Apareceu entre os protestantes aqueles que defenderam a heresia
antinomianista, chamada de “livre graça”.
Certa
mulher protestante, em 1636, interpretando a Bíblia, se opôs aos líderes da
igreja. Obviamente, foi expulsa. Mas, não estão todos livre para interpretar a
Bíblia? Contudo, esse método dificilmente gera unidade. E o resultado:
dissensões.
Lutero
fez o mesmo em relação ao clero católicos, pois cria que sua interpretação era
superior. Logo apareceram outros, como o padre Zwínglio, mais radical,
acreditando ter a assistência do Espírito Santo, e chegando a conclusões
opostas à de Lutero em determinadas questões.
Tudo
isso levou os protestantes à busca de maior preparo teológico acadêmico unido á
busca da assistência do Espírito Santo, o que é louvável, razoável, correto.
Mas, não é isso mesmo que a Igreja Católica sempre ensinou? Desse modo, vemos o
que as controvérsias nas alas protestantes logo dão lugar ao sentimento de
reforma, e essas encontram conformidade com s princípios católicos que tinham
abandonado.
A
Igreja Adventista do Sétimo Dia
O
adventismo estuda diligentemente as fontes do protestantismo. É um movimento de
reforma dentro da reforma. Portanto, é oriundo das alas radicais.
Seguindo
o princípio de igreja sempre em reforma, os adventistas chegam a doutrinas nunca
antes cridas. No entanto, isso é esperado, já que são adeptos do sola scriptura.
Nesse
ponto, adventistas se aproximam mais dos históricos batistas do que dos
luteranos. E assim no geral, estão mais longe do catolicismo. No entanto, por
serem devotados estudiosos da Bíblia, em muitos pontos estão próximo da doutrina
católica, como a questão referente aos dez mandamentos, ao dia de repouso e
culto divino, na reforma da saúde, etc.
Crise
de interpretação entre os protestantes
É óbvio que os protestantes creem na unidade nos pontos
fundamentais. Mas Vanhoozer menciona o fato de que existe proliferação de opiniões e desacordo sobre praticamente o conteúdo
inteiro da Bíblia. Isso é uma tremenda desunião.
Para resolver isso, Vanhoozer acredita que é preciso
distinguir entre a pluralidade negativa de interpretações e aquilo que chama de
biblicismo ingênuo, colocando em seu lugar uma pluralidade interpretativa de
unidade. Isso é o máximo que um protestante consegue fazer, pois já beira à
unidade católica, se os equívocos do caminho forem retirados e a via
solucionada corretamente.
Vanhoozer tenta chegar à unidade ao desenvolver
corretamente, na perspectiva protestante, as premissas sola scriptura e unidade protestante.
Lembremos que Lutero chegou, razoavelmente, a entender a
necessidade dos líderes religiosos e instituições para a correta interpretação da
Bíblia. Ele usou o bom senso. Contudo, não é isso o que a Igreja Católica sempre
ensinou, e que foi por ele abandonado?
Então,
fica a questão de McGrath citado por Kevin Vanhoozer: quem autorizou essas
autoridades? O protestantismo tem esse problema para resolver.
De
quem é a autoridade teológica?
Se
todos são sacerdotes, então todos interpretam bem a Bíblia. Se um membro da Igreja
Adventista do Sétimo Dia, por exemplo, já que estamos estudando o adventismo,
se um membro dessa igreja encontra algo na doutrina oficial com o qual não
concorda, e apresenta sua interpretação bíblica e os argumentos contrários ao
ensino da igreja, e o passa ao pastor, aos líderes, às autoridades da
denominação, etc., o que espera com isso? Logicamente, que sua interpretação
seja acatada. É o mínimo.
Caso não aconteça, e o mesmo não fique satisfeito com a argumentação oficial, certamente isso causará descontentamento e, possivelmente, futuro desligamento desse membro.
No entanto, o que foi que serviu de autoridade teológica? A Bíblia, diria o leitor crente inconformado. Mas, eis que em última análise foi sua própria autoridade que prevaleceu, a sua leitura individual foi preferida, e a autoridade da denominação, com sua história, tradição e líderes bem preparados, que reunidos em consenso escreveram as doutrinas para apresentá-las aos membros, essa autoridade foi rechaçada. Esse problema é previsto no protestantismo.
A
unidade eclesial
Quem
detém a interpretação válida? O que torna a interpretação de uma pessoa ou de
uma igreja mais autoritativa do que a de outra?
Essas
questões que Vanhoozer coloca em seu livro são importantes. Cada igreja tem sua
autoridade, e cuida da doutrina e da prática dos seus membros, para que haja
unidade.
No
entanto, cada uma pensa estar em posição melhor do que a outra. De fato, quem
pensaria estar em posição pior e ainda continuaria a defender a doutrina que
defende? O luterano pensa estar correto onde diverge do presbiteriano. O
batista crê que o seu batismo é o verdadeiro, e não o luterano e presbiteriano.
O pentecostal acredita que aquele que nega a continuidade dos dons está em
erro. O calvinista crê que não existe o livre-arbítrio, a não ser o
livre-arbítrio determinado, é claro. E isso o faz crendo que está correto, e
que o arminiano está em erro. O advenstista crer que o sábado é o dia que deve
ser observado, e que Ellen White é profetisa, e que há um juízo pré-advento, e
que as almas não existem, e que os ímpios serão aniquilados, e nisso acredita
que está correto, e que os demais protestantes que creem na imortalidade da
alma, no inferno, e etc., estão errados. Qual a interpretação válida? Todas?
Não pode ser.
E
a tradição
Certamente
é isso que no momento preocupa. Vanhoozer tenta olhar para trás para repetir, a
fim de reformar. Isso é de certo modo reconsiderar o papel da tradição, que o
Protestantismo admite.
Mas,
será que ainda assim a tradição protestante garante a unidade e é o correto
entendimento em toda a questão da autoridade e intepretação bíblica?
Vanhoozer
acredita que a interpretação bíblica no Protestantismo não é anárquica. Olhar
para trás para revitalizar a interpretação bíblica. Não seria isso voltar á
tradição como Palavra de Deus, infalível, como está na Igreja Católica? De
fato, o Protestantismo possui um lugar de estima para a tradição, mas essa é
sempre crida como falível, em
submissão à Bíblia, que por sua vez será interpretada pelos leitores crentes.
Pode-se
vislumbrar aí o problema que Kevin Vanhoozer tem para resolver, ao recolocar a
tradição como autoridade nesse sistema de autoridade e interpretação da Bíblia.
Como
protestante, o teólogo Vanhoozer buscará a unidade fundamental e tentará
justificar as discordâncias secundárias e terciárias. Não seria o mesmo
problema de antes, onde a questão: quem define o que é ou não é primário,
secundário, terciário? E o problema é difícil para o protestante resolver.
Sacerdócio
real dos crentes
E
os cristãos católicos, não são eles considerados pelos protestantes como também
parte do sacerdócio real dos crentes? Sendo assim, a Igreja Católica é, na perspectiva
de Vanhoozer, o local onde Cristo atua, governa e concede dons para a
construção do Seu Corpo místico? Ou isso é negado pelo teólogo? Se não, então o
problema do Protestantismo sobre a autoridade e interpretação da Bíblia
continua bastante difícil de resolver.
O
protestante está atualmente se inclinando a estudar e entender melhor a
catolicidade da Igreja. Deseja ser protestante católico, por assim dizer. Isso
também é sinal de maior compreensão bíblica, e assim maior proximidade da
Igreja Católica.
Importância
do Protestantismo
Como
Protestantismo a Igreja Católica foi forçada a definir sua doutrina em muitos
pontos, a formar melhor o clero, a reconsiderar muitas práticas, a reavivar o
espírito do evangelho nos cristãos católicos de então.
Que
os protestantes aprendam com as denominações do Protestantismo e conheçam a fé
católica da qual todo o Protestantismo brotou.
Gledson Meireles.
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