domingo, 21 de julho de 2024

Livro: Nenhum caminho leva a Roma, refutando capítulo 3

Refutação do capítulo 3: A intercessão dos santos


A intercessão da virgem Maria e dos anjos não exige que eles sejam oniscientes e nem onipresentes. De fato, os anjos sabem o que se passa na terra, e os santos também, sem que saibam tudo e de forma imediata. Dessa forma, crer na intercessão dos santos não é crer que eles podem saber tudo e estar em todo lugar ao mesmo tempo, pois não é isso o que fundamenta a intercessão.

Os santos podem interceder porque estão na glória do céu, estão na eternidade, estão no amor de Deus, e por isso possuem um ministério como salvos em favor da Igreja na terra. Somente isso é preciso que seja crido.

A forma com que os santos conhecem os pedidos dos fieis na terra não é revelada. Pensar sobre isso é uma especulação. Também, no entanto, que os anjos sabem o que se passa na terra, pois Jesus afirma que eles se alegram com a conversão dos pecadores. Também é verdade que na ressurreição todos seremos como anjos. Assim, no estado intermediário, no reino dos céus, os salvos já possuem certas prerrogativas que são compartilhadas com os anjos.

Deus não precisa de ajuda. No entanto, tem têm seus ministros, os anjos, e também os santos, que O servem em prol da salvação dos que creem. A Igreja Católica acredita que os santos veem aquilo que está em Deus e que está conforme o plano de Deus revelar. Desse modo, podem interceder pelos santos que estão vivos na terra.

Com isso, refuta-se que ainda sendo criaturas limitadas, não podendo por si saber tudo e nem estar em todos os lugares, os santos estão na eternidade, no amor de Deus, e podem interceder. O modo como isso ocorre é algo que somente Deus conhece. Isso refuta as objeções, e estabelece o fato.

Jesus é o único mediador necessário, de salvação e intercessão. Os santos podem interceder secundariamente, por meio de Cristo. Como estão no Corpo Místico de Cristo, ou seja, na Igreja invisível, todos ligados na graça uns aos outros, há essa possibilidade de intercessão. Portanto, está conforme 1 Tm 2, 5, pois logo a seguir o texto afirma que devemos fazer intercessão por todos. Se os vivos intercedem, suas preces chegam ao céu, por meio de Cristo, sendo uma mediação do mundo físico até o espiritual, por meio do único mediador. O mesmo fazem os santos do céu rogando a Deus pela Igreja na terra. Não há argumento que possa refutar isso.

Em 1 João 2, 1, onde Cristo é o Advogado, esse é o advogado de salvação. Os santos são intercessores, medianeiros, advogados, no sentido de estar ministrando no céu por nós. Os santos não salvam, mas intercedem, como os santos da terra. Mas, estando sem pecado, e mais próximos de Deus, sua intercessão é muito útil.

Em Romanos 8, 34 está escrito que Jesus intercede por nós. Não é dito que é o único intercessor. Essa é uma falha de raciocínio. De fato, o Espírito Santo é intercessor também. Os anjos são intercessores com os santos. A diferença da intercessão de Jesus é que essa é de salvação, o único que intercede pela salvação dos que creem, e que pode salvar. O Espírito Santo vem à fraqueza humana para interceder ao Pai por meio de Cristo, como auxiliador. Os santos participam da intercessão em favor da Igreja.

Em Fl 1, 23 e 2 Tm 4, 7 não há nada contra a intercessão. São Paulo afirma que seu ministério no ensino do evangelho aos cristãos era muito útil para os cristãos, e por isso deveria ficar vivo. Isso não significa nada quanto à intercessão dos santos, que acontece sempre e tem outro significado na Igreja. O ministério de pregar o evangelho é um, o de interceder no céu é outro. Não há nenhuma passagem bíblica que negue a intercessão dos santos no céu. São Paulo encerrou sua carreira como apóstolo das nações, agora está no céu adorando a Deus e servindo a Deus em favor da salvação dos que creem em Jesus.

A implicação de que a morte é apenas “descanso eterno” não condiz com o que a Bíblia afirma dos santos no céu. Assim como os anjos trabalham e estão em ação sempre, e adoram a Deus, afirmar que esse descanso é não fazer nada, nem mesmo interceder, é algo que ultrapassa a doutrina bíblica. É o argumento mais fraco.

Os santos podem estar no tempo kairós, já que estão com Deus. A salvação já coloca os santos na eternidade, e portanto a objeção não é pungente.

Afirmar que os santos estão no tempo chronos e por isso não têm tempo de ficar rezando por todo mundo, é a mesma objeção que poderia ser feita do trabalho dos anjos, que, como criaturas, não poderiam ministram pela salvação dos pecadores, por estarem não poderem realizar o que só Deus poderia. Isso contradiria a revelação bíblica. Refuta-se assim essa objeção. Em 2 Tm 2, 1 é exortado que façamos orações por todas as pessoas. Ainda que ilimitados, podemos fazer isso, em intenção, e aos poucos, oferendo orações pelo mundo inteiro. Deus é conhecedor dos corações e pode atender as orações assim feitas, dentro das limitações dos santos.

O autor afirma que os santos não sabem o que se passa na terra, mas não apresenta nenhum argumento bíblico. É apenas uma afirmação. O caso da onisciência e onipotência, é verdade que somente Deus possui esses atributos. No entanto, para interceder não é necessário que esses tenham tais atributos, mas apenas que estejam conscientes, que estejam na graça de Deus, e conheçam o que se passa na terra.

E, por acaso, o argumento do livro muda. Ao tentar refutar a intercessão dos santos, o autor apresenta Jesus como único mediador, único salvador, único caminho, como se isso fosse uma objeção contra a intercessão dos santos. Mas tais coisas duas diferentes.

Embora saibamos que todos podemos ir a Deus, por meio do único Mediador, e fazer pedidos em favor uns dos outros, isso não quer dizer que cada intercessor se torna salvador e caminho a Deus. Dessa forma, os santos estão orando a Deus, e não sendo outros mediadores de salvação. Podem fazer pedidos, levar os pedidos a Deus, e não salvar, o que é coisa bastante diversa.

Ainda, a intercessão não é comunicação com os mortos, propriamente dita. Não há invocação, não há revelação por parte dos santos, e então essa prática não tem a ver com a necromancia.

A doutrina da intercessão não foi negada no primeiro século. Por isso, não se encontra controvérsia quanto a isso. Quando são Paulo pede aos cristãos que orem por ele, isso não significa que não pedisse aos santos já mortos. A ajuda dos santos do céu não dispensa a oração de intercessão dos santos na terra. É o inverso. A intercessão dos santos da terra é auxiliada pela dos santos do céu, já que a morte não faz separação e não interrompe esse elo entre os que estão no Corpo de Cristo. É uma refutação ao argumento posto no livro sobre a intercessão dos santos mortos.

Quando o autor tenta afirmar que ninguém pode fazer intercessão, só quem está no tempo kairós, agora tem que explicar porque os santos da terrar podem fazer a mesma intercessão, e não entende que um argumento desfaz o outro de forma sutil. A única coisa que é mostrada para invalidade a segunda parte do argumento é a morte, mas essa não é biblicamente o fim da relação entre os santos, pois se todos estão no amor de Deus, então há como um membro espiritualmente pedir a Deus por outro membro, ainda que esteja morto. Quanto à virgem Maria, essa foi ressuscitada e levada ao céu.

E o pedido que um faz ao outro para que ore a Deus em seu favor, e em essência o mesmo que os fieis endereçam ao céu, pedindo intercessão dos santos. Nada mais do que isso.

A oração é feita a Deus, e o pedido é feito aos santos. Se a morte não desliga os membros vivos dos membros mortos, então se podem pedir oração dos santos da glória. Todos irão pedir a Deus em favor uns dos outros. Assim, está estabelecida a oração dos santos.

Não há motivo para exigir que se mostre biblicamente um exemplo de alguém pedido expressamente a intercessão a um santo já morto, já que tal coisa fluiu naturalmente na prática cristã, e não foi objeto de controvérsia, de modo que não há objeções contra isso na Bíblia nem nos primeiros séculos. A arqueologia mostra que os cristãos pediam aos santos sua intercessão.

Novamente, se se coloca a única mediação de Cristo contra a mediação dos santos, de uma forma bastante desequilibrada se está tentando refutando o que já está provado, e parte do que é admitido pelos próprios protestantes, a saber, a intercessão dos santos vivos.

Vejamos como ficaria o argumento, usando o raciocínio do autor, se colocamos a intercessão dos santos na terra: “Temos livre acesso a Deus, e não precisamos que alguém ore por nós. porque a mediação ou intercessão dos santos é desconhecia na Escritura”.

Mas, logo aparece o pedido de São Paulo: ore a Deus por mim. Então, volta-se à estaca zero: de fato, há intercessão, e podemos ir ao Pai em favor dos outros. Essa mediação existe, e isso não atrapalha em nada o acesso livre ao Pai que temos por meio de Jesus, porque se trata apenas de intercessão uns pelos outros na terra.

Portanto, se o leitor entendeu bem, a intercessão não atrapalha em nada a mediação de Cristo. Isso está provado.

Agora, vejamos mais: Mas a intercessão não pode ser feita pelos santos mortos, porque não são oniscientes e onipresentes, e não podem conhecer o que se passa na terra.

A resposta é que os mortos são limitados como criaturas, e o eram enquanto estavam vivos, e ainda assim intercediam pelos cristãos. Dessa forma, não é exigido nenhum atributo a mais para interceder. Ainda, deve-se provar que na morte eles deixam de sentir a necessidade de interceder pelos irmãos que deixaram, e que não podem conhecer o que se passa na terra. Não podendo fazer isso, a intercessão, como visto acima, está estabelecida.

Eis outro exemplo usado contra a intercessão dos santos. É dito que se se pede ao santo para que interceda a Jesus, isso supõe que Jesus não deve saber nada da sua vida.

Parece que o autor não entendeu que seu argumento volta-se outra vez contra a intercessão em si, contra o próprio ato de interceder em si: é o mesmo que usar o pedido de intercessão, como está em Romanos 15, 30, e afirmar que isso não é necessário, pois o apóstolo deveria saber que Jesus conhece a vida dele e sabe do que ele precisa, não necessitando que outros vão a Jesus e diga o que o apóstolo precisa. Isso é biblicamente um absurdo. Que o leitor entenda tal disparate.

Se o autor afirma que o vivo pode fazer isso, então a questão volta novamente à estaca zero, pois a objeção tinha sido quanto a não necessidade de outro interceder, e agora trata de quem é que pode interceder, o que são duas coisas diferentes. As duas objeções já foram refutadas.

Quando o cristão pede intercessão, isso não significa que ele mesmo não se dirija a Cristo diretamente. Não significa que ele não vai a Deus em Nome de Jesus. As duas realidades são bíblicas, pois devemos ir ao Pai, e ir a Cristo, e também pedir intercessão dos santos. E essa intercessão é válida sempre, tanto entre os vivos como entre os santos mortos na glória do céu.

Pedir em nome de Jesus (cf. João 14, 14) não quer dizer que não é necessário pedir a intercessão dos outros. Isso deve ficar bem entendido.

Imagine o argumento: Se Cristo nos dará qualquer coisa que pedirmos, porque precisaríamos da “ajudinha” dos irmãos para orarem por nós?

Está percebendo que essa objeção é usada contra a intercessão, e a intercessão é doutrina bíblica e admitida por todos? E depois que se estabelece a intercessão, então passa-se a dizer que somente os mortos é que não podem interceder, mudando a questão novamente? Ou seja, uma objeção é refutada e logo se cria outra.

Cristo dá qualquer coisa aos que pedem em Seu nome, mas nesse plano Ele inclui a intercessão dos santos. Essa é a doutrina bíblica.

São Paulo pediu que os cristãos de Roma combatessem com ele nas orações por ele a Deus. Ou seja, os cristãos são pedidos a rezarem a Deus pelo apóstolo. Então, é útil que outros orassem por ele a Deus. Não aparece algum pedido de intercessão dos santos já mortos, mas isso não significa que não existisse essa prática. Lembre-se que as epístolas eram escritas para tratar de alguma questão que estava sendo debatida, e os assuntos aparecem nessas circunstâncias. E, aliás, na intercessão dos santos não há qualquer proibição para pedir aos santos que já morreram, nem aos anjos. Assim, como não há qualquer passagem que afirme a intercessão somente dos vivos. Sendo que os argumentos foram refutados, a intercessão dos santos está estabelecida.

Quanto a Apocalipse 5, 8, mesmo não sabendo quem são, esses não são Deus, é óbvio, e portanto são criaturas. Sendo então, anjos ou santos, eles estão com orações dos santos da terra.

Assim, essas orações que estão com eles estão entre os cristãos da terra e Deus. Eles são medianeiros ali. No símbolo, as orações estão nas taças e eles a levam a Deus. Esse símbolo tem o significado de intercessão.

Se eles não sabem o que cada oração diz, se eles não têm ciência de cada caso específico em cada oração, eles apenas as tinham diante de Deus, conforme está na objeção, que o leitor aceite esse ensino: os santos da glória de algum modo recebem as orações e as apresentam diante de Deus.  Isso é o que ensina Ap 5,8, seja quem forem os anciãos apresentados. É uma prática que aparece explicitamente na Bíblia nessa passagem.

E, como é mais provável, os anciãos são salvos que já estão na glória do céu.

E, por final, Ap 6, 9-11 não diz nada contra a intercessão, mas apenas mostra que de alguma forma os santos mártires estão conscientes no céu e esperam a justiça de Deus contra os inimigos, enquanto descansam em Cristo.

Desse modo, nenhum argumento contra a intercessão dos santos conseguiu refutar a doutrina. Pelo contrário, foi mostrado como cada argumento está equivocado. Que o leitor desse capítulo possa continuar com fé em Jesus Cristo a pedir a intercessão de todos, dos santos da terra e dos santos do céu.


Gledson Meireles.

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