segunda-feira, 14 de março de 2022

Estudando a série de artigos: A invenção do catolicismo e do protestantismo - parte 4

A invenção do catolicismo e do protestantismo – Parte 4 – Reação Adventista (reacaoadventista.com)

Os títulos e subtítulos são os mesmos do artigo original, para facilitar na localização dos comentários de cada seção.

1.     A falibilidade da Igreja e o livre exame

Os apóstolos e outros escritores bíblicos foram inspirados por Deus para escrever tudo e somente o que Deus quis que fosse escrito em termos de doutrina e moral. Portanto, eram infalíveis em seu anúncio da Palavra.

Afirmar que a Igreja pode erra em questão de fé, e que o livre exame é suficiente para manter a unidade da fé é que são problemas insolúveis.

 

4.1. A falibilidade e a providência

A questão dos escritores bíblicos serem inspirados, e portanto infalíveis, ao escrever a Bíblia não significa que não pudessem errar em quaisquer outras áreas fazendo-os seres infalíveis. Portanto, refutar isso não afeta em nada a doutrina católica que também é contrária a esse pensamento.

Quando se diz que os apóstolos foram inspirados e infalíveis na escrita e proclamação da verdade, foi somente nessa área e nesse momento de inspiração que o fizeram, pelo poder de Deus, e não que tivessem o dom da infalibilidade em todo conhecimento.

A Igreja pode errar, no sentido comum, de que cada cristão pode errar e equivocar-se, mesmo os membros do clero, até mesmo o papa, mas a Igreja não pode errar nos momentos decisivos, quando para defender uma doutrina de fé, diante das circunstâncias históricas e das heresias, como quando defendeu a divindade de Cristo, a trindade, a divindade do Espírito Santo e etc. Nesses momentos cruciais Deus guia a Igreja para a verdade.

O povo de Israel tinha a Escritura, e não precisou de uma papa infalível para preservar a mensagem. Isso não é muito exato afirmar, já que o judaísmo dividiu-se de uma forma que era difícil saber qual das vertentes ainda estava no caminho original. Sabemos, depois da vinda de Jesus, que o farisaísmo era o ramo principal, e que Jesus ratificava a autoridade dos rabinos, embora criticasse seus erros em muitas áreas. Assim, a Igreja do Novo Testamento é mais perfeita que a Igreja do Antigo Testamento, nesse quesito de preservação da fé.

Até mesmo o cânon do Antigo Testamento não estava fechado, e isso não foi empecilho para a sobrevivência do povo de Deus, é afirmação do artigo. Vemos assim que a perfeição do plano de Deus a ser atingida no fim dos séculos está caminhando, e a Igreja Católica possui maior perfeição.

Visto que o cânon não tinha sido fechado havia aqueles que negavam parte imensa das Escrituras, bem como verdades de fé importantes, como os saduceus que não criam em anjos, espíritos e etc. Certamente, também não criam na alma humana, e, não tendo a fé revelada em outras partes da Escritura e não tendo a fé cristã,  negavam a ressurreição.

Assim, se demonstra como o magistério infalível é de maior perfeição. O autor reconhece outros erros judaicos da época, o que mostra que é preciso ver nesse quesito a importância da infalibilidade de Igreja de Cristo, que não foi dada à Igreja antiga, a da antiga aliança.

Os erros que foram permitidos pela Providência entre o povo de Israel não mais são permitidos na nova e eterna aliança. A Igreja possui promessas perfeitas, que o povo de Israel não possui, por serem uma etapa temporária para a formação da Igreja. As Escrituras do Antigo Testamento foram preservadas porque também são parte do propósito eterno, e são parte da fé cristã. Mas a fé hoje é mais identificável que nos tempos antigos.

A falibilidade humana não é capaz de atrapalhar os planos de Deus, mas é preciso ver que Deus aperfeiçoou a Nova Aliança, e isso implicou Deus que aperfeiçoou a Igreja em todos os sentidos. O argumento é apenas uma forma de pensar nessas verdades, não tendo nada que possa impedir as implicações e as revelações que mostram o papel singular da Igreja no plano da salvação.

O sistema de salvação não é baseado em perfeição doutrinária no indivíduo, é preciso entender, mas a perfeição existe, está na Palavra e na mensagem da Igreja. Por isso, mesmo os santos canonizados podem ter, algumas vezes, errado na fé, de forma não proposital ou com voluntária recusa de ouvir a Igreja, mas por suas imperfeições e erros de juízo, dentro das circunstância em que viviam, escrevendo coisas que a Igreja não ensina, como o fez São Gregório Nazianzeno, o grande Santo Agostinho, também Santo Tomás, são Belarmino, etc., só para citar exemplos de inegável grandeza na graça de Deus.

Portanto, a salvação do indivíduo não depende de uma perfeição doutrinal crida pelo indivíduo, mas a perfeição, moral e espiritual, deve ser buscada, como Mateus 5, 48 ensina, e a Igreja deve ter o patrimônio perfeito de fé, de entendimento para a sua época, de modo a termos seguro o que a Bíblia ensina. Esse argumento não pode ser refutado.

A infalibilidade da Igreja é importante para não permitir que o sincero buscador da verdade fique sem a devida recompensa. Deus deu a Bíblia inspirada e inerrante, e por isso garante a mensagem infalível na Igreja. A inspiração da Bíblia é maior demonstração do poder de Deus que a infalibilidade da Igreja, que decorre da Palavra e da assistência do Santo Espírito. Assim, quem crê em uma não terá dificuldade em crer na outra.

Dessa forma, os erros tratados pelo autor no artigo são parte da vida dos cristãos. Deve-se entender, a partir da Escritura, que assim como a Palavra de Deus é verdade, ela ensina a verdade, ainda que muitos a entendam erradamente. Também a Igreja é santa e verdadeira em Seu fundador e doutrina, ainda que muitos não compreendam a verdade inteira e errem em seus ensinos. Não pode, entretanto, a Igreja ensinar oficialmente o erro, mas os cristãos podem errar e errar em muitas questões, o que foi mostrado no artigo de forma bastante clara e interessante. Falta apenas olhar para a obra de Cristo na Igreja, em seu ensino, em sua perfeição, na sua infalibilidade, como resultado da promessa do nosso Senhor e Salvador.

 

4.2. O livre exame e a verdade

Os primeiros cristãos não iam à Bíblia para julgar o que os apóstolos ensinavam. A possibilidade de que sem autoridade central infalível os cristãos poderiam cair em confusão de teorias divergentes é apenas um fato. Mas há mais o que esclarecer.

Observemos o que o artigo chama de “falhas” no argumento contra o livre exame.

A possibilidade de nascerem divisões e heresias não é o que faz o livre exame ser errado. Ainda sem o livre exame há essa possibilidade. Entre os apóstolos, um traiu o Senhor, outro o negou, ainda usavam de violência, tinham ideias erradas sobre o papel do Messias, e etc. A divindade de Jesus, sua autoridade, sua graça, seu presença, não impediu aqueles comportamentos dos apóstolos.

Na Igreja, ainda que o corpo apostólico tivesse autoridade e ensinasse corretamente, surgiram divisões e heresias. Esse, portanto, não é o ponto contra o livre exame. Também não há nada contra a infalibilidade. O fato é que o livre exame é raiz para maior número de divisões, piorando a situação, e é errôneo se não for feito na consciência de que a autoridade de ensinar, dada por Cristo, é da Igreja. Portanto, o católico pode fazer seu livre exame.

Por isso, afirmar que a Igreja infalível não foi capaz de impedir divisões é argumento essencialmente igual a dizer que a inspiração da Bíblia, que ensina somente a verdade, não é capaz de impedir divisões entre os que a leem, que muitas vezes ensinam erros.

Certos entendimentos que aparecem nas críticas mostram que não se compreendeu bem o que é a infalibilidade da Igreja e também o que está errado no conceito de livre exame. Isso é um motivo para continuar a pesquisar, a dialogar sobre o tema, a crescer na fé, a buscar a verdade, em nome de Jesus, na Sua graça.

De fato, a autoridade infalível não foi criada por Deus para impedir divisões e surgimento de heresias, mas para certificar os crentes da verdade, de forma que podem ter uma fonte certa para porem sua fé. Assim, primeiro deve-se crer em Cristo, na Bíblia, na Igreja. Quem não crê na Bíblia não aceita as verdades ali ensinadas, mesmo que inspiradas. O mesmo acontece com quem não crê na Igreja Católica, que ainda que as doutrinas sejam verdades, falta-lhes a fé, que não permite aceitarem o que a Igreja ensina.

A questão da divisão pode ser vista sob duas perspectivas, uma dentro da Igreja e outra de fora dela. O autor limita-se a ver a divisão de fora. Assim, afirma que toda vez que um grupo surge na Igreja através de uma heresia, surge uma divisão, exemplificando com Marcião.

De fato, ali surge um grupo que antes era cristão católico, parte da Igreja, e forma-se em oposição à Igreja de antes, surgindo uma heresia. Mas, da perspectiva interna, a Igreja continua firme na sua fé, unida na mesma verdade, e vê um grupo de pessoas que deixa o seu âmbito, separando-se dela.

Isso sempre ocorreu, e pode ocorrer em todo o tempo. Quanto à divisão da ICAR com a Igreja Ortodoxa, basta pesquisar sobre o cânon bíblico e certificar-se de qual Igreja está com o verdadeiro cânon, o que já é um exemplo para continuar em busca da verdade, e uma indicação onde ela está.

Agora, o problema que o artigo traz é quanto ao conhecimento se o Papa e a Igreja são infalíveis. Como certificar-se disso, já que a infalibilidade serve para termos certeza da verdade em meio a tantas interpretações?

Mas, o autor afirma que no decorrer da série, desse estudo, verificou-se que não há evidência da infalibilidade. No entanto, os comentários feitos nos locais oportunos mostrou que é verdadeira a infalibilidade da Igreja, sendo preciso apenas aprofundar-se na fé bíblica para certificar-se dessa verdade.

Para comprovar a infalibilidade da Igreja basta que se estude com fé a Bíblia, e isso não é um raciocínio circular. Uma vez provada a doutrina, a fé na Igreja é criada no coração, decorrente da fé em Jesus Cristo, e o crente cresce na fé e na graça com segurança.

Portanto, a infalibilidade é uma garantia de Cristo para Sua Igreja, e isso se mostra na grande e profunda racionalidade da fé católica, ao contrário do que o artigo traz, afirmando da fé sem fundamento racional, o que demonstra não conhecer bem a fé católica. Não há fé personalista, porque o católico crê que Deus é autoridade suprema, e o que Deus promete Ele cumpre. Se Deus fala nas Escrituras, as Escrituras são a verdade, e Cristo promete proteger do erro a Igreja, então a Igreja ensina a verdade, e sendo assim é dever cristão crer na mensagem da Igreja.

Quando livre exame não fornece garantia, a infalibilidade da Igreja a fornece. Por isso, não há falha no argumento católico.

A segunda “falha” que o artigo traz seria que o católico pressupõe que livre exame é livre interpretação, o que criaria uma anarquia, onde cada um pode ter sua verdade.

De fato, muitos católicos pensam assim, e é isso que se depreende de muitas apresentações do livre exame no senso comum. Talvez mesmo em debates e exposições mais especializadas essa questão possa continuar a não ser tão clara.

Isso está em comparação com a doutrina da infalibilidade papal, que não é entendida pelos protestantes mesmo que lendo diretamente nas fontes católicas a definição da doutrina. Tudo isso mostra que é preciso mais estudo e diálogo, para que as questões fiquem mais claras e sejam melhor entendida.

O autor afirma que a autoridade e a hierarquia não são contrários à ideia de livre exame. Ponto positivo para a fé católica, tendo desde o início de sua existência, como o autor mostrou, autoridade e hierarquia, começando pelos apóstolos, com sede em Jerusalém, e etc.

Depois, surge a questão do modelo de organização da Igreja. Esse parece um ponto que pode tornar mais claro o conceito de tradição para o protestante. Ele afirma que não é possível saber o que foi pensado pelos apóstolos para ser o modelo ulterior da Igreja, nem se algum modelo foi pensado, não sendo possível saber sobre isso.

Então, afirma que uma possibilidade forte seja que nenhum modelo existiu e que a Igreja ficou para decidir. Na verdade, de onde vem a força dessa opinião, dessa possibilidade?

É verdade que não há regra na Bíblia para a organização, mas a Bíblia mostra a organização se desenvolvendo e como ela de fato acontecia.

Pensar que o modelo de organização esteve ligado essencialmente à cultura da época é outro momento de se pensar na Palavra de Deus que é eterna e que contem mais daquilo que permanece em qualquer tempo do que coisas que mudam conforme as mudanças históricas. Assim, o modelo de organização da Igreja que ocorre no seu início certamente é o modelo que Cristo quis, e que é o verdadeiro modelo da Sua Igreja.

A forma para conhecermos isso é a tradição, o fato, como realmente ocorreu. Ao invés de pensar que cada aparente diferença e discrepância no modelo no decorrer dos anos foram mudanças da forma de organização que estaria livre para mudar de acordo com a época, é preciso ver o desenvolvimento da organização eclesiástica de acordo como a essência do modelo original, que se encontra registrado na Bíblia.

Sendo assim, não se vê possibilidade para a escolha de um modelo onde os cargos eclesiásticos são temporários, por exemplo, já que não se pode ver traços disso naquilo que de fato ocorre na Bíblia. E, sendo isso inexistente na Escritura, é mais natural seguir o mesmo modelo da Palavra de Deus que pensar em outros que pareçam melhores.

Outra questão é que não há algo como um crente podendo provar uma interpretação diferente da interpretação oficial da Igreja mostrando evidências e em consonância com o espírito bíblico, não havendo nenhum suporte para que cada crente tenha possibilidade de provar pontos de vista que achar corretos por meio de estudo bíblico, apresentando evidências, etc., quando isso não for conforme a doutrina já pregada pela autoridade apostólica. Não havendo um único exemplo disso no primeiro século, nas páginas da Bíblia, não é algo que faz parte da doutrina cristã, mas apenas possibilidades que a história prova que existem, e que nunca foram aceitas pela Igreja Católica desde o seu início.

Esse tipo de pensamento é conforme o que ocorreu em todas as heresias, mas que não foi aceito pela Igreja nenhuma vez.

Interessante o modelo explicado, onde a submissão à autoridade é um dever, e a composição da liderança da Igreja é feita pelos mais aptos, dando estabilidade e rigidez doutrinária à mesma. Então, o reconhecimento de que a Igreja pode errar, ou seja, o reconhecimento de que a liderança possa cair em heresia, isso serviria para formar um magistério equilibrado.

No entanto, isso demonstra apenas que nunca se poderá ter uma certeza de que a doutrina que a Igreja está ensinando é mesmo verdadeira. Isso abre espaço para reformadores de doutrina. Pense nisso.

Todas as vezes que um membro da liderança ou leigo surgir com uma interpretação que não encontra precedente, e que não está conforme a doutrina já estabelecida oficialmente, que mesmo diante de escrutínio, a Igreja não entender que as evidências que os fautores da nova interpretação são dignas de serem observadas e que uma reforma na direção proposta devesse existir, ao passo que os proponentes da interpretação não forem suficientemente convencidos de que sua posição está em erro, todas essas vezes que isso ocorrer é bastante provável que haverá separações e surgimento de heresias, que brotam do princípio aludido, de que a Igreja pode errar em matéria de fé. Portanto é um modelo falho.

O modelo apostólico, por sua vez, não permite esse entendimento. Ainda que a separação e o surgimento de outras doutrinas ocorra, o princípio da infalibilidade automaticamente considerará essas separações de doutrinas como erros e heresias. E isso dá certeza quanto a essa posição.

Ao invés de ver possibilidade de que as novas interpretações sejam verdadeiras, quando em oposição à Igreja oficial, e que as novas denominações possam estar adiante no caminho de crescimento na fé, são ao contrário vistas como afastando-se da verdade, como foram todas as interpretações que não se conformavam com a fé dos apóstolos.

Por isso, crer que a Igreja possa errar nessas questões é introduzir desequilíbrio no magistério.

Em outras áreas, no cotidiano, no funcionamento normal da Igreja, as possibilidades de erros de interpretação, de julgamentos errôneos, em quaisquer âmbitos, por teólogos, biblistas, padres, bispos, etc., é sempre possível. É de se crer, entretanto, que tais erros nunca subirão ao lugar que os torne doutrina oficial obrigando toda a Igreja.

Na estrutura que o artigo explicou, o membro da Igreja não se torna o seu próprio líder. No modelo da infalibilidade também não, e de forma mais intensa. É bom refletir sobre isso.

A organização não fica sem liderança apta e confiável. Ainda menos no modelo da infalibilidade. Ou seja, a organização não fica, menos ainda, sem liderança apta e confiável, quando o modelo de autoridade é infalível.

E, o membro não cai no erro de pôr o líder acima da Bíblia e a Igreja, também isso não ocorre no modelo de infalibilidade, embora psicologicamente possa ocorrer com mais frequência, não que no modelo de autoridade eclesiástica falível isso não ocorra. Ocorrer em ambos.

No entanto, a fé na Igreja infalível não torna cada cristão infalível, nem os diáconos, e padres, nem os bispos, nem os papas, quando ensinam e pregam o evangelho todos os dias, ou quando publicam obras e estudos bíblicos, etc. Nenhum católico crê que os líderes estão pregando infalivelmente, o que é idêntico ao que o protestante crê em relação aos seus pastores.

A diferença se dá que em matéria de fé já definida e proclamada pela autoridade máxima da Igreja, papa e bispos, em concílio ecumênico, com intenção de ensinar a toda a Igreja, há a fé de que essa decisão é proveniente de Deus e certa, e, portanto, infalível, de modo que não é correto o que se oponha a tal definição doutrinária.

Quando o protestante não reconhece isso em relação aos seus documentos oficiais, sínodos, concílios e etc., abre-se espaço para inovações, ainda que na prática essa realidade funcione quase que identicamente ao que acontece no Catolicismo. O que há de diferente no Catolicismo é, na prática, maior clareza, solidez e rigidez contra deturpações e possíveis inovações. São modelos próximos, mas o modelo católico e apostólico é superior.

Ainda, por consequência, não corre o risco de errar e não reconhecer seu erro. Essa questão é complicada, como insinuando que a Igreja possa voltar a si mesma e avaliar decisões anteriores e verificar possíveis falhas e erros. No modelo infalível isso é impossível quando se põe a fé em Cristo e na Sua promessa de proteger a Igreja de todo erro nesse quesito da fé e da moral, como mostra a doutrina do Novo Testamento.

No entanto, mesmo no modelo de igreja falível, há sempre difíceis mudanças, e possibilidade e risco de errar e não reconhecer seu erro. Imagine um adventista chegando à conclusão de que Ellen White de fato errou em matéria de fé, como por exemplo, na questão em que afirma a mortalidade da alma, uma vez que a Bíblia apresenta a alma como imortal. A única forma para resolver seria deixar a fé adventista, já que a senhora White é considerada inspirada e, portanto, não se poderia negar um ensino que ela claramente afirmou em seus escritos como verdade bíblica.

O mesmo seria um católico negar um dogma, já que é impossível que a Igreja caia em erro, ainda que contrarie a opinião de cristãos particulares.

A diferença é que o adventista estaria se baseando em seus estudos bíblicos, segundo as rígidas regras da hermenêutica e a exegese bem fundamentada, para a fundamentação da doutrina, que foi comprovada por uma visão inspirada da profetisa Ellen White.

Por sua vez, o católico, que também possui as mesmas condições, em seus estudos bíblicos segundo a reta hermenêutica e sã exegese, tem para a doutrina em questão o ensino oficial da Igreja reunida com o papa e os bispos em concílio na intenção de definir a doutrina que está presente, de alguma forma, na Bíblia e na tradição apostólica e viva da Igreja, em vários testemunhos, e que foi entendida como revelada por Deus nas Escrituras e na tradição.

Aquilo que para o católico é a tradição e o magistério, para o adventista funciona na pessoa de Ellen White. Em outras palavras, o católico não pode negar um dogma proclamado oficialmente pela Igreja e continuar ser católico, da mesma forma que um adventista não pode negar uma doutrina conforme explicada por Ellen White e continuar adventista do sétimo dia.

Para ficar mais claro, seria como um católico negar o dogma da infalibilidade papal, que foi definido em concílio ecumênico em 1870, e um adventista negar que a alma é mortal, que deixa de existir na morte, que foi comprovada por Ellen White em visão em 1863.

Não se está afirmando que a doutrina da infalibilidade papal surgiu em 1870, nem que o ensino de que a alma morre aparece apenas em 1863 com Ellen White, mas que após a proclamação ex-cathedra do referido dogma nenhum bom católico poderia se opor a ele, da mesma forma que após a visão de Ellen White sobre a interpretação bíblica a respeito da alma não pode ser contestada por um verdadeiro adventista do sétimo dia.

Não se trata de questões acidentais, mas que tocam doutrinas que aquela Igreja ensina, e que não podem ser negadas por seus membros. O que pode haver, tanto para o católico quando para o adventista, em seus respectivos casos, é estudar a questão, aprender da doutrina, ver as razões para tais, fazer um estudo bíblico, segundo as regras da hermenêutica e a aplicação correta da exegese para certificar-se do ensino recebido. O católico ainda tem o estudo da tradição da Igreja, e da definição papal, comparando as mesmas com a Bíblia Sagrada e os testemunhos da tradição, para certificar-se assim, da correção da doutrina, reconhecendo que de fato é verdadeira.

Então, estudando a Bíblia, com atenção ao contexto da passagem e do contexto histórico, da coerência da interpretação, considerando o estilo do livro estudado, avaliando autor e destinatários, estaríamos em bom solo para propormos interpretações até para a Igreja em geral, segundo o que se depreende do artigo. Isso é compreensível. Não é previsto no modelo apostólico.

Entretanto, imagine um católico com seu estudo bíblico aprofundado tentando persuadir a Igreja de que a infalibilidade papal não se sustenta, como há muitos teólogos que assim pensam.

Imagine também um adventista, com sua interpretação bíblica a respeito da alma, chegando ao resultado de que a mesma é imortal, tentando convencer a Igreja Adventista do Sétimo Dia de que essa é a doutrina bíblica.

Diante das estruturas já conhecidas de cada igreja, é óbvio e natural que as interpretações não podem passar no crivo do seu ensino oficial referente ao tema.

Espera-se que os exemplos tenham ficado claros, pois estão de acordo com as respectivas teologias, e caso não estejam, pede-se que o autor comente a respeito fazendo as devidas correções e esclarecendo os pontos em discordância com a doutrina adventista, apresentando as razões para suas conclusões.

Certamente, a linguagem usada aqui pode não ser adequada, não estar acessível ao pensamento de vários leitores, ou não serem de fato corretas e apropriadas, etc., mas que sejam mostradas razões caso alguém venha a negá-las.

Então, o artigo explica que o livre exame não é o que o católico pensa dele, e que não dispensa o magistério eclesiástico. Muito disso já foi comentado acima, é já é suficiente para mostrar que a questão deve ser aprofundada.

Outra suposta “falha” do argumento católico contra o livre exame, que seria vê-lo como única causa das divisões. Certamente os católicos não pensam assim, pelo que foi mostrado acima. Mas, continuemos.

Os exemplos das divisões entre católicos e ortodoxos e protestantes por causa da infalibilidade papal também pode ser vista do ângulo que, caso a infalibilidade papal fosse uma doutrina errada, seria nesse caso um dever da Igreja Católica reformar-se conforme as normas e doutrinas ortodoxas e protestantes propostas em seus respectivos casos? É uma hipótese que também deve considerar essa questão.

Afirmar que a Igreja acumulou erros, é uma coisa difícil de ser provada, já que para os mais santos e sábios cristãos, os maiores eruditos, teólogos e filósofos da História, a Igreja está firmemente ancorada na Bíblia e tradição apostólica, de acordo com a reta razão, a verdadeira ciência, as regras hermenêuticas e a correta exegese da Bíblia, a história, a arqueologia, a filosofia perene, a psicologia humana, etc., de forma que é pelo menos digno de atenção que tanta cultura e erudição, muitas vezes incomparável, quando se tem em conta a cultura universal, é digno de atenção que isso ocorra na Santa Igreja Católica.

É certo que em menor grau isso também tenha correlatos em outras denominações, como na IASD. Mas, em grau altíssimo, é uma constante na Igreja Católica. Para melhor certificar-se disso, grande homens, muitas vezes os expoentes maiores em sua época, os mais eruditos entre os eruditos, foram cristãos católicos, como o foram, no período pós-apostólico, Tertuliano grande escritor cristão, Orígenes, certamente o maior erudito bíblico em seu tempo. Santo Agostinho, incomparável em tantos estudos bíblicos e filosóficos, Santo Tomás de Aquino, que viveu quase um milênio após Santo Agostinho, e foi em muitos sentidos insuperável, Erasmo de Roterdã, talvez também o maior erudito do seu tempo, preparando o Novo Testamento em grego, que serviu para o trabalho de tradução de Lutero, John Henry Newman, que participou de um movimento de reforma da Igreja, possivelmente o maior desde a Reforma Protestante, Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz), filósofa judia que converteu ao Catolicismo, G. K. Chesterton, uma das figuras mais cultas e inteligentes em seus dias, Joseph Ratzinger, um dos maiores teólogos vivos dos nossos dias, etc.

Esses nomes foram somente para citar alguns, que mostram que a doutrina cristã católica está de acordo com a mais fina inteligência e a mais exigente razão. Muitos e muitos nomes de inteligência estão em todas as culturas e religiões, e mesmo no ateísmo, no antigo paganismo, como Parmênides, Eráclito, Sócrates, Platão, Aristóteles, etc., como em outras religiões.

Também, como é natural, e mais esperado que em outras religiões, estão presentes nas Igrejas protestantes, que vieram da Igreja Católica, e naqueles que nasceram já no interior do Protestantismo. Assim, temos Lutero, Melâncton, Calvino, John Wesley, Samuele Bacchiochi, adventista, George Knight, também adventista, citando aleatoriamente alguns.

No entanto, é digno de nota que a erudição católica tem alcançado níveis insuperáveis em grande escala, repetidas vezes, em vários âmbitos. É bom pensar nisso. Portanto, é muito simplista afirmar sobre erro doutrinal no Catolicismo, ainda mais apontar grande bagunça, etc. Isso ainda será aprofundado nos próximos artigos.

Intelectuais protestantes que conheceram o Catolicismo foram aproximando-se dele a ponto de quase aderirem à sua doutrina, como o protestante C. S. Lewis, que possivelmente teria se tornado católico se vivesse um pouco mais, já que aos poucos ia se persuadindo de várias doutrinas da Igreja.

Da mesma forma, alguns filósofos não católicos beiraram a fé católica. Talvez isso seja irrelevante para o que está sendo tratado aqui, mas não é dispensável para quem pensa e gosta de estudar a verdade.

Por isso, estudiosos da Bíblia, quanto mais aprendem da Palavra de Deus, mas chegam perto da Igreja Católica, seja qual for o assunto estudado.

Assim, a hipótese de que as divisões são efeitos da suposta ruptura proporcionada pela ICAR não é provável. Basta ver que onde o livre exame é maior, mais há proliferação de novas ideias.

A comparação de livre exame com o livre arbítrio, onde um não pode ser culpado pelas divisões, como o outro não pode ser culpado pelo pecado, volta ao que o catolicismo tem em suas premissas, que é o livre exame para buscar a verdade, sob a orientação da Palavra de Deus, através da autoridade da Igreja, onde o fiel tem a liberdade de conhecer a verdade estudando a santa Palavra.

A infalibilidade não previne das divisões, mas pode ser boa para diminui-las. Também, o fundamento da doutrina da infalibilidade é certo na Bíblia Sagrada, ao contrário do que o artigo veio desenvolvendo, como foi mostrado no comentário acima. Assim, pode-se perguntar: a infalibilidade é doutrina romana? Não. Ela é bíblica.

O sistema de autoridade e livre exame foi o explicado aqui. Certamente, funciona melhor que o apresentado no artigo, que vê a Igreja como parte falível no sistema.

No próximo comentário será tratado o artigo que aborda doutrinas católicas e apresenta críticas, considerando-as erros. Esse será um dos melhores, por confrontarem diretamente argumentos de doutrinas cristãs católicas com argumentos adventistas.

Depois será tratado o Protestantismo e o que se pode afirmar de erros protestantes a partir da perspectiva adventista, bem como outras abordagens adventistas sobre o Catolicismo e o Protestantismo que, se Deus quiser, serão comentadas.

Gledson Meireles.

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