quinta-feira, 10 de março de 2022

Debate sobre o cânon bíblico

Debate sobre o cânon. Abaixo, um pouco, o que o católico e o protestante trataram sobre o cânon, e algumas observações.


Concílio de Roma, em 382 e o concílio de Trento e o cânon bíblico

O católico afirma que no concílio de Roma é o cânon da Bíblia é fechado. O protestante nega isso.

Vejamos os fatos e o que se pode aprender deles.

Como o protestante resume a história da formação do cânon, nesse debate? Assim: A Igreja começou a discutir quais eram os documentos apostólicos.

Os primeiros pais da Igreja usaram constantemente os livros que os protestantes têm como Bíblia Sagrada, no testemunho informal.

O testemunho formal são as listas de livros inspirados que começaram a ser propostas na Igreja. Menciona Marcião, o cânon Muratoriano, Eusébio, Orígenes, que citaram listas.

Pelo século 4, acontece que na Igreja, há  a busca pela definição do cânon, “de forma orgânica a concordar acerca da lista que nós temos hoje no Novo Testamento”.

FATO: Havia divergência acerca de quais eram os livros bíblicos.

Então, o cânon bíblico não estava fechado entre os cristãos, não era de conhecimento geral, não havia uma certeza sobre o assunto ainda. A Igreja não conhecia o cânon bíblico com toda a certeza como a conhece hoje.

E a decisão, como foi feita, para encontrar o cânon?

O protestante afirma “que não foi uma decisão centralizada”, não havendo “uma instituição definindo qual era o cânon do Novo Testamento”, mas “vários grupos separados, chegando às mesmas conclusões acerca do que era o cânon”.

Pois bem, esses grupos cristãos, essas igrejas locais, que estavam estudando a questão do cânon, sempre chegavam, de forma bastante unânime, na lista que a Igreja Católica tem hoje.

Parece que esse é o segundo FATO.

Se nesse período os cristãos estavam lidando diretamente com a questão do cânon e chegando à conclusão de que o cânon católico é o correto, o que se pode concluir disso?

O cânon se impôs sobre a Igreja, conclui o protestante. Correto. O cânon não é criação, mas uma definição que vem de uma constatação.

Os crentes chegaram a essa conclusão, mas, através de CONCÍLIOS, de decisões oficiais, ainda que locais. Olha aí a autoridade da Igreja.

Então, ao afirmar que a Igreja chegou ao cânon de “forma muito orgânica, muito natural, sem nenhuma força impositiva sobre elas, sem nenhum planejador central definindo qual era o cânon do Novo Testamento”, mas isso não foi feito pelos pais da Igreja em documentos separados, mas por decisões conciliares. E todas elas estavam demonstrando o cânon que a Igreja Católica utiliza hoje.

E o caso do Concílio de Roma? Qual o problema? Acreditar que ali fechou-se o cânon, argumenta o protestante.

É FATO que de forma decisiva, conhecida, certa, geral, o cânon não foi fechado ali, já que ainda surgiram divisões acerca do mesmo, e a Igreja não fez um concílio ecumênico para tratar disso. Mas, o Cânon Bíblico da Igreja de Roma era idêntico ao de Hipona e Cartago, que foi feito mais tarde, uma concordância incrível, e do de outros concílios também.

Assim, o fato de existirem concílios tratando do cânon prova mais uma vez que o mesmo não era suficientemente conhecido a ponto de fechá-lo, e ainda, que as listas que estavam sendo produzidas são idênticas ao que a Igreja aceitou definitivamente. Chegamos então a outro FATO importante, o cânon de Trento é o mesmo dos concílios locais de Roma, Hipona e Cartago, por exemplo.

Ser concílio local então não é o problema. Os vários concílios locais concordam sobre o cânon de Trento.

Sobre chamar de papa o bispo de Roma, Dâmaso, é “fé católica”, afirma o protestante. Mas o que muda? Ele era um homem que estava à frente da Igreja local de Roma, como bispo, ainda que não fosse chamado com o título exclusivo de papa. Ele tinha autoridade reconhecida, uma certa influência singular, uma notoriedade tal que só pode ser notada nos bispos de Roma em relação até mesmo com as outras grandes sedes.

Não há necessidade de leitura retroativa. Basta ver a evolução do papado. Somente isso.

Não houve fechamento total e absoluto do que era o cânon, mas quando houve, as listas eram iguais às que esses concílios tinham definido, provando a exatidão delas. Esse é o ponto. Não foram os documentos de escritores eclesiásticos separados que chegaram a listas mais consensuais, embora esses documentos sejam importantes, mas os concílios.

O que Yves Congar e a Enciclopédia falam do Concílio de Trento muda alguma coisa? É verdade que o Concílio de Trento, respondendo ao Protestantismo, que estava introduzindo mudança no cânon, teve de definir mais uma vez, agora dogmaticamente para toda a Igreja, o cânon bíblico, igual às listas de autoridade antigas, de Roma, Hipona, Cartago, etc.

Tudo o que está acima prova qual era o cânon bíblico, e que não era o dos judeus, para o Antigo Testamento.

São Jerônimo distinguiu entre livros, mas isso não foi sua opinião final, e Santo Agostinho, seguindo o parecer geral da Igreja, prova isso.

De fato, Lutero não tirou o livro de Tiago.

E a decisão Protestante, de Lutero, que pensou que a Igreja havia deturpado o cânon, foi uma inovação, tirando livros. Por isso, o Concílio de Trento definiu o que os antigos concílios haviam definido.

Quando se diz que o concílio de Roma definiu o cânon se deve ao fato de que a partir daí não mais mudou a lista. Não foi somente o Concílio de Trento que reconheceu os protocanônicos e deuterocanônicos.

Mas, se os concílios não criam novas coisas, o que é verdade, e o protestante reconhece aqui, então Trento estava concordando com o que havia sido ensinado antes e etc.

Qual foi o concílio que errou? Qual o que chegou a uma lista de livros inspirados de forma errada? Onde começa o processo de afastamento? Não há tal fato.

Nunca ter tido decreto oficial em concílio ecumênico quanto aos livros bíblicos até Trento é o PROBLEMA que o protestante quer se apegar.

O fato é que os 72 ou 73, segundo diferentes forma de contar, eram usados por toda a Igreja, unanimidade oficial, ainda que não houvesse tido uma definição dogmática. Um ou outro cristão que discordasse foram vozes isoladas, e não o consenso geral. Hoje pode haver quem discorde de tantas doutrinas católicas, mas o consenso geral mostra o que é a fé da Igreja e não as vozes isoladas.

O cânon dos concílios regionais é o cânon que os protestantes seguem?

Parece que o pastor Yago não tratou essa questão claramente.

Romanismo retroativo”: não. Deve-se considerar o desenvolvimento da Igreja.

Vídeo: RESPONDENDO CATÓLICOS SOBRE O CÂNON (React ao Santa Carona ) - YouTube

Essas questões são para aprofundar o debate.

Gledson Meireles.


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