A invenção do catolicismo e do protestantismo – Parte 2 – Reação Adventista (reacaoadventista.com)
A tese do autor é que a
ortodoxia cristã está no judaico-cristianismo e que o gentio-cristianismo surge
décadas depois, fazendo emergir a Igreja
Romana como sede mundial. O autor deverá provar que o gentio-cristianismo
agregou elementos que mudaram o evangelho fazendo a Igreja cair em erro.
De fato, apenas mudança
de sede universal não é problemática, já que em qualquer lugar se pode fixar a
sede da Igreja.
No entanto, quando se
diz que a Igreja se tornou religiosamente romana, que tudo veio por meio de
raciocínios e tradições humanas, o cenário é outro. É natural que o protestante
tal pensamento. Alguns podem insinuar afastamento da verdade já no texto
bíblico. Outros supõem mudanças logo após a morte dos apóstolos. Ainda outros,
dizem que no segundo e terceiro séculos os padrões teológicos continuaram
puros, apenas de algumas inovações menos importantes.
E assim, continua, cada
grupo com visões diferentes a respeito da Igreja Católica, indicando momentos
em que supostamente a Igreja teria se afastado do evangelho. Pois bem. Vejamos
quais os argumentos que serão apresentados a seguir.
É certo que há
evidência bíblica da instituição da Igreja Católica por nosso Senhor Jesus
Cristo. Para negar isso, o argumento deverá claramente mostrar que as
interpretações posteriores não apenas desenvolvem, mas afastam-se do texto
bíblico.
1.
A análise de Mateus 16
2.1.
Interpretações sobre a pedra
A)
Pedro como líder histórico
A primeira
interpretação sobre Pedro ser a base da Igreja sustentando a Igreja
espiritualmente e ininterruptamente é algo que não tem espaço no Catolicismo.
Não há motivo de lidar com a refutação dessa interpretação. Seria uma das
interpretações plausíveis.
A verdade de que Pedro
foi quem decidiu, foi o principal, para a resolução do problema no Concílio de
Jerusalém, é algo que transparece, de alguma forma, quando se reconhece que Pedro se tornou uma das vozes determinantes
no Concílio de Jerusalém, o que é de fato verdadeiro.
Jesus teria iniciado a
construção da Igreja sobre Pedro, que seria a base humana para o início da
mesma.
Mas, argumenta-se que a
liderança da Igreja era mais informal
e autoridade da Igreja era mais e compartilhada.
Não é oportuno tratar disso. Continuemos.
Deve-se já notar que é
natural que, ao se reconhecer Pedro como base
humana para aqueles primeiros tempos da Igreja, desenvolve-se o conceito do
sucessor de Pedro ocupar o lugar de base para o respectivo contexto, e assim
por diante. É algo que vem do próprio evangelho.
B)
Pedro como adjetivo/metáfora
Essa hipótese de que
Pedro teria a firmeza na fé onde Cristo iria fundar a Igreja, sendo isso algo que
todos deverão ter.
Ainda nessa hipótese a
pessoa de Pedro é o núcleo da atenção de Jesus. A firmeza da fé de Pedro é
característica sua, do dom que recebeu de Deus. Assim, pode-se ligar a base humana para o seu contexto
histórico e o motivo que a sua firmeza de
fé, o que não são coisas inconciliáveis.
C)
Pedro como parte de Cristo
Pedro e todos os
cristãos são pedras por estarem em Cristo, sendo Cristo a pedra sobre a qual a
Igreja está construída.
D)
A confissão de Pedro
Considerada no artigo
como a menos forte das interpretações. Uma explicação importante é quanto aos
escritos dos padres da Igreja, assim como os adventistas fazem com relação aos
escritos de Ellen White.
Para os católicos os
escritos dos padres da Igreja não são inspirados, em nenhum sentido, enquanto
que para os adventistas os escritos de Ellen White são inspirados. Explicam, porém,
que não estão de igualdade com a Bíblia, mas são uma luz menor que aponta para
a Bíblia.
Assim, quando é
afirmado: “Para a ICAR, seus escritos se
constituem parte da santa tradição do catolicismo romano e, portanto, em pé de
igualdade com a Bíblia.”, não é exato, já que os escritos em si não são
parte da tradição apostólica, mas contem a tradição, que deve ser identificada
nesses escritos.
No artigo é dito que
essa interpretação sobre a Pedra está em união com a de que o Pedro foi o
primeiro papa.
E)
Interpretação mista
Assim, há muitas interpretações
plausíveis, e que os protestantes não podem ser acusados de fugir da
interpretação basilar.
F)
Conclusões
Argumenta-se que
nenhuma das interpretações dá suporte de
que Pedro foi instituído papa infalível, e a infalibilidade papal e da Igreja.
Mas, pode-se afirmar que
a metáfora Pedra indica a firmeza, força, solidez. Nesse caso, o nome de Pedro
deriva de Pedra, é de fato Pedra, em grego Petros,
o que supõe, segundo a doutrina do evangelho, que Pedro tem uma solidez,
indicada pelo nome que recebeu. Essa solidez de fé caminha para o entendimento
da infalibilidade papal. Não se trata de algo diverso, basta reconhecer.
As promessas de Pedro
sendo dada aos demais apóstolos e todos os cristãos apena indica que todos
estão unidos em um só corpo, mas que Pedro teve de fato um tratamento singular,
individual, sendo representante, assim, dos demais.
A verdade da
interpretação católica se torna cada vez mais compreensível ao passo que se
aprofunda no estudo da passagem. É uma doutrina bíblica.
2.2. A Igreja e as portas do inferno
O argumento é que a
promessa de Jesus é que a Igreja não morrerá. Não seria uma prevenção contra as
investidas de Satanás, dos erros e heresias, mas apenas da morte.
Essa interpretação
também decorre do texto, mas não se pode negar que também Jesus garante à
Igreja a permanência da verdade em outras passagens, que juntas a essa são
testemunhas forte da infalibilidade da Igreja (cf. Jo 16, 1-3; 1 Tm 3, 15).
Portanto, apenas
afirmar que os cristãos não morrerão, não é somente o que a Bíblia está
afirmando.
A definição de Igreja
como não sendo uma organização mas tendo uma organização não afeta a
doutrina católica. De fato a Igreja é um organismo espiritual, que forma uma sociedade
de fieis a Jesus, e, portanto, desenvolve-se organizadamente. De fato, quando
alguém está em Cristo já está na Igreja Católica.
Os exemplos dados no
artigo estão conforme a fé católica. No
entanto, quando Cristo funda a Igreja, ainda que seja entendida de maneira
informal e invisível, ela concretiza-se imediatamente de forma visível, e
organiza-se e desenvolve-se historicamente com sinais distintivos. Por isso,
uma vez que é histórico que a Igreja Católica foi fundada por Cristo, ela é o
aspecto visível da sua natureza invisível. Continua o mesmo que o evangelho
ensina.
Assim, é possível
reconhecer a fé verdadeira pelo corpo
doutrinário apostólico, segundo as palavras usadas no artigo.
Por isso, o que Jesus
afirma sobre a proteção da Igreja nessa passagem tem a ver com o que o
Catolicismo afirma, e faz parte de um sólido argumento. As implicações são
claras, como foi indicado acima.
Cristo funda uma Igreja
visível, que expressa a Igreja invisível, e promete protegê-la. Um dos perigos
maiores é a heresia. Portanto, a Igreja será de alguma forma protegida da
heresia, de modo a não sucumbir, não morrer espiritualmente.
2.3.
As chaves do céu
Pedro é pedra
historicamente, no sentido em que configura um lugar de autoridade visível, um
cargo, instituído por Cristo.
Basta ver que uma vez
recebida a missão de evangelizar, a Igreja é universal, tendo uma missão e
autoridade mundial. Com isso, o apóstolo que recebe as chaves é um líder
histórico, para o seu tempo, no sentido mundial. Assim, continua na sucessão apostólica.
O argumento não é
apenas interessante, mas verdadeiro. Se há algumas coisas as serem respondidas,
não são dificuldades importantes. Vejamos.
Jesus dá a autoridade
aos demais apóstolos: isso quer dizer que Pedro não pode agir sozinho, mas em
comunhão com os demais.
As autoridades da
Igreja foram sendo ordenadas pelos apóstolos e espalhando-se pelo mundo, em
cada igreja particular. Isso mostra o núcleo de autoridade apostólico em seu
desenvolvimento. Não são todos os cristãos que possuem as chaves, mas os
ministros do evangelho que ensinam a Palavra de Deus.
A autoridade de
governar não é dada a todos, mas aos ministros.
A Igreja local é que
toma a decisão de um caso particular. Assim, não se entende que todos os
membros da Igreja local devem conhecer os casos levados para serem deliberados,
mas que as autoridades da Igreja local é que devem ser procuradas para isso.
Se a interpretação
católica é verdadeira, porque os outros evangelhos não narram as cenas da
instituição da Igreja sobre Pedro e das chaves, por exemplo? Isso não é
necessário, já que nos demais evangelhos São Pedro é apresentado como líder sob
outras perspectivas e outros meios que corroboram a interpretação correta
indicada acima.
Os apóstolos
enfatizaram as bases da infalibilidade de Pedro e da Igreja, a sucessão papal e
o primado romano? De fato, sim, em sentido amplo, em todo o Novo Testamento,
quando a Igreja mostra sua autoridade em várias circunstâncias. Isso não pode
ser entendido como cada doutrina já totalmente desenvolvida como a conhecemos
hoje, o que não é exigido por nenhuma denominação quanto às suas doutrinas
distintivas. Por exemplo, o santuário e o juízo investigativo, tão importante
para o adventismo, devendo ser conhecido por todos os cristãos, pois fala do
ministério de Cristo no céu, de uma forma e sob uma perspectiva, pelos menos,
que ninguém antes de 1844 pregou. Portanto, não se deve pensar que a
infalibilidade papal e outras doutrinas, ainda que já conhecidas e reveladas na
Bíblia, e com ênfases nos evangelhos e epístolas, como o próprio texto de
Mateus 16, 18 exemplifica, não eram claramente entendidas, como também não eram
as doutrinas do pecado original, da divindade de Cristo, da trindade, da Pessoa
do Espírito Santo etc., todas bíblicas, reveladas por Deus, mais tardes
definidas em concílios, sendo todas bases da fé católica.
O argumento de que Mateus
é autor mais judaico, se não for bem entendido, parece deixar a questão no viés humano
e natural. No entanto, trata-se da Palavra de Deus, que transcende a tudo isso,
e portanto em nenhum momento se pode frisar que o suposto pensamento de um cristão
sobre o centro do Cristianismo sendo Jerusalém, por exemplo, fosse algo doutrinal
e que não vislumbrasse à universalidade da mensagem cristã. De fato, o próprio
São Mateus, em seu capítulo 28, mostra Jesus enviando os apóstolos a todo o
mundo. Portanto, a interpretação católica do primado de Pedro permanece intacta
diante desse questionamento.
Ninguém pregou a
separação radicação entre a religião judaica e a religião cristã, o que foi
fruto de desenvolvimento histórico, à medida que uns se convertiam a Cristo e
outros não.
A omissão da narrativa
da confissão de Pedro por outros evangelistas não pode, em hipótese alguma,
enfraquecer em nada a Palavra de Deus ali ensinada. O que Cristo ensina uma vez
já tem autoridade, não sendo necessário repetir. Ainda, esse fato do primado
petrino é repetido em outros lugares dos evangelhos e epístolas, formando claramente
a doutrina do primado de Pedro.
Não se pode ler uma
passagem escrita por um judeu e outra por um gentio como se isso influenciasse
a doutrina cristã, pois o Autor da Bíblia é Deus. Essa observação é apenas para
mostrar quão fraco é o questionamento que usa desse artifício nesse âmbito.
Talvez o argumento de
Pedro com “autoridade exclusiva” seja
um problema que esteja mais na mente do autor do que na doutrina católica. De
fato, o papa tem certas prerrogativas, mas em tudo o mais é igual a todos os
demais bispos católicos em todas as dioceses espalhadas pelo mundo como Pedro
era em relação aos demais apóstolos.
Quando se entende que
Jesus fez de Pedro um líder formal, está no caminho certo. Continue a refletir
sobre a Palavra de Deus, e a pensar nos argumentos que respondem os
questionamentos feitos nesse segundo estudo.
A explicação sobre
Lucas 22, 32, dada no artigo, como não contendo nada genuíno, é uma leitura que
não leva em conta todos os demais textos que substanciam a doutrina do primado.
Não se trata ali de algo apenas como “ajudar seu irmão na fé”, mas uma
confirmação tal que desemboca, com as demais passagens sobre a infalibilidade
da Igreja, no entendimento da infalibilidade papal. O artigo não traz nada
contra isso, pois é uma doutrina profunda e solidamente fundamentada. É uma
falha do artigo.
Negar a infalibilidade
de Pedro e dos outros apóstolos e demais escritores bíblicos não é possível. O
que os apóstolos pregaram foi o que puseram por escrito. Eram inspirados e,
portanto, infalíveis. Isso não é o mesmo que impecáveis. A Igreja é infalível
ao ensinar a fé, o papa também o é, quando é necessário a defesa da fé, mas não
há impecabilidade.
Por tudo isso, as
chaves do reino dadas a Pedro constituem a autoridade do apóstolo na Igreja
primitiva, e dos seus sucessores na Igreja em cada época.
2.4.
Considerações finais
As observações acima
demonstraram que a interpretação católica está correta. Não há necessidade de
tradições extrabíblicas para prová-las, mas é preciso afirmar que a tradição as
comprova, bem como a histórica da Igreja.
As outras questões
quanto à tradição e etc. serão abordadas no próximo artigo, assim como os
comentários sobre o assunto.
Gledson Meireles.
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