domingo, 13 de março de 2022

Estudando a série de artigos: A Invenção do Catolicismo e do Protestantismo - parte 2

A invenção do catolicismo e do protestantismo – Parte 2 – Reação Adventista (reacaoadventista.com)

A tese do autor é que a ortodoxia cristã está no judaico-cristianismo e que o gentio-cristianismo surge décadas depois, fazendo emergir a Igreja Romana como sede mundial. O autor deverá provar que o gentio-cristianismo agregou elementos que mudaram o evangelho fazendo a Igreja cair em erro.

De fato, apenas mudança de sede universal não é problemática, já que em qualquer lugar se pode fixar a sede da Igreja.

No entanto, quando se diz que a Igreja se tornou religiosamente romana, que tudo veio por meio de raciocínios e tradições humanas, o cenário é outro. É natural que o protestante tal pensamento. Alguns podem insinuar afastamento da verdade já no texto bíblico. Outros supõem mudanças logo após a morte dos apóstolos. Ainda outros, dizem que no segundo e terceiro séculos os padrões teológicos continuaram puros, apenas de algumas inovações menos importantes.

E assim, continua, cada grupo com visões diferentes a respeito da Igreja Católica, indicando momentos em que supostamente a Igreja teria se afastado do evangelho. Pois bem. Vejamos quais os argumentos que serão apresentados a seguir.

É certo que há evidência bíblica da instituição da Igreja Católica por nosso Senhor Jesus Cristo. Para negar isso, o argumento deverá claramente mostrar que as interpretações posteriores não apenas desenvolvem, mas afastam-se do texto bíblico.

1.  

      A análise de Mateus 16

2.1. Interpretações sobre a pedra

A) Pedro como líder histórico

A primeira interpretação sobre Pedro ser a base da Igreja sustentando a Igreja espiritualmente e ininterruptamente é algo que não tem espaço no Catolicismo. Não há motivo de lidar com a refutação dessa interpretação. Seria uma das interpretações plausíveis.

A verdade de que Pedro foi quem decidiu, foi o principal, para a resolução do problema no Concílio de Jerusalém, é algo que transparece, de alguma forma, quando se reconhece que Pedro se tornou uma das vozes determinantes no Concílio de Jerusalém, o que é de fato verdadeiro.

Jesus teria iniciado a construção da Igreja sobre Pedro, que seria a base humana para o início da mesma.

Mas, argumenta-se que a liderança da Igreja era mais informal e autoridade da Igreja era mais e compartilhada. Não é oportuno tratar disso. Continuemos.

Deve-se já notar que é natural que, ao se reconhecer Pedro como base humana para aqueles primeiros tempos da Igreja, desenvolve-se o conceito do sucessor de Pedro ocupar o lugar de base para o respectivo contexto, e assim por diante. É algo que vem do próprio evangelho.

 

B) Pedro como adjetivo/metáfora

Essa hipótese de que Pedro teria a firmeza na fé onde Cristo iria fundar a Igreja, sendo isso algo que todos deverão ter.

Ainda nessa hipótese a pessoa de Pedro é o núcleo da atenção de Jesus. A firmeza da fé de Pedro é característica sua, do dom que recebeu de Deus. Assim, pode-se ligar a base humana para o seu contexto histórico e o motivo que a sua firmeza de fé, o que não são coisas inconciliáveis.

 

C) Pedro como parte de Cristo

Pedro e todos os cristãos são pedras por estarem em Cristo, sendo Cristo a pedra sobre a qual a Igreja está construída.

 

D) A confissão de Pedro

Considerada no artigo como a menos forte das interpretações. Uma explicação importante é quanto aos escritos dos padres da Igreja, assim como os adventistas fazem com relação aos escritos de Ellen White.

Para os católicos os escritos dos padres da Igreja não são inspirados, em nenhum sentido, enquanto que para os adventistas os escritos de Ellen White são inspirados. Explicam, porém, que não estão de igualdade com a Bíblia, mas são uma luz menor que aponta para a Bíblia.

Assim, quando é afirmado: “Para a ICAR, seus escritos se constituem parte da santa tradição do catolicismo romano e, portanto, em pé de igualdade com a Bíblia.”, não é exato, já que os escritos em si não são parte da tradição apostólica, mas contem a tradição, que deve ser identificada nesses escritos.

No artigo é dito que essa interpretação sobre a Pedra está em união com a de que o Pedro foi o primeiro papa.

 

E) Interpretação mista

Assim, há muitas interpretações plausíveis, e que os protestantes não podem ser acusados de fugir da interpretação basilar.

 

F) Conclusões

Argumenta-se que nenhuma das interpretações  dá suporte de que Pedro foi instituído papa infalível, e a infalibilidade papal e da Igreja.

Mas, pode-se afirmar que a metáfora Pedra indica a firmeza, força, solidez. Nesse caso, o nome de Pedro deriva de Pedra, é de fato Pedra, em grego Petros, o que supõe, segundo a doutrina do evangelho, que Pedro tem uma solidez, indicada pelo nome que recebeu. Essa solidez de fé caminha para o entendimento da infalibilidade papal. Não se trata de algo diverso, basta reconhecer.

As promessas de Pedro sendo dada aos demais apóstolos e todos os cristãos apena indica que todos estão unidos em um só corpo, mas que Pedro teve de fato um tratamento singular, individual, sendo representante, assim, dos demais.

A verdade da interpretação católica se torna cada vez mais compreensível ao passo que se aprofunda no estudo da passagem. É uma doutrina bíblica.

 

2.2.  A Igreja e as portas do inferno

O argumento é que a promessa de Jesus é que a Igreja não morrerá. Não seria uma prevenção contra as investidas de Satanás, dos erros e heresias, mas apenas da morte.

Essa interpretação também decorre do texto, mas não se pode negar que também Jesus garante à Igreja a permanência da verdade em outras passagens, que juntas a essa são testemunhas forte da infalibilidade da Igreja (cf. Jo 16, 1-3; 1 Tm 3, 15).

Portanto, apenas afirmar que os cristãos não morrerão, não é somente o que a Bíblia está afirmando.

A definição de Igreja como não sendo uma organização mas tendo uma organização não afeta a doutrina católica. De fato a Igreja é um organismo espiritual, que forma uma sociedade de fieis a Jesus, e, portanto, desenvolve-se organizadamente. De fato, quando alguém está em Cristo já está na Igreja Católica.

Os exemplos dados no artigo estão conforme a fé católica. No entanto, quando Cristo funda a Igreja, ainda que seja entendida de maneira informal e invisível, ela concretiza-se imediatamente de forma visível, e organiza-se e desenvolve-se historicamente com sinais distintivos. Por isso, uma vez que é histórico que a Igreja Católica foi fundada por Cristo, ela é o aspecto visível da sua natureza invisível. Continua o mesmo que o evangelho ensina.

Assim, é possível reconhecer a fé verdadeira pelo corpo doutrinário apostólico, segundo as palavras usadas no artigo.

Por isso, o que Jesus afirma sobre a proteção da Igreja nessa passagem tem a ver com o que o Catolicismo afirma, e faz parte de um sólido argumento. As implicações são claras, como foi indicado acima.

Cristo funda uma Igreja visível, que expressa a Igreja invisível, e promete protegê-la. Um dos perigos maiores é a heresia. Portanto, a Igreja será de alguma forma protegida da heresia, de modo a não sucumbir, não morrer espiritualmente.

 

2.3. As chaves do céu

Pedro é pedra historicamente, no sentido em que configura um lugar de autoridade visível, um cargo, instituído por Cristo.

Basta ver que uma vez recebida a missão de evangelizar, a Igreja é universal, tendo uma missão e autoridade mundial. Com isso, o apóstolo que recebe as chaves é um líder histórico, para o seu tempo, no sentido mundial. Assim, continua na sucessão apostólica.

O argumento não é apenas interessante, mas verdadeiro. Se há algumas coisas as serem respondidas, não são dificuldades importantes. Vejamos.

Jesus dá a autoridade aos demais apóstolos: isso quer dizer que Pedro não pode agir sozinho, mas em comunhão com os demais.

As autoridades da Igreja foram sendo ordenadas pelos apóstolos e espalhando-se pelo mundo, em cada igreja particular. Isso mostra o núcleo de autoridade apostólico em seu desenvolvimento. Não são todos os cristãos que possuem as chaves, mas os ministros do evangelho que ensinam a Palavra de Deus.

A autoridade de governar não é dada a todos, mas aos ministros.

A Igreja local é que toma a decisão de um caso particular. Assim, não se entende que todos os membros da Igreja local devem conhecer os casos levados para serem deliberados, mas que as autoridades da Igreja local é que devem ser procuradas para isso.

Se a interpretação católica é verdadeira, porque os outros evangelhos não narram as cenas da instituição da Igreja sobre Pedro e das chaves, por exemplo? Isso não é necessário, já que nos demais evangelhos São Pedro é apresentado como líder sob outras perspectivas e outros meios que corroboram a interpretação correta indicada acima.

Os apóstolos enfatizaram as bases da infalibilidade de Pedro e da Igreja, a sucessão papal e o primado romano? De fato, sim, em sentido amplo, em todo o Novo Testamento, quando a Igreja mostra sua autoridade em várias circunstâncias. Isso não pode ser entendido como cada doutrina já totalmente desenvolvida como a conhecemos hoje, o que não é exigido por nenhuma denominação quanto às suas doutrinas distintivas. Por exemplo, o santuário e o juízo investigativo, tão importante para o adventismo, devendo ser conhecido por todos os cristãos, pois fala do ministério de Cristo no céu, de uma forma e sob uma perspectiva, pelos menos, que ninguém antes de 1844 pregou. Portanto, não se deve pensar que a infalibilidade papal e outras doutrinas, ainda que já conhecidas e reveladas na Bíblia, e com ênfases nos evangelhos e epístolas, como o próprio texto de Mateus 16, 18 exemplifica, não eram claramente entendidas, como também não eram as doutrinas do pecado original, da divindade de Cristo, da trindade, da Pessoa do Espírito Santo etc., todas bíblicas, reveladas por Deus, mais tardes definidas em concílios, sendo todas bases da fé católica.

O argumento de que Mateus é autor mais judaico, se não for bem entendido, parece deixar a questão no viés humano e natural. No entanto, trata-se da Palavra de Deus, que transcende a tudo isso, e portanto em nenhum momento se pode frisar que o suposto pensamento de um cristão sobre o centro do Cristianismo sendo Jerusalém, por exemplo, fosse algo doutrinal e que não vislumbrasse à universalidade da mensagem cristã. De fato, o próprio São Mateus, em seu capítulo 28, mostra Jesus enviando os apóstolos a todo o mundo. Portanto, a interpretação católica do primado de Pedro permanece intacta diante desse questionamento.

Ninguém pregou a separação radicação entre a religião judaica e a religião cristã, o que foi fruto de desenvolvimento histórico, à medida que uns se convertiam a Cristo e outros não.

A omissão da narrativa da confissão de Pedro por outros evangelistas não pode, em hipótese alguma, enfraquecer em nada a Palavra de Deus ali ensinada. O que Cristo ensina uma vez já tem autoridade, não sendo necessário repetir. Ainda, esse fato do primado petrino é repetido em outros lugares dos evangelhos e epístolas, formando claramente a doutrina do primado de Pedro.

Não se pode ler uma passagem escrita por um judeu e outra por um gentio como se isso influenciasse a doutrina cristã, pois o Autor da Bíblia é Deus. Essa observação é apenas para mostrar quão fraco é o questionamento que usa desse artifício nesse âmbito.

Talvez o argumento de Pedro com “autoridade exclusiva” seja um problema que esteja mais na mente do autor do que na doutrina católica. De fato, o papa tem certas prerrogativas, mas em tudo o mais é igual a todos os demais bispos católicos em todas as dioceses espalhadas pelo mundo como Pedro era em relação aos demais apóstolos.

Quando se entende que Jesus fez de Pedro um líder formal, está no caminho certo. Continue a refletir sobre a Palavra de Deus, e a pensar nos argumentos que respondem os questionamentos feitos nesse segundo estudo.

A explicação sobre Lucas 22, 32, dada no artigo, como não contendo nada genuíno, é uma leitura que não leva em conta todos os demais textos que substanciam a doutrina do primado. Não se trata ali de algo apenas como “ajudar seu irmão na fé”, mas uma confirmação tal que desemboca, com as demais passagens sobre a infalibilidade da Igreja, no entendimento da infalibilidade papal. O artigo não traz nada contra isso, pois é uma doutrina profunda e solidamente fundamentada. É uma falha do artigo.

Negar a infalibilidade de Pedro e dos outros apóstolos e demais escritores bíblicos não é possível. O que os apóstolos pregaram foi o que puseram por escrito. Eram inspirados e, portanto, infalíveis. Isso não é o mesmo que impecáveis. A Igreja é infalível ao ensinar a fé, o papa também o é, quando é necessário a defesa da fé, mas não há impecabilidade.

Por tudo isso, as chaves do reino dadas a Pedro constituem a autoridade do apóstolo na Igreja primitiva, e dos seus sucessores na Igreja em cada época.

 

2.4. Considerações finais

As observações acima demonstraram que a interpretação católica está correta. Não há necessidade de tradições extrabíblicas para prová-las, mas é preciso afirmar que a tradição as comprova, bem como a histórica da Igreja.

As outras questões quanto à tradição e etc. serão abordadas no próximo artigo, assim como os comentários sobre o assunto.

Gledson Meireles.

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