Estudando a série de artigos: A invenção do catolicismo e do protestantismo parte 1.
Para melhor entender o
que será exposto a seguir, deve-se antes ler o artigo clicando aqui.
É verdade que a Igreja
Católica está sempre em defesa de coisas que o mundo ataca, de valores
importantes que todo cristão reconhece, e tem em seu meio figuras ilustres, das
maiores que viveram na humanidade.
Isso pode chamar a
atenção de alguém, com razão, de um protestante, por exemplo, a começar um
estudo da Igreja Católica, a conhecer a fé católica, e enveredar-se por
caminhos católicos, e por fim, a tornar-se católico, por ter conhecido a
verdade.
Essa entrada no meio
católico pode ser feito, e é melhor que seja feito “do ponto de vista católico”, porque é possível assim entender
realmente como entende a doutrina e como funciona a vida católica. Mas, há um
pressuposto básico, crido por todos os católicos: a Igreja Católica foi fundada
por Jesus Cristo, o que a faz diferente de todas as demais igrejas cristãs que
surgiram depois dela.
O autor do artigo não
vê isso com bons olhos, pois sendo assim, tudo será visto sob o prisma da fé
católica, o que o autor chama, de forma crítica, de se tornar “a chave de tudo e o suprassumo do bem”.
Porém, é muito
possível, e muito provável, que mesmo criticamente, através de outros meios,
alguém venha a reconhecer a verdade católica. Com a assistência do Espírito
Santo, o coração sincero e aberto à verdade, um estudo sólido e honesto.
Essa série de estudos
servirá para ajudar na criação de um guia de estudo, por que não dizer, para
que alguém, como o Davi Caldas, venha a entender melhor a fé católica.
O texto da primeira
parte parece, até então, dirigido a alguém de espírito conservador que
recentemente tenha conhecido e sido persuadido da fé católica. Outro foco é o
conservador protestante que busca a ortodoxia dentro do Protestantismo.
A análise até aqui está
bastante interessante, bem dirigida, e será comentada sempre que necessário. O
objetivo é levar o leitor a entender o que a doutrina católica tem a oferecer
diante das análises que o texto traz.
O autor aponta dois
elementos importantes negligenciados na busca pela verdade nos dois
conservadores mencionados. O primeiro e o judaicidade ou judaísmo da Igreja do
primeiro século, para se chegar à real ortodoxia, e o outro é a lógica, que
deve estar presente nas doutrinas da Igreja verdadeira.
Antes de passar
adiante, o autor deve estar bem familiarizado com a lógica que tem a fé
reformada, que leva a sólidos e bem fundamentos ensinos, assim como a lógica
interna dos cinco solas que levam a esses desdobramentos.
O autor está certamente
com pensamento na lógica adventista, que é muito, mas muito interessante de
fato. Enfim, todo sistema teológico possui sua lógica intrínseca. Porém,
vejamos o que o autor tem a oferecer, e o que quer dizer do judaísmo da Igreja
primitiva e da lógica nesse quesito de busca pela verdade.
O autor fala de “falhas dos pressupostos romanistas e de seus
rivais reformados”, afirma que fará exposição do que chama de
judaico-cristianismo. Seja o que for, a Igreja Católica tem em sua constituição
todo o patrimônio judaico-cristão necessário para nos garantir estar aprendendo
da fé crista e apostólica. Isso ficará claro à medida que a exposição do autor
for se desenvolvendo, e as reflexões necessárias sendo feitas.
Contudo, há uma tese, a
de que o romanismo não foi fundado
por Jesus mas desenvolvido ao longo dos anos. E os reformados trariam um corpo
doutrinário não plenamente reformado. Isso é totalmente rechaçado por qualquer reformado,
que tem consciência de ter herdado a intepretação bíblica mais fiel ao
evangelho.
É compreensível que a
Igreja Adventista do Sétimo Dia, entendendo ser a Igreja Remanescente, aquela
que deverá anunciar o evangelho eterno ao mundo, entenda que suas posições e
interpretações sejam superiores às das demais denominações.
Será que a Igreja
Adventista do Sétimo Dia tem o corpo original
de doutrinas da Igreja primitiva. Escreve o autor: “ Isso não quer dizer,
evidentemente, que nas igrejas romana e protestantes, no geral, não haja
verdades, virtudes, acertos e grandes feitos”.
Essa atitude é a mesma
atitude católica, que reconhece a verdade onde ela estiver, e sabe que em todas
as instituições religiosas cristãs, em todas as denominações, como na Igreja
Adventista, há verdades. No entanto, a Igreja Católica tem a consciência de ter
todas as verdades cristãs intactas, e afirma isso clara e abertamente,
oficialmente a todos.
Então, passando à demonstração
do que o cristianismo era no início e o que a lógica pode nos ensinar, serão
feitos os comentários onde for necessário, como é de praxe aqui.
1. A judaicidade da Igreja primitiva
1.1 Uma congregação universal
O autor analisa um
pouco a origem da Igreja Católica, passando depois a tecer comentários em
relação à Igreja Ortodoxa.
Ele afirma que de fato
Jesus fundou uma Igreja católica, e apostólica, e explica o que entende por isso.
Não há o que objetar, quanto a isso. E, depois, questiona se a Igreja seria
romana. Isso é um problema quanto a pensar em criticar tal título, visto que o
mesmo autor já deu a entender que esse título é histórico, visto que no
entender católico Pedro foi o primeiro papa e teve seu pontificado em Roma.
Mas, as questões que
orientarão o estudo sobre a romanicidade
da Igreja são interessantes. A partir deles o autor fará sua exposição, e aqui
serão feitas análises delas, de modo que o autor certamente ficará surpreso em
saber certas coisas. Espera-se que ele dê suas contribuições, respondendo ao presente
estudo.
1.2.
O judaísmo étnico e o primado de Jerusalém
Vejamos o que são
incompatibilidades históricas que o autor aponta. Ele afirma da origem judaica
da Igreja. Uma frase chama atenção, ao afirmar que Jesus “nunca ordenou que seus discípulos fizessem dela a congregação mais
importante”. Mas, a Bíblia e a história mostra como isso ocorreu. E, no
fim, é a Providência Divina que orienta todas as coisas. Assim, é vontade de
Deus que a Igreja tenha se tornado historicamente romana, fazendo da sede
romana a mais importante.
Ainda, Jesus “não deu
qualquer sinal de que daria a essa congregação autoridade sob as demais”.
Mas, quando Jesus deu certas prerrogativas a São Pedro, isso desenvolveu-se no
que hoje é a Igreja Católica. A reflexão acima orienta esse pensamento.
E, prossegue: “não lançou profecia alguma sobre a futura
relevância espiritual romana”. De fato, isso não foi necessário, pois basta
ler a Epístola aos Romanos e ver que Deus quis levar a fé cristã a Roma, e o
que isso resultou historicamente comprova a vontade de Deus ao fazer daquela
capital a sede da Sua Igreja. Reflitamos sobre isso.
Por fim, quando se diz
que Jesus não disse “nem sobre a
conversão dessa cidade em sede cristã ou algo do gênero”, não afeta em nada
a questão da fé cristã católica, visto que isso já está respondido acima. Jesus
não fez profecia sobre cada passo da Igreja, mas o que a Bíblia nos leva a pensar
é que Deus quis que Roma fosse a sede cristã por excelência, já que de fato
isso ocorreu, e as raízes desse fato são vislumbrados a partir das Escrituras.
Jerusalém é a cidade
onde a Igreja Católica nasceu, no dia de Pentecostes, fundada por Jesus, judeus,
pelos apóstolos, todos judeus. O autor quer saber o que Roma tem a ver com isso.
Isso não é tão importante, pelo que já foi posto acima, e que Roma é apenas o
lugar escolhido pela providência para que a fé cristã se espalhasse mais
facilmente a todos os povos.
É fato que os primeiros
anos da Igreja, a cidade santa de Jerusalém foi seu centro, mas logo, e preste
atenção no fato, logo o Espírito Santo inspirou uma carta aos romanos, ou seja,
à comunidade local de Roma, preparando a ida de São Paulo àquela cidade para
pregar o evangelho. Eis o início de tudo. Roma começa já na Bíblia a entrar em
cena.
O autor acertadamente
reconhece que Jerusalém foi a sede da Igreja mundial, ou seja, a sede, Igreja
Matriz da Igreja Católica, em primeiro lugar. Ao estar tratando do
desenvolvimento histórico a partir da Bíblia, essas verdades vão sendo
expostas. Mas, nada obsta contra o papel de Roma. Basta seguir o fluxo
histórico normal. E o autor reconhecer: “Assim, Jerusalém era a instância suprema para a
resolução de problemas e a coordenação de todas as igrejas locais.”.
Quando o autor trata da
posição central de Jerusalém e não Roma em relação à Igreja, isso soa como algo
que pareceria novo ao católico, quando de fato não é. É apenas a verdade
bíblica e histórica, conhecida e reconhecida em ambiente católico, e que
prepara para entender mais a posição que Roma ganhou depois.
Portanto, é natural que
Jerusalém tenha sido a primeira sede da Igreja. Roma não teve primazia por ter
sido a primeira sede, nem porque tenha sido escolhida diretamente pelos
apóstolos como sede, mas que isso veio a ser no desenrolar da história, por
pura vontade de Deus.
1.3
O judaísmo como religião
Fazendo análise do aspecto
romano da Igreja em sentido étnico e geográfico, como analisado acima, o autor
afirma que a Igreja não foi romana, nesse sentido estrito, nas primeiras
décadas, mas que no sentido religioso também não, já que o judaísmo desemboca
naturalmente no cristianismo, como desenvolvimento natural. Isso também está
correto, e não é natural que isso seja posto contra a fé católica, já que a
mesma ensina justamente esse panorama.
Mas, para melhor
compreensão, deve-se entender que o Judaísmo torna-se Cristianismo e as coisas
mudam bastante, em todos os sentidos, como do local para o universal, por
exemplo, de maneira mais aberta, e de uma forma nunca vista antes no Antigo
Testamento, sem falar nos cumprimentos dos tipos e nas novas formas de viver a
fé que os cristãos adotaram. Portanto, isso é para frisar que as diferenças não
significam ruptura, se estiverem na mesma essência.
Apenas algo que foi
dito não é exato, quando cita são Lucas como afirmando que os judeus cristãos
continuaram a dedicarem o sábado a Deus nas sinagogas. É verdade que os
cristãos iam aos sábados nas sinagogas, mas o Novo Testamento mostra que o
contexto era o de pregação do evangelho e não de cumprirem o sábado como
cristão. Continuaram a cumprir certos costumes próprios dos judeus, mas não é
exato que o sábado fosse ensinado a novos conversos, por exemplo, e não é o
contexto de suas idas às sinagogas.
“At 13:16, 13:42-22,
17:1-3 e 18:1-4”
“At 16:11-13”
“no sábado sairam do centro da cidade, procurando
algum lugar calmo, apropriado para oração”
“E não há qualquer sinal no texto de que o sonho
se referia a literalmente comer alimento impuro ou que Pedro entendeu dessa
maneira.”
O judaísmo como
religião permanecia. Certamente o autor quer preparar o leitor para entender o
motivo dos adventistas terem o cuidado com a guarda do sábado e a reforma da saúde
a partir de textos do Antigo Testamento. Percebe-se que essa ênfase no
judaico-cristianismo seja fundamentada nesse argumento.
Portanto, é bom saber que
a Igreja Católica ensina a mesma doutrina bíblica, chegando a nos chamas de
judeus espirituais. Ainda, a parte essencialmente judaica, que está no âmago da
fé cristã, continua na Igreja Católica. Basta ver os ritos e cerimônias, as
atitudes religiosas, as devoções, a arquitetura das igrejas, a postura dos
fieis, as vestes litúrgicas, os usos de objetos sagrados, etc., tudo com forte raiz
judaica, e complementações acidentais de outras culturas, como é natural, já
que a Igreja é universal. Para isso, compare fotografias de sinagogas judaicas
e igrejas católicas, e verão as semelhanças gerais.
Entramos aqui no núcleo
da argumentação do autor, que pensa ser o romanismo algo diverso, em sentido
religioso, não podendo ser Igreja cristã. O problema é que não há essa coisa de
ser romano em sentido religioso. Prossigamos nas argumentações para entendermos
melhor o pensamento do autor. Ele parece entender a doutrina original de cunho
mais judaico, como visto desde o início do texto, e não romano, como foi
concluído. Mas, é justamente essa a posição católica. A forma de entender e a
aplicação desse conceito é que será analisada nos próximos estudos.
Gledson Meireles.
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