sábado, 12 de março de 2022

Estudando a série de artigos: A invenção do catolicismo e do protestantismo - parte 1.

Estudando a série de artigos: A invenção do catolicismo e do protestantismo parte 1.

Para melhor entender o que será exposto a seguir, deve-se antes ler o artigo clicandaqui.

É verdade que a Igreja Católica está sempre em defesa de coisas que o mundo ataca, de valores importantes que todo cristão reconhece, e tem em seu meio figuras ilustres, das maiores que viveram na humanidade.

Isso pode chamar a atenção de alguém, com razão, de um protestante, por exemplo, a começar um estudo da Igreja Católica, a conhecer a fé católica, e enveredar-se por caminhos católicos, e por fim, a tornar-se católico, por ter conhecido a verdade.

Essa entrada no meio católico pode ser feito, e é melhor que seja feito “do ponto de vista católico”, porque é possível assim entender realmente como entende a doutrina e como funciona a vida católica. Mas, há um pressuposto básico, crido por todos os católicos: a Igreja Católica foi fundada por Jesus Cristo, o que a faz diferente de todas as demais igrejas cristãs que surgiram depois dela.

O autor do artigo não vê isso com bons olhos, pois sendo assim, tudo será visto sob o prisma da fé católica, o que o autor chama, de forma crítica, de se tornar “a chave de tudo e o suprassumo do bem”.

Porém, é muito possível, e muito provável, que mesmo criticamente, através de outros meios, alguém venha a reconhecer a verdade católica. Com a assistência do Espírito Santo, o coração sincero e aberto à verdade, um estudo sólido e honesto.

Essa série de estudos servirá para ajudar na criação de um guia de estudo, por que não dizer, para que alguém, como o Davi Caldas, venha a entender melhor a fé católica.

O texto da primeira parte parece, até então, dirigido a alguém de espírito conservador que recentemente tenha conhecido e sido persuadido da fé católica. Outro foco é o conservador protestante que busca a ortodoxia dentro do Protestantismo.

A análise até aqui está bastante interessante, bem dirigida, e será comentada sempre que necessário. O objetivo é levar o leitor a entender o que a doutrina católica tem a oferecer diante das análises que o texto traz.

O autor aponta dois elementos importantes negligenciados na busca pela verdade nos dois conservadores mencionados. O primeiro e o judaicidade ou judaísmo da Igreja do primeiro século, para se chegar à real ortodoxia, e o outro é a lógica, que deve estar presente nas doutrinas da Igreja verdadeira.

Antes de passar adiante, o autor deve estar bem familiarizado com a lógica que tem a fé reformada, que leva a sólidos e bem fundamentos ensinos, assim como a lógica interna dos cinco solas que levam a esses desdobramentos.

O autor está certamente com pensamento na lógica adventista, que é muito, mas muito interessante de fato. Enfim, todo sistema teológico possui sua lógica intrínseca. Porém, vejamos o que o autor tem a oferecer, e o que quer dizer do judaísmo da Igreja primitiva e da lógica nesse quesito de busca pela verdade.

O autor fala de “falhas dos pressupostos romanistas e de seus rivais reformados”, afirma que fará exposição do que chama de judaico-cristianismo. Seja o que for, a Igreja Católica tem em sua constituição todo o patrimônio judaico-cristão necessário para nos garantir estar aprendendo da fé crista e apostólica. Isso ficará claro à medida que a exposição do autor for se desenvolvendo, e as reflexões necessárias sendo feitas.

Contudo, há uma tese, a de que o romanismo não foi fundado por Jesus mas desenvolvido ao longo dos anos. E os reformados trariam um corpo doutrinário não plenamente reformado. Isso é totalmente rechaçado por qualquer reformado, que tem consciência de ter herdado a intepretação bíblica mais fiel ao evangelho.

É compreensível que a Igreja Adventista do Sétimo Dia, entendendo ser a Igreja Remanescente, aquela que deverá anunciar o evangelho eterno ao mundo, entenda que suas posições e interpretações sejam superiores às das demais denominações.

Será que a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem o corpo original de doutrinas da Igreja primitiva. Escreve o autor: “ Isso não quer dizer, evidentemente, que nas igrejas romana e protestantes, no geral, não haja verdades, virtudes, acertos e grandes feitos”.

Essa atitude é a mesma atitude católica, que reconhece a verdade onde ela estiver, e sabe que em todas as instituições religiosas cristãs, em todas as denominações, como na Igreja Adventista, há verdades. No entanto, a Igreja Católica tem a consciência de ter todas as verdades cristãs intactas, e afirma isso clara e abertamente, oficialmente a todos.

Então, passando à demonstração do que o cristianismo era no início e o que a lógica pode nos ensinar, serão feitos os comentários onde for necessário, como é de praxe aqui.

1.      A judaicidade da Igreja primitiva

1.1  Uma congregação universal

O autor analisa um pouco a origem da Igreja Católica, passando depois a tecer comentários em relação à Igreja Ortodoxa.

Ele afirma que de fato Jesus fundou uma Igreja católica, e apostólica, e explica o que entende por isso. Não há o que objetar, quanto a isso. E, depois, questiona se a Igreja seria romana. Isso é um problema quanto a pensar em criticar tal título, visto que o mesmo autor já deu a entender que esse título é histórico, visto que no entender católico Pedro foi o primeiro papa e teve seu pontificado em Roma.

Mas, as questões que orientarão o estudo sobre a romanicidade da Igreja são interessantes. A partir deles o autor fará sua exposição, e aqui serão feitas análises delas, de modo que o autor certamente ficará surpreso em saber certas coisas. Espera-se que ele dê suas contribuições, respondendo ao presente estudo.

1.2. O judaísmo étnico e o primado de Jerusalém

Vejamos o que são incompatibilidades históricas que o autor aponta. Ele afirma da origem judaica da Igreja. Uma frase chama atenção, ao afirmar que Jesus “nunca ordenou que seus discípulos fizessem dela a congregação mais importante”. Mas, a Bíblia e a história mostra como isso ocorreu. E, no fim, é a Providência Divina que orienta todas as coisas. Assim, é vontade de Deus que a Igreja tenha se tornado historicamente romana, fazendo da sede romana a mais importante.

Ainda, Jesus “não deu qualquer sinal de que daria a essa congregação autoridade sob as demais”. Mas, quando Jesus deu certas prerrogativas a São Pedro, isso desenvolveu-se no que hoje é a Igreja Católica. A reflexão acima orienta esse pensamento.

E, prossegue: “não lançou profecia alguma sobre a futura relevância espiritual romana”. De fato, isso não foi necessário, pois basta ler a Epístola aos Romanos e ver que Deus quis levar a fé cristã a Roma, e o que isso resultou historicamente comprova a vontade de Deus ao fazer daquela capital a sede da Sua Igreja. Reflitamos sobre isso.

Por fim, quando se diz que Jesus não disse “nem sobre a conversão dessa cidade em sede cristã ou algo do gênero”, não afeta em nada a questão da fé cristã católica, visto que isso já está respondido acima. Jesus não fez profecia sobre cada passo da Igreja, mas o que a Bíblia nos leva a pensar é que Deus quis que Roma fosse a sede cristã por excelência, já que de fato isso ocorreu, e as raízes desse fato são vislumbrados a partir das Escrituras.

Jerusalém é a cidade onde a Igreja Católica nasceu, no dia de Pentecostes, fundada por Jesus, judeus, pelos apóstolos, todos judeus. O autor quer saber o que Roma tem a ver com isso. Isso não é tão importante, pelo que já foi posto acima, e que Roma é apenas o lugar escolhido pela providência para que a fé cristã se espalhasse mais facilmente a todos os povos.

É fato que os primeiros anos da Igreja, a cidade santa de Jerusalém foi seu centro, mas logo, e preste atenção no fato, logo o Espírito Santo inspirou uma carta aos romanos, ou seja, à comunidade local de Roma, preparando a ida de São Paulo àquela cidade para pregar o evangelho. Eis o início de tudo. Roma começa já na Bíblia a entrar em cena.

O autor acertadamente reconhece que Jerusalém foi a sede da Igreja mundial, ou seja, a sede, Igreja Matriz da Igreja Católica, em primeiro lugar. Ao estar tratando do desenvolvimento histórico a partir da Bíblia, essas verdades vão sendo expostas. Mas, nada obsta contra o papel de Roma. Basta seguir o fluxo histórico normal. E o autor reconhecer: “Assim, Jerusalém era a instância suprema para a resolução de problemas e a coordenação de todas as igrejas locais.”.

Quando o autor trata da posição central de Jerusalém e não Roma em relação à Igreja, isso soa como algo que pareceria novo ao católico, quando de fato não é. É apenas a verdade bíblica e histórica, conhecida e reconhecida em ambiente católico, e que prepara para entender mais a posição que Roma ganhou depois.

Portanto, é natural que Jerusalém tenha sido a primeira sede da Igreja. Roma não teve primazia por ter sido a primeira sede, nem porque tenha sido escolhida diretamente pelos apóstolos como sede, mas que isso veio a ser no desenrolar da história, por pura vontade de Deus.

1.3 O judaísmo como religião

Fazendo análise do aspecto romano da Igreja em sentido étnico e geográfico, como analisado acima, o autor afirma que a Igreja não foi romana, nesse sentido estrito, nas primeiras décadas, mas que no sentido religioso também não, já que o judaísmo desemboca naturalmente no cristianismo, como desenvolvimento natural. Isso também está correto, e não é natural que isso seja posto contra a fé católica, já que a mesma ensina justamente esse panorama.

Mas, para melhor compreensão, deve-se entender que o Judaísmo torna-se Cristianismo e as coisas mudam bastante, em todos os sentidos, como do local para o universal, por exemplo, de maneira mais aberta, e de uma forma nunca vista antes no Antigo Testamento, sem falar nos cumprimentos dos tipos e nas novas formas de viver a fé que os cristãos adotaram. Portanto, isso é para frisar que as diferenças não significam ruptura, se estiverem na mesma essência.

Apenas algo que foi dito não é exato, quando cita são Lucas como afirmando que os judeus cristãos continuaram a dedicarem o sábado a Deus nas sinagogas. É verdade que os cristãos iam aos sábados nas sinagogas, mas o Novo Testamento mostra que o contexto era o de pregação do evangelho e não de cumprirem o sábado como cristão. Continuaram a cumprir certos costumes próprios dos judeus, mas não é exato que o sábado fosse ensinado a novos conversos, por exemplo, e não é o contexto de suas idas às sinagogas.

“At 13:16, 13:42-22, 17:1-3 e 18:1-4”

At 16:11-13” “no sábado sairam do centro da cidade, procurando algum lugar calmo, apropriado para oração

E não há qualquer sinal no texto de que o sonho se referia a literalmente comer alimento impuro ou que Pedro entendeu dessa maneira.

O judaísmo como religião permanecia. Certamente o autor quer preparar o leitor para entender o motivo dos adventistas terem o cuidado com a guarda do sábado e a reforma da saúde a partir de textos do Antigo Testamento. Percebe-se que essa ênfase no judaico-cristianismo seja fundamentada nesse argumento.

Portanto, é bom saber que a Igreja Católica ensina a mesma doutrina bíblica, chegando a nos chamas de judeus espirituais. Ainda, a parte essencialmente judaica, que está no âmago da fé cristã, continua na Igreja Católica. Basta ver os ritos e cerimônias, as atitudes religiosas, as devoções, a arquitetura das igrejas, a postura dos fieis, as vestes litúrgicas, os usos de objetos sagrados, etc., tudo com forte raiz judaica, e complementações acidentais de outras culturas, como é natural, já que a Igreja é universal. Para isso, compare fotografias de sinagogas judaicas e igrejas católicas, e verão as semelhanças gerais.

Entramos aqui no núcleo da argumentação do autor, que pensa ser o romanismo algo diverso, em sentido religioso, não podendo ser Igreja cristã. O problema é que não há essa coisa de ser romano em sentido religioso. Prossigamos nas argumentações para entendermos melhor o pensamento do autor. Ele parece entender a doutrina original de cunho mais judaico, como visto desde o início do texto, e não romano, como foi concluído. Mas, é justamente essa a posição católica. A forma de entender e a aplicação desse conceito é que será analisada nos próximos estudos.

Gledson Meireles.

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