Questão 15
A instituição do sábado, realmente, pode ser entendida como dada no início da criação, no Jardim do Éden, para o homem, como parte dos mandamentos de Deus.
Como afirma essa
questão, o sábado foi honrado por Deus, distinto dos outros dias, e dado à
humanidade como memorial perpétuo da
criação.
De fato, Deus descansou
no sétimo dia, segundo a Escritura. Esse exemplo de Deus criador, para o homem,
mostra a lei natural dada ao homem para ser seguida: o descanso, a ser feito e
um dia, no sétimo, como memorial da criação. Temos vários elementos, bem
distribuídos, que ajudam na interpretação desse mandamento, que é diverso dos
demais, que toca a Deus de forma especial, como ação de Deus no mandamento, uma
atitude divina a ser imitada, dando a ele o selo
de que fala Santo Agostinho, muito lembrado entre os adventistas.
A Bíblia afirma que
Deus descansou no sétimo dia, abençoou o sétimo dia e o consagrou porque nesse dia descansou de
toda a obra da criação (Gn 2, 1-3). O descanso de Deus foi o motivo pelo
qual Ele abençoa e consagra o sétimo dia.
O cristão então deve trabalhar seis dias e descansar no sétimo, é o preceito.
Os adventistas
trabalham a ideia do sábado de Deus, a partir de Êxodo 20, 10 e Marcos 2, 27,
como o dia do Senhor. Mas essa definição, corretíssima, pois se o sábado é de
Deus, e se Cristo é o Senhor do Sábado, então o sábado é Seu dia. No entanto,
essa designação, no Novo Testamento, essa fraseologia é usada para o domingo, o
primeiro dia da semana, a partir do fim do primeiro século, começando pelo
livro de Apocalipse 1, 10. Nunca a frase foi assim usada para o sábado, nesse
contexto da Nova Aliança. Por isso, ainda que o sábado foi o dia de Deus na
Antiga Aliança, quando se lê sobre o dia do Senhor entende-se no Novo
Testamento o dia de Domingo.
Então, em Cristo observamos o domingo, e não o sábado. Isso é feito desde os dias de Cristo, a começar pelos apóstolos. Essa argumentação adventista em torno do sábado serve para o tempo da antiga aliança, mas atualiza-se no domingo da nova aliança. É um entendimento correto, espiritual, mas que não requer, não exige, a guarda do sétimo dia no sábado tradicional.
O que
isso quer dizer é que o cristão deve continuar suas atividades próprias durante
seis dias e descansar no sétimo. Assim, o cristão que trabalha da segunda-feira
ao sábado tem o sétimo dia no domingo
para dedicar ao Senhor e descansar de seus labores, como faz a Igreja desde os
apóstolos. O sábado semanal, tradicional, é lembrado com amor e reverência, e o
cumprimento moral passou a ser no primeiro dia da semana, o sétimo contado para o descanso, festejo e culto cristão, já no
tempo apostólico, e portanto sob a autoridade de Deus. Foi Deus quem instituiu o domingo, onde a Igreja foi responsável por praticar essa mudança, no tempo dos apóstolos. Isso não se deu em Concílio tardio, mas os concílios testemunham a doutrina apostólica.
Estar com o Senhor um
dia dedicado a Ele faz parte do mandamento moral de Deus. Dado mesmo antes do
pecado, como afirma o Questões sobre doutrina, e esse preceito é cumprido no
domingo. Não há exigência de que deve ser feito no sábado.
No Sinai o sábado foi
renovado, ou reafirmado, e com nova
motivação, a libertação do Povo de Israel do cativeiro do Egito, o que mostra
que os israelitas deviam descansar no sábado e lembrar-se da escravidão e
libertação operada por Deus. Deviam lembrar da criação, conforme o Gênesis, mas
agora também lembrar-se da libertação, conforme o Deuteronômio. A motivação é
acrescentada, por assim dizer, ainda que não repetida em Deuteronômio.
Para os adventistas os
sábado lembra, então, a obra de Cristo
como Criador, Preservador, Benfeitor e Redentor.
Para os cristãos católicos tudo isso é lembrado no domingo, visto que a obra de
Cristo na cruz, salvando a humanidade, é levada ao clímax no domingo, quando
Cristo vence a morte e aplica a salvação já consumada. Por isso, o domingo traz
essa marca da nova criação da graça de Deus.
Menção é feita aos
festivais anuais, que eram os sábados cerimoniais, que caíam em diferentes dias
da semana. Isso é interessante, pois a Igreja Católica tem os seus dias santos,
a exemplo desses sábados cerimoniais, que são dedicados a Deus, por meio da
veneração de alguma obra de Deus, um dogma, um santo, etc., e é honrado com o
descanso e o culto a Deus. Isso mostra as raízes judaicas em continuidade na
Igreja Católica, como aquelas do Antigo Testamento em preparação para o tempo de
Cristo, e agora já com significado cristão.
O entendimento de que
os sábados cerimoniais foram abolidos com a vinda de Cristo, é correto, mas
ainda a teologia adventista não compreende que o dia de sábado,
conforme a semana criada para o trabalho e descanso da humanidade, é também em
si cerimonial, mas está no decálogo por motivo da sua, também, acepção moral,
que é o culto a Deus e o descanso do homem. Portanto, a motivação para a guarda
do sábado foi mudada, e o mandamento continuou intacto. Da mesma forma,
guardando o domingo, após seis dias de trabalho, continua-se a cumprir o
preceito divino.
Ainda, em Colossenses
2, 17, como a exegese prova, e é reconhecido por muitos, os sábados referidos
são semanais, e não cerimoniais, o que pelo contexto é sombra do que devia vir. Isso mostra que a doutrina cristã católica
mantem a fé dos apóstolos. Os adventistas, ainda que muitos conseguiram
reconhecer que o texto toca o sábado semanal, ainda estão convictos, mesmo
assim, que devem continuar a guardá-lo.
Ninguém duvida que o
sábado foi guardado na Antiga Aliança, e por Jesus Cristo, e continuou a ser
guardado pela Igreja primitiva, em ambiente judaico, mas sem qualquer imposição
aos cristãos. Não era parte da doutrina cristã o ensinamento sobre o sábado do sétimo dia, mas isso foi logo transferido para o primeiro dia, o dia da ressurreição.
Cristo foi ensinar em
dia de sábado, entrou na sinagoga segundo o Seu costume (cf. Mc 6, 1.2 e Lucas
4, 16). Mas os apóstolos seguiam o costume para pregar no sábado sobre Cristo. Apenas com essa motivação, não ensinando o sábado aos gentios.
O que podemos aprender dos textos bíblicos que mencionam o domingo, pode ser visto pela leitura atenta de cada um deles. Em Mateus 28 1, está escrito que “Depois do sábado”, e continua afirmando que Maria Madalena e a outra Maria dirigiram-se ao sepulcro de Jesus. A informação é que no primeiro dia da semana, no domingo, após ter guardado o sábado, conforme a Lei, as mulheres foram ao túmulo.
Nada é dito sobre a
guarda do domingo, ainda, pois se trata de narrar o fato das mulheres indo
terminar a o embalsamamento do corpo de Jesus, pois não sabiam ainda da
ressurreição. Mostra também que Jesus não proibiu a guarda do sábado, nem de quaisquer tradições judaicas, nem a circuncisão, etc., ficando isso nos princípios do evangelho, que o Espírito Santo foi esclarecendo ao passar dos anos.
O texto de Marcos 16, 1 afirma virtualmente a
mesma coisa, com detalhes diferentes, mas tudo acontece “Passando o sábado...”. Em
Lucas 24, 1, a expressão é “No primeiro
dia da semana” (em grego: te de mia
ton sabbaton), e continua narrando o mesmo acontecimento. O mesmo em João
20, 1.
Algo a mais é entendido
em João 20, 19. De fato, no mesmo dia, o domingo, os discípulos estavam
reunidos, todos juntos, e a portas fechadas por medo dos judeus. Não é dito o
motivo da reunião, apenas o fato, e o detalhe das portas fechadas, motivado
pelo medo dos judeus. Isso prepara a cena para narrar a aparição de Jesus, que
escolheu o mesmo dia, o domingo, quando os discípulos estavam reunidos.
Então, oito dias depois, o texto bíblico
afirma, interessantemente, “estavam os
seus discípulos outra vez no mesmo lugar”, não revelando nada mais sobre o
motivo da reunião. Eram discípulos que já sabiam da ressurreição, estavam
alegres com o fato, já tinham visto o Senhor, e estavam novamente reunidos ali.
E, o que mais chama atenção, dando maior ênfase ao fato, é que o Senhor escolhe
esse dia para aparecer a eles. E isso fica narrado nas Escrituras.
O texto de Atos 20, 7 é
importante. Nele é dito “No primeiro dia
da semana, estando nós reunidos para partir o pão”, situando o leitor com
esses detalhes importantes, revelando o dia e o motivo da reunião cristã. O
fato da ressurreição de Êutico pode ter motivado o registro, mas é interessante
saber que os discípulos de Cristo já reuniam-se no domingo para partir o pão,
para o culto cristão. Não é certamente algo excepcional, mas revela mais, é
algo ordinário na Igreja.
E, também, no mesmo
sentido, a ordem de preparar a coleta no
primeiro dia da semana, o domingo (1 Cor 16, 2).
Há, então, o costume
cristão de reunir-se nesse dia para cultuar a Deus. É um costume apostólico, da
Igreja, que se agrega ao que já estavam acostumados a fazer, como judeus. Dessa
forma, os apóstolos iam às orações da três da tarde no Templo, continuavam indo
às sinagogas aos sábados, não comiam com os gentios, seguiam a leis alimentares
próprias dos judeus, circuncidavam a muitos, faziam promessas, festejavam o
Pentecostes, como estavam acostumados, etc. O domingo é assim mostrado como dia
de celebração cristã. Por isso, aos poucos, a necessidade de ir distinguindo
certas coisas, entendendo certas práticas, como as citadas acima, que ficavam
no âmbito da Antiga Aliança e as que eram próprias da Nova Aliança.
Esses textos não falam
diretamente da guarda do domingo, afirmando a observância no lugar do sábado,
nem da transferência do sábado para o primeiro dia, mas nos ensina que há uma
nova forma dos cristãos de celebrar, que os distingue da Antiga Aliança, e
mostra que há um dia em que isso ocorre, e que Deus escolhe esse dia para agir
de forma a ensinar a Igreja sobre o mesmo, e que o dia escolhido por Deus foi o domingo. Assim, a ressurreição no domingo, as
reuniões dos discípulos no domingo, as aparições de Cristo no domingo, o
pentecostes no domingo, as reuniões cristãs no domingo, as coletas feitas no
domingo, e etc., são sinais muito fortes da guarda do domingo com significado
de cunho cristão, algo novo, parte da Nova Aliança, que se insere na vida da
Igreja de Cristo.
Então, a circuncisão
irá deixando sua função, as festas judaicas irão sendo menos praticadas, o
pentecostes e as promessas, as leis de alimentação e as relações sociais e
culturais com os pagãos vão sofrendo modificações, segundo o espírito do
evangelho, moldado pelo Espírito Santo de Deus, guiando a Igreja a toda a
verdade, a partir do que Jesus ensinou, lembrando, explicando, esclarecendo,
desenvolvendo a verdade na Igreja.
Dessa forma, o sábado
não foi guardado por séculos pelos cristãos, de forma que se pode afirmar que a
Igreja guardou o sábado assim. Pode-se dizer que a Igreja nunca se opôs, por motivos naturais, à
guarda do sábado, no início, mas apenas quando isso começou a desvirtuar-se, a ser como
uma introdução da lei na prática cristã, uma tendência judaizante, que foi
sempre recusada pela Igreja apostólica.
Então, a Igreja sempre
observou o domingo, e durante certo tempo, em algumas regiões, da Palestina e
Síria, por exemplo, o sábado continuou a ser observado, como outras tradições
judaicas, como citado acima. O adventismo inverte um pouco esse entendimento,
afirmando que os cristãos guardavam o sábado e foram aos poucos observando o
domingo. Isso é algo que ocorreu concomitantemente, como explicado acima, por
inspiração do Espírito Santo, com a prática apostólica, e proveniente dela, de
forma que somente outros fatores é que levaram a distinguir melhor o sábado do
domingo na vida da Igreja. É certo que o domingo como dia de observância cristã
é de origem cristã, e apostólica.
Quando o Concílio de
Laodiceia proibiu a guarda do sábado, as circunstâncias tinham mudado e
requeriam certas medidas para não judaizar, como entendia a Igreja na época,
conforme os cânones da Bíblia, contra os judaizantes. Portanto, não se pode
afirmar que a Igreja estava errada, que era uma apostasia essa medida, nem que era inovação, por tudo
o que foi explicado acima. De fato, o Concílio cita o Dia do Senhor como dia de
descanso, para ser guardado de forma cristã. Isso mostra, mais uma vez, que
todos conheciam o primeiro dia da semana como dia do Senhor.
Sempre que um concílio
trata de uma questão, é sinal de que houve controvérsia a respeito. Esse
concílio está no século quarto, e portanto é possível que muitos já não
fizessem do sábado como os apóstolos, por exemplo, mas queriam impor aos
cristãos uma forma que não era feita nem nos dias apostólicos.
Por isso, a Igreja apostólica,
sob a direção dos apóstolos, guardava o domingo. Isso não pode ser afirmado
como mudança de Lei, já que o domingo cumpre cerimonial e moralmente a Lei de
Deus, com toda a honra e toda doutrina como o sábado fazia na Antiga Lei.
O sábado foi observado
por muitos, por motivos de interpretações que faziam das Escrituras, destoando
do que fazia a Igreja oficial. Assim também é que no século dezessete os
batistas começaram a guarda do sábado, e mais tarde os adventistas, que surgem
em 1844, pregam o sábado entre 1845-46, e formaliza-se com Igreja em 1863.
Os adventistas creem
que são o remanescente, de Apocalipse, os que anunciam as verdades do anjo de
Apocalipse 14, 9-12. O sábado seria o sinal da lealdade a Cristo como Criador e
Redentor. Mas, pode-se dizer que o Domingo honra Cristo como Criador e
Redentor. A doutrina que faz parte do mandamento do sábado é mantida em sua
inteireza no domingo. É uma doutrina profunda e belíssima, verdadeira e
edificante, sã, e legítima.
O sábado, da forma como o adventismo ensina, é introduzido tardiamente na Igreja, pois de modo oficial, o domingo sempre foi observado.
Gledson Meireles.
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